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Castro Laboreiro
Ora bem, era um rapaz… Que namorava com uma espanhola. Dos Cortos de Cima. Chama-se Lentemil. Namorava com uma espanhola. E depois… Vocês ao irem aos Portos, vêem o cruzeiro – (que já hoje ali falaram outros). Pois, pois. Ao verem os cruzeiros, vêem os altos – um alto grande que lá se vê à frente. Claro. Um alto sem penedos. Ali já não há penedos. Já é divisão daqui disto e da Espanha. Os penedos ficam cá abaixo, onde lhe eu disse que era a Pena de Anamão. Depois, para cima é monte raso – monte; penedos há poucos – e do outro lado de lá daquela serra, pois, é Espanha. É Espanha. E aquela serra lá (num todo alto), que viram, é onde há os marcos. Nós enchemo-nos de estar lá. E então, esse tal rapaz ia à ronda a Espanha. Gostava duma rapariga. Chamava-se...... Gostava duma rapariga. Gostava-se... Chamava-se a ronda. Chamava-se a ronda. Ia lá… À ronda, à ronda. Era o baile. À ronda, à calada, namorar-lhe de noite, que de dia não podiam. Era preciso trabalhar. Eram os bailes. Eram como agora irem para os cafés. Que agora vão para os cafés! Mas, quer-se dizer, atravessava a serra. Atravessava a serra. Ele gostava muito dela. E tinha um cão e o cão ia com ele. E depois a mãe não queria que fosse porque tinha medo a que o comesse o lobo. Não. O cão castrejo é muito leal. Mas espera. Escuta. Depois – agora estou eu a contar –, depois, a mãe pediu-lhe para que não fosse para onde à rapariga espanhola, que havia raparigas cá, (e que o pessoal anda cá e que recusaram dar a cara). Não é. Não é nada disso. É porque o pessoal cá é racista. Não queriam que um português se juntasse com um espanhol. Claro. Naquele tempo. Bom… Naquele tempo. Pois. O rapaz gostava da rapariga e ia. Ia todas as noites – quando podia, quando podia. E levava o cão com ele. Era o colega dele era o cão. O fiel dele era o cão. O fiel dele era o cão. Mas, depois, como a mãe não queria que fosse, lá uma noite, ela viu que ele que teimava e que ia para a Espanha para onde à rapariga, e ela prendeu o cão, para ver se ele tinha medo que não ia sozinho. Que não ia sozinho. Porque o cão era o colega dele, o companheiro. Escondeu-lhe o cão. Escondeu o cão. Meteu à corte com o gado, vá. Meteu-o. Escondeu o cão. Fechou o cão. Meteu na corte com o gado que ele… E ele julgou que o cão que ia atrás dele; mas o cão nunca apareceu. E (ao quando lhe) ele julgou que levava o companheiro com ele, mas o cão não foi porque, claro, a mãe prendeu-o e o cão não foi. É a origem de ser a raça lobeira, entende, é que eles obrigavam o próprio cão castrejo a dormir no curral. Ele era obrigado a dedicar-se aos animais. Daí, eles usaram mais o cão para se defender dos lobos. A origem é essa, vá. Pois, pois. Pois, pois. Pois, a origem é essa. A origem é essa. Ora bem. É. Depois o rapaz foi e chegou lá perto,perto já da Espanha – perto da Espanha ainda não, que ainda era na serra. Mas próximo dela morava a (morte). Mas havia uma árvore que era um carvalho, muito grande. Não. Não. Depois era assim: próximo da mãe morava a madrinha, não é? À beira deles, morava a madrinha. E vai daí que durante a noite… O rapaz saíu, e durante a noite seguiu para a porta da espanhola, não é? Claro, mas tu falas-lhe à maneira da (outra). Pois claro, pois claro. Tem que ser (à moda)… Uma vez que você não lhe sabe contar. Está esquecida. Mas assim,assim (querem vir) gravar. Foi ao descer, lá naquela serra… Não, não. Faz a serra assim.. Não. Não. Oh! E depois desce-se para ali e desce-se para este lado. Não é assim! Depois, olhe, sabe o que passou? Ele chegou à porta da espanhola – ela está esquecida –, chegou à porta da espanhola… E ele adorava a espanhola! Simplesmente, naquela noite, ela que fez? Ela era supersticiosa, a rapariga. Mas ele só descobriu naquela noite. Espreitou por o buraco da fechadura. E ela que tinha na borralheira? – Chamavam-lhe eles a borralheira. (Sim). Tinha um sapo. Então estava a picar o sapo com um garavato – um garavato que é daquilo; chamam-lhe eles garavato um pau daqueles. Picava o sapo e dizia assim: 'Sapo, sapão, ele o castrejo virá ou não'? E estava naquilo. Naquela festa. Naquela festa – com o sapo. E o rapaz a espreitar. Assim que viu aquilo disse: 'Acabou'. 'Acabou'. Deu a volta. 'Ela é uma bruxa! Eu não a quero para nada'. Agora segue tua mãe que sabe melhor. Maldita espanhola! Deu a volta. Ah, ele foi lá. Foi então… Deu a volta. Chegou lá e deu a volta. Ora foi onde à rapariga e deu a volta. Deu a volta a caminho de. Não. Mas, entretanto, cá em casa, a madrinha… Soltou o cão. Não. A madrinha começou-se a sentir mal. E soltou o cão. Pois. Ó mulher, mas a história… A história… O cão é um, e a história do rapaz é outra. O rapaz chegou à porta da rapariga e passou aquilo e ele voltou para trás. E deu a volta. Voltou para trás. E chegou, ao subir na serra… Era muito… A serra faz isto. Pois faz isso. Então, era o que eu… E vinha um bocado cansado; e pôs-se a descansar à beira do carvalho. À beira dum carvalho… Havia uma árvore grande, um carvalho grande. E havia folha… E havia folha… Um castanheiro. Um castanheiro montanhês. Era carvalho, filha, que eu ainda me lembro dos bocados dele. Era carvalho, Jesus. Ai Jesus! Era um carvalho. E depois, o lobo… Veio o lobo e tapou-o com folha. Não, pai. Tapou. Era na estação do Outono. A árvore estava sem folha. Tapou-o com folha. Tapou-o com folha. Muito obrigada, porque era no Outono, a folha estava seca. Pois estava. E foi quando o lobo… Tapou-o e chamou por os outros. O lobo… O lobo tapou… O lobo sentiu rugir as folhas – não o chegou a tapar. Ao calcar as folhas, as folhas deram-se e ele com medo, chegou por cima do rapaz, fez chichi no rapaz. Não tapou nada. E… E… Apertou-se-lhe e fez chichi no rapaz. Mas e chamou por os outros. Mas é que depois é que foi chamar por outros. Chamou por os outros. E ele ao sentir o chamar – (a) uivar: 'uuuuu', a chamar por os outros –, enfiou-se pelo carvalho acima e vê o cão. Vê o cão. Mas vê o cão, aí já pára. Aí já… Ele enfiou-se pelo carvalho acima. E depois havia um barulho cá na casa da mãe. Porque a madrinha sentia ganir o cão na corte. E o cão (enderençava-se) por as portas arriba e gania. O cão parece que lhe dava o (coiso). E soltou-o. Foi a madrinha que soltou. Pois. E a madrinha deu-se de conta e foi junto à comadre. Disse-lhe: 'Comadre, você tem o cão cerrado e o cão ladra muito. O cão está a ganir'. É você… Você… 'Solte o cão'. 'Solte o cão. (Olhe que ele…)' Não. E disse-lhe: 'Você onde tem o meu afilhado? Onde está o meu afilhado'? 'O seu afilhado está na cama'. 'Pois então abra-me a porta do quarto, que eu tenho que ir vê-lo eu mesma'. Sim, sim, sim. Ele ajeitara a roupa… Ele pusera um molho de palha na cama… A parecer que era ele. A parecer que era ele. A enganar a mãe. Mas a madrinha disse: 'Não, não. Eu vou lá ver eu mesma'. Tirou as mantas para trás e viu que era um molho de palha. E foi quando lhe disse: 'Pronto, aí está o cão a dar sinal que algo lhe está a acontecer ao dono'. 'O meu afilhado come-o… Comeu-o o lobo ou o come que está o cão a'… O cão matava-se hoje!. Aí está a inteligência do cão castrejo. 'Solta-se… Solta-se… Solte-se o cão'! Soltaram o cão. Chegou lá, os lobos 'estranficinharam-no' todo. Eram seis ou sete. Mataram o cão. Pois. O rapaz… O rapaz safou-se que estava lá no alto do carvalho. (Mas mataram o cão). Mas o cão não. E o cão… Morreu. Comeram-no os lobos. E depois deixou vir o dia, por o alto sol, quando se eles retiraram que começaram aqueles gados – só sair espanhóis e coisa –, e ele foi… Foi… Não. Entretanto chegou a mãe e a madrinha à beira dele. Pois foi, mulher. Mas foram saber dele. Depois… Mas depois foram saber dele e ele dali foi para Lobeira – chama-se-lhe Lobeira que era… Ajuntamento. Ajuntamento como há aqui a freguesia. Um ajuntamento ou como aqui a freguesia. Pois, pois. Chegou alá e disse-lhe que pagava o carvalho por aquilo valor que fosse, que queria que o carvalho caísse de velho. E caiu de velho. E caiu de velho. Que ainda me lembro de ver lá os bocados. Pagou… Pagou o carvalho – como é ir aqui à Câmara, ou onde à Junta da Freguesia – , pagou o carvalho, e ficou o carvalho. Caiu de velhinho.
Castro Laboreiro
E o que é que se fazia das galinhas? Era caldo, era…? Era… Olhe, 'acabante' se paria, já estava a galinha a cozer. Já a mulher estava para parir, já estava a galinha a cozer no pote. Mas boa. Das melhores. E depois… Das melhores! Daquelas que tivessem mais gordura! Mais gordura! 'Olha, esta galinha o que está pesada! Vai-me ao galinheiro e apanha-me a galinha… ' 'Escolhe-me a melhor'. 'Escolhe-me a galinha que mais pesar'. E a que estivesse melhor era a que vinha; e já estava ali a cozer. E depois beber aquelas malgas de água; e deitar-lhe ali pão; e fazer as sopas da galinha; e comer a carne. Mas ainda houve… Ainda houve algumas solteiras de, claro, de cairem naquela rede que ainda se hoje cai – hoje evitam mais, mas de qualquer maneira ainda há quem caia – e de chegarem à beira dela, já nós casados, a chorar com a fome. Ai, com a fome, sim, sim. Também não se contam só os…
Castro Laboreiro
Mas não está a chover? Está a chover, (está). Está, está. Ai Jesus! Deixe chover para aí. Nós deixamos, deixamos, que não podemos removê-la. Sim. Mas a gente dizia que… Ai, faz falta. Pois, a gente dizia que não chovia, mas… Ele ainda não viera o Inverno! Mas agora é que vai vir. Há-de vir quando… Vem quando faz mais mal. É. Agora ainda não faz mal. Não. Começa a fazer mal a quê? A água? Sim. Porque, o inverno… Aqui, costuma a chover muito no Janeiro, é Fevereiro, é Março, é… E este ano, não choveu nem nevou. E agora é que veio. Mas agora ainda está bom para as batatas, ou não? Está, está. Ou é muito tarde? Não, não é tarde. Mas… Mas, não…Veio agora quando não havia de vir. Havia de vir já antes, repartida. Não, agora ainda havia de vir muita água. Mas olha que não há muitas águas. (Agora faz bem). (Mas é que não as há). E como ele vai haver?! Ele não tem chovido nada. Mas diziam-nos os antigos, diziam assim: Ainda se que não chova em todo o ano, se chover em Abril e Maio, que chegava bem.
Outeiro
E depois de estar morto, o que é que fazem? Depois fazem uma fogueira com palha e chamuscam-nos e rapam-nos com uma navalha. Depois de estarem chamuscados, rapam-nos, põem-nos em cima de um banco, rapam-nos bem rapadinhos. Depois abrem-nos, tiram-lhe as tripas. E penduram-no aonde? Põem-no às vezes por uma trave, para baixo; outras vezes arranjam um… Por exemplo, um pau e põem-lhe assim um canamão para cima, no focinho e põem o pau à beira duma esquina e fica ali a escorrer. Outras vezes, com o… O meu fazia assim: tinha aí umas cornagens das crias e prendia-o assim ao canamão e prendia-o assimcom o cornal à trave. Ficava assim um dia. Depois eram desfeitos. Para ao outro dia em que se matavam ou para ao outro – que podiam estar até dois ou três dias, que, naquele tempo… Chama-se a isso desfazer o porco ou desmanchar? Desfazer os porcos. Desfazer, nós dizemos desfazer os porcos. Desfazer. Depois tira-se-lhe, à parte: a linguiça, vai para um lado; o salpicão, que é o lombo, vai para o outro; os presuntos, vai para o outro; a espádua, vai para outro. Quer dizer, aqui até costumamos… Agora já não – porque eu há muito tempo que não crio porcos – mas nós costumávamos: partia-se o porco ao meio. Às vezes até andava a gente a ver qual é que tinha o toucinho maior. Agora quem é que quer o toucinho? O que tinha mais unto. Ainda tenho aí untaças não sei já de quando. E já dei algumas para os (cães do lar). Porque comprei um porquinho em Bragançae ao fim arrependi-me e nem comi a carne gorda, nem nada, pronto, e o unto ainda aí está. Mas antigamente, sabia mesmo bem essa carne gorda. Com uma saladae pão de centeio, era mesmo boa.
Outeiro
Qual é a diferença entre unto e untaça? Unto e untaça é igual. Hum-hum. O unto é conforme se tira do porco. E depois faz-se a untaça. Estende-se, por exemplo, aqui assim nesta mesa, a untaça em cima de um pano. Bota-se-lhe uma tigela de sal, o que a gente quiser deitar. Depois começa-se a enrolar, assim de um lado para o outro, todo, até aquelas bordas tudo para dentro. E depois vira-se e fica redondinho por cima. E depois vai-se com uma brasa, punha assim em cima do unto e ficava aquilo mais teso. Chiava, tirava-se a brasa e ficava a untaça feita. Depois punhamo-la num tacho. Portanto, a untaça é uma, uma bola de unto? Olhe, a untaça é como isto. Olhe, vê isto? Porque depois nós fazíamos assim: estava estendida a untaça, depois enroscávamos, ficava assim. Depois metiamo-la num tacho. Como, por exemplos, olhe, (tem) aquele tacho, além, de cobre… Sim. Mete-se ali ou noutro maior e depois fica redondinho como fica aqui isto: com paredes dos lados e por cima liso.
Perafita
Então, fale-nos lá da matança. Como? Fale-nos lá da matança. Ah! Primeiro, pois chama-se pessoal para pegar nos porcos. Mas é uma trabalheira. Eles, coitadinhos, a gente cria-os e depois vê-os assim morrer à violência; é triste. Eu, fugia! Eu não os queria ver agarrar, coitadinhos. A gente, (à vezes), chamava-os para o quintal: 'Andai cá, coitadinhos'. Eles, então, deitavam-se ao pé da gente: 'ah, ah, ah'. A gente ranhava-os e eles então abriam as pernas. Quando eles vinham para os matarem, não era preciso andar atrás deles. Eu chamava só: 'Pequerruchos, pequerruchos, pequerruchos'. E eles então vinham para o quintal. Chegavam… Mas os homens não estavam lá; tinham que estar que ele os porcos não os vissem. Agarrava logo um numa perna, outro noutra, outro no rabo, outro nas orelhas – toca para cima do banco. Às vezes, (ele) até botava pouco sangue, porque aquilo era de súbito. E depois, com uns alguidares, a gente botava-lhe sal, um bocadinho de alho, folha de loureiro, uma espiguinha de centeio, que era para o sangue tomar melhor. Depois a gente tinha já os potes da água a ferver; ia-se para cima, porque eles ao depois, dês que estão os porcos já mortos, tratam de lavar um lado, não é? Quando o viram para o outro lado, tem que a gente vir com um prato de sangue cozido e uma caneca de vinho e uns copos num prato, para eles comerem o bocado de sangue cozido e a pinga. Depois lavavam o outro… Quando lavasse o outro lado, tornavam a beber, mas já não comiam sangue. Depois, ia-se pendurar, penduravam-se até alguns aqui, outros em baixo. Chegámos a matar aos quatro.
Perafita
Estou aqui a ver, a ver quando reza ali a missa. Eu não sei se as senhoras têm fé na missa. As senhoras têm fé? Há quem tem, mas há quem não tem. Eu, eu digo assim: eu estou a falar com as senhoras, não sei, porque não sei as ideias de cada um, não é? Mas, tem gente que tem fé – e têm fé nas (coisas)… E há, mesmo, até há. As senhoras não são jeovás, pois não? Não. Não. Aqui há uns em Souto que são jeovás. E até foi o que me compôs esta casa. O Senhor, de Souto. E é jeová. Nunca foi e depois devotou-se a ser. E andou aqui nesta minha casa e tudo e às vezes dizia-me assim. E eu ainda falava com ele com confiança. Mas sei que ele é jeová. E há lá em Souto mais de quantos jeovás. (Devem ser)… Há aí uns três ou quatro. E assim. E eu, eu digo a verdade. Eu só não gosto daquela lei por uma coisa. O mais, por as outras, (eu) tanto me dá de ser daquela como não ser. Agora, dizer eles… Que as senhoras também podem não saber, também são novas, também podem não saber. Mas eu ouço dizer, de há muitos anos, que Nossa Senhora só teve o filho – e foi tocado na testa. Que Nosso Senhor falou-lhe para ser mãe – de Nosso Senhor – e que não fazia mal nenhum, que ela não queria. Era uma mocinha nova e queria honra e vergonha, não é? Não queria ser casada. Assim como somos nós. Porque quem se casa, já se sabe o que atura com os maridos, não é? E Nossa Senhora não quis. E os jeovás dizem que a Nossa Senhora – nisso é que eu não gosto deles, por eles dizer isso – dizem que Nossa Senhora que teve mais do que um filho, que fez como as outras mulheres. E eu isso não é que… Não tem padre nenhum, nem igreja nenhuma, nem livro nenhum de católico, de religião, que diga que Nossa Senhora que foi como nós fazemos com os nossos homens. Casamo-nos para dormir com eles e fazer os amanhos que eles querem fazer, não é? Sim, as senhoras são meninas – deverão ser…
Vila Boa de Bucos
O nosso gado daqui é muito bonito, não o acham? É lindíssimo! É muito lindo! Que raça é? É… Não sei. É o gado amarelo, amarelo. Ele, o gado amarelo é todo… O gado todo que fôr desta raça é tudobovino, não é? Pois. Mas o nosso gado aqui é muito bonito. Daqui até Barroso! Depois a gente vai… É o mesmo, é igual ao do Barroso. Pois, pois. Vai para Trás dos Montes já não é igual! Tem os cornitos pequeninos. Vai-se… Vai a gente paraLisboa, para uma banda qualquer, já encontra umas vacas, a gente já nem diferença se são vacas se são burros! Ó senhora Maria, agora diga-nos lá uma coisa, se tem tempo: o que é que cria na sua horta, o que é que látem? Olhe, tenho lá margens de cebolo, tacos de tronchas, como nós lhe chamamos aqui, não é? Tacos detronchas. Vocês ainda não foram ver, ou já? Não! Mas até podem ir ver, que ainda se vê. Temos lá alhos semeados, temos coração de boi, tínhamos nabos paradar grelos e para se comer os nabos. Mas agora os nabos não é como lá nas terras que dão todo o ano, não é?Que assim que a geada apontar eles são rijos. Depois dão grelos. E temos couves. Para já ainda não plantámos ocebolo – isto está tudo atrasado… E é (assim). Não, senhora dona Manuela. As couves… Nós temos outra couve que lhe chama galega. As couves que nósgastamos são galegas. Essa é que é a couve, concretamente? Isso é que é couve. E a outra são tronchas. E algumas vezes a gente também planta repolhos. Mas a nossahorta dá… É um quintalinho muito bom. O que é pena é não ser meu – ser da minha patroa – e eu agora ter de odeixar qualquer dia. E não vou ter fartura, porque eu indo, fazendo um barraquinho de uma casa que não é casa, masum barraquinho de uma casa… Que é que a gente lá vai ter? Não tem um bocadinho de terra para a horta! Não tempara um quintal! Não tem nadinha! A gente, o ser velho também é triste! (Oh, então que é triste). Se a gente temsequer uma coisa de ir para um asilo ou para uma coisa qualquer, ainda a gente tem quem faça de comer à gente;mas a gente dizer assim, quero ir comprar as coisas, nem…Quantas ou quantos velhinhos aí estão que nem podemsair para fora da porta. Pois.
Granjal
Matam em Janeiro, Fevereiro. Em Janeiro. Chegou o dia da?… Da matança. Matança. Da matança. alguém especial para matar? Chama-se o matador e os homens para o segurar. Chama-se o matador e os homens para lhe pegarem. Como é que faz, então como é que faz? É queimado com palha. Olhe, vem o matador, mete-lhe uma corda na focinha e amarra-o. E depois os homens ajudam-no… Já têm o banco. Têm um banco grande e os homens ajudam-no a pôr em cima do banco. E depois o matador rapa com a faca eágua quente, donde há-de meter a faca. Tudo com muita limpezinha. Depois mete-lhe a faca. (Mesmo aquela faca). Sangra. A gente apanha o sangue num alguidar. Se quer coalhar para cozer, apanha para um alguidarzinho. Põe-se-lheum bocadinho de sal e apanha para aquele alguidarzinho. E o que é para se mexer, para se fazer o fumeiro, Que não coalha. Que é para não coalhar. É a primeira assadura que dá o porco é o sangue. E depois o que é que se faz? E depois, com palha, queimam-no todo muito queimadinho, muito queimado; com umas navalhas, rapam-notodo muito rapado; e com umas pedras, esfregam-no todo. Fica alvinho de neve; fica sem um pelinho. Quando são E é com pedras que se esfrega? É com umas pedras que lhe esfregam aquele coiro bem esfregado. Com umas pedrinhas. E com umas navalhas rapam os pelos todos. Cortam os cabelos todos. E depois vai… É pendurado. É assim? É isso mesmo. É isso mesmo, minha senhora. (Aí está) esse tal de chambaril – tal e qual. E então depois é que é desfeito – depois de estar escorrido, de estar já enxutinha a carne, é desfeito. Depois vai para a salgadeira. Depois quando é que se desmancha? (A desmanchar)… Quando desmancham, é as pás – as pás é as mãos; chamam-lhe as pás – e os presuntos, atrás. E osmeios – chamamos nós cá os cobros – é a barriga, de um lado e doutro. Chamamos nós os cobros. E os presuntos E depois tem os lombos lá dentro. E a cabeça e os… Depois arrancam-lhe os lombos, arrancam-lhe os coelhos. Arrancam o quê? Os lombos. Tem uma parte… E tem… E tem assim umas coisas, assim uns bocados, que chamam-lhe os coelhos. Coelhos? Coelhos. Coelhos. Tiram de cada lado o seu. A cada porco. É a coisa mais gostosa que tem o porco. É. É muito tenrinha. E os lombos… É carne, ou é?… É carne; é febra. É carne. É só febra. É só febra. E o lombo… Assim da parte de cima. É encostado, encostado, encostado mesmo aos presuntos, à retaguarda. É. Encostado aos… Os lombinhos? É sim. E os lombos é de cabo a rabo que se tira.
Figueiró
Esta chamamos o chá da horta. Chamamos… Chá da horta, que é bom para várias coisas também. É. Faz bem aos estômagos este chá também. Ó senhora, como é que chama a isto onde tem a?… Olhe, é um crivo. Era por onde crivávamos as papas. As papas? O que eram as papas? As papas? Era o milho. Ah! Mandávamos moer às moleiras, que a gente gostava muito das papas, cá em tempo. E este… E ao depois quando vinham da moleira, crivávamos por este crivo, ficavam aqui as carolas mais grossas. E as papas caíam – as miudinhas – caíam aqui para baixo, era o que a gente fazia com o leite. Como é que se faziam? Ai, com leite. Com leite de… Púnhamos leite de cabras e de ovelhas. E depois fazíamos aquelas caldeirinhas de papas. Às vezes até lhe deitávamos arroz. Assim juntas com arroz e com leite, ficava… Havia gente que gostava mais das papas que (é) com o arroz só. Sim senhor. Olhe, vê, este era uma dorna que também tínhamos de vinho. Era uma quê? Uma dorna. Chamávamos isto uma dorna. Mas era uma dorna porquê? Porque era a?… Era onde pisávamos o vinho, em primeira, quando tínhamos menos. Ah! Ao depois, arranjaram a… Tenho um… Até ali tenho um pio aonde lá pisávamos o vinho. Sim senhora. Ao depois… Aqui ainda… Um filho meu ainda aqui teve uma taberna. Ah, pois. E um café. Ao depois, olhe, agora está tudo abandonado. Abalaram. Então e aquilo ali o que era? Aquelas madeiras, aquelas?… Aquilo era onde botavam as mercearias. Ah, está bem! Olhe, ainda lá está. Não é do tempo do, de que apanhavam centeio e isso, não? Não é desse tempo aquilo? É da mercearia já? Ai! Do centeio? Tínhamos ali um arcaz muito grande de cem alqueires! Ah, pronto, era isso! Era um arcaz. Era. Chamávamos um arcaz. É que eu pensei que aquilo era um arcaz. Pensei que aquilo era… É. Aquilo é… Fizeram-no era para lá deitarem arroz e açúcar e massa. Pois, pois. Quando cá (tinhamos)… Olhe, o João está ali a pôr uma data de ervinhas… Espera, deixa estar que eu vou aí. Ai, não queres que pergunte? Não. Está bem. Mas é que… É que depois eu queria-lhe…Não queria mostrar isso tudo, para ver se a coisa… Para ela fazer a distinção. Olhe, isto, isto chamávamos-lhe as sarralhas. Sarralhas? Que são aquelas… Sarralhas. Que são ocas… É. É. É o 'pisse-en-lit'. Não são tão carnudas. A isso chamávamos sarralhas. É o 'pisse-en-lit' mas é mais maciozinho. Cheire, cheire. Olhe, isto é montraste. Também há aí muito aí à nossa porta.
Figueiró
Olhe e isto era uma erva que antigamente nas ceifas, ele estendia muito pelo centeio ou pelo trigo e… Pois, chamavam ervilha. Isto é ervilha. Ervilha? É, é. Mas era uma coisa que picava? Picava, picava. A gente, quando havia ervilha no centeio, a gente picava-se muito nas mãos. Picava muito nas mãos à gente. Eu acho que esta é mais, mais baixinha. Anda mais no chão. É, é.Pois anda mais no chão. Isso… Isso é tudo… Ervilha. ervilhaestende pelo chão. E outras vezes trepava assim pelo centeio. Pelo centeio. Diga-me uma coisa… Mas o que é é que se desfazia. Desfazia-se bem. Aqui não havia nada que chamassem unhagata? Ui! É o que mais (havia). É o que mais… Então e não era assim a unhagata, veja lá? Hã. Pois é. É. Aqui, esta. Olhe, que é a que chamávamos a unhagata que nos picávamos nas mãos, quando andávamos a ceifar. Chamávamos a unhagata. Era esta, era. Pronto. Tem aqui os bicos. Olhe, e esta era uma outra erva que aparecia no meio do trigo, muitas vezes… Joio. Sim senhor. Conhece tudo! Então, a gente esteve… Foi a vida da gente! Oh, mas quantas vezes a gente está a falar com uma senhora da sua idade que a vida dela foi toda no campo e não sabem as ervas! Os nomes das ervas! Então mas muitas coisas já (me a mim) podem esquecer, mas outras ainda as conheço! Sim senhora. Ainda… Ainda conheço tudo! Então eu, graças a Deus, cultivei tanta tralha!
Figueiró
Em cima, o moinho tem duas, tem dois pisos, tem dois andares… Pois é. É a mó e o pé. Exacto. E depois para andar a mó tem que estar a segurelha (de) cima do pé. Exacto. Sim senhor. E depois onde segura a segurelha é… Chamam aquilo o veio. Hum-hum. É um veio. Sim senhora. E depois o veio tem que segurar no lobete, naquele caixito que… – Tens que me lá ajeitar. Está bem. E aquela caixa onde a senhora põe o grão? A moega. E da moega?… E ao depois da moega para baixo tem a caneleira. E ao depois… A caneleira que deixa cair o grão aonde? 1(Ao) depois é que tem o chamadouro para puxar o grão da caneleira para cima da mó. O chamadouro é um pauzinho que fica a bater? É isso? É. Já viu? Eu trago-o a andar. Eu já vou para baixo, se quiser ver. E… E na mó… A senhora… A senhora chama mó ou pedra? Aqui qual é o nome que se dá mais? Nós é a mó. É a mó. É a mó. E a de cima, a que anda? A de cima é a mó e por baixo é o pé. É o pé. E à volta do pé e da mó não havia uma, uma armação que era para o, para a farinha não, não sair para os lados? Ah, pois, é isso. Mas eu agora, senhor, não tenho ninguém. É este filho meu. Sim. E agora todo o Verão a mó parou, e eu agora até já lá fui buscar-lhe um bocadito de cimento para lhe tapar os buracos, para não ir a farinha para o cabouco. E… Para o cabouco? Então o que era o cabouco? Olhe, já me lembra uma vez… (Lembra?) – este senhor. Trazia a mó a andar e quando lá cheguei, três alqueires de pão –quarenta quilos – estavam todos na levada. Não tinha nada. Estava tudo na levada, pois. Na levada. Pois. Foi-me tudo para o cabouco. Eu acabo com aquilo. O que era o cabouco? Diga, diga-me só o que é o cabouco. O cabouco é onde sai a água. Chamam nós aquilo o cabouco. Sim senhor. Sabe o que é é o que é o cabouco? É isso. E aquele buraquinho da mó onde cai, a farinha? Dá-lhe algum nome? Não. Aquilo é o buraco da mó. (Tremonhado). Há o buraco… Pois. E depois aquele sítio onde cai a farinha em baixo? Não é o tremonhado? E à frente não costumava pôr um pano ou uma coisa assim? Está lá. Como é que se chama? O panal. É o panal. Sim senhor. Vê que sabe tudo?! Não. Eu quero saber é os nomes… O senhor também já viu alguma… Não, não, não. Ou… Algum. Ele sabe tudo! Mas eu queria-lhe perguntar…Da levada?… A levada é aquilo que trazaágua directamente da ribeira ou a senhora não fazia uma parede na?… Na ribeira? Para?… Tem que estar. O ano passado quando veio este nevão grande cá, para aqui, caiu lá muita neve, em cima dos salgueiros que lá estavam, aquilo baixou. E a levada depois… E ao depois ainda disseram que (quisesse) aquilo encanado, mas não há ninguém quem faça nada e acaba com o… Vão acabar com tudo. Havia alguma coisa que chamasse aqui a açuda?Ou açude? É, pois. É o açude. É o açude? É o nosso açude, mas é ao cimo. É ao cimo da levada? É ao cimo da levada. Ao cimo é que é o açude, onde se tapa a água da ribeira. Em primeiro havia guarda-rios; agora, se temos governo, não há. Sim senhor. Eu só queria que o governador viesse ao pé de mim. Que era para lhe dizer umas coisas, não era? Era, era. Só queria. Ó senhor, eu não sei nadinha; sou uma parvita que estou aqui nesta área. Não é nada parvita. Mas já tenho sessenta e sete anos, mas olhe que digo-lhe eu: se temos governo, não é para todos.
Figueiró
E a quinta aqui, para ganhar um alqueire Abra, abra o seu chapéu, (senhora). de grão, que tempo eunão venho? Que dias não é preciso aqui vir? Para ganhar… Para tirar um litro em cada taleigo? Um taleigo era?… Era quanto? Um alqueire ou dois. Agora já nem dão só um alqueire ou dois. Mas dão já mais. Mas isto não dá para nada. Pois. Depois a gente fica aí com o grão… Andamos aqui a trabalhar para quê? E aquela quantidade que a senhora tira para si, como paga, do grão, como é que se chamava? Aquilo que a senhora fica para… Era a maquia. Era a maquia. Era a maquia. Mas eu agora só tenho as galinhas e depois já não trato tanto o milho para lhe dar. Ao menos ainda vou ganhando para os (víveres). Pois. Para as galinhas. Olhe,ponha-se aqui debaixo, senão… Mas já não… Já não dá para nada, já lhe digo. Já não dá para nada. Isto não dá para nada. A gente se ganhar meia dúzia de alqueires, fico com eles aí ao fim do ano. Ao fim do ano está tudo cheio de bicho. Pois é. Ninguém o quer. Então para que é que a gente há-de andar nisto? Pois é. Agora vêm estes padeiros por aí, já não querem do nosso pão, dos moinhos, que é negro. Hum-hum. A gente andar aí a ganhá-lo todo o Inverno para depois ficar aí no Verão todo cheio de bicho… Ninguém o quer… Pronto! Eu, um dia, ainda disse a uns padeiros: 'Em primeiro ainda o trocavam! Agora dizem que o nosso grão daqui que é miúdo, que só para ração, que não presta'. Hã-hã. Então… Eu agora fiquei ainda com algum, está todo cheio de bicho!
Vila Praia de Âncora
Mas, ele havia muita fome, naquele tempo. A fome, minha senhora… Passavam-se… Nós… Haver, ele a fome não havia! Havia muita comida com abundância, mas não se podia comer. Olhe, as batatas vinham, iam para a panela desta cor, com tona e tudo. Peixe, o peixe, salgavam-no assim num cabaz. Ali estava aquele peixe, que botavam sal para cima. Mexiam aquele peixe com aquele sal, assim com o cabaz. Estava ali aos dois, três dias; lavavam aquele peixe, ia assim para a panela. Conforme vinha da cozinha aquela comida, ia toda assim para o mar. Sabe o que nos valia? É que eu, olhe, o pouco dinheiro que uma pessoa ganhava naquela vida… Que aquele tempo ganhava-se pouco. Trazia-se um barco carregado de peixe, de bacalhau – trazia-se um barco carregado de bacalhau! –, trazia-se (ali) dois, um conto e meio, dois contos naquele tempo. Bem, naquele tempo, era um bocadinho mais; mas era pouco, ao peixe que nós trazíamos! Hoje trazem… Hoje trazem (logo) uma bagatela de peixe, ganham-me um dinheirão! Ganham-me um dinheirão! E o que nos valia a nós… Estão aqui dúzias deles que… Isto andou cá tudo ao bacalhau! O que está aqui! Andou cá tudo ao bacalhau! Está aqui um – e mais – e aquele também. É que nós levávamos cinco litros de azeite, um saco de batatas, levávamos umas cebolinhas, levávamos alhos, levávamos um barrilzinho de vinho, que metíamos em Lisboa, daquele vinho do sul, e era assim. E depois, fazíamos à nossa moda. Fazíamos à nossa moda, a comida. Mas isso também não durava muito tempo? Pois não. Era só naquelas horas. Quando a comida era fraca, nós… Bem… Porque ali havia dias que se comia melhor do que outros. Quando era assim aos domingos e quintas-feiras, davam-nos aquela carne de orça! Carne de cavalo! Carne de cavalo! Aquela carne de cavalo, se fosse bem preparadinha, comia-se bem. Havia um que se comia bem. Mas havia outra que era desta cor – era preta. Aquela, mesmo se viesse preparadinha bem à moda – à nossa moda, não é? – comia-se bem, minha senhora. Mas aqui assim, havia bandejas de comida daquela que ia toda para o lado. Tudo. Ninguém apunha à boca. Não senhor. Mas havia uma, que era a entremeada… Essa, essa era só para os oficiais, homem. A nós davam-nos uma vez por acaso, daquela carne. Deus me livre! Que miséria! (Ele) naquele tempo só havia (era) miséria!
Vila Praia de Âncora
Essas barracas de madeira, pode haver alguma mas é para arrecadação, assim de animais, de sargaço e coisas de lavradores. Isso é que pode haver. Mas… Mas para viver, não. Para viver não… Para viver, não há mais de madeira, não senhor. Para viver, não vejo aqui nada. Não senhor. Eu nasci. Eu nasci numa barraca de (madeiramento) – tudo em madeira. De madeira. Olhe, eu, quer que lhe diga, eu nasci num ponto, minha senhora – desculpe que lhe diga – cheio de piolhos, pulgas, percevejo, ratos, de tudo. Eu vivi no meio disso tudo. E depois é que veio, mais tarde – isso já era eu casado… Depois já era casado eu. E depois, quando eu era casado, é que veio uma lei de Lisboa – ou donde fosse, do Porto, ou donde fosse – (de) dar aqui uma desinfecção por toda esta zona, uma desinfecção que botavam (de) criolina e… Houve… Havia aqueles pós para matar os piolhos e tudo, e percevejos e tudo. Daí para cá, minha senhora, é que nunca mais se viu esses bichos. Nunca mais…
Vila Praia de Âncora
Fomos a portos muito diversos, estrangeiros. Hum-hum. E naqueles países… Bem, era uns países bons! Está bem que uma pessoa tinha lá intérpretes portugueses… Tinha intérpretes portugueses, que sabiam a nossa língua, não é? Mas uma pessoa não os compreendia, àquela gente. E naquele meio daquela gente também era gente boa – os estrangeiros, por esse mundo fora. Na Gronelândia, fomos a… Fui a um porto, o porto de 'Basques', levar um… Até fomos levar um cunhado meu, que partiu uma clavícula aqui, e foi'espontado' para San Jones. O comboio levou-lhe uma noite – uma noite toda a andar de comboio. E aquela gente era boa! E nesses pesqueiros do mar havia muito peixe. Ai Jesus, que de peixe havia! Meu Deus!
Vila Praia de Âncora
Até a sardinha agora não é gostosa. Não senhora! A sardinha, há coisa de uns anos para cá, não é gostosa como antigamente. Porque, antigamente, uma pessoa caçava milhares e milhares e milhares de centos de sardinhas, e a sardinha, ia-se para comer, branquinha na espinha, branquinha! E agora, come-se uma sardinha, vem negra na espinha. Porque será isso? Eu sei-lhe explicar porque é, minha senhora. Sabe porque é? Porque, agora, estes barcos têm essas sondas de choques, está a perceber? Andam a navegar… Que antigamente não havia sondas. Antigamente, era… Estas traineiras de Matosinhos e de Lisboa e tudo, eram os homens à proa a ver se ia peixe. Agora não. Pois… Agora usaram estas sondas para acusar os cardumes do peixe. Claro… E estas sondas são eléctricas, e o peixe apanha aquele choque. E depois dão uns tiros – nós, aqui os portugueses, não, mas aqui os espanhóis –, dão uns tiros fortes na água para o peixe…, para a sardinha andar meia tola para a caçarem. E esse peixe está cheio de sangue na espinha.
Vila Praia de Âncora
Mas naquele tempo que nós fomos, o gelo dava por aqui. O 'snow', o 'snow'. Pois, pois. Como caiu aqui há dias. Vocês, não caiu lá em Lisboa? Não. Não, não chegou… Porquê, aqui caiu, foi? Ei Jesus! Aqui, esta altura, de 'snow'! Tudo em farrapinhas, farrapos! Lá em Lisboa não caiu? Não, lá em Lisboa não… Quem é que disse? Em Lisboa, mesmo? Caiu perto. Caiu perto de Lisboa mas não caiu… Não, mas em Lisboa não caiu… Não, não, na cidade não. Parece… Ai, eu parece que vi na televisão lá a cair. Amostrou… Não, em Palmela. Em Palmela é que caiu. Aqui, ai Jesus! Até fizeram estátuas, aí estátuas… Pessoas, pessoas de gelo, com gelo, pessoas aqui, hem. Ai, que giro! Aquilo foi uma… Aquilo foi uma festa! Mas já há muito tempo?… Há muitos anos que não havia aquilo? Não. Já caiu há coisa de quê? Deixe ver. Talvez há mais de trinta anos. Caiu, mas foi só um bocadinho de nada – umas farrapinhas, umas farrapinhas. Mas agora, ai Jesus! Mas era assim de um metro quase de altura, não? Talvez! Daqui assim, oh! Caiu muito! Muita coisa. Tudo branquinho! E ficou muito frio? Não. Frio não era, porque aquilo era só farrapas e não estava vento, sabe? Não caía vento. Aquilo foi um colosso! Ai, Jesus! Meu Deus! Ai, deve ter sido giro! Saiu tudo, os rapazes e as raparigas, para a rua. Eu tenho uma filha, que está ali em baixo, no largo, numa papelaria. Essa deixou o serviço para ir para a rua, para a estrada, com os rapazes, ajuntar aquele gelo. Tudo! Fizeram lá uma estátua grande, um homem. Aqui na praia… Sabe onde é que é a praia, dos barcos? Sim. Fizeram uma estátua daquilo. Pegaram num carrinho daqueles de mão, levaram para o largo da capela. Que engraçado! Aquilo foi um (rol aí) de fotografias, ai Jesus! Eu ouvi dizer que… Então em Lisboa não caiu daquilo? Não, em Lisboa não caiu… Não, olhe. Aquilo era um… Ai que… Ai que bonito! Deve ter sido muito bonito. Isto, daqui para o norte, espalha tudo. Ficou tudo branquinho? Tudo, até… Portugal e tudo, aqui até lá ao… Bem, em Lisboa não sei… Em Lisboa não caiu mesmo. Não?… Ai, ai, que bonito era! Ai! Devia ser muito bonito! Bem, aquilo, para nós, bonito não há nada, mas… Mas naquela ocasião foi bonito. Caiu… Sabe porque é que caiu (e) até foi bonito? Porque não havia sementeiras, não havia batatas. Senão aquilo queimava tudo. Aquilo queimava tudo. Ui Jesus! Ele ainda queimou muitas (côas). As árvores, não? Não, as árvores não. Frutos, frutos. Mas agora está tudo… Agora não… (Ele não)… Por aqui não era muito frio. Mas havia farrapas que era isto! Pedaços de farrapas, daquelas (que vinham do)… Ai que alegria!
Vila Praia de Âncora
E uma pessoa, quando pilhava as pescadas, quando vinha em viagem para a terra, cortava-as. Lanhava-lhe a barriga e tirava-lhe a tripa toda. Sabe para que era? Que era para não ensardinhar. Sabe o que é ensardinhar? Não. É: a pescada, dentro da barriga, tem aquele véuzinho. Sim. Preto! Preto. Se aquele véuzinho estivesse esfolado, já não valia tanto a pescada como valia com aquele véuzinho. Está a perceber? Sim, sim. Estou a perceber. Porque toda a pescada que tem aquele véuzinho fora, chama-se-lhe a isso pescada ensardinhada. Ensardinhada? Sim senhora. E com aquele véuzinho todo, a pescada valia mais dinheiro. E nós traziamos… O que é que deixávamos as ovas. A ova, ia, ia… Tirávamos só as tripas, e a ova ficava agarrada à pescada, porque a ova fazia parte do peso da pescada. Pois, pois. Porque a ova é boa! Claro. A ova da pescada e do sável, ah! Que colosso! E do robalo! E do badejo! Ai, Jesus! A ova é muito boa!
Vila Praia de Âncora
Eu, o que uma pessoa trazia de corvinas! Jesus! Não íamos vender aqui que aqui era proibido. Porque esse peixe, aqui, era proibido. Sabe onde é que nós íamos vender? Você sabe onde é que é Fão? Sei. Fão. Não é Esposende. É para… Sim é para cima, para cima de Esposende. Temos Esposende, e temos por o sul Fão. Ai, é para o sul, Fão? É. Esposende é para cá do rio – do rio de Esposende. E Fão é para lá de Esposende. Passa-se a ponte, e depois ali é que é Fão. – Olhe o mau tempo! – E nós íamos vender ali o peixe. Está a perceber? Porque ali não havia autoridades, nem sabiam donde é que vinha aquele peixe. Porque aqui era proibido. E nós íamos vender às tais prainhas de Fão – chamamos nós –, às prainhas de Fão. Esse peixe, olhe… Jesus! Trazíamos raias, trazíamos cações, trazíamos… Trazíamos raias, trazíamos cações, trazíamos congros, trazíamos polvos, trazíamos fanecas, trazíamos sorelo, trazíamos os tais bêbedos!
Golpilhal
Chegou a época de cortar o quê? Ceifar a erva para seco. Aqui empregamos este termo: vai-se ceifar a erva para seco. E com que é que se ceifa? É foicinho. Uma foice que tem um cabo… Pequenina? Sim. Eu depois… (De cabo pequenino?) Tem. Mostro-lhe – tenho(além). Mas, não havia assim uma coisa que era muito grande, que tinha assim uma lâmina muito grande… Tem, também. Também há quem… Também tenho aí. O meu irmão até costuma… Como é que se chama? É foição; a gente dá o nome de foição. E o que é que faziam com essas ervas para elas secarem bem? Estendia-se na terra, na própria terra. Quem tinha tempo de… Quem tinha ocasião de lhe dar tempo para ela secar, a gente vamos cortando e estendendo, cortando e estendendo assim em fileiras – fileiras assim. E depois vira-se para ela secar por baixo e por cima. Vira-se… Antigamente até havia uns forcados – chamávamos-lhes nós os forcados. É um pau assim com uma grossura que se a gente abranja com a mão, e que tem duas…, duas hastes para ali, cortam e ao depois virava-se, assim. Quem não tenha isso, é mesmo com uma forquilha de dentes de ferro, também se vira. Depois recolhe-se. Aonde? Nos palheiros. Não fazem assim nada alto? Há quem faça essas medas – como nós lhe chamamos – mas era, por exemplo, para o… Quando se ceifa o pão, e que se debulha, depois fica aquela palha solta – bem, agora enfardam-na – mas noutro tempo, nós cá debulhávamos, por exemplo, o pão todo na eira. E até aí lá iam as vacas. O meu… Cá o meu pessoal teve quase sempre vacas. As vacas trilhar esse pão e a palha ficava trilhada… Com as patas. Com as patas das vacas. E depois quando elas queriam fazer as necessidades, elas tinham (de ir) com uma vasilha a aparar. Se elas faziam chichi, então tínhamos de correr com elas logo para a rua. (Pois). Eram os costumes antigos. E depois essa palha, quando não… Quem não tinha palheiros suficientes então faziam essas medas. Eram medas de palha. Põem um pau no meio, enterrado, e depois vão acamando até a palha em volta… Acamando, acamando, e depois vai uma pessoa para cima, aquilo fica alto e vão aguçando, aguçando, fica assim – aquela… E não fazem assim uma espécie de carapuço em cima? Fazem. (Por causa) da chuva? Da chuva. Às vezes até se enforcava um poceiro velho por cima… O que é um poceiro? É… Um poceiro era…, naquele tempo era de verga, e não tinha fundo: enforcava-se pelo pau abaixo e ficava assim em cima da palha e a chuva escorria só assim para os lados; e então só molhava por fora; por dentro a palha ficava boa, ficava limpa. Esse poceiro era uma espécie de cesto ou não? É. É uma espécie de cesto sem arco.
Moita do Martinho
A gordura ou a banha é quando está derretido ou quando já está? … É quando está derretido. Quer dizer, as próprias banhas dá-se-lhe o nome de banha, quando ainda está … Inteiras. Ainda está… Inteira. Exactamente. Sim. E depois chama-se a manteiga ou chama-se a banha de porco. Mas é quase sempre é: dá-se Manteiga de porco? É, é. Exactamente. (É) manteiga de porco. Olhe o presunto é da perna de trás ou da frente? É da traseira. E da frente? Da frente, é a 'pada'. Chama-se-lhe a 'espada' da mão, ou coisa assim. Até não…Aqui, não há muitos anos, não havia luz eléctrica ainda nestas aldeias por aqui e era tudo E a salgadeira era de barro ou de madeira? Era de madeira, a antiga. Há dumas e doutras; há de madeira, mas também há em cimento. Há umas… A antiga era de madeira, mas agora…E depois era de cimento. Agora já é as arcas frigoríficas. E…O sal vai criando uma aguinha que começa a escorrer da salgadeira. Exactamente. Tinha um buraquinho para escorrer a água for a. Por isso é que a salgadeira tem um buraco por baixo. Conforme aquilo se vai derretendo, aquela humidade da A aparar o quê? Como é que se chama? Aquele… Aquela humidade, aquela água do sal. Do sal. Mas tem algum nome aquela água do sal? Acho que não. Hum, acho que não. Não havia nada que se chamasse salmoira? A moura? Ah, pois. Pois. Exactamente. Mas a salmoira… A salmoira! Pois. É a salmoira que lhe chamamos. Mas a salmoira às vezes é mesmo quando está assim agarrada. Olha, aquela… Olha,está cheia de salmoira já, Pois. É aquelaDepois derrete-se. Exactamente, pois… Portanto, já falou da morcela. E que outras coisas é que se fazia para?… Com as tripas? É a farinheira. É a farinheira e a chouriça. Farinheira é com farinha de quê? É farinha de trigo. É a farinha de milho e a farinha de trigo. Mais de milho: dois punhados de milho e um de trigo. Depois Hum-hum. Corta-se conforme a maneira que quer, ou mais pequenino ou maior, as farinheiras ou os chouriços, conforme O chouriço aqui era com carne entremeada ou era só carne? Sim, sim. Entremeada, sim. Pois. E não havia nenhum que se fizesse só com a carne mesmo assim daquela carne limpa do lombo, ou isso?Que fosse só?… Não. Não, não. Pois. Quer dizer, é: a gente aproveita mais para enchido é aquela que temaquela percentagem Aquele entremeio! Tanto de gordura como… De gordo e a tal dita magra. Aquela assim… Porque há uma que é realmente toda magrinha; e há uma outra parte do porco que tem uma que é assim mais entremeada com um bocadinho de gordura e é essa que é cortada aos bocadinhos para fazer o tal dito enchido.
Parreira
Eh pá, hoje vamos aos gambozinos! Depois levavam um gaiato, chegavam além, punham-no além com um saco, além a aparar : Vá, olha quando… Mas, olhe que eu tenho uma história para lhe contar por causa disso dos gambozinos. Era miúdo – claro, era pequeno, tinha para aí os meus oito ou nove anos – e andava a trabalhar numa herdade que é Perna Seca, que é ali assim. Andava lá a trabalhar. Andava lá um tipo que era o Pedro Caçarrabo e mais o Alfredo Nobre. Andavam lá, começaram a dizer assim: Eh, pá! A gente hoje vamos aos gambozinos. Fomos aos gambozinos, onde é que eles me haviam de ir pôr? Lá ao pé de uma horta que estava um… A gente chama-lhe um bitoque, que tinha… É um canudo de cortiça que era por onde entrava a água para regar a horta –que aquilo tinha um valado à volta e tapado com silvas. E o bicho entrava e saía por lá! Mas, nem eles sabiam nem eu sabia. E eu, vá, os gajos chegaram lá, puseram-me: Vá, agora ficas aqui ao pé deste cortiço aqui, ficas aqui com a saca aberta, que a gente vai de além bater os gambozinos. Eh, quando foi ao fim de um bocado, os gajos deram assim a volta assim à volta da horta, para se safarem, por amor de me deixarem lá ficar. Quando eles dão a volta pelo cimo da horta, eu sinto entrar uma coisa para dentro do saco, fechei logo o saco. Fechei logo o saco e comecei a gritar: Olha, já cá está um! Já cá está um! E eles fugiram; foram-se embora; deixaram-me lá. Eles nunca mais apareciam… Hem! Não fui ver o que era. (Digo assim): bem! … Agarrei naquilo às costas dentro do saco e fui direito ao casal. Chego lá ao Casal, já eles lá estavam: Então, vocês vieram-se embora? Pois olha, eu já trago aqui um gambozino dentro do saco. Eh, mostra lá o gambozino! E para aqui… Mas estava lá esse moiral que era um chamado Malaquias, que era de Pegões, estava lá e mais eles, porque ele sabia da malandrice que eles me tinham ido fazer. Estava lá. Vão espreitar para dentro do saco: era uma lebre.
Alcochete
Então e uma coisa que era assim? Que andava um burrinho à volta duma coisa que tinha uma… Isso é…Isso era uma nora. Também conhece? Conheço. Como é que era? Isto era…Isto era o poço e puxava a água para dentro, para um tanque. E isto era uma nora. E isto tinha uns alcatruzes. Tinha uns alcatruzes, que andava à roda, ia lá abaixo à água, enchia e trazia para cima. E o burro andava a puxar isto para a nora andar à roda. E se parasse já não vinha a água cá acima – aquilo estava parado…E o burro tinha que andar com os olhos tapados, ia à roda e quando estava parado vinha um rapaz com um bocado de pau: 'Anda para diante, burro'! Puxava então ele, os alcatruzes iam lá abaixo conforme ele andava à roda, enchia e trazia para cima, para o tanque. Chegava cá acima, vazava para o tanque. O tanque estava mesmo debaixo do alcatruz. Pronto! E lembra-se os alcatruzes onde é que estavam presos? Era…Era tudo…Era tudo aparafusados àquela engenhoca. Não se chama?… Não se lembra? Era…Era…(Aquilo ali) era umas correntes. Aquilo era aparafusado – os alcatruzes – e depois aquilo andava à roda. E aquela?… Não se lembra do nome disso? Não me lembra é o nome disso. E aquela coisa onde estava preso o burro? O burro? Isso era a vara. Era a vara e ele…Era uma vara e tinha para o burro pôr ali os tirantes, com a coelheira, engatava-se os tirantes e o burro puxava. E onde é que os alcatruzes despejavam a água? Para o tanque. Era directamente para o tanque? Para o tanque. Andava à roda e ia despejando para o tanque. Depois do tanque é que era transportada depois para as terras. Largava-se lá do tanque, vinha pelo rego, punha-se a travadoira, regava-se com a pá ou com o cabaço. Antigamente era assim.
Alcochete
Que outros?… Que outro cereal é que se cultivava além do trigo? Mais nada? Trigo? Era cevada, centeio, cevada-branca, cevada-aveia, centeio. Mas então tinha uma coisa: quando se semeava de trigo, não se podia semear pragana. O que é pragana? É as outras searas. Trigo – trigo ou centeio. Ah! A gente emprega sempre aquele nome é de pragana. Portanto, pragana é centeio ou a aveia… É aveia, é trigo, é tudo pragana. Aquilo é tudo pragana. A gente, as praganas é tudo quanto é bago de (coiso). E…Mas a gente dessa seara que semeava trigo, do outro ano a seguir já não se semeava lá cevada. Tinha sido pragana. Semeava-se favas. Dava-se um ano de folga à terra dessa seara e punha-se outra. Podia-se pôr milho, podia-se pôr grão, podia-se pôr ervilhas. Dessa… Dava-se folga…Dava-se folga um ano. Depois ao outro ano podia-se semear outra vez o centeio, ou cevada, ou trigo. Nunca se semeava… Um ano era pragana, o outro ano era outra coisa? Outra coisa, outra seara. Porque nunca dava que a terra enjoa. A terra enjoa! A gente nunca pode… A gente nunca pode estar a semear uma seara sempre do mesmo sítio que a terra enjoa. É como a gente também enjoa o comer. Há comeres que a gente também enjoa. Se come sempre… Se come sempre! Isso chama-se dar a folga. Pois. Dá-se a folga à terra com outra seara.
Alcochete
E essas vacas nunca se tirava leite, que é vacas bravas. E os bois eram bois de trabalho. Agora do que se tira o leite é das vacas mansas e é das ovelhas e é das cabras. E essas ovelhas, às vezes, têm um moiral e têm um ajuda. Portanto, ainda há esse nome de ajuda? Pois. Ainda há esse nome de ajuda. E tem…Das cabras, às vezes, também tem um rapazito atrás para ajudar ao homem. Que é o chamado… Esse nome é o ajuda. Mas é… Às vezes tem, outras vezes não tem. E o que é que fazia o 'descontra-moiral'? O 'descontra-moiral' é abaixo do moiral. É o que mandava também da manada do gado. Mas eram umas manadas muito grandes? São três pessoas… Ah, era, então! Ali… Ali…Aqui desta herdade aqui da barroca, era aos duzentos bois. Vacas era às duzentas. Aquilo era uma casa muito rica. Portanto, este, o moiral, o 'descontra-moiral' e o roupeiro era sobretudo para gado assim desse? Era só para gado…Era só para gado desse. Era só para gado desse. Agora disto das ovelhas têm, às vezes, um rapazito para andar a ajudar a eles. E esse é o ajuda? É o ajuda. Nunca lhe chama roupeiro? Não. Esse é ajuda. Anda a ajudar. Onde é que se empregava o nome de roupeiro era só do gado bravo. Para gado bravo e vacas. Isso é que se empregava esse nome. E os bois de trabalho que eram bravos também. Saíam dali.
Alcochete
Olhe, e onde é que?… As vacas têm o leite nas?… Nas tetas. Aquele conjunto todo chama-se o quê? Aquilo é o peito. A gente chama-se o peito da vaca. E depois tem as tetas, penduradas, onde é que a gente puxa o leite. Até chama-se o amojo. É o amojo? Amojo ou peito é a mesma coisa? É. É a mesma coisa. Mas pode pôr o amojo, o amojo, que é mais prático. O amojo. E aquelas coisas que elas têm, é os?… É os chavelhos. Só lhe dão esse nome ou dão-lhe outros nomes? É os paus. Depois chamam… Éos paus ou os chavelhos. Ele não tem mais nome nenhum que é este. Estes dois nomes pode-se empregar: ou chavelho ou pau. Pronto. Mas ainda tem outro? Tem outro nome. É assim menos bonito. Não? Quê? Outro nome. Não tem mais nome…Não tem mais nome nenhum, que é chavelho e que é pau. E cornos, nunca tem? Cornos, isso é já mais prático de dizer-se, mas é feio!
Alcochete
Se for um macho é um borrego; e se for uma fêmea é uma borrega. Só têm esse nome enquanto são novas. Passandem já a parir, já não é borrega; já é ovelha. Olhe, e depoisquando têm um ano de idade, mais ou menos? Já é ovelha. Já sempre é… Mas ainda não pariu mas já tem um ano? Já tem um ano? Já…É que a ovelha está alfeira, ainda não pariu. Olhe e?… Portanto, não há nada que chamem anaco ou malato? Não. A gente aqui não. Olhe e costumam capar os carneiros? (Costuma-se). E um carneiro capado, dão-lhe algum nome? É um carneiro que já está capado. 'Olha, aquele carneiro já está capado'. E isto é o que se?…É o… Isto éo quê? É o que se tira. 2E o que se tira quando se corta?… Quando se capa o?… Aquilo, o carneiro…O carneiro tira-se é…Os 'grões', os 'grões' é torcidos – aquilo não se tira – e é metidos para dentro. Depois é atado com um cordel.
Alcochete
Olhe, o sítio onde as galinhas vão pôr o ovo? Isso pode-se pôr aí dum caixote. E como é que se chama? Com uma mancheia de palha; e ali – dali – é que elas vão pôr. Portanto, dão nome a esse sítio? (É só) caixote, a esse sítio. Ali ao…A gente diz assim é: 'Olha, lá está aquele canto do caixote, onde a galinha põe os ovos'. Não costuma pôr lá um ovo para elas irem?… Se habituarem a ir àquele sítio? Não. Ele nunca lá se põe ovos nenhuns. Põe-se é o caixote, que elas quando vêem o caixote vão logo lá. Pois é. Mas assim um ovo a imitar um ovo velho ou um ovo goro. Não. Nunca lá se põe ovos porque elas quando é a primeira vez de lá ir o ovo, tem que lá estar… (Não há ovo) nenhum que é por causa delas não se acostumarem a picar e a comer. Que se elas vêem lá outro ovo, começam a picar e partem os ovos. Comem. Comem até os ovos! É preciso até estar a queimar o bico. É preciso estar a queimar o bico a elas para deixar de comer os ovos. Pois. Queima-se-lhe o bico como? Aquilo queima-se com um ferro em brasa. Ai, é? Olhe, e elas quando?… Quando se criam galinhas assim para ter em casa, no quintal, onde é que se criam as galinhas? Dentro duma capoeira. E dentro da capoeira é que está o sítio?… E dentro da capoeira…Dentro da capoeira é tudo vedado com arame, à roda; faz-se uma casinhola lá dentro aonde ela vai pôr os ovos. Põe-se lá o caixote, com palha, ou com uma mancheia de serradura, e elas ali é que vão. Pronto! 'Acochacham-se' ali e põem o ovo – dentro daquele caixote. Quando acaba de uma de pôr, vai a outra. Às vezes, como é muitas, põe-se dois caixotes. E não chamam ninheiro ou linheiro ou? Isso o galinheiro chama-se é à capoeira. Pois. Isso é que chamam o galinheiro. Mas é…Está tudo preparado. Pois. Porque o nome do galinheiro,é preparado mesmo com tijolo. É com tudo! Isso é que se…Por isso é que se emprega o nome dum galinheiro, mas é preparado como deve ser. Portanto, galinheiro ou capoeira é a mesma coisa? Agora a gente fazer cá uma capoeira, cá assim (volante), é uma capoeira com arame… Faz-se uma casinhola lá dentro para se pôr os poleiros, para elas estarem abrigadas por causa da chuva, e põe-se os caixotes para elas pôrem os ovos, e depois vêm cá para fora para o pátio. Chama a gente um pátio. Que é para elas andarem ali à vontade, espojarem-se e tudo. Olhe e quando a galinha vai, que se põe sempre em cima do ovo, para nascer o?… A galinha quando se põe em cima do ovo é quando está a chocar. Quando está quê? A chocar. Portanto, quando está a chocar?… Está agarrada, nem sequer (se tira) lá de cima dos ovos que não é dela. Mas quando ela está mesmo agarrada de todo, agarra-se numa dúzia de ovos, e agarra-se numa caixa, um caixotezito com palha, põe-se ela ali em cima dos ovos e ela acarra-se ali aos ovos. Está ali agarrada aos ovos até o tempo de tirar os pintos. Quando se tira os pintos, tira-se de lá ela lá de cima para dar de comer a ela. Põe-se uma coisa com água, e põe-se o comer do chão e ela come. Depois galga outra vez para cima dos ovos.
Lavre
Sabe o nome das sobreiras? Cada sobreira tem seu nome? Não é o nome das sobreiras, é o nome dos terrenos, dos sítios. Ah! O nome das herdades, de… Estava a ver que cada sobreira tinha um nome! Não senhora. É que mas é as herdades têm vários pontos e vários nomes. Há o Vale do Cimarrinho; há o Vale da Antinha; há o Vale da Asseiceira… Enfim, muitos, muitos, muitos! Do género do Cabeço: o Cabeço do Pombo; o Cabeço do Jardim; o Cabeço… Eu sei lá (eu)! É coisas que a gente Pois. antigamente dizia, que hoje até… Há o Medronhal, o Cabeço do Medronhal, que é um, um… Mas havia cá medronhos? Dá lá. Há um medronhalzinho, guardado ainda do tempo dos senhores Veigas. No tempo dos senhores Veigas, guardaram aquilo lá. Aquilo era tudo mato antigamente, depois arrotearam e deixaram aquele bocadinho ali. Ainda hoje se lá se conserva aquele bocadinho no meio dos barros – barros, isto é, de sementeiras, terras de sementeiras. Lá está aquele quadradinho: é só medronheiros; não está lá mais nada. Só medronheiros dentro daquilo. E deita lá medronho – medronho ou medronhos. Olhe, e então a esgalha era o quê? Esgalhar era cortar a lenha para renovar o sobreiro. Porque o sobreiro se não for tratado – como tudo, como tudo na vida – se não for tratado, chegam a pontos, phhh, começam-se a perder. Começam a secar. E secam-se. Estão-se a secar muitos, muitos, muitos. E muitos, dessas secas que por aí há, muitos dizem: 'Ah! É moléstia'. Sim senhora! Que seja uma moléstia! Mas a moléstia é derivado… Não é como eles faziam antigamente. Lavradores aqui, na nossa área e nas outras áreas, tinham gados… Tinham… Não tinham tractores, tinham bois e parelhas e era tudo lavrado todos os anos… De anos a anos, era lavrado e semeado. E por cima de, por exemplo, quinze, dez a quinze, a dezasseis anos, ou de vinte em vinte anos, passava uma folha de esgalha, ficavam esgalhados. A árvore rebentava de novo, ficava toda…
Lavre
Portanto, há bocadinho falou… Aquela… Aquela… Aquele sítio ou aquela hora em que as ovelhas, por exemplo, no tempo do Verão, querem descansar a uma sombra, diz-se que estão (onde)? É ao calmeiro. É o calmeiro. Estão ao calmeiro. Recolhem-se para o calmeiro. Dali das nove e meia, dez horas, até às seis, seis e tal da tarde, estão ao calmeiro. Depois, cá está, estão todas essas horas sem comer – porque é de Verão, não há estes (dias de pôr lã) e aquela coisa toda e comer – e depois lá se tem que se andar de noite para elas encherem a barriguita. Que é luxo que isso já não se faz! E sabe porque é que não se faz? É muito simples. É uma coisa muito simples. Todo o Verão… Dantes não havia mais nada senão só o trigo e cevadas e pronto. Hoje já não é assim. Hoje, em todo o Verão, mesmo na força do Verão, há terrenos próprios, com sementeiras, com coisas, para ele os animais irem comer. Verde! (Durante um tempinho têm de estar sempre arrincando). Tem esses que largam de cevadas, largam de pastagens de terras do arroz, enfim… E as outras semeadas, ervas semeadas… Quer dizer que o animal já não passa aqueles necessidades que passava antigamente. Já antigamente tinha que se andar de noite com elas. Agora já não é preciso. Pois, pois, pois. Tanto que elas, às vezes, passam um bocadito mais mal, mas… Pronto! Claro.
Lavre
Mas é o quê? É o cevão, quer dizer que é um porco que está a engordar, e as mulheres é que chamam… Dizem assim: 'Tenho lá um cevão'! Que é por estarem sempre a alisar… Porque o porco para engordar bem tem que ser muito acarinhado. Parece mentira, é que mas é verdade. O porco é um bicho – um animal, vamos lá, um bicho não é; é um bicho à mesma, mas é um animal – que tem uma certa coisa: para engordar bem, é preciso… Há pessoas – isto é coisas que eu sabia que era assim – tinham um… Uma tinha um porco ali, outra tinha outro porco além em baixo – da mesma idade, irmãos, e tal –, apartavam-nos, começavam a engordá-los. Enquanto um punha seis arrobas, outro punha só quatro. E porquê? Porque um era muito cevado e o outro não cevado. Quer dizer que um era passado pelas as mulheres limpavam-no, (diziam: 'ai meu…') – estavam sempre a cevar nele. Faziam-lhe… Faziam-lhe festas? Estavam sempre a cevar nele, enquanto o porco estava ali a comer. E a outra, punha-lhe o comer e ia-se embora. Parece mentira, aquilo fazia uma grande diferença. Que então era um… Chamavam-lhe um cevão. Um cevão. Que engraçado! Era o porco que estava nas cancelas. Pois é. Até os bichos gostam de festa! Pois gostam, sim senhora. Que havia aqui uma mulher aqui em Lavre, que até se admiravam como é que aquela mulher engordava um porco tão depressa. Tão depressa, tão depressa, tão depressa, que… Pronto! O animal era (engordar), aquilo era um instante! Porque ela passava os dias lá ao pé do porco, a tratar do porco, tudo, limpar, tudo muito bem… Eles são porcos, mas também gostam das coisas asseadas. Pois é. Eles são porcos mas gostam das coisas asseadas. E aquela mulherzita tratava daquilo duma maneira… (Os porcos) era dia-a-dia! Os porcos medravam ali de dia para dia que era uma beleza! Pois. Tudo tem a sua coisa, pronto!
Lavre
Havia tanto disso. E uma outra coisa que cheirava muito mal? Os percevejos? Também havia. Havia essas coisas… Olhe, e não há uma coisa parecida com o percevejo mas que aparece assim no campo, que são assim verdes, que cheira muito mal? Pois aparece, mas eu não sei o nome disso. Ah! Cheira muito mal! Aparece, sim senhora. Cheiram mal, cheiram. Mas eu não sei o nome desses bichos, não. Não sei. Sim senhora. (Sei que) aparece. Também já tenho visto. Parece até… Parecem umas carochinhas pequeninas que aparecem de várias cores. Olhe, e esse que voa? Voam, pronto! Até… Há… Há… Assim grande. Há a carocha. Dizem que depois, vindem as águas novas, aparecem uns carochinhos. As burras de São João chama-lhe a gente. É. As burrinhas de São João. Como é que lhe chamam? É burrinhas de São João, chama a gente. De que cor é que são? São umas carochinhas pequeninas, assim um bocado do género disto. Mais escuras. Escuras. Escuras. Que a… E bem só se vêem em chegando o tempo das águas novas. Por exemplos, ali em Setembro, que a gente via começar a andar a avoar, dizia: 'Olha, temos água'! E temos mesmo água, de certeza. Que elas quando começandem a aparecer… Só aparecem naquela (coisa), depois somem-se; (juntam-se), enterram-se na terra ou por entre as moitas, ou por qualquer coisa, que a gente não as vê. E chama-lhe como? Burrinhas de São João. Burrinhas de São João. Chama-lhe a gente burrinhas de São João. Sim senhor. Olhe, e estes assim que até têm um bico aqui à frente? Ah! Isso é besouros. Escaravelhas ou besouros. Trezentos, A, D, um. Como? Escaravelhos ou besouros. A, D, um, trezentos e setenta. Pois, é tudo besouros. Olhe, e estes pretos que?…
Lavre
Pronto e traziam… Vinha a farinha do moinho e o que é que tinha que fazer para a?… Para poder fazer o pão? Conte lá. Tinha que se peneirar com umas peneiras muito finas. Ficava… Quantas vezes é que peneirava? Uma vez só. Só uma vez, mas era bem peneirada para cair aquele ralão. Chamavam-lhe o ralão. Mas antes disso tinham que tirar outra coisa que era para as galinhas? Que esse é que não prestava. O farelo. Mas isso ficava… O farelo ficava dentro da peneira. Ah! E ia para uma vasilha ao lado para dar aos animais: ou o comer das galinhas ou para os porcos. É os farelos. É os farelos. Depois guardava-se dumas semanas para as outras um bocadinho de massa. Ali um bolinho de massa, num pirezinho ficava. Porque na outra semana, se se puder, aquilo era o fermento. Quando… Chamava-lhe fermento? (Fermento). Era o fermento. Ficava sempre era a obra aí de meio quilo de massa. A farinha no fim de estar toda peneirada, fazia-se… Mas o rolão ia também para o pão? Ia também. Depois a gente tinha era… A minha mãe, ia lá ver: 'Isso não está ainda bem peneirado'! E a gente toca de peneirar a farinha. Peneirávamos aquilo tudo. Fazia-se um buraco assim ao meio da farinha, depois o fermento que tinha ficado da semana anterior era desfeito em água morna. Até se punha assim um bocadinho de molho, desfazia-se. Ficava aquela calda. Vazava-se essa calda dentro da farinha. Depois misturava-se a farinha e embrulhava-se aquilo tudo, tapava-se e fazia-se uma cruz para o fermento crescer. No outro dia de manhã, íamos ver, já o fermento estava muito grande. Sim. Punha-se em cada cinco quilos de farinha, um punhado bom de sal. Se fosse quinze quilos era três punhados de sal, se fosse vinte quilos… Era todas as semanas: de oito em oito dias, todos os sábados, se fazia o pão. Levantávamos-se de manhã, aquecíamos logo a água para amassar, para não amassar com água fria, para o pão fintar melhor. Então na… Em cima do fermento, punha-se logo as cinco mancheias – ou quatro, era conforme os quilos – de sal. Nunca podíamos esquecer! Até levávamos logo o sal, o prato do sal lá, para se lembrarmos, para não deixarmos o pão sem o sal. E então depois era amassar, amassar, amassar ali: 'Ó mãe, isto já está bom'? 'Não'. 'Ó mãe, então quando é que está bom'? 'Quando as pernas da tripeça suarem'! Boa! As pernas da tripeça não suavam; aquilo é que era amassar, amassar! Às vezes lá ia outra minha irmã mas fugia logo. Depois lá ia a minha mãe acabar de amassar e ajeitar. Amassava-se… Quando ela via que já estava bom, que desligava, não era, ia a gente, marcava ali no alguidar – o alguidar era sempre maior – quatro dedos. Ali ao fim de quatro dedos, punha-se ali um bocadinho de massa ali espetada. Quando a massa lá ia já a chegar, estava capaz de ir acender o forno. Diz que a massa estava quê? A fintar. Não é fintar. Não. Quando já estava pronta, diz que já estava quê? Quando ela tinha chegado até à altura dos quatro dedos, diz que já estava quê? Ah, já estava… Pronto, já estava boa para tender. Não dizem que estava finta? Já estava finta. Por isso, estava a fintar. Já estava finta. Ia-se acender o forno. Quando o pão chegava aquele limite dali, ia-se acender o forno. Para o forno, querem saber as ferramentas que se usavam? Hum-hum! Sim senhora. Como é que faziam? Primeiro era o forcado para meter a lenha lá para dentro. Acendia-se, não era? Era o forcado. Depois era o esborralhador, que era um pau comprido, para se espalhar a lenha por todos os cantos do forno. Quando o forno estava branco, é porque já estava quente. O tecto do forno todo branquinho! Aí de assim já tinha que ser o rodo, para puxar as brasas todas para a boca do forno. O borralho que ficava deixava-se (descontrolar) assim um bocadinho, senão aquilo ele era brasas que enchiam a boca do forno. Era o rodo para puxar. Depois havia as barbas. Era sempre umas calças de cotim, velhas, atado ali de assim numa vara, não era?… Embrulhavam-nas em água, (porque ajuda). Embrulhava-se em água – que senão queimavam-se, saíam logo de lá arder… Pois. Para limpar o forno, puxar todas as brasas, tirar a cinza, para ficar tudo muito limpinho. Chamava-lhe o quê? As barbas. Barbas. Barbas. É as barbas. Pois. As barbas do forno que era para limpar o estradozinho – para limpar o forno por dentro. Depois ia-se experimentar… Enquanto o forno ia ardendo, íamos tender o pão. Quer dizer que acendemos o… Vimos-se que a massa já estava capaz, íamos acender o forno. Enquanto o forno ia ardendo, ia aquecendo, a gente ia logo tender o pão. Ali aos bocados, conforme o tamanho que a gente queria, tendia. Punha-se ali num tabuleiro com um panal grande – a gente chamava-lhe o panal. Amanhava-se o panal no tabuleiro, punha-se ali um pão. Depois fazia-se assim: levava dois pães; amanhava-se o outro, punha-se aqui; depois o outro já fazíamos assim… Não era assim? Pois. Pois. Fazíamos assim ali o pão.
Serpa
Depois tinha que voltar atrás porque?… Voltar atrás novamente com o animal. Tinha que trazer de volta e depois tinha que novamente cortar, passar… Se aquele rego estava feito aqui, ficava este quadradinho – suponhamos que era esta (loba) –, já o homem tinha que fazer duas vezes, passar aqui, para encostar, para fazer a margem (seguida). Porque depois atrás vinha o encarregado, que andava a ver, diz assim: 'Então, já deixaste além uma loba'. Pois - (ouviu)? 'E a terra está crua'. Que a essa loba chama-se depois a terra crua. Porque a terra crua, a semente ficava ali em cima, vinha a bichareza, comia. E se ficasse com pouca terra em cima, a raiz ficava na terra que estava crua – ouviu? – e a raiz não gerava e a planta não se criava. E depois a seara começava a crescer, e ficava assim aquelas manchas na seara, tal e qual como está estas 'nodinhas' aqui nesta mesa. E então, vá, a gente, muitas das vezes, como se calhou, como eu, como outros… Uma pessoa às vezes fica lá: 'Ah, está lá longe, passar'! Mas eles vinham vindo, vinham vindo: 'Alto lá, pché! Tu é que andaste além! Volta lá atrás. Tens que lá passar'! (E eu: 'Homessa'!) Depois começavam os outros companheiros: 'Eh, fulano'!… A zangarem, a dar ferro à gente, para coisa… 'Eh, fizeste isso mal feito. Não devias ter feito. (Eh, coisa… e tal'… A dar aquele ferro à gente, (para se zangar). 'Eh, outra vez'?! 'Eh'! (E logo): 'O encarregado viu; o encarregado viu'. 'Não houvera de ver'! Porque depois, se não vir, mais tarde, representa-se o patrão – a passear a terra, quando vê a seara nascida e tal, vão vendo –, vão a passear a terra com o encarregado, vão passeando, passo a passo, vão passeando… Onde quer que houver esta tal dita loba que fique, que a semente não esteja voltada… Porque a semente caiu em cima deste assento de terra, mas essa dita terra tem que ser toda arrancada ao contrário, tem de ficar toda em cima. Se cair terra daqui para aqui, e esta terra não ficar voltada assim, a semente não se cria bem. E assim, se a terra está aqui, o tal dito charrueco passou aqui, voltou este rego ao contrário. Se voltou aqui e a semente ficou no mesmo sítio, a semente não foi mexida, a semente ali é conhecida sempre. E eles vão: 'Queres ver? Estás a ver? Aquilo a terra ficou crua'! Eles depois já…Ao depois já não é nome de loba. Só é nome de loba quando se está lavrando. E depois de se voltar as costas, que eles vão ver, já não se chama loba. Chama-se: 'Ora vês! A terra aqui ficou crua! Tanto ficou crua que a semente não se cria; está-se conhecendo'!
Serpa
Portanto, mas essas pessoas que têm assim um poço que tem mais que um dono, como é que se chama? Não podem regar todos ao mesmo tempo, não é? Pois não. Como é que se chama a vez de cada um regar? A vez de cada um é, suponhamos, como eles dizerem aqui assim: 'Ouve lá!'… Dando-se eles bem – que às vezes, aparecem assim e ao depois aparecem 'arrelidades'. Mas deixemos isso. Dando-se eles bem, diz assim: 'Olha lá, a que horas é que tu começas a regar'? 'Então porquê'? 'Oh! Eu queria começar – suponhamos – de manhã'. 'Olha lá, também faz jeito. Olha, tenho que ir fazer outro serviço – ou vou picar um feijão que tenho semeado – e ao depois tu regas na parte da manhã e na parte da tarde rego eu'. E eles olham um para o outro: 'Olha lá, também está bem, pronto. Fazemos assim'. E assim se fica. Um rega na parte da manhã, o outro foi fazer outro serviço e na parte da tarte regou o outro, o outro inquilino.
Serpa
Aqui quais são?… Quais são?…Qual é a árvore que há aqui mais à volta de Serpa? Da vila? Em qualidades de arvoredo, mais, em volta… Aquela que há aqui mais? A que há aqui mais é a oliveira. A oliveira dá assim uns rebentos, não dá? Pois dá os rebentos. Como é que se chamam os rebentos da oliveira? Isso, os rebentos da oliveira, a gente chama-lhe o arrebentão. Pois. Ah, mas aqueles que nascem no pé. No pé. Que seja no pé, que seja em qualquer da parte, 'enfluente' das pernadas, a gente, é um arrebentão. Pois. Agora, se for do pé, e o pé da planta, se for de raseamento bravo, já a gente lhe chama um burrico. Pois. Os pés de burrico porque são bravos. Passou para cima onde o tronco passa a ser manso, passa a arrebentão. Não. É em baixo, é em baixo. Em baixo são os pés de burrico. Pois. Pois. E quando se vai tirar?… E quando se vão tirar esses burricos, como é que se chama a isso? A gente chama: 'Vamos a desburricar'! Olhe, e a flor… A oliveira dá uma flor, não dá? Dá a flor. A gente chama-lhe é a flor da azeitona – que é o candeio. Porque a gente propriamente diz, aplica logo, se vê uma oliveira com muita flor, a gente diz assim: 'Que lindo candeio que esta árvore tem'! Que lindo quê? Candeio. Pois. Quando se vê com muita flor também. E se tiver?…E se agarrar assim numa flor e diz assim: 'Ah, o que é que tens aí na mão'? O senhor pode dizer?: 'Tenho aqui um candeio'! Não. A gente diz: 'Tenho é a flor da azeitona. Isto… (Pois. Só diz que tem o candeio quando é?…) O candeio, quando a árvore está completa. Pois. É a… Pois. Se a gente colher e o outro perguntar: 'Isso, não sei o que é que tens'… Exactamente, digo: 'Tenho aqui a flor da azeitona na mão'. 'O que é que estás vendo'? 'Estou a ver se está falida ou não'. Porque a azeitona, aquilo é uma espécie dum botanito, é tal e qual como o bago de chumbo. Aquilo vem fechado. Como o quê? Que é exactamente como o bago de chumbo, em redondo. Pois. Mas está fechado. E aquele que abre, aquele que abrir – a gente vai ver se está aberto –, aquele que abrir, está gerando azeitona. E se estiver já uma caindo e outra cair fechada, e no mesmo dito ramo, uma cai e a outra fica em cima e continua a estar fechado, é porque de facto está toda falida. Porque se estiver gerando a azeitona, aquilo abre. E vai abrindo – aquilo é uma espécie dum cravo –, vai abrindo e lá fica a azeitona da banda de dentro. Agora, se ela não abrir, então está falida. Não tem azeitona gerada.
Serpa
Há aqui uma latinha que faz um barulhinho, aqui (dos lados)? Essa latinha é para quando se acaba aqui o trigo, Como é que se chama? cai para baixo essa lata. Se não me engano, parece ou é o guizo ou o chocalho que lhe eles dão. Pois. Que cai para baixo. Que ao depois começa a trabalhar em cima da pedra: trrim-tim-tim-tim. Que isto em bem como de noite, estão chamando a qualquer coisa, estão a dormir, é isso aí: já se sabe que isto cai para baixo, faz uma barulheira disparatada. Já sabem que aqui o trigo aqui que se acabou. Não chamam taramela? Lá assim os nomes disso, não tenho assim a certeza. Então e esta coisa aqui, o que é? Esta parte aqui é a volta que eles têm, que é um pano, para tapar a farinha, para a farinha cair toda ali à rés. Senão a farinha deita mãos a avoar. E mesmo assim avoa ela muito, que se agarra às paredes.
Serpa
Não se diz pocilga? O pocilga é para dormir. Para dormir? Para dormir. Mas a engorda tem que ser… Têm que andar cá por fora. Que a gente diz assim: 'O porco de engorda vai para a rociada' – Que é para a rociada! Que é o andar ali no campo, que o porco também tem que transitar um bocado. Até umas tantas horas vai transitar – que a gente diz: 'Vai transitar para a rociada' – e depois volta novamente a comer. Que o porco, quando se diz que está para a engorda, pelo menos de duas em duas horas tem que estar comendo. E o que é que se dá ao porco para ele engordar? Para engordar, há diferentes comidas, conforme o dono queira o tempo em que ele leve a engordar. Pode ser com farinhas próprias, só de uma qualidade, que seja milho, como pode ser o milho feito em farinha, como pode ser a fava, só por si, deitada de molho para não escaldara boca. Porque chega a pontos que faz doer o dente ao animal. É um bocadinho deitada de molho, ele torna-se mais macio, o animal come mais – ouviu? Como pode ser o 'gramijo', como pode ser com a cevada, como pode ser com um trigo que seja ruim, que tenha muitas impurezas, que não seja aceitado no celeiro – que mandam fazer em farinhas, juntamente, aquelas sementilhas e aquilo desfaz aquilo tudo, trás! Pode ser dado em seco, dentro dumas vasilhas, como pode ser feito em travia. E a porção é conforme o dono tiver o compromisso ou ele tenha falta do dinheiro. Diz assim: 'Dentro de dois meses, tenho que pôr os porcos à matança'. Chama-se deitar os porcos à terra. É quando eles firmam o cu no chão que já se não são capazes de levantar. Digo: 'O porco já está com o cu no chão que tem que se… Tem que ir para a matança'. Tem que deitá-los a terra. Enquanto eles andam por si, é porque estão leves. E quando o porco põe o cu no chão, que levanta as mãos só para cima, digo: 'Prontos! Já se não pode dar mais comida porque ele já não põe mais carne e não aumenta mais. Está é prejudicando'. Porque come e não põe mais carne. E então, nessa altura, sentou o cu no chão, vai para a matança. Chegou-se ao pé do comprador que estiver comprometido: 'Olhe, tenho lá então uma vara de porcos. Tenho quarenta, tenho cinquenta, tenho cem… Estão prontos a vender'. 'Quantas arrobas podem ter'? 'Olhe, podem ter quatro, podem ter cinco… Vamos a pesá-los'. Nessa altura são pesados e o dono aliviou-se dessa carne.
Serpa
O que se chama, então, (isso) o que se chama é o seguinte. A gente: 'Tu, do que é que estás pescando, pá'? 'Ando aqui à pesca'. 'E então o que é que puseste na 'cibela''? Ouviu? 'Bom, pus daqueles peixes pequenos'. Pois. Ou: 'Pus uma minhoca'. Que assim é a resposta. Pois. Mas o peixe pequeno, geralmente quem põe isso, que lhe dá muito trabalho, é o pescador. Aquele que é pescador que pesca de rede, que tem umas redes apropriadas miudinhas, e apanham aquele peixe assim, mais ou menos, deste tamanho, e ao depois tiram uma quantidade deles que lhe faz falta para pôrem nos anzóis… Nos quê? Para pôrem nos anzóis. E depois o resto, deitam-nos para a água. E cada vez que queiram, apanham uns quantos e ficam… Agora para quem vai com um dia, para passar o tempo, que é um 'sport' passar por um rio, chegou ali, levou o tal dito sacho, hum? … Quê? Um sacho. Levou um sachozinho na mão – cá está o tal dito sacho, a ferramenta que está aí –, levou um sachozinho, chegou ali a umas areias, (rente) além àquelas…, à água, que é onde há muito disso, e cavou até que descobre uma minhoca ou duas e pôs ali a minhocae pronto. Apanhou logo umas quantas. Leva uma latinha ou qualquer uma vasilha, uma vasilhinha qualquer – 'suferiores' –, assim uma caixa de papelão, qualquer coisa. Põe uma coisinha de areia e põe ali a minhoca. Para cada vez que deita aquilo fora… Que muitas das vezes, há aqueles peixes pequerrichitos – hem? – e vão, comem a minhoca. E o grande – já vêem –, não encontrando nada, já não come. Já não vai porque encontra o arame – aquilo é um arame – e então já não pica. E eles, volta e meia, têm que puxar aquilo para fora, para ver se verdadeiramente tem (a) minhoca ou não tem. Porque muitas vezes aqueles pequenos comem-nos e depois, se é o caso que comem, têm que pôr, ou tornar a pôr, outra. E se há um peixe grande que vai, que engole aquilo, dá logo sinal. Porque eles têm uma bolha – chamam-lhe eles uma bolhazinha de cortiça, que está cá no fio – e desde que apanha um peixe grande, o peixe faz força e aquela bolhazinha de cortiça mete-se debaixo de água. Em eles vendo meter a cortiça debaixo de água, já sabem que há lá peixe preso. Pois. E então, começam a enrolar a roca. É uma roca que tem uma manivelazinha, começam a enrolar e depois a linha – aquele dito fio é propriamente é uma linha… Antes era fio, de carreto, e agora, é uma linha de 'line'. Agora é o 'line'. Pois, é uma linha de 'line', que eles já vendem isso apropriado. É uma linha de?… De 'line'. 'Line'. Linha de 'line'.
Sagres
Estas bagas que tem, portanto, não se põem estas bagas no anzol, está a perceber? Portanto enfia-se as Pois. Depois, no que se vê estar a comer, dá-se-lhe a aferrada e o anzol espeta por baixo e fica É quase como apanhar um peixe (com um pau). É isso, é. É, é. Portanto ela não (pega no anzol)? É. É por isso… É por isso que chamam-lhe, eu não sei, chamam-lhe a erva de salema. Ela não pega no anzol. Portanto, fica pendurado ali, depois vai comer donde se dá o puxão, fica presa (no anzol). Tem… Tem logo dois anzóis. (Elas, ás vezes)… Agora é que apanham muito pouco, mas antigamente iam muitos homens assim já velhotes, iam muito pescar à salema, com estas baguinhas. Pois. Isto era uma… E há aqui na rocha. Cá em Sagres há… Há isto também, erva de salema. Pois isto é assim. Isto o mar tem segredos, às vezes. É verdade. E tem muita coisa. (Oh, esse que está a ir ali para fora é que está a falar com os senhores). Tem… Que até há… Tem também… Tenho visto às vezes passar aquelas… Uma… É aquela água-morta (que) parece uma couve-flor. O que é isso? É uma coisa muito grande. Parece um chapéu? (Até logo, Francisco). Um chapéu. E às vezes… Tem uns raios para trás? Tem uns raios para trás… Há… E aí há… Não chamam alforreca, aqui? Chamam, chamam. Chamam-lhe alforreca também. Aquilo são. É… É… Aqui também se chama alforreca. É a mesma coisa que o senhor está a dizer? É água-má. Ao fim e ao cabo aquilo é um vivente. É água-mau. É um vivente. É linda. Então, tem… E tem olhos e tudo, que a gente vê os olhinhos. Nós chamamos uma alforreca (e ainda há uma) água-má que anda só a… E os olhinhos é que é uma coisa escurinha, parece quase uma azeitona… Aquilo ali é um vivente. Apesar de ser um, é um vivente. Agora o resto é tudo é… É tudo uma água morta. Mas há aí alguns são muito bonitos, muito grandes; às vezes há de quilos. Agora livrar, portanto, daquela água ir para os olhos: (se for para lá), pode cegar. E há outros que, também, que andam por cima da água, parece umas caravelazinhas, também pequeninas…INQ Sim senhor. (Também já vi). Que andam só… Como é que chamam a isso? Caravelas? Pois, como é… (A gente também é) caravelas. Às vezes é… Portanto, quando aparece essas caravelas por cima da água é sinal de mau tempo. Pois. Pois, pois. Que aparece assim grande, não é? É vento cá do mar. Que quando tem tempos bons… Nas marés vivas não aparece as caravelas? Não. É… É… Aparece é quando está tempo… Não. Aparece mais é no mês de Outubro, Novembro. Setembro, Outubro, Novembro. Quando vem um vento cá de sudoeste. Às vezes (por causa do) sudoeste, quando (traz) aquelas caravelas, é sinal de mau tempo. Às vezes está dois ou três dias que há vento cá deste lado e vem. Isso anda muito fora. Agora essas alforrecas também às vezes dá à costa, muito grandes e parece uma couve-flor, com aquela flor. E há várias qualidades de alforreca também… Não há… Não há… Olhe, e não há outras algas sem ser estas duas que eu tenho aqui? Há mais. mais? Há limos. Há aquele que apanha-se… Limos qual é? Aqueles verdes? Aqueles verdes. Pois. Há verdes. Há limos verdes. Sargaço. Há o tal limo que é, portanto, que é especial, que é próprio para fazerplásticos e não sei quê. Que se usa em medicamentos também, e não sei quê. Pois até, até… sim.O sargaço o que é? Há o sargaço também. É uma espéce de limo, também. Mas é um limo muito áspero e tudo. É castanho. É castanho assim verdoso. Muito áspero, assim todo aos raminhos (dobradinhos)? Pois. Pois, exactamente. Há várias coisas. Há o sargaço, há… Há várias… E esse sargaço serve-lhe para alguma coisa, ou não? Serve. O sargaço é quase sempre é: as pessoas noutro tempo iam buscar para pôr nos terrenos. Adubo. O sargaço serve de, portanto, de adubo para os terrenos. (A descer) de esterco. Que as pessoas iam… O que é que dá muito trabalho, não é? Noutro tempo, tinham os burros e levavam o burro (à praia), mas agora já não. Mas faziam isso aqui em Sagres? Em Sagres. Faziam. Levavam aquelas cargas… É para pôr na vinha que é uma coisa que dá muito (reforço) à vinha. E… E… Para pôr na vinha. E depois punham esterco por cima, coiso. Aquilo aquecia, aquilo com (a onda de) calor, apodrecia tudo… Aquilo apodrece e serve de estrume para a…
Porches
Os campos, está aí tudo, tudo por cultivar. O arvoredo vai-se perdendo por causa da falta da cultivação. E as sementeiras também não dão, porque as despesas são muitas e, hoje, isto vem tudo mesmo pela natureza, sabe. É porque antigamente semeávamos as terras e nascia erva útil para os animais. E, então, era bom a gente aproveitar aquelas ervas para os animais. Sustentávamos os animais da terra, tanto das ervas como, sim, a palha dessas sementeiras. E hoje há umas ervas que não deixa criar as tais ervas que eram úteis para os animais e não deixa criar as sementes que a gente semeia – que é uma erva que lhe chamam a erva-azeda. Quer dizer, aqui na nossa zona chama-se erva-azeda e chamávamos, também, campainhas. E, noutros sítios, tem um outro nome. É aquele das flores amarelas? Pois. Não deixa… E quem foi que semeou essa semente? Apareceu. Aqui há anos, nascia aqueles pezinhos de erva aí nos barrancos, nas correntes de água, entre meio das silvas, às vezes por baixo de uma figueira. E agora, há aqui de uns cinco ou seis anos para cá, é a terra toda tapada daqui ali. E as outras ervas não nascem; não se criam, porque aquela não deixa. E a gente vamos semear as terras, vem aquela erva, abafa as sementeiras, e já não se cria. Pois, pois. Ora, é claro, isto é o que se está a ver. Eu, pelo menos, vejo assim. Vejo que isto é mesmo da natureza.
Porches
Veio da tropa. E, então, queria ir para a tropa que era para aprender a falar – que na tropa aprendiam a falar. Mas, aprendeu a falar – iam ali para Lagos, para a tropa – e depois quando vinha a casa, a fim para aí de um mês ou dois, vinha falando a uso de Lisboa. Mas não era aquela fala de Lisboa – não era aquela fala – mas diziam eles que era fala de Lisboa. Aprenderam aqui em Lagos! De maneira, estava ele na estrada nova, na rua do tio e estava uma roupa estendida, lá em cima das moitas – quer dizer, das tais daroeiras. As mulheres iam lavar logo àquela poça e, depois, estendiam a roupa, por cima das moitas. Diz ele: 'Sim senhor, oh, que linda terra que está além! Deixaram-me uma terra daquelas, umas tomateiras tão lindas, tão grandes'! Umas daroeiras! E chamava-lhe ele tomateiras! Sendo ele criado aqui, talvez aí, vá lá, vá lá a uns quinhentos metros da distância da casa do tio. Tinha ido para Lagos, para a tropa e veio com aquela peripécia muito boa, muito bonita. Ora, é claro, são estas coisas assim que eu tenho visto! Ora, é claro. Conheço – eu já tenho quase cem anos – e, então, tenho conhecido muitas partes, muitas partes destas. E isto fica-me tudo aqui. Enquanto os outros ouvem as coisas, ou vêem, e de si mesmo não têm inteligência, muitas vezes, para descobrir qualquer coisa – julgandem-se eles inteligentes! – e eu, como sei descobrir qualquer coisa e não sei ler, pois sou bruto, sou parvo. Ah, mas eles, eles que se vão governando lá com a inteligência deles, que eu mesmo cá para comigo, sei eu, muitas vezes, orientar a minha vida e tenho-me orientado, talvez melhor do que esses que sabem muito e que sabem ler. Pois claro. E não quero… E não quero ainda… Eu, hoje, já não acerto já bem, que a minha cabeça já está fraca. Mas esses rapazes que discutiam comigo – esses (gajos), esses estudantes – a propósito de muitas coisas, nunca me venceram.
Porches
Não há quem semeie, não há quem vá fazer esse serviço, porque ele está tudo muito caro e não há quem faça. Mesmo pagando o dinheiro, não há quem queira ir fazer. Só porque querem trabalhar aí nas coisas, nas obras, aí na construção. Trabalham mais do que trabalhavam aí no campo. Mas consideram eles… O trabalho aí nas obras, consideram aquilo um emprego de estado. Mais importante. E de maneira: nem para eles, eles semeiam. Nem para eles! Onde é que eles mesmo trabalhandem, em ganhando o dinheiro, podiam semear alguma coisinha para eles. Enquanto comiam daquilo que eles recolhiam, estavam a gozar daquilo. Mas não: 'Eu, tenho muito dinheiro. Ah! Vou-me à praça compro e é mais barato do que andar trabalhando e coiso e tal'. E não querem. Já ninguém quer trabalhar. De maneira que os campos estão todos abandonados. Ninguém já faz nada.
Porches
Agora, para aqui, o outro ano, viemos aqui à igreja, a uma reunião – uma reunião a respeito da festa, de fazermos a festa. Bem, o padre chamou a gente para vir, para reunirmos aí a respeito da festa, pronto, mais nada. E então, nessa altura, vieram dois rapazes fazendem parte, rapazes novos; e eu e mais um outro é que éramos os velhos que fomos a gente que fomos da iniciativa de se renovar a fazer a festa novamente – que eles em escangalhandem, em escangalhandem isto,depois chamam para a gente ir levantar o que eles deitaram abaixo. Não sei se me compreende? Sim, sim. E depois, em tendo aquilo já mais ou menos, (aquilo), são eles que fazem e a gente (vamos dizer): 'Ora esta, tinha que ser!' Bom, e então (aquilo)… E, então, começou o padre e esses dois rapazes: 'Cooperar, cooperações, cooperar, cooperações'. Não citaram mais palavra nenhuma; não sei que reunião foi aquela.
Alte
Como é que?… Há carvão de vento e há carvão tapado da terra, está a perceber? Pois. O carvão de vento – este homem não sabe explicar; esse sabe, não quer é dizer – o carvão de vento é trabalhoso. Já ontem explicou também. Eu já expliquei isso ontem, homem. Eu já expliquei isso ontem. Não quero explicar aquilo que se (já) explicou ontem, porque a gente temos que (se) ir fazer outra coisa. (Certo. Certo). Explicou, sim senhor. Olhe, mas diga-me uma coisa. Como é que você explicou (o tal) carvão de vento? Eu, como é que se explicou? É do de urze? De urze, de urze. É o de urze? (É verdade). Fazia-se… E qual é o carvão bom de urze? Você não sabe explicar. Qual é o carvão bom de urze? Eu não sei explicar e sei qual é o que é bom e qual é que é o ruim! Então, como é que isso é feito? Não sei, vê lá! Em me ele indo ali à forja, já eu digo logo o que é… Ora… Eu sou uma criança com quarenta e dois anos e havia de eu não saber isso! Uma cova no chão, cepas de urze, toca aí, limpa-se aquelas urzes, vá as cepas para o moitão e vá fogo. E não… E não vai mais nada? Vai, (homem). Não tem que levar uma machadada em cada cepa, não leva uma peta? Isso é as que fazem (a) falta; as que não fazem (a) falta, não vai. Para quê? Para cozer! Para cozer e para arder. Havia… Havia um alferce… Levava um alferce com um olho do feitio de machada. A peta. Está a perceber? A peta. Depois é (corrido). Espere aí, patrão! Ora, vê lá bem! Ora, vê lá! Espere aí, que eu sei o que estou dizendo. Ah, tu sabes e os outros não sabem?! Espere aí. Faz-se aquela cova, depois vá, ali bem aquilo bem ajeitadinho… Não toques é aqui! Aquilo vão ardendo e depois ainda vão batendo nelas, vão batendo nas cepas. Estão ardendo e vão batendo nelas. E depois é espalhado que é para… Vão batendo, vão batendo, vão batendo. Que é para quando estar… Depois quando estar muito em brasa, depois aquilo é… Há uma vara… Fazem uma (vara) até da urze… Uma vara!? Chamam-lhe uma vara que é quase de varejar, como se (fosse de) varejar alfarrobas ou azeitonas ou uma coisa qualquer, ou amêndoas, isso não conta, ou figos, uma coisa qualquer. Depois, essa vara, quando aquilo estar aí (mais ou menos) bem batido, joga-se para ali umas pás de terra e depois vai-se desmanchando pouco a pouco. Quer dizer, depois também às camadinhas de terra. Quando ser apagado com terra, é uma categoria de carvão; quando ser água, ali já não presta. Pois. É mais fraco. E temos problemas, está a perceber? Sim senhor. Olhe e o?… Essa?…O?… Esse?… Que nisso, trabalhei eu. Essa carvoeira que se arma, tem?… Deixa-se algum buraco, não? Deixa… Sim. Deixou um maço, deixa um ouvido, deixa uma boca para dar fogo e deixa conforme o que está debaixo da terra. Dois ou três ouvidos se fazerem falta, conforme a madeira que está lá debaixo da terra. Olhe, então digam, só um de cada vez, a boca onde é que é que se deixa? A um lado. E os ouvidos? Deixo também dos lados. Mas é diferente?… A boca é diferente dos ouvidos, então? Pois é. Como é que?… A boca faz uma espécie de quadrado. Pois. E os ouvidos é um buraquito redondo que eles deixam para resfolgar. Sim senhor. (Para ele) …Senão não ardia; não cozia o carvão. Então e quando?… Quando o carvão está feito, quando os senhores sabem que o carvão já está feito, como é que?… Quando é… Tapam aquilo tudo e depois batem e já sabem se está ou não está cozido. Os homens, quando é… Batem. Batem e já sabem se está ou não está cozido. Sim senhor. E, portanto, quando já está cozido tem que se?… Depois é esborralhado. Mas batem, ou quê? Hã? Então não batem? Ele acabou de arder, deixou de fumar, meu grande amigo. Pois isso tem que o tapar. Onde é que se dê – é o que a senhora está a falar (ainda) – onde é que se dê a boca, depois deixou-lhe um ouvido. Conforme a maneira de ele ser… A carvoeiro pequeno também convém dois ou três ouvidos ao lado. Pois. Na cabeça da carvoeira, está a perceber? Chama-se uma carvoeira. Na cabeça da carvoeira. Deixou-lhe aqui, quer dizer, com licença… Eu assim, e aqui em cima, com licença, aqui leva, quer dizer, uma feitio de laja – até pode ser duas, três, quatro, cinco pedras, está a perceber? É o ouvido. Chama-se um ouvido. O resfolgadouro, vá, da carvoeira! Aqui leva outro e aqui leva outro e aqui vê-se fogo. Nós, vamos buscar uma mão-cheia de palha ou de rama… Ou 'palharó'. Qualquer coisa que não se põe dentro. Depois, há umas bancas que se levanta com o alferce, do feitio deste papel e tapa-se, para não afogar a carvoeira. Se ela é afogada, pois ela é afogada, não ardeu. Pois. É que nem não pode arder, pois ela afogou-se com a terra. Mesmo a terra fina vai, mata o fogo, está a perceber? E não dá nada. Morre logo, está a ver? E então, nessa altura, como a gente faz… Trabalhou, tapou-a, aqui são os resfolgadouros, quer dizer, que é… Pois é os ouvidos. Onde é que está o vento, aquela coisa… A gente marca onde é que está o vento, aquela coisa e, depois, aquilo vai andando. Depois, a lenha vai arder apagada, apagada, apagada, sempre apagada, e depois… Quer dizer, isto é um isqueiro, (mas isto é faz de conta) um madeiro, foi indo apagado e fez um carvão. Se o patrão que a enfornou ser bom, perceber bem do que está a fazer, pois ficou o madeiro tal e qual a um carvão. Pois. E ali arranja muito carvão. No caso que não seja assim, pois, aquilo fez-se um moitão de cinza. Não tem problema! (Pois é assim). Não tem problema nenhum, (pronto)! (Pois é). Se não saber… Mas enfim. Enfornar que ele arda tudo! Deixa estar o resfolgadouro – chamam-lhe o resfolgadouro. É como nós, quando está a dormir ou (como está) com falta de respiração, é a mesma coisa. Tem que ter uma respiração para… Sim senhor. Para ser queimado, bem entendido. Para respirar! Eu não sei ler, homem, (mas espere aí que eu)… Falta-me o estudo. Eu tenho lá uma filha e um filho que gostava que eles andassem para a frente, que soubessem mais que a minha raça toda – (que é diferente). Isso sempre eu desejo.
Alte
Então, os cabritos, quando são pequenos, o que é que eles mamam nas mães? Mamam nos tetos da mãe. Mamam o leite, homem. O leite. O que é que eles bebem? Bebem o leite. Pois claro. Portanto quando nós vemos um homem a tirar o leite a uma cabra… A uma cabra? Dizemos que ele está a quê? Está a roubar; está a roubar o chibo. Está… Não, não. Vão… Lá está aquele homem a?… A ordenhar. Mas há muitos que roubam. Assim que os filhos nascem, começam logo a roubar um pedacinho de leite para ir vender, para… Vai roubando logo os chibos. Então e para ir beber, não pode ser também? É, mas eles roubam mais depressa para ir vender. Agora não; agora já roubam para ir beber. Mas antigamente – como eu conheci muitos – roubavam para vir vender. Às vezes, vinham vender dois, três litros de leite, para comprar pão ou outra coisa qualquer. Olhe e ordenha-se para dentro de quê? Por exemplo as?… Duma marmita ou dentro dum ferrado. Porque sendo… Quando é muito, é para dentro dum ferrado; se é pouco, mesmo dentro duma marmita se eles governam.
Alte
Como é que se chama aquele animal que é costume comer-se na noite de Natal? Isso costumam a dizer, quase sempre, que é o galo, ou a galinha. Não, isso é a Páscoa. Não. Não senhor. Pelo Entrudo é que fazem isso, comem o galo. Não é o peru? Isso o peru, isso é moderno. Isso o peru, agora é moderno, há para aí meia dúzia de anos para cá. No Natal (é o quê)? No Natal comem castanhas e boletras. O peru? Pois, isso é que (era). Assado nas brasas. Isso era… Isso era…Isso era dentro da igreja é que a gente comia, lá na missa do galo.
Monsanto
Enquanto a seara estava no campo, para se apanhar como é que se fazia? Antes de a trazer para a eira? Mas… Mas já estava ceifada ou por ceifar? Não. Ainda não. Ainda não estava ceifada? Não. Era… Eram pessoas a ceifar com foices. Mulheres e homens. Ainda não havia máquinas para… Ainda não havia máquinas! Agora… Agora já ceifam as máquinas. Mas quando eu era putozinho era só a gente. Aqueles senhorios arranjavam cordas de homens quase como é daqui além – além àquele rolheiro além, ou àquele caminho além. Conforme… Bom,é conforme eram as searas que arranjavam. Pertenciam sessenta alqueires a cada homem e mulher. Depois havia senhorios que semeavam aí vinte e trinta moios, era vinte ou trinta quinteiros que metiam. Depois aquilo era tudo debulhado assim nos vales, tudo assim com gado, tudo à roda. Aqui arranjavam um bocado; ou andava aqui o gado a talhar naqueste… Alimpavam… Moíam aqueste, estendiam logo além outro, que era para o gado nunca parar. Quando moíam aquele, os homens andavam aqui a limpar aqueste; depois moíam aquele, estendiam outro – ou aqui ou noutro lado –, passava o gado para aquele, alimpavam aquele. Era sempre assim.
Monsanto
Tudo de seguida? Debulhavam tudo ao mesmo tempo? Tudo seguido. Tudo seguido. Tudo assim assente. Tudo… Começava-se aqui a assentar, assim aqui. Tudo, tudo. Uns de cima dos outros, uns de cima dos outros. Depois, o gado moía tudo aquilo por riba; depois passava assim por cima – Deixa-me! –…Havia… Havia forquilhas. Depois, voltava-se a semente toda assim para o outro lado. Todo! Aquela coisa toda, botavam assim tudo. Tornavam, vá de entrar para cima daquilo. Bom, o gado nunca parava. Depois moíam aquilo por riba, tornava-se a dar outro tombo para o outro lado, assim. Tudo! Dava três e quatro tombos ao dia – conforme! Chegava-se a ponto de aquilo ficar ali moidinho (que ficava) ali… Ficava o grãozinho todo, todo fora da palha! Sim, a gente chegava a misturar esta palha mas depois a gente com o vento… Pois. Olhe… Com o vento, saía tudo.
Sapeira
Uma vez veio aqui um senhor, aqui à minha adega que escolheu… Ele, pronto, ele trabalhava na Suiça, e parece que era pintor, e escolheu logo isto aqui para pintar aqui esta vista toda. Sentou-se aqui assim. Mas é que isto aqui… É que apanha muito… Sentou-se aqui, numa cadeira, e uma mesa à frente. Quando foi no fim de aí de…, aí dum bocado, já um bocado grande, que ele quando ele além chegou abaixo, tinha isto tudo: além com aquele moinho de vento – até àquelas casinhas além, que se chama Barretos –; além com aquelas pedras – mesmo além naquelas, chama-se ali o Cancho de São Lourenço, além assim –; tudo: além aqueles cumes, além assim aquilo tudo; e aqui esta vista toda. Isto foi no mês de Agosto, estava assim os castanheiros tudo verde, essa coisa. Deve ser lindo. Aquilo era uma coisa lindíssima depois de pintado.E, depois, ele mostrou-me aquilo depois de pintado, que aquilo é que era uma coisa mesmo linda. Deve ser lindo. Ai, isso é que E disse-me ele que ia receber assim uns tostões bons por aquilo. (Diz que sim). Parece que na Suiça que dão muita importância a essas coisas. Pois, pois. Sim, sim.
Sapeira
Havia um forno, aqui, que se pagava... Cada tabuleiro que se lá ia cozer, pagava-se um pão. E de forma que nós íamos sempre – era ali em baixo –, nós íamos sempre ali. Quando eu era… Cá no meu tempo de solteiro e essa coisa, eu é que ia sempre levar o tabuleiro à minha mãe. Agarrava no tabuleiro… O tabuleiro era quantos pães? Bem, conforme. Fazia-se ali dezassete, dezoito, vinte, quinze… Pagava-se… conforme a quantidade que amassávamos. Pagava-se um? Pagava-se um. Dava-se algum nome àquele pão…? Aquilo chamava-se uma conta. Era de vinte, já se tirava um. De vinte para cima, parece que tirava-se mais; eu não sei bem como é que… E se fossem dez ou doze, tiravam um à mesma. E não davam um nome àquele pão que se dava de paga? Aqui, não sei se… Não? Bem, parece-me que…Bem, era a paga do forno. Era isso. Era isso que parece que se fazia. Parece que eu que ouvia falar nessa coisa: 'Então, já tirou a paga?', ou coisa. Era assim, era. Pois. Portanto, mas a pessoa, quando ia cozer lá, também tinha que levar a lenha que era para aquecer o forno, não? Não, não. Punham eles tudo. O que é que juntavam e não podiam amassar todos no mesmo dia. Ou no mesmo dia! Um hoje e outro amanhã! Aquilo o forno levava ali três ou quatro tabuleiros, não é, até três ou quatro fregueses, e de forma que juntavam e escolhiam, mais ou menos, a hora e o coiso, que era para cozer tudo para não gastar tanta lenha. Por exemplos, uma fornada dava logo para todos.
Sapeira
É o… Isso é o edifício novo que andam a fazer agora. Mas isso ainda não trabalha e onde é mesmo agora a casa dos bombeiros é cá em cima. Bom, até por acaso, os bombeiros até têm... Ali é as garagens; a casa é lá mais acima, ao pé do Dom Pedro V. Pois. Isso é que é também aí. Também têm aí outras garagens, agora aí. Ah, pois têm. Têm lá, têm. Eles têm duas instalações. Agora, em fazendem o resto das outras é que fica tudo ali junto, já. Fica já ali a garagem; fica casa para tudo, não é?
Castelo de Vide
A carroça é uma coisa e o carro é outra. O carro… Pois, como é que é a diferença entre uma e outra? A diferença é o seguinte: quer-se dizer, a carroça tem dois varais, que é para o bicho entrar no meio dos varais; e o outro, quer dizer, tem uma vara, quer dizer… Uma vara ao meio? Uma vara ao meio, que é para o bicho, um de cada lado. Pois. E é para muares na mesma, o carro, ou é para bois? Não. O carro de vacas. Carro para gado vacum, para vacas, exactamente. Aqui, costuma-se a dizer o carro para bois. Mas não. É para vacas, Pois. porque, é claro, as vacas, é claro, dão as crias e, então o pessoal, quer-se dizer, tem mais vantagem nisso. Pois. E enfim. Mas isso, pouco. Há aí – que estão aí muito aqui em volta – uns três ou quatro carros desses. Enfim, os homens lá vão ainda, porque não têm tractores e então hoje a coisa… Estarem a pagar, eles tendem as coisas em casa, fazem a toda a hora, quando querem. Vão fazendo o serviço com um macho, com mais pausa. Pois. E não estão a pagar aos outros.
Porto da Espada
Às vezes, até havia umas ervas do campo que a gente... Pois bem, a fome, às vezes, era já é muita, ia a gente… Chamam-lhe… Chamavam-lhe pialhos. Pialhos (era) uma coisa, um… Também se conhece por erva azeda. Ia a gente, comia aquilo e roía aquilo. Chegava-se a um ervilhal aonde haviam ervilhas – conhece o que são as ervilhas? –, era colher e toca de comer. Grãos e tudo! Hoje?! Então pois hoje alguém faz essas coisas?! Isso hoje já não; já ninguém… Hoje já ninguém trata desse assunto. Ninguém, ninguém. Roubava-se muito. Desde que houvesse, por exemplo, uns figos ou uns cachos ou qualquer uns melões, umas melancias, roubava-se muito. Hoje, o pessoal não sei se anda mais abastecido e não se frequenta qualquer coisa que se roube. Nem a uma vinha, nem a uns figos, nada; nada disso frequenta já. E noutro tempo, não escapava nada. Aquilo era, desde que a pessoa pudesse, figos e, ora, e cerejas. Ai eu! Ainda levei algumas sovas! Ainda levei algumas sovas, que me apanhavam às cerejas – doutra gente, está claro! Ora pois, tudo aquilo pertencia tudo ao mesmo, a haver fome.
Porto da Espada
Mas depois o que é que se tem de fazer às castanhas?( …) Põem dentro de uns sacos e depois? Pois, e depois vai para dentro do secadeiro, essa que aí é seca. O que é o secadeiro? Um lume… Um secadeiro é uma casa; uma casa com um sobrado, tudo aos buraquinhos, e faz-se um lume lá debaixo, para se secar. Está ali, por exemplo, dois meses ou assim… Sempre com o lume por baixo? Sempre com o lume por baixo. No fim dos dois meses, está pronta, vai… Dantes, pisava-se. A gente ali com um cabaz, com um cesto assim redondo, botava-se para ali uma taleigada e toca de pular ali, dentro daquilo, para se tirar. Depois, aquilo moía-se, saía aquela moinha, a pele. Saía pelos buraquinhos do cesto e ficava a castanha limpinha ali dentro do cesto. Pois. Era o trabalho que dava. Mas, hoje já não… Mas essa castanha era guardada? É guardada. Isso é… Fica também duns anos para os outros. Mas, quer dizer, em ficando duns anos para os outros, dá-lhe em dar um bichinho que lhe chamam a ponilha. Dá-lhe em dar aquele bichinho e a castanha parece que se põe assim um bocado… E descorada! Põe-se assim um bocado diferente da cor natural. Pois. Mas há aí certa gente que sabem tratá-las. Quando é ao fim dum ano, estão iguaizinhas às novas. Mas é preciso uns tratamentos. Os tratamentos é que não sei como são. Não sei o que lhe fazem. Mas fazem-lhe uns tratamentos quaisquer. Dão-lhe umas voltas, umas vezes para ali e depois para aqui. Dão-lhe aquelas voltinhas. Aquilo depois, por fim de tempos, por fim de um ano, rendem a mesma coisa que rendem as novas. E a vista é a mesma. Mas é preciso tratá-las. Se não as tratar, aquilo levam caminho. Pois, assim é que é.
Câmara de Lobos (Madeira)
Mas há?…O senhor conhece este peixe, já o viu? Eu, eu conheço… Já viu este peixe? Eu tenho mais ou menos esse. Pelo desenho, eu não sei lhe dizer. Mas, eu… Mas… Este… Esta parte aqui, daqui, daqui para baixo, é rija. É como fosse isto aqui. É? Ah! É como a… É como aquele peixe que eles matam com a. Isto é… Isto já vi. O galo, é o galo. O peixe-galo, o peixe-galo. Ah, o galo? O peixe galo. É. Ah, mas este não é o peixe galo, não. Mas o galo é mais, é mais coisa por aqui e tem uma mancha. Sim, mas… E tem uma mancha aqui, não é? Sim, mas eu… Eu, quer dizer… É. Dá ideia ao peixe-galo. Isto em desenho, a gente… Sim senhor. É, é. E este vermelhito, aqui em baixo? Este é o peixe-rei. Este é o peixe-cão. Este… Peixe-cão? Papagaio ou peixe-cão. Peixe-cão? Sim. Este é o – espere – é o peixe-agulha. Sim senhor. Certo. Este é o pargo. Mas há várias qualidades. O pargo até (há) branco, cinzento. Há várias qualidades. Que eu conheça… Que eu conheça… O senhor há bocadinho falou do pargo-capelo, não é? Era pargo-capelo? Pargo-capelo. Pargo quê? Capelo! Pois, há. Mas é que o peixe… A gente chama-se um peixe de capelo ou um peixe de giba, um peixe com giba, vá lá. Com giba aí em cima da cabeça, não é? Pronto. E o peixe-cão e papagaio… Olhe, veja. Olhe, veja, está a ver? Está todo. Olha, esse é aquele. É o peixe… É o peixe-cavalo. É o peixe- Galo. galo. Galo. Quem vê… Quem vê em desenho, a gente… Este é o carneiro. Isto… É (o) raro agora aparecer peixe desse. Sempre às vezes aparece! Este é o… Como é que se dá? Também… Isto é: as coisas vai… Este é o peixe-porco. Peixe-porco. Esse o senhor… O senhor falou há bocadinho no peixe-cavalo. É algum destes? Este é o peixe-porco, peixe-lua. Sim. Olhe, veja. Está aqui um. Sim senhor. Este pode ser a coisa que a gente se diz. Peixe-cavalo, pois é este. Peixe-cavalo. Este é o peixe que a gente… 'Letes'. Não. É parecido com a espada? Não? É o feitio do espada, mas… Então não é o coelho? O coelho, não que este… (O) peixe-cavalo, que mata-se mais fora. Este também é morto mais fora que eles (espalham) calamar. Calamar. Este é um peixe que a gente temos com um pedaço de calamar ou um pedaço de cavala. Ah, que serve de isco? E o gajo vai comendo e vai comendo. Calamar é o quê? É pota. Que a gente chama-se pota. Ah, está bom. Antigamente eles usavam era pota para a espada. Agora como não há pota, é a manica, que é aquela cavala. Mas (esse serve)… Qual? A goraz? A goraz?… Ah, a manica? Tiram-lhe… Tiram-lhe (o) aparo assim; e depois fazem filetes assim para… Salgados! Não tem que ser fresco! Este é o peixe-porco. Eu… Eu quero buscar este nome… Em tempo é que havia muito. Havia assim: era conforme as colheitas. Eles ali chamam peixe, peixe-cravo, não sei se é. Vá lá, sim senhor, sim senhor. É peixe-cravo, peixe-cravo. As ovas da espada é muito boas, as ovas da espada. Por acaso… Ai é? A Espada preta. A ova. Aquele peixe que disseram que lá – lá no continente – fica com o fígado, e depois deitam fora, que é a xara… A xara. Não comem a xara? Não. Não, não. Não. Acolá, quando for acolá dentro, vão comer um dentinho de xara. É a sobremesa. É. Vai um dentinho de xara e vai dizer: 'Isso é bom'! Eu moro ali; já vão. (É um minuto só). Está bem, está bem. Não, mas a… Mas a… E peixe-coelho? Há algum que se chame peixe-coelho aqui? Há sim. Há, há. Peixe-coelho de natura, ou não sei quê? Há, há, há, há. É assim neste género, assim. Sim, sim. É neste género, o peixe-coelho. Mas em tempo havia! Não vê esta coisa que… Leis! Como a gente se falámos ainda agora. Leis. As leis que está se passando (aí) no mundo, as coisas vai enfraquecendo tudo. Pois. Está compreendendo? Em tempo havia embarcações que ia… Estas coisinhas! Ia… Ia para ganhar a vida, está compreendendo? (Que é) para qualquer uma arte! Mas agora eles estão prendendo tudo de uma tal maneira que a pessoa tem medo. Pois, pois. Ir ali e eles encher uma multa (de) quinze a vinte contos, trinta contos. Claro. (Não). É o mais barato. Agora donde é que há pessoal? Se há pessoal que não tem nada, ora a autoridade não quer… A autoridade quer é assim: não quer ver gente doente no hospital, nem quer ver gente na cadeia, está compreendendo? Não quer ter despesa. Mas a gente, nós, tem-se medo (no ir) para a cadeia. Esses problemas que dá, vai enfraquecendo.
Câmara de Lobos (Madeira)
Quando não está ainda bem seco, está molhado? Está molhado. E depois diz-se: 'Olha, o peixe ainda está muito molhado'. Quando ele está muito – não está assim (tal) –: 'Olhe, está verde ainda, não se'… Verde? Sim. Pois. Está verde. Sim senhor. E não há peixe que se come ainda quando está verde? Ainda está verde, um bocadinho verde? Então não se… Então não se come! (Então) não se come! Ou qualquer uma qualidade de peixe que se coma sem sal, menos a gata. E aqui que peixe é que se costuma salgar? A gata é que não se come… Tem que se comer ela… Tem que deitar a secar para deitar aquele enjoo – que tem um…, como o mijo – que deita como um cheiro, cheiro a mijo. A gata deita esse cheiro. A gata. Hum-hum. E costuma-se salgar? Aqui costuma-se?… É como o bacalhau. O bacalhau quando está seco, cheirou a o cheiro afastado. (Tanto que) todo o peixe – ou seja peixe ou seja carne –, está salgado, deita o cheiro a longe. Mas aqui salgava-se mais ou punha-se ao sol? Aqui (salga-se-mo), salga-se. Não há peixe que se ponha-se ao sol sem salgar. Aqui, não. Não, mas eu dizia mesmo para guardar salgado. Não, mas só guardar salgado, sem ser ao sol. Por exemplo, fazer em casa peixe salgado para conservar para o Inverno. Antigamente… Ah, pois, só. Então não se (come). Antigamente fazia-se isso, ou não? Não. (Antigamente), não. (Era menos acessível). Antigamente, não. Agora faz-se. Temos frigoríficos, faz-se. Eu faço em casa. Sim. Antigamente, não havia frigoríficos. Era tudo… Eu salgo… Corto uma… Bem, compro cavalas… Sim. Eu escalo ela. Depois de ela (estar) escalada, alanho. Faço o lanho nela. Salgo. Deixo de um dia para o outro, para deitar aquela moira fora, deitar aquele sangue fora. Depois lavo-lhe bem lavado para deitar aquele sal. E depois pego ali no peixe, ponho dentro de um saco de plástico e ponho no frigorífico. Que é para… E quanto tempo é que dura? Quanto tempo é que dura assim? Ele dura bastante tempo. (Para) a cavala… A cavala sendo gorda, ela dá um ranço. Então, para não dar esse ranço, ela está no frigorífico.
Caniçal (Madeira)
Pois. Quando aparecia uma baleia lá ao longe, o que é que havia aqui em terra e quem é que via a baleia e isso? Tinhamos… Tinha-se um vigia lá no monte – lá em cima naquele cabeço –, um vigia que olhava para a sua área – (aquilo) na de sul e norte. E tinha outros vigias. Tinha na Ponta do Pargo, tinha em São Jorge, tinha no Garajau, tinha nas Desertas, Porto Santo. Tudo… Estava tudo minado com vigias. E só aqui é que havia embarcações ou havia noutros pontos da ilha? É. É só aqui, só. E depois faziam os sinais? Os vigias como é que faziam?… Os sinais era por meio do rádio. Tinha-se rádios a bordo das embarcações. Os primeiros anos que começámos a trabalhar era com um lençol – um lençol branco. Depois, quando eu estava muito longe, eles então faziam fumo, faziam fumo de sinal. Quando eu via que as baleeiras iam direito às baleias, eles apagavam. Apagavam… Apagavam o fumo. Portanto E com o lençol, também eles não indicavam a direcção? E com o lençol também era a mesma coisa. O lençol, eles botavam o lençol no ar. A gente via o lençol. Eles viam que a gente ia… Andava-se com a baleeira de roda. A baleeira deixava a um ponto que a baleeira ia no rumo certo, eles tiravam o lençol de repente. Ah! Tiravam o lençol que é para a gente levar o rumo certo, à baleia. (Que giro). Pois. E depois? Portanto, o senhor ia na direcção boa… Depois ia-se na direcção e chegava-se ao…. Estava ocasiões que dava-se com elas; e estava ocasiões que (a gente) não se dava. E quando se dava com elas, começava-se a balear. Tinha-se as embarcações para cercá-las, mais próximo à costa, para…. Mas quanto mais próxima da costa, melhor, para a gente matar a baleia. Porque elas mergulhavam e já, de repente, já saíam. E mais fora, elas mergulhavam e demoravam muito tempo no mar, no fundo, para saírem. A gente… Estava ocasiões que elas saíam já longe. Saíam um pedaço longe. Furavam… Furavam as embarcações por baixo, e já saíam já lá fora. A gente tinha-se que ir, outra vez, a remar, remar, remar, para fora, para elas. E depois aquilo a gente ali todo o dia ali a remar, ali a se transpirar, puxava-se, matava-se as baleias, vinha-se para a fábrica. Tinha-se um barco de apoio para rebocar as baleias, para trazer elas para a fábrica. Chegava-se à fábrica – às vezes tinha-se trabalho lá na fábrica –, tornava-se a trabalhar, a noite inteira a trabalhar. Depois foi quando a gente fizemos uma reclamação aos patrões porque a gente trabalhar com umas canoas de remos que matava muito pessoal. Então foi quando eles resolveram fazer canoas a motor. Então, eu… Tinha-se lá o molde, e eu é que construí essas embarcações todas. Era sete embarcações a remos. Passou a ficar três a remos e quatro a motor. Pois. Mas iam com todas elas? Sim. Com todas elas. Depois foi quando a gente ia-se para Porto Moniz – eu estive cinco anos no Porto Moniz com duas baleeiras. Essas baleeiras, (depois era): aquilo ali, em ocasiões, chegava-se lá, queria-se varar, e não se podia, porque o mar ali era ruim. Era num varadouro. Aquilo o mar arrebentava ali, a gente tinha que se vir outra vez para o sul. Depois foi quando eles resolveram meter canoas no Porto Santo – duas canoas no Porto Santo. Então varava-se lá na praia, ali mesmo perto do cais. E quando havia baleias para aqui para a Madeira, vinha-se para a Madeira. Quando havia para o Porto Moniz, vinha-se para o Porto Moniz – já com o rumo já por trás de Porto Santo, direito a Porto Moniz. Pois. Mas quando apanhavam as baleias no Porto Moniz, depois tinham que rebocá-las para aqui ou?... Tinha-se o barco para trazer as baleias para Porto Moniz – para a fábrica. A fábrica era só aqui? Pois. Quando era… Quando era muita quantidade de baleias, a gente tinha que vir, para ajudar a cortar. Quando era só um cachalote só, a gente ficava lá. Ficava-se lá no Porto Santo ou no…. Quando se estava a trabalhar no Porto Moniz, ficava-se no Porto Moniz. Quando começámos a trabalhar no Porto Santo, havia uma baleia só, a gente ia para o Porto Santo. Porque ao outro dia podia haver – podia aparecer – baleias para lá, para o Porto Santo, estava-se lá mais perto. Pois. Pois. E essa baleia depois como é?… Ficava a flutuar? Punha-se uma coisa para ela ficar depois no mar?… Ficava acima do mar, com uma bandeira. Mas como é que a matavam? Era com o arpão. Era trancada com o arpão. E depois era morta com a lança. Matava-se. Quando tinha-se uma média de quinhentos metros de corda, e tinha-se as baleeiras ali, quando a gente trancava, a gente deitava bandeira, para uma baleeira vir para o pé da gente. Porque estava ocasiões que a baleia levava aquelas cordas todas. E então, vinha a baleeira. A gente passava a corda; (ele) passava a corda da outra baleeira para a nossa; era encadeada na nossa corda. Quando levava as nossas linhas, já ficava presa por a outra, por a outra embarcação.
Porto da Cruz (Madeira)
Até me lembra uma vez – que a gente tinha uma fazenda lá em cima, lá longe… E o meu pai mandou a gente – eu e a minha irmã, uma irmã mais moça do que eu, mas eu era pequena – e fomos lá tratar das vacas, das bezerrinhas. Ficava as vacas aqui em baixo, e lá as duas bezerras que a gente levava para lá. Chegamos aqui abaixo e eu disse assim ao pai: Se o pai visse, hoje apanhámos comida tão boa! E ficou, foi um instante! E o pai disse: Que comida foi? Foi lá em cima? Era rama de folhado? A gente não sabia o que era a rama de folhado, que não sei... Folhado, era para ir lá acima ao… Não sei onde era que eles iam. E então e deitámos essa comida e o pai teve que ir imediatamente para lá. Se elas comessem, ficavam cambadas. Era vinhático! Uma coisa… Acho que era vinhático! E lá foi meu pai atrás tirar essa comida e apanhar comida às bezerras, que a gente não sabia o que era folhado e deitámos aquilo. Mas não fez mal porque elas não comeram, porque foi logo para debaixo.
Camacha (Madeira)
Sim, também se dizia: 'Está ela…; está ela lá…; olha, lá está ela focinhando'. Enterravam-se… (O) meu pai chegou a ter… Porque – já se sabe – naquele tempo, a gente, era um poder de filhos e não havia comer, não haveria. Mesmo o dinheiro era pouco! E não havia tanta experiência como agora! Isto agora… Não havia electricidade naquele tempo, não havia ferro eléctrico, não havia nada. Nem casas-de-banho havia! Pois, pois. Pois. Para quem era mais pobre, não havia casas-de-banho. Eu cá, lembra-me muito bem, que eu já vou fazer sessenta e três anos, lembra-me muito bem de as coisas que havia, pobrezas… Pois. Chegava-se ao Natal… Toda a gente estava desejando de chegar ao Natal, que era para comer massa e arroz e um bocadinho de carne. E minha mãe chegava a partir uma laranja para dois, porque não havia, não havia dinheiro que comprasse. Havia laranjas mas não havia dinheiro que comprasse. Pois. (O) meu pai era lavrador. Se chovesse, que (o) meu pai tivesse trigo e cevada para o ano inteiro, a gente tinha a nossa fartura de pão. Mas se não havia para o ano inteiro, era deste milho! Ia-se buscar este milho, havia moinhos de vento, aqui – que agora só há um, mas o dono até morreu – e moía-se e a minha mãe fazia milho, como agora se faz deste, destas arepas, da farinha da Venezuela. Ah, pois, pois. Mas a gente cá fazia era da nossa casa, milho. Se havia leite, comia-se com leite; se havia peixe, comia-se com peixe; e se não havia peixe, minha mãe fazia café, dava uma chávena de café a cada um e a gente comia com o milho e dava um jantar. Sim senhora. Pois, pois. E eu bordava, quando eu era mais pequena, bordava, bordava… Eu enchia os lenços à roda e minha mãe então fazia o cantinho, que era para ir todo para casa. Trabalhei tantos anos para casa. Acertei o casamento – também ia fazer dezasseis anos – com este maluco que andou sempre atrás de mim, que isto é mais velho dez anos que eu! Acertei… Acertei o casamento, já se sabe que… Acertei o casamento, tinha uma colcha e um guardanapo – até era um paninho de tabuleiro. Mas fizemos aquela capela – que é de Nossa Senhora da Graça – foi com romagens e com ofertas e tudo e dava-se aqueles paninhos, aquele croché e tudo, que era tudo para vender, para a ajuda da capela. Ora, veio uma senhora dali de cima tirar uma ofertazinha, para cada uma dar o que quisesse. Eu nem sequer ainda tinha mala, direitamente, porque – já se sabe – primeiro a gente comprava a nossa malinha; agora é que há tudo isto, há as arcas e estes…, e estas cómodas e tudo… Mas antigamente era com… Era uma malinha que minha mãe tinha, meia velhinha, e disse: 'Olha, a mãe vai-te dar aquela malinha para tu pores as tuas coisinhas'. Ora, tinha a colcha e o guardanapo, veio uma senhora e disse: 'Olhe, venho aqui ver se nos quer dar alguma coisa para a capela, porque vai-se fazer a romagem, vai-se levar areia e tudo'. E eu vou àquela mala e dei o guardanapo. Ora, uma rapariga que já andava para casar, que tinha uma colcha! Pois é! Mas dei o guardanapo a Nossa Senhora, graças a Deus! E a minha vida foi crescendo e ao depois eu casei-me; fiquei logo grávida, porque eu estava menstruada; fiquei logo grávida. A cabo de, se pode dizer, antes dum ano, tive um menino mas estive muito mal, o menino morreu. Depois mais, ao cabo de mais dois anos, veio mais uma menina, e daí veio, veio, veio, tenho sete, graças a Deus. Tenho um filho na Holanda, trabalhando num hospital, tenho uma rapariga casada, tenho este filho daqui, e tenho três em casa.
Camacha (Madeira)
Chega-se ao Natal, oito dias antes do Natal, quinze dias antes do Natal… É o dia de quê? É o dia da morte do porco. Sim senhor. Amassa-se o nosso pão. Quem tem pão, farinha de casa, amassa-se o nosso pão, põe-se o nosso pão, dum dia para outro, preparado. Quem tem vinho, tira dois, três garrafões de vinho, põe ali… E o que é que se faz? E o que é que se faz? Às vezes… Há um homem que vem para… Vem matar o porco, já se sabe… Como é que se chama esse…? Matador. É o matador. É o matador. Faz-se… Olhe, faz-se o nosso comer, ou o nosso almoço: quando o porco é morto de manhã, faz-se almoço de, às vezes, de peixe, que é por causa de na parte da tarde ser o sarapatel, da fressura do porco; e quando é na parte da tarde, é: espera-se que eles abram o porco e tire a fressura – como a gente lhe chama –, já temos o sangue a escaldar, para esfarelar, para deitar naquele guisado, e ao depois está o guisado pronto, põe-se tudo na mesa, com semilha, com cenoura, com a… Sim senhor. Então mas pronto. Está o comer pronto já. Mas o matador? O que é que se tem que fazer ao porco antes?… Quando está?… Quando chega o matador? Tem que se agarrar o porco e pô-lo aonde? Abre-se o curral, eles pegam com uma cordinha, aí uns quatro ou cinco homens deitam o porco no chão e… E lá vai, lá ele vai. O matador mata. E pronto e mata-se. (Mas até é engraçado). E então não?… Quem é que agarra?… Onde é que?… Como é que se agarra o sangue? Agarram nas pernas, agarram no rabo e… Não, o sangue? O sangue? É qualquer uma rapariga que não tenha…, ou rapaz, que não tenha medo! Rapariga ou rapaz! Sim senhor. E leva o quê? Uma vasilhinha qualquer. Uma banheira. Leva uma banheirinha. E chega a dentro de casa, a gente faz-lhe uma cruz, naquele sangue, aquilo faz um… Portanto, é uma banheira sem nada dentro? Uma banheira sem nada dentro. Nem sal, nem nada? Nada. Aí chega-se a dentro de casa, faz-se uma cruz naquele sangue, aquele sangue parte, fica em quatro quartos; e ao depois descansa um pedacinho, deita-se…, aquece-se a água na panela e deita-se a água dentro da panela, deita-se aquilo dentro da panela, aquilo coze; ao depois esfarela-se, noutra vasilhinha, fora, noutra banheirinha. Sim. sim. E ao depois quando a fressura também vem do porco, é deitada dentro da panela para escaldar; depois é tirada, dá-se-lhe um banho em água fria para arrefecer, para a gente cortar tudo aos bocadinhos e cozer, com cenoura, com semilha ou com tomate ou… Isso… E isso é que é o sarapatel? Isso é que é o sarapatel. É um jantar.
Camacha (Madeira)
Não ponho inteiro assim para eles ir cortando. Corto a meio e ao depois daquela metade, faço às fatias. Sim senhor. Olhe, e para os miúdos também se costumava fazer assim uns pãezinhos mais pequenos, sei lá, as pessoas que tinham em casa crianças? Não, às vezes, fazia-se uma rosquilhinha para cada um; mas eles agora, praticamente que já depois de ser grande, nem sequer querem a rosquilha. Claro. Mas de primeiro adora-se. A minha… Ainda tenho aqui uma netinha de dez anos, que ela, quando eu estou amassando, ela pergunta logo por a rosquilha. Pergunta logo por a sua rosquilhinha. E meu marido também gosta muito de uma rosquilhinha.
Camacha (Madeira)
Já se sabe, chegava-se… Matava-se… Se a gente matasse o porco no Natal, já se sabe, chegando…, depois da morte do porco, no outro dia, faziam aqueles pedaços de carne para deitar alho e vinagre e louro e tudo e ficava ali numa vasilha a conservar até dia de festa. No dia de festa, minha mãe levantava-se, partia pão aos pedaços e fritava a carne e ao depois molhava aquele pão, para a gente comer junto com a carne. Isso era no dia da festa? No dia (da festa) do Natal. Na parte da tarde, minha mãe era galinhas de casa – já se sabe que era aqueles galos grandes –, tirava ali um quarto ou dois – que a gente diz um quarto, que faz-se uma ave em quatro quartos –, minha mãe cozia metade, ou cozia três quartos, conforme, ou cozia um inteiro, conforme a família que tinha em casa, e, já se sabe, era: deitava a cozer e ao depois deitava-lhe massa, desta, da mercearia. E eu me lembra um ano que (o) meu pai – acho que como a minha mãe não tinha dinheiro, a minha mãe amassou desta farinha de trigo da terra, bem amassadinha – fazia umas tiras com uma garrafa e minha mãe cortava assim, tudo direitinho, tudo direitinho, aquilo ficava tudo fininho, tudo fininho e minha mãe deitava na panela e a gente comia por massa. Ah! Era assim. Lembra-me minha mãe fazer um ano, para o primeiro do ano… Minha mãe, acho que não tinha dinheiro, coitadinha. Pois. Praticamente, se minha mãe não tinha, não me disse Pois, pois. Mas eu, eu é que pensei que não havia. Claro. E minha mãe depois, na peneira de peneirar a farinha, minha mãe pôs assim – a casa era mais baixinha –, pôs assim na beira – estava um lindo sol – para tostar aquela massinha. Pensa que ela não ficava gostosa? Pois. Havia lentilhas… Minha mãe às vezes fazia; mesmo para outros jantares, minha mãe fazia. Cozia a lentilha adiante, ao depois deitava a massinha, um pedacinho de ou a banha de porco ou a…, ou não sei se…. Óleo não havia nessa altura! Não havia óleo. Mesmo que houvesse, se havia era bem pouco. Era mais era qualquer coisa de azeite de que o óleo próprio. O óleo veio por último que o azeite. E comia-se o nosso pratinho de massa com lentilhas, às vezes com abóbora, desta abóbora que meu pai – lidava numa fazenda,fazia… – semeava. Dava chuva, graças a Deus, punha terra a descampar, metia umas sementes aqui, outras acolá, e dava abóbora. Até lembra-me um ano de meu pai ter cabaças. Umas cabacinhas de limpar o comer por dentro e ao depois fazer uma vasilhinha da água. Pois. Sim Senhoras. E eu ia a essa fazenda mais meu pai. E era assim a nossa vida. Depois, já se sabe, foi melhorando qualquer coisa, foi melhorando qualquer coisa… Já se sabe, minha mãe cozia um pedacinho de arroz para se comer depois de comer o caldinho da massa. Mas minha mãe deitava-lhe desta… Deitava-lhe abóbora, que ficava um arrozinho tão amarelinho que parecia uma gema de ovo! Ai que giro!
Camacha (Madeira)
Se há formiga-branca neste Porto Santo! A gente sentia ela roer. A gente sentia elas roer. A esta porta deste lado, a parte esquerda, eu já nem lha podia abrir, porque se eu lha abrisse, ela ia trazer o aro consigo. Porque o aro estava só com aquela casquinha! Quem lha forcejasse para ela abrir ou para ela fechar, ela ia vir sempre. (As) missagras (a ir) desapegar aquele pedaço do aro e ia vir sempre. Deu um trabalhão e ainda se ficou devendo a tanta gente mas, agora, graças a Deus, já pagámos.
Tanque (Madeira)
para o seu moinho… A gente é que ia buscar. O senhor é que ia buscar? Tinha-se um burrinho, ia-se buscar e levar a farinha. Trazia-se-o em grão e levava-se em farinha. Sim senhor. E era o senhor?… E o senhor como é que se pagava do trabalho que tinha? Era maquiado. Era à maquia. E a maquia era quanto? É um quilo. Um quilo, em cada alqueire? Em cada alqueire. Sim senhora. Sim senhor. Olhe, e quando a pedra começava a não estar boa, tinha que?… Era picada. Com quê? Com uma picadeira. E é espesso quase como uma enxó – não é bem a enxó, que é mais direita. Quando… A gente tinha aquilo afinadinho, tudo amoladinho, e quando era preciso, que a gente via que ela que já não moía bem, a gente levantava-se e picava-se. Aquilo tem um… Como é que levantava? Levantava-se com uma barra de ferro. Levantava-se assim, mais ou menos por esta altura, tinha uns calços de pau por baixo e quando a gente chegava àquela altura, que a gente se podia pegar, às vezes era preciso dois: para levantar, empinava-se, e então é que começava-se a picar. Hum-hum. Sim senhor. Sim senhora.
Ponta Garça (Açores)
E fazia-se manteiga aqui com a nata? De ovelha, não senhor. Não, de vaca? De vaca, fazia-se. Em casa. Em casa? Era em casa. E como é que se fazia? Ferviam o leite e tiravam-lhe aquela nata, aquele…, a gente tratavam o laço do leite, que é a gordura do leite. E iam juntando aquilo para uma tigelinha, com umas pedrinhas de sal. Quando tinham uma quantidade, as mulheres batiam aquilo, batiam, batiam, batiam até… Dentro de quê? Como? Dentro de quê? Dentro duma tigela. Duma tigela. E há quem batia (aquelas natas) numas latas Num alguidar. era mais depressa. E há quem batia numa lata, mas a maioria das pessoas era numa tigela. Batiam aquilo bem e quando elas juntavam, faziam uma bola. Conforme a gordura (tende), aquilo já estava temperada com o sal – não é? –, fazia uma manteiga muito boa! Muito saborosa! Comia-se bem com um bocadinho de pão de milho fresco. No tempo! Sim senhor. E aquilo fazia-se?… Faziam uma bola com aquilo, era? Com a manteiga, sim senhora. Ou faziam?… Aquilo já estava… Aquilo ficava dentro duma tigela com água – naquela bola. Ficava sempre ali com água. Mesmo a gente ia-o gastando e aquilo tinha sempre água ali fresca. Deitavam… Tiravam uma, deitavam outra. Quando aquela não estava boa, deitavam outra até gastar a manteiga, não é?
Ponta Garça (Açores)
E no porco, havia alguma coisa que se chamasse o debulho? Debulho? É quando se mata o porco. Fazem debulho. E como é que é? É o sangue… Quando matam o porco, as mulheres tiram ali uma tigela de sangue à parte e o outro sangue vai para fazer as morcelas. Fica aquela tigela ou a quantidade que as mulheres querem que precisem para o debulho. E lá fazem uma mistura com salsa e cebola e… As mulheres é que sabem fazer esse tempero, não é? E fazem o debulho num instante. (E leva sal). Que é… É para comer no… A gente matam o porco assim hoje e amanhã da manhã é que vão almoçar esse debulho. No outro dia é que almoçam dessa comida: o debulho e o peito. Juntamente com o peito. E o sarapatel? Havia algum… Havia, sim senhor, sarapatel! (Era) o resto que crescia das morcelas. As mulheres não queriam fazer mais morcelas e deixavam ali um bocado para fazer sarapatel. E como é que era esse sarapatel? Também era misturado com graxas e coisas. Mas depois era conservado dentro da?… Era conservado também com banha, para tapar, para não se perder, porque (ele) era tudo tapado com banha. Mesmo o chouriço, hoje em dia, é tapado num boião com banha, para não se perder. Com banha de porco.
Ponta Garça (Açores)
O que é para si uma bonina? Ah! Uma bonina é aquela flor… Olhe, eu tenho ali uma planta de bonina. Agora flor não está. É uma amarela, assim amarela. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Baixinha? Sim. Ela pode crescer. Se ela tiver em terra coisa, ela cresce assim, alta. Mas… E dá uma?… Uma espécie de um malmequer? Sim. É, é. Cor-de-laranja? Cor-de-laranja. Já sei o que é. É. Que cheira até um cheiro não… Feio? Mau? É, é. Não é assim muito agradável. É bom para o jardim. É. É. Esse amarelo, esse amarelo é que não é a bonina? Que a gente chama cor de bonina? Um amarelo forte. Tu tens ali. Tu tens ali tanta. É. Um amarelo forte. Cor-de-laranja, cor de cenoura. É uma que dava nas pastagens? Para mim, a bonina é uma cor. A cor. A cor. A cor é que se chama bonina? Cor de bonina. É. É. A cor é que se chama bonina e não o… E não a… Não. É… É… Não. Aquela planta chama-se bonina. Eu lembro-me do meu pai na Cova Grande, quando ia passar o Verão lá para cima, a minha irmã dizer: 'Ai, eu queria ir, eu queria ir brincar com as boninas'! – com aquelas florinhas. Ia apanhar… Ia apanhar as boninas. Eu tenho a impressão de que a cor é que derivou da flor. Sim, sim. Deve ser isso. Como a gente diz também: 'A cor da cenoura, é a cor-de-laranja'. Claro. Cor-de-laranja. É, é, é. É verdade. E a bonina é (aquele)… E a bonina é aquele amarelo forte. Aquele amarelo forte. Também derivou… Quando a gente diz: 'Um amarelo bonina' é: deriva da bonina. Pois, pois, pois. Mas ela não tem folhas brancas? Portanto, é tudo?… Toda ela é amarela? É amarela. Oh João, as folhas são verdes. Ah, aquelas pétalas. As folhas… As folhas são verdes. Tenho aqui. Tenho aqui a folha… Pronto. É que aquilo para nós é maravilha. Ah, pois é. A planta… A planta tem ali. E cheira mal? Exactamente, exactamente. É, é. E depois quando seca é que dá assim umas coisas?… As sementes são assim todas, parecem uns dedos assim tortos? Ah, já sei. Já sei qual é. Exactamente. Amarelos. É. Aquilo para nós é maravilha. bonina ou Ah, (para nós é) bonina. É. É. É. É. Agora esta sempre conheci, desde miúda, a gente brincava, apanhava, trazia raminhos, mas… Aqui não havia nada que chamassem margaridas? Há. Margaridas há. É o quê? Mas a margarida é outra vez Se calhar é outra. um género dum malmequer. Veja lá se é uma coisa assim desse género? É, é. Baixinho, no campo? Está ali. Está ali. É. É. É… Esse é o… Esse… Cento e sessenta e seis. Esse não é bem a margarida. Isso é o malmequer grado que a gente chama. Eu não sei se tem outro nome. Porque antigamente havia aquele malmequer que tinha mesmo… Sim. Fazia umas moitas. Exactamente. Houve tanto. Agora, eles – pois digo – têm outras plantas mais modernas que agora aparecem… Pois, pois. E dizem: 'O malmequer grado'… Pois, pois. O malmequer que cresce então bastante. Pois, isso é que há. Sim, mas é um bocado diferente da coisa nacional. O nacional é mais pequenino. A flor é mais pequeno. Por isso, o outro nacional é, portanto, aquele miudinho. E era mais bonito. E até já há em amarelo – esse malmequer miudinho também num amarelo pálido e num rosa pálido também. Porque eu tenho até, nas furnas, já tenho uma plantinha mas ainda não me deu flor desse amarelinho. Agora a margarida é um género disso, mas é mais dobradinha. É… Não tem… Tem mais flor, tem mais pétalas? Sim, sim. Ah! E aquelas plantas que tu levaste lá da casa da tua mãe, (não dava para as senhoras terem lá na)?… Ah! Aquilo como é que se chama? Aquilo não sei. E aquilo parece-me que é como uma erva daninha se puder. Mas é bonita. Pois. Porque aquilo multiplica-se muito. E se a gente não estiver sempre em cima, a gente, aquilo dá cabo do jardim. Portanto, a gente… Eu quis para dividir, mas é preciso… Porque aquilo tem muitas raízes e é preciso estar sempre a… A tirar. A tirar para ficar sempre… Para aquilo não alastrar. Exactamente. Alastra muito. É, é.
Ponta Garça (Açores)
E aquele trabalho que se fazia com as meadas, pôr na água e isso, era para quê? Depois de a meada estar feita? Era para lavar, para tirar certas gorduras, porque a lã antes de ser trabalhada, a gente escaldavam-na, punham…, lavavam duas, três vezes. Às vezes… A branca faziam barrela. Que as barrelas antigamente era feitas era com cinza, que era para fazer a lã muito branquinha. Porque a gente faziam camisolas… Eu fiz tantas! As sueras que os meus pais andavam… O meu pai e o meu irmão – o meu avô! – andavam nas vacas. Depois de ter o fio da lã, eu é que fazia as sueras para eles. Porque eu também aprendi muito com a senhora Filomena Canadinha. E sempre fui muito curiosa! Donde quer que eu pretendia que eu havera aprender aquele serviço, eu ia ter com a pessoa. Se me queria ensinar. E antigamente não havia aquela coisa de não quererem ensinar; ensinavam umas às outras. E eu aprendi muito com ela. Sim senhora. Quando a senhora está a fazer este trabalho aqui no tear, diz que está a quê? Tecendo. E quando estava a fazer o trabalho na?… Urdindo.
Ponta Garça (Açores)
O fio ficava embrulhado aqui? Aqui em cima, era? Ou era aqui nesta coisinha? Não senhor. Era aqui? Isso é mais uma ideia daqui. Isso era um fuso daqui. Ah! Ah! Isso é um fuso daqui. Mas isso é só para mostrar que elas tinham uma rodinha dessas assim em baixo. Sim senhor. Havia umas que tinha era uma verga. E outras era mesmo de madeira, De madeira. assim fininho, larguinho em baixo, ia…Mas assim mais alto, Mais comprido. que isso também era mais comprido. Pois. Pois. Hum-hum. E esse era… é que era… Até que pode ir ver esse que eu fiz novo, Pois. Exacto. o fio é mais comprido. Sim, sim. Já percebi. Porque esse é comprido porque isso partiu daqui.
Ponta Garça (Açores)
Aquilo é as cabaças donde a gente arrumavam as… Sementes. As sementes. Eu também nunca lhas desprezei. Até com aquelas eu disse 'Não se… Isso veio… Tiraram tudo lá de cima de casa de meu irmão. E eu fui… Mesmo os a capachos, a canga… Mas a?… E eu dei muita coisa para o museu: o carro de bois; o carro de bois do papá! Está lá em baixo no museu. (Está no) museu. Fui eu. Dei-lhe ao museu. Eu dei-lhe ao museu na condição: um dia que a gente queiram fazer uma festa ou coisa, eles… Poder levantar? Sim. Poder levantar. Eu ofereci. Aquilo deixava-me dinheiro mas eu disse: 'Eu quero que me estimem isso'! Porque se eu tivesse lugar… Ele estava era aqui. Lá é que está bem estimado. Pois. Mas aquilo lá, eu disse: 'Não é para me porem à água'! Eles disseram que não. Está lá bem estimado.
Fontinhas (Açores)
Olhe, e costumam dizer que o cancro é algum bicho, ou não? É um bicho, é. E é um bicho mais ou menos como? Não sei. É bicho. É um bicho-charvão. Mas já há gente que diz que é como um bicho-charvão. Um bicho-charvão. Com pernas, é? Com pernas, sim senhora. E boca e olhos e tudo. Até em criaturas… Eu tinha um tio meu, que morreu canceroso; era um bicho que tinha em si, espedaçou os fígados todos. Ele a morrer. Pois, pois. Morreu, acabou-se. Ele não… Era. Pois. Não mexeu mais consigo. E ele já estava vestido na mesa, morto já. Mas o bicho ainda não tinha morrido. Há muitas coisas dessas (noutros lados). Muita coisa destas. Eu vi uma rapariga, que estava ali na Serra, estava muito mal, muito mal. E tomou Ele há bichos-charvões uns mais grandes e outros mais miúdos. Olha, ela meteu-o num frasco, que o senhor doutor qui-lo. Era pequenino. Era um bicho-charvão tal e qual, Qual foi o senhor doutor que guardou isso? Eu parece-me que foi o senhor doutor Braga. Está… Ele está em Lisboa, se ainda é vivo. Ah, esse… Ele ainda é vivo! Pois. Se ainda é vivo! Pois, pois. Eu não sei se ele é vivo se não é. Mas se for vivo está em Lisboa, é? Está em Lisboa, que ele mesmo era de Lisboa – era um senhor que era de Lisboa. Veio para cá, esteve muitos A dar clínica, para ter?… A doutor, senhor doutor, que era um doutor então que era só para consolar! E casou com uma rapariga da
Fajãzinha (Açores)
A gente costumava: lavava-a, quando ela vinha, e escolhia a grossa para uma banda e a fina para outra, para um não ficar com a grossa e o outro com a fina – não sabe? E partia a meio uma e outra: metade para a dona e metade para a gente. E depois, fazia-se a da dona. 'Dia-se' levar um pedaço de peça – ela queria sempre um pedaço de peça para fazer blusas de homens e coisas assim e a mais grosseira para fazer cobertas. Cobertores! E a gente fazia a da dona e 'dia-a' levar lá e depois é que vinha trabalhar a nossa. Agora, eles estão tosquiando e deixam-na pelo mato! Deixam-na a apodrecer por aí de bandas para banda! Lã boa! Melhor do que aquela! Então e que trabalho é que tinha que fazer? Tinha que lavar a lã. Pois, a primeira coisa era lavá-la e depois de ela lavada é que se escolhia. A grossa para um lado e a fina para o outro. E partia-se a meio um e outro. Não estava bem entendido? Pois. Estava, estava. Mas depois, a seguir, o que é que tinha que fazer até chegar ao tear? Aiá! Uê, depois era enxugá-la; era varejá-la bem varejada para ver se ela abria uma coisinha; e a que não abria era à mão, assim. Chamava-se abrir a isso? Abrir, abrir. Mas com uma vara ela ainda abria uma coisinha. Mas não abria o bastante para se cardar. E depois, cardava-se com as cardas mais grossas. E ao depois disso, tornava-se a dar outro cardo, se era mais de uma cor, para caldear as cores bem umas com as outras, porque elas só com um cardo não ficavam bem caldeadas. E então, depois disso, era imprimar e fiar. Imprimar? Imprimar! A última coisa. O que é imprimar? Não sei o que é. Eram umas cardas mais finas. Faziam uns retalhinhos. Fazia-se três retalhos de cada uma vez que se metia nas cardas – umas cardas mais finas. E depois, fiar. Um retalho era aquela coisa que fazia assim com as cardas? E saía assim uma coisa fininha? É, sim senhora. É. É, sim senhora.
Fajãzinha (Açores)
'Dia' ordenhar as vaquinhas, que o meu homem não podia – era mui doente. Eu 'dia' ordenhar as vacas duas vezes no dia. E era acolá em cima, bem acolá em cima, naquele cabeço lá em cima, alguns dias. Um dia – eu tenho contado isto grandeza de vezes –, quando se fez aquele palheiro ali, eu que é que faço? Eu tinha… Estavam homens chamados para vir para o palheiro. Eu não tinha pão cozido – naquele tempo não havia pão para comprar. Eu faço: escaldo o meu pão – era pão de milho –, escaldo o meu pão, faço o meu fermento, vou ordenhar as minhas vacas. Venho para baixo – vim cozer o pão para o jantar. Botei jantar a cinco homens em casa e fui levar a dois, que estavam sachando milho lá em baixo na terra. E vou à tarde outra vez para o mato. Não foi um dia bem dado? Então, foi óptimo! Uma coisa! Foi um dia bem dado! E como a este, muitos outros! E como a este, muitos outros, porque ele também não podia muito e eu também já não esperava por ele. Pois. Muito trabalho. E às vezes embebia-me no tear. Eu cheguei a ter o tear aqui, armado aqui. Ele estava na cama e ele dizia: 'Não fazes conta mesmo de te vires deitar hoje'? Que eu estava, eu estava e 'dia' estando e 'dia' estando. E ele dizia: 'Na roda não me estrova nada. A roda até adormece a gente'. Mas o tear é uma baldeirada agora, outra logo… Que às vezes que se espantava até! Claro! Claro!
Fajãzinha (Açores)
Pois eram os que iam para a América que 'diam' apastorar ovelhas. Chamava-se pastor. 'Diam' apastorar ovelhas. Por exemplo, meu pai foi pastor de ovelhas quando esteve na América. Lá? Lá? Sim. Lá. Quando esteve na América. Eu já não me lembro do meu pai, que eu tinha dois anos quando o meu pai morreu. Mas as minhas irmãs mais velhas contavam aquilo que o meu pai lhe dizia: que tinha andado apastorando ovelhas nas serras, que ficavam ao rigor do tempo. Hoje em dia, já é mais fácil, que já tem as casas que mudam… Não sabe? As casas que mudam dum lado para o outro – já não… Mas meu pai foi assim, foi ao rigor do tempo. E o meu pai não tirou papéis americanos, porque não sabia ler. Pois. Não sabia ler. Trabalhou para um patrão dois anos e oito meses. E esse patrão não lhe pagou. É verdade. Naqueles anos era assim. Não sabia ler, mas não teve dificuldade – não sabe? – por não saber ler, nem tirar papéis. Mas foi assim. Esse patrão não lhe pagou. Pois. Pois é. Mas um patrão americano? Era, sim senhor. Ele quando foi para a América até saiu em baleeiras. Embarcavam para o alto aqui no rolo. Que não podiam embarcar nos portos, que a Guarda Fiscal não lhe deixava. Pois, pois. Pois. E as minhas irmãs contavam, e a minha mãe, que o meu pai, quando veio da América, veio num navio que foi atacado por outro navio. E, agora, todos aqueles que vieram nesse navio prometeram as suas promessas – está percebendo? Ora, o meu pai, quando veio, era para tornar a voltar, outra vez. Mas depois casou-se e começou a chegar filhos – que a gente éramos onze irmãos – e ele já não se atreveu a deixá-los e a ir outra vez para a América. E o tempo foi-se espaçando e havia quem dizia… Que os meus irmãos adoeceram muitos da cabeça – está percebendo? Muitos da cabeça, que foram para São Rafael! E a gente tinha-se uma relva, que ficava lá em cima no Curralinho, que também caía gado lá. E começou o povo a dizer que o meu pai que devia um jantar, e que era devido a essa promessa, porque os outros todos tinham… Mas o meu pai nunca o disse a minha mãe. Ele nunca lhe tinha dito isto. Mas o povo começou a dizer e, então, a gente deu-se o jantar e ficou melhor. Está percebendo? É porque ele tinha necessidade… Nunca disse porque não se atrevia – está percebendo? – a dizer, porque como ele estava criando os seus filhos… Mas era um jantar?… Devia um jantar a quem? Era um jantar a correr as portas com carne e pão. Com pão e carne. Como o uso do Espírito Santo. Com pão e carne. Ah! Um jantar do Espírito Santo? É um jantar do Espírito Santo.
Fajãzinha (Açores)
A minha filha já criou em casa. Que a minha filha tem cinco porcas, que ela cria. E alguns, a mãe ou não tem peitas bastantes para o filho mamar – o bacorinho – ou não os quer e é preciso eles… Com uma chucha, chegam a se criarem em casa.
Fajãzinha (Açores)
Se tiver dois cavalos? Tem dois… Ó Francisco, se tiver dois cavalos, como é que se diz? Dois cavalos? Sim. É uma junta de cavalos? São dois cavalos! É dois cavalos, para puxarem um carro, não? Nunca lhe chamam uma parelha de cavalos? Não senhora. Sabe aqui costumam pouco. É. Pois é. Aqui não há cavalos pois não? Cavalos, hão. Hão. Já houve mais. Há um cavalo. Eu acho que sim. Mas ainda hão.
Fajãzinha (Açores)
Oh Senhora, nesta freguesia, as mulheres trabalham mais do que os homens. Oh, oh, oh, oh! Aqui na Fajãzinha, as mulheres eram umas escravas. A Senhora quer saber? Eu morava ali na Cuada. Ora a gente éramos pobres. O meu pai morreu – Deus o tenha no céu – a gente éramos pequeninos. A gente tinham falta de dar dias. Dar dias. Vinha-se ajudar porque a gente chegava a meio do ano já não se tinha nada para comer – já não se tinha milho. E vinha-se dar dias – vinha-se ajudar a juntar batatas – a essa gente, aqui à Fajãzinha. Oh, (coitadinhos)! E 'dia-se' buscar camas de musgo ao mato. 'Dia-se' apanhar musgo no mato – está percebendo? –, para se vender. Uma cama de musgo era um alqueire de milho! (Oh, sim). Ainda fazia muito bem! Ainda! Mas uma cama de musgo, era preciso quatro sacas destas grandes cheias de musgo bem acalcadas – para uma cama! Oh sim senhor. Sim, sim, sim. E havia essas mulheres… Aqui trabalhavam muito noutros anos. Muito! Oh grandeza, elas acartavam sargaço de lá debaixo do calhau, coitadinhas, que era para trazer para o estrume para as terras – está percebendo? –, para botarem nessas terras mais aí em baixo do Moldinho. Que o sargaço é estrume bom para batatas! É mui bom! E havia… Eu dizia: 'Oh, pobres das mulheres da Fajãzinha, são umas escravas, coitadinhas! O que elas trabalham'! Elas 'diam' ao junco para o mato. Elas 'diam' ao leite para o mato – tinham o gado no mato –, era preciso 'dir' de manhã cedo ao leite. A gente… Quatro horas, no Verão! Às quatro horas, no Verão, que elas 'diam' ao leite! E eu dizia assim: 'Jesus, eu nunca queria ser da Fajãzinha'! Mesmo não gostava! Olhe, a gente não pode dizer… Foi onde veio parar! É verdade! A gente não pode dizer nada neste mundo. E aqui é que estou há quarenta anos! E muitas vezes estavam apanhando os 'xemenos' ou o musgo nas terras – nas relvas –, chegava o lavrador e corria com elas.
Brasil
e quem cozinha, você ou seu marido? eu que cozinho mesmo. ele não sabe fazer nada, sabe nem fritar um ovo! sabe fazer café. só! só café! às vezes o outro, o caçula é que fala 'pai, vamos fritar' quando eu não estou aí, que eu saio às vezes lá fora, não é, hum, hum. também tem, preciso, não é, ir na rua, 'pai, pode deixar que eu frito o ovo para o senhor.' aí ele frita. ham, ham. ele só come dois, três, sei. não come menos que dois, três, o garoto poxa, é muito ovo, heim? é. e no pão, ele gosta fritar ovo, botar no pão, tanto eu não fico sem ovos. todo Domingo é duas, duas dúzia de ovos que eu compro sei. na feira. ou na Cobal. então, se, se você cozinha deve ter um prato que é o predilecto dos seus filhos. qual é? ah! do meus filho é, do caçula é carne assada. ham. adora carne assada. boto linguiça e boto toucinho de fumeiro, não é, assim por, ele adora! ele catuca e tira aquelas, aquelas, aquelas linguiça toda de dentro. eu não aguento com ele. ele é engraçado mesmo. e o mais velho gosta de galinha. é? já meu marido adora macarrão. ham. adora ma[...], quando eu faço macarronada. conta para gente como você faz a sua carne assada. dá a receita para mim. ah! eu to[...], eu faço só de patinho. sei. eu compro um peso bom de patinho, redondo, não é, hum, hum. e ali eu meto o facão assim por dentro, boto um, pego um paio e coloco assim por dentro, do outro lado eu boto um pedaço de toucinho fumeiro hum, hum. aí, ponho para o fogo para assar, com bastante óleo, não é, sim. bo[...], ah,  diminui o fogo, não boto nem um pinguinho de água. hum. deixo ali, vai, vai cozendo, assando devagarzinho, devagarzinho, depois vai corando, aí eu boto umas cebola descascada sei. pimentão, umas batatinhas pe[...], miudinha, não é, hum, que delícia. aquelas batatinha, ponho, ainda fica, é assim que eu faço. aí fica bem corado hum, hum. e ela fica bonita, gostosa! hum! mas não coloco a carne cara, nem esse lagarto, eu não gosto. porque é muito dura hum, hum. é uma carne muito ressecada e tem que estar pondo água. sei. eu não gosto de assar botando a água. hum, hum. eu a[...], vou assando assim só com aquele calorzinho dela, só, fica uma delícia. hum! deve ficar uma delícia. é. é. e o macarrão, como faz? o macarrão, eu faço com bastante carne. compra-se um pedaço de boi, não é, hum, hum. aí faço, assim, bastante molho. aí vou botando macarrão e a carne, o macarrão e a carne, vou jogando por cima. hum! depois eu encho de queijo, aquela carne assim por cima. marido adora! a próxima vez eu venho almoçar. pode vir.
Guiné-Bissau
estou a determinar doenças contagiosas e infecciosas. por exemplo, uma das preocupações dos povos em geral, dos povos em geral é a SIDA. a SIDA também fala-se aqui em Guiné-Bissau muito. bom, nem toda a gente ou - pesquisa que eu estive a fazer -, nem toda a população está, ah, informado sobre a doença, a SIDA. hum. muitas pessoas ainda tem que ser informado... hum. no âmbito de saber o que é que é a SIDA. hum. a SIDA é uma doença, sabemos todos que é uma doença muito contagiosa... hum. e perigosa, mas antes de começarmos a prevenir as pessoas contra um meio de transfusão da SIDA, devíamos fazer um largo conhecimento... hum. no âmbito de... dizer às pessoas o que é que é a SIDA. porque cá na Guiné só existe diferentes etnia. hum. então os, o pessoal de saúde, para chegar por exemplo num determinado etnia hum. e dizer só a SIDA, eles não vão saber o que é que quer dizer com isso... sim, a gente sabe. porque a maioria são os analfabetos, não sabem ler, então eles não vão fa[...], saber o que é que quer dizer a SIDA. então, antes de começar assim a falar de SIDA, devíamos fazer um tipo de, um tipo de ajuda. dar informação? dar informação, exacto. informar a população hum. não é, conhecer como é que eles vão entrar nesse meio hum. para dizer o que é que quer dizer a SIDA, o que é que a SIDA faz. a SIDA é uma doença que ainda não tem cura. hum. está a ver, por exemplo, as pessoas aqui em Guiné-Bissau, a pessoa do sector da Guiné-Bissau, estão mais informado sobre a SIDA hum. do que por exemplo fora do país hum. Bafatá, esses zonas hum. do leste e... a pessoa cá do centro da Guiné-Bissau estão mais informado sobre o que é que quer dizer a SIDA. hum. como é que se pode transmitir a SIDA. hum. o que é que a SIDA pode fazer, como é que se pode prevenir a SIDA. hum. a SIDA é uma doença ainda que não tem cura. hum. embora estamos a fazer largos estudos para ver se consegue, mas ainda não tem cura, sabemos qual é o perigo. a principal causa da SIDA é a morte, infelizmente. então, temos, resolvemos fazer assim um, uma escala. muitas pessoas dizem que a SIDA pode-se transmitir através de beijo, não é verdade, através de trocar as roupas, se por exemplo tens SIDAs - Deus queira, hem? - tu tens SIDA, eu visto as tuas roupas eu vou também apanhar SIDA, através de colheres, comer, comer ou dormir na mesma cama. mas outras pessoas sabem que a SIDA não se transmite assim. a SIDA trans[...], transmite através de transfusões sanguínea, seringas, através de relações sexuais, ah, e através também de outra coisa, já não me lembro. qualquer contacto com o sangue. quando, qualquer contacto, sim, com o sangue, pode-se transmitir a SIDA. isso que[...], isso quer dizer se o sangue tiver HIV1 hum. ou HIV2 pode-se transmitir a SIDA. então muita das etnias, ah, existe aquele problema de rel[...], sexo, não se fala de sexo. isso quer dizer sexo é um tabu... hum. não se deve falar. hum. que é uma coisa sagrada e assim. então tu para chegares lá para informar a população que a SIDA é uma doença contagiosa, e pode-se transmitir através aquilo, tu não vais ter um meio de lhe explicares, se não saber a base, como entrar... hum. aq[...], aquela etnia.
Brasil
como essa palavra que muita gente ouve nordestino chamar de 'bichinho'. bichinho. é uma palavra carinhosa. hum, hum. a pessoa chama de bichinho a outro, pessoa, a pessoa gosta. como um pai chama um filho, um filho chama a mãe, pode chamar a mãe de bichinho: 'ó bichinho...' é uma palavra de carinho, não é uma palavra de ofensa hum, hum. não é, não é uma palavra ofensiva, bichinho. então, o, deu-se uma coisa muito interessante: eu fui em setenta e sete à Paraíba, a João Pessoa, mas eu lá tive que ir a Guarabira. fui levar umas encomendas, um rapaz que me pediu. fui lá em Guarabira levar. fui eu e aqui minha patroa. hum, hum. cheguei lá nessa casa, quem nos atendeu, para não fugir à regra no nome, foi dona Severina, não é, foi dona Severina mesmo, que é uma senhora, não é, aí, ficamos lá na varanda, batendo um papo, conversando muito com dona Severina, e, e dona Severina: 'senhor moço, o senhor é do Rio mesmo?' eu digo, 'sou, senhora dona Severina, sou do Rio mesmo.' 'mas sabe porquê? é porque eu estou conversando com o senhor, o senhor é carioca e eu estou entendendo tudo que o senhor está me dizendo. tudo que o senhor está me dizendo como carioca eu estou entendendo. mas meus sobrinho não; vão lá para o Rio de Janeiro, passam lá quatro, cinco mês, quando chegam aqui, eu não entendo nada do que eles dizem!' ai é... então, eu vou lhe dar uma explicação, ó dona Severina: 'é o ambiente que o sujeito, que a pessoa vive lá no Rio. é porque o seu sobrinho, é o seguinte: o rapaz...' - eu não vou dizer seu sobrinho, não é, hum, hum. depois eu fui até saber, depois ela me mostrou uns quadros na parede, ela era irmã de dois escritores paraibanos famosos hum, hum. não é, lá, tinha lá os nome dele. hum, hum. pessoas, ela morava até numa, essa casa é uma casa muito boa, apesar de ser em Guarabira, era uma família de muito recurso - então, ela dizendo para mim. eu digo 'olha, vou lhe explicar, dona Severina: seus sobrinho vão daqui para lá. quando a pessoa está no Rio, manda chamar e acolhe a, tal. mas o rapaz sai daqui para lá para procurar emprego, não encontra, é do ambiente que ele vive. eu sei o que é. eu sei o', eu vou dizer assim 'eu sei o que é.' 'é, porque ele chegam aqui com umas conversa, sabe, seu Paulo, uma conversa que eu não entendo.' eu digo 'já sei o que é, é: 'estou numa boa', não é isso que eles dizem para senhora?', não é, 'estou numa boa, porque agora, não sei quê, comigo é i[...],' 'é, exactamente, exactamente isso que ele, eu não entendo, não entendo nada do que ele fala, nada do que ele fala.' então, eu estava explicando a ela que é do ambiente que eles vivem aqui... hum, hum. até, vão trabalhar nessas obras, nessas obras, frequenta-se meio de, de, de, de favela, e essas bodega e tomando essas pinga, eu dizendo para ela, não é, naqueles botequim, naquilo tudo e... então, eh, eles conversam naquele meio, entre eles. isso é conversa de gente, é só, 'está me entenden[...]?' 'não, agora eu estou entendendo o que o senhor está dizendo, porque o senhor diz que é carioca, eu estou entendendo o senhor está falando, eu não entendo os meus sobrinho, quando vão para lá e voltam para aqui, e vêm de volta hum, hum. eu não entendo eles.' pois bem, então falam muito assim. e muita coisa varia, não é, por exemplo, nós aqui no sul dizemos 'estamos com pressa', não é, hum, hum. está com pressa, está com pressa mesmo; se está com vergonha, está, nós estamos avexados, não é, está um pouco avexado. lá já não, não é, eles chamam às vezes 'vem cá, vem! ó, ó Zé, vem cá, Zé!' ele grita 'não posso não, seu, não posso não, seu, estou muito avexado, estou muito avexado.' está com muita pressa. pressa, não é, é, está com muita pressa, está muito avexado. então, o nordestino é assim, eles têm esse sotaque. o cearense fala... já mais can[...], o cearense fala cantando também... um sotaque muito estridente. o ce[...], o... norde[...], esse, esse é do paraibano, não é, ele é muito paraibano. o baiano já não. o baiano, para mim, tem uma... diferença. o pernambucano fala assim, como se estivesse conversando consigo, mas é como se estivesse discutindo, sabe, sim. principalmente o, o homem de dentro mesmo, o sertanejo, ele conversa assim, como estivesse discutindo, sabe como é, ele gesticula muito, bate muito, não é, e hum, hum. no modo dele... falar. e... e essas diferenças assim... agora, eu vou lhe contar uma diferença muito interessante. eu cheguei no Pará, então, no Pará usa-se muito, depois, mais tarde, não é, eu mesmo - quase como se fosse uma pesquisa - no Pará, fala-se muito o português de Portugal. não, é? é, o português com muitas palavras do português de Portugal. porque nós falamos o português, mas o português em Portugal hum. falamos completamente diferente. por exemplo, no Pará não diz 'tem uma esquina', 'tem um sobrado'. no Pará não diz aqui nós dizemos 'na esquina... da Álvares de Miranda', não é, 'com a avenida suburbana', 'você vai lá, fulano, no sobrado, está,' no Pará diz 'no canto da rua tal', 'nos alto', que é o sobrado, não é, por exemplo, 'vou fazer, vou,' aqui, como você diz, 'vou fazer um terno' hum. 'um terno de roupa'. no Pará, 'eu vou fazer um fato'. um fato. é português. ham, ham. português. porque é um terno, todo mundo sabe que o terno é, são três, é paletó, colete e calça que hoje está voltando. chama-se um terno, não é, hum, hum. colete, calça e paletó, um terno. porque tem a palavra de um terno? você diz 'esse aí é um terno', não é, porque é o terno: calça, colete e paletó. então no Pará ainda se usava muito. terno, usava. então, prepararam a comida no Pará, assim na nossa chegada, isso foi o primeiro contacto. nós, cariocas, com o paraense. e prepararam uma comida rápida. a comida mais rápida que eles encontraram foi cortar uma carne seca, para eu, para mim aqui, para você. cortaram uma carne seca e fizeram uma farofa rápida. aí, me veio aquela comida, nós começámos a comer e foi um tal de, é, beber água que não dava para nada. aí, veio um rapaz, um rancheiro, nós estávamos na primeira bateria mo[...], primeira bateria automóvel... hum, hum. chamavam automóvel porque ela lá já tinha sido infantaria, não é, cavalaria, infantaria, e estavam fazendo um motorizado, botando ela já motorizada: carro, não é, veículo, viaturas. hum, hum. e a mesa era de quatro pessoas. sentávamos quatro na mesa. certo. ele chegou, disse 'olhe, não repare não, porque a jabá foi feita avexada.' poxa, aí olhamos para cara do outro, 'não repare não, a jabá foi feita avexada.' traduzido: 'não repare não, porque a carne seca foi feita às pressa.' hum. por isso ela estava salgada.
Moçambique
eu irei portanto falar um bocadinho da arte, quer dizer, a arte, vou falar muito concretamente no ramo da pintura, música, aliás nos ramos de pintura e música. se for falar, começar a falar de música, tenho principalmente a afirmar que os primeiros passos dei em mil novecentos e setenta e nove quando um alto sócio meu inspirou, inspirou uma coi[...], não esteja a rir-se, é, é uma realidade, 'jô', iá. inspirou-me por concre[...], quer dizer, eu ia lá em casa dele, tocava aquelas músicas profundas com notas tão complicadas, eh pá, eu ficava totalmente impressionado. a única solução era pedir o homem i[...], a ensinar algumas músicas. e ele disse 'olha, a única coisa que posso te dar agora estudar, não sei quantos'. eu fiz o mesmo. porque, quer dizer, antes disso eu andava lá a tocar sem regras sem nada, sabes, hoje, com o andar dos tempos, devido à, às aulas que o meu sócio me deu felizmente já toco alguma coisa. e felizmente posso me or[...], quer dizer, não é orgulho mas é uma realidade que re[...], que surge, que acontece, verídica, que posso mostrar. agora tenho feito várias músicas, feitas por mim, portanto, com várias letras. ah, tenho muitas músicas, não sei se posso mostrar uma delas por exemplo. uma delas é esta. portanto, se for a cantar a letra é assim por exemplo, essa letra foste tu a fazer, não é, fui eu. est[...], é de começar a cantar, não é, um momento, tem que sair uma pequena introdução. 'não foi preciso olhar-te duas vezes para me lembrar daquela paisagem. não foi preciso olhar-te duas vezes para me lembrar daquela paisagem, aquela paisagem que me impressionou e desejei tranquilidade. aquela paisagem que', portanto, esta é uma das música que tenho feito e, quer dizer, neste momento eu já nem sei como agradecer ao amigo que me, que me ensinou a tocar a, a viola. por isso co[...], quer dizer, acerca da música não tenho mais nada a dizer senão, irei já saltar um bocadinho no, no ramo de pintura. a pintura, quer dizer, foi uma coisa que já vinha desde criança, gostei de, gostei de desenho desde talvez a infância porque lembro muito bem que quando era garoto andava a esboçar no chão, pá, com o dedo e tal. mais tarde comecei a fazer, quer dizer, desenhos assim de criancice, sabes, nos cadernos de escola primária e lembro-me que em mil novecentos e oitenta tive um primo que estava a tirar o curso por correspondência de desenho e pintura, Alberto Torrão, quer dizer, ele foi a pessoa que me deu mais força e infelizmente quando estava para me inscrever o curso já estava encerrado mas nem com isso fiquei parado. pedi ao mesmo primo para ver se me dava alguns, alguns tópicos deste ramo, mas, eh pá, não sei o que é que se passou com ele, pá, talvez por causa do tempo, ele disse que não podia. mas mesmo assim também não fiquei parado. a única coisa que tinha a fazer era só investigar assim sozinho através de, eh pá, material que eu tinha, não é, lápis de carvão e tal. mais tarde dediquei-me, comecei a dedicar-me na pintura. comecei a pintar, pá, principalmente foi com aguarela, e vi que, que estava subdesen[...], não sei, quer dizer, como eu estava a treinar sozinho, para mim aquilo era um pouco difícil. comecei a pintar com guache também, também não resultou muito bem, mas afinal era, mais tarde notei que era falta de táctica, sabes, porque se, eh pá, se tivesse aqueles conhecimentos básicos, não haveria nenhuma, nenhuma dificuldade. por isso, pá, quer dizer, agora tenho um pouco de jeito mas que não é aquele jeito que se diz... jeito.
Cabo Verde
qual é a regularidade dos vulcões no Fogo? em, regularidade em que...? há, tempo, quantos anos, eh, de quantos em quantos anos aparece? não. eh, e temos um, segundo Orlando Ribeiro, já f[...], aconteceram cerca de... - menos esta erupção... da actualidade - já aconteceram vinte e um, vinte e uma erupção. ui, muito! erupções, aliás. eh, a penúltima foi em mil novecentos cinquenta e um e, temos agora a de mil novecentos e noventa e cinco. hum, hum. portanto, para si, esta foi a primeira? esta foi a primeira. e não... mesmo tendo relatos dos outros sim. mas esta foi a primeira. vivi, vi sim. no terreno. tive oportunidade de estudar, de estudar e... hum, hum. tenho vários dados. e diga-me uma coisa: portanto nunca tinha vivido, eh, assim uma situação de vulcão, ouvia falar. s[...], tinha algum sentimento de medo, de perigo que acontecesse isto um dia, ou não? ou para si, nunca pensava neste assunto? ah, nunca. francamente nunca. nunca. nós fomos para o Fogo para fazer uma visita de estudos cujo objectivo era ver os aspectos geomorfológicos, vulcanológicos e hidrogeológicos no terreno. hum, hum. ->e, eh, a parte, eh, isto é, impri[...], juntando a parte teórica hum, hum que nós já tínhamos na escola com a parte prática, para se compreender hum, hum. melhor a geologia propriamente dita. hum, hum. logo fizemos, no primeiro dia fizemos a vi[...], uma visita, em termos geo[...], e... geográfico assim, tratando de geomorfologia hum, hum. depois, no... dia seguinte fizemos uma palestra na Vila da Igreja, Mosteiros, sobre o vulcanismo. e logo, às... doze horas, aconteceu a erupção. e as gentes acharam que nós já sabíamos que ia acontecer acontecer a erupção até inclusive um, um indivíduo perguntou-me quando é que vai haver uma actividade vulcânica na ilha do Fogo. eu disse 'o vulcão da ilha do Fogo, pelo que eu sei, é activo hum. pode entrar em actividade a qualquer hora' ham, ham. e à noite aconteceu e ele chegou-me, perguntou 'tu já sabias mesmo?', 'estás a brincar, não sabia nada' olhe, e antes sentia-se assim alguma coisa, algum fenómeno especial, calor, um...? segundo o meu pa[...], eu não sen[...], porque na altura o tempo estava mesmo, estava a fazer um pouco de sol, mesmo. hum, hum. eh, e na altura o meu pai - eu nem, nem liguei para ele, porque o calor já estava a se sentir hum, hum na ilha - o meu pai disse que sentiu-se tremor de terra, à noite, mas também eu não, não liguei na conversa do meu eu não senti nada, também os meus irmãos também não, pronto, e depois à n[...], quando era, por volta das duas, das duas da madrugada, a minha mãe foi-me acordar. foi acordar-me que o vulcão está com lume, entre aspas. hum, hum, hum. eu nem, nem liguei também. depois quando o meu pai disse que ontem, por exemplo, no dia anterior sentiu-se tremor de terra logo levantei, porque relacionei as duas coisas. hum, hum. mas no prin[...], a prin[...], a princípio tinha medo, eu tive medo hum. eu tive medo sim. de que... ia acontecer outras coisas, mortes, etc., não é, não... é que, é, o vulcão muito raramente mata se hum, hum, hum, hum. a pessoa tem se nós não nos acreditarmos nas, nos seus avisos, etc., claro, é o qu[...], é o que aconteceu com Plínio, não é, já ouviram falar dessa história? não. Plínio, um... homem que an[...], andava a estudar o vulcanismo. aqui em Cabo Verde? não. não me lembro agora de aonde. ham, ham. só que en[...], inclusive tem um tipo de, que se designa... erupção do tipo pliniano ham, ham. em honra a, ao Plínio o Velho. ham, ham. mas será o Plínio escritor ro[...], latino? há, eh não sei. há dois mil anos atrás, não? não, não. não tenho a bibliografia hum. desse... hum, hum. dessa personalidade. e ele morreu num, num vulcão? morreu sim. por os estudos. durante os estudos. hum, hum. não teve cuidado? bem, é que, se calhar ele não acreditou no aviso. ham, ham. e não ouviu aquelas... e... quando o vulcão começou, quando começou a erupção, foi logo uma grande quantidade, ou foi pouquinho primeiro? eh, de fogo, ou...? de fogo, sim. de fogo, primeiro começou com tremores hum, hum. e... no primeiro dia... era intenso. hum, hum. logo no segundo dia, no primeiro dia via-se sete focos emissores, eh, em dois alinhamentos diferentes. hum, hum. tinha um, um alinhamento - deixa-me ver - nor[...], nordeste, sueste hum, hum e o outro já no sentido contrário. hum, hum. eh, tinha um, no primeiro havia, estava numerado de um a quatro hum, hum. sendo um, dois, três emitia apenas fumarolas, eh, emitiam apenas fumarolas, o número quatro já era fogo principal. hum, hum. emitia fumarolas, lavas, etc. no outro alinhamento, cinco, seis, sete e no, só apenas cinco e seis emitiam fumarolas, sete fumarolas, de vez em quando um, pequena, uma pequena quantidade de lava, seguido de um ruído hum, hum. mais ou me[...], do tipo assobio. hum, hum. e portanto as pessoas tiveram tempo de... fugir, levar as suas coiant[...], a[...], os, as pessoas não queriam fugir hum, hum. bem, é que já é d[...], é muito difícil também porque já, como já se trata duma zona fértil, lá criaram... todo o processo de socialização, têm lá e... não queriam mesmo, mas depois que... começaram a acontecer os estragos, como... as casas que foram destruídas, o fontanário que abastecia a população, os terrenos cultiváveis que foram, em grande parte, dizimados pelas la[...], pela lava aliás, já... eles acharam por bem que o melhor destino era partir mesmo para as zonas menos afectada. e agora recomeçam uma vida nova nessas zonas, ou como? não. já regressaram para Chã das Caldeiras, neste momento. ah, sim?! é claro começaram no[...], por os que perderam a casa, os terrenos de cultivo, etc., já vão com ess[...], vão recomeçar a vir, digo assim, porque... e como é que eles economicamente, como vão fazer para recomeçar? o governo ajuda? pá, a p[...], houve, criaram um fundo, no município de São Filipe, eh - Chã das Caldeiras faz parte desse município - criaram estruturas que coordenassem o evacuamento das pessoas para zonas menos afectadas hum, hum. hum. e, essas estruturas, para além do evacuamento das pessoas, eh, para as zonas baixas, eh, tinham também, eh, tinham que distribuir alimentos, vestuários, colchões, 'etcs', para essas pessoas. hum, hum. e, segundo cálculos - deixa-me ver, tenho dados aqui - segundo cálculos, eh, ainda no mesmo relatório 'no que concerne a alimentação, no pressuposto do custo de duzentos escudo por dia, mantendo constante o número de pessoas nos respectivos centros de acolhimento, as despesa mensais elev[...], elevam-se a duzentos escudos vezes trinta escudos, vezes trinta mi[...], vezes trinta dias, vezes, ainda, o número de pessoas' pessoas e, evacuados que eram, que era aliás, mil e trezentas e sessenta e nove. ham, ham. que já dá no total oito milhões duzentos e catorze esc[...], mil escudos mensal. é muito dinheiro. é um esforço grande, não é, é um grande esforço. hum, hum. a sua família foi afectada, perdeu alguma coisa? não. não, não, não, nós estávamos muito longe. muito longe. nós f[...], nós moramos nos Mosteiros, na Vila da Igreja. ham, ham. portanto, lá não chegou nada? nada. só um pouco de susto. só um pouco de susto, é claro.
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