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Astronomia é uma ciência natural que estuda corpos celestes (como estrelas, planetas, cometas, nebulosas, aglomerados de estrelas, galáxias) e fenômenos que se originam fora da atmosfera da Terra (como a radiação cósmica de fundo em micro-ondas). Preocupada com a evolução, a física e a química de objetos celestes, bem como a formação e o desenvolvimento do universo.
A astronomia é uma das mais antigas ciências. Culturas pré-históricas deixaram registrados vários artefatos astronômicos, como Stonehenge, os montes de Newgrange e os menires. As primeiras civilizações, como os babilônios, gregos, chineses, indianos, persas e maias realizaram observações metódicas do céu noturno. No entanto, a invenção do telescópio permitiu o desenvolvimento da astronomia moderna. Historicamente, a astronomia incluiu disciplinas tão diversas como astrometria, navegação astronômica, astronomia observacional e a elaboração de calendários. Durante o período medieval, seu estudo era obrigatório e estava incluído no Quadrivium que, junto com o Trivium, compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais.
Durante o século XX, o campo da astronomia profissional dividiu-se em dois ramos: a astronomia observacional e a astronomia teórica. A primeira está focada na aquisição de dados a partir da observação de objetos celestes, que são então analisados utilizando os princípios básicos da física. Já a segunda é orientada para o desenvolvimento de modelos analíticos que descrevem objetos e fenômenos astronômicos. Os dois campos se complementam, com a astronomia teórica procurando explicar os resultados observacionais, bem com as observações sendo usadas para confirmar (ou não) os resultados teóricos.
Os astrônomos amadores têm contribuído para muitas e importantes descobertas astronômicas. A astronomia é uma das poucas ciências onde os amadores podem desempenhar um papel ativo, especialmente na descoberta e observação de fenômenos transitórios.
A Astronomia não deve ser confundida com a astrologia, sistema de crença que afirma que os assuntos humanos, como a personalidade, estão correlacionados com as posições dos objetos celestes. Embora os dois campos compartilhem uma origem comum, atualmente eles estão totalmente distintos.
História
Inicialmente, a astronomia envolveu somente a observação e a previsão dos movimentos dos objetos no céu que podiam ser vistos a olho nu. O Rigveda refere-se aos 27 asterismos ou nakshatras associados aos movimentos do Sol e também às doze divisões zodiacais do céu. Durante milhares de anos, as pessoas investigaram o espaço e a situação da Terra. No ano 4000 a.C., os egípcios desenvolveram um calendário baseado no movimento dos objetos celestes. A observação dos céus levou à previsão de eventos como os eclipses. Os antigos gregos fizeram importantes contribuições para a astronomia, entre elas a definição de magnitude aparente. A Bíblia contém um número de afirmações sobre a posição da Terra no universo e sobre a natureza das estrelas e dos planetas, a maioria das quais são poéticas e não devem ser interpretadas literalmente; ver Cosmologia bíblica. Nos anos 500, Aryabhata apresentou um sistema matemático que considerava que a Terra rodava em torno do seu eixo e que os planetas se deslocavam em relação ao Sol.
O estudo da astronomia quase parou durante a Idade Média, à exceção do trabalho dos astrónomos árabes. No final do século IX, o astrónomo árabe ou persa al-Farghani (Abu'l-Abbas Ahmad ibn Muhammad ibn Kathir al-Farghani) escreveu extensivamente sobre o movimento dos corpos celestes. No século XII, os seus trabalhos foram traduzidos para o latim, e diz-se que Dante aprendeu astronomia pelos livros de al-Farghani.
No final do século X, um observatório enorme foi construído perto de Teerã, Irã, pelo astrônomo al-Khujandi, que observou uma série de trânsitos meridianos do Sol, que permitiu-lhe calcular a obliquidade da eclíptica, também conhecida como a inclinação do eixo da Terra relativamente ao Sol. Como sabe-se hoje, a inclinação da Terra é de aproximadamente 23°34', e al-Khujandi mediu-a como sendo 23°32'19". Usando esta informação, compilou também uma lista das latitudes e das longitudes de cidades principais.
Omar Khayyam (Ghiyath al-Din Abu'l-Fath Umar ibn Ibrahim al-Nisaburi al-Khayyami) foi um grande cientista, filósofo e poeta persa que viveu de 1048 a 1131. Compilou muitas tabelas astronômicas e executou uma reforma do calendário que era mais exato do que o Calendário Juliano e se aproximava do Calendário Gregoriano. Um feito surpreendente era seu cálculo do ano como tendo 365,24219858156 dias, valor esse considerando a exatidão até a sexta casa decimal se comparado com os números de hoje, indica que nesses mil anos pode ter havido algumas alterações na órbita terrestre.
Durante o Renascimento, Copérnico propôs um modelo heliocêntrico do Sistema Solar. No século XIII, o imperador Hulagu, neto de Gengis Khan e um protetor das ciências, havia concedido ao conselheiro Nasir El Din Tusi autorização para edificar um observatório considerado sem equivalentes na época. Entre os trabalhos desenvolvidos no observatório de Maragheh e a obra "De Revolutionibus Orbium Caelestium" de Copérnico, há algumas semelhanças que levam os historiadores a admitir que este teria tomado conhecimento dos estudos de Tusi, através de cópias de trabalhos deste existentes no Vaticano.
O modelo heliocêntrico do Sistema Solar foi defendido, desenvolvido e corrigido por Galileu Galilei e Johannes Kepler. Kepler foi o primeiro a desenvolver um sistema que descrevesse corretamente os detalhes do movimento dos planetas com o Sol no centro. No entanto, Kepler não compreendeu os princípios por detrás das leis que descobriu. Estes princípios foram descobertos mais tarde por Isaac Newton, que mostrou que o movimento dos planetas se podia explicar pela Lei da gravitação universal e pelas leis da dinâmica.
Constatou-se que as estrelas são objetos muito distantes. Com o advento da Espectroscopia provou-se que são similares ao nosso próprio Sol, mas com uma grande variedade de temperaturas, massas e tamanhos. A existência de nossa galáxia, a Via Láctea, como um grupo separado das estrelas foi provada somente no século XX, bem como a existência de galáxias "externas", e logo depois, a expansão do universo dada a recessão da maioria das galáxias de nós. A Cosmologia fez avanços enormes durante o século XX, com o modelo do Big Bang fortemente apoiado pelas evidências fornecidas pela Astronomia e pela Física, tais como a radiação cósmica de micro-ondas de fundo, a Lei de Hubble e a abundância cosmológica dos elementos.
Campos
Por ter um objeto de estudo tão vasto, a astronomia é dividida em muitas áreas. Uma distinção principal é entre a astronomia teórica e a observacional. Observadores usam vários meios para obter dados sobre diversos fenômenos, que são usados pelos teóricos para criar e testar teorias e modelos, para explicar observações e para prever novos resultados. O observador e o teórico não são necessariamente pessoas diferentes e, em vez de dois campos perfeitamente delimitados, há um contínuo de cientistas que põem maior ou menor ênfase na observação ou na teoria.
Os campos de estudo podem também ser categorizados quanto:
ao assunto: em geral de acordo com a região do espaço (ex. Astronomia galáctica) ou aos problemas por resolver (tais como formação das estrelas ou cosmologia);
à forma como se obtém a informação (essencialmente, que faixa do espectro eletromagnético é usada).
Enquanto a primeira divisão se aplica tanto a observadores como também a teóricos, a segunda se aplica a observadores, pois os teóricos tentam usar toda informação disponível, em todos os comprimentos de onda, e observadores frequentemente observam em mais de uma faixa do espectro.
Astronomia observacional
Na astronomia, a principal forma de obter informação é através da detecção e análise da luz visível ou outras regiões da radiação eletromagnética. Mas a informação é adquirida também por raios cósmicos, neutrinos, e, no futuro próximo, ondas gravitacionais (veja LIGO e LISA).
Uma divisão tradicional da astronomia é dada pela faixa do espectro eletromagnético observado. Algumas partes do espectro podem ser observadas da superfície da Terra, enquanto outras partes só são observáveis de grandes altitudes ou no espaço.
Radioastronomia
A radioastronomia estuda a radiação com comprimento de onda maior que aproximadamente 1 milímetro. A radioastronomia é diferente da maioria das outras formas de astronomia observacional pelo fato de as ondas de rádio observáveis poderem ser tratadas como ondas ao invés de fótons discretos. Com isso, é relativamente mais fácil de medir a amplitude e a fase das ondas de rádio.
Apesar de algumas ondas de rádio serem produzidas por objetos astronômicos na forma de radiação térmica, a maior parte das emissões de rádio que são observadas da Terra são vistas na forma de radiação síncrotron, que é produzida quando elétrons ou outras partículas eletricamente carregadas descrevem uma trajetória curva em um campo magnético. Adicionalmente, diversas linhas espectrais produzidas por gás interestelar, notadamente a linha espectral do hidrogênio de 21 cm, são observáveis no comprimento de onda de rádio.
Uma grande variedade de objetos são observáveis no comprimento de onda de rádio, incluindo supernovas, gás interestelar, pulsares e núcleos de galáxias ativas.
Astronomia infravermelha
A astronomia infravermelha lida com a detecção e análise da radiação infravermelha, cuja frequência é menor do que a da luz vermelha. Exceto por comprimentos de onda mais próximas à luz visível, a radiação infravermelha é na maior parte absorvida pela atmosfera, e a atmosfera produz emissão infravermelha numa quantidade significante. Consequentemente, observatórios de infravermelho precisam estar localizados em lugares altos e secos, ou no espaço.
O espectro infravermelho é útil para estudar objetos que são muito frios para emitir luz visível, como os planetas e discos circunstrelares. Comprimentos de onda infravermelha maior podem também penetrar nuvens de poeira que bloqueiam a luz visível, permitindo a observação de estrelas jovens em nuvens moleculares e o centro de galáxias. Algumas moléculas radiam fortemente no infravermelho, e isso pode ser usado para estudar a química no espaço, assim como detectar água em cometas.
Astronomia óptica
Historicamente, a astronomia óptica (também chamada de astronomia da luz visível) é a forma mais antiga da astronomia. Imagens ópticas eram originalmente desenhadas à mão. No final do século XIX e na maior parte do século XX as imagens eram criadas usando equipamentos fotográficos. Imagens modernas são criadas usando detectores digitais, principalmente detectores usando dispositivos de cargas acoplados (CCDs). Apesar da luz visível estender de aproximadamente Å até Å (400 nm até 700 nm), o mesmo equipamento usado nesse comprimento de onda é também usado para observar radiação de luz visível próxima a ultravioleta e infravermelho.
Astronomia ultravioleta
A astronomia ultravioleta é normalmente usada para se referir a observações no comprimento de onda ultravioleta, aproximadamente entre 100 e Å (10 e 320 nm). A luz nesse comprimento de onda é absorvida pela atmosfera da Terra, então as observações devem ser feitas na atmosfera superior ou no espaço.
A astronomia ultravioleta é mais utilizada para o estudo da radiação térmica e linhas de emissão espectral de estrelas azul quente (Estrela OB) que são muito brilhantes nessa banda de onda. Isso inclui estrelas azuis em outras galáxias, que têm sido alvos de várias pesquisas nesta área. Outros objetos normalmente observados incluem a nebulosa planetária, remanescente de supernova, e núcleos de galáxias ativas. Entretanto, a luz ultravioleta é facilmente absorvida pela poeira interestelar, e as medições da luz ultravioleta desses objetos precisam ser corrigidas.
Astronomia de raios-X
A astronomia de raio-X é o estudo de objetos astronômicos no comprimento de onda de raio-X. Normalmente os objetos emitem radiação de raio-X como radiação síncrotron (produzida pela oscilação de elétrons em volta de campos magnéticos), emissão termal de gases finos (chamada de radiação Bremsstrahlung) maiores que 107 kelvin, e emissão termal de gases grossos (chamada radiação de corpo negro) maiores que 107 kelvin. Como os raio-X são absorvidos pela atmosfera terrestre todas as observações devem ser feitas de balões de grande altitude, foguetes, ou naves espaciais.
Fontes de raio-X notáveis incluem binário de raio X, pulsares, remanescentes de supernovas, galáxias elípticas, aglomerados de galáxias e núcleos galácticos ativos.
Astronomia de raios gama
A astronomia de raios gama é o estudo de objetos astronômicos que usam os menores comprimentos de onda do espectro eletromagnético. Os raios gama podem ser observados diretamente por satélites como o observatório de raios Gama Compton ou por telescópios especializados chamados Cherenkov. Os telescópios Cherenkov não detectam os raios gama diretamente mas detectam flashes de luz visível produzidos quando os raios gama são absorvidos pela atmosfera da Terra.
A maioria das fontes emissoras de raio gama são na verdade Erupções de raios gama, objetos que produzem radiação gama apenas por poucos milissegundos a até milhares de segundos antes de desaparecerem. Apenas 10% das fontes de raio gama são fontes não transcendentes, incluindo pulsares, estrelas de nêutrons, e candidatos a buracos negros como núcleos galácticos ativos.
Campos não baseados no espectro eletromagnético
Além da radiação eletromagnética outras coisas podem ser observadas da Terra que se originam de grandes distâncias.
Na Astronomia de neutrinos, astrônomos usam laboratórios especiais subterrâneos como o SAGE, GALLEX e Kamioka II/III para detectar neutrinos. Esses neutrinos se originam principalmente do Sol, mas também de supernovas.
Raios cósmicos consistindo de partículas de energia muito elevada podem ser observadas chocando-se com a atmosfera da terra. No futuro, detectores de neutrino poderão ser sensíveis aos neutrinos produzidos quando raios cósmicos atingem a atmosfera da Terra.
Foram construídos alguns observatórios de ondas gravitacionais como o Laser Interferometer Gravitational Observatory (LIGO) mas as ondas gravitacionais são extremamente difíceis de detectar. No final de 2015, pesquisadores do projeto LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) observaram "distorções no espaço e no tempo" causadas por um par de buracos negros com trinta massas solares em processo de fusão.
A astronomia planetária tem se beneficiado da observação direta pelos foguetes espaciais e amostras no retorno das missões. Essas missões incluem fly-by missions com sensores remotos; veículos de aterrissagem que podem realizar experimentos no material da superfície; missões que permitem ver remotamente material enterrado; e missões de amostra que permitem um exame laboratorial direto.
Astrometria e mecânica celeste
Um dos campos mais antigos da astronomia e de todas as ciências, é a medição da posição dos objetos celestiais. Historicamente, o conhecimento preciso da posição do Sol, Lua, planetas e estrelas era essencial para a navegação celestial.
A cuidadosa medição da posição dos planetas levou a um sólido entendimento das perturbações gravitacionais, e a capacidade de determinar as posições passadas e futuras dos planetas com uma grande precisão, um campo conhecido como mecânica celestial. Mais recentemente, o monitoramento de Objectos Próximos da Terra vai permitir a predição de encontros próximos, e possivelmente colisões, com a Terra.
A medição do paralaxe estelar de estrelas próximas provêm uma linha de base fundamental para a medição de distâncias na astronomia que é usada para medir a escala do universo. Medições paralaxe de estrelas próximas provêm uma linha de base absoluta para as propriedades de estrelas mais distantes, porque suas propriedades podem ser comparadas. A medição da velocidade radial e o movimento próprio mostra a cinemática desses sistemas através da Via Láctea. Resultados astronômicos também são usados para medir a distribuição de matéria escura na galáxia.
Durante a década de 1990, as técnicas de astrometria para medir as stellar wobble foram usados para detectar planetas extrasolares orbitando a estrelas próximas.
Subcampos específicos
Astronomia solar
Localizada a uma distância de aproximadamente de oito minutos-luz da Terra, a estrela mais frequentemente estudada é o Sol, uma típica estrela anã da sequência principal da classe estrelar G2 V, com idade de aproximadamente 4,6 Gyr. O Sol não é considerado uma estrela variável, mas passa por mudanças periódicas em atividades conhecidas como ciclo solar, que se caracteriza por uma flutuação de cerca de 11 anos no número de mancha solares. Manchas solares são regiões de temperatura abaixo da média que estão associadas a uma intensa atividade magnética.
O Sol tem aumentado constantemente de luminosidade no seu curso de vida, aumentando em 40% desde que se tornou uma estrela da sequência principal. O Sol também passa por mudanças periódicas de luminosidade que podem ter um impacto significativo na Terra. Por exemplo, se acredita que o mínimo de Maunder tenha causado a Pequena Idade do Gelo.
A superfície externa visível do Sol é chamada fotosfera. Acima dessa camada há uma fina região conhecida como cromosfera. Essa é envolvida por uma região de transição de temperaturas cada vez mais elevadas, e então pela superquente corona.
No centro do Sol está a região do núcleo, um volume com temperatura e pressão suficientes para uma fusão nuclear ocorrer. Acima do núcleo está a zona de radiação, onde o plasma se converte o fluxo de energia através da radiação. As camadas externas formam uma zona de convecção onde o gás material transporta a energia através do deslocamento físico do gás. Se acredita que essa zona de convecção cria a atividade magnética que gera as manchas solares.
Um vento solar de partículas de plasma corre constantemente para fora do Sol até que atinge a heliosfera. Esse vento solar interage com a magnetosfera da Terra para criar os cinturões de Van Allen, assim como a aurora onde as linhas dos campos magnéticos da Terra descendem até a atmosfera da Terra.
Ciência planetária
Ciência planetária: Estuda os planetas.
Planetologia: Estudo dos planetas do Sistema Solar e exoplanetas.
Astronomia estelar
Astronomia estelar: Estudo das estrelas, em geral.
Formação de estrelas: Estudo das condições e dos processos que conduziram à formação das estrelas no interior de nuvens do gás, e o próprio processo da formação.
Evolução estelar: Estudo da evolução das estrelas, de sua formação a seu fim como um remanescente estelar.
Formação estelar: Estudo das condições e processos que levam à formação de estrelas no interior de nuvens de gás.
Astronomia galáctica
Astronomia galáctica: Estudo da estrutura e componentes de nossa galáxia, seja através de dados relativos a objetos de nossa galáxia, seja através do estudo de galáxias próximas, que podem ser observadas em detalhe e que podem ser usadas para comparação com a nossa.
Formação e evolução de galáxias: Estudo da formação das galáxias e sua evolução ao estado atual observado.
Astronomia extragaláctica
Astronomia extragaláctica: Estudo de objetos (principalmente galáxias) fora de nossa galáxia.
Uranografia: Estudos das constelações e asterismos. Nome atual de Uranometria.
Cosmologia
Cosmologia: Estuda a origem e a evolução do universo.
Astronomia teórica
Tópicos estudados pelos astrônomos teóricos são: dinâmica e evolução estelar; formação e evolução de galáxias; estrutura em grande escala da matéria no Universo; origem dos raios cósmicos; relatividade geral e cosmologia física, incluindo Cosmologia das cordas e física de astropartículas.
Campos interdisciplinares
A astronomia e astrofísica desenvolveram links significantes de interdisciplinaridade com outros grandes campos científicos. Arqueoastronomia é o estudo das antigas e tradicionais astronomias em seus contextos culturais, utilizando evidências arqueológicas e antropológicas. Astrobiologia é o estudo do advento e evolução os sistemas biológicos no universo, com ênfase particular na possibilidade de vida fora do planeta Terra.
O estudo da química encontrada no espaço, incluindo sua formação, interação e destruição, é chamada de Astroquímica. Essas substâncias são normalmente encontradas em nuvens moleculares, apesar de também terem aparecido em estrelas de baixa temperatura, anões marrons, e planetas. Cosmoquímica é o estudo de compostos químicos encontrados dentro do Sistema Solar, incluindo a origem dos elementos e as variações na proporção de isótopos. Esses dois campos representam a união de disciplinas de astronomia e química.
Atuação profissional
No Brasil
Segundo o censo realizado pela Sociedade Astronômica Brasileira, em maio de 2011 havia 340 doutores em Astronomia atuando como pesquisadores no Brasil. Em 2006 foi instituída, no estado do Rio de Janeiro, a data de 2 de dezembro como o Dia do Astrônomo. A data coincide com o aniversário do imperador Dom Pedro II, que era um conhecido incentivador da Astronomia.
Ferramentas astronômicas
Luneta
Telescópio
Computador
Radiotelescópio
Calculadora
Observatório
Observatório espacial
Ver também
Astrofotografia
Céu noturno
Ligações externas
Sociedade Astronômica Brasileira
Geomática |
Abel — personagem bíblico
Abel (filme) — filme de 1986
Prémio Abel — prémio dado a matemáticos em homenagem a Niels Henrik Abel
Pessoas
Karl Friedrich Abel — compositor alemão
Niels Henrik Abel — matemático norueguês
Thomas Abel — padre e mártir inglês
Abel Ferreira (treinador) — treinador português
Gottlieb Friedrich Abel — botânico alemão
Abel Verônico — futebolista brasileiro contemporâneo de Pelé
Personagens fictícios
Abel (Ursinho Pooh) — personagem das histórias do Ursinho Pooh muitas vezes chamado apenas de Coelho
Desambiguações de antropônimos |
Alexandre I da Escócia — rei da Escócia (r. 6/12/1214–1249)
Alexandre III da Escócia — rei da Escócia (r. 1249–/03/1286)
Desambiguações de antropônimos
Desambiguações de história |
Aves são uma classe de seres vivos vertebrados endotérmicos caracterizada pela presença de penas, um bico sem dentes, oviparidade de casca rígida, elevado metabolismo, um coração com quatro câmaras e um esqueleto pneumático resistente e leve. As aves estão presentes em todas as regiões do mundo e variam significativamente de tamanho, desde os 5 cm do colibri até aos 2,75 m da avestruz. São a classe de tetrápodes com o maior número de espécies vivas, aproximadamente dez mil, das quais mais de metade são passeriformes. As aves apresentam asas, que são mais ou menos desenvolvidas dependendo da espécie. Os únicos grupos conhecidos sem asas são as moas e as aves-elefante, ambos extintos. As asas, que evoluíram a partir dos membros anteriores, oferecem às aves a capacidade de voar, embora a especiação tenha produzido aves não voadoras, como as avestruzes, pinguins e diversas aves endémicas insulares. Os sistemas digestivo e respiratório das aves estão adaptados ao voo. Algumas espécies de aves que habitam em ecossistemas aquáticos, como os pinguins e a família dos patos, desenvolveram a capacidade de nadar.
Algumas aves, especialmente os corvos e os papagaios, estão entre os animais mais inteligentes do planeta. Algumas espécies constroem e usam ferramentas e passam o conhecimento entre gerações. Muitas espécies realizam migrações ao longo de grandes distâncias. A maioria das aves são animais sociais que comunicam entre si com sinais visuais, chamamentos e cantos, e realizam atividades comunitárias como procriação e caça cooperativa, voo em bando e grupos de defesa contra predadores. A grande maioria das espécies de aves são monogâmicas, geralmente durante uma época de acasalamento e por vezes durante vários anos, mas raramente durante toda a vida. Outras espécies são polígamas ou, mais raramente, poliândricas. As aves reproduzem-se através de ovos, que são fertilizados por reprodução sexual e geralmente colocados num ninho onde são incubados pelos progenitores. A maior parte das aves apresenta um período prolongado de cuidados parentais após a incubação. Algumas aves, como as galinhas, põem ovos mesmo que não sejam fertilizados, embora esses ovos não produzam descendência.
As aves, e em particular os fringilídeos de Darwin, tiveram um papel importante no desenvolvimento da teoria da evolução por seleção natural de Darwin. O registo fóssil indica que as aves são os últimos sobreviventes dos dinossauros, tendo evoluído a partir de dinossauros emplumados dentro do grupo terópode dos saurísquios. As primeiras aves apareceram durante o período cretácico, há cerca de 100 milhões de anos, e estima-se que o último ancestral comum tenha vivido há 95 milhões de anos. As evidências de ADN indicam que as aves se desenvolveram extensivamente durante a extinção do Cretáceo-Paleogeno que matou os dinossauros não avianos. As aves na América do Sul sobreviveram a este evento, tendo depois migrado para as várias partes do mundo através de várias passagens terrestres, ao mesmo tempo que se diversificavam em espécies durante os períodos de arrefecimento global. Algumas aves primitivas dentro do grupo Avialae datam do período Jurássico. Muitos destes ancestrais das aves, como o Archaeopteryx, não tinham plena capacidade de voo e muitos apresentavam ainda características primitivas como mandíbula em vez de bico e cauda vertebrada.
Muitas espécies de aves têm importância económica. As aves domesticadas (de capoeira) e não domesticadas (de caça) são fontes importantes de ovos, carne e penas. As aves canoras e os papagaios são animais de estimação populares. O guano é usado como fertilizante. As aves são um elemento de destaque na cultura. No entanto, desde o que cerca de 120 a 130 espécies foram extintas devido à ação humana e várias centenas foram extintas nos séculos anteriores. Atualmente existem espécies de aves ameaçadas de extinção, embora haja esforços no sentido de as conservar. A observação de aves é uma atividade importante no setor do ecoturismo.
Habitat, diversidade e distribuição
A capacidade de voar proporcionou às aves uma diversificação extraordinária, pelo que hoje em dia vivem e reproduzem-se em praticamente todos os habitats terrestres e em todos os sete continentes. O petrel-das-neves nidifica em colónias que já foram observadas a distâncias de 440 km do litoral da Antártida. A maior biodiversidade de aves tem lugar nas regiões tropicais. Anteriormente, pensava-se que esta maior diversidade era o resultado de uma maior velocidade de especiação nos trópicos. No entanto, estudos mais recentes verificaram que a especiação é superior nas latitudes mais elevadas, embora a velocidade de extinção seja também superior à dos trópicos. Várias famílias de aves evoluíram para se adaptar à vida nos oceanos. Algumas espécies de aves marinhas regressam à costa apenas para nidificar e alguns pinguins são capazes de mergulhar até 300 metros de profundidade.
Regra geral, o número de espécies que se reproduz em determinada área é diretamente proporcional ao tamanho dessa área e à diversidade de habitats disponíveis. O número total de espécies está também relacionado com factores como a posição dessa área em relação às rotas de migração e ao número de espécies que aí passam o inverno. Na Europa a oeste dos montes Urais, incluindo grande parte da Turquia, vivem cerca de 540 espécies de aves. Na Ásia vivem espécies, o que corresponde a 25% da avifauna mundial, e só na Rússia vivem cerca de 700. Em África vivem cerca de espécies. Em todo o continente americano vivem cerca de espécies, embora em alguns países da América Central e do Sul haja mais de mil espécies. A Costa Rica é a região com maior número de espécies em relação ao tamanho, com cerca de 800 conhecidas numa área de apenas km2.
Muitas espécies de aves estabeleceram o seu território nas regiões em que foram introduzidas pelo ser humano. A introdução de algumas espécies foi deliberada, como por exemplo o faisão-comum, que foi introduzido em todo o mundo como ave de caça. Outras introduções foram acidentais, como o periquito-monge, que atualmente está presente em várias cidades norte-americanas como consequência de fugas de cativeiro. Algumas espécies, como a garça-boieira, o gavião-carrapateiro e a cacatua-galah, expandiram-se muito para além do seu território inicial de forma natural, à medida que a agricultura foi criando novos habitats.
Anatomia e fisiologia
Em comparação com outros vertebrados, as aves apresentam um corpo com diversas adaptações invulgares e únicas que lhes permitem voar, mesmo que sejam apenas estruturas vestigiais ou que sejam usadas para deslocação terrestre ou aquática. Embora haja várias particularidades ósseas e anatómicas exclusivas das aves, a presença de penas é a mais proeminente e distintiva característica das aves. As aves possuem também um órgão único entre os animais, a siringe, que lhes permite produzir os cantos e chamamentos. A pele das aves é praticamente ausente de quaisquer glândulas, à exceção da glândula uropigial que produz um óleo que protege e impermeabiliza as penas.
As aves são animais endotérmicos que mantêm uma temperatura de aproximadamente 41 °C, podendo ser ligeiramente inferior durante as horas de sono e ligeiramente superior durante os períodos de atividade intensa. As penas e, em algumas espécies, a gordura subcutânea, oferecem isolamento térmico. Como não possuem glândulas sudoríparas, o excesso de calor é dissipado pela respiração rápida que, em algumas espécies, pode chegar às 300 respirações por minuto. Algumas espécies são capazes de hibernar temporariamente.
Nas aves voadoras de maior dimensão, os ossos são permeados por cavidades de ar e o sistema respiratório é constituído por sacos de ar, o que contribui para diminuir o seu peso. O albatroz é a ave voadora com maior envergadura de asas, que pode atingir os 3,5 metros, enquanto o cisne-trombeteiro pode atingir os 17 kg de peso. A ave mais pequena é o colibri-cubano, que pode medir 5–6 cm de comprimento e pesar apenas 3 gramas. Quando as aves perdem a capacidade de voar deixam de estar limitadas pelo peso, como é o caso da avestruz, que pode atingir os 2,75 metros de altura e pesar 150 kg.
Voo
A maior parte das aves tem a capacidade de voar, o que as distingue de praticamente todas as outras classes de vertebrados. O voo é a principal forma de deslocação para a maioria das espécies de aves e é usado para a reprodução, alimentação e fuga de predadores. No entanto, cerca de 60 espécies vivas de aves são incapazes de voar, assim como muitas das aves extintas. A incapacidade de voo ocorre muitas vezes em ilhas isoladas, provavelmente devido aos recursos limitados e à ausência de predadores terrestres. Embora incapazes de voar ou de percorrer grandes distâncias, algumas aves usam a mesma musculatura e movimentos para nadar na água, como é o caso dos pinguins, tordas ou os melros-d'água.
As aves possuem diversas adaptações evolutivas destinadas ao voo, entre as quais ossos pneumáticos e leves, dois grandes músculos de voo (os peitorais – que correspondem a 15% do peso da ave – e o supracoracoide) e um membro anterior modificado (a asa) que atua simultaneamente como aerofólio (que sustenta a ave no ar) e como elemento de impulso. Muitas aves alternam entre o voo impulsionado pelo bater de asas e o voo planado e usam a cauda para direcionar o voo. A asa é bastante flexível, podendo ser alongada ou recolhida por flexão, as penas das bordas podem ser abertas ou fechadas e o ângulo das asas pode ser ajustado, quer em conjunto, quer individualmente.
O tamanho e forma da asa geralmente está relacionado com o tipo de voo dessa espécie. Por exemplo, os albatrozes, as gaivotas e outras aves marinhas apresentam asas compridas e estreitas que tiram partido do vento sobre o oceano para planar, enquanto que as aves de rapina têm asas amplas para tirar partido das correntes de ar ascendentes e descendentes de montanha. As aves de asa curta, como os galináceos, fazem apenas voos curtos. As asas pontiagudas dos patos permitem-lhes percorrer rapidamente grandes distâncias. As andorinhas e os estorninhos têm asas compridas e pontiagudas que lhes permitem fazer acrobacias aéreas durante horas seguidas. Enquanto algumas aves de grande dimensão, como os abutres, planam ao longo de horas e só ocasionalmente batem as asas, outras aves, como os colibris, batem as asas várias vezes por segundo.
A velocidade de voo varia imenso entre as espécies. As aves mais pequenas, como os pardais ou as carriças, voam entre 15-30 km/h. As aves de pequena a média dimensão, como os tordos, rabos-de-quilha, estorninhos ou andorinhões, e as aves de grande envergadura de asa, como os pelicanos e as gaivotas, voam entre 30 e 60 km/h. As aves mais rápidas, como os falcões, patos, gansos e pombos voam entre 60 a 100 km/h. A ave que atinge maior velocidade é o falcão-peregrino, que é capaz de realizar voos a pique que atingem os 320 km/h.
Muitas aves com pés pequenos, como os andorinhões, colibris ou calaus, raramente caminham e usam as patas apenas para se empoleirarem, enquanto outras apresentam patas mais robustas e realizam grande parte dos movimentos a pé, como as galinhas de água. Os papagaios caminham frequentemente ao longo dos ramos, enquanto espécies como os melros saltitam no terreno. Muitas espécies usam as asas para se deslocar debaixo de água, como é o caso dos pinguins, embora algumas só nadem à superfície. Algumas aves, como as mobêlhas, estão tão adaptadas à vida no mar que só vão a terra nidificar. Muitas aves, como o pato-real, são capazes de levantar voo diretamente a partir da superfície da água, embora outras necessitem de fazer uma pequena corrida para ganhar impulso, como os mergulhões.
Penas, plumagem e escamas
As penas são uma característica proeminente e única das aves. As penas permitem às aves voar, fornecem isolamento que facilita a regulação térmica e são usadas como forma de exibicionismo, camuflagem e comunicação. Existem vários tipos de penas, cada um com finalidades específicas. As penas são desenvolvimentos epidérmicos ligados à pele e crescem apenas em regiões específicas da pele denominadas pterilas. O padrão de distribuição da implantação das penas em tratos denomina-se pterilose. Aptérios são zonas desprovidas de penas. A distribuição e aparência do conjunto das penas no corpo é denominada plumagem e é uma das principais características que permitem identificar a espécie de ave. A plumagem pode variar significativamente dentro da própria espécie de acordo com a idade, estatuto social e sexo. A cor das penas tem origem em pigmentos ou na estrutura. Os castanhos e os pretos são causados por melaninas sintetizadas pela ave e depositados em grânulos, enquanto os amarelos, laranjas e vermelhos são causados por carotenoides com origem na dieta e difundidos pela pele e penas. As cores azuis são estruturais e têm origem numa camada fina e porosa de queratina. Os verdes resultam do acréscimo de pigmento amarelo ao azul estrutural. As cores iridescentes têm origem na estrutura laminada das bárbulas e são realçadas pelos depósitos de melanina.
A plumagem das aves muda regularmente. Geralmente a muda é anual, embora em algumas espécies se observem duas mudas, uma antes da época de reprodução e outra depois, podendo ocorrer variações entre espécies e entre indivíduos da mesma espécie. As maiores aves de rapina podem mudar de plumagem apenas uma vez em vários anos. As características da muda variam entre espécies. Em passeriformes, as penas de voo são substituídas uma de cada vez, sendo as primárias da face inferior substituídas primeiro. Após a substituição da quinta ou sexta primária, começam a cair as terciárias exteriores, seguidas pelas secundárias e pelas outras penas. As grandes coberturas primárias são substituídas ao mesmo tempo das primárias que cobrem. Este processo denomina-se muda centrífuga. Por outro lado, um pequeno número de espécies, entre as quais os patos e os gansos, perdem todas as penas de voo de uma única vez, ficando temporariamente incapazes de voar. Regra geral, a muda das penas da cauda segue o mesmo padrão da das asas, do interior para o exterior. No entanto, nos Phasianidae verifica-se muda centrípeta (de fora para o centro), enquanto que na cauda dos pica-paus e das trepadeiras a muda começa no segundo par mais interior e acaba no par central de penas, de modo a que a ave possa continuar a trepar.
As escamas das aves encontram-se principalmente nos dedos e no metatarso, embora em algumas aves estejam presentes acima do tornozelo. À semelhança dos bicos, garras e espigões, são constituídas por queratina. A maior parte das escamas não se sobrepõe de forma significativa, exceto nos casos do guarda-rios e do pica-pau. Pensa-se que as escamas das aves sejam homólogas às dos répteis e dos mamíferos.
Bico
Embora o tamanho e a forma do bico das aves varie significativamente de espécie para espécie, a sua estrutura é idêntica. Todos os bicos são constituídos por duas mandíbulas, superior e inferior. A mandíbula superior está apoiada num osso denominado intermaxilar, cujas ligações permitem que a mandíbula seja flexível e se mova para cima e para baixo. A mandíbula inferior está apoiada num osso denominado osso maxilar inferior.
A superfície exterior do bico é constituída por uma camada fina de queratina, denominada ranfoteca. Entre a ranfoteca e as camadas mais profundas da derme existe uma camada vascularizada ligada diretamente aos ossos do bico. A ranfoteca forma-se nas células na base de cada mandíbula e cresce continuamente na maior parte das aves, enquanto em algumas espécies muda de cor conforme a estação.
As bordas cortantes do bico são denominadas tomia. Na maior parte das espécies, as bordas variam entre arredondadas e ligeiramente afiadas, embora algumas espécies tenham desenvolvido modificações estruturais que lhes permitem manusear melhor a sua fonte de alimentação. Por exemplo, as aves granívoras têm bordas serrilhadas que lhes permitem quebrar a casca de sementes. A maior parte dos falcões e alguns papagaios omnívoros apresentam uma projeção na mandíbula superior, de modo a atingir mortalmente as vértebras das presas ou a dilacerar insetos. Algumas espécies que se alimentam de peixe, como os mergansos, têm bicos serrilhados que mantêm preso o peixe escorregadio. Cerca de 30 famílias de aves insetívoras apresentam cerdas muito curtas em toda a mandíbula que aumentam a fricção e lhes permitem segurar insetos de carapaça dura.
Visão e audição
A visão das aves é geralmente bastante desenvolvida. As aves marinhas apresentam lentes flexíveis, o que lhes permite ver claramente tanto no ar como dentro de água. Algumas espécies têm dupla fóvea. As aves são tetracromáticas, possuindo cones não só sensíveis à luz verde, vermelha e azul como também à luz ultravioleta. Muitas aves exibem padrões de plumagem refletora ultravioleta que são invisíveis ao olho humano. Algumas aves cujos sexos aparentam ser iguais apresentam, na realidade, padrões diferenciados. Os machos do chapim-azul, por exemplo, têm uma coroa refletora ultravioleta que é exposta durante a corte ao levantar as penas da nuca. A luz ultravioleta é também usada na procura de comida. Alguns falcões procuram presas através da deteção dos rastos de urina dos roedores, que refletem a luz ultravioleta.
As pálpebras das aves não são usadas para pestanejar. Em vez disso, o olho é lubrificado por uma terceira pálpebra que se desloca horizontalmente, denominada membrana nictitante. Esta membrana também cobre o olho e funciona como uma lente de contacto em muitas aves marinhas. A retina das aves tem um sistema irrigatório próprio denominado pécten ocular. A maior parte das aves não consegue mover os olhos, embora haja exceções, como o corvo-marinho-de-faces-brancas. As aves com olhos nas partes laterais da cabeça têm um grande campo visual, enquanto que as aves com olhos na parte da frente da cabeça têm visão binocular e são capazes de estimar a profundidade.
O alcance auditivo das aves é limitado. O ouvido não apresenta pavilhão auditivo externo, embora o orifício seja revestido por penas. Em algumas aves de rapina, como as corujas, mochos ou bufos, estas penas formam tufos que se assemelham a orelhas. O ouvido interno apresenta uma cóclea, mas não em espiral como nos mamíferos.
Sistema respiratório e olfato
As aves têm um dos mais complexos e eficientes sistemas respiratórios de todos os animais. Devido ao elevado ritmo metabólico exigido pelo voo, necessitam de um fornecimento constante de grande quantidade de oxigénio. Embora possuam pulmões, a ventilação é assegurada em grande parte por sacos aéreos ligados aos pulmões, que correspondem a 15% do volume do corpo. Embora as paredes dos sacos aéreos não façam trocas gasosas, têm a função de atuar como foles para fazer circular o ar pelo sistema respiratório. No momento da inalação, apenas 25% do ar inalado vai diretamente para os pulmões; os restantes 75% atravessam os pulmões e passam diretamente para um saco de ar posterior que se estende a partir dos pulmões e está ligado às cavidades de ar nos ossos, as quais preenche com ar. Quando a ave expira, o ar usado sai dos pulmões e o ar fresco do saco de ar posterior é forçado a passar para os pulmões. Desta forma, os pulmões são constantemente fornecidos de ar fresco, quer durante a inalação quer durante a expiração.
Os sons das aves são produzidos na siringe, uma câmara muscular constituída por várias membranas timpânicas que diverge da extremidade inferior da traqueia. Em algumas espécies, a traqueia é alongada, o que aumenta o volume das vocalizações e a perceção do tamanho da ave.
A maior parte das aves tem olfato pouco apurado, embora os quivis, os abutres do Novo Mundo e os procelariformes sejam exceções notáveis. A maior parte das aves apresenta duas narinas externas situadas no bico, geralmente com forma circular, oval ou em corte e ligadas à cavidade nasal no interior do crânio. As espécies da ordem dos procelariformes, como os albatrozes, apresentam narinas encerradas em dois tubos na mandíbula superior. No entanto, outras espécies, como os gansos-patola, não têm narinas externas e respiram pela boca. Embora na maior parte das aves as narinas estejam descobertas, em algumas espécies encontram-se cobertas por penas, como nos corvos e nos pica-paus.
Sistema ósseo
O sistema ósseo das aves é constituído por ossos extremamente leves com cavidades de ar ligadas ao sistema respiratório (ossos pneumáticos). Nos adultos, os ossos do crânio estão fundidos entre si e não apresentam suturas cranianas. As órbitas são de grande dimensão e separadas por um septo nasal. A coluna vertebral divide-se nas vértebras cervicais, torácicas, lombares e caudais. As vértebras cervicais (do pescoço), cujo número varia significativamente entre espécies, são particularmente flexíveis. No entanto, o movimento nas vértebras torácicas é limitado e completamente ausente nas vértebras posteriores. As últimas vértebras encontram-se fundidas com a pelve, formando o sinsacro. As costelas são achatadas. O esterno apresenta uma quilha que sustenta os músculos peitorais envolvidos no voo, embora esteja ausente das aves não voadoras. Os membros anteriores encontram-se modificados na forma de asas.
Sistema digestivo
O sistema digestivo das aves é constituído por um papo, onde é armazenado o conteúdo digestivo, e uma moela que contém pedras, que as aves engolem para moer os alimentos como forma de compensar a falta de dentes. A maior parte das aves apresenta uma digestão bastante rápida, de modo a não interferir com o voo. Algumas aves migratórias adaptaram-se de modo a usar proteínas de várias partes do corpo como fonte de energia adicional durante a migração. Muitas aves regurgitam egregófitos.
Embora a maior parte das aves necessite de água, as características do seu sistema excretor e a ausência de glândulas sudoríparas fazem com que a quantidade necessária seja reduzida. Algumas aves do deserto conseguem satisfazer a necessidade de água exclusivamente a partir da água contida nos alimentos e são tolerantes ao aumento da temperatura corporal, o que lhes permite evitar despender vapor de água em arrefecimento. As aves marinhas estão adaptadas para beber água salgada do mar, possuindo glândulas de sal na cabeça que eliminam o excesso de sal através das narinas.
A maior parte das aves não consegue realizar movimento de sucção da água, pelo que recolhe a água no bico e inclina a cabeça de modo a permitir que a água escorra pela garganta. No entanto, algumas espécies, principalmente de regiões áridas, conseguem beber água sem necessidade de inclinar a cabeça, como é o caso das famílias dos pombos, estrilídeos, coliiformes, toirões e abetardas. Algumas aves do deserto dependem da presença de fontes de água, como os cortiçois, que se agregam à volta de poços de água durante o dia. Algumas espécies levam água às crias humedecendo as penas, enquanto outras a transportam no papo ou a regurgitam juntamente com a comida. As famílias dos pombos, dos flamingos e dos pinguins produzem para as crias um líquido nutritivo denominado leite de papo.
Sistemas reprodutor e urogenital
Tal como os répteis, as aves são seres uricotélicos; isto é, os seus rins filtram os resíduos nitrogenados da corrente sanguínea e excretam-nos na forma de ácido úrico (em vez de ureia ou amoníaco) ao longo dos uréteres até ao intestino. As aves não têm bexiga nem uretra exterior, pelo que (à exceção das avestruzes) o ácido úrico é expelido em conjunto com as fezes em dejetos semissólidos. No entanto, algumas aves, como o colibri, podem ser amoniotélicos, excretando a maior parte dos resíduos nitrogenados na forma de amoníaco. Também excretam creatina, em vez de creatinina como os mamíferos. Este material é expulso através da cloaca, em conjunto com os dejetos intestinais. A cloaca é um orifício com diversas finalidades. Não só é por aí que são expulsos os dejetos, como a maior parte das aves acasalam juntando as cloacas e é também por aí que as fêmeas depositam os ovos.
Os machos possuem dois testículos internos que durante a época de acasalamento aumentam de tamanho centenas de vezes para produzir esperma. As fêmeas da maior parte das famílias possuem um único ovário funcional (o esquerdo), ligado a um oviduto, embora as de algumas espécies tenham dois ovários funcionais. Os machos dos Palaeognathae (à exceção dos quivis), dos Anseriformes (à exceção dos Anhimidae) e, de forma rudimentar, dos Galliformes (mas totalmente desenvolvido nos Cracidae) possuem um pénis, o qual não se observa nas Neoaves. Pensa-se que o comprimento esteja relacionado com a competição espermática. Fora do momento da cópula, encontra-se oculto no interior do proctodeu, um compartimento no interior da cloaca.
Sistema circulatório
O sistema circulatório das aves é impulsionado por um coração miogénico de quatro câmaras protegido por um pericárdio fibroso. O pericárdio encontra-se preenchido com fluido seroso que o lubrifica. O coração em si está dividido em duas metades, direita e esquerda, cada uma constituída por uma aurícula e um ventrículo. As aurículas e ventrículos de cada lado estão separados entre si por válvulas cardíacas que impedem que o sangue passe de uma câmara para a outra durante a contração. Sendo miogénico, o ritmo cardíaco é mantido pelas células marca-passo do nó sinusal situado na aurícula direita. O coração das aves também apresenta arcos musculares, constituídos por camadas espessas de músculo. De forma semelhante ao coração dos mamíferos, o coração das aves é constituído pelas camadas do endocárdio, miocárdio e pericárdio. As paredes auriculares tendem a ser mais delgadas do que as paredes ventriculares, devido à intensa contração ventricular usada para bombear sangue oxigenado pelo corpo. Em comparação com a massa corporal, o coração das aves é geralmente maior do que o dos mamíferos. Esta adaptação permite que seja bombeada maior quantidade de sangue de modo a responder às necessidades metabólicas associadas ao voo. As principais artérias que transportam o sangue do coração têm origem no arco aórtico direito, ao contrário dos mamíferos, em que é o arco aórtico esquerdo que forma esta parte da aorta. A veia cava inferior recebe o sangue dos membros através do sistema venoso portal. Também ao contrário dos mamíferos, os glóbulos vermelhos das aves mantêm o seu núcleo celular.
As aves têm um sistema bastante eficiente de distribuição de oxigénio pelo corpo, uma vez que têm uma superfície de trocas gasosas dez vezes maior do que os mamíferos. Isto faz com que as aves tenham nos vasos capilares mais sangue por unidade de volume dos pulmões do que um mamífero. As artérias das aves são constituídas por músculos elásticos e espessos para resistir à pressão da forte constrição ventricular, que se tornam mais rígidos à medida que se encontram mais afastados do coração. O sangue passa pelas artérias, que sofrem vasoconstrição, em direção às arteríolas, que distribuem o oxigénio e os nutrientes a todos os tecidos do corpo. À medida que as arteríolas se encontram mais afastadas do coração e próximas dos órgãos e dos tecidos, são cada vez mais ramificadas de modo a aumentar a área de superfície e diminuir a intensidade da corrente sanguínea. A partir das arteríolas, o sangue desloca-se para os vasos capilares onde ocorre a troca de oxigénio pelos resíduos de dióxido de carbono. Após a troca gasosa, o sangue desoxigenado passa pelas vénulas e é transportado pelas veias de volta ao coração. Ao contrário das artérias, as veias são finas e rígidas, uma vez que não necessitam de resistir a pressões elevadas.
Defesa e combate
Algumas espécies são capazes de usar defesas químicas contra predadores. Alguns Procellariiformes projetam um óleo estomacal desagradável contra agressores, enquanto algumas espécies de pitohuis da Nova Guiné têm a pele e penas revestidas por uma poderosa neurotoxina. A plumagem de algumas espécies envia sinais intimidatórios a potenciais predadores, como o pavão-do-pará, cujas penas criam a ilusão de um grande predador de modo a afugentar falcões e proteger as crias.
Ocasionalmente, os combates entre espécies resultam em ferimentos ou morte. Os anhimídeos, algumas jaçanãs, o pato-ferrão, o pato-das-torrentes e nove espécies de abibes apresentam um espigão afiado na asa que usam como arma. Os patos-vapor, os cisnes e gansos, as pombas do ártico, os motum e os alcaravões apresentam uma protuberância óssea na álula para esmurrar os oponentes. Algumas jaçanãs apresentam um rádio expandido em forma de lâmina. O extinto ibis jamaicano apresentava um membro anterior alongado que provavelmente funcionava em combate de forma semelhante a um malho. Outras aves, como os cisnes, são capazes de morder ao defender os ovos ou as crias.
Comportamento
A maior parte das aves é diurna, embora algumas aves sejam noctívagas ou crepusculares, como as corujas, e muitas aves limícolas se alimentem de acordo com as marés, seja de dia ou de noite. A socialização entre indivíduos varia imenso de espécie para espécie. Muitas aves de rapina são solitárias, enquanto outras espécies são vincadamente gregárias, atingindo comunidades de milhares de indivíduos. Durante a época de reprodução, muitas espécies defendem um território. Muitos comportamentos das aves são universais e ocorrem invariavelmente em praticamente todas as espécies de aves, como é o caso dos cuidados com as penas, os movimentos de distensão das pernas, asas ou caudas, os banhos de água e poeira, ou o movimento que sacode o corpo.
Alimentação
As dietas das aves são bastante variadas, podendo incluir néctar, frutas, plantas, sementes, carcaças e vários animais de menor dimensão, incluindo outras aves. Uma vez que as aves não têm dentes, o seu sistema digestivo encontra-se adaptado de modo a processar alimentos engolidos inteiros sem mastigar. As aves que usam várias estratégias para adquirir comida ou se alimentam de vários alimentos são denominadas generalistas. As que dedicam tempo e esforço na procura de alimentos específicos são denominadas especialistas. As estratégias de alimentação variam de espécie para espécie. Muitas aves simplesmente recolhem insetos, invertebrados, fruta ou sementes. Algumas caçam, surpreendendo insetos com ataques súbitos a partir de ramos de árvores.
As aves que se alimentam do néctar das flores, como os beija-flores, apresentam línguas longas e especialmente adaptadas para a recolha do néctar e, em muitos casos, os próprios bicos foram se adaptando de forma a encaixar em determinadas flores – fenómeno denominado coevolução. Os quivís e as aves limícolas têm bicos longos que lhes permitem vasculhar o terreno à procura de pequenos invertebrados. Os diferentes comprimentos do bico e diferentes métodos de procura fazem com que as espécies limícolas se encontrem muitas vezes em nichos ecológicos distintos. Algumas espécies, como as mobelhas, os zarros, os pinguins ou as tordas, perseguem a presa debaixo de água, usando as asas e as patas como meio de propulsão. Os predadores aéreos, como os sulídeos, os guarda-rios ou as andorinhas-do-mar, mergulham em queda livre atrás das presas. Os flamingos, três espécies de priões e alguns patos filtram os alimentos da água.
Algumas espécies, como as fragatas, gaivotas ou os moleiros praticam cleptoparasitismo, roubando comida de outras aves. No entanto, pensa-se que o cleptoparasitismo seja apenas um complemento à comida obtida através da caça, e não a principal fonte de alimentação. Outras espécies são necrófagas. Entre estas, algumas, como os abutres, são especializadas no consumo de carcaças, enquanto outras, como as gaivotas, corvídeos ou determinadas aves de rapina, são oportunistas.
Cuidados com as penas
As penas exigem manutenção constante. Para além do desgaste físico, as penas são atacadas por fungos, parasitas e piolhos. As aves conservam as penas com a limpeza, aplicação de secreções protetoras e banhos de água ou pó. Enquanto algumas aves apenas se banham em água rasa, como bebedouros ou fontes, outras mergulham em águas profundas e algumas espécies arbustivas aproveitam a água da chuva que se acumula nas folhas. As aves de regiões áridas usam o solo para tomar banhos de poeira. Algumas espécies encorajam formigas a percorrer as penas, reduzindo o número de ectoparasitas. Muitas espécies abrem frequentemente as asas expondo-as à luz direta do sol, o que diminui o número de parasitas e previne o aparecimento de fungos. Algumas aves esfregam as formigas nas penas, o que faz com que libertem ácido fórmico que mata alguns parasitas.
As aves limpam, alisam e tratam das penas todos os dias, despendendo neste processo cerca de 9% das horas de atividade. O bico é usado para escovar partículas estranhas e para aplicar secreções de uma substância oleosa produzida pela glândula uropigial que mantém as penas flexíveis e atua como agente antimicrobiótico que impede o crescimento de bactérias que degradam as penas.
Migração
Muitas espécies de aves migram de forma a tirar partido das diferenças sazonais de temperatura que influenciam a disponibilidade de fontes alimentares e dos habitats de reprodução. Estas migrações variam significativamente entre diferentes grupos. Muitas aves terrestres, aves limícolas e aves marinhas realizam migrações anuais ao longo de grandes distâncias, geralmente iniciadas com a mudança do tempo ou da quantidade das horas de luz. Estas aves geralmente alternam entre uma época de reprodução passada nas regiões de clima temperado ou polar e outra época não reprodutiva passada em regiões tropicais ou no hemisfério oposto. Antes da migração, as aves aumentam substancialmente as reservas de gordura corporal e diminuem o tamanho de alguns dos seus órgãos. A migração exige uma elevada quantidade de energia, sobretudo quando as aves atravessam desertos e oceanos sem se poder reabastecer. As aves terrestres têm um alcance de voo de cerca de e as aves costeiras até , embora o fuselo seja capaz de voar sem paragens. Algumas aves marinhas realizam também grandes migrações, a mais longa das quais é realizada pela pardela-preta, que nidifica na Nova Zelândia e no Chile e durante o verão se alimenta no Pacífico norte ao largo do Japão, do Alasca e da Califórnia, viajando por ano . Outras aves marinhas dispersam-se após a reprodução, viajando significativamente sem uma rota de migração fixa. Por exemplo, os albatrozes que nidificam no Oceano Austral realizam viagens circumpolares entre as épocas de acasalamento.
Outras espécies realizam migrações mais curtas, viajando apenas o que for necessário para evitar o mau tempo ou obter comida. As espécies irruptivas, como os fringilídeos boreais, são um desses grupos, sendo possível que num ano permaneçam em determinado local e no seguinte não. Este tipo de migração está normalmente associado à disponibilidade de comida. Algumas espécies podem também viajar apenas dentro da sua área de distribuição, neste caso migrando os indivíduos de maiores latitudes para os locais da sua espécie a menores latitudes. Outras ainda realizam apenas migrações parciais, em que migra apenas uma parte da população, geralmente as fêmeas e os machos subdominantes. Em algumas regiões, as migrações parciais podem representar uma parte significativa dos movimentos migratórios. Na Austrália, por exemplo, 44% dos não passeriformes e 32% dos passeriformes realizam apenas migrações parciais. A migração altitudinal é uma forma de migração de curta distância em que as aves passam a época de reprodução nas altitudes mais elevadas e em condições menos favoráveis migram para zonas mais baixas. Este tipo de migração é desencadeado por alterações na temperatura e quando o território normal se torna inóspito devido à falta de comida. Outras espécies são nómadas, não tendo um território definido e deslocando-se de acordo com o tempo e a disponibilidade de comida.
As aves têm a capacidade de regressar exatamente à mesma localização de onde partiram, mesmo após percorrerem grandes distâncias. Durante a migração, as aves navegam através de diversos métodos. Os migrantes diurnos orientam-se pelo Sol durante o dia e pelas estrelas durante a noite. As que usam o sol compensam a deslocação do astro usando um relógio interno, enquanto que a orientação pelas estrelas depende da posição das constelações que circundam a estrela polar. Para além disto, algumas espécies têm a capacidade de sentir o geomagnetismo terrestre através de fotorrecetores especiais.
Comunicação
As aves comunicam principalmente através de sinais visuais e auditivos. Muitas espécies usam a plumagem para procurar ou reafirmar o estatuo social, para mostrar que se encontram na época de acasalamento ou para enviar sinais intimidatórios aos predadores. As variações na plumagem também permitem identificar as aves e diferenciar espécies. Os rituais de exibição fazem também parte da comunicação visual entre as aves, podendo ser usados para demonstrar agressão, submissão ou como forma de criar laços entre indivíduos. Os rituais mais sofisticados ocorrem durante o cortejo sexual e são acompanhados por danças de movimentos complexos. O êxito do macho em acasalar pode depender da qualidade destes rituais.
Os cantos e chamamentos são o principal meio de comunicação sonoro das aves e podem ser bastante complexos. Os sons são produzidos na siringe. Algumas espécies conseguem usar os dois lados da siringe de forma independente, o que lhes permite produzir dois sons diferentes em simultâneo. Os chamamentos são usados para as mais diversas finalidades, entre as quais a atração do macho durante a época de reprodução, a avaliação de potenciais parceiros, a criação de laços afetivos, a reivindicação e manutenção territorial e identificação de outros indivíduos (como quando os progenitores procuram as crias nas colónias ou quando os parceiros se reúnem no início da época de reprodução), e aviso às outras aves de potenciais predadores, por vezes com informação específica sobre a natureza da ameaça. Algumas espécies também usam sons mecânicos para comunicar. As narcejas neo-zelandesas produzem sons fazendo o ar circular por entre as penas, os pica-paus tamboreiam de forma territorial e as cacatuas-das-palmeiras usam instrumentos de percussão.
Comportamento de grupo
Enquanto algumas aves são essencialmente territoriais ou vivem em pequenos grupos familiares, outras aves formam bandos de grande dimensão. Os principais benefícios dos bandos são a segurança pelo número e a maior eficácia na procura de comida. A defesa contra eventuais predadores é especialmente relevante em habitats fechados, como nas florestas, em que é a predação por emboscada é comum e um grupo grande aumenta a vigilância. Existem também bandos dedicados à procura de comida que juntam várias espécies que, embora ofereçam segurança, também aumentam a competição pelos recursos.
No entanto, o agrupamento em bando também potencia o assédio, a dominância de algumas aves em relação a outras e, em alguns casos, uma diminuição na eficácia da procura por comida.
As aves por vezes também formam associações com espécies não aviárias. Algumas aves marinhas que caçam por mergulho associam-se a golfinhos e atuns que empurram os cardumes de peixe em direção à superfície. Os calaus têm uma relação mutualista com os mangustos-anão, na qual caçam em conjunto e avisam-se entre si em relação a aves de rapina e outros predadores.
Repouso e empoleiramento
O elevado metabolismo das aves durante a parte ativa do dia é compensado pelo repouso no restante tempo. Ao dormir, as aves incorrem num tipo de sono denominado "sono de vigília", em que os períodos de descanso são intercalados com rápidas "espreitadelas" de olhos abertos, o que lhes permite aperceber de eventuais distúrbios e rapidamente escapar de ameaças. Tem sido sugerido que possa haver determinados tipos de sono que são possíveis até mesmo durante o voo. Por exemplo, acredita-se que os andorinhões sejam capazes de dormir em pleno voo, e as observações de radar sugerem que se orientam na direção do vento durante o sono. Algumas aves têm também demonstrado a capacidade de ter de forma alternada apenas um dos hemisférios cerebrais em sono profundo, o que permite ao olho oposto ao hemisfério que está a dormir continuar vigilante. As aves tendem a exercer esta capacidade quando estão nas orlas dos bandos. O empoleiramento comunitário é comum, uma vez que diminui a perda de calor corporal e diminui os riscos associados com os predadores. Os locais de poleiro são geralmente escolhidos tendo em conta a segurança e regulação de calor.
Durante o sono, muitas aves dobram a cabeça e o pescoço sobre as costas e enfiam o bico nas penas do dorso, enquanto outras o fazem nas penas do peito. Muitas aves descansam apoiadas apenas numa perna, enquanto algumas puxam as pernas para baixo das penas, especialmente no inverno. Os pássaros apresentam um mecanismo que bloqueia o tendão que os ajuda a manterem-se no poleiro enquanto dormem. Muitas aves que vivem junto ao solo, como as codornizes e os faisões, empoleiram-se nas árvores. Alguns papagaios do género Loriculus empoleiram-se de cabeça para baixo. Mais de uma centena de espécies, como o colibri ou noitibó, descansam num estado de torpor acompanhado de uma diminuição do metabolismo. Uma espécie, o noitibó-de-nuttall, chega a entrar num estado de hibernação.
Reprodução
As aves têm dois sexos: macho e fêmea. O sexo das aves é determinado pelos cromossomas Z e W, em vez dos cromossomas X e Y presentes nos mamíferos. Os machos têm dois cromossomas Z (ZZ) e as fêmeas um cromossoma W e um Z (WZ).
Acasalamento
As aves apresentam diversos comportamentos de acasalamento, estando identificados muitos tipos de seleção sexual entre as aves. Na seleção intersexual é a fêmea que escolhe o parceiro, enquanto na competição intrassexual os indivíduos do sexo mais abundante competem entre si pelo privilégio de acasalar. O acasalamento da maior parte das espécies envolve alguma forma de corte sexual, geralmente por parte do macho. A maior parte dos rituais de acasalamento são bastante simples e envolvem apenas algum tipo de canto. No entanto, alguns são coreografias bastante complexas e, dependendo da espécie, podem incluir dança, bater de asas ou cauda, voos aéreos ou lek comunitário. Após a escolha do parceiro, muitas espécies fazem ofertas de objetos entre os parceiros ou juntam os bicos em sinal de afeto.
Os ornamentos de seleção sexual muitas vezes evoluem para se tornar mais pronunciados em situações de competição, até ao ponto em que começam a limitar a agilidade do indivíduo. O elevado custo dos comportamentos e ornamentos sexuais exagerados assegura que apenas os indivíduos de melhor qualidade os conseguem apresentar. A cauda do pavão é provavelmente o exemplo mais conhecido de um ornamento sexual em aves. Os dimorfismos sexuais, como a diferença de tamanho e de cor, são bastante comuns entre as aves e um indicador de forte competição reprodutiva.
Noventa e cinco por cento das espécies de aves são socialmente monógamas. Os casais destas espécies estão juntos pelo menos durante uma época de reprodução ou, em alguns casos, durante vários anos ou até à morte de um dos parceiros. A monogamia permite que o pai também cuide das crias, o que é fundamental nas espécies em que as fêmeas necessitam da assistência dos machos durante a incubação. No entanto, entre as muitas espécies monógamas a infidelidade é comum. Este comportamento verifica-se geralmente entre os machos dominantes e as fêmeas de machos subordinados, embora possa também ser o resultado de cópula forçada em patos e outros anatídeos. As fêmeas das aves têm mecanismos de armazenamento de esperma que permitem que o esperma do macho se mantenha viável durante bastante tempo depois da cópula, chegando a 100 dias em algumas espécies, e que haja competição entre o esperma de vários machos. Para as fêmeas, entre os possíveis benefícios da cópula extra-par está a possibilidade de melhores genes para a prole e garantia contra uma eventual infertilidade do parceiro. Os machos das espécies que praticam cópula extra-par vigiam de perto a companheira de modo a garantir a paternidade da prole que criam. Nos restantes 5% de espécies verificam-se vários sistemas de acasalamento, incluindo poliginia, poliandria, poligamia, poliginandria e promiscuidade. O acasalamento polígamo ocorre quando as fêmeas são capazes de criar a prole sem a ajuda dos machos. Foi também observado comportamento homossexual em machos ou fêmeas de várias espécies de aves, incluindo cópula, formação de pares e nos cuidados com as crias.
Territórios, nidificação e incubação
Durante a época de reprodução, muitas aves defendem ativamente um território de outros indivíduos da mesma espécie, assegurando assim fontes de comida para as suas crias. As espécies que não são territoriais, como as aves marinhas ou os andorinhões, geralmente reproduzem-se em colónias que oferecem proteção contra predadores. As aves coloniais defendem apenas o ninho, embora a competição pelos melhores locais para construir o ninho possa ser intensa.
As aves geralmente põem os ovos num ninho. A maior parte das espécies constrói ninhos bastante elaborados, que podem ser em forma de chávena, de prato, em montículo ou dentro de uma toca. No entanto, alguns ninhos são extremamente primitivos. O ninho do albatroz, por exemplo, pouco mais é do que alguma terra e ramos secos no chão. A maior parte das aves constrói ninhos em locais abrigados ou escondidos para evitar predadores, embora as aves coloniais ou de grande dimensão, que têm maior capacidade de defesa, possam construir ninhos abertos. Os materiais de construção do ninho variam imenso, incluindo pequenas pedras, lama, ervas, galhos, folhas, algas e fibras de plantas, sendo usados tanto isoladamente como em conjunto. Algumas aves procuram também materiais de origem animal, como penas, pelo de cavalos ou pele de cobras. Os materiais podem ser entrançados, cosidos ou unidos com lama. Algumas espécies procuram plantas com determinadas toxinas que impedem a propagação de parasitas, de modo a aumentar a sobrevivência das crias, e penas, que oferecem isolamento térmico. Algumas espécies não fazem ninho; por exemplo, o airo põe os ovos na rocha nua e os pinguins-imperador mantêm os ovos entre o corpo e as patas.
Todas as aves põem ovos amnióticos de casca dura, constituída principalmente por carbonato de cálcio. O número de ovos postos em cada ninhada varia entre 1 e cerca de 20, dependendo da espécie. Algumas espécies põem invariavelmente o mesmo número de ovos por ninhada, embora a maioria das aves ponha um número variável. O número de ovos tende a ser menor nas espécies de regiões tropicais do que nas de regiões mais frias. As espécies que constroem o ninho enterrado ou em buracos tendem a pôr ovos brancos ou claros, enquanto as espécies de ninho aberto põem ovos camuflados. No entanto, existem muitas exceções a este padrão; por exemplo, os noitibós, que colocam os ovos no chão, têm ovos claros e a camuflagem é oferecida pelas próprias penas. As espécies que são vítimas de parasitas de ninhada têm ovos de várias cores de modo a aumentar a probabilidade de detetar o ovo de um parasita, o que obriga as fêmeas parasitas a fazer corresponder os seus ovos com os dos seus hospedeiros.
Antes da nidificação, as fêmeas de muitas espécies desenvolvem uma placa de incubação, perdendo penas no abdómen. A pele desta região é bastante irrigada com vasos sanguíneos, o que ajuda a ave durante a Incubação. A incubação dos ovos tem início após a postura do último ovo e tem como finalidade normalizar a temperatura de desenvolvimento da cria. Em espécies monogâmicas a tarefa de incubação é geralmente partilhada entre o casal, enquanto que nas espécies polígamas só um dos progenitores é responsável pela incubação. O calor dos progenitores passa para o ovo através das placas de incubação – áreas de pele no abdómen ou peito das aves, ricas em vasos sanguíneos. A incubação pode ser um processo exigente em termos energéticos; por exemplo, um albatroz adulto chega a perder 83 g de peso por dia durante a incubação. No entanto, os megápodes aquecem os ovos com energia do sol, da decomposição orgânica ou aproveitando a energia geotérmica. Os períodos de incubação variam entre os 10 dias (nos pica-paus, cucos e passeriformes) e os 80 dias (em albatrozes e quivís).
Cuidados parentais e crias
No momento da eclosão dos ovos, dependendo da espécie, as crias apresentam vários estádios de desenvolvimento, desde completamente indefesas até perfeitamente independentes. As crias indefesas são denominadas altriciais e tendem a nascer pequenas, cegas, imóveis e ainda sem penas. As crias que nascem já com autonomia, mobilidade e penas são denominadas precociais ou nidífugas. As crias altriciais necessitam de ajuda para regular a temperatura do corpo e são cuidadas durante mais tempo do que as precociais. As crias que não se enquadram nestes extremos podem ser semiprecociais ou semialtriciais.
A natureza e duração dos cuidados parentais variam significativamente entre as diferentes ordens e espécies. Num dos extremos, os cuidados parentais nos megápodes terminam no momento da eclosão. As crias saem do ovo e escavam sozinhas o caminho para fora do montículo que serve de ninho, começando imediatamente a alimentar-se por si mesmas. No outro extremo, muitas aves marinhas prestam cuidados parentais ao longo de um grande período de tempo. O mais longo é o da fragata-grande, cujas crias levam seis meses até estarem prontas a voar e são alimentadas pelos progenitores ainda por mais 14 meses. O período de guarda é o período imediatamente a seguir à eclosão, em que um dos adultos está permanentemente presente no ninho. O propósito principal deste período é ajudar as crias a regular a temperatura e protegê-las dos predadores.
Em muitas espécies, são ambos os progenitores que cuidam das crias. Noutras, os cuidados são da responsabilidade de apenas um dos sexos. Em algumas espécies, outros membros da mesma espécie ajudam a criar a prole, geralmente parentes próximos do casal, como um descendente de uma ninhada anterior. Este comportamento é particularmente comum entre os corvídeos, embora tenha também sido observado em espécies tão diversas como a carriça-da-nova-zelândia ou o milhafre-real. Embora na maioria dos animais sejam raros os cuidados parentais por parte do macho, nas aves são bastante comuns e mais do que em qualquer outra classe de vertebrados. Embora a defesa do território, do ninho, a incubação e a alimentação das crias sejam geralmente tarefas partilhadas entre o casal, por vezes verifica-se uma divisão do trabalho, em que um dos parceiros realiza toda ou grande parte de determinada tarefa.
O momento em que as penas e os músculos das crias estão suficientemente desenvolvidos para permitir voar varia de forma muito significativa. As crias das tordas abandonam o ninho na noite imediatamente a seguir à eclosão dos ovos, seguindo os progenitores em direção ao mar, onde são criados fora do alcance de predadores terrestres. Mas na maior parte das espécies as crias abandonam o ninho imediatamente antes ou pouco depois de serem capazes de voar. O período de cuidados parentais após as crias conseguirem voar varia. Por exemplo, enquanto as crias de albatroz abandonam o ninho por elas próprias e não recebem mais ajuda, outras espécies continuam a alimentar as crias. As crias de algumas espécies migratórias seguem os pais ao longo da sua primeira migração.
Parasitismo de ninhada
O parasitismo de ninhada, ou nidoparasitismo, descreve o comportamento de algumas espécies que põem os ovos nas ninhadas de outras espécies. Este comportamento é mais comum entre aves em comparação com outros animais. Após a ave parasita ter posto os ovos no ninho de outra ave, esses ovos são muitas vezes aceites e cuidados pelo hospedeiro e com prejuízo para a sua própria ninhada. Os nidoparasitas dividem-se entre os que o fazem por necessidade, uma vez que são incapazes de criar as suas próprias crias, e os ocasionais, que apesar de serem capazes de criar a prole põem ovos em ninhos de espécies coespecíficas para aumentar a sua capacidade reprodutora. Entre os parasitas ocasionais estão mais de cem espécies de aves, incluindo espécies das famílias Indicatoridae, Icteridae e o pato-de-cabeça-preta, embora o exemplo mais conhecido sejam os cucos. Algumas crias de nidoparasitas eclodem antes das crias dos hospedeiros, o que lhes permite destruir os ovos, empurrando-os para fora do ninho ou matando as crias. Isto assegura que toda a comida levada para o ninho servirá para alimentar as crias dos nidoparasitas.
Ecologia
As aves ocupam uma ampla variedade de posições ecológicas. Enquanto algumas aves são generalistas, outras são especializadas em relação ao habitat ou à alimentação. Mesmo num único habitat, como por exemplo numa floresta, os nichos ecológicos ocupados pelas diferentes espécies variam. Enquanto algumas espécies vivem no dossel florestal, outras vivem nos estratos intermédios e outras ainda junto ao solo. Cada um destes grupos pode conter aves insetívoras, frugívoras e nectarívoras. As aves aquáticas geralmente alimentam-se da pesca, de plantas ou por cleptoparasitismo. As aves de rapina especializam-se na caça de pequenos mamíferos ou outras aves, enquanto os abutres são necrófagos especializados. Alguns nectarívoros são polinizadores importantes e muitos frugívoros são essenciais para a dispersão de sementes. As plantas e as aves polinizadoras muitas vezes coevoluem, e, em alguns casos, o principal polinizador de determinada flor é a única espécie de ave capaz de alcançar o seu néctar.
As aves são particularmente importantes para a ecologia das ilhas. Tendo sido capazes de migrar para ilhas às quais os mamíferos não conseguiram chegar, as aves podem desempenhar papéis ecológicos que nos continentes são geralmente realizados por animais de maior porte. Por exemplo, as extintas moas tiveram de tal forma impacto no ecossistema da Nova Zelândia, assim como têm o kereru ou o kokako na atualidade, pelo que ainda hoje as plantas da ilha mantêm as adaptações defensivas que as protegiam das moas. Durante a nidação, as aves marinhas também afetam significativamente a ecologia das ilhas e do mar envolvente, principalmente devido à concentração de grandes quantidades de guano que enriquece o solo da região.
Relação com o ser humano
Algumas aves têm bastante visibilidade e são animais comuns com os quais o ser humano tem uma estreita relação desde o início da Humanidade. Em alguns casos, estas relações são mutualistas, como na recolha de mel conjunta entre os Indicatoridae e alguns povos africanos, como os Boranas. Noutros casos, as relações podem ser comensais, como o benefício que o pardal-doméstico tira das atividades humanas. No entanto, as aves podem também ser vetores que propagam ao longo de grandes distâncias doenças como a ornitose, salmonelose, campilobacteriose, micobacteriose (tuberculose aviária), gripe das aves, giardiose ou criptosporidíase. Algumas destas são doenças zoonóticas que podem também ser transmitidas para os seres humanos.
Importância económica
As aves de criação são a principal fonte de proteínas animais consumida pelo ser humano. Em 2003, foram consumidos 76 milhões de toneladas de aves de criação e produzidas 61 milhões de toneladas de ovos em todo o mundo. Os frangos representam a maior parte do consumo de aves, embora o peru, o pato e os gansos domesticados sejam também comuns. Muitas espécies de aves são também caçadas para comida. A caça de aves é essencialmente uma atividade recreativa, exceto em regiões bastante subdesenvolvidas. As aves de caça mais comuns são os patos selvagens, faisões, perus selvagens, perdizes, pombos, tetrazes, maçaricos e galinholas. Embora alguma caça possa ser sustentável, a caça no geral tem provocado a extinção ou colocado em risco dezenas de espécies. Entre os outros produtos avícolas com valor comercial estão as penas, especialmente as dos gansos e patos, que são usadas como isolamento em casacos e na roupa de cama, e o guano (fezes de aves marinhas), que é uma fonte valiosa de fósforo e nitrogénio. A Guerra do Pacífico foi travada devido em parte ao controlo dos depósitos de guano.
As espécies que se alimentam de pragas são muitas vezes usadas em programas de controlo biológico. Por outro lado, algumas espécies tornaram-se elas próprias pragas agrícolas de elevado custo económico, enquanto outras constituem riscos para a aviação.
As aves são domesticadas pelo ser humano, não só como animais de estimação mas também para efeitos utilitários. Muitas aves com cores exóticas, como os papagaios ou as araras, são criadas em cativeiro ou vendidas como animais de companhia. No entanto, isto também tem feito crescer o tráfico ilegal de várias espécies ameaçadas. A falcoaria e a pesca com a assistência de corvos marinhos são tradições milenares. Os pombos-correio, usados pelo menos desde o , foram essenciais nas comunicações até à II Guerra Mundial, No entanto, hoje em dia estas atividades são mais comuns como passatempo ou atração turística. Existem milhões de entusiastas amadores que apreciam a observação de aves, ou birdwatching, uma vertente significativa do ecoturismo. Muitos proprietários constroem alimentadores de pássaros perto de casa para atrair várias espécies.
Religião, folclore e cultura
As aves têm um papel de relevo no folclore, na religião e na cultura popular e vários dos seus atributos, reais ou imaginários, são usados de forma simbólica na arte e na literatura. Desde as gravuras rupestres da época pré-histórica que são um motivo frequente de representação artística e, o longo dos séculos, foram usadas como motivo nas mais diversas formas de arte sacra ou simbólica, como por exemplo o Trono do Pavão dos imperadores mogois e persas. As Fábulas de Esopo contêm várias personificações de aves. Os fisiólogos e os bestiários medievais contêm lições de moral que usam as aves como símbolos para transmitir ideias. O tema central do Conto do Velho Marinheiro, de S. T. Coleridge, é a relação entre um albatroz e um marinheiro. Algumas metáforas na linguagem têm origem no comportamento das aves, como a associação de investidores ou fundos predatórios aos abutres necrófagos. As aves são também um tema importante na poesia. Homero escreveu sobre os rouxinóis na Odisseia, enquanto Cátulo usou um pardal como símbolo erótico nos seus poemas.
Na religião, as aves são muitas vezes associadas a mensageiros, sacerdotes ou líderes de determinada divindade. No Cristianismo, as aves simbolizam a transcendência da alma e, na iconografia medieval, uma ave envolta em folhas simbolizava a alma envolvida pelo materialismo do mundo secular. Na mitologia nórdica, Hugin e Munin são dois corvos que deram a volta ao mundo para trazer notícias ao deus Odin. Em várias civilizações da Antiguidade italiana, principalmente na mitologia etrusca e na religião romana, os sacerdotes praticavam auguria, interpretando as palavras das aves, enquanto o auspex as usava para fazer previsões sobre o futuro. As aves podem também servir como símbolos religiosos, como no caso de Jonas (hebraico: יוֹנָה, pomba), que simbolizava o medo, passividade, pesar e beleza tradicionalmente associados às pombas. As próprias aves são muitas vezes deificadas, como no caso do pavão-comum, que os Dravidianos vêm como a Terra-Mãe. Algumas aves são também vistas como monstros, incluindo o mitológico Roc e o lendário Poukai, uma ave gigante que para os Maoris é capaz de raptar seres humanos.
Os maias e os Astecas veneravam o quetzal-resplandecente, que hoje em dia dá nome à moeda da Guatemala e é um motivo popular na arte, tecidos e joalharia. As águias são símbolo de poder e prestígio em muitas partes do mundo, incluindo na Europa, onde são frequentemente motivos heráldicos. Os povos nativos norte-americanos usavam frequentemente penas de águia em rituais religiosos, como ornamento pessoal e eram oferecidas aos convidados como símbolo de paz e amizade. No culto do Makemake os tangata manu (homens-pássaro) da ilha de Páscoa eram nomeados líderes. Os povos indígenas dos Andes contam lendas de pássaros que atravessam mundos metafísicos. Em imagens religiosas dos impérios Inca e Tiwanaku, as aves são representadas a transgredir a fronteira entre o reino terrestre e o reino espiritual subterrâneo.
As percepções culturais sobre diversas espécies de aves são muitas vezes diferentes de cultura para cultura. Por exemplo, enquanto em África e na mitologia norte-americana as corujas são associadas a má sorte, bruxaria e morte, na Europa são vistas como sábias. As poupas, consideradas sagradas no Antigo Egito e símbolo de virtude na Pérsia, são no entanto vistas como ladras em grande parte da Europa e como presságio de guerra na Escandinávia.
Conservação
Embora a presença humana tenha facilitado a expansão de algumas espécies, como a andorinha-das-chaminés ou o estorninho-comum, foi também a causa da extinção ou diminuição da população de muitas outras espécies. Embora em tempos históricos tenham sido extintas mais de cem espécies de aves, a mais dramática das extinções de aves causadas pelo ser humano, que erradicou entre 750 e espécies, ocorreu durante a colonização humana das ilhas da Melanésia, Polinésia e Micronésia. Muitas populações de aves em todo o mundo encontram-se em declínio, com espécies listadas como ameaçadas pela BirdLife International e pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais em 2015.
A ameaça humana às aves mais comum é a destruição dos habitats. Entre as outras ameaças estão a caça em excesso, mortalidade acidental devido a colisões aéreas ou captura acessória na pesca, poluição (incluindo marés negras e uso de pesticidas), e competição e predação de espécies invasoras. Os governos e os conservacionistas trabalham em conjunto para proteger as aves, criando legislação que promova a conservação ou o restauro dos habitats ou criando populações de cativeiro para futura reintrodução nos habitats. Um estudo estimou que o esforço de conservação salvou da extinção 16 espécies de aves entre 1994 e 2004, como o condor-da-califórnia ou o periquito-de-Norfolk.
Evolução e classificação
A primeira classificação taxonómica das aves foi publicada por Francis Willughby e John Ray em 1676 no volume Ornithologiae. Em 1758, Carolus Linnaeus modificou essa classificação para o sistema de classificação taxonómica em uso na atualidade. No Sistema de Linné, as aves estão categorizadas na classe homónima das Aves. A classificação filogenética coloca as aves no clado dos dinossauros terópodes. As Aves, bem como o grupo relacionado do clado Crocodilia, são os únicos representantes vivos do clado réptil dos Archosauria. Em termos filogenéticos, as Aves são geralmente definidas como todos os descendentes do ancestral comum mais recente das aves modernas e do Archaeopteryx lithographica. Segundo esta definição, a ave mais antiga que se conhece é o Archaeopteryx, que viveu na idade do Kimmeridgiano do Jurássico Superior, há 155-150 milhões de anos.
No entanto, outros paleontólogos, entre os quais Jacques Gauthier e os aderentes do sistema PhyloCode, definiram Aves de modo a incluir apenas os grupos de aves modernas, excluindo a maior parte dos grupos conhecidos apenas a partir de fósseis, os quais atribuíram ao grupo Avialae. Segundo esta definição, o Archaeopteryx é um membro dos Avialae, e não das Aves. As propostas de Gauthier têm sido adotadas por muitos investigadores no campo da paleontologia e evolução das aves, embora as definições aplicadas não tenham sido consistentes. O clado Avialae, inicialmente proposto para substituir o conteúdo fóssil do grupo das Aves, é muitas vezes usado por estes investigadores como sinónimo do termo vernacular "ave".
Dinossauros e a origem das aves
Com base em evidências fósseis e biológicas, a maior parte dos cientistas aceita que as aves são um subgrupo especializado dos dinossauros terópodes e, mais especificamente, que são membros dos Maniraptora, um grupo de terópodes que inclui os dromeossaurídeos e os oviraptorídeos, entre outros. À medida que os cientistas foram descobrindo mais terópodes estreitamente relacionados com as aves, a distinção anteriormente clara entre aves e não aves foi se esbatendo. As descobertas recentes na província chinesa de Liaoning de vários dinossauros emplumados terópodes de pequena dimensão vieram contribuir para esta ambiguidade.
O consenso na paleontologia contemporânea é de que os terópodes voadores, ou Avialae, são os parentes mais próximos dos deinonicossauros, grupo que inclui os dromeossaurídeos e os troodontídeos. Em conjunto, estes formam um grupo designado Paraves. Alguns membros basais deste grupo, como o Microraptor, apresentam características que lhes podem ter permitido planar ou voar. A maior parte dos deinocossauros basais eram muito pequenos. Estas evidências aumentam a possibilidade de que o ancestral de todos os paraves possa ter sido arborícola, ter sido capaz de planar, ou ambos. Ao contrário do Archaeopteryx e dos dinossauros emplumados não avianos, que comiam principalmente carne, os estudos mais recentes sugerem que os primeiros avianos eram omnívoros.
O Archaeopteryx, que viveu no Jurássico Superior, foi um dos primeiros fósseis de transição descobertos, tendo sido uma das bases para a teoria da evolução em finais do . O Archaeopteryx foi o primeiro fóssil a exibir não só características claramente de réptil, como os dentes, garras e uma cauda comprida semelhante a um lagarto, mas também asas com penas adaptadas ao voo semelhantes às das aves modernas. No entanto, não é considerado um ancestral direto das aves, embora esteja possivelmente relacionado com o verdadeiro ancestral.
Evolução inicial
Os mais antigos fósseis avianos conhecidos são provenientes da Formação de Tiaojishan, na China, e estão datados do estágio Oxfordiano do período Jurássico Superior, há cerca de 160 milhões de anos. As espécies avianas deste período incluem o Anchiornis huxleyi, Xiaotingia zhengi e o Aurornis xui. O aviano mais conhecido, Archaeopteryx, data de rochas jurássicas alemãs ligeiramente posteriores, de há cerca de 155 milhões de anos. Muitos destes primeiros avianos partilhavam entre si características anatómicas invulgares que podem ter sido ancestrais das aves modernas, mas que foram mais tarde perdidas durante a evolução das aves. Estas características incluem uma garra maior no segundo dedo e asas posteriores que cobriam os membros e pés posteriores e que podem ter sido usadas para manobras no ar.
Durante o Cretácico, os avianos diversificaram-se numa ampla variedade de formas. Muitos grupos mantiveram as características primitivas, como as asas com garras e os dentes. Estes últimos acabaram por se perder em vários grupos avianos, incluindo as aves modernas, embora de forma independente entre si. Enquanto os avianos mais antigos, como o Archaeopteryx e o Shenzhouraptor sinensis, mantiveram as caudas ósseas dos seus ancestrais, as caudas de avianos mais avançados foram sendo encurtadas após o aparecimento dos ossos pigóstilos no grupo Pygostylia. No Cretácico superior, há cerca de 95 milhões de anos, o ancestral de todas as aves modernas desenvolveu também o sentido do olfato.
Diversificação inicial dos ancestrais das aves
A primeira grande e diversificada linhagem de avianos de cauda curta a evoluir foram os enantiornithes, ou "opostos às aves", assim designados porque a construção dos ossos dos ombros se apresenta invertida em relação às aves modernas. Os enantiornithes ocupavam um vasto conjunto de nichos ecológicos, desde os que vasculhavam as areias nas zonas costeiras, passando pelos que se alimentavam de peixe, até aos que viviam nas árvores e se alimentavam de sementes. Embora tenham sido o grupo dominante dentro dos avianos durante o período Cretácico, os enantiornithes extinguiram-se no fim do Mesozoico, a par de muitos outros grupos de dinossauros.
A segunda grande linhagem aviana a desenvolver-se foram os Euornithes, ou "aves verdadeiras", assim designados porque incluem os ancestrais das aves modernas. Muitas das espécies deste grupo eram semiaquáticas e especializadas na captura de peixe e outros organismos marinhos. Ao contrário dos enantiornithes, que dominavam os habitats terrestres e arbustivos, à maior parte dos primeiros euornithes faltavam adaptações que lhes permitissem empoleirar, pelo que neste grupo se observam sobretudo espécies adaptadas às regiões costeiras ou capazes de nadar e mergulhar. Entre as que possuíam esta última característica estão os hesperornithiformes, que se tornaram de tal forma especializados na pesca de peixe em ambientes marinhos que perderam a capacidade de voar e se tornaram aquáticos. Os primeiros euornithes também assistiram ao desenvolvimento de várias características associadas às aves modernas, como osso esterno com quilha, ausência de dentes e partes da mandíbula em forma de bico. No entanto, a maior parte dos euornithes manteve dentes noutras partes da mandíbula. O grupo dos euornithes também inclui os primeiros avianos a desenvolver um verdadeiro pigóstilo e um conjunto completo de penas de cauda, o qual pode ter substituído as asas posteriores como principal meio de manobrabilidade e desaceleração em voo.
Diversificação das aves modernas
Todas as aves modernas pertencem ao grupo coroa das Aves (ou, em alternativa, Neornithes), o qual tem duas subdivisões: os Paleognathae, em que se incluem os ratitas não voadores (como a avestruz), os tinamiformes e o extremamente diversificado grupo dos Neognathae, que contém todas as outras aves. A estas duas subdivisões dá-se muitas vezes a categoria taxonómica de superordem. Dependendo do ponto de vista taxonómico, o número de espécies de aves vivas conhecidas varia entre e . Devido em grande parte à descoberta do Vegavis, um membro neognato da linhagem dos patos, sabe-se que o grupo Aves se dividiu em várias linhagens modernas por volta do fim da era do Mesozoico. Alguns estudos estimaram que a origem efetiva das aves modernas terá provavelmente ocorrido mais cedo do que os fósseis conhecidos mais antigos, provavelmente a meio do período Cretácico.
Há um consenso de que as Aves se desenvolveram durante o Cretácico e que a divisão dos Galloanseri dos outros neognatos ocorreu antes da extinção do Cretáceo-Paleogeno, embora haja diferentes opiniões sobre se a radiação evolutiva dos restantes neognatos ocorreu antes ou depois da extinção dos restantes dinossauros. Esta discordância deve-se em parte a uma divergência nas evidências. Os dados moleculares sugerem uma radiação durante o Cretácico, enquanto as evidências fósseis sugerem uma radiação durante o Cenozoico. As tentativas para reconciliar as evidências moleculares e fósseis têm-se revelado controversas, embora resultados recentes mostrem que todos os grupos existentes de aves tenham tido origem num pequeno grupo de espécies que sobreviveu à extinção do Cretáceo-Paleogeno.
Classificação das ordens das aves
Cladograma das relações entre aves modernas com base em Jarvis, E.D. et al. (2014), com alguns nomes de clados segundo Yury, T. et al. (2013).
A classificação das aves é um tema controverso. A publicação Phylogeny and Classification of Birds (1990), da autoria de Charles Sibley e Jon Ahlquist, é uma das principais obras de referência na classificação das aves, embora seja frequentementemente discutida e continuamente revista. A maior parte das evidências sugere que a distribuição das ordens é correta, embora os cientistas discordem entre si quanto às relações entre as ordens. Apesar de a discussão contar com evidências da anatomia das aves modernas, ADN e registos fósseis, ainda não há um consenso determinante. Recentemente, a descoberta de novos fósseis e a obtenção de evidências moleculares está a contribuir para uma panorâmica cada vez mais clara da evolução das ordens de aves modernas. A investigação mais recente tem-se focado na sequenciação de genomas completos de 48 espécies representativas.
Ver também
Lista de aves de Portugal
Lista de aves do Brasil
Ligações externas
Vertebrados
Dinossauros
!Artigos destacados sobre aves |
Aldous Leonard Huxley (Godalming, 26 de julho de 1894 — Los Angeles, 22 de novembro de 1963) foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Mais conhecido pelos seus romances, como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e guiões de filmes. Passou a última parte de sua vida nos Estados Unidos, vivendo em Los Angeles de 1937 até sua morte, em 1963. No final de sua vida, Huxley foi amplamente reconhecido como um dos principais intelectuais de sua época. Ele foi nomeado para o Prêmio Nobel de Literatura sete vezes e foi eleito Companheiro de Literatura pela Royal Society of Literature em 1962.
Huxley era humanista e pacifista. Ele cresceu interessado no misticismo filosófico e universalismo, abordando esses temas com obras como A Filosofia Perene (1945) - que ilustra semelhanças entre misticismo ocidental e oriental - e As Portas da Percepção (1954) - que interpreta sua própria experiência psicodélica com mescalina. Em seu romance mais famoso Admirável Mundo Novo (1932) e seu último romance A Ilha (1962), ele apresentou sua visão de distopia e utopia, respectivamente.
Biografia
Faziam parte da sua família os mais distintos membros da classe dominante inglesa; uma vasta elite intelectual. O seu avô era Thomas Henry Huxley, um grande biólogo defensor da teoria evolucionista de Charles Darwin, tendo desenvolvido o conceito agnóstico. A sua mãe era irmã da romancista Humphrey Ward; a sobrinha de Matthew Arnold, o poeta; e a neta de Thomas Arnold, um famoso professor e diretor da Rugby School que acabou por se tornar numa personagem do romance "Tom Brown's Schooldays".
Estudou medicina na Eton College, e foi obrigado a abandonar aos dezesseis anos, devido a uma doença nos olhos que quase o cegou impedindo-o de continuar no curso de medicina. Mais tarde, ele recuperou visão suficiente para se formar com honra pela Universidade de Oxford, mas insuficiente para servir ao exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Em Oxford, teve o primeiro contacto com a literatura, conhecendo Lytton Strachey e Bertrand Russell. Também se tornou amigo de D. H. Lawrence.
Em 1921, lançou "Crome Yellow", o primeiro de uma série de romances e novelas que combinam diálogos emocionantes e um aparente ceticismo, com profundas considerações morais.
Viveu a maior parte dos anos 20 na Itália fascista de Mussolini que inspirou parte dos sistemas autoritários retratados em suas obras.
A obra-prima de Huxley, Admirável Mundo Novo (Brave New World), foi escrita durante quatro meses no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.
No ano de 1937 Aldous Huxley mudou-se para Los Angeles com sua esposa Maria, o filho Matthew Huxley e seu amigo Gerald Heard, e em 1938, no auge da sua carreira, chegou a Hollywood, como um de seus mais bem remunerados guionistas. Nessa fase, escreveu romances como Também o Cisne Morre (1939), O Tempo Pode Parar (1944), O Macaco e a Essência (1948).
Heard apresentou Huxley à Vedanta (filosofia centrada em Upanishad), meditação e vegetarianismo através do princípio de ahimsa. Em 1938, Huxley fez amizade com Jiddu Krishnamurti, cujos ensinamentos ele admirava muito. Huxley e Krishnamurti entraram em um intercâmbio duradouro (às vezes beirando no debate) durante muitos anos, com Krishnamurti representando a perspectiva mais rarefeita, destacada da torre de marfim e Huxley, com suas preocupações pragmáticas, a posição mais social e historicamente informada. Huxley forneceu uma introdução à declaração quintessencial de Krishnamurti, A Primeira e Última Liberdade (1954).
Huxley também se tornou um vedantista no círculo do hindu Swami Prabhavananda, e introduziu Christopher Isherwood nesse círculo. Pouco tempo depois, Huxley escreveu seu livro sobre valores e ideias espirituais amplamente difundidos, A Filosofia Perene, que discutia os ensinamentos de renomados místicos do mundo. O livro de Huxley afirmou uma sensibilidade que insiste que existem realidades além dos "cinco sentidos" geralmente aceitos e que há um significado genuíno para os seres humanos além das satisfações e sentimentalismos sensuais.
Durante este período, Huxley ganhou uma renda substancial como roteirista de Hollywood; Christopher Isherwood, em sua autobiografia Meu Guru e Seu Discípulo, afirma que Huxley ganhou mais de 3000 dólares por semana (uma enorme quantia naqueles dias) como roteirista, e que ele usou muito disso para transportar escritores e artistas judeus e de esquerda refugiados da Alemanha de Hitler para os EUA. Em março de 1938, a amiga de Huxley, Anita Loos, romancista e roteirista, colocou-o em contato com a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), que o contratou para Madame Curie, estrelando Greta Garbo e sendo dirigido por George Cukor. (Eventualmente, o filme foi completado pela MGM em 1943 com um diretor e elenco diferentes.) Huxley recebeu crédito de tela por Orgulho e Preconceito (1940) e foi pago por seu trabalho em vários outros filmes, incluindo Jane Eyre (1944). Ele foi contratado por Walt Disney em 1945 para escrever um roteiro baseado em Alice no País das Maravilhas e na biografia do autor da história, Lewis Carroll. O roteiro não foi usado, no entanto.
O cinema para Huxley foi uma aventura tão fascinante quanto as suas descobertas e experiências com a mescalina, iniciadas em 1953 em correspondência com o psiquiatra Humphry Osmond e narradas em "As portas da percepção" (The Doors of Perception), de 1954, livro que exerceu certa influência sobre a cultura hippie que florescia, dando nome por exemplo à banda The Doors, embora o título seja oriundo de um verso de Blake. Os Beatles escolheram seu rosto entre algumas dezenas de grandes personalidades que figuram na capa do mais marcante álbum do quarteto, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, com faixas polêmicas cujas letras evidenciavam afinidade com estados alterados de percepção. Mais tarde, ele fez experimentos com LSD. Huxley, muito embora, possuía preferências culturais e hábitos muitíssimo diversos do movimento hippie como um todo, abordava o universo dos psicoativos voltado à antropologia e à filosofia. Dois anos depois, viúvo, casou-se novamente e publicou "Entre o céu e o inferno".
Vida pessoal
Huxley casou-se com Maria Nys (10 de setembro de 1899 – 12 fevereiro de 1955), uma belga que ele conheceu em Garsington, Oxfordshire, em 1919. Eles tiveram um filho, Matthew Huxley (19 de abril de 1920 – 10 de fevereiro de 2005), que seguiu a carreira de escritor, antropólogo e epidemiologista. Em 1955, Maria morreu de câncer.
Em 1956, Huxley se casou com Laura Archera (1911–2007), escritora, violinista e psicoterapeuta. Ela escreveu This Timeless Moment, uma biografia de Huxley.
Em 1960, Huxley foi diagnosticado com câncer de laringe e, nos anos seguintes, embora a doença se agravasse, escreveu o romance A Ilha e lecionou sobre as potencialidades humanas no Centro Médico São Francisco da Universidade da Califórnia e no Instituto Esalen.
Huxley era amigo íntimo de Jiddu Krishnamurti e de Rosalind Rajagopal e esteve envolvido na criação do Happy Valley School (agora Besant Hill School of Happy Valley) em Ojai, Califórnia.
Os trabalhos remanescentes de Huxley estão, em sua maior parte, na biblioteca da Universidade da Califórnia, Los Angeles. É possível encontrá-los também na biblioteca da Universidade de Stanford.
Em 9 de abril de 1962, Huxley foi informado de que ele havia ganho o título de "Companion of Literature" pela Royal Society of Literature.
Morte
Nos últimos dias, impossibilitado de falar, Huxley entregou um bilhete a Laura Huxley, sua esposa, no qual escreveu: "LSD, 100 µg, intramuscular" (100 microgramas de LSD, aplicação intramuscular). Ela injetou uma dose às 11h45 e outra algumas horas depois. Ele morreu às 17h21 do dia 22 de novembro de 1963, aos 69 anos. As cinzas de Huxley foram enterradas no jazigo da família, no cemitério de Watts, casa de Watts Mortuary Chapel em Compton, uma vila perto de Guildford, Surrey, Inglaterra.
Obras publicadas
Premiações
1939 James Tait Black Memorial Prize (por Também o Cisne Morre)
1959 American Academy of Arts and Letters Award of Merit (por Admirável Mundo Novo).
1962 Companion of Literature
Adaptações cinematográficas
1968 Point Counter Point (BBC minisséries adaptado por Simon Raven)
1971 The Devils (Os demônios de Loudun adaptado por Ken Russell)
1980 Admirável Mundo Novo (adaptação na TV americana)
1998 Admirável Mundo Novo (adaptação na TV americana)
Ligações externas
Aldous Huxley
Romancistas da Inglaterra
Roteiristas da Inglaterra
Ensaístas da Inglaterra
Poetas da Inglaterra
Escritores de ficção científica
Naturais de Godalming
Alunos da Universidade de Oxford
Polímatas
Filosofia perene
Mortes por câncer nos Estados Unidos
Mortes por câncer de laringe
Ativistas pela reforma da política antidrogas
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Amazonas é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado na Região Norte, sendo o maior estado do país em extensão territorial, com uma área de , constituindo-se na nona maior subdivisão mundial, sendo maior que as áreas da França, Espanha, Suécia e Grécia somadas. Seria o décimo sexto maior país do mundo em área territorial, pouco superior à Mongólia. É maior que a região Nordeste, e maior que as regiões Sul e Sudeste juntas, e equivale a 2,25 vezes a área do estado norte-americano do Texas. A área média de seus 62 municípios é de , superior à área do estado brasileiro de Sergipe. O maior de seus municípios em extensão territorial é Barcelos, com e o menor é Iranduba, com . Localiza-se no território amazonense o Pico da Neblina, ponto mais alto do Brasil, com metros de altitude. Sua capital é o município de Manaus e seu atual governador é Wilson Lima.
Com mais de 4,2 milhões de habitantes ou cerca de 2% da população brasileira, é o segundo estado mais populoso da Região Norte e o décimo terceiro mais populoso do Brasil. As cidades mais populosas são: Manaus, com 2,2 milhões de habitantes em 2021, Parintins, com , Itacoatiara com , Manacapuru com e Coari com habitantes. O estado é ainda, subdividido em 4 regiões geográficas intermediárias e 11 regiões geográficas imediatas. Seus limites são com o estado do Pará ao leste; Mato Grosso ao sudeste; Rondônia e Acre ao sul e sudoeste; Roraima ao norte; além da Venezuela, Colômbia e Peru ao norte, noroeste e oeste, respectivamente. A Região Metropolitana de Manaus, com população superior aos 2,7 milhões de habitantes, é sua única região metropolitana. O estado possui um dos mais baixos índices de densidade demográfica no país, superior apenas ao do estado vizinho, Roraima. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2019 a densidade demográfica equivale a 2,63 habitantes por quilômetro quadrado. O Amazonas possui o quarto maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o 3.º maior PIB per capita entre todos os estados da região Norte do Brasil.
O "descobrimento" da região hoje formada pelos atuais estados do Amazonas e Pará foi de responsabilidade do espanhol Francisco de Orelhana. A viagem foi descrita apontando as belezas e possíveis riquezas do local, com os fatos e atos mais prováveis de chamar a atenção da coroa espanhola. Durante essa expedição (ocorrida à época 1541-1542), os espanhóis teriam encontrado as mulheres amazonas guerreiras, chamadas de Icamiabas, sobre as quais há muita fantasia e mitos. Em 1755 foi criada a então Capitania de São José do Rio Negro (subordinada ao então Estado do Grão-Pará e Maranhão). Em 1850, no dia 5 de setembro, foi criada a Província do Amazonas, desmembrada da Província do Grão-Pará. Os motivos que levaram à criação da Província do Amazonas foram muitos, em especial, a grandíssima área territorial administrada pelo Grão-Pará, com capital em Belém, e as tentativas fracassadas do Peru em ampliar suas fronteiras com o Brasil, com o apoio dos Estados Unidos.
O território do Amazonas é coberto em sua totalidade pela maior floresta tropical do mundo e conta com 98% de sua área preservada. Aliando seu potencial ecológico a uma política de negócios embasada na sustentabilidade, a capital amazonense tornou-se a sexta maior economia do Brasil em 2018. O Amazonas é o terceiro maior produtor de gás no país, por meio das operações da Petrobras no campo de Urucu, em Coari, conectado a Manaus por um gasoduto de 660 quilômetros cortando rios e floresta. A hidrografia do estado, entretanto, sofre grande influência de vários fatores como precipitação, vegetação e altitude. Em geral, os rios amazonenses são navegáveis e formam sua maior rede de transporte.
Etimologia
O nome Amazonas foi originalmente dado ao rio que banha o estado pelo capitão espanhol, Francisco de Orellana, quando o mesmo desceu em todo o seu comprimento, em 1541. Afirmando ter encontrado uma tribo de índias guerreiras, supostamente as Icamiabas com a qual teria lutado e associando-as às amazonas da mitologia grega, deu-lhes o nome, "Río de las Amazonas".
História
Período pré-cabralino
Pesquisas arqueológicas apontam ocupações pretéritas por grupos paleoindígenas de caçadores, coletores, onde foram datadas acerca de anos antes da data presente. O período de maior desenvolvimento humano nas terras baixas Amazônicas é conhecido como pré-colombiano tardio, que coincide com a invasão europeia, nos séculos XVI e XVII, e a desestruturação sociopolítica de sociedades complexas, chamados de cacicados complexos. O aumento demográfico das populações amazônicas na época da pré-história tardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas da Amazônia. Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam regiões da bacia amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada entre o ano e o ano . Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”. Essas sociedades tornaram-se cada vez mais hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, "plebeus" e servos cativos), constituíram chefias centralizadas na figura do cacique, e adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos territórios. A cerâmica dessas sociedades era altamente elaborada, demonstrando um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas funerárias elaboradas (associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações. Acredita-se que a monocultura era praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.
O Amazonas era (e ainda é) habitado por povos de diferentes família linguísticas, como os povos Panos, povos Aruaques, povos Tucanos, povos Caribes, povos Tupi-guaranis e outros grupos étnicos menores. A Amazônia serviu como moradia e sustentação destas sociedades por cerca de 2000 anos, tendo havido retrocesso com a chegada dos europeus. A população originária dos cacicados aos poucos foi sendo exterminada, com numerosas guerras e conflitos travados com os portugueses e espanhóis. Muitos habitantes destas sociedades internaram-se nas florestas, onde teriam formado sociedades tribais diferentes. Outros acabam morrendo, vítimas de doenças contagiosas até então desconhecidas, fazendo suas populações desaparecerem por completo das margens dos rios. Os habitantes nativos pacificados, eram escravizados. As sociedades indígenas atuais da Amazônia não possuem, entretanto, traços que lembrem as sociedades complexas oriundas do período da Pré-história Tardia, com exceção apenas de alguns vestígios materiais.
Colonização europeia
Pelo Tratado de Tordesilhas (1494), todo o vale amazônico se encontrava nos domínios da Coroa espanhola. A foz do rio Amazonas só foi descoberta por Vicente Yáñez Pinzón, um navegador espanhol que a alcançou em fevereiro de 1500, seguido por seu primo Diego de Lepe, em abril do mesmo ano. Em 1541, outros espanhóis, Gonzalo Pizarro e Francisco de Orellana, partindo de Quito, no atual Equador, atravessaram a cordilheira dos Andes e exploraram o curso do rio até ao Oceano Atlântico. A viagem, que durou de 1540 a 1542, foi relatada pelo dominicano frei Gaspar de Carvajal, que afirmou que os espanhóis lutaram com mulheres guerreiras, nas margens do rio Marañón, disparavam-lhes flechas e dardos de zarabatanas. O mito de mulheres guerreiras às margens do rio difundiu-se nos relatos e livros, sem escopo popular algum, mesmo assim fazendo com que aquelas regiões viessem a receber o nome das guerreiras da mitologia grega, as amazonas - entre eles o maior rio da região, que passou a ser conhecido como rio das Amazonas.
Ainda no , os espanhóis realizaram outra expedição similar à de Orellana. Pedro de Ursua, vindo do Peru, também navegou o Amazonas, em busca do lendário Eldorado (1559-1561). Ursua foi assassinado a meio caminho, e a expedição prosseguiu comandada por Lopo de Aguirre, que chegou ao oceano em 1561. Como resultado dessa jornada os espanhóis decidiram, cientes das dificuldades de conquistar tão vasto espaço, adiar a tarefa de colonizá-lo.
Quase de imediato os ingleses e os holandeses, que disputavam o domínio da América aos ibéricos, entregaram-se à exploração do Amazonas, lançando aí as primeiras bases de implantações coloniais, através do levantamento de feitorias e pequenos fortes, em 1596, chamadas de "drogas do sertão". Ainda assim, a região não possuía uma ocupação efetiva. Até o segundo decênio do , quando os portugueses começaram a ultrapassar a divisória de Tordesilhas, as companhias de Londres e Flessingen promoviam um ativo comércio de madeiras e pescado, iniciando mesmo plantios de cana, algodão e tabaco. Os próprios governos passaram a estimular abertamente a empresa. Robert Harcourt obteve carta-patente de Jaime I da Inglaterra para explorar o território do Amazonas com seus sócios (1612). Somente durante a Dinastia Filipina (1580-1640) a Coroa hispano-portuguesa se interessou pela região, com a fundação de Santa Maria das Graças de Belém do Grão-Pará (atual Belém em 1616), sendo dignas de registro a expedição do Capitão-mor da Capitania do Grão-Pará e Cabo, Pedro Teixeira, que percorreu o grande rio do Oceano Atlântico até Quito, com setenta soldados e 1 200 indígenas, em quarenta e sete canoas grandes (1637-1639), e logo em seguida a de Antônio Raposo Tavares, cuja bandeira, saindo da capitania de São Vicente, atingiu os Andes, retornando pelo rio Amazonas até Belém, percorrendo um total de cerca de 12 000 quilômetros, entre 1648 e 1651.
Presença dos missionários
Na virada do século XVII, balizava-se na Amazônia o domínio português, devido ao posto avançado de Franciscana, a oeste, e por fortificações em Guaporé, ao norte da região. Os franceses, instalados em Caiena, tinham como objetivo descer o litoral para alcançar o Amazonas, instigando surtidas constantes de sacerdotes, pescadores e predadores de índios. Assim, as expedições lusas de reconhecimento enfrentavam grandes dificuldades na atual região do Amazonas: no rio Negro, os manaós, tidos como índios valentes e resistentes, coligaram-se com tribos vizinhas, e os torás, na bacia do Madeira, entregavam-se a guerra de morte contra sertanistas e coletores de especiarias. Na zona do rio Solimões, a penetração portuguesa acabou por se defrontar com missões castelhanas, dirigidas pelo jesuíta Samuel Fritz. Por ordens vindas de Lisboa, as forças militares invadiram o território das missões espanholas, expulsando os padres e soldados que as amparavam. Como efeito, entre 1691 e 1697, Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da Fonseca apossaram-se do Solimões, enquanto Francisco de Melo Palheta garantia o domínio lusitano no alto Madeira e Belchior Mendes de Morais invadia a bacia do Napo. O imenso espaço conquistado tornou-se produtivo. A coroa portuguesa, necessitando assim consolidar sua posição, solicitou o trabalho missionário na área.
Com o objetivo de catequizar os indígenas, vários leigos e religiosos jesuítas espanhóis fundaram várias missões no território amazonense. Essas missões, cuja economia tinha como atividade a dependência do extrativismo e da silvicultura, foram os locais de origem dos primeiros mestiços da região. Sofreram posteriormente seguidas invasões de outros indígenas inconformados com a invasão ao seu território e de conquistadores brancos que, acompanhados por nativos, aprisionavam índios rivais para vendê-los como escravos. A destruição das missões espalhou o desmatamento pelo território.
Foram os carmelitas, juntamente com os inacianos e mercedários, que mais aprofundaram a colonização nos antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas. Espalhava-se as missões jesuíticas pelo vale contíguo do Tapajós e, mais a oeste, pelo Madeira, enquanto os mercedários se estabeleceram próximo à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do Uatumã. Os carmelitas disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte, do Branco, no atual estado de Roraima. Objetivando converter os gentios à fé católica e de ampliar o comércio de especiarias, os religiosos transferiam suas missões de um ponto a outro com freqüência, seguindo sempre a margem dos rios. Da multiplicidade desses aldeamentos, surgiram dezenas de povoados, a exemplo de Cametá, no deságue do Tocantins; Airão (hoje Velho Airão, uma cidade fantasma); Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio Negro; Santarém, na foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundã; Borba, no rio Madeira; Tefé, São Paulo de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do Amazonas, Itacoatiara e Silves. A partir do , o Amazonas passou a ser disputado por portugueses e espanhóis que habitavam a bacia do rio Amazonas. Essa luta desencadeou a disputa pela posse da terra, o que motivou a formação de grandes latifúndios. A região do alto rio Amazonas foi considerada estratégica tanto para a diplomacia espanhola - por representar via de acesso ao Vice-reino do Peru -, quanto para a diplomacia portuguesa, especialmente a partir da descoberta de ouro nos sertões de Mato Grosso e de Goiás, escoado com rapidez pela bacia do rio Amazonas. É nesse contexto que se inserem as instruções secretas passadas por Sua Majestade ao Governador e Capitão General da Capitania do Grão-Pará, João Pereira Caldas, para que fossem fundadas sete feitorias pelo curso dos rios amazônicos, de Belém até Vila Bela do Mato Grosso e à capital da Capitania do rio Negro, para apoiar o comércio (contrabando), com as províncias espanholas do Orinoco (Venezuela), de Quito (Equador), e do Peru, comércio esse que antes se fazia com a Colônia do Sacramento (Instrução Secretíssima, c. 1773. Museu Conde de Linhares, Rio de Janeiro). A assinatura do Tratado de Madrid (1750) ratificou essa visão, tendo a Coroa portuguesa feito valer também na região o princípio do "uti possidetis", apoiado por uma linha de posições defensivas que, mesmo virtualmente abandonadas após o Consulado Pombalino (1750-1777) e durante o , legariam à diplomacia da nascente República brasileira os seus atuais contornos fronteiriços.
Dentro do projeto de ocupação do sertão amazônico, constituiu-se a Capitania Real de São José do Rio Negro pela Carta régia de 3 de março de 1755, com sede na aldeia de Mariuá, elevada a vila de Barcelos em 1790. No início do , a sede do governo da Capitania foi transferida para a povoação da barra do Rio Negro, elevada a Vila da Barra do Rio Negro para esse fim, em 29 de março de 1808. À época da Independência do Brasil em 1822, os moradores da vila proclamaram-se independentes, estabelecendo um Governo Provisório. A região foi incorporada ao Império do Brasil, na Província do Pará, como Comarca do Alto Amazonas em 1824.
Ganhou a condição de Província do Amazonas pela Lei n° 582, de 5 de setembro de 1850, sendo a Vila da Barra do Rio Negro elevada a cidade com o nome de Manaus pela Lei Provincial de 24 de outubro de 1848 e capital em 5 de janeiro de 1851. A partir do , o território começou a receber migrantes nordestinos que buscavam melhores condições de vida na maior província brasileira. Atraídos pelo ciclo da borracha, os nordestinos se instalaram em importantes cidades amazonenses, como Manaus, Tabatinga, Parintins, Itacoatiara e Barcelos, a primeira capital do Amazonas.
Desmembramento do Grão-Pará e elevação à categoria de província
O que hoje é reconhecido como Amazônia, nos primeiros anos do era denominado Estado do Maranhão e a única cidade existente era a de São Luís, que concentrava todo o poder do Estado. As regiões central e oeste foram ocupadas apenas por ordens religiosas que subdividiram em áreas de missões e aldeamentos de atuação de Jesuítas, Carmelitas, Dominicanos e Franciscanos, o que variou ao longo do tempo, particularmente, desde o fim da Companhia de Jesus, em meados do . Ao tempo em que as Ordens Religiosas dominavam o interior do vale Amazônico, o Governo do Estado do Maranhão promovia a distribuição de terras para particulares fundarem suas capitanias. Nesse contexto, capitanias de duas naturezas diferentes foram fundadas: As Capitanias da Coroa ou Reais, e as Capitanias Particulares.
O Estado do Maranhão virou "Grão-Pará e Maranhão" em 1737 e sua sede foi transferida de São Luís para Belém do Pará. O Tratado de Madri de 1750 confirmou a posse portuguesa sobre a área. Para estudar e demarcar os limites, o governador do Estado, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, instituiu uma comissão com base em Mariuá em 1754. Em 1755 foi criada a então Capitania de São José do Rio Negro (1755 – 1821), no atual Amazonas, subordinada ao Grão-Pará. As fronteiras, então, eram bem diferentes das linhas retas atuais: o Amazonas incluía Roraima, parte do Acre e se expandia para sul com parte do que hoje é Mato Grosso. O governo colonial concedeu privilégios e liberdades para quem se dispusesse a emigrar para a região, como isenção de impostos por 16 anos seguidos. No mesmo ano, foi criada a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão para estimular a economia local. Em 1757 tomou posse o primeiro governador da capitania, Joaquim de Mello e Póvoas, e recebeu do Marquês de Pombal a determinação de expulsar à força todos os jesuítas (acusados de voltar os índios contra a metrópole e não lhes ensinar a língua portuguesa).
Em 1772, a capitania passou a se chamar Grão-Pará e Rio Negro e o Maranhão foi desmembrado. Com a mudança da Família Real para o Brasil, foi permitida a instalação de manufaturas e o Amazonas começou a produzir algodão, cordoalhas, manteiga de tartaruga, cerâmica e velas. Os governadores que mais trabalharam pelo desenvolvimento até então foram Manuel da Gama Lobo d'Almada e João Pereira Caldas. Em 1821, Grão Pará e Rio Negro viraram a província unificada do Grão-Pará. No ano seguinte, o Brasil proclamou a Independência.
Em meados do foram fundados os primeiros núcleos que deram origem às atuais cidades de Borba, Itacoatiara, Parintins, Manacapuru e Careiro. A capital foi situada em Mariuá (entre 1755-1791 e 1799-1808), e em São José da Barra do Rio Negro (1791-1799 e 1808-1821). Uma revolta em 1832 exigiu a autonomia do Amazonas como província separada do Pará. A rebelião foi sufocada, mas os amazonenses conseguiram enviar um representante à Corte Imperial, Frei José dos Santos Inocentes, que obteve no máximo a criação da Comarca do Alto Amazonas.
Na década seguinte, uma das maiores revoltas do Período Regencial abalou a região. A Cabanagem foi um movimento político e um conflito social ocorrido entre 1835 e 1840 no Pará, envolvendo homens livres e pobres, sobretudo indígenas e mestiços que se insurgiram contra a elite política local e tomaram o poder. A entrada da Comarca do Alto Amazonas (hoje Manaus, a qual foi o berço do manifesto na Amazônia Ocidental) na Cabanagem foi fundamental para o nascimento do atual estado do Amazonas. Durante o período da revolução, os cabanos da Comarca do Alto Amazonas desbravaram todo o espaço do estado onde houvesse um povoado, para assim conseguir um número maior de adeptos ao movimento, ocorrendo com isso uma integração das populações circunvizinhas e formando assim o estado. Em 5 de setembro de 1850, foi criada a Província do Amazonas pela Lei Imperial nº 582. (ver Gabinete Monte Alegre) Em 10 de julho de 1884, o Amazonas tornou-se a segunda província no império brasileiro a abolir a escravatura, após a Província do Ceará, e quatro anos antes do país conceder liberdade aos escravos, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel do Brasil.<ref>Papali, Maria Aparecida Chaves Ribeiro. Escravos, libertos e órfãos: a construção da liberdade em Taubaté (1871-1895), pg. 72.</ref> A lei foi assinada pelo presidente da província, Teodureto Souto. Na ocasião, cerca de 1,5 mil escravos foram libertados na província.
Ciclo da borracha
A partir de 1890, Manaus, que já se ostentava como capital do estado administrativo, experimentou um grandíssimo avanço populacional e econômico, resultante principalmente da exportação de matéria prima oriunda e até então, exclusiva da Amazônia. Com as riquezas geradas pela produção e exportação da borracha natural (Hevea brasiliensis), a capital amazonense recebeu grandes obras como o Porto de Manaus, o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, o Reservatório do Mocó, a primeira rede de energia elétrica e os serviços de transporte coletivo em bondes.
Tida como uma referência, Manaus tornou-se símbolo de prosperidade e civilização, sendo palco de importantes acontecimentos artísticos e culturais. Floresceu então, o comércio de produtos luxuosos e supérfluos, com homens e mulheres de todo o mundo desfilando por suas ruas e avenidas, na sede da compra do "Ouro Negro", como era chamada a borracha natural, para revender com grandes lucros nas principais capitais da Europa e nos Estados Unidos. A partir de 1910, tempos difíceis iniciam-se para a cidade, devido à forte concorrência da borracha natural plantada nos seringais da Malásia, que chega aos mercados europeu e americano com vantagens superiores, o que acaba por decretar a falência da economia amazonense.
Industrialização e metropolização
A Zona Franca de Manaus foi um projeto de desenvolvimento sócio-econômico implantado através da lei nº de 6 de junho de 1957, que reformulava, ampliava e estabelecia incentivos fiscais para implantação de um polo industrial, comercial e agropecuário numa área física de 10 mil km², tendo como sede a cidade de Manaus. Apesar da aprovação em 1957, tal projeto só foi de fato, implantado, pelo Decreto-Lei Nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, durante o regime militar brasileiro. A princípio, os benefícios desse projeto se estendiam à Amazônia Ocidental, formada pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Em 20 de agosto de 2008, foi criada a Área de Livre Comércio de Macapá, que foi incluída no Conselho da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e assim, o Amapá recebeu o mesmo benefício destinado aos estados. A criação da Zona Franca de Manaus visava promover a ocupação populacional dessa região e elevar o nível de segurança para manutenção da sua integridade, além de refrear o desmatamento na região e garantir a preservação e sustentabilidade da biodiversidade presente.
Em mais de cinco décadas de existência, a história do modelo da Zona Franca de Manaus é dividida em quatro fases: A primeira, de 1967 a 1975, caracterizava a política industrial de referência no país pelo estímulo à substituição de importações de bens finais e formação de mercado interno; a segunda, de 1975 a 1990, caracterizou-se pela adoção de medidas que fomentassem a indústria nacional de insumos, sobretudo no estado de São Paulo; a terceira, de 1991 e 1996, entrou em vigor a Nova Política Industrial e de Comércio Exterior, marcada pela abertura da economia brasileira, redução do Imposto de Importação para o restante do país e ênfase na qualidade e produtividade, com a implantação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBPQ) e Programa de Competitividade Industrial; e a quarta e última, de 1996 a 2002, marca sua adaptação aos cenários de uma economia globalizada e pelos ajustes demandados pelos efeitos do Plano Real, como o movimento de privatizações e desregulamentação.
Ao longo da década de 1990, o Amazonas destacou-se por ser um dos estados brasileiros de maior crescimento populacional e econômico. Manaus figura como uma das cinco capitais estaduais brasileiras com maior crescimento populacional, com 2,51% de crescimento anual. Em dez anos, o estado registrou 28,22% de crescimento populacional, passando de 2,8 milhões em 2000 para 3,4 milhões em 2010. Em relação à história recente no fator econômico, o estado integra o chamado "grupo intermediário", que fica entre o "grupo com maior participação" e o "grupo com menor participação", na economia do país, respondendo por 1,6% desta.
Nos anos de 2005 e 2010 o estado foi afetado por uma forte estiagem, sobretudo na região sudoeste, na divisa com o Acre. A estiagem caracterizou-se por possuir o menor índice pluviométrico dos últimos 40 anos, ultrapassando períodos como as secas de 1925-1926, 1968-1969 e 1997-1998, até então consideradas as mais intensas. Neste período, o transporte hidroviário foi dificultado, populações ribeirinhas foram isoladas e houve um surto de cólera, vitimando cerca de 159 pessoas, além de prejuízos econômicos.
Em abril de 2008, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou a nova delimitação da fronteira do Amazonas com o Acre. Assim, o território amazonense reduziu-se em 11 583,87 km². A área perdida corresponde a mais da metade de todo o território do estado de Sergipe, cerca de 7,5% do território do Acre e pouco mais de 0,7% da área do Amazonas. Com a mudança, sete municípios amazonenses - Atalaia do Norte, Boca do Acre, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna e Pauini - perderam território e parte da população para municípios do Acre. Atualmente, o Amazonas divide-se em 62 municípios. O atual governador é Wilson Miranda Lima (UNIÃO), que exerce o cargo desde 4 de outubro de 2017.
Geografia
O estado do Amazonas caracteriza-se por ser a mais extensa das unidades federativas do Brasil, com uma superfície atual de . Grande parte dele é ocupado pela Floresta Amazônica e pelos rios. O acesso à região é feito principalmente por via fluvial ou aérea. Apenas o inverno e o verão são bem definidos e a umidade relativa do ar fica em torno de , tendo em vista que a região é cortada pela linha do equador, ao norte. Faz parte da Região Norte do Brasil, fazendo fronteira com os estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre ao sul; Pará a leste e Roraima ao norte, além das repúblicas do Peru, Colômbia e Venezuela ao sudoeste, oeste e norte, respectivamente.
A maior parte de seu território está no fuso UTC-4 (com quatro horas a menos que o horário de Greenwich (GMT), e uma hora a menos em relação ao horário de Brasília). Treze municípios no terço oeste do estado estão no horário UTC-5. São eles: Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Boca do Acre, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Jutaí, Lábrea, Pauini, São Paulo de Olivença e Tabatinga.
Apresenta um relevo relativamente baixo, já que 85% de sua superfície está abaixo de cem metros de altitude. Tem ao mesmo tempo as terras mais altas, como o pico da Neblina, seu ponto mais alto, com metros, e o pico 31 de Março, com metros de altitude, ambos situados no município de Santa Isabel do Rio Negro. Há uma grande porcentagem de terras baixas, comparando aos outros estados do Brasil. De modo geral, o Amazonas está situado sobre uma ampla depressão, com cerca de 600 km de extensão no sentido sudeste-noroeste, orlado a leste por uma estreita planície litorânea de aproximadamente 40 km de largura média. Isso faz do estado o maior em relação à terras baixas no Brasil. O planalto desce suavemente para o interior e se divide em três seções: o planalto, a depressão interior e o planalto ocidental, que formam, ao lado da planície, as cinco unidades morfológicas do estado.
Em 30 de maio de 2006 foi lançado o primeiro Mapa Geológico do Amazonas, que teve por finalidade principal estudar as potencialidades do solo do estado. De acordo com esse estudo, de um modo geral, os solos amazonenses são relativamente pobres. Entretanto se verifica, principalmente no interior do estado, uma região propícia a exploração de minerais, como o nióbio, caulim e silvanita. Ainda de acordo com o estudo, no estado encontra-se as três grandes reservas minerais inexploradas do mundo. O solo amazonense detém mais de 450 milhões de toneladas de silvanita, principal minério existente no estado, o que faz do Amazonas o maior produtor nacional. Outras riquezas minerais apontadas pelo estudo são a cassiterita, com uma reserva superior a 400 mil toneladas — nos municípios de Presidente Figueiredo e Urucará; a bauxita, com aproximadamente 1 milhão de toneladas; e o nióbio, estimada em mais de 700 mil toneladas em São Gabriel da Cachoeira. O potencial do gás natural de Coari, estimado em mais de 62 bilhões de metros cúbicos, também é estudado no mapa geológico.
Clima
No Brasil, país caracteristicamente tropical, o Amazonas é dominado pelo clima equatorial, predominante também na Amazônia. As estações do ano apresentam-se bastante diferenciadas e o clima é caracterizado por elevadas temperaturas e altos índices pluviométricos, decorrente principalmente pela proximidade do estado com a Linha do Equador. Isso também se deve às altas temperaturas, que acabam por provocar uma grande evaporação, transformando-as em chuvas. A temperatura média no estado é elevada, atingindo 31,4 °C. Em alguns pontos da porção oeste a temperatura média é entre 25 °C e 27 °C e em outros pontos da porção leste essa média de 26 °C. A menor temperatura já registrada foi de 7,0 °C, em Boca do Acre, em 1975. A umidade relativa do ar varia de 80% a 90% anualmente, uma das maiores registradas no Brasil.
O regime pluviométrico apresenta índices superiores a 2.000 mm ao ano, sendo bastante elevados. Entre os meses de maio e setembro, há ocorrência de friagens no sul e parte do centro do estado. Quando estas ocorrem, as temperaturas diminuem, podendo chegar a 10 °C. Na região leste amazonense, registra-se uma pequena estação seca, com chuvas acentuadas e índices superiores a 2 500 mm ao ano. As temperaturas nesta região chegam a 26 °C. Na porção norte do estado, a estação seca ocorre principalmente na primavera.
Hidrografia
O Amazonas é banhado pela bacia hidrográfica Amazônica, a maior do mundo, com quase 4 milhões de quilômetros quadrados em extensão. O rio Amazonas - que dá nome ao estado - é o principal de seus rios, com 7 025 quilômetros de extensão desde sua Nascente, na Cordilheira dos Andes, no Peru, até a sua foz no Oceano Atlântico.
A confluência entre o rio Negro, de água preta, e o rio Solimões, de água barrenta, resulta em um fenômeno popularmente conhecido como Encontro das Águas. O fenômeno acontece nas proximidades do município de Manaus e Careiro, sendo uma das principais atrações turísticas do estado.
O rio Negro é o principal afluente do rio Amazonas. Nasce na Colômbia, banha três países da América do Sul e percorre cerca de 1 700 quilômetros. Entra em território brasileiro através do Norte do Amazonas e forma um estuário de cerca de seis quilômetros de largura no encontro com o rio Solimões, sendo chamado de rio Amazonas a partir daí. Apresenta um elevado grau de acidez, com pH 3,8 a 4,9 devido à grande quantidade de ácidos orgânicos provenientes da decomposição da vegetação. Por conta disso, a água mostra-se numa coloração escura.
Além do rios Amazonas, Negro e Solimões, outros principais rios são: Madeira, Purus, Juruá, Uatumã, Içá, Japurá e Uaupés. Todos estes são integrantes da Bacia Amazônica.
O rio Madeira, assim como os demais, é pertencente à Bacia do rio Amazonas e banha os estados de Amazonas e Rondônia. Possui extensão de e é a principal linha divisória entre Brasil e Bolívia;
O rio Purus possui e nasce no Peru. Está situado no sul do estado;
O rio Juruá, situado na região sudoeste do estado, possui de extensão e banha, além do Amazonas, o estado de Acre. Entretanto, a região do Alto Juruá, na divisa entre Amazonas e Acre, não apresenta condições de navegabilidade;
O rio Uatumã é navegável em apenas 295 quilômetros. Nasce na divisa do estado com Roraima, no planalto das Guianas. É conhecido por não possuir nenhum núcleo populacional ao longo de seu leito e por abrigar a Usina Hidrelétrica de Balbina;
O rio Japurá possui inúmeras ilhas em seu leito. Nasce na Colômbia e possui em território brasileiro.
Outros rios notáveis no estado são o Uaupés, Coari, Içá, Javari, Tefé, Nhamundá e Jutaí.
Vegetação
Na vegetação do estado, sobressaem matas de terra firme, várzea e igapós. Toda essa vegetação faz parte da extensa e maior floresta tropical úmida do mundo: a Hileia Amazônica, que apresenta uma rica e complexa diversidade na composição da flora do estado e se faz presente em todo o seu território.
Os solos de terra firme situam-se em terras altas, geralmente distantes dos grandes rios. São formadas por árvores alongadas e finas, que possuem, geralmente, grande quantidade de madeira de alto valor ecônomico. Há ainda éspécies como a castanha-do-pará, as palmeiras e o cacauareiro, que também são encontradas em solos de terra firme. Os solos de terra firme são vermelhos, por se tratar de uma região úmida e de alta temperatura, e seus elementos químicos principais são hidróxido de alumínio e ferro, propícios à formação de bauxita e, portanto, pobres para agricultura.Vieira, Lúcio Salgado; Santos, Paulo Tadeu C. dos, - Amazônia seus Solos e Outros Recursos Naturais (1987) p. 414. Editora Agronômica Ceres Ltda. São Paulo - SP. Até a década de 1970, acreditava-se que os solos da região eram os mais Iixiviados, ácidos e pobres do planeta. A cor avermelhada ou amarelada encontrada nos solos era um indicativo de óxidos de ferro, o que passou a ser referência da evidência de que os solos da Amazônia se tornariam laterita, uma substância vista como pedregosa, com o desmatamento e alteração da vegetação.
As matas de várzea são próprias das áreas periodicamente inundadas pelas cheias dos rios. Apresentam maior variedade de espécies. Seus solos são os mais férteis da região. São solos jovens, que periodicamente são enriquecidos de material orgânico e inorgânico, depositados durante a cheia dos rios. A flora do estado apresenta uma grande variedade de vegetais medicinais, dos quais se destacam andiroba, copaíba e aroeira. São inúmeras as frutas regionais e entre as mais consumidas e comercializadas estão: guaraná, açaí, cupuaçu, castanha-do-brasil (castanha-do-pará), camu-camu, pupunha, tucumã, buriti e taperebá. As matas de igapós estão situadas em áreas baixas, próximas ao leito dos rios. Durante quase o ano todo, permanecem inundadas. São compostas principalmente por árvores altas, que possuem, por sua vez, raízes adaptadas às regiões alagadas.
Unidades de conservação
No estado, até dezembro de 2010, as Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI) e Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS) possuíam, juntas, uma área de 369.788 km², equivalente ao estado de Mato Grosso do Sul. Essa área correspondia a 23,5% do território do Amazonas. Individualmente, as Unidades de Uso de Proteção Integral representavam 7,8% da área territorial amazonense, e as Unidades de Uso Sustentável representavam 15,8% desse total. Comparando a extensão de Unidades de Conservação (UCs) no Brasil, o estado possui a segunda maior extensão, superado apenas pelo Pará, com seus 403.155 km². A maior parte delas era administrada pelo governo estadual.
A criação de Unidades de Conservação (UC) nos estados da Amazônia deu-se a partir da década de 2000. Até então, a criação e demarcação de tais locais dava-se apenas em áreas remotas dos estados. Grande parte destes foram criados com o intuito de auxiliar a regularização fundiária e desincentivar o avanço do desmatamento em áreas de grande concentração populacional. Das Unidades de Conservação criadas a partir de 2003 no estado, 58% delas eram de uso sustentável e 33% foram criadas em regiões de grande avanço populacional.
Em dezembro de 2010, apenas 24% das UCs possuíam plano de manejo aprovados por seus conselhos gestores, enquanto 50% destas não possuíam tal plano. Há ainda de se destacar que o número de conselho gestores nestas unidades é baixo: 48% delas possuíam conselhos gestores, deliberativos ou consultivos, enquanto outras 45% não possuíam e eram administradas unicamente pelo órgão estadual ou federal. A vasta fauna possui felinos, como as onças, grandes roedores, como as capivaras, aves, répteis e primatas. O maior desses animais é a anta e todos constituem fonte de alimento para as populações rurais. Alguns encontram-se ameaçados de extinção e são protegidos por órgãos especiais dos governos. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a maior unidade de conservação em área alagada do país, localiza-se no estado. Foi criada em 1996 e está situada nos municípios de Fonte Boa, Maraã e Uarini.
Parques nacionais
Ao menos três dos principais parques nacionais brasileiros estão no Amazonas. O principal deles é o Parque Nacional do Jaú, criado em 1980, através do decreto-lei nº . Possui milhões de hectares de área e está situado nos municípios de Novo Airão e Barcelos. É o maior parque nacional do Brasil e o maior de floresta tropical úmida no mundo. A temperatura média local é de . É administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Também são notáveis os parques da Amazônia e do Pico da Neblina. O Parque Nacional da Amazônia foi criado pelo decreto-lei nº em 19 de fevereiro de 1974 e está situado entre o Amazonas e Pará. A criação do Parque Nacional do Pico da Neblina ocorreu em 1979 pelo decreto-lei nº . Sua área é de de hectares e está situado no município de São Gabriel da Cachoeira. Abriga o ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina, com metros.
Parques estaduais
A Área de Proteção Ambiental Nhamundá foi o primeiro parque de caráter estadual no estado, instituído pelo decreto-lei nº em 1990, com uma área de mil hectares (ha). Situa-se no município de Nhamundá e possui ecossistemas de várzea e campos naturais, além de florestas de terra firme, com planícies e serras. Seu acesso é feito por via fluvial. Por meio da lei estadual n° , de 9 de maio de 2011, foi recategorizado de parque estadual para área de proteção ambiental.
Dois dos principais parques no Amazonas são:
Parque Estadual Serra do Aracá, criado em 1990, através do decreto-lei nº , situado em Barcelos e ocupando uma área de de hectares — 15% da área do município; Parque Estadual Rio Negro Setor Norte, localizado em Novo Airão e com área de Foi estabelecido pelo decreto-lei nº de 2 de abril de 1995 e engloba 5% da área do município. Abriga as ruínas da cidade fantasma de Velho Airão e sítios arqueológicos;
Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, situado entre Manaus e Novo Airão e criado através do mesmo decreto-lei do parque anterior. Ocupa uma área de ocupando cerca de 4% da área do município de Manaus. É usado para o ecoturismo e habitado por comunidades tradicionais, como caboclos e ribeirinhos.
Destacam-se ainda os parques de Sumaúma, a única unidade de conservação estadual em área urbana no Amazonas, situada em Manaus, no bairro Cidade Nova e instituída em 2003; Sucunduri, com criada em 2005 em Apuí; Cuieiras, com Guariba, possuindo e criado em 2005 em Manicoré, no sul do estado; e Matupiti, nas bacias dos rios Matupiri e Autaz Mirim, em Borba e Manicoré, também no sul do estado. Quase todos os parques estaduais são administrados pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).
Demografia
Conforme estimativa divulgada pelo IBGE em agosto de 2021, a população do estado atingiu habitantes. A população deste representa 22% da população da região Norte e 2% da população brasileira. Num período de dez anos (2005-2015), diminuíram as populações de 48 dos 62 municípios do estado. No estado, habitantes não são naturais da unidade federativa. A maior parte dos migrantes que vivem no estado são oriundos de outros estados da própria Região Norte brasileira. Além destes, migrantes vindos do Nordeste somam habitantes, migrantes vindos da Região Sudeste somam habitantes e migrantes vindos da Região Sul somam habitantes. O estado possui ainda, a maior população estrangeira na Região Norte e a oitava maior população estrangeira no Brasil. São habitantes no estado que possuem alguma nacionalidade que não seja a brasileira. O Pará responde pela segunda maior população estrangeira no Norte do país ( imigrantes), seguido de Rondônia, com imigrantes.
De acordo com o censo brasileiro de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Amazonas era habitado por habitantes, sendo que havia habitantes em área urbana (78,4%) e habitantes em área rural (17,3%). Quanto à questão de gênero, havia homens e mulheres. Foram identificados domicílios, sendo que apenas deles eram ocupados, gerando um déficit habitacional de domicílios. A média de habitantes por domicílio era de 4,24 pessoas. A capital, Manaus, é a maior cidade da região Norte, com 2,1 milhões de habitantes.
Na questão de alfabetização, habitantes do estado com mais de 5 anos de idade alfabetizados totalizavam pessoas. Pelo menos habitantes afirmaram serem portadores de algum tipo de deficiência permanente, destacando-se a deficiência motora, com deficientes declarados. Destacando a questão do estado civil, havia pessoas com mais de 10 anos de idade solteiras, pessoas com mais de 10 anos de idade casadas, pessoas viúvas, divorciadas e pessoas desquitadas ou separadas judicialmente. Há de se destacar que pessoas declararam viver em união consensual.
Ainda de acordo com o censo de 2010, habitantes declararam possuir algum tipo de deficiência. A deficiência mental ou intelectual apresentou-se em habitantes, enquanto outros habitantes declararam possuir alguma deficiência motora. habitantes declararam possuir algum tipo de deficiência auditiva, enquanto outros habitantes possuem deficiência visual. Os habitantes que declararam não possuir nenhum tipo de deficiência somam-se habitantes. O estado alcançou um grandíssimo crescimento populacional no início do , devido ao período da áurea da borracha, e após a instalação do Polo Industrial de Manaus, na década de 1960. O estado ainda mantém taxas populacionais superiores à média nacional. Na década de 1950 o estado teve um crescimento populacional de 3,6% ao ano, enquanto o Brasil manteve um crescimento de 3,2%. No período compreendido entre os anos de 1991 e 2000, o Amazonas cresceu 2,7% ao ano enquanto a média nacional manteve-se em 1,6%. O censo demográfico de 2010 do IBGE, apontou que o estado cresceu 23,84% em população entre 2000 e 2010 e que o mesmo mantém um aumento populacional de 2,16% ao ano.
A composição da população amazonense por sexo mostra que para cada 100 mulheres residentes no estado existem 96 homens; esse pequeno desequilíbrio entre os dois sexos ocorre porque as mulheres possuem uma expectativa de vida oito anos mais elevada que a dos homens. Porém, o fluxo migratório para o estado é de maioria masculina. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em maio de 2016 o estado possuía eleitores, Durante cem anos, de 1810 a 1910, um relevante número de migrantes e imigrantes espalharam-se por diversas cidades e povoados da Amazônia, principalmente entre Belém e Manaus. Eram em grande parte, atraídos pelo ciclo da borracha. Entre os migrantes, destacou-se principalmente os nordestinos, e entre os imigrantes, destacavam-se os árabes e japoneses. Os japoneses entretanto, chegaram ao Amazonas somente a partir de 1923. Com o fim do ciclo da borracha, o Governo do Amazonas cedeu 1,030 milhão de hectares a serem divididos entre os imigrantes japoneses que desejassem fazer cultivo do solo da região, como forma de movimentar a economia do estado em crise. Os primeiros imigrantes dirigiram-se a cidades como Maués, Parintins, Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manaus. Até então, Maués era a cidade com o maior fluxo de imigração japonesa e onde eles iniciaram o cultivo do guaraná. Porém, em 1941, houve uma epidemia de malária que vitimou várias famílias. Outras famílias destinaram-se a Parintins, onde dividiram vários hectares de terra com os "koutakusseis", jovens europeus estudantes de agronomia, provenientes de famílias de classe alta que imigraram para o Amazonas no intuito de se fixarem para sempre. Estima-se que existam no Amazonas descendentes de imigrantes japoneses.
Etnias
A população do Amazonas é composta basicamente por pardos, brancos, indígenas e negros. A forte imigração no final do e início do trouxe ao estado pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. Dos mais de cinco milhões de imigrantes que desembarcaram no Brasil, alguns milhares se fixaram no estado do Amazonas, destacando-se os portugueses e japoneses. Os portugueses que chegaram ao estado destinaram-se sobretudo à Manaus, e passaram a dedicar-se ao comércio. Por volta de 1929, chegaram os primeiros japoneses, que passaram a viver em municípios como Maués, onde trabalhavam no cultivo do guaraná para uso medicinal, e Parintins. Há ainda, uma crescente imigração de haitianos.
O município de São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste do estado, é o município com maior população indígena no país. Em 2010, o percentual de população indígena do município foi de 76,31%. Além deste, Boa Vista do Ramos registra o maior percentual de população parda no estado e o terceiro do país, com 92,40% autodeclarados pardos no censo de 2010. Manaquiri também destaca-se por ser o quinto município brasileiro com maior população amarela, 6,26% do total de sua população. Segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais do Censo demográfico de 2010, promovido pelo IBGE, a população do estado dividi-se da seguinte forma, na questão étnica: Pardos (77,2%), brancos (20,9%), pretos (1,7%) e amarelos ou indígenas (0,2%). Nenhum outro estado no Brasil tem maior população indígena do que o Amazonas, divididos em 65 etnias. Além disso, o estado figura com o maior percentual de população parda no Brasil.
Entre os que se autodeclaram pardos, o mais característico é o caboclo. Inicialmente nascido da mestiçagem entre indígenas e europeus, a partir do , também miscigenou-se com nordestinos. Os imigrantes sulistas, predominantemente brancos, que chegaram ao estado no final do , têm sido também mestiçados com a população cabocla. O Dia do Mestiço (27 de junho) e o Dia do Caboclo (24 de junho) são datas oficiais no estado. Em 29 de dezembro de 2011, o município amazonense de Autazes estabeleceu o dia 27 de junho como feriado municipal, em reconhecimento à identidade mestiça. Em 28 de agosto de 2012, outro município do estado, Careiro da Várzea, também decretou feriado municipal o dia 27 de junho pelo Dia do Mestiço. Os dois municípios são os únicos no Brasil a homologar em forma de feriado a ênfase da população parda. São Gabriel da Cachoeira, na microrregião de Rio Negro, é um dos três únicos municípios brasileiros a possuir mais de um idioma oficial: Além do português, as línguas tucano, nhengatu e baníua são reconhecidas como idiomas oficiais do município, desde 2002.
Segurança pública e criminalidade
Assim como os demais estados do Brasil, o Amazonas possui dois tipos de de corporações policiais que possuem a finalidade de realizar a segurança pública em seu território. São elas: a Polícia Militar do Amazonas (PMAM), que possui um efetivo de militares, e a Polícia Civil do Estado do Amazonas, exercendo a função de polícia judiciária e sendo subordinada ao governo do estado.
A Polícia Militar do Estado do Amazonas é uma das mais antigas do Brasil, tendo sido criada em 4 de abril de 1837, primeiramente para combater os revoltosos da Cabanagem, com um efetivo de apenas militares. Após este feito, a PMAM também envolveu-se nas Guerra do Paraguai e de Canudos, além da Revolução do Acre. Conforme dados do "Mapa da Violência 2010", publicado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes do estado do Amazonas é a décima-terceira maior do Brasil. O número de homicídios ocorridos no estado aumentou de 21,3 para 24,8 por 100 mil habitantes no período entre 1998 e 2008. Entre 2008 e 2010, a taxa de homicídios cresceu 5,8 e atingiu 30,6 por 100 mil habitantes. A Região Metropolitana de Manaus concentra a maior taxa (43,3), enquanto os municípios do interior do estado apresentam apenas uma taxa de 11,1. Em 2010, os cinco municípios que registraram as maiores taxas de homicídio, por 100 mil habitantes, foram: Manaus (46,7) Iranduba (39,2), Uarini (33,6), Tabatinga (32,5) e Presidente Figueiredo, com 29,4. Em contrapartida, os cinco municípios que registraram as menores taxas de homicídio foram: São Paulo de Olivença (3,2), Nova Olinda do Norte (3,3), Santo Antônio do Içá (4,1), Tapauá (5,2) e São Gabriel da Cachoeira, com 5,3. É notável o fato de 12 municípios não haverem registrado taxas de homicídios ou não terem sido divulgadas. Em âmbito nacional, o estado está entre os quinze mais violentos. Em âmbito regional, é o quarto mais violento da região Norte, sendo superado pelo Pará (45,9), Amapá (38,7) e Rondônia (34,6).
Religião
Tal qual a variedade cultural verificável no Amazonas, são diversas as manifestações religiosas presentes no estado. Embora tenha se desenvolvido sobre uma matriz social eminentemente católica, tanto devido à colonização quanto à imigração - e ainda hoje a maioria dos amazonenses se declara católica - é possível encontrar atualmente no estado dezenas de denominações protestantes diferentes. O estado possui os mais diversos credos protestantes ou reformados, como a Igreja Presbiteriana, Igreja Batista, Igreja Luterana, Igreja Adventista, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Assembleia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Metodista, Igreja Adventista do Sétimo Dia e Igreja Episcopal Anglicana. Além dessas, grande parte declara-se seguidores de outras religiões, tais como os Santos dos Últimos Dias ou mórmons; as Testemunhas de Jeová; os messiânicos; os judeus; os esotéricos; os muçulmanos e os espiritualistas. No estado há um templo mórmon, o Templo de Manaus, sendo o sexto operado no Brasil.
De acordo com dados do censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Amazonas está composta por: católicos (61,2%), protestantes (32,1%), pessoas sem religião (6,2%), espíritas (0,4%) e outras religiões (0,1%).
Urbanização
Em 2010 foram identificados domicílios no estado, dos quais deles eram ocupados e não eram ocupados. Em relação ao tipo de material dos domicílios particulares permanentes, domicílios eram feitos de alvenaria com revestimento, feitos de alvenaria sem revestimento, domicílios feitos de madeira aparelhada, domicílios construídos em palha, domicílios em taipa revestida e domicílios construídos com outro tipo de material. A maior parte dos domicílios possuíam cinco cômodos.
Em relação ao abastecimento de água canalizada, domicílios eram atendidos pelo sistema, um percentual de 83,05%. Os bens duráveis populares (geladeira, rádio, televisão e máquina de lavar) estavam presentes em domicílios. Microcomputadores com acesso à internet existiam em destes domicílios e possuíam o uso de telefones fixo ou celular. Foram identificados casas, apartamentos, casas de condomínio, cortiços ou casas de vila e ocas ou malocas.
Política
O Amazonas é um estado da federação, sendo governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas e outros tribunais e juízes. Também é permitida a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
Manaus é o município com o maior número de eleitores, com 1,214 milhão destes. Em seguida aparecem Parintins, com 63,7 mil eleitores, Itacoatiara (61,7 mil eleitores), Manacapuru (61,1 mil eleitores) e Coari, Tefé e Tabatinga, com 47,5 mil, 38,9 mil e 29,6 mil eleitores, respectivamente. O município com menor número de eleitores é Japurá, com 4,2 mil.
Tratando-se sobre partidos políticos, todos os 35 partidos políticos brasileiros possuem representação no estado. Conforme informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base em dados de abril de 2016, o partido político com maior número de filiados no Amazonas é o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com membros, seguido do Partido Social Cristão (PSC), com membros e do Partido dos Trabalhadores (PT), com filiados. Completando a lista dos cinco maiores partidos políticos no estado, por número de membros, estão o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com membros; e o Partido Progressista (PP), com membros. Ainda de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o Partido Novo (NOVO) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) são os partidos políticos com menor representatividade na unidade federativa, com 4 e 134 filiados, respectivamente.
Subdivisões
Região geográfica intermediária é, no Brasil, um agrupamento de regiões geográficas imediatas que são articuladas através da influência de uma ou mais metrópoles, capitais regionais e/ou centros urbanos representativos dentro do conjunto, mediante a análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. A divisão de 2017 teve o objetivo de abranger as transformações relativas à rede urbana e sua hierarquia ocorridas desde as divisões passadas, devendo ser usada para ações de planejamento e gestão de políticas públicas e para a divulgação de estatísticas e estudos do IBGE.
Oficialmente, as quatro regiões geográficas intermediárias do Amazonas são: a de Manaus, a de Tefé, a de Lábrea e a de Parintins. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. O Amazonas é dividido oficialmente em onze regiões imediatas: Manaus, São Gabriel da Cachoeira, Coari, Manacapuru, Tefé, Tabatinga, Eirunepé, Lábrea, Manicoré, Parintins e Itacoatiara.
É formado pela união de sessenta e dois municípios, desde a última alteração feita em 1988, criando o município de Alvarães.
Economia
O Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas é o 15.º maior do país, destacando-se o setor terciário. De acordo com dados do IBGE, relativos a 2019, o PIB amazonense era de , enquanto o PIB per capita era de . Pará e Amazonas respondem juntos por aproximadamente 70% da economia da Região Norte do Brasil. Em termos de infraestrutura para investimentos em novos empreendimentos, o estado alcançou o segundo melhor desempenho do país nos últimos anos, sendo superado apenas pelo Distrito Federal, e sendo um dos que mais crescem economicamente. Ao lado do Pará, é o estado que mais influencia na economia do Norte brasileiro. Em 2010, a economia do Amazonas passou a representar 1,8% da economia brasileira, um aumento de 0,1 pontos percentuais comparado a 2009.
Setor primário
De todos, o setor primário é o menos relevante para a economia estadual. Representava em 2018 apenas 5,5 % da economia do Amazonas. Segundo o IBGE, o estado possuía em 2011 um rebanho bovino de cabeças, além de equinos, bubalinos, 671 asininos, 947 muares, suínos, caprinos, ovinos, codornas, coelhos e aves. Entre as aves, eram galinhas e galos, frangos e pintinhos. No mesmo ano, o estado produziu litros de leite de vacas. Foram produzidos dúzias de ovos de galinha e quilos de mel-de-abelha.
O Amazonas é o maior produtor de fibras do Brasil, com participação de 87% da produção nacional (IBGE -PAM/2014). Os maiores produtores da fibra no Amazonas são da região das calhas dos rios Negro e Solimões, como Manacapuru, Anamã, Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Vila Rica de Caviana, Caapiranga, Iranduba, Manaquiri, Novo Airão, Rio Preto da Eva, Manaus, Beruri, Coari, Codajás e Anori. A produção total desses municípios anualmente varia de 20 a 200 toneladas de juta, e de malva gira em torno de 100 a 744 toneladas. Manacapuru e Beruri se destacam com a produção média de 70 a 100 toneladas de juta.
O estado detinha 3% da produção de leite de vacas e 7% do valor da produção do mesmo, entre os estados da Região Norte do Brasil. Além deste, a produção de ovos de galinha no estado representava 57% da produção entre os estados da Região Norte, e 53% do valor da produção entre os mesmos estados. Sobre o mel de abelha, a produção do estado representava 5% entre os estados de sua região e 11% no valor da produção. É notável também que o estado produziu 354 mil dúzias de ovos de codorna em 2011, representando 29% da produção da Região Norte e o valor da produção de ovos de codorna ficou em 26%. Na lavoura temporária são produzidos abacaxi, arroz, batata-doce, cana-de-açúcar, feijão, fumo, juta, malva, mandioca, melancia, milho, soja, tomate e trigo. Os maiores valores de produção na lavoura temporária foram de mandioca (519.911 mil reais), abacaxi (87.291 mil reais) e malva (16.495 mil reais). Já na lavoura permanente produzem-se abacate, banana, borracha natural (látex), cacau, café, coco, dendê, goiaba, guaraná, laranja, limão, mamão, manga, maracujá, palmito, pimenta-do-reino, tangerina e urucum. Os maiores valores de produção na lavoura permanente foram de banana (80.899 mil reais), laranja (64.729 mil reais) e mamão (30.191 mil reais).
A agropecuária registrou, em 2008, um aumento de 23,7% na composição do PIB do estado, o terceiro maior desempenho entre os estados do país naquele ano. Em relação à indústria madeireira, produzem-se carvão vegetal, lenha e madeira em tora. Na silvicultura, o estado produz produtos alimentícios como o açaí, castanha-do-pará (também chamada castanha-do-brasil ou castanha-da-amazônia) e umbu, além de látex coagulado e produtos oleaginosos. Há também produção de fibras, como o buriti e piaçava. O estado caracteriza-se com a segunda maior produção de açaí, sendo superado apenas pelo Pará.
Setor secundário
Responsável por 28,9% do PIB do Amazonas, de acordo com dados IBGE de 2018, o setor secundário destaca-se na Grande Manaus pelo fato da região concentrar a maioria das indústrias presentes no estado. O Polo Industrial de Manaus consolidou-se como o terceiro maior centro industrial do Brasil. Em Coari, a Província Petrolífera de Urucu, descoberta em 1986, é a maior reserva terrestre de petróleo e gás natural do Brasil. Outros municípios com notáveis indústrias no estado são Itacoatiara, Iranduba, Manacapuru e Tabatinga, onde originam-se unidades madeireiras e de materiais de construção. O órgão responsável pelas indústrias amazonenses ou sediadas no estado é a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM).
O setor secundário cresceu gradativamente no Amazonas. A participação relativa do setor industrial no PIB do estado, que era de 14,7 % em 1970, passou para 19,00% em 1975 e 37,2% em 1980, o que fez com que a variação percentual do crescimento real do produto industrial regional tenha alcançado 826,28 % na década de 1970. Em sua história recente, o Amazonas possui participação majoritária no produto industrial da Região Norte, detendo 48 % entre os sete estados regionais.
A Zona Franca de Manaus (ZFM), também conhecida como Polo Industrial de Manaus, é o principal centro industrial da região Norte e um dos maiores do Brasil. Foi implantado pelo regime militar brasileiro com o objetivo de viabilizar uma base econômica na Amazônia Ocidental, promovendo melhor integração produtiva e social dessa região ao país e garantindo a soberania nacional sobre suas fronteiras É considerado um dos mais modernos da América Latina e tem como abrangência os estados da Amazônia Ocidental (Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima) além de dois municípios do estado do Amapá (Macapá e Santana). Segundo dados da SUFRAMA, o faturamento total do Polo Industrial obtido em 2016 foi de R$ 74,7 bilhões. Suas indústrias são voltadas, em geral, para a produção de produtos eletroeletrônicos, plásticos, madeireiros e polo de duas rodas.
Seus principais polos industriais são:
Região Metropolitana de Manaus; maior polo de riqueza estadual, concentra a maioria indústrias no Amazonas, onde a capital do estado detém o oitavo maior PIB municipal do Brasil. O faturamento desse polo é em média cerca de US$ 20 bilhões por ano, com exportações superiores a US$ 2,2 bilhões. São mais de 700 fábricas de grande, médio e pequeno porte que fabricam uma grande quantidade da produção brasileira de motocicletas, televisores, monitores para computadores, cinescópios, telefones celulares, aparelhos de som, DVDs players, relógios de pulso, aparelhos de refrigeração, bicicletas, produtos químicos, madeiras, tijolos, bebidas e materiais de construção.
Coari; a segunda maior economia do estado, apresenta concentrações de indústrias alimentícias, madeireira, petrolífera e tijolos.
Parintins; a quinta maior economia do estado, a indústria é composta basicamente por micro e pequenas nos setores de madeireira, alimentos, gráfica, naval, oleira, química e vestuário.
Setor terciário
O setor terciário é o mais importante do PIB amazonense, pois corresponde a metade das atividades econômicas do estado. Em 2018, a participação dos serviços representava 49,9 % do valor total adicionado à economia de todo o estado.
A unidade federativa abrigava em 2009, cerca de 4 530 unidades empresariais, de acordo com a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aproximadamente habitantes exerciam a função de empregados no setor público ou privado, revelado pelo censo de 2010. Destes, empregados exerciam atividades profissionais com carteira de trabalho assinada e profissionais não possuíam carteira de trabalho assinada. habitantes eram autônomos e habitantes eram funcionários públicos estatutários ou militares. Destacam-se também, o número de pessoas que trabalhavam na produção para o próprio consumo, cerca de pessoas e que declararam não receber remuneração por suas atividades profissionais. Na questão salarial, pessoas declararam receber até um salário mínimo, pessoas declararam receber entre 1 e 2 salários mínimos, pessoas declararam receber entre 3 a 5 salários mínimos e declararam receber mais de 20 salários mínimos. É no estado que se registra a menor porcentagem de trabalhadores que exercem seu trabalho fora de seu município de origem. Apenas 1,4% dos habitantes trabalhadores do Amazonas exercem sua atividade profissional em outro município que não seja o seu domiciliar. O nível de ocupação de pessoas empregadas com mais de 10 anos no estado, foi registrado em 48,5 estando abaixo da média nacional, de 53,3. Dados do Censo brasileiro de 2010 indicaram a existência de pessoas economicamente ativas no estado, sendo que destas, exerciam alguma ocupação no período em que ocorreu o censo e encontravam-se desocupadas. Em contrapartida, pessoas declararam não serem economicamente ativas. Entre os habitantes que declararam serem economicamente ativos, o maior número está na faixa etária dos 25 a 29 anos, onde habitantes são ativos na economia, em um total de que vivem no estado. O menor número registrado foi na faixa etária entre 50 a 54 anos, onde habitantes dos que vivem no estado são ativos na economia. É notável ainda, o número de crianças e adolescentes que exercem alguma atividade profissional e movimentam a economia: em um total de habitantes entre 10 e 14 anos. O número de habitantes com mais de 70 anos que declarou estar em idade ativa na economia também é notório: em um total de habitantes nesta faixa etária que vivem no estado. Quanto a sua pauta de exportação, é representada principalmente por motocicletas (20,60%), outros preparos comestíveis (20,28%), telefones (13,81%), navalhas e lâminas de barbear (12,46%) e compostos de materiais preciosos (3,83%).
Infraestrutura
Saúde
Conforme dados de 2009, existiam, no estado, estabelecimentos hospitalares, com leitos. Destes estabelecimentos hospitalares, 786 eram públicos, sendo 609 de caráter municipais, 117 de caráter estadual e 60 de caráter federal. 224 estabelecimentos eram privados, sendo 216 com fins lucrativos e 8 sem fins lucrativos. 148 unidades de saúde eram especializadas, com internação total, e 848 unidades eram providas de atendimento ambulatorial. Ainda em 2009, 83,05% da população amazonense tinha acesso à rede de água, enquanto 58% tinha acesso à rede de esgoto sanitário. No mesmo ano, verificou-se que o estado tinha um total de 656,1 leitos hospitalares por habitante e, em 2005, registrou-se 8,4 médicos para cada grupo de 10 mil habitantes. A mortalidade infantil é de 24,2 a cada mil nascimentos, de acordo com dados de 2009. Uma pesquisa promovida pelo IBGE em 2008 revelou que 81,6% da população do estado avalia sua saúde como boa ou muito boa; 58,9% da população realiza consulta médica periodicamente; 37,4% dos habitantes consultam o dentista regularmente e 6,0% da população esteve internado em leito hospitalar nos últimos doze meses. Ainda conforme dados da pesquisa, 24,6% dos habitantes declararam ter alguma doença crônica e apenas 12,9% possuíam plano de saúde. Tratando sobre os domicílios particulares no estado que são cadastrados no programa Unidade de Saúde da Família, 52% destes possuem o cadastro.
Na questão da saúde feminina, 28,5% das mulheres com mais de 40 anos fizeram exame clínico das mamas nos últimos doze meses; 45,9% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram exame de mamografia nos últimos dois anos; e 73,3% das mulheres entre 25 e 59 anos fizeram exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos três anos.
Educação
O Amazonas possui várias instituições educacionais, sendo as mais renomadas delas localizadas principalmente na Região Metropolitana de Manaus e em outras cidades de médio porte. A educação do Amazonas é considerada a quarta melhor do país, comparado à dos demais estados brasileiros, cujo índice, de acordo com dados de 2010, era de 0,561, ficando na vigésima colocação no país e na quinta na Região Norte, ficando atrás do Amapá (0,629), de Roraima (0,628), do Tocantins (0,624) e de Rondônia (0,577), e à frente do Acre (0,559) e do Pará (0,528).
Quando se trata sobre o analfabetismo, a lista de estados brasileiros por taxa de alfabetização, mostra o Amazonas com a décima quarta maior taxa, com 90,40% de sua população considerada alfabetizada. O estado superou-se significativamente nesse ranking na última década. Em 2001, aparecia em décimo quinto lugar, com 15,5% de sua população tida como analfabeta. O estado possui a maior porcentagem, entre os estados brasileiros, de pessoas entre 7 e 14 anos de idade que não frequentam unidades escolares. De acordo com dados do censo de 2010, 8,2% dos habitantes do Amazonas nesta faixa etária encontram-se nesta situação. Entre a população na faixa etária de 15 a 17 anos de idade, 19,6% destes não frequentam unidades de ensino, de acordo com o censo de 2010, colocando o estado na 23ª posição nacional, no ranking que abrangeu todas as 27 divisões administrativas do Brasil. Apenas os estados de Rondônia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Acre estão em situação semelhante ou pior. A população do Amazonas em idade escolar alcançava habitantes em 2010, um total de 31,2%.
No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), em 2015, o Amazonas obteve nota 5,0 nos anos íniciais do ensino fundamental, 4,2 nos anos finais do ensino fundamental, e 3,7 no 3º ano do ensino médio. Os municípios do estado que atingiram as melhores colocações na rede pública de ensino, nos anos iniciais do ensino fundamental foram: Boca do Acre (6,1); Manaus (5,5); Parintins (5,4); Beruri (5,3) e Nhamundá (5,3). Nos anos finais do ensino fundamental, na rede pública de ensino, os municípios que alcançaram as melhores posições foram: Parintins (4,6); Boca do Acre (4,5); Envira (4,5); Itacoatiara (4,5), Manacapuru (4,5), Nhamundá (4,5) e Novo Airão (4,5). Nos anos iniciais do ensino fundamental, Pauini foi o município com a pior avaliação educacional, segundo o IDEB, atingindo 2,9 pontos. Nos anos finais do ensino médio, o município que alcançou o pior desempenho foi Fonte Boa, também com 2,9 pontos.
A nota média do Amazonas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é de 35,55 na prova objetiva e 57,77 na prova de redação, sendo a maior nota entre os estados das regiões Norte e Nordeste. Em relação ao número de estudantes, participaram do ENEM em 2010, sendo que destes, eram concluintes do ensino médio e egressos. 85,52% do total de estudantes eram oriundos de escola pública. Do total de estudantes do ensino médio em 2010, 44,4% estudavam em período noturno.
O Enem de 2008 identificou que o estado possuía o pior ensino médio público do país, com uma pontuação de apenas 33,48 pontos. A Escola Estadual Indígena Cacique Manuel Florentino Mecuracu, no município de Benjamim Constant, foi identificada pelo Ministério da Educação como a terceira pior escola pública do país. No ano seguinte, 2009, a educação do estado foi identificada novamente como uma das piores no Brasil. A Escola Estadual Indígena Dom Pedro I, em Santo Antônio do Içá, foi identificada como a pior escola pública no país, com 249,25 pontos no Enem, muito abaixo da média nacional de 500 pontos definida pelo Inep.
Neste mesmo ano, das 20 melhores escolas do estado, 16 eram particulares e 4 federais, com destaque para o Centro Educacional Lato Sensu e Fundação Nokia, em Manaus, e o Colégio Nossa Senhora do Rosário e Instituto Adventista Agro Industrial, em Itacoatiara e Rio Preto da Eva, respectivamente. Em números absolutos, o estado possuía pessoas com nível superior completo em 2010, um percentual de 5,32%. Há demasiadas instituições de ensino superior no estado. Três delas são de caráter público: Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Federal do Amazonas (IFAM).
Entre as principais instituições de ensino superior de caráter privado, no Amazonas, destacam-se o Centro Universitário do Norte (Uninorte), Universidade Nilton Lins, Universidade Paulista (UNIP), Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO), Centro Integrado de Ensino Superior do Amazonas (CIESA), Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Fundação Getúlio Vargas, Faculdades Martha Falcão e Faculdade Batista Ida Nelson.
Transportes
O transporte hidroviário é o mais comum, sendo também o de maior relevância. O estado possui cinco terminais hidroviários, todos localizados na Hidrovia do Solimões-Amazonas: Terminal de Boca do Acre, Terminal de Itacoatiara, Porto de Manaus, Porto de Parintins e Terminal de Humaitá. Todos são administrados pelo Ministério dos Transportes, com exceção do Porto de Manaus.
Todos os municípios possuem pistas para operações de aeronaves, sendo que a maioria é servida por aeroportos, havendo em Manaus e Tabatinga os únicos aeroportos internacionais no Amazonas. Existem também aeroportos regionais, porém em poucos municípios, sendo o Aeroporto Regional de Parintins e o Aeroporto Regional de Coari os mais importantes, além dos aeroportos de Eirunepé, Lábrea e Tefé. Manaus conta com o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, nos moldes dos construídos na década de 1980. É o maior aeroporto da região Norte e o terceiro em movimentação de cargas do Brasil (atrás apenas de Guarulhos e Viracopos). Poucas rodovias são encontradas no estado, e em sua maioria estão situadas nos arredores da capital. A principal destas é a BR-174, principal acesso de Manaus a Boa Vista, capital de Roraima, e também principal via de ligação do Brasil à Venezuela e aos países do Caribe. Outras rodovias de destaque são a BR-319, que se inicia em Manaus e destina-se a Porto Velho, encontrando-se quase que intransitável em muitos de seus trechos devido aos impasses governamentais; BR-230 (Rodovia Transamazônica), iniciando em Cabedelo, no estado da Paraíba, e finalizando em Lábrea; AM-010, de Manaus a Rio Preto da Eva e Itacoatiara; e AM-258, de Manaus a Novo Airão. Há ainda a BR-317, no sul do estado, principal acesso ao Acre e ao Oceano Pacífico, AM-070, AM-174 e AM-254. Grande parte das rodovias situadas no território estadual estão em condições inadequadas de uso.
Serviços e comunicações
O Amazonas conta com outros serviços básicos. Na capital do estado, Manaus, a empresa responsável pelo abastecimento de água é a Águas de Manaus, que atua na cidade desde junho de 2018 e faz parte do Aegea Saneamento. Outros municípios tem seus próprios Serviços Autônomos de Águas e Esgotos, enquanto outros catorze municípios são atendidos pela Companhia de Saneamento do Amazonas (COSAMA) que, por sua vez, faz parte da administração direta do Governo estadual. Conforme dados de 2009, 83,05% da população estadual tinha acesso à água potável, no referido ano, e 58% tinha acesso à rede de esgoto sanitário. A primeira publicação jornalística no estado do Amazonas surgiu em 1850, ano de sua emancipação política, e chamava-se A Província do Amazonas. O jornal teve pouco tempo de duração, encerrando suas atividades em 1852. Apesar deste ter sido o primeiro periódico a circular na então província, a primeira publicação a ser impressa no estado foi o jornal Cinco de Setembro, que iniciou suas atividades em maio de 1851 e dedicava-se a publicar atos governamentais, tais como anúncios sobre escravos fugitivos e as realizações do Império brasileiro. Em 1854, o jornal renomeou-se para Estrella do Amazonas.
Grande parte dos periódicos que surgiram no Amazonas, no , exibiam suas publicações em português, por isso viam suas atividades serem ameaçadas, pelo fato de a maioria da população do Amazonas falar o nhengatu naquela época. Além destes dois, destacaram-se ainda os jornais O Argos, publicação lançada em 1870 e defensora dos interesses republicanos, O Abolicionista do Amazonas, cujo surgimento deu-se em 1884 através de um grupo de mulheres que defendia o fim da escravidão na província amazonense, e O Humaythaense, o primeiro jornal registrado no interior do estado, lançado em 1891 em Humaitá, dedicado principalmente à economia da borracha. Também em Humaitá foi notável o jornal O Madeirense.
O jornal mais antigo em circulação no Amazonas é o Jornal do Commercio, fundado em 2 de janeiro de 1904, por J. Rocha dos Santos. É ainda, o jornal mais antigo em atividade na Amazônia e um dos mais antigos do Brasil. A exemplo do Jornal do Commercio, outros jornais impressos de destaque, no estado, são: A Crítica, lançado em 1949 por Umberto Calderaro Filho; Diário do Amazonas, surgido em 1986; Amazonas Em Tempo, fundado em 1988; O Estado do Amazonas, lançado em 2002; e Amazônia Oportunidades & Negócios, também lançada em 2002.
Cultura
A cultura amazonense tem seu referencial em três raízes étnicas bem distintas entre si, sendo essencialmente de base ameríndia e europeia. A Secretaria de Estado da Cultura é o órgão vinculado ao Governo do Estado do Amazonas responsável por atuar no setor de cultura do estado. Tem como secretário Robério Braga. O estado é sede de importantes monumentos e entidades culturais, como a Academia Amazonense de Letras, fundada em 1918, e a Academia de Ciências e Artes do Amazonas.
Manaus e Parintins possuem traços da imigração japonesa em sua cultura. O Festival Folclórico de Parintins também é um destaque na cultura amazonense, sendo uma grandiosa referência nacional.
Espaços teatrais
O estado conta com vários teatros. Na capital, destacam-se vários teatros, como o Teatro Amazonas, principal espaço de teatro e patrimônio cultural arquitetônico da região. Sua construção deu-se em 1882, sendo mandado construir pelo governador Eduardo Ribeiro, e foi inaugurado em 1896. É um exemplo da opulência existente no apogeu do ciclo da borracha. O Teatro Amazonas foi tombado como Patrimônio histórico em 28-11-1966, e sedia eventos artísticos como o Festival Breves Cenas de Teatro, Festival Amazonas de Ópera, Festival Amazonas de Jazz, Festival de Teatro da Amazônia e Amazonas Film Festival. Há também, outros espaços de teatro na capital, Manaus, como o Teatro da Instalação, um edifício oriundo da Belle-Époque e que chegou a sediar a Ópera dos Três Vinténs. Outros espaços teatrais são o Teatro Américo Alvarez, Teatro Gebes Medeiros, Teatro Jorge Bonates e Teatro Luiz Cabral.
Festivais
Há registros de diversos festivais nos municípios do estado. Muitos dos festivais mostram a influência do folclore da região. O Carnaval de Manaus é realizado todos os anos na cidade, entre os principais eventos estão o desfile de escolas de samba, o tradicional desfile de fantasias, que acontece no Teatro Amazonas, a Banda do Galo, blocos de rua, etc.
Há um grande desfile de escolas de samba em uma passarela construída especialmente para o evento, o Centro de Convenções de Manaus, conhecido popularmente como Sambódromo. O primeiro desfile oficial de escolas de samba em Manaus ocorreu em 1947, sendo que a escola de samba Mixta da Praça 14 de Janeiro foi a campeã. Até 1979 os desfiles eram realizados na Avenida Eduardo Ribeiro. De 1980 a 1990 passou à Avenida Djalma Batista, na Zona Centro Sul, e a partir de 1992 no Sambódromo, que possui a maior capacidade de público do Brasil (mais de 100 mil pessoas), superando os sambódromos do Anhembi, em São Paulo (30 mil), e a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro (72 mil). Em fevereiro de 1994, sem verba para transmitir os carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo, a TV Manchete opta transmitir na íntegra o desfile das escolas de samba do Grupo Especial de Manaus para todo o Brasil. A pista do sambódromo possui 400 metros de extensão e 12 metros de largura, sendo os desfiles das escolas de samba são quinta (Grupo de Acesso C), sexta (Grupos de Acesso A e B) e sábado (Grupo Especial).
Outro festival de destaque nacional é o Festival Folclórico de Parintins, que se realiza no município de mesmo nome no fim do mês de junho e tem como atração principal a modalidade competitiva entre o Boi Caprichoso, boi preto com a estrela azul na testa, cujas cores são o preto e o azul, e o Boi Garantido, boi branco com o coração vermelho na testa, cujas cores emblemáticas são o vermelho e o branco. O Festival Folclórico de Parintins é tido como o segundo maior evento folclórico e popular do Brasil, perdendo somente para o Carnaval.
O festival é realizado oficialmente desde 1965, embora a criação dos bois é oriunda do início do . Caracteriza-se pela exposição dos ritos, costumes e histórias dos nativos, apresentados pelas duas agremiações folclóricas. Diversos personagens podem ser vistos no festival, entre estes um apresentador oficial, chamado de levantador de toadas; o amo do Boi; a sinhazinha da fazenda; os elementos típicos da região e as lendas da Amazônia; a porta estandarte, a rainha da festa e a Cunhãporanga, um mito feminino folclórico. O Boi Garantido foi criado por Lindolfo Monteverde, descendente de açorianos, em 1913, e o Boi Caprichoso provavelmente foi criado no mesmo ano, por Roque e Antônio Cid, migrantes do Ceará, e Furtado Belém.As datas precisas de criação dos Bois Garantido, Caprichoso, dentre outros, variam em uma história que é basicamente oral e da qual participa o fator rivalidade. Não há registros escritos para a data de fundação destas figuras folclóricas. As duas figuras folclóricas, ao tempo de suas fundações, costumavam brincar em terreiros e saíam nas ruas onde confrontavam-se com desafios e inevitáveis brigas, dando origem à rivalidade existente até os dias atuais. Há registros de outras agremiações folclóricas em Parintins também chamadas de bois, como o Boi Bumbá Campineiro, entretanto, apenas os bois Garantido e Caprichoso permaneceram. A data de realização do evento popular, historicamente realizado nos dias 28, 29 e 30 de junho, foi modificada em 2005 por uma lei municipal, transferindo-o para o último fim de semana do mês.
Há outros festivais nas cidades amazonenses: o Festival de Ciranda de Manacapuru, uma manifestação folclórica realizada desde 1997, que consiste na disputa de cirandas, representadas pelas agremiações Flor Matizada, Tradicional e Guerreiros Mura; o Festival da Canção de Itacoatiara, um festival de música realizado desde 1985 em Itacoatiara; a Festa do Guaraná, uma manifestação folclórica que apresenta lendas e mitos indígenas do Amazonas, em Maués; o Festival do Mestiço, realizado nas cidades de Autazes, Careiro da Várzea e Manaus e a Festa da Melancia, realizada em Manicoré.
Turismo e artesanato
O Amazonas recebeu o prêmio de melhor destino verde da América Latina, prêmio este concedido em votação feita pelo mercado mundial de turismo, durante a World Travel Market, ocorrido em Londres em 2009. Em pesquisa realizada em 2018 e 2019, a taxa de satisfação dos turistas de navios cruzeiros que passaram pelo Amazonas alcançou o percentual de 77,38%. Os turistas entrevistados em um estudo realizado pela Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur) responderam a um questionário contendo 16 itens, entre comidas regionais, internet, opções de lazer, informações turísticas, bares e restaurantes. Entre os pontos melhores avaliados pelos visitantes, em passagem pelo estado, estão: comida típica (98,34%); opções de lazer (96,22%); informações turísticas (95,85%); internet (91,47%); Centro de Atendimento ao Turista (89,15%); bares e restaurantes (88,25%) e segurança pública (87,23%).
Manaus, capital estadual, é tida como o 7.º melhor destino turístico no Brasil, conforme pesquisa do TripAdvisor, anunciada durante a 5ª edição do Travelers Choice Destinations em 21 de maio de 2013. De acordo com a pesquisa, os maiores atrativos são os hotéis de selva, museus e atrativos naturais, como reservas florestais. O artesanato do estado é originalmente de cultura indígena e possui traços da biodiversidade da Amazônia. Usa-se objetos e utensílios pessoais e domésticos, oriundos da floresta, como sementes de frutos, folhas, penas de aves, raízes, fibras vegetais, palhas e outros elementos da natureza. A produção do artesanato dar-se-á em aldeias indígenas das tribos Tukano, Dessana e Baniwa, no Alto Rio Negro, e da tribo Tikuna e Kokama, no Alto Solimões. Também há incentivo ao artesanato produzido por famílias ribeirinhas e caboclas, que geralmente vivem afastadas dos centros urbanos do estado. Além do artesanato feito com utensílios modelados da floresta, também é possível encontrar produtos e cosméticos naturais produzidos a partir destas ferramentas, em formato artesanal.
Há espaços dedicados à comercialização do artesanato, assim como a divulgação deste como parte de cultura. Um destes espaços permanentes são a Central de Artesanato Branco e Silva, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, o Centro Cultural Povos da Amazônia, a Praça Tenreiro Aranha e a Praia da Ponta Negra. Também realiza-se no Amazonas, anualmente, a Feira de Artesanato de Parintins e a Feira de Artesanato Mundial.
Culinária e frutos
Considerada a mais exótica do país, a culinária amazonense é a que mais preservou as origens ameríndias, tendo sofrido pouca influência europeia e africana. Os principais ingredientes usados na composição dos pratos típicos do Amazonas são os peixes de água doce, a farinha de mandioca (também chamada de farinha do Uarini), jambu, chicória e frutas regionais.
Por estar situado na maior bácia hidrográfica do planeta, o Amazonas possui mais de duas mil espécies de peixes. O pescado é usado na maior parte da culinária típica da região, hábito este influenciado pelos costumes ameríndios e europeus. Além do pescado, a mandioca também é muito usada nos pratos típicos amazonenses, sendo uma influência indígena com técnicas de plantio e cultivo. Entre os pratos tradicionais do estado, estão o Pirão, Tacacá, Caldeirada, Tucupi, X caboquinho, Chibé, Pirarucu à casaca, Leite de castanha, Paxicá e Tucunaré de Forno. O Amazonas, assim como a Amazônia, apresenta mais de uma centena de espécies comestíveis, as denominadas frutas regionais, e em muitas vezes apresentando um exótico sabor para as suas sobremesas. Concentra a maior diversidade de frutas do mundo. O açaí, fruto oriundo de uma palmeira amazônica, é o mais conhecido no mundo, em grande parte devido ao suco feito com a polpa do fruto, conhecido como "vinho de açaí" e comercializado em lojas no Brasil e exterior. O Araçá-boi é outro fruto nativo do Amazonas e da Amazônia Legal que tornou-se bastante apreciado pelo mercado internacional. O cupuaçu, fruto amazônico também muito conhecido, pertence à família das esterculiáceas e acredita-se ser parente do cacau. O fruto é comumente usado para a fabricação de balas, bolos e tortas, além de refrescos, sorvetes e cremes.
Outros frutos de origem amazônica são o guaraná, o bacuri e o buriti. O guaraná é um arbusto cultivado principalmente em Maués, pertencente à família Sapindaceae. O fruto possui grande quantidade de cafeína e estimulantes, sendo usado na fabricação de xaropes, pós e refrigerantes. O bacuri é um fruto com polpa agridoce e ainda em ascensão. O buriti, além de cosmetível, é usado principalmente na fabricação de cosméticos e remédios. Há outros frutos, tais como o tucumã, pupunha, graviola, Bacaba, patauá, marimari e Camu-camu.
Esportes
Na área esportiva, a Secretaria de Estado da Juventude, Desporto e Lazer (SEJEL-AM), é o órgão do governo estadual com a missão principal de estabelecer diretrizes, desenvolver e executar ações relativas à prática de esporte no estado. Desde 1914, o estado realiza o Campeonato Amazonense de Futebol, sob responsabilidade da Federação Amazonense de Futebol, existente desde 26 de setembro de 1962. O evento teve caráter amador até 1963, e passou a ter caráter profissional a partir de 1964. Antes da criação da Federação Amazonense de Futebol, os campeonatos e demais eventos esportivos no estado eram administrados por ligas. A primeira delas, Liga amazonense de Foot-ball, foi fundada em 15 de janeiro de 1914 e em 1916 passou a chamar-se Liga Amazonense de Sport Athléticos (LASA), tendo durado até 1917. Após esta, criou-se a Federação Amazonense de Desportos Atléticos (FADA). Há alguns clubes de futebol sediados no estado conhecidos em âmbito regional e nacional, sendo os principais o Nacional Futebol Clube, São Raimundo Esporte Clube, Fast Clube, Atlético Rio Negro, Princesa do Solimões, Sul América Esporte Clube, Nacional Borbense, Iranduba, Operário, Manaus Futebol Clube, dentre outros. Entre estes clubes, o detentor do maior número de títulos no Campeonato Amazonense de Futebol é o Nacional Futebol Clube, seguido por Atlético Rio Negro, São Raimundo, Fast Clube e Sul América. Acredita-se que 1906 foi o primeiro ano em que partidas de futebol foram registradas no Amazonas. Essas partidas ocorreram no Campo do Parque Amazonense, onde atualmente encontra-se o Parque dos Bilhares, e foram iniciativas de marinheiros, empresários e despachantes britânicos que imigravam para o Amazonas. Nesse mesmo espaço também ocorreram outras atividades esportivas, como corrida de cavalos. O primeiro estádio de futebol de grande porte construído no estado foi o Estádio Vivaldo Lima, inaugurado em 5 de abril de 1970 e conhecido também como Coliseu do Norte, Tartarugão e Vivaldão. O estádio foi remodelado em 1995 e demolido em 2010, para a construção da Arena Amazônia, que sediou partidas da Copa do Mundo de 2014.
O estado é o único no Brasil a realizar a Copa Indígena, evento esportivo que tem como alvo os Povos Indígenas do Amazonas. O evento foi iniciado a partir de 2009. A Copa Indígena consiste na disputa de clubes de futebol formado apenas por etnias indígenas que disputam entre si. Outros eventos esportivos são realizados e sediados no estado, como os Jogos Escolares do Amazonas (JEA'S), que consiste na disputa entre escolas, públicas e privadas, em várias modalidades esportivas como torneio de vôlei de praia, torneio de futsal, torneio de voleibol, entre outros. Nos últimos anos, o atletismo, o judô e o tênis de mesa, regulamentados pela Federação Amazonense de Atletismo (Feama), Federação Amazonense de Judô (Fejama) e Federação de Tênis de mesa do Amazonas (Ftma), respectivamente, ganharam bastante espaço entre os esportes no Amazonas. Outras modalidades esportivas que também ganharam espaço nos últimos anos são as Artes marciais mistas, em especial o Jiu-jitsu, taekwondo, boxe e Muay thai. O Muay thai é regulamentado pela Federação Amazonense de Boxe Tailandês-Muay Thai (FABT) e reconhecido no estado desde 1987. O lutador José Aldo, um dos maiores lutadores brasileiros na modalidade, é natural do estado. O Amazonas já sediou eventos esportivos internacionais, como a Copa América masculina de Vôlei em 2007, o Pan-Americano Cadete de Luta Olímpica em 2010 e o Ultimate Fighting Championship (UFC) em 2012. A capital do Estado também possui um complexo olímpico de esportes, a Vila Olímpica Danilo Duarte de Mattos Areosa, gerida pelo Governo do Estado. Manaus foi uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
Feriados
No estado do Amazonas, há dois feriados estaduais: o dia 5 de setembro, em homenagem à Elevação do Amazonas à categoria de província, ocorrida em 1850, e o dia 8 de dezembro, em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, tida como padroeira do estado.
Bibliografia
Sales, Daniel; É Tempo de Sambar - História do Carnaval de Manaus''; Manaus: Nortemania, 2008
Ligações externas
Fundações no Brasil em 1850 |
Antoine-Henri Becquerel (Paris, — Le Croisic, ) foi um físico francês. Becquerel foi o responsável pelos estudos que levaram à descoberta do fenômeno da radioatividade. Era filho de Alexandre-Edmond Becquerel.
Biografia
Estudou na École Polytechnique e era "engenheiro de pontes e calçadas". Ensinou física na École Polytechnique e no Museu Nacional de História Natural. Continuou os trabalhos dos seus pai e avô, descobrindo em 1896 a radioactividade dos sais de urânio. Esta descoberta fundamental valeu-lhe a atribuição do Nobel de Física em 1903, juntamente com o casal Pierre Curie e Marie Curie. Foi membro da Academia das Ciências da França.
Seu pai, Alexandre Becquerel estudou a luz e a fosforescência, inventando a fosforoscopia.
Seu avô, Antoine César Becquerel, foi um dos fundadores da eletroquímica.
Em 1895 descobriu acidentalmente uma nova propriedade da matéria que, posteriormente, denominou de radioatividade. Ao colocar sais de urânio sobre uma placa fotográfica em local escuro, verificou que a placa enegrecia. Os sais de urânio emitiam uma radiação capaz de atravessar papéis negros e outras substâncias opacas a luz. Estes raios foram denominados, a princípio, de Raios B em sua homenagem.
Além disso realizou pesquisas sobre fosforescência, espectroscopia e absorção da luz.
Entre suas obras destacam-se:
Investigação sobre a fosforescência (1882-1897);
Descobrimento da radiação invisível emitida pelo urânio (1896-1897).
Contribuições científicas
Os primeiros trabalhos de Becquerel foram realizados com base nos estudos de polarização de plano de luzes, com o fenômeno da fosforescência e com a absorção de luz por cristais e também o magnetismo terrestre. Após o descobrimento do raio X por Wilhelm Conrad Röntgen, Antoine foi levado a estudar o fenômeno com sais de urânio e a forma como eles são afetados pela luz. Por acidente, Henri descobriu que os raios urânicos emitidos eram capazes de penetrar e imprimir imagens em chapas fotográficas. Mais estudos mostraram que isso não vinha do recém descoberto raio X e sim de uma outra radiação, tinha ele descoberto um novo fenômeno: a radioatividade natural ou espontânea, conhecida atualmente como Radiação gama (ɤ).
Henri fez diversos estudos para investigar se uma substância fluorescente poderia emitir raios X quando era submetida à luz do sol. Ele expôs ao sol uma chapa fotográfica coberta com papel opaco e pedras de sais de urânio, após um determinado tempo foi constatado que a chapa foi manchada pelos sais. Concluiu-se que a radiação não propagava pelo efeito da luz do Sol, mas por alguma propriedade dos sais utilizados no experimento, no caso, sais de Urânio. Becquerel interpretou esse fenômeno em termos de uma fosforescência invisível do Urânio.
Graças a essa realização, Becquerel ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1903, junto com Pierre Curie e Marie Curie, para o seu estudo da radiação. E hoje tem seu nome como unidade padrão do Sistema Internacional de Unidades para a Atividade de Radiação: o Becquerel (Bq), que representa um decaimento do núcleo por segundo.
Contribuições de Becquerel para a Física do Corpo Humano
Mas suas descobertas resultaram muito além daquele momento, com ela foi-se capaz de desenvolver diversos estudos, que futuramente possibilitaram grandes avanços na área médica, pois assim tornou-se possível tratar e identificar com maior precisão lesões no corpo (uma vez que com tais tecnologias pode-se ver por dentro da pele e musculatura) e certas doenças através de imagens médicas e também variados tratamentos radioterápicos.
Ligações externas
Alunos da École Polytechnique
Físicos nucleares da França
Laureados da França com o Nobel
Medalha Rumford
Membros estrangeiros da Royal Society
Naturais de Paris
Nobel de Física
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André-Marie Ampère (Lyon, — Marselha, ) foi um físico, filósofo, cientista e matemático francês que fez importantes contribuições para o estudo do eletromagnetismo.
Biografia
Nasceu em Lyon, foi professor de análise na École Polytechnique de Paris e no Collège de France.
O seu pai, Jean-Jacques Ampère, um abastado comerciante nessa cidade, tinha como objetivo principal garantir-lhe uma completa educação quando possível, inclusivamente uma formação religiosa sólida. Como não queria que o filho tivesse, uma carga adicional de preconceitos dos ensinamentos religiosos, decidiu ele próprio supervisionar essa educação, com ajuda de uma gigantesca biblioteca, que André, aos onze anos, já tinha lido inteiramente. Depois da biblioteca do lado paterno, o jovem, com 12 anos, já lidava com os principais teoremas da álgebra e da geometria, passou a estudar matemática, começando pela leitura das obras de Leonhard Euler e Jakob Bernoulli, tarefa complicada para o principiante, pois exige um conhecimento anterior sobre ramos bastante complexos da matemática. Além disso, Bernoulli escrevera as suas obras em latim, língua que André desconhecia. No tempo de duas semanas assimilou essa língua com o pai e, no mesmo período de tempo, obteve princípios de análise infinitesimal com o bibliotecário do colégio de Lyon. Assim, a exemplo de Pascal, com doze anos já podia redigir um tratado sobre as seções cónicas.
Em 1814 foi eleito membro da Académie des Sciences. Ocupou-se com vários ramos do conhecimento humano, deixando obras de importância, principalmente no domínio da física e da matemática. Partindo das experiências feitas pelo dinamarquês Hans Christian Ørsted sobre o efeito magnético da corrente elétrica, soube estruturar e criar a teoria que possibilitou a construção de um grande número de aparelhos eletromagnéticos. Além disso descobriu as leis que regem as atrações e repulsões das correntes elétricas entre si. Idealizou o galvanômetro, inventou o primeiro telégrafo elétrico e, em colaboração com Arago, o electroíman.
O seu filho Jean-Jacques Ampère (1800-1864) foi filólogo, erudito, viajante e historiador literário francês, o seu nome é em honra do pai de André.
Obras
Entre suas obras, ele deixou por terminar Ensaio sobre a filosofia das Ciências, na qual iniciou a classificação do conhecimento do homem. Publicou Recueil d'Observations électro-dynamiques; La théorie des phénomènes électro-dynamiques; Précis de la théorie des phénomènes électro-dynamiques; Considérations sur la théorie mathématique du jeu; Essai sur la philosophie des sciences.
Homenagens
"Newton da Eletricidade" foi a designação que James Clerk Maxwell deu em homenagem a André, foi dado o último nome ampère (símbolo: A) à unidade de medida do SI (Sistema Internacional) da intensidade de corrente elétrica.
Escritos
Considérations sur la théorie mathématique du jeu, Perisse Frères, Lyon Paris 1802, online - Internet-Archive
Em inglês:
Magie, W.M. (1963). A Source Book in Physics. Harvard: Cambridge MA. pp. 446–460.
.
Bibliografia
LISA - Grande Enciclopédia da Língua Portuguesa (Histórico)
Koogan Larousse Seleções
Ligações externas
Nomes na Torre Eiffel
Pessoas associadas à eletricidade
Membros estrangeiros da Royal Society
Fellows da Sociedade Real de Edimburgo
Membros da Academia Real das Ciências da Suécia
Professores do Collège de France
Matemáticos do século XVIII
Matemáticos do século XIX
Alunos da École Polytechnique
Sepultados no Cemitério de Montmartre
Naturais de Lyon
Cientistas da França
Filósofos da França
Físicos da França
Matemáticos da França
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Aruaques, também conhecidos como aravaques e arauaques, são numerosos grupos indígenas da América cujas línguas pertencem à família linguística aruaque (de arawak, "comedor de farinha"). São encontrados em diferentes partes da América do Sul - Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana, Paraguai, Peru, Venezuela e Antilhas.
No tronco linguístico aruaque (arahuaco em espanhol; aportuguesado como "aruaque"), estão catalogadas 74 línguas de vários povos indígenas do Brasil, dentre as quais a língua tariana, a língua palicur, a língua baníua, a língua terena e a língua iaualapiti.
No fim do século XV, os aruaques encontravam-se dispersos pela Amazônia, nas Antilhas, Bahamas, na Flórida e nos contrafortes da Cordilheira dos Andes. Os grupos mais conhecidos são os Tainos, que viviam principalmente na ilha de Hispaniola, em Porto Rico e na parte oriental de Cuba. Os que povoavam as Bahamas foram chamados lucaianos (lukku-cairi ou "povo da ilha").
Trata-se de populações neolíticas praticantes da agricultura, da pesca e da coleta. Produziam também uma cerâmica extremamente rica em adornos e pinturas brancas, negras e amarelas. As populações ameríndias das Antilhas não conheciam a escrita.
Aruaques na Era Pré-Colombiana
As línguas aruaques podem ter surgido no vale do rio Orinoco. Subsequentemente, elas se espalharam amplamente, tornando-se de longe a família de idiomas mais extensa da América do Sul na época do contato europeu, com falantes localizados em várias áreas ao longo dos rios da bacia do Orinoco e dos Amazonas.
Michael Heckenberger, um antropólogo da Universidade da Flórida que ajudou a fundar o Projeto Amazônia Central, e sua equipe encontraram cerâmica elaborada, aldeias circunvizinhas, campos elevados, grandes montes e evidências de redes comerciais regionais que são todos indicadores de uma cultura complexa. Há também evidências de que eles modificaram o solo usando várias técnicas, como a queima deliberada de vegetação para transformá-lo em terra negra, que até hoje é famosa por sua produtividade agrícola. Segundo Heckenberger, a cerâmica e outros traços culturais mostram que essas pessoas pertenciam à família de línguas aruaques.
Contato com os europeus e genocídio
Os aruaques foram os primeiros ameríndios a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os aruaques lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá, ainda:
Ver também
Tainos
Caraíbas (etnia)
Línguas aruaques
Bibliografia
Jan Rogoziński, A brief history of the Caribbean : from the Arawak and the Carib to the present, New York, Facts on File, 1999,
Howard Zinn, Une histoire populaire des Etats-Unis : de 1492 à nos jours, Editions Agone, 2002.
Schmidt Max Os Aruaques. Uma contribuição ao estudo do problema da difusão cultural Disponível em.pdf (Dez. 2010)
Ligações externas
2.2.Distribuição da população ameríndia
Caraibes / Arawaks Conférence de Benoît BERARD (Université des Antilles et de la Guyane)
Site du Musée de Fort de France
Photo d'un tambour tubulaire arawak
Arawak - Joshua Project
Les familles amérindiennes en Amérique du Sud
The Arawaks |
Abolicionismo — movimento político que visava o fim da escravidão
Abolição (Rio de Janeiro) — bairro da cidade brasileira do Rio de Janeiro
Abolição (minissérie) — minissérie brasileira de 1988 da Rede Globo
Desambiguações de topônimos
Desambiguações de televisão |
António Manuel de Oliveira Guterres GCC • GCL (Lisboa, ) é um engenheiro, político e diplomata português que serve como nono secretário-geral da Organização das Nações Unidas desde 2017.
Guterres foi Primeiro-Ministro de Portugal entre 1995 e 2002 e Secretário-Geral do Partido Socialista entre 1992 e 2002. Foi Presidente da Internacional Socialista entre 1999 e 2005.
Exerceu o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados entre 15 de junho de 2005 e 31 de dezembro de 2015. No ano seguinte, anunciou sua candidatura ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Em 5 de outubro de 2016 foi anunciada a vitória de Guterres na eleição para secretário-geral, sendo marcada para o dia seguinte a votação formal no Conselho de Segurança. Em 6 de outubro de 2016 o Conselho de Segurança votou por unanimidade e aclamação a resolução que recomenda à Assembleia Geral a designação de Guterres como novo secretário-geral das Nações Unidas.
Depois do juramento prestado a 12 de dezembro de 2016, perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Guterres tomou posse como o nono secretário-geral das Nações Unidas no dia 1 de janeiro de 2017 para um mandato de 5 anos.
Biografia
Infância e juventude
Nascido em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, com raízes familiares na aldeia das Donas, concelho do Fundão, António Guterres demonstrou desde jovem deter uma capacidade de dedicação ao estudo que havia de lhe valer um Prémio Nacional dos Liceus, em 1965.
Concluídos os estudos secundários, no Liceu Camões, em Lisboa, ingressou em seguida no curso de engenharia eletrotécnica, no Instituto Superior Técnico.
Licenciou-se em 1971 e iniciou no mesmo ano uma efémera carreira académica, como assistente do Técnico, lecionando a disciplina de Teoria de Sistemas e Sinais de Telecomunicações.
Durante a universidade, Guterres não se envolveu na oposição estudantil ao regime de Salazar, dedicando-se antes à ação social promovida pela Juventude Universitária Católica. Integrou também o Grupo da Luz, coordenado pelo padre Vítor Melícias e onde também viriam a participar, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos Santos Ferreira. Vítor Melícias celebraria o seu casamento com Luísa Melo, em 1972.
Carreira política
António Guterres aderiu ao Partido Socialista em 1973, pela mão de António Reis.
No ano seguinte, logo após o 25 de Abril, foi nomeado chefe de gabinete de José Torres Campos (sucessivamente Secretário de Estado da Indústria e Energia dos I, II e III governos provisórios).
Em 1976, na sequência das eleições legislativas desse ano, ganhas pelo PS, estreou-se como deputado à Assembleia da República, onde veio a exercer funções como presidente das comissões parlamentares de Economia e Finanças (1977-1979) e de Administração do Território, Poder Local e Ambiente (1985-1988). Presidiu também à comissão de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (1983).
Foi eleito cinco vezes presidente da Assembleia Municipal do Fundão, cargo que exerceu de 1979 até 1995.
Em 1992, num congresso em que enfrentou Jorge Sampaio, foi eleito secretário-geral do PS. Depois venceu com maioria relativa as eleições legislativas de 1995 e de 1999, chefiando os XIII e XIV governos constitucionais, ambos minoritários e formados exclusivamente pelo PS.
Presidiu à Internacional Socialista, entre 1995 e 2000.
Na sequência das eleições autárquicas de dezembro de 2001, porém — nas quais o PS sofreu uma derrota significativa —, Guterres decidiu apresentar a sua demissão. No ato inesperado da demissão declarou demitir-se para evitar que o país caísse num «pântano político», devido à falta de apoio ao governo que os resultados autárquicos indicavam.
Sucederam-lhe Ferro Rodrigues, na liderança do PS, e Durão Barroso, do PSD na chefia do governo.
Assumiu desde a sua saída de primeiro-ministro, em 2002, até 2005, a função de consultor do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos.
Em 2005 viria a ser nomeado para o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Manteve-se nesse cargo até 2015. Esteve presente na reunião de 2012 dos Bilderberg na Alemanha nessa mesma qualidade.
A 7 de abril de 2016, tomou posse como conselheiro de Estado, designado pelo presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, tendo acabado por renunciar ao mandato após a sua eleição como Secretário-Geral da ONU, em 24 de novembro de 2016.
Secretário-geral das Nações Unidas
Um ano depois de abandonar o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Guterres foi escolhido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas numa votação informal e à porta fechada, como o candidato ideal para secretário-geral das Nações Unidas, com treze votos a favor e nenhum veto — o que significa nenhum voto negativo dos estados membros permanentes do Conselho de Segurança (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia). Em suma, na última de seis votações informais, realizada a 29 de setembro de 2016, e cujos resultados foram clarificados em 5 de outubro de 2016 (data da divulgação do sentido de voto dos membros permanentes do CSNU), Guterres conseguiu 13 votos de encorajamento e dois sem opinião; de entre os membros permanentes houve quatro votos de encorajamento e um sem opinião. Para trás ficou a candidata búlgara Kristalina Georgieva, apoiada pela Alemanha, que obteve oito votos negativos.
A votação oficial e definitiva por parte do CSNU ocorreu em 6 de outubro de 2016, por volta das 15h00 (hora de Portugal Continental) e nomeou, de forma definitiva e oficial, o antigo primeiro-ministro Português o escolhido pelo Conselho. Dessa forma, o novo secretário-geral da ONU só foi nomeado oficialmente quando a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou com uma maioria simples a resolução que indica a sua nomeação.
Guterres tomou posse do novo cargo no dia 1 de janeiro de 2017. Em 18 de junho de 2021 foi reeleito pela Assembleia Geral para um novo mandato de mais cinco anos.
Cargos e diplomas
Licenciado em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, com média final de 19 valores
Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Indústria e Energia dos I, II e III Governos Provisórios
Deputado à Assembleia da República, pelos círculos de Lisboa e Castelo Branco; no Parlamento virá a desempenhar a função de presidente das comissões de Economia e Finanças (1977-1979) e de Administração do Território, Poder Local e Ambiente (1985-1988), bem como à comissão de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (1983)
Secretário-geral do Partido Socialista entre 1992 e 2002
Primeiro-ministro dos XIII e XIV governos constitucionais, entre outubro de 1995 e abril de 2002.
Presidente da Internacional Socialista, entre novembro de 1999 e junho de 2005
Alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, entre junho de 2005 e dezembro de 2015
Doutoramento Honoris Causa na área das Ciências Sociais e Humanas pela Universidade da Beira Interior
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Coimbra (Faculdade de Economia) (2016)
Doutoramento Honoris Causa pela Universidad Europea de Madrid
Conselheiro de Estado do Presidente da República de Portugal entre março de 2016 e dezembro de 2016
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas desde janeiro de 2017
Doutoramento Honoris Causa pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa (19 de fevereiro de 2018)
Condecorações
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul do Brasil (23 de julho de 1996)
Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Polónia (22 de setembro de 1997)
Grande-Oficial da Ordem da República Oriental do Uruguai (10 de dezembro de 1998)
Banda de Primeira Classe da Ordem Mexicana da Águia Azteca do México (2 de julho de 1999)
Grã-Cruz da Ordem de Honra da Grécia (17 de março de 2000)
Grande-Cordão da Ordem de Leopoldo I da Bélgica (9 de outubro de 2000)
Primeiro Grau da Ordem de Amílcar Cabral de Cabo Verde (27 de abril de 2001)
Grã-Cruz da Ordem do Mérito do Chile (30 de setembro de 2001)
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito de França (4 de fevereiro de 2002)
Cavaleiro de Grã-Cruz da Ordem do Mérito da República Italiana de Itália (1 de abril de 2002)
Grande-Colar da Ordem de Mérito do Grão-Pará do Brasil (4 de abril de 2002)
Grã-Cruz da Ordem do Príncipe Jaroslav o Sábio da Ucrânia (4 de abril de 2002)
Grande-Cordão da Ordem do Sol Nascente do Japão (4 de abril de 2002)
Grã-Cruz da Ordem da República da Tunísia (4 de abril de 2002)
Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo de Portugal (9 de junho de 2002)
Colar da Ordem de Timor-Leste de Timor-Leste (30 de Agosto de 2009)
Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal (2 de fevereiro de 2016)
Cronologia sumária
Ligações externas
Naturais de Lisboa
Alunos do Instituto Superior Técnico
Engenheiros eletrotécnicos de Portugal
Professores do Instituto Superior Técnico
Políticos do Partido Socialista (Portugal)
Deputados da Assembleia da República Portuguesa
Líderes partidários de Portugal
Líderes da oposição de Portugal
Primeiros-ministros da Terceira República Portuguesa
Membros do Conselho de Estado de Portugal
Grã-cruzes da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul
Grã-Cruzes da Ordem Militar de Cristo
Altos-comissários das Nações Unidas para os Refugiados
Grã-Cruzes da Ordem da Liberdade
Doutores honoris causa pela Universidade de Coimbra
Católicos de Portugal
Doutores honoris causa pela Universidade da Beira Interior
Doutores honoris causa pela Universidade de Lisboa |
Emile Salomon Wilhelm Herzog (Elbeuf, 26 de julho de 1885 — 9 de outubro de 1967) foi um romancista e ensaísta francês.
Seu pseudônimo André Maurois tornou-se seu nome legal em 1947.
Seus primeiros livros foram O Silêncio do Coronel Branbles e Os discursos do dr. O'Grady, que obtiveram sucesso. Entretanto, sua consagração no mundo literário ocorreu com a publicação de três biografias, as de Byron, Shelley e Disraeli.
Tornou-se membro da Academia Francesa em 1938.
Obras
(Lista não exaustiva)
1918 - Les Silences du colonel Bramble. Contém a tradução de André Maurois do poema célebre de Rudyard Kipling If— (traducção muitas vezes atribuída erradamente a Paul Éluard)
1919 - Ni ange ni bête ficção histórica
1922 - Bernard Quesnay, aparecendo em 1926 numa versão revista, sob o título: La Hausse et la Baisse.
1922 - Les Discours du docteur O'Grady. Tem as personagens de Bramble.
1923 - Ariel ou la Vie de Percy Bysshe Shelley biografia-frontispício de Maxime Dethomas.
1924 - Dialogue sur le commandement, ensaio.
1926 - La Hausse et la Baisse, romance
1926 - Meïpe ou la Délivrance, conto e novela
1927 - La Vie de Benjamin Disraeli , estudo histórico.
1927 - Études anglaises, ensaio.
1927 - Le Chapitre suivant , 1ª versão
1928 - Climats, considerada a sua obra-prima.
1928 - Voyage au pays des Articoles, conto e novela
1928 - Le Pays des trente-six mille volontés, conto de fantasia
1930 - Don Juan ou la vie de George Gordon Byron , biografia.
1930 - Relativisme, ensaio.
1931 - Hubert Lyautey, biografia
1931 - Ivan Tourgueniev , biografia.
1931 - Le Peseur d'âmes evoca a teoria do peso da alma
1932 - Le Côté de Chelsea, romance, Gallimard.
1932 - Mes songes que voici (Paris, Grasset)
1932 - Le cercle de famille, romance
1933 - Chantiers américains 1933 - Édouard VII du Royaume-Uni et son temps, biografia.
1934 - L'Instinct du bonheur, romance
1934 - Sentiments et coutumes, ensaio
1935 - Voltaire, biografia.
1935 - Premiers contes, contos, Rouen, H. Defontaine
1937 - Histoire de l'Angleterre, História.
1937 - La machine à lire les pensées, conto e novela.
1938 - René ou la Vie de François-René de Chateaubriand biografia e estudo literário
1939 - Un art de vivre, ensaio
1939 - L’Empire français - livraria Hachette, ilustrações de Auguste Leroux. Álbum para crianças apresentando o Império Colonial Francês.
1939 - États-Unis 1939, Paris 1939.
1939 - Discours prononcé dans la séance publique de sa réception à l'Académie Française le jeudi 22 juin 1939. éd. Firmin Didot et Cie.
1943 - Toujours l'inattendu arrive
1943 - Histoire des États-Unis, História.
1946 - Journal des États-Unis 1946, Paris 1946.
1946 - Terre promise, romance.
1946 - Sept visages de l'amour, ensaio.
1947 - Nouveaux discours du Docteur O'Grady. Esta obra evoca, entre outros assuntos, a guerra mundial entre estas duas espécies de formigas, Pheidoles e Iridomyrmex . Este livro, que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, marca o progresso intelectual tem sido feito desde o primeiro. As ideias de Sartre como a nova situação criada pela bomba atómica.
1947 - Histoire de France (éditions Dominique Wapler, 1947) História.
1947 - Des mondes impossibles, conto e novela
1948 - Rouen dévasté, ensaio. éd. Nagel 1948.
1949 - À la recherche de Marcel Proust, estudo e biografia literária. Éditions Hachette
1950 - Alain, estudo e biografia literária
1951 - Ce que je crois, essai. Edt Grasset 1951.
1952 - Lélia ou la Vie de George Sand, estudo e biografia literária
1952 - Destins exemplaires, ensaio.
1954 - Olympio ou la Vie de Victor Hugo estudo e biografia literária
1954 - Femmes de Paris, Plon éditeur.
1956 - Lettres à l'inconnue 1957 - Lecture, mon doux plaisir, ensaio.
1957 - Les Trois Dumas, biografia
1957 - Robert et Elizabeth Browning, biografia
1958 - L'Impromptu de Barentin, Festival de Barentin
1959 - Portrait d'un ami qui s'appelait moi 1960 - Le Monde de Marcel Proust Éditions Hachette, estudo histórico e literário
1962 - Les Deux Géants - Histoire des États-Unis et de l'U.R.S.S : De 1917 à nos jours, com Aragon. Robert Laffont.
1965 - Prométhée ou la Vie de Honoré de Balzac, estudo histórico e literário
1956 - Les Roses de septembre, romance
1959 - La Vie de sir Alexander Fleming, biografia.
1960 - Pour piano seul, conto novela.
1961 - Adrienne ou la Vie de Adrienne de La Fayette , biografia.
1964 - La Conversation, ensaio
1966 - Au commencement était l'action, ensaio.
1967 - Le Chapitre suivant 2ª versão
Un art de vivre Magiciens et logiciens Lettre ouverte à un jeune homme sur la conduite de la vie La Maison Snobisme dans l'art Aspect de la biographie''
Romancistas da França
Ensaístas da França
Correspondentes da Academia Brasileira de Letras
Convertidos ao catolicismo romano
Judeus da França
Pessoas da Segunda Guerra Mundial (França)
Escritores em língua francesa
Membros da Academia Francesa |
Um é um dispositivo transdutor que converte um sinal elétrico em ondas sonoras correspondentes. O tipo de alto-falante mais utilizado na atualidade é o alto-falante dinâmico, inventado em 1925 por Edward W. Kellogg e Chester W. Rice. O alto-falante dinâmico opera no mesmo princípio básico de um microfone dinâmico, mas ao contrário, para produzir som a partir de um sinal elétrico.
São divididos em faixas de frequência de trabalho em tweeter (agudos), mid-range ou squawker (médios), extended range (médios e graves) e woofer (graves). Alto-falantes do tipo full-range (gama cheia) são capazes de reproduzir todas as frequencias de sons audíveis
Há muitas décadas é um produto usado amplamente no mundo nos mais variados setores e a um custo relativamente acessível. Também dá a vantagem de poder ser recondicionado, mesmo por amadores, já que é uma peça um tanto frágil. Pode rasgar o cone ou queimar.
História
Até os anos 20 do século XX existiam somente os fonógrafos mecânicos. Estes eram dispositivos a corda que consistiam de um cone (corneta acústica) e, na base deste, um diafragma que vibrava quando a agulha passava pelos sulcos dos discos. A amplificação era mecânica, e não tinham potência sonora suficiente para serem ouvidos em grandes ambientes.
Com o advento da válvula termoiônica, houve a necessidade de se criar um dispositivo capaz de transformar os sinais elétricos amplificados pelas válvulas em sinais sonoros; estes dispositivos são os alto-falantes ou altifalantes, que surgiram em meados de 1924, inicialmente para os fonógrafos elétricos, logo em seguida para os receptores de rádio.
Os fonógrafos elétricos já possuíam maior potência, pois a agulha fonocaptora gerava uma vibração equivalente ao som gravado nos sulcos do disco, vibração esta que era convertida em sinais elétricos, amplificados por um transformador de tensão que fazia o diafragma de um alto-falante vibrar, porém com maior volume que o som gerado originalmente pelo fonocaptor mecânico.
Já os fonógrafos eletrônicos possuíam, além de maior potência, maior qualidade sonora, pois como nos fonógrafos mecânico e elétrico, as vibrações dos sulcos do disco iam para a agulha que era ligada a um diafragma, porém este diafragma transformava através de um cone móvel sobre uma bobina dentro de um ímã minúsculo, a vibração mecânica em ondas elétricas, o sinal era transportado até uma válvula eletrônica pré amplificadora, onde ganhava maior potência, para em seguida ir para uma segunda válvula, agora amplificadora. A válvula de potência entregava o sinal elétrico muitas vezes amplificado a um transformador de potência, que induzia a tensão elétrica na bobina central do alto-falante, presa a um cone de papel. A bobina estava inserida num ímã potente, e, dentro de seu campo magnético, quando a tensão gerava uma corrente elétrica, a bobina vibrava na mesma freqüência da agulha fonocaptora, porém com maior intensidade, transferindo esta vibração para o cone de papel, fazendo o ar vibrar e consequentemente gerando o som audível à plena potência.
Surgiu, assim, o alto-falante de bobina móvel, desenvolvido pelos norte-americanos em 1924 por Chester Rice e Edward Kellogg. A simplicidade de sua construção mecânica e a boa qualidade de reprodução sonora possibilitadas pelo novo dispositivo fizeram com que ele permanecesse praticamente inalterado até hoje.
Uma curiosidade é que muitos escrevem "auto-falante", um erro. É uma peça passiva(recebe sinal) e nao automática. Daí ser um alto-falante,que toca ou "fala" alto.
Funcionamento
No alto-falante ocorre a transformação inversa àquela do microfone: a corrente elétrica é transformada em vibrações mecânicas do ar, reconstituindo o som inicial. Para tanto, é necessário o uso de uma bobina, um diafragma (um cone circular ou elíptico, geralmente de papelão ou polipropileno), um ímã permanente (ou um eletroímã) e uma suspensão chamada centragem. O diafragma fica preso à carcaça de metal por meio de um sistema de suspensão de borracha ou espuma localizado ao redor de sua borda externa. Na parte central do cone fica a bobina, posicionada entre os pólos de um ímã permanente e em suspensão pela centragem(aranha), um disco de tecido ondulado grosso coberto com resina que com a borda do cone faz o trabalho da suspensão,da vibração.
Liga-se o enrolamento da bobina aos fios de saída do amplificador. A corrente elétrica nos condutores (fios), induz um campo magnético na bobina que interage com o campo natural do ímã permanente, criando uma reação de atração ou repulsão - conseqüentemente gerando o movimento do diafragma. Esse deslocamento cria uma perturbação ritmada no ar (onda sonora).
Em termos de qualidade sonora vale destacar que o falante tem seu som mais otimizado quando associado a uma caixa acústica ou espaço fechado que o envolva. Porquê aí se terá a acústica necessária,uma pressão aérea que fará o som mais forte e bonito. Não é errado dizer,tecnicamente, que um falante sem caixa/compartimento esteja incompleto.
Tipos de alto-falantes:
Alto-falante dinâmico ou de bobina móvel: Aquele em que uma bobina móvel, ligada mecanicamente a um diafragma flexível, se move pela ação de forças magnéticas.
Alto-falante eletrostático: Alto-falante em que a membrana elástica é acionada por forças eletrostáticas.
Alto-falante piezoelétrico: Funcionam através do princípio da piezoeletricidade, convertendo sinais elétricos aplicados em materiais cerâmicos em vibrações. Por suas características são mais usados na reprodução de sons agudos.
Ver também
Alta-fidelidade
Altura (música)
Aparelho de som
Audição
Audiofilia
Baixa fidelidade
Caixa acústica - diferentes tipos de caixas acústicas e suas propriedades
Engenharia acústica
Estereofonia
Impedância
Potência de áudio
Thiele/Small - parâmetros de um alto-falante que descrevem sua característica
Timbre
Bibliografia
Manual de Caixas-acusticas E Alto-falantes. Francisco Ruiz Vassallo, Editora Hemus, 2005. ISBN 9788528905533 Adicionado em 9 de setembro de 2015.
Tecnologia musical
Som
Componentes elétricos
Engenharia do som |
Alemães — povo proveniente da Alemanha
Língua alemã
Bundesliga ou Campeonato Alemão de Futebol
Algo relacionado à Alemanha
Complexo do Alemão — conjunto de favelas no Rio de Janeiro
Alemão (filme) — produção brasileira com Caio Blat e Gabriel Braga Nunes
Personalidades apelidadas de "Alemão"
Ricardo Rogério de Brito — ex-futebolista, defendeu a Seleção Brasileira na Copa de 1986
Sandro Hélio Muller — ex-futebolista brasileiro, jogou no Botafogo e no Volta Redonda
Carlos Adriano de Jesus Soares — ex-futebolista brasileiro, jogou no Coritiba
José Carlos Tofolo Júnior — futebolista brasileiro, defende o EC Vitória
Olmir Stocker — guitarrista brasileiro
Desambiguações de gentílicos |
Brasil (), oficialmente República Federativa do Brasil (), é o maior país da América do Sul e da região da América Latina, sendo o quinto maior do mundo em área territorial (equivalente a 47,3% do território sul-americano), com km², e o sexto em população (com mais de 207,8 milhões de habitantes). É o único país na América onde se fala majoritariamente a língua portuguesa e o maior país lusófono do planeta, além de ser uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas, em decorrência da forte imigração oriunda de variados locais do mundo. Sua atual Constituição, promulgada em 1988, concebe o Brasil como uma república federativa presidencialista, formada pela união dos 26 estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Banhado pelo Oceano Atlântico, o Brasil tem um litoral de e faz fronteira com todos os outros países sul-americanos, exceto Chile e Equador, sendo limitado a norte pela Venezuela, Guiana, Suriname e pelo departamento ultramarino francês da Guiana Francesa; a noroeste pela Colômbia; a oeste pela Bolívia e Peru; a sudoeste pela Argentina e Paraguai e ao sul pelo Uruguai. Vários arquipélagos formam parte do território brasileiro, como o Atol das Rocas, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha (o único destes habitado por civis) e Trindade e Martim Vaz. O Brasil também é o lar de uma diversidade de animais selvagens, ecossistemas e de vastos recursos naturais em uma grande variedade de habitats protegidos.
O território que atualmente forma o Brasil foi oficialmente descoberto pelos portugueses em 22 de abril de 1500, em expedição liderada por Pedro Álvares Cabral. Segundo alguns historiadores como Antonio de Herrera e Pietro d'Anghiera, o encontro do território teria sido três meses antes, em 26 de janeiro, pelo navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón, durante uma expedição sob seu comando. A região, então habitada por indígenas ameríndios divididos entre milhares de grupos étnicos e linguísticos diferentes, cabia a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, e tornou-se uma colônia do Império Português. O vínculo colonial foi rompido, de fato, quando em 1808 a capital do reino foi transferida de Lisboa para a cidade do Rio de Janeiro, depois de tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte invadirem o território português. Em 1815, o Brasil se torna parte de um reino unido com Portugal. Dom Pedro I, o primeiro imperador, proclamou a independência política do país em 1822. Inicialmente independente como um império, período no qual foi uma monarquia constitucional parlamentarista, o Brasil tornou-se uma república em 1889, em razão de um golpe militar chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca (o primeiro presidente), embora uma legislatura bicameral, agora chamada de Congresso Nacional, já existisse desde a ratificação da primeira Constituição, em 1824. Desde o início do período republicano, a governança democrática foi interrompida por longos períodos de regimes autoritários, até um governo civil e eleito democraticamente assumir o poder em 1985, com o fim da ditadura militar.
Como potência regional e média, a nação tem reconhecimento e influência internacional, sendo que também é classificada como uma potência global emergente e como uma potencial superpotência por vários analistas. O PIB nominal brasileiro foi o décimo segundo maior do mundo e o oitavo por paridade do poder de compra (PPC) em 2020. O país é um dos principais celeiros do planeta, sendo o maior produtor de café dos últimos 150 anos, além de ser classificado como uma economia de renda média-alta pelo Banco Mundial e como um país recentemente industrializado, que detém a maior parcela de riqueza global da América do Sul. No entanto, o país ainda mantém níveis notáveis de corrupção, criminalidade e desigualdade social. É membro fundador da Organização das Nações Unidas (ONU), G20, BRICS, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), União Latina, Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Etimologia
As raízes etimológicas do termo "Brasil" são de difícil reconstrução. O filólogo Adelino José da Silva Azevedo postulou que se trata de uma palavra de procedência celta (uma lenda que fala de uma "terra de delícias", vista entre nuvens), mas advertiu também que as origens mais remotas do termo poderiam ser encontradas na língua dos antigos fenícios. Na época colonial, cronistas da importância de João de Barros, frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gândavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" é derivado de "pau-brasil", designação dada a um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos. Na época dos descobrimentos, era comum aos exploradores guardar cuidadosamente o segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim de explorá-lo vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que haviam descoberto certa "ilha Brasil" no meio do oceano Atlântico, de onde extraíam o pau-brasil (madeira cor de brasa). Antes de ficar com a designação atual, "Brasil", as novas terras descobertas foram designadas de: Monte Pascoal (quando os portugueses avistaram terras pela primeira vez), Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Nova Lusitânia, Cabrália, Império do Brasil e Estados Unidos do Brasil. Os habitantes naturais do Brasil são denominados brasileiros, cujo gentílico é registrado em português a partir de 1706 e referia-se inicialmente apenas aos que comercializavam pau-brasil.
História
Período pré-colonial
Estima-se que os primeiros seres humanos tenham ocupado a região que compreende o atual território brasileiro há cerca de 60 mil anos. Quando encontrada pelos europeus em 1500, a América do Sul tinha sua costa oriental habitada por cerca de dois milhões de nativos, do norte ao sul.
A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os grandes grupos tupi-guarani, macro-jê e aruaque. Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros outros.
Os tupis espalhavam-se do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje, sendo a primeira raça indígena que teve contato com o colonizador, na região denominada Pindorama (da língua tupi "Terra das Palmeiras"), e decorrentemente a de maior presença, com influência no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se fixava".
As fronteiras entre esses grupos e seus subgrupos, antes da chegada dos europeus, eram demarcadas pelas guerras entre os mesmos, oriundas das diferenças de cultura, língua e costumes. Guerras essas que também envolviam ações bélicas em larga escala, em terra e na água, com a antropofagia ritual sobre os prisioneiros de guerra.
Embora a hereditariedade tivesse algum peso, a liderança era um status mais conquistado ao longo do tempo, do que atribuído em cerimônias e convenções sucessórias.
A escravidão entre os indígenas tinha um significado diferente da escravidão europeia, uma vez que se originava de uma organização socioeconômica diversa, na qual as assimetrias eram traduzidas em relações de parentesco.
Colonização europeia
Embora supostamente o português Duarte Pacheco Pereira e o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón tenham sido os primeiros europeus a chegar à terra agora chamada de Brasil (cuja viagem de Pinzón terá sido documentada ao atingir o cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500), o território foi reivindicado por Portugal em 22 de abril do mesmo ano, com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, no atual estado da Bahia, em função do Tratado de Tordesilhas.
A colonização do Brasil foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em quatorze capitanias hereditárias, mas esse arranjo se mostrou problemático, uma vez que apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente prosperaram. Então, em 1549, o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a colônia. Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas, enquanto outras foram escravizadas ou exterminadas por doenças europeias a que não tinham imunidade, ou em longas guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus aliados europeus.
Em meados do século XVI, quando o açúcar de cana tornou-se o mais importante produto de exportação do Brasil, os portugueses iniciaram a importação de escravos africanos, comprados nos mercados de escravos da África Ocidental. Assim, esses começaram a ser trazidos ao Brasil, inicialmente para lidar-se com a crescente demanda internacional do produto, naquele que foi denominado ciclo do açúcar.
Ignorando o tratado de Tordesilhas de 1494, os portugueses, através de expedições conhecidas como bandeiras, paulatinamente avançaram sua fronteira colonial na América do Sul para onde se situa a maior parte das atuais fronteiras brasileiras, tendo passado os séculos XVI e XVII defendendo tais conquistas contra potências rivais europeias. Desse período destacam-se os conflitos que rechaçaram as incursões coloniais francesas (no Rio de Janeiro em 1567 e no Maranhão em 1615) e que, após o fim da União Ibérica, expulsaram os holandeses do nordeste, na chamada Insurreição Pernambucana — sendo o conflito com os holandeses parte integrante da Guerra Luso-Holandesa.
Ao final do século XVII, devido à concorrência colonial as exportações de açúcar brasileiro começaram a declinar, mas a descoberta de ouro pelos bandeirantes na década de 1690 abriu um novo ciclo para a economia extrativista da colônia, promovendo uma febre do ouro no Brasil, que atraiu milhares de novos colonos, vindos não só de Portugal, mas também de outras colônias portuguesas ao redor do mundo, o que por sua vez acabou gerando conflitos (como a Guerra dos Emboabas), entre os antigos colonos e os recém-chegados.
Para garantir a manutenção da ordem colonial interna, além da defesa do monopólio de exploração econômica do Brasil, o foco da administração colonial portuguesa concentrou-se tanto em manter sob controle e erradicar as principais formas de rebelião e resistência dos escravos (a exemplo do Quilombo dos Palmares), como em reprimir todo movimento por autonomia ou independência política (como a Inconfidência Mineira).
Reino unido com Portugal
No final de 1807, forças espanholas e napoleônicas ameaçaram a segurança de Portugal Continental, fazendo com que o Príncipe Regente D. João VI, em nome da rainha Maria I, transferisse a corte real de Lisboa ao Brasil. O estabelecimento da corte portuguesa trouxe o surgimento de algumas das primeiras instituições brasileiras, como bolsas de valores locais e um banco nacional, e acabou com o monopólio comercial que Portugal mantinha sobre o Brasil, liberando as trocas comerciais com outras nações. Em 1809, em retaliação por ter sido forçado a um "autoexílio" no Brasil, o príncipe regente ordenou a conquista portuguesa da Guiana Francesa.
Com o fim da Guerra Peninsular em 1814, os tribunais europeus exigiram que a rainha Maria I e o príncipe regente D. João regressassem a Portugal, já que consideravam impróprio que representantes de uma antiga monarquia europeia residissem em uma colônia. Em 1815, para justificar a sua permanência no Brasil, onde a corte real tinha prosperado nos últimos seis anos, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi criado, estabelecendo, assim, um Estado monárquico transatlântico e pluricontinental. No entanto, isso não foi suficiente para acalmar a demanda portuguesa pelo retorno da corte para Lisboa, como a revolução liberal do Porto exigiria em 1820, e nem o desejo de independência e pelo estabelecimento de uma república por grupos de brasileiros, como a Revolução Pernambucana de 1817 mostrou. Em 1821, como uma exigência de revolucionários que haviam tomado a cidade do Porto, D. João VI foi incapaz de resistir por mais tempo e partiu para Lisboa, onde foi obrigado a fazer um juramento à nova constituição, deixando seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, como Regente do Reino do Brasil.
Independência e Império
Em decorrência desses acontecimentos, a coroa portuguesa tentou, mais uma vez, transformar o Brasil em uma colônia, privando o país do estatuto de Reino, adquirido em 1815. Os brasileiros se recusaram a ceder e D. Pedro ficou com eles, declarando a independência do país do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 7 de setembro de 1822. Em 12 de outubro de 1822, Pedro foi declarado o primeiro imperador do Brasil e coroado D. Pedro I em 1 de dezembro do mesmo ano, fundando, assim, o Império do Brasil.
A guerra da independência do Brasil, iniciada ao longo deste processo, propagou-se pelas regiões norte, nordeste e ao sul na província de Cisplatina. Os últimos soldados portugueses renderam-se em 8 de março de 1824, sendo a independência reconhecida por Portugal em 29 de agosto de 1825, no tratado do Rio de Janeiro.
A primeira constituição brasileira foi outorgada em 25 de março de 1824, após a sua aceitação pelos conselhos municipais de todo o país. Exaurido no Brasil por anos de exercício do poder moderador, período no qual também enfrentou em Pernambuco o movimento separatista conhecido como Confederação do Equador, e inconformado com o rumo que os absolutistas portugueses haviam imprimido à sucessão de D. João VI, D. Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho de cinco anos e herdeiro (que viria a ser o imperador Dom Pedro II), e retornou à Europa a fim de recuperar a coroa para sua filha. Como o novo imperador não poderia, até atingir a maturidade, exercer suas prerrogativas constitucionais, a regência foi adotada.
Durante o período regencial ocorreu uma série de rebeliões localizadas, como a Cabanagem, a Revolta dos Malês, a Balaiada, a Sabinada e a Revolução Farroupilha, decorrentes do descontentamento das províncias com o poder central e das tensões sociais latentes de uma nação escravocrata e recém-independente. Em meio a esta agitação, D. Pedro II foi declarado imperador prematuramente em 23 de julho de 1840. Porém, somente ao final daquela década, as últimas revoltas do período regencial e outras posteriores, como a Revolução Praieira, foram debeladas e o país pôde voltar a uma relativa estabilidade política interna.
Internacionalmente, após a perda de Cisplatina, que se tornou o Uruguai, o Brasil saiu vitorioso de três guerras no Cone Sul durante o reinado de Dom Pedro II: a guerra do Prata, a guerra do Uruguai e a guerra do Paraguai naquele que, além de ter sido um dos maiores conflitos da história (o maior da América do Sul), foi o que exigiu o maior esforço de guerra na história do país.
Concernente à questão da escravidão no país, somente após anos de pressão comercial e marítima exercida pelo Reino Unido, em decorrência da lei "Bill Aberdeen", o Brasil concordou em abandonar o tráfico internacional de escravos, em 1850. Apesar disso e da repercussão internacional, dos efeitos políticos e econômicos decorrentes da derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil Americana durante a década de 1860, foi apenas em 1888, após um longo processo de mobilização interna e debate para a desmontagem moral e legal da escravidão, que essa foi formalmente abolida no Brasil.
Em 15 de novembro de 1889, desgastada por anos de estagnação econômica, em atrito com a oficialidade do Exército e também com as elites rurais e financeiras (embora por razões diferentes), a monarquia foi derrubada por um golpe militar.
Primeira República e Era Vargas
Com o início do governo republicano, sendo pouco mais do que uma ditadura militar, a então nova constituição de 1891 previa eleições diretas apenas para 1894 e, embora abolisse a restrição do período monárquico que estabelecia direito ao voto apenas aos que tivessem determinado nível de renda, mantinha o exercício do voto em caráter aberto (não secreto) e, entre outras restrições, circunscrito apenas aos homens, alfabetizados, numa época em que a população do país era majoritariamente analfabeta.
Neste primeiro período, o país republicano manteve um relativo equilíbrio em relação à política externa, que só foi rompido pela questão acriana (1899–1902) e pelo envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Internamente, a partir da crise do encilhamento e da 1ª Revolta da Armada em 1891, iniciou-se um ciclo prolongado de instabilidade financeira, política e social que se estenderia até a década de 1920, mantendo o país assolado por diversas rebeliões, tanto civis como militares. Pouco a pouco, estas rebeliões minaram o regime de tal forma que, em 1930, foi possível ao candidato presidencial derrotado nas eleições daquele ano, Getúlio Vargas, na esteira do assassinato de João Pessoa, seu companheiro de chapa, liderar a Revolução de 1930, com o apoio dos militares, e assumir a presidência da república.
Vargas e os militares, que deveriam assumir a presidência apenas temporariamente a fim de implementar reformas democráticas, fecharam o congresso nacional brasileiro e seguiram governando sob estado de emergência, tendo feito a intervenção federal de todos os estados, à exceção de Minas Gerais, substituindo os governadores dos estados por interventores federais, que eram seus apoiadores políticos.
Sob a justificativa de cobrar a implementação das promessas de reformas democráticas em uma nova constituição, em 1932 a oligarquia paulista tentou recuperar o poder através de uma revolução armada e, em 1935, os comunistas se rebelaram na Intentona Comunista, tendo ambos os movimentos sido derrotados. No entanto, a ameaça comunista serviu de pretexto tanto para impedir as eleições previamente estipuladas, como para que Vargas e os militares lançassem mão de outro golpe de Estado em 1937 estabelecendo o Estado Novo, formalizando assim o status ditatorial do regime. Em maio de 1938, houve o Levante integralista, ainda outra tentativa fracassada de tomada de poder, desta vez por parte dos nacionalistas.
O Brasil manteve-se neutro durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939–1945) até os antecedentes que o levaram a postar-se ao lado dos Estados Unidos durante a Conferência Interamericana de 1942, realizada no Rio de Janeiro em janeiro, rompendo relações diplomáticas com as potências do Eixo. Em represália, as marinhas de guerra da Alemanha nazista e Itália fascista estenderam sua campanha de guerra submarina ao Brasil e, após meses de contínuo afundamento de navios mercantes brasileiros e forte pressão popular, o governo declarou-lhes guerra em agosto daquele ano, tendo somente em 1944 enviado uma força expedicionária para combater na Europa. Com a vitória aliada em 1945 e o fim dos regimes nazifascistas na Europa, a posição de Vargas tornou-se insustentável e ele foi rapidamente deposto por outro golpe militar. A democracia foi "restabelecida" e o general Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente, tomando posse em 1946. Tendo voltado ao poder democraticamente eleito em 1950, Vargas suicidou-se em agosto de 1954, em meio a uma crise política.
Quarta República e ditadura militar
Vários governos provisórios breves sucederam-se após o suicídio de Vargas. Em 1955, através de eleições diretas, Juscelino Kubitschek tornou-se presidente e assumiu uma postura conciliadora em relação à oposição política, o que lhe permitiu governar sem grandes crises. A economia e o setor industrial cresceram consideravelmente, mas sua maior conquista foi a construção da nova capital, Brasília, inaugurada em 1960.
O sucessor de Kubitschek, Jânio Quadros, eleito em 1960, renunciou em 1961 menos de sete meses após assumir o cargo. Seu vice-presidente, João Goulart, assumiu a presidência, mas suscitou forte oposição política e foi deposto pelo Golpe de 1964 que resultou em um regime militar.
O novo regime se destinava a ser transitório, mas, cada vez mais fechado em si mesmo, tornou-se uma ditadura plena com a promulgação do Ato Institucional Nº 5 em 1968. A censura e a repressão em todas as suas formas, incluindo a tortura, não se restringiram aos políticos oposicionistas e militantes de esquerda. A sua ação alcançou a todos aqueles a quem o regime encarava como opositores, ou a eles ligados, o que abrangeu praticamente todos os setores sociais; entre eles artistas, estudantes, jornalistas, clérigos, sindicalistas, professores, intelectuais, além dos próprios militares e policiais que demonstrassem não estarem alinhados com o regime e familiares de presos políticos.
Através da Operação Condor, o governo brasileiro também participou na perseguição internacional a dissidentes sul-americanos em geral. A exemplo de outros regimes ditatoriais na história, o regime militar brasileiro atingiu o auge de sua popularidade num momento de alto crescimento econômico, que ficou conhecido como "milagre econômico", momento este que coincidiu com o auge da repressão.
Lentamente, no entanto, o desgaste natural de anos de poder ditatorial, que não abrandou a repressão mesmo após a derrota da guerrilha de esquerda, somado à inabilidade em lidar com as crises econômicas do período, o crescimento da oposição política nas eleições regionais e ainda as pressões populares, tornaram inevitável a abertura política do regime que, por seu lado, foi conduzida pelos generais Geisel e Golbery. Com a promulgação da Lei da Anistia em 1979, o Brasil lentamente iniciou a volta à democracia, que se completaria na década de 1980.
Sexta República
Após o movimento popular das Diretas Já, os civis voltaram ao poder em 1985 inaugurando a chamada Nova República, com a eleição do oposicionista Tancredo Neves, que, entretanto, não assumiu o cargo devido à morte decorrente de uma grave doença. Seu vice, José Sarney, assumiu a presidência, tornando-se impopular ao longo de seu mandato por conta da piora da crise econômica e hiperinflação herdadas do regime militar, mesmo com uma breve euforia inicial do seu Plano Cruzado. Sarney deu continuidade ao programa de governo de Tancredo Neves instaurando, em 1987, uma Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a atual Constituição brasileira. No entanto, o fracasso do Governo Sarney na área econômica e o consequente desgaste político permitiu a eleição, em 1989, do quase desconhecido Fernando Collor, que posteriormente sofreu processo de impeachment pelo Congresso Nacional brasileiro em 1992, com seu vice-presidente, Itamar Franco, assumindo o cargo em decorrência.
Do novo ministério nomeado por Itamar, com integrantes de praticamente todos os partidos que aprovaram o impeachment de Collor. destacou-se Fernando Henrique Cardoso (FHC), como ministro da Fazenda e coordenador do bem-sucedido Plano Real, que trouxe estabilidade para a economia brasileira, após décadas de inúmeros planos econômicos de governos anteriores que haviam fracassado na tentativa de controlar a hiperinflação. Em consequência, FHC foi eleito presidente na eleição presidencial de 1994 e novamente em 1998. A transição pacífica de poder para seu principal opositor, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2002 e reeleito em 2006, mostrou que o Brasil finalmente conseguiu alcançar a sua muito procurada estabilidade política.
Nas eleições de 2010, Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher eleita presidente. Em junho de 2013, irromperam no país manifestações populares por diversas reivindicações sociais. Após as polarizadas eleições de 2014, Rousseff foi reeleita, no entanto, em 2015, sua rejeição atingiu quase 70% em meio a protestos populares, ao mesmo tempo em que vários políticos eram investigados pela Polícia Federal. Em abril de 2016, a Câmara iniciou um processo de impeachment contra a presidente, que foi ratificado pelo Senado em maio. Rousseff foi deposta em 31 de agosto e seu vice, Michel Temer, assumiu o cargo. Em 2018, o ex-presidente Lula foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Nas eleições daquele ano, elegeu-se presidente o candidato Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), que venceu no segundo turno Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), com o apoio de 55,13% dos votos válidos. No segundo turno das eleições de 2022, o ex-presidente Lula foi eleito pela terceira vez com o apoio de 50,9% do eleitorado, na eleição mais acirrada da história, enquanto Bolsonaro se tornou o primeiro presidente brasileiro a não conseguir se reeleger depois da redemocratização.
Geografia
O território brasileiro é cortado por dois círculos imaginários: a Linha do Equador, que passa pela embocadura do Amazonas, e o Trópico de Capricórnio, que corta o município de São Paulo. O país ocupa uma vasta área ao longo da costa leste da América do Sul e inclui grande parte do interior do continente, compartilhando fronteiras terrestres com Uruguai ao sul; Argentina e Paraguai a sudoeste; Bolívia e Peru a oeste; Colômbia a noroeste e Venezuela, Suriname, Guiana e com o departamento ultramarino francês da Guiana Francesa ao norte. O país compartilha uma fronteira comum com todos os países da América do Sul, exceto Equador e Chile.
O Brasil também engloba uma série de arquipélagos oceânicos, como Fernando de Noronha, Atol das Rocas, São Pedro e São Paulo e Trindade e Martim Vaz. O seu tamanho, relevo, clima e recursos naturais fazem do Brasil um país geograficamente diverso.
O país é o quinto maior do mundo em área territorial, com km², depois de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos, incluindo de água.
Seu território abrange quatro fusos horários, a partir de UTC−5 no Acre e sudoeste do Amazonas; UTC−4 em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e maior parte do Amazonas; UTC−3 (horário oficial do Brasil) em Goiás, Distrito Federal, Pará, Amapá e todos os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul e UTC−2 nas ilhas do Atlântico.
Topografia e hidrografia
A topografia brasileira também é diversificada e inclui morros, montanhas, planícies, planaltos e cerrados. Grande parte do terreno se situa entre duzentos e oitocentos metros de altitude.
A área principal de terras altas ocupa mais da metade sul do país. As partes noroeste do planalto são compostas por terreno, amplo rolamento quebrado por baixo e morros arredondados. A seção sudeste é mais robusta, com uma massa complexa de cordilheiras e serras atingindo altitudes de até metros. Esses intervalos incluem as serras do Espinhaço, da Mantiqueira e do Mar.
No norte, o planalto das Guianas constitui um fosso de drenagem principal, separando os rios que correm para o sul da Bacia Amazônica dos que desaguam no sistema do rio Orinoco, na Venezuela, ao norte. O ponto mais alto no Brasil é o Pico da Neblina, na Serra do Imeri (fronteira com a Venezuela) com metros, e o menor é o Oceano Atlântico.
O Brasil tem um sistema denso e complexo de rios, um dos mais extensos do mundo, com oito grandes bacias hidrográficas, que drenam para o Atlântico. Os rios mais importantes são o Amazonas (o maior rio do mundo tanto em comprimento — quilômetros de extensão — como em termos de volume de água — vazão de 12,5 bilhões de litros por minuto), o Paraná e seu maior afluente, o Iguaçu (que inclui as cataratas do Iguaçu), o Negro, São Francisco, Xingu, Madeira e Tapajós.
Clima
O clima do Brasil dispõe de uma ampla variedade de condições de tempo em uma grande área e topografia variada, mas a maior parte do país é tropical. Segundo o sistema Köppen, o Brasil acolhe seis principais subtipos climáticos: equatorial, tropical, semiárido, tropical de altitude, temperado e subtropical. As diferentes condições climáticas produzem ambientes que variam de florestas equatoriais no Norte e regiões semiáridas no Nordeste, para florestas temperadas de coníferas no Sul e savanas tropicais no Brasil central. Muitas regiões têm microclimas totalmente diferentes.
O clima equatorial caracteriza grande parte do norte do Brasil. Não existe uma estação seca real, mas existem algumas variações no período do ano em que mais chove. Temperaturas médias de , com mais variação de temperatura significativa entre a noite e o dia do que entre as estações. As chuvas no Brasil central são mais sazonais, característico de um clima de savana. Esta região é tão extensa como a bacia amazônica, mas tem um clima muito diferente, já que fica mais ao sul, em uma latitude inferior. O Sul e parte do Sudeste possuem condições de clima temperado, com invernos frescos e temperatura média anual não superior a ; geadas de inverno são bastante comuns, com ocasional queda de neve nas áreas mais elevadas.
No interior do nordeste, a precipitação sazonal é ainda mais extrema. A região de clima semiárido geralmente recebe menos de 800 milímetros de chuva, a maior parte em um período de três a cinco meses no ano e por vezes menos do que isso, resultando em longos períodos de seca. A Grande Seca de 1877–78, a mais grave já registrada no país, causou cerca de meio milhão de mortes. Outra em 1915 foi devastadora também.
Biodiversidade e meio ambiente
A grande extensão territorial do Brasil abrange diferentes ecossistemas, como a Floresta Amazônica, reconhecida como tendo a maior diversidade biológica do mundo. Os rios amazônicos fornecem uma variedade de habitats, incluindo pântanos e riachos, cada um abrigando diferentes tipos de vida selvagem. A mata Atlântica e o cerrado, sustentam também grande biodiversidade, além da caatinga, fazendo do Brasil um país megadiverso. No sul, a floresta de araucárias cresce sob condições de clima temperado.
A rica vida selvagem do Brasil reflete a variedade de habitats naturais. Os cientistas estimam que o número total de espécies vegetais e animais no Brasil seja de aproximadamente de quatro milhões. Grandes mamíferos incluem pumas, onças, jaguatiricas, raros cachorros-vinagre, raposas, queixadas, antas, tamanduás, preguiças, gambás e tatus. Veados são abundantes no sul e muitas espécies de platyrrhini são encontradas nas florestas tropicais do norte. A preocupação com o meio ambiente tem crescido em resposta ao interesse mundial nas questões ambientais.
O patrimônio natural do Brasil está seriamente ameaçado pela pecuária e agricultura, exploração madeireira, mineração, reassentamento, desmatamento, extração de petróleo e gás, a sobrepesca, comércio de espécies selvagens, barragens e infraestrutura, contaminação da água, fogo, espécies invasoras e pelos efeitos do aquecimento global. A construção de estradas em áreas de floresta, tais como a BR-230 e a BR-163, abriu áreas anteriormente remotas para a agricultura e para o comércio; barragens inundaram vales e habitats selvagens e minas criaram cicatrizes na terra e poluíram a paisagem. Em dezembro de 2016, conforme estudos da Embrapa, a vegetação nativa preservada cobria 61% do território brasileiro. A agricultura ocupava 8% do território nacional enquanto as pastagens cobriam 19,7%. Em 2014, segundo o IBGE, o Brasil tinha 3 299 espécies ameaçadas de extinção.
Demografia
A população do Brasil, conforme censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, foi de habitantes (22,43 habitantes por quilômetro quadrado), com uma proporção de homens e mulheres de 0,96:1 e 84,36% da população definida como urbana. A população está fortemente concentrada nas regiões Sudeste (80,3 milhões de habitantes), Nordeste (53,1 milhões) e Sul (27,4 milhões), enquanto as duas regiões mais extensas, o Centro-Oeste e o Norte, que formam quase dois terços do território nacional, contam com um total de apenas trinta milhões de habitantes.
A população brasileira aumentou significativamente entre 1940 e 1970, devido a um declínio na taxa de mortalidade, embora a taxa de natalidade também tenha passado por um ligeiro declínio no período. Na década de 1940 a taxa de crescimento anual da população foi de 2,4%, subindo para 3% em 1950 e permanecendo em 2,9% em 1960, com a expectativa de vida subindo de 44 para 54 anos e para 77 anos em 2021. A taxa de aumento populacional tem vindo a diminuir desde 1960, de 3,04% ao ano entre 1950–1960 para 1,05% em 2008 e deverá cair para um valor negativo, de -0,29%, em 2050, completando assim a transição demográfica.
Urbanização
Os maiores aglomerados urbanos do Brasil, de acordo com a estimativa do IBGE para 2019, são as conurbações de São Paulo (com habitantes), Rio de Janeiro (), Belo Horizonte (), Recife () e Brasília (). Existem também grandes concentrações urbanas no interior do país: Campinas, Baixada Santista, São José dos Campos e Sorocaba, todas no estado de São Paulo. Quase todas as capitais são as maiores cidades de seus estados, com exceção de Vitória, capital do Espírito Santo, e Florianópolis, a capital de Santa Catarina.
Composição étnica
Segundo o IBGE, no censo de 2010 47,1% da população (cerca de 90,6 milhões) se autodeclararam como brancos, 43,42% (cerca de 82,8 milhões) como pardos (multirracial), 7,52% (cerca de 14,4 milhões) como negros; 1,1% (cerca de 2,1 milhões) como amarelos e 0,43% (cerca de 821 mil) como indígenas, enquanto 0,02% (cerca de 36,1 mil) não declararam sua raça.
Em 2007, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) relatou a existência de 67 tribos indígenas isoladas em regiões remotas do Brasil, a maioria delas no interior da Floresta Amazônica. Acredita-se que o Brasil possua o maior número de povos isolados do mundo.
A maioria dos brasileiros descende de povos indígenas do país, colonos portugueses, imigrantes europeus e escravos africanos. Desde a chegada dos portugueses em 1500, um considerável número de uniões entre estes três grupos foi realizado. A população parda é uma categoria ampla que inclui caboclos (descendentes de brancos e indígenas), mulatos (descendentes de brancos e negros) e cafuzos (descendentes de negros e indígenas).
Os pardos e mulatos formam a maioria da população nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A população mulata concentra-se geralmente na costa leste da região Nordeste, da Bahia à Paraíba e também no norte do Maranhão, sul de Minas Gerais e no leste do Rio de Janeiro.
No século XIX o Brasil abriu suas fronteiras à imigração. Cerca de cinco milhões de pessoas de mais de 60 países migraram para o Brasil entre 1808 e 1972, a maioria delas de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Japão e Oriente Médio.
Religiões
A Constituição prevê liberdade de religião, ou seja, proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um país secular.
Em 2000, a religião católica representava 73,6% do total no país. Em 2010, era 64,6%, sendo observada pela primeira vez a redução em números absolutos (de para ). Ainda assim, o perfil religioso brasileiro continua tendo uma maioria predominantemente católica (42,4% a mais que a segunda maior religião do país, o protestantismo). De acordo com o censo de 2010, entre os estados, o Rio de Janeiro apresenta a menor proporção de católicos, 45,8%; e o Piauí, a maior, 85,1%. Já a proporção de evangélicos era maior em Rondônia (33,8%) e menor no Piauí (9,7%).
Em outubro de 2009, foi aprovado pelo Senado e decretado pelo Presidente da República em fevereiro de 2010 um acordo com o Vaticano, em que é reconhecido o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. O acordo confirmou normas que já eram normalmente cumpridas sobre ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental (que assegura também o ensino de outras crenças), casamento e assistência espiritual em presídios e hospitais. O projeto sofreu críticas de parlamentares que entendiam como o fim do Estado laico com a aprovação do acordo.
Idiomas
A língua oficial do Brasil é o português, que é falado por quase toda a população e é praticamente o único idioma usado nos meios de comunicação, nos negócios e para fins administrativos. O país é o único lusófono da América e o idioma tornou-se uma parte importante da identidade nacional brasileira.
O português brasileiro teve o seu próprio desenvolvimento, influenciado por línguas ameríndias, africanas e por outros idiomas europeus. Como resultado, essa variante é um pouco diferente, principalmente na fonologia, do português lusitano. Essas diferenças são comparáveis àquelas entre o inglês americano e o inglês britânico.
Em 2008, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que inclui representantes de todos os países cujo português é o idioma oficial, chegou a um acordo sobre a padronização ortográfica da língua, com o objetivo de reduzir as diferenças entre as duas variantes. A todos os países da CPLP foi dado o prazo de 2009 até 2016 para adaptarem-se às mudanças necessárias.
Idiomas minoritários são falados em todo o país. O censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil, que falam 274 línguas diferentes. Dos indígenas com cinco ou mais anos, 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português. Há também comunidades significativas de falantes do alemão (na maior parte o Hunsrückisch, um dialeto alto-alemão) e italiano (principalmente o talian, de origem vêneta) no sul do país, os quais são influenciados pelo idioma português.
Diversos municípios brasileiros cooficializaram outras línguas, como São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, onde ao nheengatu, tukano e baniwa, que são línguas ameríndias, foi concedido o estatuto cooficial com o português. Outros municípios, como Santa Maria de Jetibá (no Espírito Santo) e Pomerode (em Santa Catarina) também cooficializaram outras línguas alóctones, como o alemão e o pomerano. Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul também possuem o talian como patrimônio linguístico oficial, enquanto o Espírito Santo, em agosto de 2011, incluiu em sua constituição o pomerano, junto com o alemão, como seus patrimônios culturais.
Governo e política
A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da constituição. A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios são as esferas de governo. A Federação está definida em cinco princípios fundamentais: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Os ramos clássicos tripartite de governo (executivo, legislativo e judiciário no âmbito do sistema de controle e equilíbrios) são oficialmente criados pela Constituição. O executivo e o legislativo estão organizados de forma independente em todas esferas de governo, enquanto o judiciário é organizado apenas a nível federal e nas esferas estadual e do Distrito Federal.
Todos os membros do executivo e do legislativo são eleitos diretamente. Juízes e outros funcionários judiciais são nomeados após aprovação em exames de entrada. O voto é obrigatório para os alfabetizados entre 18 e 70 anos e facultativo para analfabetos e aqueles com idade entre 16 e 18 anos ou superior a 70 anos. Quase todas as funções governamentais e administrativas são exercidas por autoridades e agências filiadas ao Executivo. A forma de governo é a de uma república democrática, com um sistema presidencial. O presidente é o chefe de Estado e de Governo e é eleito para um mandato de quatro anos, com a possibilidade de reeleição para um segundo mandato consecutivo. Ele é responsável pela nomeação dos ministros de Estado, que o auxiliam no governo.
As casas legislativas de cada entidade política são a principal fonte de direito no Brasil. O Congresso Nacional é a legislatura bicameral da Federação, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Autoridades do Judiciário exercem funções jurisdicionais, quase exclusivamente. Quase todos os partidos políticos estão representados no Congresso. É comum que os políticos mudem de partido e, assim, a proporção de assentos parlamentares detidos por partidos muda regularmente. Os maiores partidos, de acordo com o número de filiados, são o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Progressistas (PP), Partido Democrático Trabalhista (PDT), União Brasil (UNIÃO), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Liberal (PL), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Republicanos, Cidadania (CDN) e Partido Social Cristão (PSC).
Direito
O direito brasileiro é baseado na tradição do código civil, parte do sistema romano-germânico. Assim, os conceitos de direito civil prevalecem sobre práticas de direito comum. A maior parte da legislação brasileira é codificada, apesar de leis não codificadas serem uma parte substancial do sistema, desempenhando um papel complementar. Decisões do Tribunal e orientações explicativas, no entanto, não são vinculativas sobre outros casos específicos, exceto em algumas situações.
Obras de doutrina e as obras de juristas acadêmicos têm forte influência na criação de direito e em casos de direito. O sistema jurídico baseia-se na Constituição Federal, que foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e é a lei fundamental do Brasil. Todas as outras legislações e as decisões das cortes de justiça devem corresponder a seus princípios. Os estados têm suas próprias constituições, que não devem entrar em contradição com a constituição federal. Os municípios e o Distrito Federal não têm constituições; em vez disso, eles têm leis orgânicas. Entidades legislativas são a principal fonte das leis, embora, em determinadas questões, organismos dos poderes judiciário e executivo possam promulgar normas jurídicas.
A jurisdição é administrada pelas entidades do poder judiciário brasileiro, embora em situações raras a Constituição Federal permita que o Senado Federal interfira nas decisões judiciais. Existem jurisdições especializadas como a Justiça Militar, a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral. O tribunal mais alto é o Supremo Tribunal Federal. Este sistema tem sido criticado nas últimas décadas devido à lentidão com que as decisões finais são emitidas. Ações judiciais de recurso podem levar vários anos para serem resolvidas e, em alguns casos, mais de uma década para expirar antes de as decisões definitivas serem tomadas.
Crime e aplicação da lei
A Constituição brasileira, em seu artigo 144.º, estabelece oito instituições para a execução das leis de segurança pública — sete com a função titular: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Penal Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Penal dos Estados — e uma com a função conexa e auxiliar à atividade de segurança pública: as guardas municipais. Destas, quatro são filiadas às autoridades federais, três aos governos estaduais e as Guardas Municipais aos governos municipais. As instituições supracitadas são de responsabilidade do Poder Executivo, ou seja: dos governos Federal, do Distrito Federal, dos Estados Federados ou Municípios.
Além disso, existem as instituições dos poderes Legislativo Federal (Departamento de Polícia Legislativa e Polícia do Senado Federal) e Judiciário Federal (Polícia Judicial do Supremo Tribunal Federal). A Força Nacional de Segurança Pública também pode atuar em situações de distúrbio público, originadas em qualquer ponto do território nacional, a partir da aprovação dos governadores dos estados, Quando houver ainda o esgotamento do uso das forças tradicionais de segurança pública, nas situações graves de perturbação da ordem, pode o presidente da República, por ordem expressa, autorizar o uso das Forças Armadas, para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
O país tem níveis acima da média de crimes violentos e níveis particularmente altos de violência armada e de homicídio. Em 2012, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou o número de 32 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das mais altas taxas de homicídios intencionais do mundo. O índice considerado suportável pela OMS é de dez homicídios por 100 mil habitantes. No entanto, existem diferenças entre os índices de criminalidade dentro do país: enquanto em São Paulo a taxa de homicídios registrada em 2020 foi de 6,62 mortes por 100 mil habitantes, no Ceará chegou a 43,37 homicídios para cada 100 mil pessoas, no mesmo ano a taxa nacional foi de 19,89 mortes por 100 mil habitantes.
O Brasil também tem altos níveis de encarceramento e a quarta maior população carcerária do mundo (atrás de Estados Unidos, China e Rússia), com um total estimado em mais 600 mil presos (300 para cada 100 mil habitantes) em todo o país (junho de 2015), um aumento de cerca de 161% em relação ao índice registrado em 2000. O alto número de presos acabou por sobrecarregar o sistema prisional brasileiro, levando a um déficit de mais de 200 mil vagas dentro das prisões do país.
Forças armadas
As Forças Armadas do Brasil compreendem o Exército Brasileiro, a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira e são a maior força militar da América Latina, a segunda maior de toda a América. O Brasil também é uma das nações com as maiores capacidades bélicas do mundo. O país foi considerado a 9° maior potência militar do planeta em 2021. As polícias militares estaduais e os corpos de bombeiros militares são descritas como forças auxiliares e reservas do Exército pela Constituição, mas sob o controle de cada estado e de seus respectivos governadores.
O Exército é responsável pelas operações militares por terra, possui o maior efetivo da América Latina, contando com uma força de cerca de soldados. Também possui a maior quantidade de veículos blindados da América do Sul, somados os veículos blindados para transporte de tropas e carros de combate principais.
A Força Aérea Brasileira é o ramo de guerra aérea das Forças Armadas Brasileiras. De acordo com o Flight International e do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a FAB tem uma força ativa de militares e opera em torno de 627 aeronaves, sendo a maior força aérea do hemisfério sul e a segunda na América, após a Força Aérea dos Estados Unidos.
A Marinha é responsável pelas operações navais e pela guarda das águas territoriais brasileiras. É a mais antiga das Forças Armadas brasileiras, possui o maior efetivo de fuzileiros navais da América Latina, estimado em homens, tendo o Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais como sua principal unidade. A Marinha também possui um grupo de elite especializado em retomar navios e instalações navais, o Grupamento de Mergulhadores de Combate, unidade especialmente treinada para proteger as plataformas petrolíferas brasileiras ao longo de sua costa.
Política externa
Embora alguns problemas sociais e econômicos impeçam o Brasil de exercer poder global efetivo, o país é hoje um líder político e econômico na América Latina. Esta alegação, porém, é parcialmente contestada por outros países, como a Argentina e o México, que se opõem ao objetivo brasileiro de obter um lugar permanente como representante da região no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1990, os governos democráticos e militares procuraram expandir a influência do Brasil no mundo, prosseguindo com uma política externa e industrial independente. Atualmente o país tem como objetivo reforçar laços com outros países da América do Sul e exercer a diplomacia multilateral, através das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos.
A atual política externa do Brasil é baseada na posição do país como uma potência regional na América Latina, um líder entre os países em desenvolvimento (como os BRICS) e uma superpotência mundial emergente. A política externa brasileira em geral tem refletido multilateralismo, resolução de litígios de forma pacífica e não intervenção nos assuntos de outros países. A Constituição brasileira determina também que o país deve buscar uma integração econômica, política, social e cultural com as nações da América Latina, através de organizações como Mercosul e CELAC.
Subdivisões
O Brasil é uma Federação constituída pela união indissolúvel dos 26 estados, do Distrito Federal e dos municípios. Os estados e municípios são unidades federativas, isto é, entidades subnacionais autônomas (autogoverno, autolegislação e autoarrecadação) que possuem natureza de pessoa jurídica de direito público.
Atualmente o Brasil é dividido política e administrativamente em 26 estados e um distrito federal. O poder executivo é exercido por um governador e o legislativo pelas assembleias legislativas, sendo todos eleitos quadrienalmente. O poder judiciário é exercido por tribunais estaduais de primeira e segunda instância que cuidam da justiça comum. O Distrito Federal tem características comuns aos estados e aos municípios. Ao contrário dos estados, não pode ser dividido em municípios. Por outro lado, pode arrecadar tributos atribuídos como se fosse um estado e, também, como município.
Os municípios são uma circunscrição territorial dotada de personalidade jurídica e com certa autonomia administrativa, sendo as menores unidades autônomas da Federação. Cada município tem sua própria lei orgânica que define a sua organização política, mas limitada pela Constituição Federal. Há um total de municípios em todo o território nacional, alguns com população superior a um milhão de habitantes (São Paulo com mais de doze milhões), outros com menos de vinte mil pessoas; Há ainda alguns municípios com área maior do que estados ou mesmo de países. Altamira, no Pará, com quase 160 mil km², é o maior município brasileiro em território, sendo quase duas vezes maior que Portugal e ainda maior que dez estados.
Economia
O Brasil é a maior economia da América Latina, a terceira da América (atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá) e a décima terceira maior do mundo em PIB nominal (tendo alcançado sua posição mais alta em 2011, na sexta colocação); em paridade do poder de compra, ocupa o oitavo lugar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
O país tem uma economia mista capitalista com vastos recursos naturais. Estima-se que a economia brasileira se irá tornar uma das cinco maiores do mundo nas próximas décadas. Ativo em setores como mineração, manufatura, agricultura e serviços, o Brasil tem uma força de trabalho de mais de 120 milhões de pessoas (6.ª maior do mundo) e desemprego de 11,7% (38.º no mundo).
O país vem ampliando sua presença nos mercados financeiros e de commodities internacionais e é um BRICS. O Brasil tem sido o maior produtor mundial de café dos últimos 150 anos e tornou-se o quarto maior mercado de automóveis do mundo.
Entre os principais produtos de exportação em 2019 estavam: soja, petróleo, minério de ferro, celulose, milho, carne bovina, carne de frango, farelo de soja, açúcar e café. O país também exporta: aeronaves, equipamentos elétricos, automóveis, partes de veículos, etanol, ouro, calçados, suco de laranja, algodão, tabaco, ferro semiacabado, entre outros produtos.
O país participa de diversos blocos econômicos como o Mercado Comum do Sul (Mercosul), o G20 e o Grupo de Cairns, e sua economia corresponde a três quintos da produção industrial da economia sul-americana. O Brasil comercializa regularmente com mais de uma centena de países, sendo que 74% dos bens exportados são manufaturas ou semimanufaturas. Os maiores parceiros são: União Europeia, Mercosul, América Latina, Ásia e Estados Unidos.
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) o setor do agronegócio responde por 23% do PIB brasileiro (2013). O Brasil está entre os países com maior produtividade no campo, apesar das barreiras comerciais e das políticas de subsídios adotadas pelos países desenvolvidos. Em relatório divulgado em 2010 pela OMS, o país é o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia.
A indústria de automóveis, aço, petroquímica, computadores, aeronaves e bens de consumo duradouros contabilizam 30,8% do produto interno bruto brasileiro. A atividade industrial está concentrada geograficamente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Campinas, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus, Salvador, Recife e Fortaleza.
Entre as empresas mais conhecidas do Brasil estão: Brasil Foods, Perdigão, Sadia e JBS (setor alimentício); Embraer (setor aéreo); Azaleia e Havaianas (calçados); Petrobras (setor petrolífero); Companhia Vale do Rio Doce (mineração); Marcopolo e Busscar (carroceiras); Gerdau (siderúrgicas) e Organizações Globo (comunicação).
A corrupção, no entanto, custa ao Brasil quase 41 bilhões de dólares por ano e 69,9% das empresas do país identificam esse problema como um dos principais entraves para conseguirem penetrar com sucesso no mercado global. No Índice de Percepção da Corrupção de 2014, criado pela Transparência Internacional, o Brasil é classificado na 69ª posição entre os 175 países avaliados. O poder de compra brasileiro também é corroído pelo conjunto de problemas nacionais chamado "custo Brasil". Além disso, o país apresenta uma das menores taxas de participação do comércio exterior no PIB, sendo classificado como uma das economias mais fechadas do mundo.
No Índice de Liberdade Econômica de 2015, por exemplo, o país foi classificado no 118º lugar entre 178 nações avaliadas. Apesar de também ser um problema crônico, desde 2001 os níveis de desigualdade social e econômica vêm caindo, chegando em 2011 aos níveis de 1960, embora o país ainda esteja entre os 12 mais desiguais do planeta.
Turismo
O turismo é um setor crescente e fundamental para a economia de várias regiões do país. O país recebeu 6 milhões de turistas estrangeiros em 2013, sendo classificado, em termos de chegadas de turistas internacionais, como o principal destino da América do Sul e o segundo na América Latina, depois do México.
As receitas de turistas internacionais atingiram 5,9 bilhões de dólares em 2010, uma recuperação da crise econômica de 2008-2009. Os registros históricos de 5,4 milhões de visitantes internacionais e 6,775 bilhões de dólares em receitas foram atingidos em 2011.
O Best in Travel 2014, uma classificação anual dos melhores destinos feita pelo guia de viagens Lonely Planet, classificou o Brasil como o melhor destino turístico do mundo em 2014. Entre os destinos mais procurados estão a Floresta Amazônica, praias e dunas na região nordeste, o pantanal no centro-oeste, as Cataratas do Iguaçu no Paraná, praias no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, turismo cultural e histórico em Minas Gerais e viagens de negócios em São Paulo. No Índice de Competitividade em Viagens e Turismo de 2015, o Brasil ficou no 28º lugar entre os 141 países avaliados.
A maioria dos visitantes internacionais que chegaram em 2011 vieram da Argentina (30,8%), dos Estados Unidos (11,5%) e do Uruguai (5,0%), sendo o Mercosul e os países vizinhos da América do Sul os principais emissores de turistas. O turismo interno é um segmento de mercado fundamental para a indústria, uma vez que 51 milhões de pessoas viajaram pelo país em 2005.
Infraestrutura
Educação
A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determinam que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem gerir e organizar seus respectivos sistemas de ensino. Cada um desses sistemas educacionais públicos é responsável por sua própria manutenção, que gere fundos, bem como os mecanismos e fontes de recursos financeiros. A nova constituição reserva 25% do orçamento do Estado e 18% de impostos federais e taxas municipais para a educação.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE com dados de 2013, o analfabetismo ainda afetava 8,3% da população (ou 13 milhões de pessoas). Além disso, 17,8% dos brasileiros ainda eram classificados como analfabetos funcionais. A qualidade geral do sistema educacional brasileiro ainda apresenta resultados fracos. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2012, elaborado pela OCDE, o país foi classificado nas posições 55ª em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciências, entre os 65 países avaliados pela pesquisa.
O ensino superior começa com a graduação ou cursos sequenciais, que podem oferecer opções de especialização em diferentes carreiras acadêmicas ou profissionais. Dependendo de escolha, os estudantes podem melhorar seus antecedentes educativos com cursos de pós-graduação stricto sensu ou lato sensu. Para frequentar uma instituição de ensino superior, é obrigatório, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, concluir todos os níveis de ensino adequados às necessidades de todos os estudantes dos ensinos infantil, fundamental e médio, desde que o aluno não seja portador de nenhuma deficiência, seja ela física, mental, visual ou auditiva. Outro requisito é ter um bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma prova realizada pelo Ministério da Educação, utilizada para avaliar a qualidade do ensino médio e cujo resultado serve de acesso a universidades públicas através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). O Enem é o maior exame do país e o segundo maior do mundo, atrás somente do vestibular da China. Em 2012, aproximadamente 11,3% da população do país tinham nível superior. Das dez melhores universidades da América Latina, oito eram brasileiras de acordo com a classificação do QS World University Rankings de 2014.
Saúde
O sistema de saúde pública brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS), é gerenciado e fornecido por todos os níveis do governo, sendo o maior sistema do tipo do mundo. Já os sistemas de saúde privada atendem a um papel complementar. Os serviços de saúde públicos são universais e oferecidos a todos os cidadãos do país de forma gratuita. No entanto, a construção e a manutenção de centros de saúde e hospitais são financiadas por impostos, sendo que o país gasta cerca de 9% do seu PIB em despesas na área. Em 2009, o território brasileiro tinha 1,72 médicos e 2,4 leitos hospitalares para cada mil habitantes.
Apesar de todos os progressos realizados desde a criação do sistema universal de cuidados de saúde em 1988, ainda existem vários problemas de saúde pública no Brasil. Em 2006, os principais pontos a serem resolvidos eram as altas taxas de mortalidade infantil (2,51%) e materna (73,1 mortes por mil nascimentos). O número de mortes por doenças não transmissíveis, como doenças cardiovasculares (151,7 mortes por habitantes) e câncer (72,7 mortes por habitantes), também tem um impacto considerável sobre a saúde da população brasileira. Finalmente, fatores externos, mas evitáveis, como acidentes de carro, violência e suicídio causaram 14,9% de todas as mortes no país. O sistema de saúde brasileiro foi classificado na 125ª posição entre os 191 países avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2000.
Energia
O Brasil é o décimo maior consumidor de energia do planeta e o terceiro maior do hemisfério ocidental, atrás dos Estados Unidos e Canadá. A matriz energética brasileira é baseada em fontes renováveis, sobretudo a energia hidrelétrica e o etanol, além de fontes não renováveis como o petróleo e o gás natural.
Da sua capacidade total de geração de eletricidade instalada, que correspondia a 181,5 mil megawatts (MW) em dezembro de 2021, as hidrelétricas eram responsáveis por (60,2%), a energia eólica por (11,6%); biomassa por , (8,7%) e energia solar por (7,2%), além de outras fontes, como as termelétricas. A energia nuclear representa cerca de 3% da matriz energética brasileira.
Com grandes descobertas de petróleo nos últimos tempos na Bacia de Santos, em 2020 o Brasil assumiu a oitava posição mundial entre os dez maiores produtores.
No entanto, o país tem trabalhado para criar uma alternativa viável à gasolina. Com o seu combustível à base de cana-de-açúcar, a nação pode se tornar energicamente independente neste momento. O Pró-álcool, que teve origem na década de 1970 em resposta às incertezas do mercado petrolífero, obteve sucesso intermitente. Ainda assim, grande parte dos brasileiros utilizam os chamados "veículos flex", que funcionam com etanol ou gasolina, permitindo que o consumidor possa abastecer com a opção mais barata no momento, muitas vezes o etanol. Os países com grande consumo de combustível, como a Índia e a China, estão seguindo o progresso do Brasil nessa área. Além disso, países como o Japão e Suécia estão importando etanol brasileiro para ajudar a cumprir as suas obrigações ambientais estipuladas no Protocolo de Quioto.
Transportes
Com uma rede rodoviária de cerca de 1,72 milhão de quilômetros, sendo
km de rodovias pavimentadas (2018) e km de rodovias de pista dupla (2017), as estradas são as principais transportadoras de carga e de passageiros no tráfego brasileiro. O Brasil também é o sétimo mais importante país da indústria automobilística.
Existem cerca de quatro mil aeroportos e aeródromos no Brasil, sendo 721 com pistas pavimentadas, incluindo as áreas de desembarque. O país tem o segundo maior número de aeroportos em todo o mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O Aeroporto Internacional de Guarulhos, localizado na Região Metropolitana de São Paulo, é o maior e mais movimentado aeroporto do país. Grande parte dessa movimentação deve-se ao tráfego comercial e popular do país e ao fato de que o aeroporto liga São Paulo a praticamente todas as grandes cidades de todo o mundo. Conforme dados de 2019 da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Brasil tem 37 aeroportos internacionais e 2 464 aeroportos regionais.
O país possuía em 2019 uma extensa rede ferroviária de km de extensão, a décima maior do mundo. Atualmente, o governo brasileiro, diferentemente do passado, procura incentivar esse meio de transporte; um exemplo desse incentivo é o projeto do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo, um trem-bala que pretende ligar as duas principais metrópoles do país para o transporte de passageiros, e a Ferrovia Norte-Sul, projetada para ser a espinha dorsal do sistema ferroviário nacional.
Há 37 grandes portos no Brasil, dentre os quais o maior é o Porto de Santos, o mais movimentado do país e da América Latina, considerado o 39° maior do mundo por movimentação de contêineres pela publicação britânica Container Management. O país também possui de hidrovias, como a Hidrovia Tietê-Paraná.
Ciência e tecnologia
A pesquisa tecnológica no Brasil é em grande parte realizada em universidades públicas e institutos de pesquisa. Alguns dos mais notáveis polos tecnológicos do Brasil são os institutos Oswaldo Cruz e Butantã, o Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Dono de relativa sofisticação tecnológica, o país desenvolve de submarinos a aeronaves, além de estar presente na pesquisa aeroespacial, possuindo um Centro de Lançamento de Veículos Leves e sendo o único país do Hemisfério Sul a integrar a equipe de construção da Estação Espacial Internacional (ISS).
O Brasil tem o mais avançado programa espacial da América Latina, com recursos significativos para veículos de lançamento, e fabricação de satélites. Em 14 de outubro de 1997, a Agência Espacial Brasileira assinou um acordo com a NASA para fornecer peças para a ISS. No entanto, depois de quase dez anos sem conseguir cumprir o contrato de fornecimento, foi excluído do programa em maio de 2007. Este acordo, contudo, possibilitou ao Brasil treinar seu primeiro astronauta. Em 30 de março de 2006 o tenente-coronel Marcos Pontes, a bordo do veículo Soyuz, tornou-se no primeiro astronauta brasileiro e o terceiro latino-americano a orbitar o planeta Terra.
O país também é pioneiro na pesquisa de petróleo em águas profundas, de onde extrai 73% de suas reservas. O urânio enriquecido na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), de Resende, no estado do Rio de Janeiro, atende à demanda energética do país. Existem planos para a construção do primeiro submarino nuclear do país. O Brasil também é um dos três países da América Latina com um laboratório Síncrotron em operação, um mecanismo de pesquisa da física, da química, das ciências dos materiais e da biologia. O país desenvolve o Programa Antártico Brasileiro e mantém desde 1984 a Estação Comandante Ferraz para pesquisas na Antártica. Segundo o Relatório Global de Tecnologia da Informação 2009–2010 do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o 61º maior desenvolvedor mundial de tecnologia da informação. Ainda outro exemplo é o ingresso em 2018 no chamado grupo de elite da União Internacional de Matemática.
Mídia e comunicações
A imprensa brasileira tem seu início em 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, sendo até então proibida toda e qualquer atividade de imprensa — fosse a publicação de jornais ou livros. A imprensa brasileira nasceu oficialmente no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1808, com a criação da Impressão Régia, hoje Imprensa Nacional, pelo príncipe-regente Dom João. A Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal publicado em território nacional, começa a circular em 10 de setembro de 1808. Atualmente a imprensa escrita consolidou-se como um meio de comunicação em massa e produziu grandes jornais que hoje estão entre as maiores do país e do mundo como a Folha de S.Paulo, O Globo e o Estado de S. Paulo, e publicações das editoras Abril e Globo.
A radiodifusão surgiu em 7 de setembro de 1922, data do centenário da independência, sendo a primeira transmissão um discurso do então presidente Epitácio Pessoa, porém a instalação do rádio de fato ocorreu apenas em 20 de abril de 1923 com a criação da "Rádio Sociedade do Rio de Janeiro".
A televisão no Brasil começou, oficialmente, em 18 de setembro de 1950, trazida por Assis Chateaubriand que fundou o primeiro canal de televisão no país, a TV Tupi. Desde então a televisão cresceu no país, criando grandes redes como a Globo, Record, SBT, Bandeirantes e RedeTV. Hoje, a televisão representa um fator importante na cultura popular moderna da sociedade brasileira. A televisão digital no Brasil teve início em 2007, inicialmente na cidade de São Paulo, pelo padrão japonês.
A Internet veio ao Brasil em 1988 por decisão inicial da sociedade de estudantes e professores universitários paulistanos (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, liderada por Oscar Sala) e cariocas (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Laboratório Nacional de Computação Científica), mas, somente a partir de 1996, a Internet brasileira passou a ter seus backbones próprios inaugurados por provedores comerciais, iniciando assim o desenvolvimento dessa rede de telecomunicações.
Cultura
O núcleo de cultura é derivado da cultura portuguesa, por causa de seus fortes laços com o império colonial português. Entre outras influências portuguesas encontram-se o idioma português, o catolicismo romano e estilos arquitetônicos coloniais. A cultura, contudo, foi também fortemente influenciada por tradições e culturas africanas, indígenas e europeias não portuguesas.
Alguns aspectos da cultura brasileira foram influenciadas pelas contribuições dos italianos, alemães e outros imigrantes europeus que chegaram em grande número nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Os ameríndios influenciaram a língua e a culinária do país e os africanos influenciaram a língua, a culinária, a música, a dança e a religião.
Arquitetura
A arquitetura do Brasil é influenciada pela Europa, principalmente Portugal. A arquitetura colonial portuguesa foi a primeira onda de arquitetura a chegar ao Brasil e é a base de toda a arquitetura brasileira dos séculos posteriores. No século XIX, durante a época do Império, o país seguiu as tendências europeias e adotou a arquitetura neoclássica e neogótica. Então, no século XX, especialmente em Brasília, o Brasil experimentou a arquitetura modernista.
A arquitetura colonial do Brasil data do início do século XVI, quando seu território foi explorado, conquistado e colonizado pelos portugueses, que construíram uma arquitetura familiar a eles na Europa, como igrejas, arquitetura cívica, incluindo casas e fortes nas cidades brasileiras e no campo. Durante o século XIX, a arquitetura brasileira foi introduzida a outros estilos europeus, que geralmente eram misturados com influências genuinamente brasileiras, que produziram uma forma única de arquitetura brasileira. Na década de 1950, a arquitetura modernista foi introduzida quando Brasília foi construída como nova capital federal no interior do Brasil. O arquiteto Oscar Niemeyer idealizou e construiu prédios governamentais, igrejas e prédios civis em estilo modernista.
Cinema
A indústria cinematográfica brasileira começou no final do século XIX, nos primórdios da Belle Époque. Apesar de existirem produções nacionais de cinema no início do século XX, filmes estadunidenses como Rio, o Magnífico, eram gravados no Rio de Janeiro para promover o turismo na cidade. Os filmes Limite (1931) e Ganga Bruta (1933), este último produzido por Adhemar Gonzaga através do prolífico estúdio Cinédia, foram mal recebidos no lançamento e falharam nas bilheterias, mas hoje são aclamados e colocados entre os melhores filmes brasileiros.
Durante a década de 1960, o movimento Cinema Novo ganhou destaque com diretores como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Cesar Saraceni e Arnaldo Jabor. Os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967), de Rocha, são considerados alguns dos maiores e mais influentes da história do cinema brasileiro.
Durante a década de 1990, o Brasil assistiu a um surto de sucesso crítico e comercial com filmes como O Quatrilho (Fábio Barreto, 1995), O Que É Isso, Companheiro? (Bruno Barreto, 1997) e Central do Brasil (Walter Salles, 1998), todos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o último também recebendo indicação de Melhor Atriz por Fernanda Montenegro. O filme policial de 2002, Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles, foi aclamado pela crítica, alcançando 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo colocado na lista de Melhores Filmes da Década de Roger Ebert e recebendo quatro indicações ao Óscar em 2004, incluindo Melhor Diretor.
Entre os principais festivais de cinema do Brasil incluem os festivais internacionais de cinema de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife, além do Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul.
Pintura
A pintura brasileira surgiu no final do século XVI, sendo desde então influenciada por diversos movimentos artísticos, como barroco, rococó, neoclassicismo, romantismo, realismo, modernismo, expressionismo, surrealismo, cubismo e abstracionismo, tornando-se um estilo de arte importante chamado arte acadêmica brasileira. A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816 com a proposta de criar uma academia de arte inspirada na conceituada Académie des Beaux-Arts, com cursos de graduação para artistas e artesãos para atividades como modelagem, decoração, carpintaria e outras. e trazendo artistas como Jean-Baptiste Debret.
Com a criação da Academia Imperial de Belas Artes, novos movimentos artísticos espalharam-se pelo país durante o século XIX e posteriormente o evento denominado Semana de Arte Moderna rompeu definitivamente com a tradição acadêmica em 1922 e deu início a uma tendência nacionalista influenciada pelas artes modernistas. Entre os pintores brasileiros mais conhecidos estão Ricardo do Pilar e Manuel da Costa Ataíde (barroco e rococó), Victor Meirelles, Pedro Américo e Almeida Júnior (romantismo e realismo), Anita Malfatti, Ismael Nery, Lasar Segall, Emiliano di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e Tarsila do Amaral (expressionismo, surrealismo e cubismo), Aldo Bonadei, José Pancetti e Cândido Portinari (modernismo).
Música
A música brasileira engloba vários estilos regionais influenciados por formas africanas, europeias e ameríndias. Desenvolveu-se em estilos e gêneros musicais diferentes, tais como música popular brasileira, música nativista, música sertaneja, vanerão, samba, choro, axé, brega, forró, funk brasileiro, frevo, baião, lambada, maracatu, tropicalismo, bossa nova e rock brasileiro, entre outros.
A música do Brasil se formou, principalmente, a partir da fusão de elementos europeus e africanos, trazidos respectivamente por colonizadores portugueses e escravos. Até o século XIX Portugal foi a porta de entrada para a maior parte das influências que construíram a música brasileira, clássica e popular, introduzindo a maioria do instrumental, o sistema harmônico, a literatura musical e boa parcela das formas musicais cultivadas no país ao longo dos séculos.
Na música clássica, um caráter especificamente brasileiro na produção nacional só se tornaria nítido após a grande síntese realizada por Villa Lobos, já em meados do século XX. O primeiro grande compositor brasileiro foi José Maurício Nunes Garcia, autor de peças sacras com notável influência do classicismo vienense.
A maior contribuição do elemento africano foi a diversidade rítmica e algumas danças e instrumentos, que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica, florescendo especialmente a partir do século XX. O indígena praticamente não deixou traços seus na corrente principal, salvo em alguns gêneros do folclore, sendo em sua maioria um participante passivo nas imposições da cultura colonizadora. Com grande participação negra, a música popular desde fins do século XVIII começou a dar sinais de formação de uma sonoridade caracteristicamente brasileira.
Literatura
A literatura brasileira surgiu a partir da atividade literária incentivada pelos jesuítas durante o século XVI. No séculos posteriores, o barroco desenvolveu-se no nordeste do país nos séculos XVI e XVII e o arcadismo se expandiu no século XVIII na região das Minas Gerais.
No século XIX, o romantismo brasileiro afetou a literatura nacional, tendo como seu maior nome José de Alencar. Após esse período, o realismo brasileiro expandiu-se pelo país, principalmente pelas obras de Machado de Assis, poeta e romancista, cujo trabalho se estende por quase todos os gêneros literários e que é amplamente considerado o maior escritor brasileiro.
Bastante ligada, de princípio, à literatura metropolitana, ela foi ganhando independência com o tempo, iniciando o processo durante o século XIX com os movimentos romântico e realista. Atingiu o ápice com a Semana de Arte Moderna em 1922, caracterizando-se pelo rompimento definitivo com as literaturas de outros países, formando-se, portanto, a partir do Modernismo e suas gerações as primeiras escolas de escritores verdadeiramente independentes. São dessa época grandes nomes como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Cecília Meireles.
Culinária
A cozinha brasileira varia muito de acordo com a região, refletindo a combinação de populações nativas e de imigrantes pelo país. Isto criou uma cozinha nacional marcada pela preservação das diferenças regionais. Os exemplos são a feijoada à brasileira, considerada o prato nacional do país; e os alimentos regionais, como churrasco gaúcho, beiju, feijão tropeiro, vatapá, moqueca, polenta, pão de queijo e acarajé.
Ingredientes utilizados pela primeira vez pelos povos indígenas no Brasil incluem a mandioca, guaraná, açaí, cumaru e tacacá. A partir daí, muitas ondas de imigrantes trouxeram alguns de seus pratos típicos, substituindo ingredientes em falta com equivalentes locais. Por exemplo, os imigrantes europeus (principalmente de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Polônia e Suíça) estavam acostumados a uma dieta à base de trigo e introduziram vinho, hortaliças e produtos lácteos na culinária local. Quando as batatas não estavam disponíveis, eles descobriram como usar a macaxeira nativa como um substituto.
Os escravos africanos também tiveram um papel no desenvolvimento de culinária brasileira, especialmente nos estados costeiros. A influência estrangeira estendeu-se por ondas migratórias posteriores: os imigrantes japoneses trouxeram a maior parte dos alimentos que os brasileiros se associam com cozinha asiática. O Brasil também tem uma grande variedade de doces, como o brigadeiro, o beijinho e o bolo de rolo. A bebida nacional é o café, e a cachaça é uma bebida destilada nativa do Brasil. A cachaça é destilada a partir de cana-de-açúcar e é o ingrediente principal do coquetel nacional, a caipirinha.
Esportes
O futebol é o esporte mais popular no Brasil. A Seleção Brasileira de Futebol é a única no mundo a participar de todas as edições da Copa do Mundo FIFA, sendo vitoriosa cinco vezes: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Voleibol, tênis de mesa, natação, futsal, capoeira, skate, surfe, judô e atletismo também estão entre os esportes mais praticados no país.
Algumas variações de esportes têm suas origens no Brasil. Futebol de praia, futsal (versão oficial do futebol indoor), futetênis, futebol de saco e futevôlei emergiram de variações do futebol. Outros esportes também criados no país são a peteca, o acquaride, o frescobol, o sandboard e o biribol. Nas artes marciais, os brasileiros têm desenvolvido a capoeira, vale-tudo, e o jiu-jitsu brasileiro, entre outras artes marciais brasileiras.
No automobilismo, pilotos brasileiros ganharam o campeonato mundial de Fórmula 1 oito vezes: Emerson Fittipaldi, em 1972 e 1974; Nelson Piquet, em 1981, 1983 e 1987; e Ayrton Senna, em 1988, 1990 e 1991. O circuito localizado em São Paulo, Autódromo José Carlos Pace, organiza anualmente o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1.
O Brasil já organizou eventos esportivos de grande escala: sediou as Copas do Mundo de 1950, na qual foi o vice-campeão, e 2014, quando ficou em quarto lugar. Em 1963, São Paulo foi sede dos Jogos Pan-Americanos e Porto Alegre da Universíada de Verão. A cidade do Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-Americanos de 2007 e também os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, que contou com a participação de 207 delegações e mais de doze mil atletas. Brasília, originalmente escolhida para sediar a Universíada de Verão de 2019, declinou da escolha, em 21 de janeiro de 2015, alegando que a cidade não teria condições financeiras de sediar o evento. A FISU reabriu o processo de candidatura para uma nova sede para os Jogos. |
Bioquímica (química aplicada à biologia) é a ciência e tecnologia que estuda e aplica as ciências químicas ao contexto da biologia, sendo portanto uma área interdisciplinar entre a química e a biologia. Consiste no estudo, identificação, análise, modificação e manipulação de moléculas e das reações químicas de importância biológica, em ambientes e contextos químicos próprios in vitro ou in vivo (compartimentos celulares, virais e fisiológicos). Envolve moléculas de diversas dimensões tais como proteínas, enzimas, carboidratos, lipídios, ácidos nucléicos, vitaminas, alcaloides, terpenos e mesmo íons inorgânicos. Também engloba o estudo do efeito de compostos químicos orgânicos ou inorgânicos sobre os diferentes compartimentos biológicos (química biológica), assim como a modificação química de biomoléculas. Suas aplicações englobam setores como alimentos, fármacos e biofármacos, análises clínicas, biocombustíveis, pesquisa básica dentre outros. É uma ciência e tecnologia essencial para todas as profissões relacionadas a ciências da vida e uma das fronteiras de desenvolvimento das ciências químicas.
Bioquímico é o profissional que estuda e aplica as leis da bioquímica para o entendimento e aplicação tecnológica de biomoléculas e dos organismos vivos (bioquímica industrial, biotecnologia e bioprocessos, bioquímica médica e clínica, bioquímica de alimentos, bioquímica agrícola e ambiental) para benefícios comerciais e industriais, e/ou benefícios a saúde humana e animal, a agropecuária e ao meio ambiente. Os bioquímicos utilizam ferramentas e conceitos da química e da biologia, particularmente da química orgânica, físico-química, fermentações e metabolismo, biologia celular, biologia molecular e genética, para a elucidação dos sistemas vivos e para sua aplicação tecnológica e industrial.
A Bioquímica não deve ser confundida, no Brasil, com as análises clínicas, apenas uma de suas inúmeras aplicações e nem tampouco as análises clínicas devem ser reduzidas a apenas a bioquímica clínica. Em função disso, a graduação (licenciatura em Portugal) em Bioquímica é uma das mais tradicionais na Europa e EUA, e no Brasil, existe nas Universidades Federais de Viçosa e de São João del Rey (UFV e UFSJ) e nas Universidades Estaduais de Maringá e de São Paulo (UEM e USP, nesta última, como química ênfase bioquímica). No Brasil, não se deve confundir farmacêutico com o bioquímico, visto que um é profissional de saúde e outro é profissional da química da vida e da biotecnologia. Por bastante tempo, os cursos de graduação em farmácia no Brasil denominaram-se Farmácia-Bioquímica, em errônea alusão à habilitação em análises clínicas. Isto gerou na sociedade, e mesmo nos meios acadêmicos, a falsa noção de que bioquímica seria sinônimo de análises clínicas e farmácia, algo totalmente errado.
História
A história da bioquímica moderna data do século XIX quando começaram as abordagens químicas sobre os fenômenos da biologia integrando conhecimento destas duas ciências e quando a química orgânica amadureceu como ciência e tecnologia. Um importante marco da bioquímica moderna foi a descoberta da síntese de ureia por Friedrich Wöhler em 1828, provando que os compostos orgânicos poderiam ser obtidos artificialmente. Outro marco importante ocorreu em 1833, quando Anselme Payen isolou pela primeira vez uma enzima, a diastase. Esta descoberta também é considerada como a primeira vez que foi descrito um composto orgânico que apresentava as propriedades de um catalisador. Entretanto, apenas em 1878, o fisiologista Wilhelm Kühne cunhou o termo enzima para se referir aos componentes biológicos desconhecidos que participavam do processo de fermentação.
Em meados do século XIX, Louis Pasteur estudou o fenômeno da fermentação e descobriu que certas leveduras estavam envolvidas neste processo, e portanto, não se tratava de um fenômeno somente químico. Pasteur escreveu: "a fermentação alcoólica é um ato relacionado com a vida e organização das células de levedura, não com a morte e putrefação destas células". Pasteur desenvolveu também métodos de esterilização de vinho, leite e cerveja (pasteurização) e contribuiu muito para refutar a ideia de geração espontânea de seres vivos. Em 1896, Eduard Buchner demonstrou pela primeira vez que um processo bioquímico complexo poderia ocorrer fora de uma célula, tendo como base a fermentação alcoólica usando extrato celular de levedura.
Durante o período de 1885-1901, Albrecht Kossel isolou e nomeou cinco constituintes dos ácidos nucleicos: adenina, citosina, guanina, timina e uracila. Estes compostos são conhecidos coletivamente como bases nitrogenadas e integram a estrutura molecular do DNA e do RNA. Os ácidos nucléicos foram descobertos por Friedrich Miescher, em 1869.
Embora o termo "bioquímica" pareça ter sido usado pela primeira vez em 1882, é geralmente aceito que a cunhagem formal do termo ocorreu em 1903 por Carl Neuberg, um químico alemão. No entanto grandes pesquisadores como Wöhler, Liebig, Pasteur e Claude Bernard já usavam outras denominações.
A partir da década de 1920, a bioquímica experimentou considerável avanço, especialmente pelo desenvolvimento de novas técnicas, como a cromatografia, a difração de raios X, a espectroscopia de RMN, a marcação isotópica, a microscopia eletrônica e simulações de dinâmica molecular. Estas técnicas permitiram a descoberta e análise detalhada de muitas biomoléculas e de vias metabólicas em uma célula, tal como a glicólise e o ciclo de Krebs.
Na década de 1950, James D. Watson, Francis Crick, Rosalind Franklin e Maurice Wilkins resolverem a estrutura do DNA e sugeriram a sua relação com a transferência da informação genética. Em 1958, George Beadle e Edward Tatum receberam o Prêmio Nobel pelo trabalho com fungos, onde demostram que um gene gerava como produto uma enzima. Este conceito, hoje ampliado, ficou conhecido como o Dogma central da biologia molecular.Neste momento a bioquímica passa a ter um relação mais intima com a biologia molecular, o estudo dos mecanismos moleculares pelos quais a informação genética codificada no DNA pode resultar nos processos de vida. Dependendo da definição exata dos termos utilizados, a biologia molecular pode ser considerada como um ramo de bioquímica, ou bioquímica como uma ferramenta para investigar e estudar a biologia molecular. Entretanto, é importante frisar que essa relação mais íntima jamais eliminou da bioquímica o estudo de outras biomoléculas.
Em 1975 foi a vez de destacar as pesquisas sobre o sequenciamento de DNA, sendo Allan Maxam, Walter Gilbert e Frederick Sanger os principais cientista envolvidos nestas pesquisas. Logo em seguida surge a primeira empresa de biotecnologia industrial, a Genentech. Logo tornou-se possível a fabricação de princípio ativo, hormônios e vacinas por meios biotecnológicos.
Em 1988, Colin Pitchfork foi a primeira pessoa condenada por assassinato usando como provas exames de DNA, ocasionando uma revolução nas ciências forenses. Mais recentemente, Andrew Fire e Craig Mello receberam o Prêmio Nobel em 2006 pela descoberta da interferência do RNA (RNAi) no silenciamento genético.
Objetos de estudo e aplicações
Estudo do sistema bioquímico: determinação das propriedades químicas, físico-químicas, biofísicas e estruturais das biomoléculas e de suas interações entre si; métodos de análise e purificação. As biomoléculas podem ser classificadas como orgânicas e inorgânicas:
As biomoléculas orgânicas são aquelas que apresentam uma estrutura cuja base é o carbono e são sintetizadas pelos seres vivos, como as proteínas, vitaminas, carboidratos, ácidos nucleicos e lipídeos e compostos de metabolismo secundário (produtos naturais), tais como os da fitoquímica;
As biomoléculas inorgânicas são aquelas presentes tanto em seres vivos quanto em elementos inertes, como a água e íons bioinorgânicos (Cálcio, Magnésio, Potássio, Cloreto por exemplo);
As interações moleculares entre biomoléculas podem resultar em reações químicas de síntese ou degradação (metabolismo), modificação estrutural em biomoléculas (alosterismo), ou efeitos de compostos químicos externos (xenobióticos);
A água é uma biomolécula importante, responsável por 70% do peso total de uma célula. Além de ser o principal constituinte da célula, desempenha um papel fundamental na definição de suas estruturas e funções. Muitas vezes a estrutura ou a função de uma biomolécula depende de suas características de afinidade com a água, a saber: se a biomolécula é hidrofílica, hidrofóbica ou anfipática. A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e é o fator primário de definição das complexas estruturas espaciais das macromoléculas.
As proteínas constituem a maior fração da matéria viva e são as macromoléculas mais complexas; possuem inúmeras funções na célula e formam várias estruturas celulares, além de controlarem a entrada e saída de substâncias nas membranas. Têm importante papel na contração e movimentação dos músculos (actina e miosina), sustentação (colágeno), transporte de oxigênio (hemoglobina), na defesa do organismo (anticorpos ), na produção de hormônios e também atuam como catalisadores (as enzimas) de reações químicas.
Os ácidos nucléicos são as maiores macromoléculas da célula e responsáveis pelo armazenamento e transmissão da informação genética.
Os carboidratos são os principais combustíveis celulares (reserva de energia); possuem também função estrutural e participam dos processos de reconhecimento celular e de formação dos ácidos nucleicos. São exemplos glicose, frutose,pentose, sacarose lactose, amido.
Os lipídios são a principal fonte de armazenamento de energia dos organismos vivos e desempenham importantes funções no isolamento térmico e físico (impermeabilização de superfícies biológicas como frutos) e proteção a choques mecânicos. São exemplos membrana biológicas (fosfolipídios), gorduras e óleos, precursores de hormônios esteroides (tais como testosterona, progesterona e estradiol) e de sais biliares, que atuam como detergentes, propiciando a absorção dos lipídios.
As vitaminas são micromoléculas, não participam do processo digestório, pois são absorvidas diretamente pelo organismo, que atuam como coenzimas, isto é, ativando enzimas responsáveis pelo metabolismo celular. Geralmente são hidrossolúveis. São lipossolúveis as vitaminas A (retinol), D (calciferol), E (tocoferol) e K.
Os compostos do metabolismo secundário, tais como alcalóides (cafeína, nicotina, atropina), polifenóis (taninos), terpenos (óleos essenciais aromáticos), dentre outros.
O metabolismo envolve a síntese e degradação das diferentes biomoléculas, mecanismos de regulação das inúmeras reações que ocorrem simultaneamente na célula e no organismo; fluxos metabólicos; processos fermentativos e estudo do efeito de compostos químicos xenobióticos nos organismos vivos (efeitos de fármacos, agroquímicos, poluentes, tóxicos). Entre os celos metabólicos mais importantes estão o ciclo de Krebs, fotossíntese.
No estudo da Bioquímica diversos são os instrumentais de análise, em especial instrumentos e técnicas químicas, bioquímicas e biofísicas, tais como eletroforese, cromatografia (em especial HPLC/CLAE e gasosa), espectrofotometria, reação em cadeia da polimerase (PCR), plasmídeos e tecnologia do DNA recombinante (engenharia genética),ensaios enzimáticos, espectrometria de massas, ressonância magnética nuclear, ensaios de fluorescência (espectroscopia de fluorescência por exemplo), calorimetria de titulação isotérmica (ITC), biorreatores, ensaios de ligação de biomoléculas (Western Blot, ELISA), dicroísmo circular, PCR quantitativo, bioinformática, Sohxlet, destilação, centrifugação, Kjeldalhl, Demanda química de oxigênio (DQO), meios de cultura, entre outros que podem ser vistas nesta listagem: técnicas de laboratório.
Estudo do sistema biológico em nível molecular: Apresenta a visão bioquímica de processos e fenômenos da biologia celular, fisiologia e imunologia, transmissão de genes (biologia molecular), patologia.
A Bioquímica celular apresenta a visão e explicação bioquímica de processos e fenômenos intracelulares envolvendo: sinalização celular, divisão celular, tráfico de vesículas, morte celular, radicais livres, regulação do ciclo celular, reprodução descontrolada (câncer), adesão celular, funções metabólicas de organelas, relação bioquímica entre organelas e sinalização intracelular, organização do material genético nas células (cromossomos, cromatina, nucleossomos), processos de replicação, reparo, recombinação e transposição, organização dos genomas, controle da expressão gênica.
A Bioquímica fisiológica apresenta a visão e explicação bioquímica de processos e fenômenos fisiológicos envolvendo: controle e integração de processos fisiológicos por hormônios, equilíbrio eletrolítico e ácido-base, equilíbrio gasoso e bioquímica da respiração, bioquímica do sistema nervoso, bioquímica do sistema digestório, bioquímica do tecido hepático, bioquímica do tecido renal, bioquímica do sangue e linfa, bioquímica do tecido adiposo, bioquímica da visão.
A Bioquímica clínica (patológica) apresenta a visão e diagnóstico bioquímico de processos e fenômenos patológicos tais como: diabetes mellitus e hipoglicemia, provas de função renal, função hepática e função pancreática, dislipidemias, marcadores moleculares enzimáticos e genéticos, doenças do coração, lesões musculares, distúrbios de equilíbrio ácido-báse, disfunções hormonais e químicas de hipófise, tireóide, gônadas, adrenal e para-tireóide.
O conhecimento bioquímico é muito importante para empresas e indústrias de diversas áreas: farmacêutica (farmoquímicos: fármacos, excipientes, produtos naturais e biofármacos), análises clínicas (instrumental de análise e diagnóstico bioquímica de doenças), nutrição e alimentos (ingredientes e análises de componentes bioquímicos, bebidas alcoólicas, leite e derivados, produção de chocolates), agrícola (agroquímicos e melhora da fixação de nitrogênio em plantas como a soja), cosmética (novos ingredientes e produtos de beleza e higiene) e até tecnológica (produção de compósitos sustentáveis de origem renovável).
Profissão e Bacharelado em Bioquímica
O primeiro instituto de pesquisa estruturado e voltado unicamente para a química da vida surgiu em 1872, como Instituto de Química Fisiológica da Universidade de Strasbourg, enquanto que, em 1880, a universidade norte-americana de Yale estruturou os primeiros cursos regulares de química fisiológica. Por volta de 1899, quando a universidade inglesa de Cambridge criou o laboratório de química dentro do departamento de fisiologia, chefiado por Frederick Gowland Hopkins, primeiro professor de bioquímica da Universidade de Cambridge, e também fundador da bioquímica inglesa, a química da vida já estava estabelecida como ciência, sob diferentes denominações. O processo de maturação desta ciência estabeleceu cursos de bacharelado (em Portugal, equivalente a Licenciatura) em diversos países. É preciso ressaltar que os cursos de graduação (licenciaturas) em bioquímica e portanto, os bioquímicos são tradicionais em países da Europa (Reino Unido, Alemanha, Espanha, Portugal, Franca e Italia),na America Latina (Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colombia, México e Guatemala) no Canadá, na Austrália e nos Estados Unidos. Neste último país, os cursos de bacharelado em bioquímica existem desde a década de 50. Segundo a ASBMB (American Society for Biochemistry and Molecular Biology) existem cerca de 600 Instituições nos Estados Unidos que oferecem os cursos de bioquímica/biologia molecular e estima-se que cerca de 2 mil bacharéis foram graduados nos anos de 2001-2002. No Reino Unido existem mais de 100 cursos de graduação em bioquímica.
O Bioquímico, portanto, é o profissional que estuda a bioquímica de um ponto de vista de ciência básica e aplicada tecnologicamente e industrialmente. Os bioquímicos utilizam ferramentas e conceitos da química e da biologia, particularmente da química orgânica, físico-química, biologia celular, biologia molecular e genética, para a elucidação dos sistemas vivos e para sua aplicação tecnológica e industrial. Desta forma o bioquímico possui conhecimentos científicos, capacitação técnica e habilidades para atuar em ensino superior, pesquisa, desenvolvimento e inovação, controle e garantia de qualidade, produção industrial, laboratórios, comércio de produtos científicos, laboratoriais e industriais, bioeconomia, além de aprender sobre os princípios éticos e legais relativos à profissão no âmbito do seu exercício profissional. O propósito da existência do curso de bioquímica está na unificação das diferentes visões e fragmentos da bioquímica que antes estavam espalhados em diferentes profissões: a bioquímica científica (pesquisa), a bioquímica industrial, a bioquímica clínica e toxicológica, a bioquímica agrícola, a bioquímica de alimentos e bromatologia, a bioquímica educacional, a tecnologia bioquímica e biotecnologia, e mesmo a bioquímica comercial (marketing, gestão etc). Os cursos de graduação em bioquímica são tradicionais, bem consolidados e de perfil bem definido em diversos países como Portugal, Espanha, Reino Unido, Chile, Canadá, Austrália e nos Estados Unidos, onde é uma da 10 profissões mais valorizadas e de maior salário. No Brasil, a oferta de cursos de graduação em bioquímica é recente, em função da combinação do crescente interesse no ensino da bioquímica de forma aprofundada a nível de graduação com a migração do do perfil do farmacêutico para ser um profissional de saúde. Com isso, abre-se um espaço natural para o surgimento dos bacharelados em bioquímica, com o perfil de profissional da química e da área tecnológica em qualquer interface química-biologia.
Em Portugal
A licenciatura em bioquímica, em Portugal, foi criada em 1979, na Universidade de Coimbra, sendo prontamente seguido de diversas outras universidades.
Em 1995, os licenciados (bacharéis) em Bioquímica criaram a Associação Nacional de Bioquímicos (ANBIOQ), com sede em Coimbra.
No Brasil
O bacharelado em bioquímica, no Brasil, foi criado em 2001, na Universidade Federal de Viçosa, visando a suprir a necessidade crescente de profissionais qualificados para atuar nas áreas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico das diversas áreas relacionadas com o curso.
Em moldes semelhantes, foi criado em 2008, o segundo curso de graduação em bioquímica do Brasil; a Universidade Federal de São João del Rei, implantou o curso em seu campus de expansão Centro-Oeste. Em 2011, foi criado o terceiro curso de graduação em Bioquímica, da Universidade Estadual de Maringá. Existe também na USP a graduação em química com ênfase em bioquímica.
No Brasil, não se deve confundir farmacêutico com o bioquímico, visto que um é profissional de saúde e outro é profissional da química em qualquer interface com a biologia. Por bastante tempo, os cursos de graduação em farmácia no Brasil denominaram-se Farmácia-Bioquímica, em errônea alusão à habilitação em análises clínicas . Isto gerou na sociedade, e mesmo nos meios acadêmicos, a falsa noção de que bioquímica seria análises clínicas somente e seria sinônimo de farmácia, o que de fato não é verdadeiro.[19][1]
Em 2014 foi criado o Movimento Bioquímica Brasil, com presença nas principais mídias sociais, site e canal de vídeo no principal agregador desta mídia, dedicados a divulgar o Bacharel em Bioquímica e a divulgar a ciência, tecnologia e inovação em Bioquímica. Desde o início do movimento, a influência de conceitos-chave de empreendedorismo, responsabilidade individual, responsabilidade social, vivência no mercado de trabalho não acadêmico e união entre os cursos e bioquímicos se mostrou forte, resultando na consolidação do Bacharelado em Bioquímica no Brasil, como prova a simbologia aqui exposta.
Diferenças para outras profissões
A bioquímica pode ser vista como um fim em si ou como uma ferramenta para diversas outras profissões:
Bioquímico: A Bioquímica é vista como um fim em si. Tem como foco o estudo da bioquímica pura e da bioquímica aplicada em diversos setores industriais e laboratoriais;
Farmacêutico: A Bioquímica é ferramenta para este profissional da saúde, tanto para sua atuação no uso racional de medicamentos (atenção e assistência farmacêuticas; dispensação de medicamentos), quanto em sua atuação em análises clínicas;
Profissões biológicas (Biólogo/Biomédico): A Bioquímica é ferramenta para estes profissionais nos seus respectivos ramos de atuação;
Profissões de origem biológica (Medicina, Veterinária, Agronomia, Zootecnia, Odontologia, Nutrição etc..): Idem o item acima, é uma ferramenta;
Profissões químicas (Engenharia química e derivados, Química, Engenharia de Alimentos): Idem acima., é uma ferramenta.
Ver também
Bioquímico
Biologia
Biomedicina
Biotecnologia
Farmácia
Química
Célula
Medicina
Ligações externas
Bacharelado em Bioquímica - Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
Bacharelado em Bioquímica - Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBQ)
Associação de Bioquímicos de Portugal
Mapeando a educação em bioquímica no Brasil
Farmácia
Campos interdisciplinares |
Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, – Paris, ) foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês. Prodígio, Pascal foi educado por seu pai. Os primeiros trabalhos de Pascal dizem respeito às ciências naturais e ciências aplicadas. Contribuiu significativamente para o estudo dos fluidos. Ele esclareceu os conceitos de pressão atmosférica e vácuo, estendendo o trabalho de Evangelista Torricelli. Pascal escreveu textos importantes sobre o método científico.
Aos 19 anos inventou a primeira máquina de calcular, chamada de máquina de aritmética, depois roda de pascalina e finalmente pascalina. Construiu cerca de vinte cópias na década seguinte. Matemático de primeira linha, criou dois novos campos de pesquisa: primeiro, publicou um tratado de geometria projetiva aos dezesseis anos; então, em 1654, ele desenvolveu um método de resolver o "problema dos partidos", que, dando origem, no decorrer do século XVIII, ao cálculo das probabilidades, influenciou fortemente as teorias económicas modernas e as ciências sociais.
Depois de uma experiência mística que experimentou em novembro de 1654, dedicou-se à reflexão filosófica e religiosa, sem renunciar ao trabalho científico. Após uma experiência religiosa no final de 1654, ele começou a escrever obras que se tornariam influentes nos campos da filosofia e da teologia. Suas duas obras mais famosas datam desse período: as Provinciais e os Pensamentos, a primeira ambientada no conflito entre jansenistas e jesuítas. Nos Pensamentos, sua obra magna, Pascal adianta vários temas que seriam tratados na filosofia contemporânea, tais como a finitude do sujeito, as antinomias kantianas, críticas à metafísica escolástica e cartesiana, e diversos temas do existencialismo.
Em 8 de julho de 2017, em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica, o Papa Francisco anunciou que Blaise Pascal "merece a beatificação" e que planeja iniciar o procedimento oficial.
Vida
Blaise Pascal era filho de Étienne Pascal, professor de matemática, e de Antoinette Begon. Perdeu a sua mãe com três anos de idade. Seu pai tratou da sua educação por ele ser o único filho do sexo masculino, orientando-o com vistas ao desenvolvimento correto da sua razão e do seu juízo. O recurso aos jogos didácticos era parte integrante desse ensino que incluía disciplinas tão variadas como história, geografia e filosofia.
O talento precoce de Blaise Pascal para as ciências físicas levou a família a Paris, onde ele se consagrou ao estudo da matemática. Acompanhou o pai quando este foi transferido para Rouen e lá realizou as primeiras pesquisas no campo da Física. Suas experiências sobre sons resultaram em um pequeno tratado (1634). No ano seguinte chega à dedução de 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publica Essay pour les coniques (1640), obra na qual está formulado o célebre teorema de Pascal.
Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico.
Como matemático, interessou-se pelo cálculo infinitesimal, pelas sequências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. O cálculo diferencial e integral de Newton e Leibniz que seria a base da física clássica foi inspirado em um tratado publicado por Blaise Pascal sobre os senos num quadrante de um círculo onde buscou a integração da função seno, que também viria a ser a base da matemática moderna. Criou um tipo de máquina de calcular que chamou de La pascaline (1642), uma das primeiras calculadoras mecânicas que se conhece, conservada no Museu de Artes e Ofícios de Paris. Anders Hald escreveu:
"Para aliviar o trabalho do seu pai como agente fiscal, Pascal inventou uma máquina de calcular para adição e subtração assegurando sua construção e venda." Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, refutou o conceito de "horror ao vazio". Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicos tradicionais.
Em 1646 a família converte-se ao Jansenismo.
De volta a Paris (1647), influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica. A partir de então, desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles e tubos de vários tamanhos e formas e com líquidos como água, mercúrio, óleo, vinho, ar, etc., no vácuo e sob pressão atmosférica.
Em 1651 o seu pai morreu.
Na sequência de uma experiência mística, em finais 1654, faz a sua "segunda conversão" e abandona as ciências para se dedicar exclusivamente à filosofia e à teologia, num período marcado pelo conflito entre jansenistas e jesuítas. No ano seguinte, recolhe-se à abadia de Port-Royal-des-Champs, centro do jansenismo. Só voltaria às ciências após "novo milagre" (1658). São desse período as suas principais contribuições no campo filosófico-religioso: As cartas provinciais (1656-1657), conjunto de 18 cartas escritas em defesa do jansenista Antoine Arnauld - oponente dos jesuítas que estava em julgamento pelos teólogos de Paris - e Pensamentos, fragmentos reunidos e publicados postumamente (1670), onde foi concebida sua defesa ao cristianismo. Nos Pensamentos encontra-se também a sua frase mais citada: "O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece".
Como teólogo e escritor destacou-se como um dos mestres do racionalismo e irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista.
Pascal aperfeiçoou o barômetro de Torricelli e, na matemática, com o Traité du triangle arithmétique ("Tratado do triângulo aritmético", mais conhecido como triângulo de Pascal), de 1654, estabeleceu, juntamente com Pierre de Fermat, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que o holandês Huygens desenvolveria posteriormente (1657). Entre 1658 e 1659, escreveu sobre o ciclóide e a sua utilização no cálculo do volume de sólidos. Após obter resultado sobre os quadrados dos cicloides publicados em 1658, desafiou matemáticos da época a solucionarem problemas relacionados aos ciclóides e chegarem aos resultados por ele já alcançados.
Um dos seus tratados sobre hidrostática, Traité de l'équilibre des liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte (1663). Pascal também esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Estabeleceu o princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de tensão mecânica (ou pressão) Pascal (1Pa = 1 N/m²; 105 N/m² = 1 bar).
Pascal, que sempre teve uma saúde frágil, adoeceu gravemente em 1659. Morreu em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos. Seu corpo foi sepultado na Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, Ilha de França, Paris na França.
Contribuições à Matemática
Pascal continuou a influenciar a matemática ao longo de sua vida. Seu Traité du triangle arithmétique ("Tratado sobre o Triângulo aritmético") de 1653 descreveu uma apresentação tabular conveniente para os coeficientes binomiais, agora chamado triângulo de Pascal. O triângulo também pode ser representado:
Ele define os números no triângulo por recursão: Chame o número na (m+1)-ésima linha e na (n+1)-ésima coluna por tmn. Então tmn = tm-1,n + tm,n-1, para m = 0, 1, 2... e n = 0, 1, 2... As condições de contorno são tm, −1 = 0, t−1, n para m = 1, 2, 3... e n = 1, 2, 3... O gerador t00 = 1. Pascal conclui com a prova,
Em 1654, solicitado por um amigo interessado em problemas de jogos, ele correspondeu-se com Pierre de Fermat sobre o assunto e desta colaboração nasceu a teoria matemática das probabilidades. O amigo era Antoine Gombaud e o problema específico foi o de dois jogadores que querem terminar um jogo mais cedo e, dadas as atuais circunstâncias do jogo, querem dividir as apostas de forma justa, com base na chance que cada um tem de ganhar o jogo a partir desse ponto. A partir desta discussão, a noção de valor esperado foi introduzida. Pascal mais tarde (nos seus Pensées) usou um argumento probabilístico, a Aposta de Pascal para justificar a crença em Deus e uma vida virtuosa. O trabalho realizado por Fermat e Pascal para o cálculo de probabilidades estabeleceu os fundamentos importantes para a formulação de Leibniz do cálculo infinitesimal.
Filosofia da Matemática
A grande contribuição de Pascal para a filosofia da matemática veio com o seu De l'Esprit géométrique ("Do Espírito Geométrico"), originalmente escrito como um prefácio para um livro de geometria para um dos famosos "Petites écoles de Port-Royal" ("Escolinhas de Port-Royal"). O trabalho ficou inédito até mais de um século após sua morte. Aqui, Pascal estudou a questão da descoberta de verdades, argumentando que o ideal de um tal método seria encontrar todas as proposições sobre as verdades já estabelecidas. Ao mesmo tempo, no entanto, ele alegou que isso era impossível porque tais verdades estabelecidas exigiriam outras verdades para apoiá-las — os primeiros princípios, portanto, não podiam ser alcançadas. Com base nisso, Pascal argumentou que o procedimento utilizado em geometria era tão perfeito quanto possível, com alguns princípios assumidos e outras proposições desenvolvidas a partir deles. No entanto, não havia nenhuma maneira de saber se os princípios assumidos eram, de fato, verdade.
Pascal também utilizou o De l'Esprit géométrique para desenvolver uma teoria da definição. Ele distingue entre as definições que são rótulos convencionais definidas pelo escritor e definições que estão dentro da linguagem e compreendidas por todos, pois naturalmente designam seu referente. O segundo tipo seria característica da filosofia do essencialismo. Pascal afirmou que apenas as definições do primeiro tipo são importantes para a ciência e a matemática, argumentando que esses campos devem adotar a filosofia do formalismo, tal como formulado por Descartes.
No De l'Art de persuader ("Sobre a Arte da Persuasão"), Pascal estudou de forma mais profunda o método axiomático da geometria, especificamente a questão de como as pessoas vem a ser convencidas dos axiomas sobre os quais conclusões posteriores se baseiam. Pascal concordou com Montaigne que alcançar a certeza nestes axiomas e as conclusões através de métodos humanos é impossível. Ele afirmou que esses princípios só podem ser apreendidos através da intuição, e que este fato ressaltou a necessidade de submissão a Deus na busca de verdades.
Física
Pascal contribuiu para vários campos da física, principalmente os campos da mecânica dos fluidos e pressão. Em homenagem a suas contribuições científicas, o nome de Pascal foi dado à unidade de pressão SI e à lei de Pascal (um importante princípio da hidrostática). Ele introduziu uma forma primitiva de roleta e a roda da roleta em sua busca por uma máquina de movimento perpétuo.
Dinâmica dos fluidos
Seu trabalho nas áreas de hidrodinâmica e hidrostática é centrado nos princípios dos fluidos hidráulicos. Suas invenções incluem a prensa hidráulica (usando pressão hidráulica para multiplicar a força) e a seringa. Ele provou que a pressão hidrostática não depende do peso do fluido, mas da diferença de elevação. Ele demonstrou esse princípio anexando um tubo fino a um barril cheio de água e enchendo o tubo com água até o nível do terceiro andar de um edifício. Isso fez com que o barril vazasse, no que ficou conhecido como o experimento do barril de Pascal.
Vácuo
Em 1647, Pascal soube dos experimentos de Evangelista Torricelli com barômetros. Tendo replicado um experimento que envolvia colocar um tubo cheio de mercúrio de cabeça para baixo em uma tigela de mercúrio, Pascal questionou qual força mantinha algum mercúrio no tubo e o que preenchia o espaço acima do mercúrio no tubo. Na época, a maioria dos cientistas, incluindo Descartes, acreditava em um plenum, i. e. alguma matéria invisível preencheu todo o espaço, em vez de um vácuo. "A natureza abomina o vácuo." Isso se baseava na noção aristotélica de que tudo em movimento era uma substância, movida por outra substância. Além disso, a luz passou pelo tubo de vidro, sugerindo que uma substância como o éter, em vez de vácuo, preenchia o espaço.
Seguindo mais experimentações neste sentido, em 1647 Pascal produziu Experiences nouvelles touchant le vide ("Novos experimentos com o vácuo"), que detalhou regras básicas que descrevem em que grau vários líquidos podem ser sustentados pela pressão do ar. Também forneceu razões pelas quais era de fato um vácuo acima da coluna de líquido em no tubo do barômetro. Este trabalho foi seguido por Récit de la grande expérience de l'équilibre des liqueurs ("Relato do grande experimento no equilíbrio em líquidos") publicado em 1648.
O vácuo Torricelliano descobriu que a pressão do ar é igual ao peso de 30 polegadas de mercúrio. Se o ar tem um peso finito, a atmosfera da Terra deve ter uma altura máxima. Pascal raciocinou que, se for verdade, a pressão do ar em uma montanha alta deve ser menor do que em uma altitude mais baixa. Ele morava perto da montanha Puy de Dôme, com 4.790 pés (1.460 m) de altura, mas sua saúde era fraca, então não podia escalá-la. Em 19 de setembro de 1648, depois de muitos meses de estímulos amigáveis, mas insistentes, de Pascal, Florin Périer, marido da irmã mais velha de Pascal, Gilberte, foi finalmente capaz de realizar a missão de averiguação vital para a teoria de Pascal. O relato, escrito por Périer, diz:O tempo estava perigoso no sábado passado... [mas] por volta das cinco horas daquela manhã... o Puy-de-Dôme estava visível... então decidi tentar. Várias pessoas importantes da cidade de Clermont me pediram para avisá-los quando eu faria a subida... Fiquei muito feliz em tê-los comigo nesta grande obra...
... às oito horas nos encontramos nos jardins dos Padres Minim, que tem a elevação mais baixa da cidade. ... Primeiro eu derramei 16 libras de mercúrio... em um vaso... depois peguei vários tubos de vidro... cada um com mais de um metro de comprimento e hermeticamente selado em uma extremidade e aberto na outra... então coloquei-os no vaso [de mercúrio] ... Eu descobri que a prata rápida tinha 26" e 31⁄2 linhas acima do mercúrio no vaso... Repeti a experiência mais duas vezes enquanto estava no mesmo lugar... [eles] produziram o mesmo resultado cada vez...
Prendi um dos tubos ao vaso e marquei a altura do mercúrio e... pedi ao Padre Chastin, um dos Irmãos Minim... para ver se alguma mudança deveria ocorrer durante o dia... Pegando o outro tubo e uma porção do mercúrio... eu caminhei até o topo do Puy-de-Dôme, cerca de 500 braças acima do mosteiro, onde após a experiência... descobri que o mercúrio atingiu uma altura de apenas 23" e 2 linhas... Repeti o experimento cinco vezes com cuidado... cada um em diferentes pontos do cume... encontrei a mesma altura de mercúrio... em cada caso...Pascal replicou a experiência em Paris carregando um barômetro até o topo da torre do sino da igreja de Saint-Jacques-de-la-Boucherie, uma altura de cerca de 50 metros. O mercúrio caiu duas linhas.
Em resposta à plenista Estienne Noel, Pascal escreveu, ecoando noções contemporâneas de ciência e falseabilidade: “Para mostrar que uma hipótese é evidente, não basta que dela decorram todos os fenômenos; ao contrário, se ela leva a algo ao contrário de um único dos fenômenos, isso basta para estabelecer a sua falsidade."
As cadeiras Blaise Pascal são dadas a cientistas internacionais de destaque para conduzir suas pesquisas na região de Ile de France.
Legado
Em honra de suas contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade SI de pressão, a uma linguagem de programação, à lei de Pascal (um importante princípio da hidrostática), e o triângulo de Pascal e a aposta de Pascal ainda levam o seu nome.
O desenvolvimento de Pascal da teoria da probabilidade foi a sua contribuição mais influente para a matemática. Originalmente aplicada ao jogo de azar, hoje é extremamente importante na economia, especialmente na ciência atuarial. John Ross escreveu: "A teoria das probabilidades e as descobertas após essa mudaram a nossa forma de encarar a incerteza, risco, tomada de decisão, e a capacidade de um indivíduo ou da sociedade de influenciar o curso dos eventos futuros.". No entanto, deve notar-se que Pascal e Fermat, embora fazendo um trabalho inicial importante na teoria das probabilidades, não desenvolveram o campo muito mais longe. Christiaan Huygens, aprendendo do tema a partir da correspondência de Pascal e Fermat, escreveu o primeiro livro sobre o assunto. Mais tarde, pessoas que continuaram o desenvolvimento da teoria incluem Abraham de Moivre e Pierre-Simon Laplace.
Na literatura, Pascal é considerado um dos autores mais importantes do período clássico francês e é lido hoje como um dos maiores mestres da prosa francesa. Seu uso da sátira e do humor influenciou polemistas posteriores. O conteúdo de sua obra literária é mais lembrado por sua forte oposição ao racionalismo de René Descartes e a afirmação simultânea que a principal filosofia de compensação, o empirismo, também era insuficiente para determinar verdades importantes.
Na filosofia, a influência de Pascal foi ampla, influenciando grande parte dos filósofos franceses subsequentes. Para além dos franceses, destacamos autores como Friedrich Nietzsche e Søren Kierkegaard, filósofos influenciados por Pascal.
Na França, prestigiosos prêmios anuais, são dadas bolsas de investigação científica Blaise Pascal a proeminentes cientistas internacionais para realizar a sua investigação na região de Île de France. Uma das universidades de Clermont-Ferrand, França - Universidade Blaise Pascal - é nomeada em sua homenagem.
Ver também
Revolução científica
Aposta de Pascal
Princípio de Pascal
Ligações externas
Filósofos cristãos
Filósofos da França
Físicos da França
Geómetras
Inventores da França
Jansenistas
Matemáticos da França
Matemáticos do século XVII
Naturais de Clermont-Ferrand
Pioneiros da computação |
A Baía dos Porcos (em espanhol, Bahia de los Cochinos) é uma baía na costa meridional de Cuba, mais conhecida em razão de uma tentativa de invasão malsucedida por parte de mais de mil e duzentos exilados cubanos, ligados ao antigo regime de Fulgêncio Batista, apoiados pelos Estados Unidos - que foram treinados e financiados pelos serviço secreto norte-americana CIA, em 1961. Esta invasão deu-se devido à persistência dos Estados Unidos em contrariar a dispersão dos ideais comunistas. É um dos marcos históricos da reconhecida Guerra Fria.
Fauna
Anualmente, há um aumento da população de caranguejos na baía, após a época de acasalamento. Em 2022, no entanto, esse aumento foi maior do que o comum, possivelmente relacionado ao menor tráfego de carros, ônibus e pessoas nos anos anteriores, durante a pandemia de COVID-19.
Ver também
Invasão da Baía dos Porcos
Porcos
Guerra Fria |
Bacalhau à Brás (ou também Bacalhau à Braz) é um típico prato português de bacalhau. Sendo um dos pratos mais populares confeccionados com este peixe, consiste em bacalhau desfiado, batata palha frita, cebola frita às rodelas finas, ovo mexido, azeitonas e salsa picada. É muito consumido em Portugal e também em Macau. O excelente sabor depende da relação dos componentes da receita, principalmente a quantidade de cebola em relação ao bacalhau e o azeite usado para efetuar este prato.
A receita foi criada por um taberneiro do Bairro Alto, em Lisboa, de nome Brás (ou Braz, como era uso escrever nessa época).
A sua popularidade levou-o a atravessar a fronteira com a Espanha, sendo por vezes possível encontrá-lo também em ementas espanholas sob designações como "revuelto de bacalao a la portuguesa" ou "bacalao dorado".
Ver também
Bacalhau com natas
Bacalhau à Gomes de Sá
Bacalhau à Zé do Pipo
Ligações externas
Bacalhau dourado, o original
A receita de bacalhau à Brás
Pratos portugueses de bacalhau
Pratos com batata |
A bula pontifícia é um alvará passado pelo Papa ou Pontífice católico, com força de lei eclesiástica, pelo qual se concedem graças e indulgências aos que praticam algum acto meritório. O termo bula refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). Assim, existem Litterae Apostolicae (carta apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula.
Por exemplo, a carta apostólica "Munificentissimus Deus", bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do papa Adeodato I (615-618).
Explica a página da Torre do Tombo, em Portugal que dos séculos XI ao XV numerosos diplomas pontifícios com diverso valor jurídico, como as Constitutiones (leis gerais eclesiásticas) ou as Decretales (disposições de governo da Igreja, também chamadas litterae decretales) receberam a mesma forma de validação, ou seja, a aposição de um selo pendente de chumbo, designado por bulla, por ser o resultado da compressão de uma esfera de chumbo entre duas matrizes.
E prossegue a explicação: Tal forma de validação (a "bulla") passou a ser usada como designação de todos os diplomas pontifícios, ou, vulgarmente, bulas. Além do selo pendente de chumbo, comum a estes diplomas, nas litterae iustitiae, ou seja, nas disposições de governo resolvidas pelo Papa em conformidade com o Direito, o selo está suspenso por meio de fio de cânhamo. Já nas litterae gratiae ou litterae tituli, disposições de governo em que o Papa graciosamente concede dispensas e indulgências solicitadas, o selo de chumbo está suspenso por fio de seda amarela e vermelha. No anverso do selo são representados em efígie os Apóstolos Pedro e Paulo e no reverso o nome e o numeral do Papa.
Durante o século XV a forma tradicional da bula ficou reservada aos diplomas mais importantes e os de teor comum ficaram chamados de litterae breves, com maior simplicidade de forma e com a aposição, sobre o diploma dobrado, de um selo de cera, o anel do Pescador, que representa São Pedro lançando as redes.
A matéria do selo era de chumbo, mas para acentuar a solenidade do diploma e a importância do assunto, em algumas ocasiões tais diplomas receberam selo de prata, dando origem às chamadas bulas argênteas. Em ocasiões ainda mais raras, o selo podia ser de ouro, o que dava origem às chamadas bulas áureas. Clemente XII e Bento XIV concederam entre 1737 e 1742 várias graças, formalizadas em sete bulas áureas.
Na Torre do Tombo, o maior arquivo de Portugal, conserva-se uma coleção de bulas organizada, entre 1751 e 1754, por Manuel da Maia, ao qual foram mandados entregar todos os breves e bulas expedidos para o reino e seus domínios, que se encontrassem dispersos por secretarias de Estado, Secretaria das Mercês, Real Biblioteca e outras repartições.
Bulas e breves foram reunidas consoante os pontífices que as emitiram, ordenados alfabeticamente. A coleção mostra documentos sobre conflitos de jurisdição entre o rei e autoridades religiosas, entre as quais o arcebispo de Braga, os bispos de Lisboa, Évora, Lamego e de Coimbra, o abade do mosteiro de Alcobaça, o de São Vicente de Fora, o prior do convento de Santa Cruz de Coimbra; concessão ou ordem de respeito pelos privilégios das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis; concessão de direitos de padroado sobre igrejas do Reino e Ultramar; criação e regime da igreja Patriarcal de Lisboa; canonização da rainha Isabel; sucessão no governo de bispados; concessão de rendas eclesiásticas ao rei; ordens para a edificação e reformação de conventos; atribuição ao Rei de Portugal de terras por descobrir; e outros temas.
Bulas papais
Século XI
13 de abril de 1059 - In nomine Domini, promulgada pelo papa Nicolau II (estabelece quem elege o Papa).
1079 - Libertas Ecclesiae, promulgada pelo papa Gregório VII (fala sobre a liberdade da Igreja).
1079 - Antiqua sanctorum patrum, Concessão à igreja de Lyon da supremacia sobre todas as igrejas da França para Gregorio VII .
Século XII
15 de fevereiro de 1113 - Pie Postulatio Voluntatis, promulgada pelo papa Pascal II (cria Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém).
19 de junho de 1119 - Ad Hoc Nos Disponente, promulgada pelo papa Calisto II (confirmação dos privilégios e posses dos Hospitalários de São João de Jerusalém).
1120 - Sicut Judaeis, promulgada pelo papa Calisto II (Uma bula destinada a proteger os judeus durante as Cruzadas e a proibir conversões forçadas).
7 de julho de 1136 - Ex Commisso Nobis, também chamado de bula de Gniezno, promulgada pelo papa Inocêncio II (confirma a independência da Igreja polaca).
29 de março de 1139 - Omne Datum Optimum, promulgada pelo papa Inocêncio II (fala sobre o reconhecimento da Ordem dos Templários).
9 de fevereiro de 1143 - Milites Templi, promulgada pelo papa Celestino II (fala sobre a garantia de privilégios aos Templários).
7 de abril de 1145 - Militia Dei, promulgada pelo papa Eugénio III (fala sobre a garantia de mais privilégios aos Templários).
1145 - Quantum praedecessores, promulgada pelo papa Eugénio III (chamada à Segunda Cruzada. Primeira bula que coloca o Cruzado, sua família e seus bens sob a proteção da Igreja).
1154 - Christiane Fidei Religio, promulgada pelo papa Anastácio IV (adiciona regras aos privilégios e aos direitos adicionais de Hospitalários da Ordem de São João de Jerusalém).
1155 - Laudabiliter - promulgada pelo papa Adriano IV (Reconhecer o domínio de Henrique II sob a Irlanda).
23 de maio de 1179 - Manifestis Probatum, emitida pelo Papa Alexandre III que declarou o Condado Portucalense (Portugal) independente do Reino de Leão, e D. Afonso Henriques, o seu soberano.
maio de 1184 - Ad Abolendam, promulgada pelo papa Lúcio III (confirmando a fundação do capítulo da Igreja Colegiada de Saint-Florent em Roye)
1187 - Audita Tremendi, promulgada pelo papa Gregório VIII (chamada à Terceira Cruzada).
1192 - Cum Universi, promulgada pelo papa Celestino III (afirma que a Igreja da Escócia não mais se reporta ao Arcebispo de York, mas à Santa Sé).
15 de agosto de 1198 - Post Miserabile, promulgada pelo papa Inocêncio III (Convoca a IV Cruzada e dando privilégios para o futuro cruzado).
1198 - Dilecti Filii, promulgada pelo papa Inocêncio III (Revisa a Militia Dei de 1145 a fim de resolver um conflito entre o clero e a ordem do Templo).
Século XIII
Fevereiro de 1205 - Etsi Non Displiceat, promulgada pelo papa Inocêncio III (Aborda uma série de acusações contra os judeus, dirigida ao rei da França).
1218 - In Generali Concilio, promulgada pelo papa Honório III (Ordena a execução das decisões do IV Concílio de Latrão).
1219 - Super Specula, promulgada pelo papa Honório III (Proibição do ensino de direito romano na Universidade de Paris).
29 de novembro de 1223 - Solet Annuere, promulgada pelo papa Honório III (Aprova a regra dos franciscanos).
1231 - Parens Scientiarum, promulgada pelo papa Gregório IX (Concede autonomia e privilégios à Universidade de Paris).
8 de fevereiro de 1132 - Ille Humani Generis, promulgada pelo papa Gregório IX (Confia a Inquisição aos dominicanos).
20 de abril de 1233 - Licet ad capiendos, promulgada pelo papa Gregório IX (Marca oficialmente o início da Inquisição).
1233 - Etsi Judaeorum promulgada pelo papa Gregório IX (Convoca os prelados de todos os níveis a prevenir e limitar os ataques de cristãos contra os judeus).
1233 - Vox In Rama, promulgada pelo papa Gregório IX (Aborda sobre a participação de hereges em cerimônias com o diabo).
1239 - Se Vera Sunt, promulgada pelo papa Gregório IX (Solicitar o confisco e a inspeção dos livros do Talmude pelos prelados da França e Espanha).
9 de maio de 1244 - Perfidia Impia Iudeorum, promulgada pelo papa Inocêncio IV (Requer que o rei da França queime o Talmud e outros livros judaicos em todo o seu reino).
5 de março de 1245 - Dei Patris Inmensa, promulgada pelo papa Inocêncio IV (para os mongóis expondo sua fé cristã).
13 de março de 1245 - Cum Non Solum, promulgada pelo papa Inocêncio IV (para os mongóis, solicitando não atacar os cristãos e sondando as suas intenções).
1247 - Lachrymabilem Judaeorum, promulgada pelo papa Inocêncio IV.
1248 - Viam Agnoscere Veritatis, promulgada pelo papa Inocêncio IV (para os mongóis, instando-os a não atacar os cristãos, e sondando as suas intenções.
15 de maio de 1252 - Ad extirpanda, promulgada pelo papa Inocêncio IV (autorização a Inquisição aplicar a tortura em hereges).
1267 - Turbato Corde, promulgada pelo papa Clemente IV.
7 de julho de 1274 - Ubi Periculum, promulgada pelo papa Gregório X (Estabelece o conclave como forma da eleição dos papas).
25 de fevereiro de 1296 - Clericis Laicos, promulgada pelo papa Bonifácio VIII (Protesta contra uma imposição de Felipe IV, rei da França de cobrar imposto da igreja).
27 de outubro de 1299 - Detestande Feritatis, promulgada pelo papa Bonifácio VIII (oposição ao corte de cadáveres, mas também e especialmente ao seu desmembramento).
Século XIV
Unam Sanctam, 1302—Bonifácio VIII (supremacia da Igreja Católica Romana sobre o estado).
Fasciens misericordiam, 1308—Clemente V.
Regnans in coelis, 1308—Clemente V.
Cum inter nonnullos, 1323—João XXII (rejeição da doutrina Franciscana da pobreza de Cristo).
Século XV
Dum diversas, 1452—Nicolau V (autorização de Afonso V de Portugal para escravizar os infiéis da África Ocidental).
Romanus Pontifex 1455—Papa Nicolau V (no seguimento da Dum diversas, autorizando a conquista e vassalagem de todas as populações a sul do Cabo Bojador).
Æterni regis, 1481—Sisto IV (garantia a Portugal todas as terras ao Sul das ilhas Canárias, divisão do Novo Mundo).
Summis desiderantes, 1484—Inocêncio VIII (supressão da bruxaria ao longo do rio Reno).
Inter cætera, 1493—Papa Alexandre VI (realinhamento da divisão do Novo Mundo entre Espanha e Portugal, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, assinado no ano seguinte).
Século XVI
Exsurge Domine, 1520—Leão X (aviso a Martinho Lutero).
Decet Romanum Pontificem, 1521—Leão X (excomungação de Martinho Lutero).
Exponi Nobis Omnímoda, 1522—Adriano VI (amplo poderes no foro interno e externo às Ordens mendicantes).
Sublimis Deus, 2 de junho de 1537—Paulo III (revogada por Carlos V do Sacro-Império Romano).
Regimini militantis, 27 de setembro de 1540—Paulo III (estabelecimento dos Jesuítas).
Injunctum nobis, 14 de março de 1543—Paulo III.
In Coena Domini, 1568—Pio V.
Regnans in Excelsis, 1570—Pio V (anatemização de Elizabeth I).
Quo Primum Tempore, 1570—Pio V (instituição da Missa tridentina).
Inter gravissimas, 1582—Gregório XIII (reforma do calendário).
Immensa Aeterni Dei, 1588—Sisto V.
Século XVII
Gratia Divina, 1656.
Século XVIII
Unigenitus, 1713—Clemente XI (condenação do jansenismo).
In eminenti apostolatus specula, 1738—Clemente XII (condenação da Maçonaria).
Século XIX
Sollicitudo omnium ecclesiarum, 1814—Pio VII (restabelecimento dos Jesuítas após supressão).
Divinis Praeceptis, de 28 de novembro de 1816—Papa Pio VII introdução do Primaz das Índias.
Quanta cura, 1864—Pio IX (introdução da Syllabus errorum).
Pastor aeternus, 1871—Pio IX do Primeiro Concílio do Vaticano (infalibilidade papal).
Século XX
Quam singulari, 1910—Pio X (admissão da Primeira Comunhão às crianças).
Munificentissimus Deus, 1950—Pio XII (definição do dogma Assunção de Maria).
Dei Verbum, 1965—Paulo VI do Segundo Concílio do Vaticano.
Século XXI
Misericordiae Vultus, 2015—Francisco (Proclamação do Jubileu extraordinário da Misericórdia).
Bulas douradas
As bulas douradas foram emitidas não pelo papa, mas por monarcas europeus, como a Bula Dourada de 1356, que determinou a estrutura do Sacro Império Romano-Germânico.
Ver também
Documentos pontifícios
Encíclica
Carta apostólica
Referências
Bibliografia
ABRANCHES, Joaquim dos Santos - Summa do Bullario Portuguez. Coimbra, 1895.
COSTA, Avelino de Jesus da, e MARQUES, Maria Alegria F. - Bulário português: Inocêncio III (1198-1216). Lisboa: INIC, 1989.
JORDÃO, Levi Maria - Bullarium Patronatus Portugaliae Regum in Ecclesis Africae, Asiae atque Oceaniae. Bulas, Brevia Epistolas, Decreta Actaque Sanctae Sedis ab Alexandro III ad hoc tempus amplectus, 5 vols. Lisboa: Imprensa Nacional, 1868-1873.
Ligações externas |
Carl Edward Sagan (Nova Iorque, — Seattle, ) foi um cientista planetário, astrônomo, astrobiólogo, astrofísico, escritor, divulgador científico e ativista norte-americano. Sagan é autor de mais de 600 publicações científicas e também de mais de vinte livros de ciência e ficção científica.
Foi durante a vida um grande defensor do ceticismo e do uso do método científico. Promoveu a busca por inteligência extraterrestre através do projeto SETI e instituiu o envio de mensagens a bordo de sondas espaciais, destinadas a informar possíveis civilizações extraterrestres sobre a existência humana. Mediante suas observações da atmosfera de Vênus, foi um dos primeiros cientistas a estudar o efeito estufa em escala planetária. Também fundou a organização não governamental Sociedade Planetária e foi pioneiro no ramo da exobiologia. Sagan passou grande parte da carreira como professor da Universidade Cornell, onde foi diretor do laboratório de estudos planetários. Em 1960 obteve o título de doutor pela Universidade de Chicago.
Sagan é conhecido por seus livros de divulgação científica e pela premiada série televisiva de 1980 Cosmos: Uma Viagem Pessoal, que ele mesmo narrou e coescreveu. O livro Cosmos foi publicado para complementar a série. Sagan escreveu o romance Contact, que serviu de base para um filme homônimo de 1997. Em 1978, ganhou o Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral pelo seu livro The Dragons of Eden. Morreu aos 62 anos, de pneumonia, depois de uma batalha de dois anos com uma rara e grave doença na medula óssea (mielodisplasia).
Ao longo de sua vida, recebeu vários prêmios e condecorações pelo seu trabalho de divulgação científica. Sagan é considerado um dos divulgadores científicos mais carismáticos e influentes da história, graças a sua capacidade de transmitir as ideias científicas e os aspectos culturais ao público não especializado.
Infância e adolescência
Carl Sagan nasceu no Brooklyn, Nova Iorque, em uma família de judeus ucranianos. Seu pai, Samuel Sagan, era um operário da indústria têxtil nascido em Kamenets-Podolsk, Ucrânia. Sua mãe, Rachel Molly Gruber, era uma dona de casa de Nova Iorque. Carl Sagan recebeu este nome em homenagem à mãe biológica de sua mãe, Chaiya Clara, "A mãe que ela nunca conheceu" nas palavras de Sagan. Sagan concluiu o ensino secundário na escola Rahway High School, em Rahway, Nova Jérsei, em 1951.
Sagan tinha uma irmã, Carol, e ele e sua família viviam em um modesto apartamento em Bensonhurst, um bairro do Brooklyn. De acordo com Sagan, eles eram judeus reformistas, o mais liberal dos três grupos do Judaísmo. Ambos, Carl e Carol, concordavam que seu pai não era especialmente religioso, porém sua mãe "definitivamente acreditava em Deus, e participava ativamente no templo... e se servia apenas de carne Cashrut". Durante o auge da Grande Depressão, seu pai trabalhou como porteiro de cinema.
Segundo o biógrafo Keay Davidson, a personalidade de Sagan foi o resultado de suas estreitas relações com ambos os pais, que eram às vezes opostos um do outro. Sua mãe tinha sido uma mulher que conheceu a "extrema pobreza enquanto criança", e tinha crescido quase sem teto em meio à cidade de Nova Iorque durante a Grande Guerra e a década de 20. Ela tinha suas próprias ambições intelectuais quando era jovem, mas estes sonhos foram bloqueados por restrições sociais, principalmente por causa de sua pobreza, e por ela ter se tornado mãe e esposa, além de sua etnia judaica. Davidson observa que ela, portanto, "adorava seu único filho, Carl. Ele iria realizar seus sonhos não realizados".
Entretanto, o seu "sentimento de admiração" veio do pai, um fugitivo do Czar. Em seu tempo livre, este dava maçãs aos pobres, ou ajudava a suavizar as tensões entre patrões e operários na tumultuada indústria têxtil de Nova Iorque. Ainda que intimidado pelo brilhantismo de Carl, por suas infantis perguntas sobre estrelas e dinossauros, Sam ajudou a transformar a curiosidade de seu filho em parte de sua educação. Em seus últimos anos como cientista e escritor, Sagan frequentemente usava suas memórias de infância para ilustrar questões científicas, como fez em seu livro Shadows of Forgotten Ancestors. Sagan descreveu a influência dos seus pais em sua forma de pensar dizendo:Meus pais não eram cientistas. Eles não sabiam quase nada sobre ciência. Mas ao me introduzirem simultaneamente ao ceticismo e ao saber, ensinaram-me os dois modos de pensamento coexistentes e essenciais para o método científico.
Feira Mundial de 1939
Em seu livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, Sagan lembra que uma de suas melhores experiências foi quando, em sua infância, seus pais o levaram para a Feira Mundial de 1939, em Nova Iorque. As exposições desta feira tornaram-se um marco em sua vida.
Ele relembra o diorama da exibição "America of Tomorrow" (América do Amanhã): "Havia belas rodovias com trevos e pequeninos carros da General Motors, todos transportando pessoas para arranha-céus, edifícios com belos pináculos, arcobotantes - parecia ótimo!". Em outras exposições, lembrou-se de ter visto uma lanterna brilhar em uma célula fotoelétrica. Ele também testemunhou a tecnologia do futuro da mídia que iria substituir o rádio: a televisão! Sagan escreveu:Claramente, o homem realizou maravilhas de um modo que eu nunca tinha imaginado. Como poderia um tom tornar-se uma imagem e luz tornar-se um ruído?Ele também conta que viu um dos eventos mais divulgados da feira, o enterro de uma cápsula do tempo em Flushing Meadows, que continha algumas lembranças da década de 1930 para serem recuperadas por descendentes dos humanos em um futuro milênio. "As cápsulas do tempo sempre excitaram Carl", escreve o biógrafo Keay Davidson. Quando adulto, Sagan e seus colegas criaram algumas cápsulas do tempo similares, que seriam enviadas para o espaço; a placa Pioneer e o Voyager Golden Record, que foram produtos das experiências de Sagan na exposição.
Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família estava preocupada com o destino de seus parentes europeus. Na época, Sagan, entretanto, geralmente desconhecia os detalhes da guerra que estava em curso. Ele escreve: "Claro, tínhamos parentes que foram capturados pelo Holocausto. Hitler de fato não era uma pessoa bem-vinda em nossa casa... mas por outro lado, eu era bastante isolado dos horrores da guerra". Sua irmã, Carol, disse que sua mãe "acima de tudo queria proteger Carl... A vida dela estava extraordinariamente difícil lidando com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto".
No livro de Sagan, The Demon-Haunted World (), de 1996, são incluídas suas memórias deste período em conflito, período quando sua família lidava com as realidades da guerra na Europa, mas também tentava impedi-lo simultaneamente de perturbar seu espírito otimista.
Curiosidade pela natureza
Assim que começou o ensino fundamental, Carl Sagan começou a manifestar uma forte curiosidade pela natureza. Sagan recorda-se de suas primeiras viagens para a biblioteca pública, sozinho, com a idade de cinco anos, quando sua mãe arranjou-lhe um cartão da biblioteca. Ele queria aprender o que eram as estrelas, já que nenhum de seus amigos ou até mesmo seus pais sabiam lhe dar uma resposta clara:"Fui para o bibliotecário e pedi um livro sobre as estrelas... E a resposta foi impressionante. A resposta era que o Sol também era uma estrela, só que muito próxima. Logo, as estrelas eram outros sóis, mas estavam tão distantes que eram apenas pequenos pontos de luz para nós... A escala do universo de repente se abriu para mim. Era um tipo de experiência religiosa. Houve uma magnificência para ela, uma grandeza, uma escala que nunca me deixou. Nunca me deixará..."Quando Sagan tinha seis ou sete anos de idade, ele e um amigo viajaram para o Museu Americano de História Natural, na cidade de Nova Iorque. Enquanto estavam por lá, eles foram ao Planetário Hayden e andaram na exposição sobre objetos do espaço, como os meteoritos, e também foram às exposições de dinossauros e outros animais em seus ambientes naturais. Sagan escreveu sobre estas exposições:"Eu era fascinado por representações realistas de animais e seus habitats em todo o mundo. Pinguins no gelo antártico mal iluminado; uma família de gorilas, com o macho tamborilando no peito; um urso-cinzento americano de pé em suas patas traseiras, com seus dez ou doze pés de altura, fitando-me direto no olho."Seus pais colaboraram em nutrir seu crescente interesse pela ciência, comprando-lhe jogos de química e livros enquanto criança. Seu interesse pelo espaço, no entanto, foi seu foco principal, especialmente após ler algumas histórias de ficção científica como as do escritor Edgar Rice Burroughs, que agitou sua imaginação com a temática de vida em outros planetas, como Marte. De acordo com o biógrafo Ray Spangenburg, nestes primeiros anos, Sagan tentou compreender os mistérios dos planetas, e isto tornou-se uma "força motriz em sua vida, uma faísca contínua para seu intelecto e uma busca pelo saber que jamais seria esquecida".
Formação e carreira científica
Carl Sagan frequentou a Universidade de Chicago, onde participou da Sociedade Astrônomica Ryerson (Ryerson Astronomical Society), graduando-se em artes, em 1954, e com honras especiais e gerais em ciências, em 1955. Obteve um mestrado em física em 1956 e, por fim, tornou-se doutor em astronomia e astrofísica, em 1960. Durante seu período na faculdade, Sagan trabalhou em um laboratório com o geneticista Hermann Joseph Muller. De 1960 a 1962, Sagan desfrutou de uma Miller Fellows (programa constitui o apoio dos bolsistas de pesquisa) da Universidade da Califórnia em Berkeley. De 1962 a 1968, trabalhou no Observatório Astrofísico Smithsonian em Cambridge, Massachusetts.
Simultaneamente, Sagan lecionou e pesquisou na Universidade Harvard até 1968, ano em que ele se juntou à Universidade Cornell, em Ithaca, estado de Nova Iorque. Em 1971, foi nomeado professor titular e diretor do laboratório de estudos planetários. De 1972 a 1981, foi diretor associado ao Centro de Radiofísica e Investigação Espacial de Cornell. Juntamente ao seu cargo de professor titular, Sagan ministrou um curso de pensamento crítico na Universidade Cornell até sua morte, em 1996.
Sagan esteve vinculado ao programa espacial estadunidense desde o seu começo. Desde a década de 1950, trabalhou como assessor da NASA, onde um de seus feitos foi dar as instruções aos astronautas participantes do programa Apollo antes de partirem à Lua. Sagan participou de várias missões que enviaram naves espaciais robóticas para explorar o Sistema Solar, preparando os experimentos para várias destas expedições. Sagan concebeu a ideia de incluir junto às naves espaciais que fossem abandonar o Sistema Solar uma mensagem universal que pudesse ser potencialmente compreensível por qualquer inteligência extraterrestre que a encontrasse. Sagan preparou a primeira mensagem física enviada ao espaço exterior: uma placa anodizada, acoplada à sonda espacial Pioneer 10, lançada em 1972. A Pioneer 11, que levava uma cópia da placa, foi lançada no ano seguinte. Sagan continuou refinando suas mensagens; a mensagem mais elaborada que ajudou a desenvolver e preparar foi o Disco de Ouro da Voyager, que foi enviada pelas sondas espaciais Voyager em 1977. Sagan se opunha frequentemente ao financiamento de sistemas de transporte espacial ou de estações espaciais no lugar de futuras missões robóticas.
Realizações científicas
As contribuições de Sagan foram vitais para o descobrimento das altas temperaturas superficiais do planeta Vênus. No início da década de 60, a ciência nada sabia sobre quais eram as condições básicas da superfície deste planeta, e Sagan enumerou as possibilidades em um artigo que posteriormente foi divulgado em um livro da Time intitulado Planetas. Em sua opinião, Vênus era um planeta seco e muito quente, em oposição ao paraíso temperado que outros haviam imaginado. Sagan investigou as emissões de rádio provenientes de Vênus e chegou à conclusão de que a temperatura superficial deste planeta deveria ser aproximadamente 500 °C. Como cientista visitante do Jet Propulsion Laboratory da NASA, participou das primeiras missões do programa Mariner a Vênus, trabalhando com o desenho e gestão do projeto. Em 1962, a sonda Mariner 2 confirmou suas conclusões sobre as condições superficiais do planeta.
Carl Sagan foi um dos primeiros a idealizar a hipótese de que uma das luas de Saturno, Titã, poderia abrigar oceanos de compostos líquidos em sua superfície, e que uma das luas de Júpiter, Europa, poderia abrigar oceanos de água subterrâneos, isto faria com que Europa fosse potencialmente habitável por formas de vida. O oceano de água subterrâneo de Europa foi posteriormente confirmado de forma indireta pela sonda espacial Galileu. O mistério da névoa avermelhada de Titã também foi resolvido com a ajuda de Sagan, cuja explicação foi que a névoa existia devido às moléculas orgânicas complexas em constante chuva na superfície da lua saturniana.
Sagan também contribuiu para a melhor entendimento das atmosferas de Vênus e Júpiter e das mudanças sazonais em Marte. Sagan determinou que a atmosfera de Vênus é extremamente quente e densa com pressões que aumentam gradualmente até a superfície do planeta. Também notou o aquecimento global como um perigo crescente de origem humana e comparou com a evolução natural de Vênus, cujo efeito estufa o tornou descontroladamente quente e impróprio para a vida. Sagan e seu colega da Universidade Cornell, Edwin Ernest Salpeter, especularam sobre a possibilidade da existência de vida nas nuvens de Júpiter, dada a composição da densa atmosfera do planeta, rica em moléculas orgânicas. Sagan também estudou as variações de cor na superfície de Marte e concluiu que não se tratavam de vegetações, ou se deviam às mudanças sazonais como muitos acreditavam, mas sim ao deslocamento de poeira da superfície causado por tempestades.
No entanto, Sagan é mais conhecido por suas pesquisas sobre a possibilidade de vida extraterrestre, incluindo a demonstração experimental da produção de aminoácidos por radiação e a partir de reações químicas básicas.
Em 1994, Sagan recebeu a Medalha Bem-Estar Público, a maior condecoração da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos por suas distintas contribuições para a aplicação da ciência e para o bem-estar da humanidade. Diz-se que lhe foi negado o ingresso à academia porque sua atividade havia gerado impopularidade ante outros cientistas.
Em suma, Carl Sagan teve um papel significativo no programa espacial americano desde o seu início. Foi consultor e conselheiro da NASA desde os anos 1950, trabalhou com os astronautas do Projeto Apollo antes de suas idas à Lua e chefiou os projetos da Mariner e Viking, pioneiras na exploração do sistema solar que permitiram obter importantes informações sobre Vênus e Marte. Participou também das missões Voyager e da sonda Galileu. Foi decisivo na explicação do efeito estufa em Vênus e o descobrimento das altas temperaturas do planeta, na explicação das mudanças sazonais da atmosfera de Marte e na descoberta das moléculas orgânicas em Titã, satélite de Saturno. Ele também foi um dos maiores divulgadores da ciência de todos os tempos ao apresentar a série Cosmos em 1980.
Divulgação científica
A habilidade de Sagan para transmitir suas ideias permitiu que muitas pessoas compreendessem o cosmos, simultaneamente enfatizando o valor da raça humana e a insignificância da Terra em relação ao universo. Em Londres, participou da edição de 1977 da Royal Institution Christmas Lectures. Foi apresentador, coautor e coprodutor, juntamente a Ann Druyan e Steven Soter, da popular série de televisão de treze episódios Cosmos: Uma Viagem Pessoal, produzida pela PBS, e que seguiu o formato da série de televisão A Escalada do Homem, apresentada por Jacob Bronowski. Sua série Cosmos abrangeu diversos temas científicos, que incluem desde a origem da vida até uma perspectiva de nosso lugar no universo. Ganhou o Prêmio Emmy e o Prêmio Peabody. Foi transmitida em mais de 60 países e assistida por mais de 600 milhões de pessoas, atingindo a marca de programa mais visto na história do canal PBS. A revista Time publicou uma matéria de capa sobre Sagan pouco depois da estreia de Cosmos, referindo-se a ele como "o criador, autor principal e apresentador-narrador da nova série de televisão aberta Cosmos, sob o controle de sua nave da fantasia". Sagan defendeu a busca por vida extraterrestre, convidando a comunidade científica a utilizar radiotelescópios para procurar por sinais provenientes de formas de vida extraterrestre potencialmente inteligentes. Sagan foi tão persuasivo que, em 1982, conseguiu publicar na revista Science uma petição em defesa do projeto SETI assinado por quase 70 cientistas, incluindo sete ganhadores do Prêmio Nobel, causando uma grande aceitação de um campo tão controverso. Sagan também ajudou o Dr. Frank Drake a preparar a mensagem de Arecibo, uma sequência de sinais de rádio dirigidas ao espaço enviadas através do radiotelescópio de Arecibo em 16 de novembro de 1974, destinada a informar sobre a existência da Terra a possíveis extraterrestres.
De 1968 a 1979, Sagan foi editor da revista Icarus, publicação para profissionais na pesquisa planetária. Foi cofundador da Sociedade Planetária, o maior grupo do mundo dedicado à pesquisa espacial, com mais de cem mil membros em mais de 149 países, e foi membro do Conselho de Administração do Instituto SETI. Sagan exerceu também os cargos de Presidente da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, Presidente da Seção de Planetologia da União Geofísica Americana e de Presidente da Seção de Astronomia da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
No contexto da guerra fria, Sagan dedicou-se à conscientização da opinião pública sobre os efeitos de uma guerra nuclear, quando um modelo matemático climático sugeriu que uma guerra nuclear de proporções possíveis poderia desestabilizar o delicado equilíbrio da vida na Terra. Ele foi um dos cinco autores (assinando como o autor "S") do relatório TTAPS, como ficou conhecido esse artigo de pesquisa. Foi coautor do artigo científico que projetava a hipótese de um inverno nuclear global após uma guerra nuclear. Também foi coautor do livro O Inverno Nuclear: O mundo após uma guerra nuclear, uma análise exaustiva do fenômeno do inverno nuclear.
Sagan escreveu uma sequência ao livro Cosmos, chamado Pálido Ponto Azul, que entrou na lista dos livros mais vendidos de janeiro no The New York Times, em 1995. Em janeiro de 1995, Sagan apareceu no programa de Charlie Rose, na PBS. Também foi conhecido pela sua posição a favor do ceticismo científico e contra as pseudociências, como sua refutação ao caso de abdução de Betty e Barney Hill.
Pálido ponto azul
No dia 14 de fevereiro de 1990, tendo completado sua missão primordial, foi enviado um comando à Voyager 1 para se virar e tirar fotografias dos planetas que havia visitado. A NASA havia feito uma compilação de cerca de 60 imagens criando neste evento único um mosaico do Sistema Solar. Uma imagem que retornou da Voyager era a Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um "pálido ponto azul" na granulada imagem.
Sagan escreveria mais tarde sobre a fotografia - de maneira muito profunda - no seu livro de 1994, Pálido Ponto Azul:
Unidade Sagan
Como uma homenagem bem humorada a Carl Sagan e sua associação com o slogan "bilhões e bilhões", 1 Sagan foi definido como uma unidade de medida equivalente a uma grande quantidade de qualquer coisa.
Ativismo social
Carl Sagan acreditava na equação de Drake, que, ante a ausência de estimativas razoáveis, sugere a existência de um grande número de civilizações extraterrestres, mas a falta de evidências da existência das mesmas, somada ao paradoxo de Fermi, indicaria a tendência das civilizações tecnológicas a se autodestruir, o que implica o último termo da equação de Drake. Isso despertou o seu interesse em identificar e divulgar as várias maneiras em que a humanidade poderia se autodestruir, esperando ser capaz de evitar esta catástrofe e, finalmente, permitir que os seres humanos tornem-se uma espécie capaz de viajar através do espaço. A profunda preocupação de Sagan com uma potencial destruição da civilização humana em um holocausto nuclear refletiu-se em um segmento memorável no episódio final da série Cosmos, intitulado Quem fala em nome da Terra?. Sagan demitiu-se de seu posto de conselheiro científico do Conselho Científico da Força Aérea Americana e recusou voluntariamente a sua autorização de acesso ao material ultrassecreto da Guerra do Vietnam. Depois de seu casamento com sua terceira e última esposa, a escritora Ann Druyan, em junho de 1981, Sagan aumentou sua atividade política, especificamente sua oposição à corrida armamentista, durante a presidência de Ronald Reagan.
Em março de 1983, Reagan anunciou a chamada Iniciativa Estratégica de Defesa, um projeto em que foram investidos bilhões de dólares para desenvolver um sistema abrangente de defesa contra ataques por mísseis nucleares, que ficou popularmente conhecido como o Programa Guerra nas Estrelas. Sagan era contra o projeto, argumentando que era tecnicamente impossível desenvolver esse sistema com o nível de perfeição exigido, que seria muito mais caro produzir o sistema do que para o inimigo atacar através de outros meios, e que a construção deste sistema poderia desestabilizar seriamente o equilíbrio nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética, tornando impossível neste sentido qualquer progresso através de acordos de desarmamento nuclear.
Quando o líder soviético Mikhail Gorbachev declarou uma moratória unilateral para os testes com armas nucleares, que começariam em 6 de agosto de 1985, no 40º aniversário dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, a administração de Reagan refutou a iniciativa soviética e se recusou a seguir o exemplo soviético. Em resposta, ativistas antinucleares e pacifistas americanos realizaram uma série de protestos no local de testes nucleares em Nevada, que começaram na Páscoa de 1986 e continuaram até 1987. Centenas de pessoas foram presas, incluindo Sagan.
Vida privada, ideias e crenças
Casamentos e descendentes
Carl Sagan casou-se três vezes: Em 1957, com a bióloga Lynn Margulis, mãe do escritor Dorion Sagan e do programador e empresário do ramo da informática Jeremy Sagan; em 1968, com a artista e roteirista Linda Salzman, mãe do escritor e roteirista Nick Sagan; e, em 1981, com a escritora Ann Druyan, mãe da produtora, roteirista e diretora Sasha Sagan e de Sam Sagan. Esta união durou até a morte do cientista, em 1996.
Ciência e religião
Sagan escrevia frequentemente sobre religião e a relação entre religião e ciência, expressando seu ceticismo sobre a conceituação convencional de Deus como um ser sábio, por exemplo:
Em outra descrição de seu ponto de vista sobre Deus, Sagan afirma categoricamente:
Sobre o ateísmo, Sagan comentou em 1981:
A Ropert Pope, Sagan escreveu em 1996:
Sagan também comentou sobre o cristianismo, afirmando que "Minha visão de longa data sobre o cristianismo é que ele representa um amálgama de duas partes aparentemente imiscíveis: a religião de Jesus e a religião de Paulo. Thomas Jefferson tentou extirpar as partes paulinas do Novo Testamento. Não sobrou muita coisa quando ele concluiu, mas era um documento inspirador".
Em 1996, em resposta a uma pergunta sobre suas crenças religiosas, Sagan respondeu: Eu sou agnóstico. O ponto de vista de Sagan sobre religião tem sido interpretado como uma forma de panteísmo comparável à crença de Albert Einstein no Deus de Spinoza. Sagan afirmava que a ideia de um criador do Universo era difícil de provar ou refutar, e que a única descoberta que poderia confrontar isto seria um universo infinitamente antigo. De acordo com sua última esposa Ann Druyan, Sagan não era um crente:
Em 2006, Ann Druyan editou as palestras de Gifford sobre teologia natural, ministradas por Carl Sagan em Glasgow, na Escócia, no ano de 1985, incluindo assim a palestra no livro chamado Variedades da experiência científica: Uma visão pessoal da busca por Deus, em que o astrônomo expõe seu ponto de vista sobre as divindades e o mundo natural.
Livre pensador e cético
Carl Sagan é considerado um livre pensador e cético. Uma de suas frases mais famosas, da série Cosmos, é: Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias. Esta frase é baseada em outra quase idêntica de seu colega Marcello Truzzi, fundador do Comitê para a Investigação Cética: Uma afirmação extraordinária requer uma prova extraordinária. Esta ideia teve sua origem com Pierre Simon Laplace (1749 - 1827), matemático e astrônomo francês, que disse: O peso de uma evidência de uma afirmação extraordinária deve ser proporcional à sua raridade.
Durante toda sua vida, os livros de Sagan desenvolveram-se sobre a sua visão cética do mundo natural. Em , Sagan demonstrou ferramentas para testar argumentos e detectar falácias ou fraudes, essencialmente, defendendo o uso extensivo do pensamento crítico e do método científico. A compilação de Bilhões e Bilhões, publicada em 1997, após a morte de Sagan, contém ensaios, como sua opinião sobre o aborto e o relato de sua viúva, Ann Druyan, sobre a morte com um olhar cético, independente e livre pensador.
Sagan advertiu contra a tendência humana para o antropocentrismo. Ele foi orientador dos estudantes da Universidade Cornell para o tratamento ético dos animais. No capítulo "Blues por um Planeta Vermelho", do livro Cosmos, Sagan escreveu: Se existe vida em Marte, acho que não devíamos fazer nada ao planeta. Marte pertence, nesse caso, aos marcianos, mesmo se os marcianos forem apenas micróbios.
Mr. X
Sagan foi um consumidor e defensor do uso da maconha. Através do pseudônimo Mr. X, ele contribuiu com um ensaio sobre a Cannabis para o livro de 1971, Marihuana Reconsidered. O ensaio explicava que o uso da maconha havia ajudado a inspirar grande parte dos trabalhos de Sagan e a melhorar suas experiências sensoriais e intelectuais. Após a morte de Sagan, seu amigo Lester Grinspoon revelou esta informação ao biógrafo Keay Davidson. A publicação da biografia Carl Sagan: Uma vida, em 1999, atraiu a atenção da mídia para este aspecto da vida de Sagan. Logo após sua morte, sua viúva, Ann Druyan, concordou em ser assessora do conselho da NORML, uma fundação dedicada à reforma da legislação sobre a maconha.
O caso Apple
Em 1994, os engenheiros da Apple Computer batizaram o Power Macintosh 7100 com o codinome de Carl Sagan com a esperança de que a Apple iria ganhar milhares de milhões com as vendas do mesmo. O nome só foi utilizado internamente, mas Sagan preocupou-se pelo fato de ser convertido em um meio de promoção do produto e enviou à Apple uma carta de rescisão. A Apple aceitou a rescisão, mas os engenheiros responderam mudando o nome para BHA (siglas de Butt-Head Astronomer, que significa "astrônomo bundão", "tonto"). Sagan então processou a Apple por difamação, no tribunal federal. O tribunal aceitou a intenção da Apple de rejeitar a acusação de Sagan e disse, em Obiter Dictum, que um leitor situado no contexto compreenderia que a Apple estava tratando claramente de responder de forma humorística e satírica, e que é de fato algo forçado concluir que a acusada Apple tratava de criticar a reputação ou competência do réu como astrônomo. A perícia de um cientista não pode ser atacada com o uso da expressão teimoso. Sagan então denunciou o uso inicial de seu nome, mas voltou a perder, assim ele recorreu à conciliação. Em novembro de 1995, foi finalizado um acordo fora do tribunal e o escritório de patentes e marcas comerciais da Apple emitiu uma declaração conciliatória: "A Apple teve sempre um grande respeito pelo Dr. Sagan. Nunca foi intenção da Apple causar ao Dr. Sagan ou a sua família qualquer tipo de constrangimento ou preocupação".
2001: Uma odisseia no espaço
Sagan trabalhou brevemente como consultor no premiado filme 2001: Uma odisseia no espaço de 1968, dirigido por Stanley Kubrick. Sagan, embora reconhecendo o desejo de Kubrick de usar atores para interpretar os alienígenas humanoides por questão de conveniência, argumentou que era improvável que formas de vida alienígenas tivessem alguma semelhança com a vida terrestre, e que fazer isso seria "pelo menos um elemento de falsidade" no filme. Sagan propôs que o filme sugerisse, ao invés de mostrar, uma superinteligência extraterrestre. Ele foi à estreia e ficou "feliz em ver que fui de alguma ajuda". Kubrick deu a entender a natureza da misteriosa espécie alienígena não vista em 2001, ao sugerir, em 1968, que dados os milhões de anos de evolução, eles progrediram de seres biológicos para "entidades máquinas imortais", e depois para "seres de pura energia e espírito"; seres com "capacidades ilimitadas e inteligência indomável".
O fenômeno OVNI
Sagan mostrou interesse nas notícias sobre o fenômeno OVNI ao menos desde 3 de agosto de 1952, quando escreveu uma carta ao Secretário de Estado americano Dean Acheson perguntando como responderiam os EUA se os discos voadores forem realmente de origem extraterrestre. Posteriormente, em 1964, manteve várias conversas sobre o assunto com Jacques Vallee. Apesar de seu ceticismo no que diz respeito à obtenção de qualquer resposta extraordinária com a questão OVNI, Sagan acreditava que os cientistas deviam estudar o fenômeno, ainda que fosse somente para responder ao grande interesse que o assunto desperta nas pessoas.
Stuart Appelle comentou que Sagan escrevia frequentemente sobre aquilo que ele percebia como falsas lógicas ou experiências sobre os discos voadores, como as experiências com abduções. Sagan rejeitava a explicação extraterrestre do fenômeno, e acreditava que a análise de relatos de OVNIs possuía benefícios empíricos e pedagógicos, e que o assunto seria, portanto, uma matéria de estudos legítima.
Em 1966, Sagan foi membro do Comitê Ad Hoc para a revisão do Projeto Blue Book, promovido pela força aérea dos Estados Unidos para investigar o fenômeno OVNI. O comitê concluiu que o projeto deixava a desejar como um estudo científico e recomendou a realização de um projeto universitário para submeter o estudo do fenômeno a um nível mais científico. O resultado foi a formação do Comitê Condon (1966 - 1968), liderado pelo físico Edward Condon, e que, em seu relatório final, formalmente definiu que os OVNIs, independentes de sua origem ou significado, não se comportavam de maneira consistente para representar uma ameaça à segurança nacional.
Ron Westrum escreve: O ponto culminante do tratamento que Sagan concedeu à questão OVNI foi no simpósio da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em 1969. Os participantes expuseram uma grande variedade de opiniões sobre o tema, incluindo não só os proponentes como James McDonald e J. Allen Hynek, como também céticos como os astrônomos William Hartmann e Donald Menzel. A lista de oradores foi equilibrada, e o mérito de Sagan era que o evento havia acontecido apesar da pressão exercida por Edward Condon. Junto ao físico Thornton Page, Sagan acompanhou as conferências e debates apresentados no simpósio, e estas foram publicadas em 1972 sob o título UFOs: A Scientific Debate. Em alguns dos numerosos livros de Sagan se observa a questão OVNI (assim como em um dos episódios de Cosmos), e afirma-se a existência de um fundo religioso ao fenômeno.
Em 1980, Sagan voltou a revelar seu ponto de vista sobre as viagens interestelares na sua série Cosmos. Em uma de suas últimas obras escritas, Sagan explicou que a probabilidade de que naves espaciais extraterrestres visitem a Terra é muito pequena. No entanto, Sagan acreditava que a preocupação causada pela Guerra Fria contribuísse para que os governos não informassem os cidadãos sobre os discos voadores, e que algumas análises e relatórios sobre OVNIs, e talvez volumosos arquivos, foram declarados inacessíveis pelo povo que paga impostos... Já era hora de estes arquivos serem desclassificados e postos à disposição de todos. Ele também advertiu contra conclusões precipitadas sobre OVNIs e insistiu que não havia nenhuma evidência clara de possíveis alienígenas terem visitado a Terra no passado ou no presente.
Doença e falecimento
Dois anos depois de ser diagnosticado com mielodisplasia, e depois de se submeter a três transplantes de medula óssea provenientes de sua irmã, Carl Sagan morreu de pneumonia aos 62 anos de idade no Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson de Seattle, Washington, em 20 de dezembro de 1996. Sagan foi enterrado no Lake View Cemetery, em Ithaca, Nova Iorque.
Premiações e homenagens
Premiações
Carl Sagan recebeu diversos prêmios e homenagens de diversos centros de pesquisas e entidades ligadas à astronomia. A seguir, uma lista dos seus prêmios:
Miller Research Fellows (1960 - 1962) do Instituto Miller.
Prêmio Klumpke-Roberts de 1974, concedido pela Sociedade Astronômica do Pacífico.
Prêmio Joseph Priestley de 1975, por "distintas contribuições para o bem-estar da humanidade".
Prêmio do Projeto Apollo concedido pela NASA.
Medalha da NASA por Excepcionais Feitos Científicos.
Medalha da NASA por Serviço Público de Destaque. (1977)
Prêmio Galbert de Astronáutica.
Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral de 1978, por seu livro Os Dragões do Éden.
Prêmio de Astronáutica John F. Kennedy da Sociedade Astronáutica Americana.
Medalha Konstantin Tsiolkovsky concedida pela Federação Cosmonáutica Soviética.
Prêmio Peabody de 1980 pela série Cosmos.
Prêmio Lowell Thomas do Clube de Exploradores no 75º aniversário do Clube (1980).
Prêmio Anual de Excelência Televisiva de 1981, concedido pela Universidade do Estado de Ohio pela série Cosmos: Uma viagem Pessoal.
Prêmio Hugo de 1981 por Cosmos.
Prêmio Emmy de 1981, na categoria de Trabalho Individual de Destaque, por sua série Cosmos.
Prêmio Primetime Emmy de 1981, na categoria Série de Documentários de Destaque, por sua série Cosmos.
Humanista do Ano de 1981, concedido pela Associação Humanista Americana.
Prêmio Locus de 1986, por sua novela Contato.
Prêmio Elogio à Razão de 1987, concedido pelo Comitê para a Investigação Cética.
Prêmio Helen Caldicott, concedido pela Ação Feminina para o Desarmamento Nuclear.
Medalha Oersted de 1990 da Associação Americana de Professores de Física.
Prêmio Masursky de 1991, da Sociedade Astronômica Norte-Americana.
Prêmio da Academia Nacional de Ciências de 1994 (no caso, o Public Welfare Medal), o maior prêmio científico das Américas, por "distintas contribuições para o bem-estar da humanidade".
Prêmio Isaac Asimov de 1994, concedido pelo Comitê para a Investigação Cética.
Premiações póstumas
Prêmio São Francisco: Crônica de Ficção Científica de 1998, pela sua novela Contato.
Prêmio Hugo de 1998 de Melhor Apresentação Dramática pelo filme Contato.
Posição 99 na lista de americanos mais importantes da história, de 5 de junho de 2005, na série The Greatest American, exibida no Discovey Channel.
Membro do Salão da Fama de Nova Jersey desde 2009.
Nomeado membro honorário da Associação Literária Demosteniana em 10 de novembro de 2011.
Homenagens
Sagan foi o autor da introdução do livro de divulgação científica Uma Breve História do Tempo, do físico britânico Stephen Hawking, em sua primeira edição na língua inglesa, em 1988. Esta introdução foi substituída por outra em edições posteriores pelo fato de que Sagan era o proprietário dos direitos autorais do texto.
O filme Contact, de 1997, baseado no livro homônimo de Sagan e finalizado após sua morte, possui nos créditos finais uma dedicatória a Carl Sagan.
Também em 1997 foi inaugurado na cidade de Ithaca, estado de Nova York, o Carl Sagan Planet Walk, um recriação do sistema solar na escala de um pé de comprimento, com uma extensão total de 1,2 km, desde o centro da zona chamada The Commons até o Sciencenter, um museu de ciência interativo, do qual Sagan foi um dos membros fundadores do conselho de assessores.
Em homenagem, o lugar de aterrissagem da nave não tripulada Mars Pathfinder foi rebatizado como Carl Sagan Memorial Station, em 5 de julho de 1997. O monumento exibe uma frase de Sagan: Seja por qualquer razão que eu esteja em Marte, estou encantado de estar aqui, e eu desejaria estar aqui com vocês. Além disto, o asteroide da cintura de asteroides 2709 Sagan e a cratera marciana Sagan levam hoje seu nome.
Nick Sagan, filho de Carl, é autor de vários episódios da franquia Star Trek. Em um episódio da série Star Trek: Enterprise intitulado Terra Prime, é exibida uma breve imagem dos restos da sonda espacial Sojouner, que integrou parte da missão espacial Mars Pathfinder, hoje colocados junto a um monumento comemorativo na Carl Sagan Memorial Station, sobre a superfície marciana. Steve Squyres, ex-aluno de Sagan, foi o diretor da equipe que pousou com sucesso a Spirit Rover e a Opportunity Rover sobre a superfície marciana, em 2004.
Em 9 de novembro de 2001, no 67º aniversário de nascimento de Sagan, o Ames Research Center da NASA dedicou ao cientista o Carl Sagan Center for the Study of Life in the Cosmos. O responsável da NASA, Daniel Goldin disse: Carl foi um incrível visionário, e agora seu legado poderá ser preservado e ampliado por um laboratório de pesquisa e capacitação do século XXI dedicado a melhorar nossa compreensão da vida no universo e para jamais perder a causa da exploração espacial. Ann Druyan esteve presente na inauguração do centro, em 9 de novembro de 2001.
Em 20 de dezembro de 2006, no décimo aniversário de morte de Sagan, o blogueiro Joel Schlosberg organizou um evento para homenagear o dia. A ideia foi apoiada por Nick Sagan e contou com a participação de muitos membros da comunidade blogger.
Em agosto de 2007, o Grupo de Pesquisas Independentes (IIG) concedeu a Sagan, postumamente, um prêmio em homenagem a toda sua carreira científica, também atribuída a Harry Houdini e James Randi.
Em 2009, a gravadora Third Man Records organizou um projeto de música eletrônica chamado Symphony of Science, sob o comando do músico John Boswell. O projeto consiste em músicas compostas de trechos e remixagens de vídeos e outras obras de ciência popular, incluindo a série Cosmos. As canções resultantes foram postadas no Youtube, recebendo mais de 21 milhões de visualizações. Graças aos processos de remixagem, Carl Sagan é o "cantor" da música A Glorious Dawn.
Isaac Asimov descreveu Sagan como uma das duas pessoas que ele encontrou cujo intelecto ultrapassava o dele próprio. O outro, disse ele, foi o cientista de computadores e perito em inteligência artificial Marvin Minsky.
A partir de 2009, várias organizações em prol do humanismo e do secularismo promovem a celebração do Carl Sagan's Day, em 9 de novembro (seu aniversário) de cada ano, e a ideia rapidamente se espalhou pelo mundo, inclusive no Brasil. Para celebrar este dia há o costume de organizarem-se eventos de astronomia, palestras com convidados ilustres, fazer feiras de ciência e outros eventos do gênero.
O curta-metragem sueco de ficção científica de 2014, Wanderers, usa trechos da narração de Sagan de seu livro Pale Blue Dot, reproduzido sobre visuais criados digitalmente da possível futura expansão da humanidade para o espaço.
Em fevereiro de 2015, a banda de metal sinfônico Nightwish lançou a música "Sagan" como uma faixa bônus do álbum Endless Forms Most Beautiful, mas que acabou ficando para o single "Élan". A música, escrita pelo compositor e tecladista da banda Tuomas Holopainen, é uma homenagem à vida e obra do falecido Carl Sagan, o qual é considerado um "herói" por Tuomas, além de Charles Darwin e Richard Dawkins.
Prêmios em homenagem a Sagan
Há pelo menos três prêmios que carregam o nome de Sagan em sua homenagem:
O Prêmio Comemorativo Carl Sagan (Carl Sagan Memorial Award), concedido desde 1997, pela Sociedade Astronômica Americana (AAS) e pela Sociedade Planetária.
A Medalha Carl Sagan (Carl Sagan Medal) por Excelência de Divulgação da Ciência Planetária, concedida desde 1998 pela Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana (AAS/DPS), aos cientistas planetários em atividade que tenham realizado algum trabalho de destaque na divulgação desta ciência. Sagan foi um dos membros do comitê organizador original da DPS.
O Prêmio Carl Sagan para a Compreensão Pública da Ciência (Carl Sagan Award for Public Understanding of Science), concedido desde 1993 pelo Conselho de Presidentes da Sociedade Científica (CSSP). Sagan foi o primeiro a receber este prêmio, em 1993.
Em 2006, a Medalha Carl Sagan foi concedida ao astrobiológo e escritor David Grinspoon, filho de Lester Grinspoon, amigo de Sagan.
Carl Sagan por Ann Druyan
No décimo aniversário do falecimento de Carl Sagan, esta nota foi publicada em seu site oficial:
Publicações
Com sua formação multidisciplinar, Sagan foi o autor de obras como Cosmos (complementar a sua premiada série de televisão), Os Dragões do Éden (pelo qual recebeu o Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral), O Romance da Ciência, Pálido Ponto Azul e .
Escreveu ainda o romance de ficção científica Contato, que foi levado para as telas de cinema, posteriormente a sua morte. Sua última obra, Bilhões e Bilhões, foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan e consiste, fundamentalmente, numa compilação de artigos inéditos escritos por Sagan, tendo um capítulo sido escrito por ele enquanto se encontrava no hospital. Recentemente foi publicado no Brasil mais um livro sobre Sagan, Variedades da experiência científica: Uma visão pessoal da busca por Deus, que é uma coletânea de suas palestras sobre teologia natural.
A seguir, uma lista de suas obras, seguido dos autores, da editora (de preferência brasileira), do ano da publicação original (em língua inglesa), de seu respectivo ano de publicação no Brasil (em língua portuguesa), e de seu código ISBN:
Os Planetas. Biblioteca Cientifica Life. Coescrito por Jonathan Norton Leonard, publicado em 1966 ;
A Vida Inteligente no Universo. Coescrito por Iosif Shklovsky. Publicações Europa-américa, 1966 , 1981 , ISBN 1-892803-02-X, 509 páginas;
UFOs: A Scientific Debate. Coescrito por Thornton Page. Cornell University Press, 1972 , 310 páginas.
Communication with extraterrestrial intelligence. MIT Press, 1973 , 428 páginas, ISBN 978-84-320-3551-7.
Marte e a Mente do homem. Artenova, 1973 (em inglês e português), 3 páginas;
Conexão Cósmica: Uma perspectiva extraterrestre. Coescrito por Jerome Agel. Discute a possibilidade da existência de civilizações extraterrestres. Artenova, 1973 , 1976 , 301 páginas, ISBN 0-521-78303-8;
Other Worlds. Bantam Books, 1975 ;
Murmúrios da Terra: A Viagem Interestelar da Voyager Record. Francisco Alves, 1978 (em inglês e português), ISBN 0-394-41047-5;
Os Dragões do Éden: Especulações sobre a Evolução da Inteligência Humana. Premiado com o Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral. Francisco Alves, 1978 (em inglês e português), ISBN 0-345-34629-7, 288 páginas;
Cérebro de Broca: Reflexões sobre o Romance da Ciência. Uma recompilação de artigos científicos. Francisco Alves, 1979 (em inglês e português), ISBN 0-345-33689-5, 416 páginas;
Cosmos. Livro complementar a série de documentários homônima, sua obra de divulgação científica mais popular e influente, o que fez ele se tornar mundialmente famoso. Francisco Alves, 1980, ISBN 0-375-50832-5, 384 páginas;
O Inverno Nuclear: O mundo após uma guerra nuclear. Francisco Alves, 1985 (em inglês e português). Coescrito por Paul Ehrlich, ISBN 978-84-206-9525-9;
Cometa. Coescrito por Ann Druyan. Sobre a origem dos cometas. ISBN 0-345-41222-2, Francisco Alves, 1985 (em inglês e português), 496 páginas;
Contato. História de ficção científica sobre um contato com uma civilização extraterrestre, serviu de base para um filme homônimo de 1997. Companhia das Letras, 1985 , 1997 , ISBN 1-56865-424-3, 352 páginas;
A Path Where No Man Thought: Nuclear Winter and the End of the Arms Race. Coescrito por Richard Turco, Random House, 1990 , ISBN 0-394-58307-8, 499 páginas;
Shadows of Forgotten Ancestors: A Search for Who We Are. Sobre a evolução da espécie humana e o desenvolvimento das civilizações pré-históricas. Coescrito por Ann Druyan, Ballantine Books, 1993 , ISBN 0-345-38472-5, 528 páginas;
Pálido Ponto Azul. Considerado uma sequência de Cosmos, trata sobre a posição do ser humano perante o universo e analisa a possibilidade da humanidade como uma futura civilização viajante no espaço. Companhia das Letras, 1994 (em inglês e português), ISBN 0-679-43841-6, 429 páginas;
. Uma defesa em prol do método científico e ceticismo em troca da superstição e da pseudociência. Companhia das Letras, 1996, ISBN 0-345-40946-9, 480 páginas;
Bilhões e Bilhões. Última obra escrita por Sagan, considerada como seu testamento ideológico. Coescrito por Ann Druyan, Companhia das Letras, 1997 , 1998 , ISBN 0-345-37918-7, 320 páginas;
Variedades da experiência científica: Uma visão pessoal da busca por Deus. Uma recompilação póstuma dos textos de Sagan nas Conferências Gifford sobre teologia natural. Editado por Ann Druyan, Companhia das Letras, 1985 , 2010 , ISBN 1-59420-107-2, 304 páginas.
Ver também
Ann Druyan
Cosmos
Isaac Asimov
Marcelo Gleiser
Nick Sagan
Stephen Jay Gould
Stephen Hawking
Steven Weinberg
Ligações externas
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Polímatas
Professores da Universidade Cornell
Royal Institution Christmas Lectures
SETI
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Este artigo é uma lista de factores de conversão entre uma série de unidades.
Medidas de área
Medidas de volume
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Outras medidas
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Sistema Internacional de Unidades
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Ligações externas
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Conversao de unidades
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O Carandá (Copernicia australis Becc.; Arecaceae ou Palmae) é uma planta da família das arecáceas, nativa da ecorregião de Chaco na Bolívia, Paraguai, Brasil (nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e Argentina (especialmente na província de Formosa). De rápida germinação e abundante na forma silvestre, se aproveita pouco em jardinagem frente a outras palmeiras da região. É a mais resistente ao frio das espécies de Copernicia.
Etimologia
O termo "Carandá" provém do tupi karã'dá.
Características
C. alba é uma palmeira que atinge até 20 m de altura, com um espique de 40 cm de diâmetro máximo, raramente bifurcado, coberto de uma crosta de cor cinza e de superfície lisa ou marcada pelas vestígios dos galhos antigos nas plantas adultas. O sistema radicular é extenso e profundo. A madeira é resistente e densa (até 0,92 de densidade relativa em exemplares adultos). Mostra folhas palmadas, em forma de leque, agrupadas no ápice do talo, com o limbo de uns 70 cm de largura e o ráquis muito mais largo que isso, lenhoso e dotado de espinhos negros, duras e curvas; são palmatisetas, persistentes, com entre 30 e 50 folíolos lineares, cada um em torno de 2 cm de extensão e cor ligeiramente azulado. Nos exemplares adultos estão cobertos de uma cera similar a da carnaúba.
As flores formam inflorescências em espádices de cor amarela e quase 2 m de largura, formado por flores hermafroditas em torno de 4 mm de largura dispostos em espiral. Cada flor possui três ovários, um dos quais se desenvolverá o fruto, uma baga globosa de consistência pulposa e cor escura, monoseminada. A semente é ovóide, lisa, de cor castanho claro e até 12 mm de largura.
Habitat
C. alba está adaptada a um clima de monções, con períodos de seca alternando com alagamentos. Requer muito sol, mas tolera aceitavelmente bem o frio uma vez que tenha germinado no lugar. Divide o habitat com a pinha (Syagrus romanzoffiana), Trithrinax campestris, Trithrinax biflabellata e Acrocomia totai.
Uso
O tronco dos exemplares adultos se usa nas indústria madeireira para construção de postes para linhas telefônicas e elétricas.
Bibliografia
Libro del Árbol: Especies Forestales Indígenes de la Argentina de Aplicación Industrial, Buenos Aires: Celulosa Argentina S. A., 1975
Ligações externas
Copernicia australis
Copernicia
Arecáceas
Árvores do Brasil |
Carboquímica é o ramo da química que estuda a transformação de carvões (hulha, antracite, linhite, grafite e vegetal) em produtos úteis e matérias-primas. Os processos que são usados em carboquímica incluem processos de desgaseificação, como carbonização e coqueificação, processos de gaseificação e processos de liquefação.
História
O início da carboquímica remonta ao século XVI. Naquela época, grandes quantidades de carvão eram necessárias para a fundição de minérios de ferro. Como a produção de carvão vegetal exigia grandes quantidades de madeira de regeneração lenta, o uso do carvão foi estudado. O uso de carvão puro era difícil devido à quantidade de subprodutos líquidos e sólidos que eram gerados. Para melhorar o manuseio o carvão foi inicialmente tratado como madeira em fornos para produção de coque.
Por volta de 1684, John Clayton descobriu que o gás de cidade gerado a partir do carvão era combustível. Ele descreveu sua descoberta na Philosophical Transactions of the Royal Society.
Ligações externas
Site sobre química
Instituto de Química da USP
Química inorgânica |
O consumo é uma atividade económica (uma das principais, ao lado da produção, distribuição, repartição dos rendimentos e acumulação) que consiste na utilização, destruição ou aquisição de bens ou serviços. Este ato pode ser efetuado pelas famílias, empresas ou outros agentes económicos, tornando-se estes consumidores, permitindo também satisfazer as respectivas necessidades.
Tipos de consumo
Consumo essencial e supérfluo
Tendo em conta a natureza das necessidades satisfeitas, os consumos podem classificar-se em essenciais e supérfluos. Os consumos essenciais referem-se à satisfação das necessidades primárias, ou à compra e utilização de bens indispensáveis à nossa sobrevivência, como os alimentos, o vestuário e a educação. Pelo contrário, o consumo supérfluo ou de luxo assenta na satisfação de necessidades secundárias ou terciárias, ou à aquisição e utilização de bens dispensáveis à nossa vida, como os cosméticos.
Consumo individual e coletivo
Outra forma de distinguir os vários tipos de consumo prende-se com o beneficiário do consumo. Um consumo que é efetuado individualmente, como por exemplo a compra de uma camisola ou a ingestão de alimentos por parte de um indivíduo, é considerado consumo individual, pois o consumo irá apenas satisfazer a necessidade de um indivíduo. É, pelo contrário, considerado um consumo coletivo, um consumo que é efetuado simultaneamente por vários indivíduos, e que irão satisfazer necessidades coletivas. O consumo de serviços públicos, como os serviços de saúde, de educação ou de justiça, constituem exemplos deste tipo de consumo.
Consumo privado e público
Há ainda classificações do consumo que têm como base o autor do ato de consumir. Neste caso, são duas: o consumo privado e o consumo público. Enquanto que o consumo privado é efetuado por particulares—famílias e empresas—, o consumo público é efetuado pelas Administrações Públicas, como por exemplo o Estado.
Consumo final e intermédio
Quanto a esta classificação, que se refere à finalidade do próprio consumo, podemos distinguir entre consumo final e consumo intermédiario. No que toca ao consumo final, este prende-se com o facto do consumo ter como intuito a satisfação direta das necessidades dos agentes em questão, e cujos bens não sofrerão qualquer transformação. Este ato é normalmente efetuado pelas famílias. O consumo intermédio é, contrariamente, feito normalmente pelas empresas, e refere-se à utilização de bens que sofrerão transformações, e que serão incorporados nos bens finais—bens de consumo final. A compra de alimentos por parte de famílias e a compra de matérias-primas para fazer bolos por parte de empresas, por exemplo, são respetivamente consumos finais e intermédios.
Consumo sustentável
O consumo sustentável ou responsável diz respeito ao consumo de bens respeitadores do ambiente. Incluem-se nesta classificação não só o consumo de produtos reciclados, mas também a rejeição de produtos baseados em recursos não renováveis e a rejeição de bens nocivos, se bem que estes dois últimos não se enquadram perfeitamente no conceito de "consumo", sendo atos assentes na responsabilidade do consumidor.
Ver também
Anticonsumismo
Consumismo
Consumismo conspícuo
Defesa do consumidor
Educação financeira
Macroeconomia
Agregados macroeconómicos
Teoria do consumidor |
A cronologia (do latim chronologia, do grego antigo χρόνος, chrónos, "tempo"; e -λογία, -logia) é a ciência de organizar eventos em sua ordem de ocorrência no tempo. Considere, por exemplo, o uso de uma linha do tempo ou sequência de eventos. É também "a determinação da sequência temporal real de eventos passados".
A cronologia faz parte da periodização. É também uma parte da disciplina de história, incluindo história da Terra, ciências da Terra e estudo da escala de tempo geológica.
Campos relacionados
A cronologia é a ciência de localizar eventos históricos no tempo. Baseia-se na cronometria, também conhecida como cronometria, e na historiografia, que examina a escrita da história e o uso de métodos históricos. A datação por radiocarbono estima a idade de seres antes vivos medindo a proporção do isótopo de carbono-14 em seu conteúdo de carbono. A dendrocronologia estima a idade das árvores por correlação dos vários anéis de crescimento em sua madeira com as sequências de referência ano a ano conhecidas na região para refletir a variação climática ano a ano. A dendrocronologia é usada por sua vez como uma calibração e referência para curvas de datação por radiocarbono.
Calendário e época
Os termos familiares calendário e era (na acepção de um sistema coerente de anos civis numerados) dizem respeito a dois conceitos fundamentais complementares de cronologia. Por exemplo, durante oito séculos o calendário pertencente à era cristã, época que foi usada no século VIII por Beda, foi o calendário juliano, mas depois do ano 1582 passou a ser o calendário gregoriano. Dionísio, o Exíguo (por volta do ano 500) foi o fundador dessa época, que é hoje o sistema de datação mais difundido do planeta. Uma época é a data (geralmente o ano) em que uma era começa.
Condição de Ab Urbe
Ab Urbe condita é Latin para "a partir da fundação da cidade (Roma)", tradicionalmente fixado em 753 a.C. Foi usado para identificar o ano romano por alguns historiadores romanos. Os historiadores modernos o usam com muito mais freqüência do que os próprios romanos; o método dominante de identificar os anos romanos era nomear os dois cônsules que ocuparam o cargo naquele ano. Antes do advento da edição crítica moderna de obras históricas romanas, AUC foi indiscriminadamente adicionado a eles por editores anteriores, fazendo com que parecesse mais amplamente usado do que realmente era.
Foi usado sistematicamente pela primeira vez apenas por volta do ano 400, pelo historiador ibérico Orosius. O papa Bonifácio IV, por volta do ano 600, parece ter sido o primeiro a fazer uma conexão entre estes e Anno Domini. (AD 1 = AUC 754)
Era astronômica
A era Anno Domini de Dionísio, o Exíguo (que contém apenas os anos civis DC) foi estendida por Beda à era cristã completa (que contém, além disso, todos os anos civis AC, mas nenhum ano zero). Dez séculos depois de Beda, os astrônomos franceses Philippe de la Hire (no ano de 1702) e Jacques Cassini (no ano de 1740), puramente para simplificar certos cálculos, colocaram a data juliana (proposto no ano de 1583 por Joseph Justus Scaliger) e com ele uma era astronômica em uso, que contém um ano bissexto zero, que precede o ano 1 (DC).
Pré-história
Embora de importância crítica para o historiador, os métodos de determinação da cronologia são usados na maioria das disciplinas da ciência, especialmente astronomia, geologia, paleontologia e arqueologia.
Na ausência de uma história escrita, com suas crônicas e listas de reis, os arqueólogos do final do século XIX descobriram que podiam desenvolver cronologias relativas baseadas em técnicas e estilos de cerâmica. No campo da egiptologia, William Flinders Petrie foi o pioneiro na datação de sequências para penetrar nos tempos neolíticos pré-dinásticos, usando grupos de artefatos contemporâneos depositados juntos em um único momento em túmulos e trabalhando metodicamente para trás desde as primeiras fases históricas do Egito. Este método de datação é conhecido como seriação.
As mercadorias conhecidas descobertas em estratos em locais às vezes bem distantes, o produto do comércio, ajudaram a estender a rede de cronologias. Algumas culturas mantiveram o nome aplicado a eles em referência a formas características, por falta de uma ideia do que eles chamavam a si mesmos: "O Povo do Copo" no norte da Europa durante o terceiro milênio AEC, por exemplo. O estudo dos meios de colocar cerâmica e outros artefatos culturais em algum tipo de ordem prossegue em duas fases, classificação e tipologia: a classificação cria categorias para fins de descrição e a tipologia busca identificar e analisar as mudanças que permitem que os artefatos sejam colocados em sequências.
As técnicas de laboratório desenvolvidas principalmente após meados do século XX ajudaram a constantemente revisar e refinar as cronologias desenvolvidas para áreas culturais específicas. Métodos de datação não relacionados ajudam a reforçar uma cronologia, um axioma de evidências corroborativas. Idealmente, os materiais arqueológicos usados para datar um sítio devem complementar-se e fornecer um meio de verificação cruzada. As conclusões tiradas de apenas uma técnica sem suporte são geralmente consideradas não confiáveis.
Sincronismo
O problema fundamental da cronologia é sincronizar eventos. Ao sincronizar um evento, torna-se possível relacioná-lo com a hora atual e comparar o evento com outros eventos. Entre os historiadores, uma necessidade típica é sincronizar os reinados de reis e líderes para relacionar a história de um país ou região com a de outro. Por exemplo, a Crônica de Eusébio (325 DC) é uma das principais obras do sincronismo histórico. Este trabalho tem duas seções. O primeiro contém crônicas narrativas de nove reinos diferentes: Caldeu, Assírio, Medo, Lídio, Persa, Hebraico, Grego, Peloponeso, Asiático e Romano. A segunda parte é uma longa mesa que sincroniza os eventos de cada um dos nove reinos em colunas paralelas.
Ao comparar as colunas paralelas, o leitor pode determinar quais eventos foram contemporâneos ou quantos anos separaram dois eventos diferentes. Para colocar todos os eventos na mesma escala de tempo, Eusébio usou uma era Anno Mundi (AM), o que significa que os eventos foram datados do suposto início do mundo como calculado a partir do Livro do Gênesis no Pentateuco hebraico. De acordo com o cálculo usado por Eusébio, isso ocorreu em 5199 a.C. A Crônica de Eusébio foi amplamente usada no mundo medieval para estabelecer as datas e horários de eventos históricos. Cronógrafos subsequentes, como Jorge Sincelo (falecido por volta de 811), analisaram e elaboraram o Chronicon comparando-o com outras cronologias. O último grande cronógrafo foi Joseph Justus Scaliger (1540-1609) que reconstruiu o Chronicon perdido e sincronizou toda a história antiga em suas duas principais obras, De emendatione temporum (1583) e Thesaurus temporum (1606). Muitas das datações históricas modernas e da cronologia do mundo antigo derivam, em última análise, dessas duas obras.
Além dos métodos literários de sincronismo usados por cronógrafos tradicionais como Eusébio, Sincelo e Scaliger, é possível sincronizar eventos por meios arqueológicos ou astronômicos. Por exemplo, o Eclipse de Tales, descrito no primeiro livro de Heródoto, pode potencialmente ser usado para datar a Guerra da Lídia porque o eclipse ocorreu durante uma importante batalha naquela guerra. Da mesma forma, vários eclipses e outros eventos astronômicos descritos em registros antigos podem ser usados para sincronizar astronomicamente eventos históricos. Outro método para sincronizar eventos é o uso de achados arqueológicos, como cerâmica, para fazer a datação em sequência.
Ver também
Cronologia da História do Mundo
Cronologia Bíblica
Cronologia do Universo
Crónica (historiografia)
Referências
Leitura adicional
Publicado nos séculos XVIII a XIX
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Publicado no século XX
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Langer, W. L., & Gatzke, H. W. (1963). An encyclopedia of world history, ancient, medieval and modern, chronologically arranged. Boston: Houghton Mifflin.
Momigliano, A. "Pagan and Christian Historiography in the Fourth Century A.D." in A. Momigliano, ed., The Conflict Between Paganism and Christianity in the Fourth Century,The Clarendon Press, Oxford, 1963, pp. 79–99
Williams, N., & Storey, R. L. (1966). Chronology of the modern world: 1763 to the present time. London: Barrie & Rockliffe.
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Neugebauer, O. (1975). A History of Ancient Mathematical Astronomy Springer-Verlag.
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Richards, E. G. (1998). Mapping Time: The Calendar and History. Oxford University Press.
Publicado no século XIX
Koselleck, R. "Time and History." The Practice of Conceptual History. Timing History, Spacing Concepts. Palo Alto: Stanford University Press, 2002.
Ligações externas
Pioneiros - Cronologia - Lista cronológica dos eventos pioneiros no mundo, desde o início da humanidade até aos nossos dias.
Site Ponteiro - Página com todas as cronologias da História do mundo.
Cronologia dos acontecimentos ocorridos em Portugal entre 1640-1974
Cronologias
Teoria da história
Ciências auxiliares da História
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O clima (do grego para "inclinação", referindo ao ângulo formado pelo eixo de Rotação da Terra e seu plano de translação) compreende um padrão da atmosfera da Terra. Fenômenos como frentes frias, tempestades, furacões e outros estão associados tanto às variações meteorológicas preditas pelas leis físicas determinísticas, assim como a um conjunto de variações aleatórias dos elementos meteorológicos (temperatura, precipitação, vento, umidade, pressão do ar) cuja principal ferramenta de investigação é a estatística. As semelhanças em várias regiões da Terra de tipos específicos caracterizam os diversos tipos de clima, para o que são consideradas as variações médias do tempo meteorológico ao longo das estações do ano num período de não menos de 30 anos. Em suma, o clima corresponde ao comportamento médio dos elementos atmosféricos num determinado lugar, durante, pelo menos, trinta anos.
Definição
A definição pelo glossário do IPCC é:
"Clima, num sentido restrito é geralmente definido como 'tempo meteorológico médio', ou mais precisamente, como a descrição estatística de quantidades relevantes de mudanças do tempo meteorológico num período de tempo, que vai de meses a milhões de anos. O período clássico é de 30 anos, definido pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM). Essas quantidades são geralmente variações de superfície como temperatura, precipitação e vento. O clima num sentido mais amplo é o estado, incluindo as descrições estatísticas do sistema global."
A climatologia e o objeto clima
A climatologia é uma especialização da pesquisa meteorológica e geográfica dedicada ao estudo e investigação do clima em seus múltiplos aspectos. Nas ciências atmosféricas, a climatologia investiga as causas e as relações físicas entre os diferentes fenômenos climáticos (por exemplo, os fatores de ocorrência de secas, inundações, ondas de calor, fenômenos El Niño/ENSO, e outros). Na geografia, a climatologia é uma ferramenta de entendimento da relação do homem com seu espaço ambiental, particularmente com os fenômenos atmosféricos, do qual ele é paciente (atingido por vendavais, furacões, tornados, tempestades, enchentes e cheias, por exemplo) e causador (poluição, degradação ambiental, mudança climática devido efeito-estufa e outros). Esses dois pontos de vista, meteorológico e geográfico, complementam-se e não podem ser entendidos de forma separada.
O clima é o conjunto de estados do tempo meteorológico que caracterizam o meio ambiente atmosférico de uma determinada região ao longo do ano. O clima, para ser definido, considera um subconjunto dos possíveis estados atmosféricos e, para tal, requer a análise de uma longa série de dados meteorológicos e ambientais. Por longa série se entende um período de dezenas de anos. A Organização Mundial de Meteorologia (WMO) recomenda 30 anos para a análise climática.
A concepção original do que é clima foi introduzida através da análise estatística, de longo prazo, considerada, talvez, no fim do século XIX.
A noção de clima tem mudado ao longo do século XX. Até meados do século XX, o clima era considerado "fixo" na escala de tempo de 30 anos e funcionava como a base da previsão de tempo para as regiões tropicais, então bastante desconhecida. Os trópicos eram considerados regiões onde o tempo meteorológico seria regido pelo clima tropical, isto é, por variações sazonais, por exemplo, as "monções" sazonais, e não pelas variações e flutuações diurnas associadas às passagens de frentes e ou presença de sistemas complexos de tempestades. Assim, o tempo nos trópicos seria apenas perturbado por eventos aleatoriamente distribuídos. A existência de fenômenos como "ondas de leste", sistemas convectivos de tempestades da Zona de Convergência Intertropical (ITCZ) não eram conhecidos.
Hoje,ainda é mais difícil dar uma definição do clima baseada em períodos de 30 anos, embora séries de dados de 30 anos sejam comuns. Nota-se, que ao longo de amostras da série temporal, podem ocorrer variações do valor médio, indicando variabilidade climática. Parte dessas variações encontradas ao longo das dezenas de anos pode ser atribuída a causas antropogênicas. Por exemplo, os primeiros anos do século XXI têm sido mais quentes que os encontrados anteriormente na segunda metade do século XX.
Um dos primeiros estudos sobre o clima, proposto por Wladimir Köppen em 1900, fundamentava-se no sentido de clima como fator da dimensão geográfica. Nessa classificação considerava-se a vegetação predominante como uma manifestação das características do solo e do clima da região, permitindo reunir várias regiões do mundo através de semelhanças de sua vegetação, sendo conhecida como "classificação climática de Köppen-Geiger". Em 1931 Charles Warren Thornthwaite introduziu uma nova classificação e em 1948 amplia os estudos através do balanço de água como um fator do clima, que futuramente daria origem à "classificação do clima de Thornthwaite". Emmanuel de Martonne destacou-se no estudo da geomorfologia climática. Seu estudo sobre problemas morfológicos do Brasil tropical-atlântico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climática, sendo conhecida a "classificação do clima de Martonne".
Fatores climáticos
Os fatores climáticos são os elementos naturais e humanos capazes de influenciar as características ou a dinâmica de um ou mais tipos de climas. Para que sejam compreendidos, precisam ser estudados de forma interdisciplinar, pois um interfere no outro. São eles:
Pressão atmosférica - variações históricas das amplitudes de pressões endógenas (magma) e exógenas (crosta) do planeta Terra;
Órbita - mudanças cronológicas (geológicas e astrofísicas) nas posições das órbitas terrestres (em graus, minutos, segundos, décimos, centésimos e milésimos de segundos) ocasionam maiores ou menores graus de insolação que modificam as variadas ações calorimétricas (ora incidentes ou deferentes) no planeta Terra (dificilmente perceptíveis aos humanos);
Latitude - distância em graus entre um local até a linha do equador;
Altitude - a distância em metros entre uma cidade localizada em um determinado ponto do relevo até o nível do mar (universalmente considerado como o ponto ou nível médio em comum para medidas de altitudes);
Maritimidade - corresponde à proximidade de um local com o mar;
Continentalidade - corresponde à distância de um local em relação ao mar, permitindo ser mais influenciado pelas condições climáticas provenientes do próprio continente;
Massas de ar - parte da atmosfera que apresenta as mesmas características físicas (temperatura, pressão, umidade e direção), derivadas do tempo em que ficou sobre uma determinada área da superfície terrestre (líquida ou sólida);
Correntes marítimas - grande massa de água que apresenta as mesmas características físicas (temperatura, salinidade, cor, direção, densidade) e pode acumular uma grande quantidade de calor e, assim, influenciar as massas de ar que se sobrepõem;
Relevo - presença e interferências de montanhas e depressões nos movimentos das massas de ar;
Vegetação - emite determinadas quantias de vapor de água, influenciando o ciclo hidrológico de uma região.
A presença de megalópoles ou de extensas áreas rurais, as quais modificaram muito a paisagem natural, como por exemplo a Grande São Paulo, a Grande Rio de Janeiro, Tokkaido, a megalópole renana e Bos-wash, influenciando o clima local.
Tipos de clima
Tropical
Tropical alternadamente úmido e seco;
Subtropical
Equatorial
Equatorial úmido;
Mediterrâneo
Temperado
Oceânico
Continental
Continental úmido;
Continental subártico;
Alpino
Polar
Árido
Semiárido
Desértico
Desértico tropical e de estepe;
desértico de latitudes médias;
Desértico das costas ocidentais;
Litorâneo com ventos alísios;
Marítimo da costa ocidental;
Tundra;
Polar;
Diversidades de Climas ao Redor do Mundo
Tropical - Manaus -
Subtropical - Buenos Aires -
Equatorial - Belém -
Mediterrâneo - Lisboa -
Temperado - Nova Iorque -
Oceânico - Londres -
Continental - Pequim -
Polar - Yakutsk -
Árido - Lima -
Semiárido - Ancara -
Alpino - Bogotá -
Desértico - Dubai -
Ver também
Mudança do clima
Clima espacial
Clima urbano
Variação solar
Classificação do clima de Thornthwaite
Classificação climática de Köppen-Geiger
Seca
Ligações externas
Meteorologia |
Casimiro José Marques de Abreu (Barra de São João, — Nova Friburgo, ) foi um poeta brasileiro da segunda geração do romantismo.
Vida e obra
Filho do fazendeiro português José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira de Barra de São João, viúva do primeiro casamento. Com José Joaquim ela teve três filhos, embora nunca tenham sido oficialmente casados. Casimiro nasceu na Fazenda da Prata, localizada na Serra do Macaé anteriormente localizada no território de Nova Friburgo hoje em Casimiro de Abreu, propriedade herdada por sua mãe em decorrência da morte do seu primeiro marido, de quem não teve filhos.
A localidade onde viveu parte de sua vida, Barra de São João, era ao tempo território de Macaé e hoje distrito do município que leva seu nome, e também chamado "Casimiro de Abreu", foi batizado na igreja da localidade por isso a homenagem. Recebeu apenas a instrução primária no Instituto Freese, dos onze aos treze anos, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do Rio de Janeiro, e para onde convergiam, à época, os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos.
Aos treze anos transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal em 1853, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. O seu sentimento nativista e as saudades da família escreve: "estando a minha casa à hora da refeição, pareceu-me escutar risadas infantis da minha mana pequena. As lágrimas brotavam e fiz os primeiros versos de minha vida, que teve o título de Ave Maria".
Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jau em 1856, que foi publicado logo depois.
Seus versos mais famosos do poema Meus oito anos:
Em 1857 retornou ao Brasil para trabalhar no armazém de seu pai. Isso, no entanto, não o afastou da vida boêmia. Escreveu para alguns jornais e fez amizade com Machado de Assis. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título de Primaveras.
Tuberculoso, retirou-se para a fazenda de seu pai, Indaiaçu, hoje sede do município que recebeu o nome do poeta, onde inutilmente buscou uma recuperação do estado de saúde, vindo ali a falecer. Foi sepultado conforme seu desejo em Barra de São João, estando sua lápide no cemitério da secular Capela de São João Batista, junto ao túmulo de seu pai.
Espontâneo e ingênuo, de linguagem simples, tornou-se um dos poetas mais populares do Romantismo no Brasil. Seu sucesso literário, no entanto, deu-se somente depois de sua morte, com numerosas edições de seus poemas, tanto no Brasil, quanto em Portugal. Deixou uma obra cujos temas abordavam a casa paterna, a saudade da terra natal, e o amor (mas este tratado sem a complexidade e a profundidade tão caras a outros poetas românticos). A despeito da popularidade alcançada pelos livros do poeta, sua mãe, e herdeira necessária, morreu em 1859 na mais absoluta pobreza, não tendo recebido nada em termos de direitos autorais, fossem do Brasil, fossem de Portugal.
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas O Panorama (1837-1868) e A illustração luso-brasileira (1856-1859).
É o patrono da cadeira número seis da Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis.
Obras de Casimiro de Abreu
Fora da Pátria, prosa, (1855)
Minha Mãe, poesia, (1855)
Rosa Murcha, poesia, (1855)
Saudades, poesia, (1856)
Suspiros, poesia, (1856)
Camões e o Jau, teatro, (1856)
Meus Oito Anos, poesia, (1857)
Longe do Lar, prosa, (1858)
Treze Cantos, poesia, (1858)
Folha Negra, poesia, (1858)
Primaveras, poesias, (1859)
Poesias e prosas
As Primaveras, poesias, prosas e textos de outros sobre o autor então recentemente falecido (1860)
Prosa
Carolina, romance, (1856)
A Cabana (1858)
A Virgem Loura, prosa poética
Teatro
Camões e o Jau (1857)
Ver também
Casimiro de Abreu (município do Rio de Janeiro)
Casimiro de Abreu
Patronos da Academia Brasileira de Letras
Poetas do estado do Rio de Janeiro
Brasileiros de ascendência portuguesa
Escritores românticos do Brasil
Mortes por tuberculose no Rio de Janeiro
Naturais de Silva Jardim
Brasileiros do século XIX
Mortes por tuberculose no século XIX |
Agronomia é um campo da Gestão Ambiental e abarcado pelas ciências agrárias, sendo uma área multidisciplinar que inclui subáreas aplicadas das ciências naturais, exatas, sociais e econômicas que trabalham em conjunto visando aumentar a compreensão da agropecuária e aperfeiçoar as práticas agrícolas e zootécnicas, por meio de técnicas e tecnologias em favor de uma otimização da produção dos pontos de vista econômico, técnico, social e ambiental,minimizar o gasto de energia em conformidade com as condições ambientais mutáveis.
O surgimento da agronomia foi mediante a necessidade de sobrevivência humana na terra e era caracterizada pelo cultivo primitivo de extração mas que atendeu a demanda por certo tempo, o que permitiu a permanência dos indivíduos em um local, passou por inúmeras mudanças e foi base da economia de muitas sociedades. Atualmente essa atividade se tornou algo muito mais abrangente e de extrema importância para a economia mundial.
Área de Atuação
No geral, a agronomia possui principalmente três áreas de atuação: ensino, pesquisa e extensão rural. Produz pesquisas e desenvolve as técnicas que melhoram os resultados da agropecuária como, por exemploː manejo de irrigação, engenharia rural, quantidade ótima de fertilizantes, maximização da produção em termos de quantidade e qualidade do produto, fitotecnia, zootecnia, seleção de variedades resistentes à seca e de raças (melhoramento genético animal e vegetal), doenças e pragas (entomologia, fitopatologia, fitiatria, matologia, microbiologia, nematologia), desenvolvimento de novos agroquímicos, modelos de simulação de crescimento de colheita, secagem e armazenagem de produtos agropecuários, agroindústria, economia rural, meio ambiente, mecanização agrícola e técnicas de cultura de células in vitro. Elas estudam também a transformação de produtos primários em produtos finais de consumo como, por exemplo, a produção, preservação e embalagem de produtos lácteos e a prevenção e correção de efeitos adversos ao ambiente (isto é, a degradação do solo e da água). Ou seja, a agronomia estuda a interação do complexo homem, planta, animais, solo, clima e ambiente segundo relações de causa e efeito. As pesquisas agronômicas, mais que as de outros campos, estão fortemente relacionadas ao local em que são realizadas. Fato semelhante ocorre com as técnicas derivadas dessas pesquisas.Assim, esse campo pode ser considerado uma ciência de ecorregiões porque está ligado a características locais de solo e clima que nunca são exatamente iguais nos diferentes lugares geográficos. Os sistemas agrícolas de produção devem levar em conta características como clima, local, solo e variedades de plantas e animais de produção, que precisam ser estudados a nível local. Outros sentem que é necessário entender os sistemas de produção de uma forma generalizada de maneira que o conhecimento obtido possa ser aplicado ao maior número de locais possíveis.
Os Engenheiros Agrônomos atuam de forma eclética e integrada nas atividades rurais através da horticultura, zootecnia, engenharia rural, economia, sociologia e antropologia rurais, ecologia agrícola etc.
Os conhecimentos indispensáveis à otimização da atividade rural, adquiridos pela pesquisa científica,demandam a comunicação aos agricultores. Portanto, a extensão rural é o processo de exposição dessas informações servindo-se de método educacional não formal que visa o crescimento da renda e bem-estar das famílias rurais, o que distingue da assistência técnica que é limitada à solução de questões sem instruir o agricultor.
No Brasil,a extensão rural segue a vertente pública e gratuita que é sistematizada em órgãos estaduais, os quais têm o papel de oferecer suporte técnico aos agricultores familiares, filiados a ASBRAER (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural) a qual objetiva o progresso com a mínima agressão ao meio ambiente, menor custo e de forma honesta. Um outro importante ato a favor da valorização do meio rural foi a criação do Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF) que é uma politica pública direcionada a pequenos agricultores a qual pressupõe a competência da geração de renda no espaço rural e nos municípios que estão diretamente ligados a esse ambiente.
Tecnologia
Atualmente, as ciências agrícolas são muito diferentes das de antes de 1950. A intensificação da agricultura que desde a década de 1960 vem sendo realizada por muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento é frequentemente denominada revolução verde, que com a ajuda da tecnologia proporcionou ter plantas com maior resistência a fatores climáticos, pragas ou doenças que poderiam nelas estarem presentes. Esta intensificação tem-se baseado na seleção genética de variedades de plantas e de animais capazes de alta produtividade e no uso de insumos artificiais como fertilizantes e produtos que visam a aumentar a produção através do aumento da sanidade dos vegetais e animais utilizados. Por outro lado, o dano ambiental que esta intensificação da agricultura vem causando (associado ao dano que o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional que essa intensificação permite) estão levando muitos cientistas a criar novas técnicas a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável, como o manejo integrado de doenças e de pestes, técnicas de tratamento de dejetos, técnicas de minimização de desperdício, adubação verde e arquitetura da paisagem que são vertentes da Agroecologia.
Além disso, campos como os da biotecnologia e da ciência da computação (processamento e armazenagem de dados) estão tornando possível o progresso e o desenvolvimento de novos campos de pesquisa, como a engenharia genética e a agricultura de precisão.
Desta maneira, atualmente os pesquisadores que trabalham em ciências agrícolas e nas ciências a ela associadas equacionam o problema de alimentar a população do mundo ao mesmo tempo em que previnem a ocorrência de problemas de biossegurança que possam afetar a saúde humana e o ambiente. Este é o motivo pelo qual eles buscam promover um melhor manejo de recursos naturais e do respeito ao ambiente.
A agronomia especialmente, deverá se adaptar às mudanças tecnológicas em um grau superior ao que se apresenta hoje, utiliza-se já muitas máquinas para realizar serviços que antes eram realizados por humanos, então no futuro esses serviços realizados por máquinas só irão aumentar, juntamente de diversas técnicas aprimoradas.
Os aspectos sociais, econômicos e ambientais são temas que estão em debate atualmente. Crises recentes, como a doença da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina) e o debate sobre o uso de organismos geneticamente modificados, ilustram a complexidade e importância deste debate.
Cientistas agrícolas famosos
Os pesquisadores têm papel fundamental na construção da agronomia, pois o conhecimento adquirido por um cientista na maioria das vezes favorece que outro cientista amplie o conhecimento e/ou faça novas descobertas.
Gregor Mendel
Louis Pasteur
Norman Borlaug
Augusto Ruschi
George Washington Carver
Eurípedes Malavolta
Warwick Estevam Kerr
Johanna Döbereiner
Joaquim Vieira Natividade
Ver também
Agrofloresta
Agrometeorologia
Agronegócio
Apicultura
Biotecnologia e Engenharia genética
Cartografia
Climatologia
Ciência ambiental
Construções rurais
Ecologia
Economia agrícola
Engenharia agrícola
Engenharia ambiental
Entomologia
Extensão rural
Fisiologia vegetal
Fitopatologia
Geografia
Geoprocessamento
Medicina veterinária
Máquinas e Mecanização agrícola
Nutrição animal
Nutrição vegetal
Paisagismo e Jardinagem
Pedologia
Produção de hortaliças
Tecnologia de alimentos
Turismo no espaço rural
Topografia
Zoologia
Zootecnia
Bibliografia
CONFEDERAZIONI internazionale dei tecnici agricoli, Congresso mondiale della sperimentazione agraria, Sede della Fao, 7-9 maggio 1959, Società Grafica Romana, Roma, 1959
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PENNAZIO, Sergio. Mineral Nutrition af Plants: A Short History of Plant Phisiology. Rivista di biologia, vol. 98, n. 2, maggio-agosto, 2005.
PIMENTEL, David; PIMENTEL, Marcia. Computer les kilocalories. Cérès, n. 59, sept-oct., 1977
RUSSELL, E.W. Soil conditions and plant growth, Longman group ltd., London, New York, 1973
SALTINI, Antonio. Storia delle scienze agrarie, 4 vol. Edagricole, Bologna, 1984-89
FINLEY, Moses I. Economia na Grécia Antiga. In: FINLEY, Moses I. ECONOMIA E SOCIEDADE NA GRÉCIA ANTIGA. Bela Vista, São Paulo - SP: WMF Martins Fontes, 2013.
ROMEIRO, Ademar. Revolução Industrial e mudança tecnológica na agricultura europeia. Revistas USP. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18633/20696>. Acesso em: 30 de outubro. 2019
Ligações externas
Primeiras escolas de agronomia do Brasil (1877 a 1936)
Glossário de Termos Usados em Atividades Agropecuárias, Florestais e Ciências Ambientais
Confea - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
Portal Agronomia
Revista Brasileira de Ciências Agrárias
Agronomia |
O Condado Portucalense (868 - 1143) foi um condado que surge ao longo do processo de reconquista da península ibérica pelos cristãos e que é dissolvido com a assinatura do Tratado de Zamora. Deste nome provém o atual Portugal, pois durante a Alta Idade Média a atual Região Norte portuguesa foi denominada como Condado Portucalense, para diferenciá-la do Reino da Galiza. Houve, no actual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista, dois governos denominados de Condado Portucalense ou Condado de Portucale. Em documentos coevos, o território denominava-se Portugália, sendo o condado fundado por Vímara Peres em 868, após a presúria aos mouros de Portucale (o Porto). A partir de finais do e com Gonçalo Mendes, os condes portugueses passaram a usar o título de duques, o que poderia indicar maior importância e maior extensão territorial.
A província portugalense que correspondia sensivelmente ao Entre-Douro-e-Minho tinha inicialmente o Porto como capital, mas dada a revelia e poder dos condes de Portugal, agora duques, que ingeriam na monarquia leonesa, um deles acabou por ser regente do reino entre 999 e 1008. O condado, embora gozando de autonomia significativa, era vassalo do reino de Leão.
O Condado Portucalense reemergiu, em 1096 pela mão de Henrique de Borgonha como oferta do rei Afonso VI de Leão pelo auxílio na Reconquista de terras aos mouros, a quem deveria prestar vassalagem, tendo também recebido a mão de sua filha, a infanta D. Teresa de Leão. A "Terra de Portugal" foi concedida como dote hereditário de D.Teresa. Este último condado era maior em extensão e abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra, suprimido em 1091, partes de Trás-os-Montes e ainda do sul da Galiza, a diocese de Tui. De notar que Condado é um termo genérico para designar o território português, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados comite (conde), dux (duque), princeps (príncipe) e até regina (rainha).
Fundação do condado
A reocupação e possível reconstrução ou fortificação de Portucale verificou-se após a presúria de Vímara Peres, em 868, vivendo, a partir de então, um próspero período da sua história: daí partiu toda a acção de reorganização, bem sucedida, e nalguns casos de repovoamento, para além dos limites da antiga diocese nela sediada, quer ao norte do rio Ave, quer ao sul do rio Douro. Por esta altura, o território designava-se de Terra Portugalense ou Portugalia. Desta forma, o antigo burgo de Portucale deu o nome a um novo estado ibérico.
Paulo Merêa refere a existência de documentos comprovadamente encontrados na província de Ourense, na Galiza, nos quais surge a referência expressa a terras situadas em Portugal, ou seja, ao sul do rio Lima, e que então pertenciam, e vieram ainda a pertencer durante algum tempo, no âmbito da organização eclesiástica de Tui, repovoada durante o reinado de .
Apenas dez anos decorridos sobre a reconquista definitiva de Portucale tivesse sido tomada a cidade de Coimbra e erigida em condado independente às mãos de Hermenegildo Guterres em 878; a sua posição de charneira entre os mundos cristão e muçulmano permitiu uma vivência de maior paz no Entre-Douro-e-Minho, se bem que a região era alvo de incursões normandas regulares. As campanhas do Almançor, em finais do , porém, fizeram recuar a linha de fronteira de novo até ao Douro e o condado de Coimbra é suprimido. Na segunda metade do , reconstituiu-se ao sul o condado de Coimbra, que incluía ainda as terras de Lamego, Viseu e Feira, sendo entregue ao conde ou alvazil Sesnando Davides, que conquistara definitivamente a cidade em 1064. Este condado viria mais tarde a ser incorporado no Portucalense.
Em 1065, o Condado Portucalense e a Galiza fizeram parte do território atribuído por ao seu filho mais novo . No entanto, ele lutava por controlar o conde Nuno Mendes. Com a sua vitória em 1071, na Batalha de Pedroso, entre a cidade de Braga e o rio Cávado, onde derrota Nuno Mendes, Garcia passa a intitular-se "Rei de Portugal e Galiza" (GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE), o Condado Portucalense é extinto dado que os herdeiros naturais, Loba Nunes e Sesnando Davides, filha e genro do conde, que tinham o direito de herdar o título, vêem boa parte dos bens confiscados por Garcia II.
Pouco depois, em 1071, os seus irmãos e tomaram o reino de Portugal e Galiza, expulsando Garcia. Na primavera seguinte, Sancho, por sua vez, expulsou Afonso, voltando a juntar os três reinos, o de Leão, o de Portugal e Galiza e o de Castela. Sancho aparece identificado como rei num documento português de 1072. Com o assassinato de Sancho, mais tarde, no mesmo ano, D. Afonso VI sucedeu na coroa de Leão, que abrangia os três reinos.
Portucale
A povoação que deu origem ao nome do condado, localizava-se junto à foz do rio Douro e tinha o nome de Portus Cale. O rei visigodo Leovigildo e seus sucessores cunharam moeda com a legenda Portucale. Forma que passou a Portugale em documentos do para o VIII. O topónimo que significa "Porto de Cale", que se julga ser um nome híbrido formado por um termo latino (Portus, "porto") e outro grego (καλός, transl. kalós, "belo"), donde qualquer coisa como "Porto Belo". Outra explicação é de que o nome derivaria dos povos de cultura castreja que habitariam a área de Cale nos tempos pré-romanos - os galaicos. Uma explicação alternativa é a de que o nome deriva da deusa venerada pela tribo e que poderia historicamente relacionar-se com a palavra Cailleach (definida como "deusa ancestral"), na Irlanda, numa invasão celta proveniente da Galécia e que teria nesses primórdios invadido a actual Irlanda. Uma outra teoria afirma que a palavra cale ou cala, seria celta e significava "porto", uma "enseada" ou "abrigo", e implicava a existência de um porto celta mais antigo. Ainda outra teoria propõe que Cale deriva de Caladunum.
No , as "Histórias de Salústio" referem uma "Cales civitas" localizada na Galécia; Cale teria também sido conquistada por Perpena; no , no "Itinerário de Antonino", fala-se de uma povoação chamada de Cale ou Calem; no , Idácio de Chaves escreve sobre um "Portucale castrum".
Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização exacta; o Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo cónego Pierre David após a sua identificação pelo também cónego Avelino de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes da diplomacia portuguesa, refere-se, séculos depois, a um povoado que designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro, o Portucale Castrum Novum, na direita.
Aquando do domínio dos suevos, Portucale foi palco de vários acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário durante a invasão dos visigodos comandados por Teodorico II (457), a revolta do seu governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a última batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo.
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a segunda metade do , a sede da diocese Portucalense, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a reconquista do Porto, em 868.
Condes de Portucale
Foram condes da (nem sempre em linha recta, mas recorrendo às vezes à sucessão cognática):
Casa de Borgonha
A ambição de Afonso VI de Leão reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca. A esta altura, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território: um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a ocidente, entregue a Raimundo; este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI de reforçar ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de Borgonha.
O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram propícias.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias, muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste, Teresa de Leão, a governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.
Em virtude do reconhecimento pelo , D. Teresa começa a intitular-se rainha em 1116-1117, mas os conflitos com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios públicos.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro — segundo o costume dos reis — tornando-se assim guerreiro independente. Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida, D. Afonso Henriques toma as rédeas do condado e dá o primeiro e firme passo para a constituição do reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos do Reino de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques conseguiu uma importante vitória contra os mouros na Batalha de Ourique, em 1139. Passou a intitular-se "rei dos Portugueses" a partir de 1140, e com o Tratado de Zamora de 1143 veria o seu poder legitimado. A Independência de Portugal inicia-se com a sua primeira dinastia, sendo coroado D. Afonso I.
Ver também
Tratado de Zamora
Independência de Portugal
Condado de Coimbra
Bibliografia
Ligações externas
De Condado Portucalense a Reino de Portugal, A Alma e Gente - Tesouros da Sé de Braga (Extrato de Programa), por José Hermano Saraiva, RTP/ Videofono, 2006
Estados e territórios fundados em 868
1143 em Portugal |
Concórdia é um município brasileiro do estado de Santa Catarina. O município tem uma extensão territorial de 799 km² e população estimada em habitantes, conforme dados do IBGE de 2019.
Foi eleita como a cidade com o melhor índice de desenvolvimento do Estado de Santa Catarina e a 6ª melhor do Brasil pelo IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal) em 2017.
Foi fundado por colonizadores provenientes do Rio Grande do Sul, principalmente descendentes de italianos e alemães que haviam emigrado para o Brasil no século XIX. Concórdia situa-se na região do Oeste Catarinense, sendo a segunda maior cidade desta região do estado, após Chapecó. Fica a aproximadamente 450 km da capital Florianópolis.
História
A colonização de Concórdia, como a do Meio Oeste e Oeste de Santa Catarina, passou a ser intensificada após a Guerra do Contestado, especialmente nos anos de 1920 e 1930. Nesta época os governos estadual e federal estimularam a venda de pequenas propriedades rurais aos colonos gaúchos. Até então, a região era habitada somente por caboclos.
Ao contrário do que algumas pessoas divulgam, a denominação "Concórdia" não se deve a nenhum acordo de paz para o fim da Guerra do Contestado, que aconteceu no início do século passado na região Meio Oeste de Santa Catarina. Isso pelo simples fato de que não houve qualquer acordo de paz, já que os caboclos foram dizimados pelo Exército Brasileiro e pelas forças policiais do Paraná e Santa Catarina. Ao que tudo indica, o nome Concórdia surgiu em função da necessidade de se estabelecer uma nova denominação para a vila, até então chamada de Queimados, em razão do riacho que corta seu centro. "Queimados" este sim seria um nome pouco charmoso para a cidade, enquanto Concórdia soa melhor e é mais simpático. O nome Concórdia pode estar associado sim ao espírito de pacificação que existia, sem, entretanto, que se fizesse qualquer coisa para a integração social dos caboclos que viviam na região.
Devido ao grande crescimento da cidade, diversas etnias podem ser encontradas em Concórdia, mas sua população mantém as características originais, sendo predominantemente descendente de italianos, alemães e por alguns poloneses.
Geografia
O município de Concórdia é banhado por vários rios da bacia hidrográfica do rio Uruguai. Além do próprio Uruguai, destacam-se o Jacutinga, Rancho Grande e o Queimados que passa pelo centro da cidade, além de inúmeros outros riachos que se destacam por suas belezas. Localizado na divisa com os municípios de Irani, Lindoia do Sul, Ipumirim, Arabutã e Itá, o rio Jacutinga recebe água de uma série de afluentes, com sérios riscos de contaminação com dejetos suínos. A preocupação é maior porque é dele que Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) capta cerca de 80% da água que é distribuída no município.
A construção da Usina Hidrelétrica de Itá fez com que o curso do rio Uruguai em toda a extensão que banha o município de Concórdia, na divisa com o Rio Grande do Sul, se transformasse numa grande represa. O mesmo ocorreu com a parte final dos cursos de seus afluentes (incluindo Rancho Grande, Queimados e Jacutinga e o Lajeado Fragosos). Este lago possui mais de 80 km de extensão, com uma profundidade de mais de 70 metros e uma largura média superior a 500 metros.
A bandeira do município é composta por três listras verticais vermelhas (as laterais) e verde (a central). No centro da bandeira há um losango branco, com o brasão do município.
Economia
A economia de Concórdia se concentra na agroindústria e na agropecuária, principalmente com a criação de suínos e aves e plantações de milho e soja em minifúndios, além de ter um comércio bem desenvolvido e que atende também os municípios vizinhos. A região de Concórdia é berço de algumas das maiores empresas frigoríficas do país. A Sadia S.A. surgiu e tem sua matriz em Concórdia. No início denominada Sociedade Anônima Concórdia, o nome Sadia surgiu da junção do "S" de Sociedade, "A" de Anônima e "DIA" de Concórdia. Em 2009, a Sadia foi incorporada pela Perdigão S.A., quando fundiram-se e passaram a ser uma única empresa, a Brasil Foods S.A., atual BRF.
Cultura
Aniversário e festas
O aniversário do município é comemorado em 29 de julho, tendo em vista a emancipação político-administrativa do município ter ocorrido nesta data, em 1934. As comemorações em geral envolvem uma grande exposição de animais, indústria e comércio, shows, e um festival gastronômico baseado em carne suína. Como parte da festa do município, são oferecidos à população um bolo e uma mortadela com o comprimento, em metros, igual a idade que a cidade comemora.
Outras grandes festas que acontecem no município, são: Festa Nacional do Leitão Assado (FENAL), que acontece em julho; Expo Concórdia, que acontece de dois em dois anos em novembro; Concórdia Kerb Fest, que é uma festa estilo alemã, com muita música e comida, realizado em novembro.
Festa do Vizinho
É realizada todos os anos, tendo iniciado em 1997 com algumas ruas. Hoje, mais de 500 ruas participam da festa, reunindo mais de 30 mil pessoas. Nesta festa, vizinhos se reúnem e confraternizam durante um almoço, geralmente churrasco, na própria rua, que é totalmente decorada. A festa inicia-se logo de manhã e vai até o anoitecer, e normalmente são realizadas gincanas, brincadeiras e jogos. Geralmente a festa é apoiada pelas emissoras de rádio da cidade, que transmitem informações a respeito da organização da festa e distribuem brindes.
Ensino superior
O ensino superior é outro segmento que cresceu muito nos últimos anos em Concórdia. Hoje são pelo menos 10 instituições que oferecem cursos superiores no município:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - IFC (antigo IFET e Escola Agrotécnica)
Universidade do Contestado - UnC
Faculdade Concórdia - FACC
Fundação Adolfo Bósio de Educação no Transporte - FABET - Faculdade de Tecnologia Pedro Rogério Garcia - FATTEP
SENAC
SENAI
TERRA Cursos e Faculdade UNINTER
UNOPAR - CEMAP I
Cidadãos ilustres
Leonardo Boff, teólogo brasileiro, um dos expoentes da Teologia da Libertação.
Attilio Francisco Xavier Fontana, empresário, senador da República e fundador da Sadia
Luiz Fernando Furlan, empresário, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-presidente da Sadia.
Darlan Romani, Atleta olímpico e medalhista pan-americano.
Ver também
Lista de municípios de Santa Catarina por data de criação
Lista de municípios de Santa Catarina por população
Ligações externas
Página da prefeitura
Página da câmara
Concórdia no WikiMapia
Fundações em Santa Catarina em 1934 |
(nome científico: Raphus cucullatus) é uma espécie extinta de ave da família dos pombos que era endêmica de Maurício, uma ilha no Oceano Índico a leste de Madagascar. Era incapaz de voar e não tinha medo de seres humanos, pois evoluiu isolado e sem predadores naturais na ilha que habitava. Foi descoberto em 1598 por navegadores holandeses, e totalmente exterminado menos de cem anos mais tarde. A ave era caçada para servir de alimento para os marinheiros, e depois sofreu com o desmatamento e introdução de animais exóticos. Essa trágica história tornou o dodô um verdadeiro ícone da extinção. É considerado o mais famoso animal extinto em tempos históricos, com notável presença na cultura popular.
O dodô tinha cerca de um metro de altura e podia pesar mais de 20 kg na natureza. Sua aparência externa é conhecida apenas por pinturas e textos escritos no século XVII, e, por conta da escassez dessas descrições, ainda é um mistério; assim como pouco se sabe sobre seu habitat e comportamento. Foi descrito com plumagem cinza-acastanhada, patas amarelas, um tufo de penas na cauda, cabeça cinza sem penas, e o bico preto, amarelo e verde. A moela ajudava a ave a digerir os alimentos, incluindo frutas, e acredita-se que o principal habitat tenha sido as florestas costeiras nas áreas mais secas da ilha. Presume-se que o dodô tenha deixado de voar devido à facilidade de se obter alimento e a relativa inexistência de predadores em Maurício.
As primeiras menções conhecidas de dodôs foram feitas por marinheiros holandeses em 1598. Nos anos seguintes, a ave foi predada pelas tripulações famintas e seus animais domésticos, além de sofrer com a competição com espécies invasoras introduzidas. Estima-se que apenas onze dodôs levados de Maurício chegaram vivos aos seus destinos na Europa e no Oriente. A última ocasião aceita em que a ave foi vista data de 1662. A extinção não foi imediatamente noticiada e houve quem o considerasse uma criatura mítica. Por muito tempo, os únicos restos de dodô conhecidos foram de quatro exemplares incompletos do século XVII, até que a partir de 1860 uma grande quantidade de ossos fósseis começou a ser descoberta em Maurício, a maioria do pântano Mare aux Songes. A extinção do dodô em apenas cerca de um século após seu descobrimento chamou a atenção para um problema previamente desconhecido da humanidade: o desaparecimento por completo de diversas espécies.
A ave geneticamente mais próxima do dodô foi o também extinto solitário-de-rodrigues; juntos, eles compõem a subfamília Raphinae, dentro da família Columbidae, que engloba todos os pombos. Seu "primo" vivo mais próximo é o pombo-de-nicobar. Durante algum tempo, pensou-se erroneamente que existisse um dodô branco na vizinha ilha de Reunião, sabe-se hoje que essa ave na verdade é o íbis-terrestre-de-reunião. O dodô ficou amplamente conhecido por ser um dos personagens de Alice no País das Maravilhas. Aparece em animações, séries de TV e filmes, e na cultura popular é frequentemente usado como símbolo de extinção e obsolescência. O dodô virou mascote de Maurício, e sua imagem já estampou moedas locais.
Taxonomia
As primeiras descrições de cientistas retratavam o dodô de diversas maneiras: um pequeno avestruz, um frango-d'água, um tipo de albatroz e até mesmo uma espécie de abutre. Em 1842, o zoólogo dinamarquês Johannes Reinhardt propôs que os dodôs eram pombos terrestres, baseado no estudo de um crânio de dodô descoberto por ele mesmo na coleção real dinamarquesa em Copenhague. Esta ideia foi considerada ridícula a princípio, mas posteriormente recebeu apoio de Hugh Strickland e Alexander Melville na monografia deles publicada em 1848 — The Dodo and Its Kindred — na qual tentaram separar o que era mito e o que era realidade sobre a ave. Após dissecarem a cabeça e um pé preservados do espécime do Museu da Universidade de Oxford, e comparar com vestígios do também extinto solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), descobriram grandes semelhanças entre essas espécies. Strickland constatou que não eram idênticas, mas compartilhavam muitas características peculiares nos ossos das pernas, então conhecidas apenas em pombos.
A anatomia do dodô era parecida com a dos pombos em muitos aspectos. Strickland e Melville observaram que apenas uma pequena parte na extremidade do longo bico da ave é queratinizada, sendo a porção basal maior, delgada e pouco protegida. Pombos têm pele sem penas na região ao redor dos olhos e próxima ao bico, assim como os dodôs. A fronte era alta em relação ao bico, e a narina tinha uma localização baixa no meio do bico, sendo circundada por pele, uma combinação de características compartilhada somente com pombos. As pernas do dodô eram de um modo geral mais parecidas com as dos pombos terrestres do que com as de outras aves, tanto em relação às escamas como ao esqueleto. Representações de grandes papos sugerem parentesco com pombos, nos quais esses órgãos são bem desenvolvidos. A maioria dos pombos possuem ninhadas muito pequenas, e acredita-se que as fêmeas de dodô punham um único ovo por vez. Assim como os pombos, o dodô não tinha o osso vômer nem o septo das narinas, e compartilhava detalhes na mandíbula, no osso zigomático, no palato e no hálux. O dodô diferia de pombos principalmente pelo pequeno tamanho da asa e o grande bico em proporção ao resto do crânio.
Ao longo do século XIX, várias espécies foram classificadas como congêneres do dodô, incluindo o solitário-de-rodrigues e o íbis-terrestre-de-reunião, batizados respectivamente como Didus solitarius e Raphus solitarius (Didus e Raphus foram nomes de gêneros propostos para o dodô e eram usados por diferentes autores da época). Uma atípica descrição do século XVII sobre um dodô e um esqueleto encontrado na ilha Rodrigues, que atualmente se sabe que pertence a um solitário-de-rodrigues, levou Abraham Dee Bartlett a nomear uma nova espécie, Didus nazarenus, em 1852. Como foi baseado em vestígios de solitários, o termo é atualmente um sinônimo para esta espécie. Desenhos simples de outra ave endêmica, a galinhola-vermelha-de-maurício, também foram erroneamente interpretados como espécies de dodôs: Didus broeckii e Didus herberti.
Etimologia
Um dos primeiros nomes que o dodô recebeu foi Walghvogel, em holandês. Este termo foi usado pela primeira vez no diário de bordo do vice-almirante Wybrand van Warwijck, que visitou Maurício durante a Segunda Expedição Holandesa à Indonésia em 1598. Walghe quer dizer "sem gosto", "insípido" ou "desagradável", e vogel significa "pássaro". O nome foi traduzido para o idioma alemão como Walchstök ou Walchvögel, por Jakob Friedlib. O relatório holandês original, intitulado Waarachtige Beschryving, foi perdido; mas sua tradução para o inglês sobreviveu:
"À esquerda deles havia uma pequena ilha a qual deram o nome de ilha Hemskerk, e a uma baía nela chamaram baía Warwick (...). Ali permaneceram por 12 dias para descansar, encontrando neste lugar grande quantidade de aves duas vezes maiores que cisnes, as quais chamaram de Walghstocks ou Wallowbirdes, sendo muito boa sua carne. Mas quando encontraram pombos e papagaios em abundância, desdenharam de comer mais dessas grandes aves, chamando-as Wallowbirds, que quer dizer pássaro enjoativo ou repugnante.
Dos referidos pombos e papagaios, os encontraram em abundância, tendo a carne muito gordurosa e saborosa; esses pássaros podem ser facilmente capturados e mortos com pequenas varas: eles são tão mansos assim porque a ilha não é habitada, também porque nenhuma criatura que vive ali é acostumada a avistar homens."Tradução livre de: "On their left hand was a little island which they named Heemskirk Island, and the bay it selve they called Warwick Bay ... Here they taried 12. daies to refresh themselues, finding in this place great quantity of foules twice as bigge as swans, which they call Walghstocks or Wallowbirdes being very good meat. But finding an abundance of pigeons & popinnayes [parrots], they disdained any more to eat those great foules calling them Wallowbirds, that is to say lothsome or fulsome birdes. Of the said Pidgeons and Popiniayes they found great plenty being very fat and good meate, which they could easily take and kil euen with little stickes: so tame they are by reason ý the Isle is not inhabited, neither be the liuing creatures therein accustomed to the sight of men.".
Outro relato daquela viagem, talvez o primeiro a mencionar o dodô, afirma que os portugueses se referiam àquelas aves como pinguins, mas o termo pode não ter se originado de pinguim (pois o idioma português da época tratava tal ave como "sotilicário"), e sim de pinion, uma alusão às pequenas asas. A tripulação do navio holandês Gelderland chamou a ave de "dronte" (que significa "inchado") em 1602, palavra até hoje usada em algumas línguas. Esta tripulação também se referia aos dodôs como "griff-eendt" e "kermisgans", em referência às aves domésticas engordadas para um tradicional festival (quermesse) em Amsterdã, realizado no dia seguinte ao ancoramento deles na ilha Maurício.
A origem da palavra dodô não está clara. Alguns a atribuem a dodoor, que em holandês quer dizer "preguiçoso", porém é mais provável que venha de Dodaars, que pode significar "traseiro gordo" ou "nó no traseiro", referindo-se ao "nó" de penas na parte de trás do animal. O primeiro registro da palavra Dodaars está no diário do capitão Willem Van West-Zanen de 1602. O historiador inglês Thomas Herbert foi o primeiro a usar a palavra dodô na imprensa, em 1634, no seu livro de viagens, alegando que foi referido como tal pelos portugueses, que tinham visitado Maurício em 1507. Outro inglês, Emmanuel Altham, usou a palavra numa carta de 1628, na qual ele também alegou a origem na língua portuguesa. O nome dodar foi introduzido em inglês, ao mesmo tempo que dodô, mas só foi utilizado até o século XVIII. Pelo que se sabe atualmente, os portugueses nunca mencionaram a ave. No entanto, algumas fontes ainda afirmam que a palavra dodô deriva da palavra "doudo" em português antigo (atualmente "doido"). Também tem sido sugerido que "dodô" é uma aproximação onomatopoeica do canto da ave, um som de duas notas parecido com o emitido por um pombo, e que se assemelharia a "doo-doo".
O termo em latim cucullatus ("bordado") foi utilizado pela primeira vez por Juan Eusebio Nieremberg em 1635 como Cygnus cucullatus, em referência a uma representação de dodô feita por Carolus Clusius em 1605. Em sua obra clássica do século XVIII, "Systema Naturae", Carlos Lineu usou o nome específico cucullatus, mas combinou com o nome do gênero Struthio (avestruz). Mathurin Jacques Brisson cunhou o nome do gênero Raphus (referindo-se às abetardas) em 1760, resultando no nome atual: Raphus cucullatus. Em 1766, Lineu criou um novo nome binominal: Didus ineptus (que significa "dodô inepto"), mas posteriormente este termo veio a ser sinônimo do nome anterior em razão da prioridade nomenclatural.
Evolução
Durante muitos anos o dodô e o solitário-de-rodrigues foram catalogados numa família só deles, a Raphidae (antes denominada Dididae), já que o parentesco com outros pombos não estava suficientemente esclarecido. Depois, cada um foi classificado em sua própria família monotípica (Raphidae e Pezophapidae, respectivamente), pois acreditava-se que haviam desenvolvido suas características similares de forma independente. Informações osteológicas e moleculares levaram à dissolução da família Raphidae, e tanto o dodô como o solitário-de-rodrigues estão hoje alocados numa única subfamília, Raphinae, dentro da família Columbidae, que engloba todos os pombos modernos.
A comparação do citocromo b mitocondrial e das sequências 12S de RNA ribossomal, isolados de um tarso de dodô e de um fêmur de solitário-de-rodrigues, confirmou o parentesco próximo entre essas duas aves, bem como sua classificação dentro da família Columbidae. A interpretação dessas evidências genéticas mostrou que o "primo" vivo mais próximo do dodô é o pombo-de-nicobar, que habita o sudeste asiático, seguido pelas gouras da Nova Guiné e pelo Didunculus strigirostris de Samoa. O nome do gênero deste último, Didunculus, significa "pequeno dodô" em latim; a ave foi chamado pelo famoso naturalista Richard Owen de "dodlet". O cladograma a seguir, formulado por Beth Shapiro e colaboradores em 2002, mostra as relações do dodô com outros pombos dentro da família Columbidae.
Um cladograma similar, publicado em 2007, inverte os lugares da goura e do Didunculus, além de incluir o Otidiphaps nobilis e o Trugon terrestris na base do clado. Após estudar evidências comportamentais e morfológicas, Jolyon C. Parish propôs que o dodô e o solitário-de-rodrigues devem ser alocados na subfamília Gourinae junto com as pombas gouras e outras espécies, em acordo com os dados genéticos. Em 2014, a análise do DNA do único exemplar que restou do Caloenas maculata mostrou que ele é um parente próximo do pombo-de-nicobar, e, sendo assim, também é "primo" do dodô e do solitário-de-rodrigues.
Um estudo de 2002 indicou que os ancestrais do dodô e do solitário divergiram em torno do limite Paleogeno-Neogeno. As ilhas Mascarenhas (Maurício, Reunião e Rodrigues) são de origem vulcânica e têm menos de 10 milhões de anos de idade. Portanto, os antepassados de ambas as aves provavelmente permaneceram capazes de voar por um tempo considerável após a separação de suas linhagens. Os ancestrais dos Raphinae podem ter se espalhado a partir do sudeste asiático por salto de dispersão entre ilhas. A falta de mamíferos herbívoros competindo pelos recursos dessas ilhas permitiu que o solitário e o dodô perdessem a capacidade de voar e aumentassem muito de tamanho, fenômeno chamado de gigantismo insular. Outro pombo grande e incapaz de voar, o Natunaornis gigoura, foi descrito em 2001 a partir de material fóssil coletado em Fiji. Ele era apenas um pouco menor do que o dodô e o solitário-de-rodrigues, e também acredita-se que pode ter parentesco com os pombos coroados do gênero Goura.
Descrição
Como não restou nenhum exemplar completo de dodô, é difícil determinar com exatidão como era sua aparência externa, incluindo sua cor e plumagem. Ilustrações e relatos escritos de encontros com dodôs no período entre sua descoberta e extinção (1598 a 1662) são as evidências mais confiáveis sobre a aparência da ave. De acordo com a maioria das representações, o dodô tinha uma plumagem acinzentada ou acastanhada, com penas primárias mais claras e um tufo de penas leves encaracoladas na extremidade do traseiro. A cabeça era cinza e nua, o bico verde, preto e amarelo, e as pernas eram robustas e amareladas, com garras pretas. A ave apresentava dimorfismo sexual: machos eram maiores e possuíam bicos proporcionalmente mais longos. O bico media até 23 centímetros de comprimento e tinha uma parte em forma de gancho.
Fósseis achados em Maurício e restos dos dôdos levados para a Europa no século XVII mostram que eram animais muito grandes, tinham um metro de altura e, possivelmente, pesavam até 23 kg. Os maiores pesos foram atribuídos às aves em cativeiro; estima-se que na natureza pesavam na faixa 10,6 a 21,1 kg. Uma estimativa posterior apontou um peso médio mais baixo, de apenas 10,2 kg. Este dado tem sido questionado e ainda há controvérsias. Especialistas acreditam ainda que o peso do dodô variava conforme a estação do ano: eles seriam gordos durante as estações frias, mas nem tanto durante as quentes. Um estudo das poucas penas remanescentes na cabeça do exemplar de Oxford mostrou que elas eram penáceas em vez de plumáceas, e muito semelhantes as de outros pombos.
Muitas das características do esqueleto que distinguem o dodô e o solitário-de-rodrigues, seu parente mais próximo, de outros pombos têm sido atribuídas a sua incapacidade de voar. Os elementos pélvicos eram mais densos do que os dos pombos voadores; assim, o dodô e solitário-de-rodrigues podiam suportar um peso corporal maior. Além disso, a região peitoral e as pequenas asas eram pedomórficas, ou seja, durante a evolução, foram retidas na idade adulta algumas características típicas do período juvenil. O crânio, tronco e membros pélvicos eram peramórficos, o que significa que eles mudavam consideravelmente com a idade. O dodô compartilhava vários outros traços com o solitário-de-rodrigues, como características do crânio, pelve e esterno, bem como um porte grande. É diferente em outros aspectos, sendo mais robusto e mais curto do que o solitário-de-rodrigues, tendo crânio e bico maiores, a porção superior do crânio arredondada e órbitas menores. O pescoço e as pernas do dodô eram proporcionalmente mais curtos, e a ave de Maurício não dispunha de um equivalente à calosidade presente nos punhos do solitário-de-rodrigues.
Descrições contemporâneas
A maioria das descrições contemporâneas do dodô são encontradas em diários de bordo e documentos de navios da Companhia Holandesa das Índias Orientais que atracaram em Maurício no século XVII, na época governada pelo Império Holandês. Esses registros foram utilizados como guias para as viagens seguintes. Poucos relatos sobre o dodô são confiáveis: boa parte parece basear-se em descrições prévias, e nenhum deles foi escrito por cientistas.
Um dos primeiros registros sobre a fauna de Maurício, do diário de van Warwijck de 1598, descreve o dodô da seguinte maneira:
Papagaios azuis são muito numerosos por lá, bem como outras aves; entre as quais há uma espécie, conspícua pelo seu tamanho, maior do que os nossos cisnes, com enormes cabeças cobertas apenas a metade com pele, como se vestida com um capuz. Estas aves não possuem asas, no lugar das quais 3 ou 4 penas enegrecidas se sobressaem. A cauda consiste de algumas penas moles e encurvadas, que são de cor cinza. Costumávamos chama-las de 'Walghvogel', porque quanto mais cozinhávamos, menos macia e mais insípida a carne delas ficava. Não obstante, sua barriga e peito eram de um sabor agradável e facilmente mastigáveis.Tradução livre de: "Blue parrots are very numerous there, as well as other birds; among which are a kind, conspicuous for their size, larger than our swans, with huge heads only half covered with skin as if clothed with a hood. These birds lack wings, in the place of which 3 or 4 blackish feathers protrude. The tail consists of a few soft incurved feathers, which are ash coloured. These we used to call 'Walghvogel', for the reason that the longer and oftener they were cooked, the less soft and more insipid eating they became. Nevertheless their belly and breast were of a pleasant flavour and easily masticated.".
Uma das descrições mais detalhadas foi feita pelo historiador inglês Thomas Herbert na obra A Relation of Some Yeares Travaille into Afrique and the Greater Asia, datada de 1634:
Apenas aqui e em Dygarrois [ilha Rodrigues, provavelmente referindo-se ao solitário] nasce o dodô, que por forma e raridade pode antagonizar a fênix da Arábia: seu corpo é redondo e gordo, poucos pesam menos de 50 libras. Serve mais para admirar do que como comida, estômagos fortes podem aceitá-lo, mas para os delicados são ofensivos e sem serventia como alimento. Sua fisionomia revela melancolia, como se consciente do insulto da natureza em conceber um corpo tão grande para ser guiado com asas tão pequenas e impotentes, que servem apenas para provar que é uma ave. A metade de sua cabeça é nua, parecendo estar coberta com um fino véu, seu bico é encurvado para baixo, no meio dele fica a narina, daí até a extremidade é verde-claro, misturado com uma coloração amarela-pálida; seus olhos são pequenos e lembram diamantes redondos; suas plumas macias, sua cauda tem três pequenas plumas, curtas e desproporcionais, suas pernas se adaptaram ao corpo, suas garras afiadas, seu apetite forte e voraz. Pedras e ferro são digeridos, cuja descrição será mais bem exprimida em sua representação.Tradução livre de: "First here only and in Dygarrois [Rodrigues, likely referring to the solitaire] is generated the Dodo, which for shape and rareness may antagonize the Phoenix of Arabia: her body is round and fat, few weigh less than fifty pound. It is reputed more for wonder than for food, greasie stomackes may seeke after them, but to the delicate they are offensive and of no nourishment. Her visage darts forth melancholy, as sensible of Nature's injurie in framing so great a body to be guided with complementall wings, so small and impotent, that they serve only to prove her bird. The halfe of her head is naked seeming couered with a fine vaile, her bill is crooked downwards, in midst is the trill [nostril], from which part to the end tis a light green, mixed with pale yellow tincture; her eyes are small and like to Diamonds, round and rowling; her clothing downy feathers, her train three small plumes, short and inproportionable, her legs suiting her body, her pounces sharpe, her appetite strong and greedy. Stones and iron are digested, which description will better be conceived in her representation.".
Representações contemporâneas
O diário de bordo do navio holandês Gelderland (1601-1603), redescoberto na década de 1860, contém os únicos esboços conhecidos de dodôs, vivos ou recém-mortos, desenhados em Maurício. A autoria foi atribuída ao artista profissional Joris Joostensz Laerle, que também desenhou outras aves já extintas da ilha, e a um segundo artista menos refinado. Além destes desenhos, não se sabe quantas ilustrações de dôdos foram feitas usando como modelo animais vivos ou empalhados, o que afeta sua confiabilidade. Como os dodôs são conhecidos apenas por alguns poucos restos físicos e descrições, as obras de arte contemporâneas são importantes para reconstruir sua aparência em vida. Embora tenha havido um esforço desde meados do século XIX para listar todas as ilustrações históricas da espécie, representações antes desconhecidas continuam sendo descobertas ocasionalmente.
Todas as representações feitas após o ano de 1638 parecem ser baseadas em imagens anteriores, na medida em que menções ao dodô em relatos de viagem tornavam-se cada vez mais raros. As diferenças nas ilustrações levaram autores como Anthonie Cornelis Oudemans e Masauji Hachisuka a especular sobre dimorfismo sexual, traços ontogênicos, variação sazonal, e até mesmo a existência de espécies diferentes de dodôs, mas essas hipóteses não são aceitas atualmente. Certos detalhes, como as marcas do bico, a forma das penas da cauda e a cor do animal, variam de relato para relato, o que torna impossível determinar a morfologia exata dessas características, se elas sinalizam idade ou sexo, ou mesmo se refletem a realidade. O especialista em dodôs Julian Hume acredita que as narinas do dodô vivo tinham o formato de fenda, como visto nos desenhos do Gelderland, de Cornelis Saftleven, da Galeria de Arte Crocker e do indiano Ustad Mansur. De acordo com esse raciocínio, as narinas abertas, frequentemente vistas em pinturas, indicam que espécimes empalhados foram utilizados como modelos.
A imagem tradicional do dodô é de uma ave muito gorda e desajeitada, mas esta perspectiva pode ser exagerada. A opinião geral dos cientistas hoje é a de que muitas representações europeias antigas foram baseadas em aves cativas superalimentadas, ou em espécimes empalhados grosseiramente. Também foi sugerido que as imagens podem mostrar dodôs com penas bufantes, como parte do comportamento de exibição. O pintor holandês Roelant Savery foi o ilustrador mais influente e prolífico do dodô. Ele fez pelo menos dez representações, muitas vezes mostrando a ave no canto inferior das telas. Uma famosa pintura sua, datada de 1626, agora chamada Edward's Dodo por ter pertencido ao ornitólogo George Edwards, tornou-se a imagem padrão do animal. A pintura, atualmente guardada no Museu de História Natural de Londres, mostra uma ave particularmente gorda e serviu como inspiração para muitas outras ilustrações de dodôs.
Uma pintura mogol redescoberta em São Petersburgo na década de 1950 mostra um dodô junto a aves indianas. A gravura retrata uma ave acastanhada e mais esbelta que a dos desenhos europeus. Tanto seu descobridor, A. Iwanow, como o especialista em dodôs Julian Hume, a consideram como uma das representações mais precisas de um dodô vivo; as aves ao redor são claramente identificáveis e representados com uma coloração adequada. Acredita-se ser do século XVII e a autoria foi atribuída ao artista Ustad Mansur. O exemplar retratado provavelmente viveu no zoológico do imperador mogol Jahangir, localizado em Surat, onde o viajante inglês Peter Mundy também afirmou ter visto dodôs. Em 2014, uma outra ilustração indiana de um dodô foi encontrada, mas descobriu-se que foi derivada de uma ilustração alemã de 1836.
Comportamento e ecologia
Pouco se sabe sobre o comportamento do dodô, pois a maioria das descrições da época são muito breves. Com base em estimativas de peso, acredita-se que o macho pudesse chegar a 21 anos de idade, e as fêmeas 17. Estudos de cantiléver da força de seus ossos da perna indicam que ele poderia correr muito rápido. Ao contrário do solitário-de-rodrigues, não há nenhuma evidência de que o dodô usasse suas asas em combate com outros indivíduos da mesma espécie. Embora alguns ossos tenham sido encontrados com fraturas curadas, tinha músculos peitorais fracos e asas mais reduzidas em comparação com o solitário-de-rodrigues. O dodô pode sim ter usado seu grande bico encurvado em disputas territoriais. Uma vez que Maurício recebe mais chuva e tem menor variação sazonal do que Rodrigues, o que afeta a disponibilidade de recursos nesta ilha, os dodôs teriam menos motivos para evoluir para um comportamento territorial agressivo. O solitário-de-rodrigues foi, portanto, provavelmente o mais agressivo dos dois.
O habitat preferido do dodô é desconhecido, mas as descrições antigas sugerem que habitavam as florestas sobre as áreas costeiras mais secas do sul e oeste da ilha. Esta opinião é corroborada pelo fato de que o pântano Mare aux Songes fica perto do mar no sudeste de Maurício. Tal distribuição limitada na ilha poderia muito bem ter contribuído para a sua extinção. O mapa de 1601 do diário de bordo do navio Gelderland mostra uma pequena ilha ao longo da costa de Maurício, onde dodôs foram capturados. Julian Hume sugeriu esta ilha era a ilha Benitiers, na baía Tamarin, costa oeste de Maurício. Ossos fósseis também foram encontrados dentro de cavernas em regiões mais altas, indicando que o animal poderia habitar as montanhas. O trabalho no pântano Mare aux Songes mostrou que seu habitat era dominada por árvores tambalacoques e do gênero Pandanus, além de palmeiras endêmicas.
Muitas espécies endêmicas de Maurício foram extintas após a chegada dos seres humanos, de modo que o ecossistema da ilha está atualmente muito danificado e difícil de ser reconstruído. Antes da chegada dos colonos, Maurício era inteiramente coberta por florestas, da qual muito pouco resta hoje devido ao desmatamento. A fauna endêmica sobrevivente ainda está seriamente ameaçada. O dodô viveu ao lado de outras aves da ilha Maurício recém-extintas, como a galinhola-vermelha-de-maurício, papagaio-de-bico-largo, papagaio-cinzento-de-maurício, pombo-azul-de-maurício, coruja-de-maurício, Fulica newtonii (uma carqueja), Alopochen mauritiana (um ganso), Anas theodori (um pato), e Nycticorax mauritianus (um socó). Répteis extintos de Maurício incluem as duas espécies de tartarugas-gigantes endêmicas (Cylindraspis inepta e C. triserrata), o lagarto Leiolopisma mauritiana, e a jiboia-da-ilha-round. A Pteropus subniger e o caracol Tropidophora carinata viveram na ilha Maurício e ilha da Reunião, mas desapareceram de ambas as ilhas. Algumas plantas, como a Casearia tinifolia e a Angraecum palmiforme, também se tornaram extintas.
Dieta
Um documento holandês de 1631, redescoberto em 1887 mas agora perdido, é o único relato sobre a dieta do dodô. Ele também menciona que a ave usava seu bico para se defender:
Esses maiores são soberbos e orgulhosos. Mostram-se para nós com caras duras e severas, e bocas escancaradas. De marcha desenvolta e audaz, eles dificilmente movem um pé diante de nós. Sua arma de guerra era a boca, com a qual podem bicar ferozmente; sua alimentação era de frutos; eles não eram muito bem emplumados, mas abundantemente cobertos com gordura. Muitos deles foram trazidos a bordo, para o deleite de todos nós.Tradução livre de: "These mayors are superb and proud. They displayed themselves to us with stiff and stern faces, and wide-open mouths. Jaunty and audacious of gait, they would scarcely move a foot before us. Their war weapon was their mouth, with which they could bite fiercely; their food was fruit; they were not well feathered but abundantly covered with fat. Many of them were brought onboard to the delight of us all.".
Além de frutos caídos, o dodô provavelmente subsistiu com nozes, sementes, bulbos e raízes. Também foi sugerido que o dodô pudesse comer caranguejos e mariscos, como seus parentes pombos coroados. Seus hábitos alimentares devem ter sido versáteis, uma vez que provavelmente foram dadas a espécimes cativos uma grande variedade de comida nas longas viagens pelo mar. Anthonie Oudemans sugeriu que como Maurício tem estações seca e chuvosa bem definidas, o dodô provavelmente engordava comendo frutos maduros no fim da estação chuvosa para sobreviver à estação seca, quando a comida era escassa; relatos contemporâneos descrevem o apetite "ganancioso" da ave. France Staub sugeriu que eles eram alimentados principalmente com frutos de palmeiras, e ele tentou correlacionar o ciclo de engorda do dodô com o regime de frutificação desses vegetais.
Várias fontes da época afirmam que o dodô usava pedras na moela para auxiliar na digestão. O escritor Inglês Sir Hamon L'Estrange testemunhou um exemplar ao vivo em Londres e descreveu-o da seguinte maneira:
Em 1638, enquanto eu caminhava pelas ruas de Londres, vi uma imagem de um pássaro de aparência estranha pendurada numa cobertura e eu, em companhia de mais um ou dois, entrei para vê-lo. Era mantido numa câmara, e era uma ave grande, um pouco maior que um peru macho, com pernas e pés parecidos, porém mais grossos e robustos e de forma mais ereta, colorido na parte da frente como o peito de um faisão macho jovem, e na traseira com uma tonalidade amarelo-acinzentada. O tratador o chamava de dodô, e na câmara havia um recipiente com pedras de seixos, as quais deu várias à ave na nossa frente, algumas tão grande como uma noz, e o tratador nos contou que a ave as comia (para ajudar na digestão), e embora eu não lembre se o tratador foi questionado sobre mais detalhes, estou seguro de que depois ela botava tudo pra fora novamente.Tradução livre de: "About 1638, as I walked London streets, I saw the picture of a strange looking fowle hung out upon a clothe and myselfe with one or two more in company went in to see it. It was kept in a chamber, and was a great fowle somewhat bigger than the largest Turkey cock, and so legged and footed, but stouter and thicker and of more erect shape, coloured before like the breast of a young cock fesan, and on the back of a dunn or dearc colour. The keeper called it a Dodo, and in the ende of a chymney in the chamber there lay a heape of large pebble stones, whereof hee gave it many in our sight, some as big as nutmegs, and the keeper told us that she eats them (conducing to digestion), and though I remember not how far the keeper was questioned therein, yet I am confident that afterwards she cast them all again".
Não se sabe como os filhotes eram alimentados, mas os pombos, "primos" dos dodôs, fornecem leite de papo a suas crias. Representações da época mostram a ave com um grande papo, que provavelmente era usado tanto para armazenar o alimento ingerido como para a produção do leite de papo. Especialistas acreditam que o tamanho máximo que os dodôs e solitários-de-rodrigues atingiam era limitado pela quantidade de leite de papo que pudessem produzir para os filhotes durante seu crescimento inicial.
Em 1973, cientistas propuseram que o tambalacoque, também conhecido como árvore-dodô, estava desaparecendo de Maurício, ilha na qual é endêmico. Havia supostamente apenas 13 exemplares restantes, todos com idade estimada em cerca de 300 anos. Stanley Temple formulou a hipótese de que a árvore dependia do dodô para sua propagação, e que suas sementes somente germinavam depois de passar pelo aparelho digestivo da ave. Ele alegou que o tambalacoque estava praticamente co-extinto por causa do desaparecimento do dodô. Porém, Temple não viu relatos da década de 1940 que diziam que sementes da árvore germinaram, embora muito raramente, sem serem submetidas à digestão. Outros contestaram sua hipótese e sugeriram que o declínio da árvore foi exagerado, ou que as sementes também eram disseminadas por outros animais extintos, como as tartarugas Cylindraspis, morcegos-da-fruta ou o papagaio-de-bico-largo. De acordo com Wendy Strahm e Anthony Cheke, dois especialistas na ecologia das ilhas Mascarenhas, a árvore, apesar de rara, germinou desde o desaparecimento do dodô em números de várias centenas, e não 13, como reivindicado por Temple, portanto, desacreditam da visão dele quando afirma que o dodô era um único responsável pela sobrevivência da árvore.
O ornitólogo brasileiro Carlos Yamashita sugeriu em 1997 que o papagaio-de-bico-largo pode ter dependido de dodôs e de tartarugas Cylindraspis para comer frutos de palmeiras e excretar as suas sementes, para então virar alimento para os papagaios. Araras do gênero Anodorhynchus necessitavam da mesma forma da agora extinta megafauna sul-americana, mas agora dependem de gado domesticado para este serviço.
Reprodução
Como era uma ave terrestre e incapaz de voar, e por não haver mamíferos predadores nem outros tipos de inimigos naturais em Maurício, o dodô provavelmente construía seus ninhos sobre o solo. O relato de François Cauche, em 1651, é a única descrição do ovo e do som emitido pelo animal:
Tenho visto em Maurício aves maiores que um cisne, sem penas no corpo, o qual é coberto por uma penugem preta; a parte posterior é redonda, o traseiro adornado com penas encaracoladas em quantidade proporcional à idade do pássaro. No lugar das asas eles têm penas como estas últimas, pretas e curvas, sem tramas. Eles não têm línguas, o bico é grande, curvando-se um pouco para baixo; suas pernas são longas, escamosas, com apenas três dedos em cada pé. Tem um grito parecido com o de um ganso, e em hipótese alguma são tão saborosos para comer como os flamingos e patos dos quais falamos há pouco. Eles põe apenas um ovo, que é branco e do tamanho de um rolo de moedas, ao lado do qual colocam uma pedra branca do tamanho de um ovo de galinha. Eles assentam-se sobre a grama que coletaram, e fazem seus ninhos nas florestas; se alguém mata um filhote, uma pedra cinzenta é encontrada na moela. Chamamos-lhes de Ave de Nazaré. A gordura é excelente para relaxar músculos e nervos.Tradução livre de: "I have seen in Mauritius birds bigger than a Swan, without feathers on the body, which is covered with a black down; the hinder part is round, the rump adorned with curled feathers as many in number as the bird is years old. In place of wings they have feathers like these last, black and curved, without webs. They have no tongues, the beak is large, curving a little downwards; their legs are long, scaly, with only three toes on each foot. It has a cry like a gosling, and is by no means so savoury to eat as the Flamingos and Ducks of which we have just spoken. They only lay one egg which is white, the size of a halfpenny roll, by the side of which they place a white stone the size of a hen's egg. They lay on grass which they collect, and make their nests in the forests; if one kills the young one, a grey stone is found in the gizzard. We call them Oiseaux de Nazaret. The fat is excellent to give ease to the muscles and nerves".
O relato de Cauche é problemático, uma vez que também menciona que a ave que ele descrevia tinha três dedos no pé e não tinha língua, ao contrário do dodô. Isso levou alguns cientistas a acreditar que Cauche estava descrevendo uma nova espécie de dodô (Didus nazarenus). A descrição foi provavelmente misturada com a de um casuar, e as narrações de Cauche tem outras inconsistências. Uma menção de um "jovem avestruz" levado a bordo de um navio em 1617 é a única outra referência a um possível dodô jovem. Um ovo, que se alega ser de dodô, está armazenado no museu de East London, na África do Sul. Foi doado por Marjorie Courtenay-Latimer, cuja tia-avó tinha recebido de um capitão que alegou tê-lo encontrado em um pântano em Maurício. Em 2010, o curador do museu propôs o uso de estudos genéticos para determinar a sua autenticidade. O material pode, no entanto, tratar-se de um ovo aberrante de avestruz.
Devido à provável ninhada de um único ovo e ao grande tamanho da ave, foi proposto que o dodô era do tipo K-selecionado, ou seja, ele produzia um baixo número de descendentes altriciais, o que exigia cuidados dos pais até que os filhotes se desenvolvessem. Algumas evidências, incluindo o tamanho grande e o fato de que aves tropicais e frugívoras têm taxas de crescimento mais lentas, indicam que a ave pode ter tido um período de desenvolvimento prolongado. O fato de nenhum dodô jovem ter sido encontrado no pântano Mare aux Songes, onde a maioria dos restos de dodô foram escavados, pode indicar que a ave produzia pouca prole, que amadurecia rapidamente, que as áreas de reprodução eram longe do pântano, ou que o risco de atolamento era sazonal.
Relação com humanos
Maurício já havia sido visitado por embarcações árabes na Idade Média e navios portugueses entre 1507 e 1513, mas não foi colonizado por nenhum dos dois. Não há registros conhecidos de dodôs por estes visitantes, embora o nome português para Maurício, ilha do Cerné (cisne), pode ter sido uma referência aos dodôs. O Império Holandês adquiriu Maurício em 1598, renomeando-o em homenagem a Maurício de Nassau, e daí em diante a ilha foi utilizada para o abastecimento de navios mercantes da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Os relatos mais antigos conhecidos do dodô foram fornecidos por viajantes holandeses durante a Segunda Expedição Holandesa à Indonésia, liderada pelo almirante Jacob van Neck em 1598. O animal aparece em documentos divulgados em 1601, que também contêm a mais antiga ilustração publicada da ave. Uma vez que os marinheiros que chegavam em Maurício estavam no mar por um longo tempo, seu interesse por estas aves de grande porte era principalmente culinário. O diário de bordo escrito por Willem Van West-Zanen do navio Bruin-Vis, publicado em 1602, menciona que 24 a 25 dodôs foram caçados para servir de alimento, os quais eram tão grandes que dois dificilmente poderiam ser consumidos na hora de uma das refeições, sendo seus restos preservados por salga. Foi feita uma ilustração para a versão publicada em 1648 desta diário. A imagem mostra a morte de dodôs, um dugongo, e, possivelmente, um papagaio-cinzento-de-maurício; a legenda era um poema em holandês que mencionava que os marinheiros caçavam e comiam dodôs.
Alguns dos primeiros viajantes acharam o sabor da carne do dodô desagradável, e preferiram comer papagaios e pombos, já outros a descreveram como dura, mas boa. Alguns dodôs foram caçados apenas pela sua moela, considerada a parte mais deliciosa da ave. Eles eram fáceis de pegar, mas os caçadores tinham que ter cuidado para não serem mordidos por seus bicos robustos.
A semelhança do dodô com a galinhola-vermelha-das-maurícias (também já extinta) levou Peter Mundy a especular, 230 anos antes da teoria da evolução de Charles Darwin:
Duas dessas espécies de aves que mencionei, pelo que sabemos, não podem ser encontradas fora dessa ilha, a qual se encontra a 100 léguas de St. Lawrence. Uma questão pode ser levantada, porque elas estão justamente aqui e não em outro lugar, estando tão longe de outra terra e sem saber voar ou nadar; até que ponto uma mistura de espécies produz formas estranhas e monstruosas, ou a natureza do clima, antiguidade e o mundo alterando as primeiras formas durante um longo tempo, ou como.Tradução livre de: "Of these 2 sorts off fowl afforementionede, For oughtt wee yett know, Not any to bee Found out of this Iland, which lyeth aboutt 100 leagues From St. Lawrence. A question may bee demaunded how they should bee here and Not elcewhere, beeing soe Farer From other land and can Neither fly or swymme; whither by Mixture off kindes producing straunge and Monstrous formes, or the Nature of the Climate, ayer and earth in alltring the First shapes in long tyme, or how".
Dodôs exportados
O dodô foi considerado interessante o suficiente para que exemplares vivos fossem levados para a Europa e para o Oriente. O número exato de dodôs transportados nos navios e que atingiram seus destinos vivos é incerto. Também não se sabe como suas representações da época estão relacionadas com os poucos restos não-fósseis que ainda existem em museus europeus. Baseando-se na combinação de antigos relatos, pinturas e espécimes, Julian Hume estimou que pelo menos onze dodôs transportados chegaram vivos a seus destinos.
A descrição de Hamon L'Estrange de um dodô que ele viu em Londres, em 1638, é o único relato que menciona especificamente um espécime vivo na Europa. Em 1626, Adriaen van de Venne desenhou um dodô que ele alegou ter visto em Amsterdã, mas não mencionou se estava vivo, e sua representação é uma reminiscência do dodô de Edwards de Savery. Dois espécimes vivos foram vistos por Peter Mundy em Surat, Índia, entre 1628 e 1634, um dos quais pode ter sido o indivíduo pintado por Ustad Mansur em torno de 1625. Em 1628, Emmanuel Altham visitou a ilha Maurício e enviou uma carta ao seu irmão na Inglaterra:
Amado irmão, recebemos ordens para ir para uma ilha chamada Maurício, que encontra-se a 20 graus de latitude sul, onde chegamos em 28 de maio; esta ilha tem muitas cabras, porcos e vacas, e aves muito estranhas, chamadas de dodôs, que são muito raras, em todo o mundo só são encontradas aqui, eu enviei uma através do senhor Perce, que chegou com o navio William nesta ilha em 10 de junho. [Na margem da carta] Do senhor Perce você deve receber gengibre para a minha irmã, algumas pérolas para meus primos e suas filhas, e um pássaro chamado dodô, se tiver vivo.Tradução livre de: "Right wo and lovinge brother, we were ordered by ye said councell to go to an island called Mauritius, lying in 20d. of south latt., where we arrived ye 28th of May; this island having many goates, hogs and cowes upon it, and very strange fowles, called by ye portingalls Dodo, which for the rareness of the same, the like being not in ye world but here, I have sent you one by Mr. Perce, who did arrive with the ship William at this island ye 10th of June. [In the margin of the letter] Of Mr. Perce you shall receive a jarr of ginger for my sister, some beades for my cousins your daughters, and a bird called a Dodo, if it live".
Não se sabe se esse dodô sobreviveu à longa viagem, e a carta foi destruída pelo fogo no século XIX. A imagem mais antiga conhecida de um espécime de dodô na Europa data de cerca de 1610 numa coleção de pinturas que retratavam os animais do zoológico real do imperador Rodolfo II, em Praga. Esta coleção inclui também pinturas de outros animais de Maurício, incluindo a galinhola-vermelha-de-maurício. O dodô, que pode ter sido um filhote, parece ter sido seco ou embalsamado, e provavelmente viveu no jardim zoológico do imperador por um tempo junto com os outros animais. Os dodôs inteiros empalhados que existiam na Europa naquela época indicam que eles tinham sido trazidos vivos e morreram em solo europeu; é improvável que taxidermistas estavam a bordo dos navios que visitaram Maurício, e o formol ainda não era usado para preservar espécimes biológicos. A maioria dos exemplares tropicais foram preservados como cabeças e pés secos.
Um dodô teria sido enviado à cidade de Nagasaki, no Japão, em 1647, mas por muito tempo não se soube se ele realmente chegou a seu destino. Documentos da época publicados em 2014 confirmam a história e mostram que o animal chegou com vida. Foi levado como um presente, e, apesar de sua raridade, foi considerado de valor igual a um veado branco e uma pedra bezoar. É o último registro de um dodô vivo em cativeiro.
Extinção
Como muitos animais que evoluíram isolados e sem predadores significativos, o dodô não tinha medo de seres humanos. Este destemor e sua incapacidade de voar tornava-o presa fácil para os marinheiros. Embora alguns relatos dispersos descrevessem matanças em massa de dodôs para provisões de bordo, as investigações arqueológicas fornecem escassas evidências de predação humana. Ossos de pelo menos dois dodôs foram encontrados em cavernas de Baie du Cap, local que servia de refúgio para condenados e escravos fugitivos no século XVII e que não teria sido facilmente acessível para os dodôs por causa do terreno alto e acidentado. A população humana em Maurício (que tem uma área de km2) nunca excedeu 50 pessoas no século XVII, mas esses primeiros colonos introduziram outros animais, incluindo cães, porcos, gatos, ratos e macacos-do-mato, que saqueavam ninhos de dodô e competiram pelas limitadas fontes de alimento. Ao mesmo tempo, os humanos destruíram florestas que eram o habitat da ave. O impacto destes animais introduzidos, especialmente os porcos e macacos, sobre a população de dodôs é atualmente considerado mais grave do que a caça. Os ratos não foram, talvez, uma ameaça muito grande aos ninhos, uma vez que os dodôs estavam acostumados a lidar com os caranguejos terrestres locais.
Foi sugerido que o dodô já era raro ou ocupava uma área bastante restrita antes da chegada dos seres humanos em Maurício, uma vez que teria sido improvável que tivesse se extinguido tão rapidamente se ocupasse todas as partes remotas da ilha. Uma expedição em 2005 encontrou restos fósseis de dodôs e outros animais mortos por uma enchente. Tais mortes em massa teria prejudicado ainda mais uma espécie já em perigo de extinção.
Há algumas controvérsias envolvendo a data da extinção. O último registro amplamente aceito de um avistamento de dodô é o relato feito em 1662 pelo marinheiro náufrago Volkert Evertsz do navio holandês Arnhem, que descreveu aves capturadas em uma pequena ilhota de Maurício (atualmente acredita-se que seja a ilha Âmbar):
Estes animais, quando nos aproximamos deles, fixaram-nos o olhar e permaneceram imóveis no local, sem saber se tinham asas para voar ou pernas para fugir, e permitindo-nos aproximar tão perto quanto quiséssemos. Entre essas aves estavam aquelas que na Índia são chamadas de Dod-aersen (sendo uma espécie de ganso grande); estas aves são incapazes de voar, e em vez de asas, elas têm apenas alguns pequenos "pinos", mas podem correr muito rapidamente. Conseguimos agrupa-las num só lugar, de tal maneira que foi possível pegá-las com as mãos, e quando agarramos uma pela perna, ela fez um grande barulho, e as outras todas de repente vieram correndo o mais rápido que podiam para tentar socorre-la, e por causa disso foram capturadas e feitas prisioneiras também.Tradução livre de: "These animals on our coming up to them stared at us and remained quiet where they stand, not knowing whether they had wings to fly away or legs to run off, and suffering us to approach them as close as we pleased. Amongst these birds were those which in India they call Dod-aersen (being a kind of very big goose); these birds are unable to fly, and instead of wings, they merely have a few small pins, yet they can run very swiftly. We drove them together into one place in such a manner that we could catch them with our hands, and when we held one of them by its leg, and that upon this it made a great noise, the others all on a sudden came running as fast as they could to its assistance, and by which they were caught and made prisoners also".
Os dodôs nesta ilhota não foram, necessariamente, os últimos membros da espécie. O último avistamento reivindicado de um dodô foi relatado nos registros de caça de Isaac Johannes Lamotius em 1688. A análise estatística desses registros feita por Roberts e Solow dá uma nova data de extinção estimada de 1693, com um intervalo de confiança de 95% de 1688 a 1715. Os autores também assinalaram que, devido a última observação antes de 1662 ter sido a de 1638, o dodô provavelmente já era bastante raro na década de 1660, e, portanto, um relato controverso datado de 1674 feito por um escravo fugido não pode ser posto de lado.
Anthony Cheke apontou que algumas descrições pós 1662 usam os nomes "Dodo" e "Dodaers" quando se referem à galinhola-vermelha-de-maurício, indicando que os termos haviam sido transferidos para essa outra ave após o desaparecimento do próprio dodô. Cheke, portanto, aponta a descrição de 1662 como a última observação credível. Um relato de 1668 feito pelo viajante inglês John Marshall, que usou os nomes "Dodo" e "galinha vermelha" alternadamente para a galinhola-vermelha, mencionou que a carne era "dura", o que ecoa a descrição da carne no relato de 1681. Até mesmo a menção de 1662 tem sido questionada por Errol Fuller, pois a vocalização em situação de perigo coincide com a que foi descrita para a galinhola-vermelha. Até essa explicação ser proposta, acreditava-se que uma descrição de "dodôs" de 1681 era o último relato da espécie. Ainda assim, essa data ainda tem defensores. Manuscritos holandeses recentemente acessíveis indicam que nenhum dodô foi visto por colonos entre 1664 e 1674. Em 2020, Cheke e o pesquisador britânico Jolyon C. Parish sugeriram que todas as menções de dodôs depois de meados do século XVII se referiam a galinholas-vermelhas, e que o dodô havia desaparecido devido à predação por porcos selvagens durante um hiato na colonização das ilhas Maurício (1658–1664). A extinção do dodô, portanto, não foi percebida no momento em que aconteceu, uma vez que os novos colonos não tinham visto dodôs reais, mas, como esperavam ver aves que não voavam, se referiram às galinholas-vermelhas com esse nome. Como as galinholas provavelmente tinham ninhadas maiores do que os dodôs, seus ovos podiam ser incubados mais rápidos e seus ninhos talvez estivessem escondidos, elas provavelmente se reproduziam com mais eficiência e eram menos vulneráveis aos porcos.
É improvável que este problema seja resolvido algum dia, a menos que relatórios antigos citando o nome da ave ao lado de um descrição física da mesma sejam redescobertos. A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais aceita a justificativa de Cheke para escolher a data de 1662, acreditando que todos os avistamentos subsequentes se referem a galinholas-vermelhas. Em qualquer caso, o dodô foi provavelmente extinto em 1700, cerca de um século depois de sua descoberta em 1598. Os holandeses deixaram Maurício em 1710, mas até essa data o dodô e a maioria dos grandes vertebrados terrestres da ilha já haviam se tornado extintos.
Ainda que a raridade do dodô já tivesse sido relatada no século XVII, sua extinção não foi reconhecida até o século XIX. Isto aconteceu em parte porque, por motivos religiosos, não se acreditava que a extinção fosse possível até ser provada mais tarde por Georges Cuvier, e em parte porque vários cientistas duvidavam de que o dodô realmente tivesse existido. Parecia uma criatura estranha por demais, e muitos achavam que não passava de um mito. A ave foi usada pela primeira vez como um exemplo de extinção provocada pelo homem na Penny Magazine em 1833.
Restos físicos
Espécimes do século XVII
Os únicos vestígios de dodôs levados para a Europa no século XVII são: uma cabeça e um pé, ambos secos, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford; um pé que estava guardado no Museu Britânico, mas que foi perdido; um crânio do Museu Zoológico da Universidade de Copenhague; e um maxilar superior e ossos da perna no Museu Nacional de Praga. Os dois últimos foram redescobertos e identificados como restos de dodô em meados do século XIX. Vários dodôs empalhados foram também mencionados em antigos inventários de museus, mas não se sabe de nenhum que tenha resistido até os dias atuais. Além desses restos, um pé seco, que pertenceu ao professor holandês Pieter Pauw, foi mencionado por Carolus Clusius em 1605. Sua origem é desconhecida, e agora está perdido, mas pode ter sido coletado durante a viagem de van Neck.
As únicas amostras de tecido mole que persistiram ao tempo, a cabeça (espécime OUM 11605) e o pé de Oxford, pertenceram ao último dodô empalhado que se tem notícia. Esse exemplar foi mencionado pela primeira vez como parte da coleção de Tradescant em 1656, sendo transferido três anos mais tarde, em 1659, para o Ashmolean Museum. Acredita-se que podem ser os restos da ave que Hamon L'Estrange viu em Londres. Muitas fontes afirmam que o museu queimou o dodô empalhado por volta de 1755 por causa da grave deterioração da peça, salvando apenas a cabeça e uma perna. O estatuto 8 do museu diz "que como qualquer coisa envelhece e perece, o mantenedor pode removê-lo em um dos armários ou outro repositório. E alguns outros serem substituídos". Hoje acredita-se que a simples destruição deliberada da amostra é um mito; ela foi, na verdade, removida do local de exposição para preservar o que lhe restou. Este tecido mole de dodô foi ainda mais degradado depois; a cabeça teve a pele separada do crânio em duas metades na dissecação feita por Strickland e Melville. O pé está em estado esquelético, com apenas pedaços de pele e tendões. Muito poucas penas permanecem na cabeça. Provavelmente era uma fêmea, já que o pé é 11% menor e mais delicado que o do espécime de Londres, e parece ser um indivíduo já totalmente crescido.
O pé seco de Londres, mencionado pela primeira vez em 1665, e transferido para o Museu Britânico no século XVIII, foi exibido ao lado da pintura de dodô feita Edwards de Savery até a década de 1840. Também foi dissecado por Strickland e Melville. Não foi colocado numa postura ereta, o que sugere que foi separado de uma amostra fresca, e não de uma montada. Em 1896, foi mencionado como estando sem seus integumentos, e acredita-se que só os ossos permanecem até hoje, apesar de seu paradeiro atual ser desconhecido.
O crânio de Copenhagen (espécime ZMUC 90-806) é conhecido por ter sido parte da coleção de Bernardus Paludanus em Enkhuizen até 1651, quando foi transferido para o museu no castelo de Gottorf, em Schleswig. Depois que o castelo foi ocupado por tropas dinamarquesas em 1702, o acervo do museu foi assimilado na coleção real dinamarquesa. O crânio foi redescoberto por J. T. Reinhardt em 1840. Com base nessa história, pode ser o resquício mais antigo já conhecido da sobrevivência de um dodô trazido para a Europa no século XVII. É 13 milímetros mais curto que o crânio de Oxford, e pode ter pertencido a uma fêmea. Ele foi mumificado, mas a pele pereceu.
A parte da frente de um crânio (espécime NMP P6V-004389) e alguns ossos da perna no Museu Nacional de Praga foram encontrados em 1850, entre os restos do Museu Böhmisches. Pode ser o que restou de um dos dodôs empalhados que viviam no zoológico do imperador Rodolfo II, possivelmente, o espécime pintado lá por Hoefnagel ou Savery.
Espécimes fósseis
Por muito tempo, os únicos restos de dodô conhecidos foram os quatro exemplares incompletos do século XVII. Até que em 1860 o botânico inglês Philip Burnard Ayres encontrou os primeiros ossos fósseis, posteriormente enviados para Richard Owen no Museu Britânico, que não publicou os achados. Três anos depois, em 1863, Owen pediu ao bispo Vincent Ryan para divulgar na ilha que ele deveria ser informado caso algum osso de dodô fosse descoberto. Em 1865, George Clark, um professor da pequena cidade de Mahébourg, finalmente encontrou fósseis de dodô em grande quantidade. O material estava no pântano Mare aux Songes, no sul da ilha Maurício, e o achado foi fruto de uma pesquisa de 30 anos inspirada na monografia de Strickland e Melville. No ano seguinte, Clark explicou na Ibis, uma revista científica de ornitologia, como obteve sucesso em sua busca: ele orientou seus coolies a caminhar no meio do pântano, para sentir os ossos com os pés. No início encontraram poucos ossos, até que removeram a vegetação que cobria a camada mais profunda do pântano, e então encontraram muitos fósseis. Do local foram retirados restos de mais de 300 dodôs, mas muito poucos crânios e ossos das asas, possivelmente porque as partes superiores das aves foram "varridas" pela água, enquanto a porção inferior do corpo estava presa. Um cenário semelhante a muitos achados de restos de moas em pântanos da Nova Zelândia. A maioria dos ossos de dodô retirados do Mare aux Songes tem uma coloração marrom médio a escuro.
Os relatos de Clark sobre as descobertas reacenderam o interesse pela ave. Tanto Richard Owen como Alfred Newton queriam ser o primeiro a descrever a anatomia pós-craniana do dodô, e Owen comprou um carregamento de ossos originalmente destinada a Newton, o que gerou rivalidade entre os dois. Owen descreveu os ossos na obra Memoir on the Dodo, em outubro de 1866, mas errou ao basear sua reconstrução na pintura Edwards' Dodo feita por Savery, fazendo com que a ave parecesse muito atarracada e obesa. Em 1869 ele recebeu mais ossos e corrigiu sua representação, deixando-a mais ereta. Newton, por sua vez, direcionou seu foco para o solitário-de-reunião. Os ossos restantes, que não foram vendidos nem para Owen nem para Newton, foram leiloados ou doados a museus. Em 1889, Theodor Sauzier foi contratado para explorar as "lembranças históricas" da ilha Maurício e encontrar mais restos de dodô no Mare aux Songes. Não só alcançou esses objetivos como também encontrou resquícios de outras espécies extintas.
Louis Etienne Thirioux, um naturalista amador de Port Louis, também encontrou muitos ossos de dodô em vários locais da ilha por volta do ano 1900. Suas descobertas incluem o único resto de um exemplar juvenil, um tarsometatarso, posteriormente perdido; e o primeiro espécime articulado, que é também o único dodô fóssil encontrado fora da região do Mare aux Songes. Este último foi encontrado em 1904 num caverna perto da montanha Le Pouce, e é o único esqueleto completo de um mesmo dodô. Thirioux o doou ao Museu Desjardins (hoje Museu de História Natural de Maurício), onde ainda está em exibição. Os herdeiros de Thrioux venderam um segundo esqueleto (composto por ossos de pelo menos dois indivíduos, com a maior parte do crânio reconstruído) ao Durban Museum of Natural Science, na África do Sul, em 1918. Juntos, esses dois esqueletos representam os resquícios mais completos, incluindo elementos ossos anteriormente não registrados (como patelas e vários ossos da asa). Embora alguns escritores contemporâneos tenham notado a importância dos espécimes de Thrioux, eles não foram estudados cientificamente e ficaram esquecidos até 2011, quando foram examinados por um grupo de pesquisadores. Em 2014, tais amostras foram a base para a primeira reconstrução 3D de um esqueleto completo de dodô, que utilizou tecnologia de varredura a laser em três dimensões. A reconstrução foi exibida em Berlim, na 74ª Reunião Anual da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados.
Em outubro de 2005, depois de cem anos de negligência, uma parte do pântano Mare aux Songes foi escavada por uma equipe internacional de pesquisadores. Para prevenir a malária, os britânicos haviam coberto o pântano com núcleo duro durante o seu domínio sobre Maurício, que teve de ser removido. Muitos restos mortais foram encontrados, incluindo ossos de pelo menos 17 dodôs em vários estágios de maturidade (embora não juvenis), e vários ossos, obviamente, a partir do esqueleto de uma ave individual, que foram preservados na sua posição natural. Esses achados foram tornados públicos em dezembro de 2005 no museu Naturalis em Leiden. 63% dos fósseis encontrados no pântano pertencia a tartarugas do gênero Cylindraspis, já extinto, e 7,1% pertenciam a dodôs, que haviam sido depositados dentro de vários séculos, há anos. Escavações posteriores sugeriram que dodôs e outros animais ficaram atolados no Mare aux Songes ao tentar chegar a água durante um longo período de seca severa cerca de anos atrás. Além disso, as cianobactérias prosperaram nas condições criadas pelos excrementos de animais se reuniram em torno do pântano, que morreram de intoxicação, desidratação, atropelamento, e afundando. Apesar de muitos pequenos elementos do esqueleto foram encontrados durante as recentes escavações do pântano, poucos foram encontrados durante o século 19, provavelmente devido ao emprego de métodos de coleta menos refinados. Em junho de 2007, os aventureiros que exploravam uma caverna na ilha Maurício descobriram o esqueleto de dodô mais completo e mais bem preservado já encontrado. O espécime foi apelidado de "Fred", após o achado.
Em todo o mundo, 26 museus possuem quantidades significativas de material de dodô, quase todos encontrados no Mare aux Songes. O Museu de História Natural de Londres, Museu Americano de História Natural, Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge, Museu Senckenberg, dentre outros, têm esqueletos quase completos, montados a partir de restos fósseis de vários indivíduos. Em 2011, uma caixa de madeira contendo ossos de dodô da era eduardiana foi redescoberta no Grant Museum da University College London, durante os preparativos para uma mudança. Eles haviam sido armazenadas junto com ossos de crocodilo.
"Dodô branco"
O suposto "dodô branco" (ou "solitário") da ilha Reunião é hoje considerado uma conjectura errada baseada em relatos de avistamentos do íbis-terrestre-de-reunião e pinturas do século XVII de aves brancas parecidas com o dodô feitas por Pieter Withoos e Pieter Holsteyn, e que vieram à tona no século XIX. A confusão começou quando Willem Bontekoe, após visitar Reunião por volta de 1619, mencionou aves gordas e incapazes de voar, às quais se referiu como "Dod-eersen" em seu diário de bordo, embora sem mencionar de que cor eram. Quando o diário foi publicado em 1646, o relato foi acompanhado por uma gravura de um dodô da "Crocker Art Gallery sketch" de Savery. Uma ave branca, encorpada e que não voava foi mencionada pela primeira vez como parte da fauna de Reunião pelo oficial-chefe J . Tatton em 1625. Menções esporádicas foram posteriormente feitas por Sieur Dubois e outros escritores da época.
O barão Edmond de Sélys Longchamps cunhou o nome Raphus solitarius para estas aves em 1848, pois acreditava que os relatos se referiam a uma espécie de dodô. Quando pinturas do século XVII de dodôs brancos foram redescobertas por naturalistas do século XIX, acreditou-se que elas retratavam essas aves. Anthonie Cornelis Oudemans sugeriu que a discrepância entre as pinturas e as antigas descrições aconteceu porque os desenhos mostravam as fêmeas, e que a espécie tinha, portanto, dimorfismo sexual. Alguns autores também acreditavam que os animais descritos eram de uma espécie semelhante ao solitário-de-rodrigues, sendo por isso também chamados de "solitários", ou mesmo que havia espécies brancas tanto de dodô como de solitários na ilha.
A pintura de Pieter Withoos, descoberta primeiro, parece ter sido baseada numa pintura anterior de Pieter Holsteyn, e sabe-se que existiram três versões dela. De acordo com Hume, Cheke e Valledor de Lozoya, parece que todas as representações de dodôs brancos foram baseadas na pintura Landscape with Orpheus and the animals de 1611, feita por Roelant Savery, ou em cópias da mesma. A pintura mostra um espécime esbranquiçado e aparentemente foi feita com base num exemplar empalhado em Praga; um walghvogel descrito como tendo um "coloração esbranquiçada suja" foi mencionado em um inventário de espécimes na coleção de Praga do Sacro Imperador Romano Rodolfo II, que contratou Savery na época (1607-1611). Várias imagens posteriores de Savery mostram sempre aves acinzentadas, possivelmente porque ele viu outro exemplar. Cheke e Hume acreditam que o espécime pintado era branco devido ao albinismo. Valledor de Lozoya, por sua vez, sugeriu que a plumagem clara pode ser um traço juvenil, resultado do branqueamento de exemplares taxidermizados antigos, ou simplesmente licença artística.
Em 1987, cientistas descreveram fósseis de uma espécie de íbis recentemente extinta originária da ilha Reunião com um bico relativamente curto, Borbonibis latipes, antes de uma conexão com os relatos do solitário-de-rodrigues ter sido feita. Cheke sugeriu a um dos autores, Francois Moutou, que os fósseis podem ter sido do íbis-de-reunião, e esta sugestão foi publicada em 1995. O íbis foi transferido para o gênero Threskiornis, agora combinado com o epíteto específico "solitarius" do binomial R. solitarius. As aves deste gênero são também brancas e pretas com bicos finos, se enquadrando assim com as antigas descrições do íbis-de-reunião. Nenhum fóssil de animais parecidos com o dodô jamais foi encontrado na ilha.
Relevância cultural
A importância do dodô como um dos mais famosos animais extintos e sua aparência singular levou à sua utilização na literatura e na cultura popular como um símbolo de um conceito ou objeto desatualizado. Na língua inglesa, a expressão "dead as a dodo" ("morto como um dodô") quer dizer uma coisa inquestionavelmente morta ou obsoleta. Da mesma forma, a frase "to go the way of the dodo" ("seguindo o caminho do dodô") significa tornar-se extinto ou obsoleto, cair fora do uso ou da prática comum, ou virar uma coisa do passado. Embora sejam expressões de uso frequente, uma pesquisa da ONG internacional WWF publicada em 2015 mostrou que um em cada quatro britânicos acredita que os dodôs ainda existem. Em 2009, uma ilustração holandesa inédita de um dodô, datada do século XVII, foi colocada à venda na Christie's e esperava-se que fosse vendida por libras esterlinas. Não se sabe se a ilustração foi baseada em um espécime ou em uma imagem anterior. Foi arrematada por libras.
Mesmo antes de sua extinção, o dodô era frequentemente destacado na literatura europeia, além de ser usado como símbolo para terras exóticas e para a gula, devido a sua aparência obesa. Em 1865, mesmo ano em que George Clark começou a publicar relatórios sobre fósseis escavados de dodô, a ave recém vindicada virou um personagem de Alice no País das Maravilhas, obra-prima do escritor inglês Lewis Carroll. Acredita-se que ele incluiu o dodô porque se identificou com a ave e adotou o nome como apelido para si mesmo por causa de sua gagueira, o que o fez acidentalmente apresentar-se como "Do-do-dodgson", seu sobrenome oficial. A popularidade do livro fez do dodô um famoso ícone da extinção.
Atualmente, o dodô aparece em obras de ficção popular, como animações, séries de TV e filmes. É usado como mascote para muitos tipos de produtos, especialmente em Maurício. O dodô aparece como um defensor no brasão de armas de Maurício. É também usado como uma marca d'água em notas da moeda local, a rupia maurícia. Um dodô sorridente é o símbolo da Brasseries de Bourbon, uma popular marca de cerveja da ilha Reunião, cujo emblema mostra a espécie branca que se pensava ter vivido lá. A ave também é usada para promover a proteção de espécies ameaçadas de extinção por muitas organizações ambientais, como a Durrell Wildlife Conservation Trust, o Durrell Wildlife Park, e o Center for Biological Diversity, que oferece anualmente o irônico prêmio Rubber Dodo, uma "honraria" dada àqueles que mais contribuíram para extinguir espécies ameaçadas.
Em 2011, uma espécie de aranha da família Nephilidae − Nephilengys dodo – que habita as mesmas florestas que os dodôs viviam, foi nomeada em homenagem à ave com o intuito de aumentar a conscientização sobre a necessidade urgente de proteção da biota de Maurício. O termo dodô também foi imortalizado por cientistas através da nomeação de elementos genéticos, lembrando sua incapacidade de voar. Um gene da mosca-das-frutas situado numa região de um cromossomo necessário para a capacidade de voar foi batizado de "dodo". Além disso, um elemento de transposição defeituoso de Phytophthora infestans foi nomeado DodoPi, uma vez que continha mutações que eliminaram a capacidade do elemento de saltar para novos locais num cromossomo.
O poeta Hilaire Belloc incluiu um poema sobre o dodô na sua obra The Bad Child's Book of Beasts, de 1896:
Ver também
Lista de aves extintas
Bibliografia
Ligações externas
Aves descritas em 1758
Aves extintas
Columbídeos
Fauna da Maurícia |
Dante Alighieri (Florença, entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 d.C. – Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321 d.C.) foi um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta ("o sumo poeta"). Disse o escritor e poeta francês Victor Hugo (1802-1885) que o pensamento humano atinge em certos homens a sua completa intensidade, e cita Dante como um dos que "marcam os cem graus de gênio". E tal é a sua grandeza que a literatura ocidental está impregnada de sua poderosa influência, sendo extraordinário o verdadeiro culto que lhe dedica a consciência literária ocidental.
Seu nome, segundo o testemunho do filho Jacopo Alighieri, era um hipocorístico de "Durante". Nos documentos, era seguido do patronímico "Alagherii" ou do gentílico "de Alagheriis", enquanto a variante "Alighieri" afirmou-se com o advento de Boccaccio.
Foi muito mais do que literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia ("A Divina Comédia"), o grande poema de Dante, que é uma das obras-primas da literatura universal. A Commedia se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo.
Essa obra foi originalmente intitulada Comédia e mais tarde foi rebatizada com o adjetivo "Divina" por Giovanni Boccaccio. A primeira edição que adicionou o novo título foi a publicação do humanista veneziano Lodovicco Dolce, publicado em 1555 por Gabriele Giolito de Ferrari.
Nasceu em Florença, onde viveu a primeira parte da sua vida até ser exilado. O exílio foi ainda maior do que uma simples separação física de sua terra natal: foi abandonado por seus parentes. Apesar dessa condição, seu amor incondicional e capacidade visionária o transformaram no mais importante pensador de sua época.
Vida
Primeiros anos de vida e família
Não há registro oficial da data de nascimento de Dante. Ele informa ter nascido sob o signo de Gêmeos, entre fim de maio e meados de junho. A referência mais confiável é a data de 25 de maio de 1265. Dante, na verdade, é uma abreviação de seu real nome, Durante.
Nasceu numa importante família florentina (cujo apelido era, na realidade, Alaghieri) comprometida politicamente com o partido dos guelfos, uma aliança política envolvida em lutas com outra facção de florentinos: os gibelinos. Os guelfos estavam ainda divididos em "guelfos brancos" e "guelfos negros". Dante, no "Inferno" (XV, 76), pretende dizer que a sua família tem raízes na Roma Antiga, ainda que o familiar mais antigo que se lhe conhece citado pelo próprio Dante, no livro "Paraíso", (XV, 135), seja Cacciaguida do Eliseu, que terá vivido, quando muito, à volta do ano 1100 (o que, relativamente ao próprio Dante, não é muito antigo).
O seu pai, Alighiero di Bellincione, foi um "guelfo branco". Não sofreu, porém, qualquer represália após a vitória do partido gibelino na Batalha da Montaperti. Essa consideração por parte dos próprios inimigos denota, com alguma segurança, o prestígio da família.
A mãe de Dante chamava-se Bella degli Abati, nome algo comentado por significar "a bela dos abades", ainda que Bella seja uma contracção de Gabriella. Morreu quando Dante contava apenas com cinco ou seis anos de idade. Alighiero rapidamente se casou com Lapa di Chiarissimo Cialuffi. Há alguma controvérsia quanto a esse casamento, propondo alguns autores que os dois se tenham unido sem contrair matrimónio, graças a dificuldades levantadas, na época, ao casamento de viúvos. Dela nasceram o irmão de Dante, Francesco, e Tana (Gaetana), sua irmã.
Com a idade de doze anos, em 1277, sua família impôs o casamento com Gemma, filha de Messe Manetto Donati, prática comum — tanto no arranjo quanto na idade — na época. Era dada uma importância excepcional à cerimónia que decorria num ambiente muito formal, com a presença de um notário. Dante teve vários filhos de Gemma. Como acontece, geralmente, com pessoas famosas, apareceram muitos supostos filhos do poeta. É provável, no entanto, que Jacopo, Pietro e Antonia fossem, realmente, seus filhos. Antonia tomou o hábito de freira, com o nome de Irmã Beatriz. Um outro homem, chamado Giovanni, reclamou também a filiação mas, apesar de ter estado com Dante no exílio, restam algumas dúvidas quanto à pretensão.
Educação e poesia
Pouco se sabe sobre a educação de Dante, presumindo-se que tivesse estudado em casa, de forma autodidata. Sabe-se que estudou a poesia toscana, talvez com a ajuda de Brunetto Latini (numa idade posterior, como se dirá de seguida). A poesia toscana centrava-se na Scuola poetica siciliana, um grupo cultural da Sicília que se dava a conhecer, na altura, na Toscânia. Esse interesse depressa se alargou a outros autores, dos quais se destacam os menestréis e poetas provençais, além dos autores da Antiguidade Clássica latina, de entre os quais elegia, preferencialmente, Virgílio, ainda que também tivesse conhecimento da obra de Horácio, Ovídio, Cícero e, de forma mais superficial, Tito Lívio, Séneca, Plínio, o Velho e outros de que encontramos bastantes referências na Divina Comédia.
É importante referir que durante estes séculos escuros (em italiano Secoli Bui), expressão usada por alguns para referir-se à Idade Média, designando-a como "Idade das trevas" - noção que hoje em dia é rebatida por muitos historiadores que demonstram que essa época foi muito mais rica culturalmente do que aquilo que a tradição pretende demonstrar), a península Itálica era politicamente dividida em um complexo mosaico de pequenos estados, de modo que a Sicília estava tão longe, cultural e politicamente, de Florença quanto a Provença. As regiões do que hoje é a Itália ainda não compartilhavam a mesma língua nem a mesma cultura, também em virtude das vias de comunicação deficitárias. Não obstante, é notório o espírito curioso de Dante que, sem dúvida, pretendia estar a par das novidades culturais a um nível internacional.
Aos dezoito anos, com Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Cino da Pistoia e, pouco depois, Brunetto Latini, Dante lança o Dolce Stil Nuovo. Na Divina Comédia (Inferno, XV, 82), faz-se uma referência especial a Brunetto Latini, onde se diz que terá instruído Dante. Tanto na Divina Comédia como na Vita Nuova depreende-se que Dante se terá interessado por outros meios de expressão como a pintura e a música.
Ainda jovem (18 anos), conheceu Beatrice Portinari, a filha de Folco dei Portinari, ainda que, crendo no próprio Dante, a tenha fixado na memória quando a viu pela primeira vez, com nove anos (teria Beatriz, nessa altura, oito anos). Há quem diga, no entanto, que Dante a viu uma única vez, nunca tendo falado com ela. Não há elementos biográficos que comprovem o que quer que seja.
É difícil interpretar no que consistiu essa paixão, mas, é certo, foi de importância fulcral para a cultura italiana. É sob o signo desse amor que Dante deixou a sua marca profunda no Dolce Stil Nuovo e em toda a poesia lírica italiana, abrindo caminho aos poetas e escritores que se lhe seguiram para desenvolverem o tema do Amor (Amore) que, até então, não tinha sido tão enfatizado. O amor por Beatriz (tal como o amor que Petrarca demonstra por Laura, ainda que numa perspectiva diferente) aparece como a justificativa da poesia e da própria vida, quase se confundindo com as paixões políticas, igualmente importantes para Dante.
Quando Beatriz morreu, em 1290, Dante procurou refúgio espiritual na filosofia da Literatura latina. Pelo Convívio, sabemos que leu a De consolatione philosophiae, de Boécio, e a De amicitia, de Cícero. Dedicou-se, pois, ao estudo da filosofia em escolas religiosas, como a Dominicana de Santa Maria Novella, tanto mais que ele próprio era membro da Ordem Terceira de São Domingos. Participou nas disputas entre místicos e dialécticos, que se travavam, então, em Florença nos meios académicos, e que se centravam em torno das duas ordens religiosas mais relevantes. Por um lado, os franciscanos, que defendiam a doutrina dos místicos (São Boaventura), e, por outro, os dominicanos, que se socorriam das teorias de Tomás de Aquino. A sua paixão "excessiva" pela filosofia é criticada por Beatriz (representando a Teologia), no "Purgatório".
Carreira política em Florença
Dante participou, também, na vida militar da época. Em 1289, combateu ao lado dos cavaleiros florentinos, contra os de Arezzo, na batalha de Campaldino, em 11 de junho. Em 1294, estava com os soldados que escoltavam Carlos I, Conde de Anjou (também referido por vezes como Martel) quando este estava em Florença.
Foi, também, médico e farmacêutico; não pretendia exercer essas profissões mas, segundo uma lei de 1295, todo nobre que pretendesse tomar um cargo público devia pertencer a uma das guildas (Corporazioni di Arti e Mestieri - ou seja, "Corporação de Artes e Ofícios"). Ao entrar na guilda dos boticários, Dante podia, assim, ascender à vida política. Esta profissão não era, de todo, inadequada para Dante, já que, na época, os livros eram vendidos nos boticários. De 1295 a 1300, fez parte do "Conselho dos Cem" (o conselho da comuna de Florença), onde fez parte dos seis priores que governavam a cidade.
O envolvimento político de Dante acarretou-lhe vários problemas. O papa Bonifácio VIII tinha a intenção de ocupar militarmente Florença. Em 1300, Dante estava em San Gimignano, onde preparava a resistência dos guelfos toscanos contra as intrigas papais. Em 1301, o papa enviou Carlos de Valois, (irmão de Felipe o Belo, rei de França), como pacificador da Toscânia. O governo de Florença, no entanto, já recebera mal os embaixadores papais, semanas antes, de forma a repelir qualquer influência da Santa Sé. O Conselho da cidade enviou, então, uma delegação a Roma, com o fim de indagar ao certo as intenções do Sumo Pontífice. Dante chefiava essa delegação.
Exílio e morte
Bonifácio rapidamente enviou os outros representantes de Florença de volta, retendo apenas Dante em Roma. Entretanto, a 1 de novembro de 1301, Carlos de Valois entrava em Florença com os guelfos negros que, por seis dias, devastaram a cidade e massacraram grande número de partidários da facção branca. Instalou-se, então, um governo apoiante dos guelfos negros, e Cante dei Gabrielli di Gubbio foi nomeado Podestà (funcionário público designado pelas famílias mais influentes da cidade). Dante foi condenado, em Florença, ao exílio por dois anos, além de ser condenado a pagar uma elevada multa em dinheiro. Ainda em Roma, o papa "sugeriu-lhe" que aí se mantivesse, sendo considerado, a partir de então, um proscrito. Não tendo pago a multa, foi, por consequência, condenado ao exílio perpétuo. Se fosse, entretanto, capturado por soldados de Florença, seria sumariamente executado, queimado vivo.
O poeta participou em várias tentativas para repor os guelfos brancos no poder; em Florença, no entanto, devido a diversas traições, todas falharam. Dante, amargurado com o tratamento de que foi alvo por parte dos seus inimigos, afligia-se também com a inacção dos seus antigos aliados. Declarou solenemente, na altura, que pertencia a um partido com um único membro. Foi nesta altura que começou a fazer o esboço do que viria a ser a "Divina Comédia", poema constituído por 100 cantos, divididos em três livros ("Inferno", "Purgatório" e "Paraíso") com 33 cantos cada (exceptuando o primeiro livro que, dos seus 34 cantos, o primeiro é considerado apenas como Canto introdutório).
Foi para Verona, onde foi hóspede de Bartolomeo Della Scala; mudou-se para Sarzana (Ligúria), e, depois, supõe-se que terá vivido algum tempo em Lucca com Madame Gentucca, que o acolheu de forma calorosa (o que, mais tarde, será referido de forma agradecida no Purgatório XXIV,37). Algumas fontes afirmam que teria estado em Paris, entre 1308 e 1310. Outras fontes, menos credíveis, porém, dizem que teria ido até Oxford.
Em 1310, Henrique VII do Luxemburgo invadiu a Itália. Dante viu nele a hipótese de se vingar. Escreveu-lhe, bem como a vários príncipes italianos, cartas abertas onde incitava violentamente à destruição do poderio dos guelfos negros. Misturando religião e assuntos privados, invocou a ira divina sobre a sua cidade, sugerindo como alvo principal do desagrado de Deus os seus mais tenazes inimigos pessoais.
Em Florença, Baldo d'Aguglione perdoou a maior parte dos guelfos brancos que estavam no exílio, permitindo-lhes o seu regresso. Dante, no entanto, tinha ultrapassado largamente os limites toleráveis para o partido negro nas suas cartas a Henrique VII, pelo que o seu regresso não foi permitido.
Em 1312, Henrique assaltou Florença, derrotando os "guelfos negros". Não há, no entanto, qualquer evidência de uma possível participação de Dante no evento. Há quem diga que Dante se recusou a participar num ataque à sua cidade ao lado de um estrangeiro. Outros, porém, sugerem que o seu nome se tinha tornado incómodo para os próprios "guelfos brancos", pelo que qualquer traço da sua passagem foi prontamente apagado para a posteridade. Em 1313, com a morte de Henrique, morreu também a esperança de Dante de rever a sua cidade. Voltou para Verona onde Cangrande I della Scala, o Senhor de Verona, lhe permite viver seguro, confortável e, presume-se, com alguma prosperidade. Cangrande é um dos personagens admitidos por Dante no seu Paraíso (XVII, 76).
Em 1315, Florença foi obrigada, por Uguccione della Faggiuola (oficial militar que controlava a cidade) a outorgar amnistia a todos os exilados. Dante constava na lista daqueles que deveriam receber o perdão. No entanto, era exigido que estes pagassem uma determinada multa e, acima de tudo, que aceitassem participar numa cerimónia de cariz religioso onde se retractariam como ofensores da ordem pública. Dante recusou-se a semelhante humilhação, preferindo o exílio.
Quando Uguccione derrotou, finalmente, Florença, a sentença de morte que recaía sobre Dante foi comutada numa pena de prisão, sob a única condição de que teria de ir a Florença jurar solenemente que jamais entraria na cidade. Dante não foi. Como resultado, a pena de morte estendeu-se aos seus filhos.
Dante ainda esperou, mais tarde que fosse possível ser convidado por Florença a um regresso honrado. O exílio era como que uma segunda morte, privando-o de muito do que formava a sua identidade. No Canto XVII, 55-60, do Paraíso, Dante refere o quanto era dolorosa para si a vida de exilado, quando o seu trisavô, Cacciaguida, lhe "profetiza" aquilo que o espera:
* Tradução retirada de J. P Xavier Pinheiro (Série Ouro)
Quanto à esperança de um dia voltar a Florença, Dante descreve o seu sentimento melancólico, como se já estivesse resignado a essa impossibilidade, no Canto XXV, 1-9 do Paraíso:
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{| border="0"
|-----
| align="left" |
{| class="prettytable"
|----- bgcolor=#DDDDDD
! Paraíso (Canto XXV)Italiano
! Paraíso (Canto XXV)Português *
|-----
|{{Quote|<poem>
"Se mai continga che 'l poema sacroal quale ha posto mano e cielo e terra,
sì che m'ha fatto per molti anni macro,vinca la crudeltà che fuor mi serra
del bello ovile ov'io dormi' agnello,nimico ai lupi che li danno guerra;
con altra voce omai, con altro velloritornerò poeta, e in sul fonte
del mio battesmo prenderò 'l cappello …"</poem>}}
|
|}
|}
* Tradução livre, feita pelo editor da primeira versão deste artigo na Wikipédia Lusófona
</center>
É claro que isto nunca aconteceu. Os seus restos mortais mantêm-se em Ravena, não em Florença.
Guido Novello da Polenta, príncipe de Ravena, convidou-o para aí morar, em 1318. Dante aceitou a oferta. Foi em Ravenna que terminou o "Paraíso" e, pouco depois, falecia, talvez de malária, em 1321, com 56 anos, sendo sepultado na Igreja de San Pier Maggiore (mais tarde chamada Igreja de San Francesco). Bernardo Bembo, pretor de Veneza, decidiu honrar os restos mortais do poeta, erigindo-lhe um monumento funerário de acordo com a dignidade de Dante Alighieri.
Na sepultura, constam alguns versos de Bernardo Canaccio, amigo de Dante, onde se refere a Florença com os seguintes termos:
parvi Florentia mater amoris "Florença, mãe de pequeno amor"
Posteriormente, Florença chegou a lamentar o exílio de Dante e fez repetidos pedidos para o retorno de seus restos mortais. Os responsáveis pela guarda de seu corpo em Ravenna se recusaram a cumprir, chegando ao ponto de esconder os ossos em uma parede falsa do mosteiro. No entanto, em 1829, um túmulo foi construído para ele em Florença, na basílica de Santa Cruz. Esse cenotáfio está vazio desde então, com o corpo de Dante remanescendo em Ravenna, longe da terra que ele amava tão ternamente. Em frente do seu túmulo em Florença lê-se Onorate l'altissimo poeta - que pode ser traduzido como "Honra ao poeta mais exaltado". A frase é uma citação do quarto canto do Inferno, representando as boas-vindas de Virgílio quando ele volta entre os grandes poetas antigos passando a eternidade no limbo. A continuação da linha, L'ombra sua torna, ch'era dipartita ("seu espírito, que tinha nos deixado, volta"), é uma lamúria ao túmulo vazio.
Em 2007, a reconstrução do rosto de Dante foi concluída em um projeto colaborativo. Artistas da Universidade de Pisa e engenheiros da Universidade de Bolonha em Forli completaram o modelo revelador, que indicou que as características de Dante eram um pouco diferentes do que se pensava.Benazzi S. (2009). "The face of the poet Dante Alighieri reconstructed by virtual modelling and forensic anthropology techniques". Journal of archaeological science 36 (2):278–283.
Obras
A Divina Comédia escreve uma viagem de Dante através do Inferno, Purgatório, e Paraíso, primeiramente guiado pelo poeta romano Virgílio (símbolo da razão humana), autor do poema épico Eneida, através do Inferno e do Purgatório e, depois, no Paraíso, pela mão da sua amada Beatriz – símbolo da graça divina – com quem, presumem muitos autores, nunca tenha falado e, apenas visto, talvez, de uma a três vezes).
Em termos gerais, os leitores modernos preferem a descrição vívida e psicologicamente interessante para a sensibilidade contemporânea do "Inferno", onde as paixões se agitam de forma angustiada num ambiente quase cinematográfico. Os outros dois livros, o Purgatório e o Paraíso, já exigem outra abordagem por parte do leitor: contêm subtilezas ao nível filosófico e teológico, metáforas dificilmente compreensíveis para a nossa época, requerendo alguma pesquisa e paciência. O Purgatório é considerado, dos três livros, o mais lírico e humano. É interessante verificar que é, também, aquele onde aparecem mais poetas. O Paraíso, o mais pesadamente teológico de todos, está repleto de visões místicas, raiando o êxtase, onde Dante tenta descrever aquilo que, confessa, é incapaz de exprimir (como acontece, aliás, com muitos textos místicos que fazem a história da literatura religiosa). O poema apresenta-se, como se pode ver num dos excertos acima, como "poema sagrado" o que demonstra que Dante leva muito a sério o lado teológico e, quiçá, profético, da sua obra. As crenças populares cristãs adaptaram muito do conceito de Dante sobre o inferno, o purgatório e o paraíso, como por exemplo o fato de cada pecado merecer uma punição distinta no inferno. A Comédia é o maior símbolo literário e síntese do pensamento medieval, vivido pelo autor.
O poema chama-se "Comédia" não por ser engraçado mas porque termina bem (no Paraíso). Era esse o sentido original da palavra Comédia, em contraste com a Tragédia, que terminava, em princípio, mal para os personagens.
Dante escreveu a "Comédia" no seu dialeto local. Ao criar um poema de estrutura épica e com propósitos filosóficos, Dante demonstrava que a língua toscana (muito aproximada do que hoje é conhecido como língua italiana, ou língua vulgar, em oposição ao latim, que se considerava como a língua apropriada para discursos mais sérios) era adequada para o mais elevado tipo de expressão, ao mesmo tempo que estabelecia o Toscano como dialecto padrão para o italiano.
Outras obras importantes do autor são:
De vulgari eloquentia ("Sobre a Língua vulgar", escrita, curiosamente, em latim);
Vita Nuova ("Vida Nova"), onde insere sonetos, comentados, onde narra a história do seu amor por Beatriz. A língua utilizada é a toscana, tanto para os poemas (o que não é grande novidade, já que muitas obras líricas tinham sido escritas em língua vulgar) como para os comentários que, pelo seu carácter mais teórico, já inovam ao prescindir do latim.
Le Rime - "As rimas", também chamadas de "Canzoniere", onde aparecem vários textos de cariz lírico (sonetos, canções, baladas, sextinas…), onde, novamente, canta o amor idealizado (amor platónico), Beatriz, bem como a Ciência, a Filosofia, a Moral (num sentido alargado do termo);
Il Convivio - "O Convívio", de carácter filosófico, é apresentado pelo poeta como um banquete com 14 pratos (simbolizando as canções), acompanhados do pão (os comentários). Faz parte das obras que pretendem dignificar a língua vulgar, tanto mais que Dante chega aqui a citar autores tão importantes como Aristóteles ou São Tomás de Aquino;
De Monarchia - "Monarquia", onde expõe as suas ideias políticas. O livro, escrito em latim possivelmente entre 1310 e 1314, defende a supremacia do poder temporal sobre o poder papal, lembrando que até Jesus Cristo ressaltou que não desejava o poder temporal. Ao final, recomenda que ambos respeitem-se um ao outro, obedecendo àquele "que é o único governador de todas as coisas, espirituais e temporais";
Outras obras, consideradas menores, como "As Epístolas", "Éclogas" e "Quaestio de aqua et terra".
Nota: Quando nos referimos a excertos da Divina Comédia, indicamos primeiro o livro (por exemplo, "Inferno"), depois o Canto, em numeração romana; e, finalmente, em algarismos indo-arábicos, os versos (que aparecem numerados na maior parte das edições da obra).
Reabilitação
Em julho de 2008, o Comitê Cultural de Florença revogou o exílio e concedeu a seus herdeiros, como forma de compensação a mais alta honraria da cidade, Il Fiorino D'Oro. A proposta, aprovada na câmara de vereadores da cidade,foi apresentada pelo vereador Enrico Bosi, do Partido Povo da Liberdade, tendo sido aprovada por apenas um voto acima do quórum mínimo, uma vez que recebeu oposição de muitos vereadores da esquerda, que a consideraram apenas uma forma de beneficiar o único herdeiro vivo de Dante, Peralvise Serego Alighieri, um produtor de vinho da região de Valpolicella.
Imagens de Dante
Dante foi homenageado por grandes artistas ao longo dos séculos. Em 2007, cientistas italianos da Universidade de Bologna recriaram a face de Dante. Crê-se que o modelo seja o mais próximo possível de sua verdadeira aparência. Seu retrato, feito por Sandro Botticelli, foi usado como base junto ao crânio.Neste retrato de Botticelli, Dante esta usando cappuccio, um gorro vermelho trançado com abas nas orelhas. Nesta representação Botticelli acrescentou uma coroa de louros por expertise em artes poéticas. Um símbolo tradicional emprestado da Grécia Antiga e até hoje usando em cerimônias de premiação de poetas laureados e ganhadores do prêmio Nobel.
Ver também
Escritores italianos
Asteróide 2999 Dante, que recebeu o nome em honra do poeta.
A Divina Comédia
Beatrice Portinari
Bibliografia
Étienne Gilson, Dante et la philosophie, Paris, 2002
René Guénon, O Esoterismo de Dante, Lisboa, 1990.
Titus Burckhardt, Because Dante is right, in: The Essential Titus Burckhardt'', Bloomington, EUA, 2004.
Ligações externas
A Divina Comédia - Texto integral - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Inferno - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Purgatório - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Paraíso - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
IntraText Digital Library - Obras de Dante Alighieri -
Obras de Dante Alighieri PDF, TXT, RTF
Políticos da Itália
Naturais de Florença
Filósofos da Itália
Escritores da Itália
Religiosos da Itália
Cristãos da Itália
Sonetistas
Poetas do Dolce Stil Nuovo
Mortes por malária
Escritores cristãos
Poetas cristãos
Poetas da Itália do século XIII
Poetas da Itália do século XIV
Dante Alighieri |
O distrito de Beja é um distrito português, pertencente à província tradicional do Baixo Alentejo. Limita a noroeste com o distrito de Setúbal, a norte com o distrito de Évora, a leste com a província de Huelva (Espanha), a sul com o distrito de Faro e a oeste com o oceano Atlântico. Tem uma área de (o maior distrito português) e uma população residente de (2021). A sede do distrito é a cidade com o mesmo nome.
Subdivisões
Municípios
O distrito compõe-se nos seguintes catorze municípios:
Na atual divisão principal do país, o distrito encontra-se totalmente incluído na região do Alentejo. Relativamente a subregiões, a subregião do Baixo Alentejo inclui 13 concelhos, e o concelho de Odemira pertence à subregião do Alentejo Litoral. Em resumo:
Região Alentejo
Alentejo Litoral
Odemira
Baixo Alentejo
Aljustrel
Almodôvar
Alvito
Barrancos
Beja
Castro Verde
Cuba
Ferreira do Alentejo
Mértola
Moura
Ourique
Serpa
Vidigueira
Cidades
Beja
Moura
Serpa
Vilas
Aljustrel
Almodôvar
Alvito
Amareleja (Moura)
Barrancos
Beringel (Beja)
Castro Verde
Cuba
Ferreira do Alentejo
Mértola
Odemira
Ourique
Pias (Serpa)
São Teotónio (Odemira)
Vidigueira
Vila Nova de Milfontes (Odemira)
Vila Nova de São Bento (Serpa)
Messejana (Aljustrel)
Entradas (Castro Verde)
Casével (Castro Verde)
Panóias (Ourique)
Garvão (Ourique)
População
* População residente; ** População presente (1900-1950)
Geografia física
O distrito de Beja corresponde à metade sul da planície alentejana, irrigada por cursos de água em geral pequenos e que quase secam (ou secam mesmo) no verão, e pontuada aqui e ali por serras baixas e pouco inclinadas.
O principal acidente do distrito é o vale do rio Guadiana, que atravessa de norte para sul a sua parte oriental, separando a planície principal de um território entre o rio e a fronteira espanhola que, conjuntamente com as serras algarvias que limitam o distrito a sul (Serra de Monchique, Serra do Caldeirão e Serra de Espinhaço de Cão) são as áreas mais acidentadas e de maior altitude do distrito: A Serra da Adiça e os primeiros contrafortes da Serra Morena espanhola ultrapassam os de altitude. Para além destas elevações, só a Serra do Cercal, no limite com o distrito de Setúbal perto de Vila Nova de Milfontes e a Serra do Mendro no limite com o distrito de Évora, a norte da Vidigueira são dignas de nota, atingindo e de altitude, respetivamente.
Na rede hidrográfica, para além do Guadiana e dos seus muitos mas pouco caudalosos afluentes, há duas outras bacias hidrográficas relevantes: a do Rio Sado, que nasce no distrito, nas imediações de Ourique e se dirige para o distrito de Setúbal, e a do rio Mira, que nasce na serra do Caldeirão e vai desaguar no Atlântico junto a Vila Nova de Milfontes. Além destas redes, penetram também no distrito partes da bacia hidrográfica do rio Arade, cuja nascente é muito próxima da do Mira mas se dirige para o Algarve e da Ribeira de Seixe, cujo vale serve de fronteira com o Distrito de Faro. Ficam no distrito de Beja algumas barragens de grandes dimensões, nomeadamente a maior do país, a Barragem do Alqueva (Rio Guadiana, partilhada com o distrito de Évora e com Espanha), a barragem do Chança (rio Chança, partilhada com Espanha), barragem de Santa Clara (rio Mira), a barragem do Monte da Rocha (rio Sado) a barragem do Roxo (ribeira do Roxo) e a barragem de Odivelas (ribeira de Odivelas).
A costa é rochosa e estende-se quase em linha recta de norte para sul, sendo os principais acidentes a embocadura do Mira e o Cabo Sardão.
Política
Eleições legislativas
Eleições autárquicas
Abaixo encontra-se uma tabela com o partido pelo qual foram eleitos os presidentes das 14 câmaras do distrito de Beja desde 1976. É de destacar a FEPU/APU/CDU como uma grande força autárquica do distrito, que chegou a ter 13 das 14 câmaras e foi a primeira força durante os primeiros 25 anos de eleições autárquicas. A partir do início do milénio, no entanto, o PS claramente superou os resultados dos comunistas e verdes, tendo atualmente 10 das 14 câmaras. Destaca-se, por último, a existência do bastião comunista de Serpa, e também a câmara de Almodôvar, por ser a única nunca pertencente às coligações lideradas pelo PCP.
Legenda:
FEPU - Frente Eleitoral Povo Unido
APU - Aliança Povo Unido
CDU - Coligação Democrática Unitária
PS - Partido Socialista
PSD - Partido Social Democrata
IND - Grupo de Cidadãos
Património
Lista de património edificado no distrito de Beja |
O distrito de Lisboa é um distrito português, que limita a norte com o distrito de Leiria, a leste com o distrito de Santarém, a sul com o distrito de Setúbal e a oeste com o oceano Atlântico. O distrito tem uma área de e é assim o 16.º maior distrito português. A população residente era de (2021). A capital deste distrito é a cidade de Lisboa.
População
Segundo as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística em 2021, residiam no distrito de Lisboa , distribuídos pelos dezasseis concelhos, sendo os municípios da Área Metropolitana de Lisboa os mais populosos. A Grande Lisboa concentra uma média de 2 milhões de habitantes.
A estrutura da população mostra que 56% tem entre 15 e 64 anos, sendo o peso idêntico entre a população entre os 0 e os 14 e a com mais de 65 anos (15% e 17 % respectivamente).
Em termos evolutivos, a população entre os anos de 1980 e 1999 manteve-se estável com mais ou menos 2 milhões de habitantes. Desde o ano de 1999 até o ano de 2005 a população do distrito cresceu em cerca de 200 mi habitantes. Em 2005, o distrito de Lisboa registou uma taxa de natalidade de 11,6 por mil e uma taxa de mortalidade de 2,6 por mil. A população encontra-se em renovação.
Subdivisões
Municípios
O distrito de Lisboa subdivide-se nos seguintes dezasseis municípios:
A divisão do distrito de Lisboa é a seguinte:
Lezíria do Tejo
Azambuja
Oeste
Alenquer
Arruda dos Vinhos
Cadaval
Lourinhã
Sobral de Monte Agraço
Torres Vedras
Área Metropolitana de Lisboa
Amadora
Cascais
Lisboa
Loures
Mafra
Odivelas
Oeiras
Sintra
Vila Franca de Xira
Economia
A estrutura empresarial que domina o distrito é o setor terciário (79%). O setor primário representa 1% da economia, enquanto o setor secundário representa 19%.
Turismo
Património
Lista de património edificado no distrito de Lisboa
Governadores Civis
António de Gamboa e Liz (18 de Março de 1842 a 9 de Fevereiro de 1844)
José Bernardo da Silva Cabral, 1.º Conde de Cabral (9 de Fevereiro de 1844 a 24 de Julho de 1845)
Joaquim José Dias Lopes de Vasconcelos (30 de Setembro de 1845 a 12 de Maio de 1846)
D. José Trasimundo Mascarenhas Barreto, 7.º Marquês de Fronteira, 8.º Conde da Torre, 8.º Conde de Coculim, Representante do Título de Marquês de Alorna, 10.º Conde de Assumar (12 de Maio de 1846 a 22 de Maio de 1846)
Policarpo José Machado, 1.º Visconde de Benagazil (22 de Maio de 1846 a 2 de Julho de 1846)
José Joaquim dos Reis de Vasconcelos (2 de Julho de 1846 a 6 de Outubro de 1846)
D. José Trasimundo Mascarenhas Barreto, 7.º Marquês de Fronteira, 8.º Conde da Torre, 8.º Conde de Coculim, Representante do Título de Marquês de Alorna, 10.º Conde de Assumar (6 de Outubro de 1846 a 15 de Novembro de 1847)
José Joaquim Januário Lapa, 1.º Barão e 1.º Visconde de Vila Nova de Ourém (15 de Novembro de 1847 a 29 de Março de 1848)
D. José Trasimundo Mascarenhas Barreto, 7.º Marquês de Fronteira, 8.º Conde da Torre, 8.º Conde de Coculim, Representante do Título de Marquês de Alorna, 10.º Conde de Assumar (29 de Março de 1848 a 1 de Maio de 1851)
Luís Maria de Melo Breyner Teles da Silva, 6.º Senhor, 3.º Barão, 3.º Visconde e 2.º Conde de Sobral jure uxoris (17 de Maio de 1851 a 24 de Agosto de 1852)
João de Almada Quadros Sousa e Lancastre, 1.º Barão e 1.º Conde de Tavarede (24 de Agosto de 1852) (faleceu)
João de Saldanha da Gama, 8.º Conde da Ponte (25 de Dezembro de 1853 a 28 de Agosto de 1856)
Luís Maria de Melo Breyner Teles da Silva, 6.º Senhor, 3.º Barão, 2.º Visconde e 2.º Conde de Sobral jure uxoris (28 de Agosto de 1856 a 2 de Agosto de 1858)
Diogo António Palmeiro Pinto (5 de Agosto de 1858 a 19 de Março de 1859)
António de Morais Carvalho (19 de Março de 1859 a 25 de Janeiro de 1860)
D. João Inácio Francisco de Paula de Noronha, 2.º Conde de Parati (16 de Fevereiro de 1860 a 1 de Setembro de 1860)
António Cabral de Sá Nogueira (1 de Setembro de 1860 a 4 de Abril de 1861)
Jerónimo da Silva Maldonado de Eça (4 de Abril de 1861 a 19 de Março de 1862)
D. António Maria José de Melo da Silva César e Meneses, 8.º Conde e 3.º Marquês de Sabugosa, 10.º Conde de São Lourenço, 10.º Alferes Mor do Reino (19 de Março de 1862 a 9 de Março de 1864)
Geraldo José Braamcamp de Almeida Castelo-Branco (15 de Fevereiro de 1865 a 20 de Maio de 1865)
Geraldo José Braamcamp de Almeida Castelo-Branco (9 de Setembro de 1865 a 12 de Setembro de 1866)
D. Rodrigo José de Menezes de Eça, 3.º Conde de Cavaleiros (12 de Setembro de 1866 a 3 de Janeiro de 1868)
Manuel da Cunha Paredes (17 de Janeiro de 1868 a 14 de Julho de 1868)
D. António Maria José de Melo da Silva César e Meneses, 8.º Conde e 3.º Marquês de Sabugosa, 10.º Conde de São Lourenço, 10.º Alferes Mor do Reino (24 de Julho de 1868 a 13 de Agosto de 1869)
D. João Pedro da Câmara (13 de Agosto de 1869 a 19 de Maio de 1870)
D. João José de Lancastre Basto Baharem, 4.º Conde da Lousã (14 de Junho de 1870 a 30 de Agosto de 1870)
D. António Maria José de Melo da Silva César e Meneses, 8.º Conde e 3.º Marquês de Sabugosa, 10.º Conde de São Lourenço, 10.º Alferes Mor do Reino (30 de Agosto de 1870 a 5 de Setembro de 1870)
D. Luís Maria de Carvalho Daun e Lorena, 1.º Marquês de Pomares (7 de Setembro de 1870 a 6 de Fevereiro de 1871)
Sebastião José de Carvalho, 1.º Visconde de Chanceleiros (6 de Fevereiro de 1871 a 1 de Março de 1871)
Augusto César Cau da Costa (4 de Outubro de 1871 a 19 de Outubro de 1876)
Henrique da Gama Barros (19 de Outubro de 1876 a 15 de Março de 1877)
Guilhermino Augusto de Barros (11 de Maio de 1877 a 20 de Junho de 1877)
Henrique da Gama Barros (31 de Janeiro de 1878 a 3 de Janeiro de 1879)
Luís da Câmara Leme (3 de Janeiro de 1879 a 3 de Junho de 1879)
Fausto de Queirós Guedes, 2.º Visconde de Valmor (3 de Junho de 1879 a 23 de Outubro de 1879)
D. Luís Maria de Carvalho Daun e Lorena, 1.º Marquês de Pomares (23 de Outubro de 1879 a 12 de Outubro de 1880)
Vicente Rodrigues Monteiro (12 de Outubro de 1880 a 23 de Março de 1881)
António Maria Barreiros Arrobas (30 de Março de 1881 a 9 de Junho de 1882)
Caetano Alexandre de Almeida e Albuquerque (9 de Junho de 1882 a 15 de Outubro de 1883)
Joaquim Leite de Carvalho (20 de Outubro de 1884 a 18 de Fevereiro de 1886)
Vicente Rodrigues Monteiro (27 de Fevereiro de 1886 a 9 de Dezembro de 1886)
D. Luís Maria de Carvalho Daun e Lorena, 1.º Marquês de Pomares (9 de Dezembro de 1886 a 13 de Dezembro de 1888)
Carlos José de Oliveira (13 de Dezembro de 1888 a 13 de Janeiro de 1890)
Carlos Eugénio Correia da Silva, 1.º Visconde e 1.º Conde de Paço de Arcos (16 de Janeiro de 1890 a 29 de Setembro de 1890)
Eduardo José Seguro (29 de Setembro de 1890 a 4 de Fevereiro de 1897)
João de Alarcão Velasques Sarmento Osório (11 de Fevereiro de 1897 a 25 de Junho de 1900)
José de Azevedo Castelo-Branco (25 de Junho de 1900 a 7 de Dezembro de 1901)
Manuel Augusto Pereira e Cunha (7 de Dezembro de 1901 a 18 de Outubro de 1904)
João de Alarcão Velasques Sarmento Osório (22 de Outubro de 1904 a 4 de Maio de 1905)
D. Jorge José de Melo, 2.º Conde do Cartaxo (4 de Maio de 1905 a 20 de Março de 1906)
José Gonçalves Guimarães Serôdio, 1.º Conde de Sabrosa (20 de Março de 1906 a 17 de Maio de 1906)
Eduardo Segurado (21 de Maio de 1906 a 9 de Fevereiro de 1908)
João António de Azevedo Coutinho Fragoso de Sequeira (9 de Fevereiro de 1908 a 16 de Abril de 1909)
Francisco Cabral Metelo (16 de Abril de 1909 a 6 de Maio de 1909)
José Coelho da Mota Prego (19 de Maio de 1909 a 21 de Dezembro de 1909)
António Duarte Ramada Curto (11 de Janeiro de 1910 a 25 de Junho de 1910)
Alfredo Mendes de Magalhães Ramalho (27 de Junho de 1910 a 5 de Outubro de 1910)
Francisco Eusébio Lourenço Leão (5 de Outubro de 1910 a 23 de Fevereiro de 1912)
Manuel Nunes de Oliveira (23 de Fevereiro de 1912 a 11 de Janeiro de 1913)
Daniel José Rodrigues (16 de Janeiro de 1913 a 14 de Fevereiro de 1914)
António Cassiano Pereira de Sousa Neves (14 de Fevereiro de 1914 a 25 de Junho de 1914)
António Teixeira Júdice da Costa (25 de Julho de 1914 a 18 de Dezembro de 1914)
Francisco Correia de Herédia, 1.º Visconde da Ribeira Brava (18 de Dezembro de 1914 a 25 de Janeiro de 1915)
António Cassiano Pereira de Sousa Neves (25 de Janeiro de 1915 a 13 de Maio de 1915)
Ernesto Augusto da Cunha Ferraz (13 de Maio de 1915 a 19 de Maio de 1915)
Mariano Martins (19 de Maio de 1915 a 3 de Dezembro de 1915)
José de Oliveira da Costa Gonçalves (3 de Dezembro de 1915 a 17 de Abril de 1916)
Sesinando Raimundo das Chagas Franco (17 de Abril de 1916 a 4 de Outubro de 1916)
Domingos Lopes Fidalgo (4 de Outubro de 1916 a 30 de Abril de 1917)
Francisco Xavier da Silva (30 de Abril de 1917 a 9 de Agosto de 1917)
José de Oliveira da Costa Gonçalves (6 de Setembro de 1917 a 13 de Dezembro de 1917)
Henrique Ventura Forbes de Bessa (13 de Dezembro de 1917 a 8 de Março de 1918)
António Miguel de Sousa Fernandes (8 de Março de 1918 a 23 de Fevereiro de 1919)
António Luís de Gouveia Prestes Salgueiro (23 de Fevereiro de 1919 a 25 de Março de 1920)
Adolfo Augusto de Oliveira Coutinho (25 de Março de 1920 a 28 de Julho de 1920)
Alberto Lello Portela (28 de Julho de 1920 a 20 de Outubro de 1921)
José Falcão Ribeiro (20 de Outubro de 1921 a 21 de Dezembro de 1921)
Armando Pereira de Castro Agatão Lança (21 de Dezembro de 1921 a 9 de Fevereiro de 1922)
Viriato Sertório dos Santos Lobo (9 de Fevereiro de 1922 a 16 de Novembro de 1923)
António Gonçalves Videira (16 de Novembro de 1923 a 17 de Dezembro de 1923)
Pedro Joaquim Fazenda (19 de Dezembro de 1923 a 19 de Janeiro de 1924)
Filipe da Silva Mendes (19 de Janeiro de 1924 a 19 de Janeiro de 1926)
Raúl Barbosa Viana (19 de Janeiro de 1926 a 11 de Junho de 1926)
João Luís de Moura (11 de Junho de 1926 a 21 de Julho de 1937) (faleceu)
Artur Leal Lobo da Costa (27 de Julho de 1937 a 9 de Outubro de 1944)
Nuno Frederico de Brion (9 de Outubro de 1944 a 5 de Março de 1947)
Mário Lampreia de Gusmão Madeira (5 de Março de 1947 a 9 de Fevereiro de 1959)
António Henriques da Silva Osório Vaz (9 de Fevereiro de 1959 a 10 de Dezembro de 1968)
Afonso Diego Marchueta (11 de Dezembro de 1968 a 25 de Abril de 1974)
Mário Jorge Bruchelas (27 de Agosto de 1974 a 18 de Outubro de 1975)
José Manuel Cipriano Mouzinho de Albuquerque Duarte (18 de Outubro de 1975 a 14 de Fevereiro de 1980)
António Filipe Vieira Neiva Correia (14 de Fevereiro de 1980 a 25 de Fevereiro de 1983)
Afonso de Sousa Freire de Moura Guedes (11 de Julho de 1983 a 16 de Dezembro de 1985)
Afonso de Sousa Freire de Moura Guedes (16 de Dezembro de 1985 a 4 de Janeiro de 1988)
Afonso de Sousa Freire de Moura Guedes (4 de Janeiro de 1988 a 16 de Dezembro de 1991)
Maria Adelaide Gonçalves Carvalho Pires Lisboa (16 de Dezembro de 1991 a 16 de Novembro de 1995)
Alberto Manuel Avelino (16 de Novembro de 1995 a 11 de Novembro de 1999)
Alberto Manuel Avelino (11 de Novembro de 1999 a 14 de Maio de 2002)
Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos Caeiro (14 de Maio de 2002 a 12 de Setembro de 2003)
José Lino Fonseca Ramos (12 de Setembro de 2003 a 5 de Abril de 2005)
Maria Adelaide Torradinhas Rocha (5 de Abril de 2005 a 26 de Fevereiro de 2008)
Maria Dalila Correia Araújo Teixeira (26 de Fevereiro de 2008 a 1 de Setembro de 2009)
Jorge Monteiro Andrew (1 de Setembro de 2009 a 27 de Novembro de 2009)
António Bento da Silva Galamba (27 de Novembro de 2009 a 30 de Junho de 2011)
Política
Eleições legislativas
Eleições autárquicas
Abaixo encontra-se uma tabela com o partido pelo qual foram eleitos os presidentes das 16 câmaras do distrito de Lisboa desde 1976 (excetuando, obviamente, Odivelas, dado que o concelho apenas se formou em 1998). Vê-se um distrito com bastante heterogeneidade de partidos, sem uma evidente primeira força política, especialmente nas eleições de 1979, 1982 e 1985, apesar de, mais recentemente o PS se destacar bastante. Realça-se também que, entre 1989 e 2001, a câmara de Lisboa foi governada por uma coligação entre o PS e o PCP-PEV (envolvendo também outros partidos), algo único na história eleitoral portuguesa. Por último, nota-se a existência de 3 bastiões, em Alenquer, Lourinhã e Torres Vedras, todos do PS (Odivelas não se enquadra na definição de bastião).
Legenda dos principais partidos:
FEPU - Frente Eleitoral Povo Unido
APU - Aliança Povo Unido
CDU - Coligação Democrática Unitária
PS - Partido Socialista
PSD - Partido Social Democrata
CDS - Centro Democrático Social
AD - Aliança Democrática
PSD-CDS - Coligação Partido Social Democrata - Centro Democrático Social
Ligações externas
Lista completa de Governadores Civis (1835–2008) |
Divisa Alegre é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, emancipado em 1995. Está localizado no norte do estado, na microrregião de Salinas e compõe com outros municípios o Alto Rio Pardo, próximo à divisa de Minas Gerais e Bahia.
História
O município foi criado em 1995 e instalado em 1 de janeiro de 1997.
Instituições de ensino
Escola Estadual de Divisa Alegre
Escola Municipal de Divisa Alegre
Escola Municipal Beija flor
Geografia
Coordenadas:
Latitude: -15.7261, -
Longitude: -41.3385
15° 43′ 34″ Sul, 41° 20′ 19″ Oeste.
Superfície
11.780 hectares
117,80 km² (45,48 sq mi)
Altitude:960 m
Clima:semiárido.
Demografia
Número de habitantes:6.702
Densidade demográfica:49,9(hab./km²)
Estrutura urbana
O município é localizado as margens da rodovia BR-116 trecho esse conhecido como Rio-Bahia pois no início de sua pavimentação em meados dos anos 60 ia do Rio de Janeiro à Bahia, hoje vai de Jaguarão, no estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai até a cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, ela liga Divisa Alegre ao norte com o estado da Bahia, e ao sul a primeira cidade onde passa a mesma rodovia é Medina no mesmo estado de Minas Gerais, a cidade vizinha mais próxima é Águas Vermelhas.
Igrejas evangélicas
Igreja Universal do Reino de Deus
Igreja do Evangelho Quadrangular
Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil
Igreja Assembléia de Deus - Madureira
Igreja Assembleia de Deus - Missão
Igreja Assembleia de Deus - Cadeeso
Igreja Batista Volta de Jesus Cristo
Igreja Adventista do Sétimo Dia
Congregação Cristã no Brasil
Igreja Batista Independente Filafélfia
Comunidade Petencostal Avivamento Bíblico
Igreja Tabernáculo da Bênção de Deus
Igreja Assembleia de Deus- Nova Esperança
Igreja católica
Igreja de N. Sra. do Carmo, localizada no Centro da cidade é a padroeira de Divisa Alegre. Todos os anos, no mês de julho é realizada uma festa.
Ligações externas
Prefeitura de Divisa Alegre
Câmara municipal de Divisa Alegre
Divisa Alegre no IBGE Cidades
Municípios de Minas Gerais
Fundações em Minas Gerais em 1995 |
Afonso III (Coimbra, – Alcobaça, ), apelidado de o Bolonhês por seu casamento com Matilde II, Condessa de Bolonha, foi o Rei de Portugal de 1248 até sua morte, e também o primeiro monarca português a utilizar definitivamente o título de Rei do Algarve. Além disso, ele foi Conde de Bolonha de 1238 até 1253 em direito de sua esposa. Era o segundo filho do rei Afonso II e sua esposa Urraca de Castela, tendo ascendido ao trono depois de depôr seu irmão mais velho Sancho II.
Vida
D. Afonso III pelo seu pai, é bisneto de Afonso Henriques e de Mafalda de Sabóia. Pela sua mãe, é bisneto de Henrique II de Inglaterra e de Leonor de Aquitânia.
Como segundo filho, D. Afonso não deveria herdar o trono destinado a Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Matilde II, Condessa de Bolonha em 1235, tornando-se assim conde jure uxoris de Bolonha, onde servia como um dirigente militar, combatendo em nome do Rei Luís IX de França e seu primo, pois as mães são irmãs.
Foi o quinto rei de Portugal, sucedendo ao irmão, em 1248, depois de uma guerra civil que opôs os dois irmãos. Foi um reinado de reorganização administrativa. A sua política foi continuada pelo filho, o rei Dinis.
Neste reinado foi conquistado definitivamente o Algarve em 1249 e realizadas cortes com representantes dos concelhos pela primeira vez, em 1254.
Enquanto foi rei teve conflitos com o clero e refreou os abusos da nobreza.
Casou por duas vezes, não tendo filhos do primeiro, casou com a filha do rei de Castela de quem teve vários filhos. O primeiro varão, D. Dinis, foi rei de Portugal, com 17 anos.
Subida ao trono
Em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV nesse mesmo ano despacha a Bula Inter alia desiderabilia que prepara a deposição de facto do monarca.
O papado, através de duas Breves, ainda aconselha Afonso, Conde de Bolonha, a partir para a Terra Santa em Cruzada e também que passe a estar na Hispânia, fazendo aí guerra ao Islão. Mas a 24 de julho, a Bula Grandi non immerito depõe oficialmente D. Sancho II do governo do reino, e D. Afonso torna-se regente.
Os fidalgos levantam-se contra D. Sancho e D. Afonso cede a todas as pretensões do clero no "Juramento de Paris", uma assembleia de prelados e nobres portugueses, jurando que guardaria todos os privilégios, foros e costumes dos municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino. Abdicou imediatamente das suas terras francesas e marchou sobre Portugal, chegando a Lisboa nos últimos dias do ano, onde se fez coroar rei em janeiro de 1248 após o exílio e morte de D. Sancho II em Toledo.
Até à morte de D. Sancho e a sua consequente coroação, D. Afonso apenas usou os títulos de Visitador, Curador e Defensor do Reino.
É desta época que a bandeira passa a usar faixa com os castelos, para se distinguir da bandeira real. A bandeira de D. Afonso passou a ser a nova bandeira real. A nova bandeira mostrava o apoio que a tia materna, Branca de Castela, rainha de França deu ao sobrinho.
Esta guerra durou de 1245 a 1247 e acabou com o clima de anarquia que existia no reinado anterior.
Reinado
Para aceder ao trono, D. Afonso abdicou de Bolonha e repudiou Matilde para casar com Beatriz de Castela. Decidido a não cometer os mesmos erros do irmão, o novo rei prestou especial atenção à classe média de mercadores e pequenos proprietários, ouvindo suas queixas. Por este procedimento, D. Afonso III ficou conhecido também como o pai do "Estado Português", distribuindo alcaides pelos castelos e juízes pelas diferentes vilas e terras. O objectivo era a implantação de um poder legal com o qual todos os habitantes do Reino português mantivessem uma relação de igualdade.
O avanço para sul à custa dos mouros terminou em 1249 com a conquista definitiva do Algarve.
Em 1254, na cidade de Leiria convocou a primeira reunião das Cortes, a assembleia geral do reino, com representantes de todos os espectros da sociedade. D. Afonso preparou legislação que restringia a possibilidade das classes altas cometerem abusos sobre a população menos favorecida e concedeu inúmeros privilégios à Igreja. Recordado como excelente administrador, D. Afonso III organizou a administração pública, fundou várias vilas e concedeu o privilégio de cidade através do édito de várias cartas de foral.
Em 1255, transferiu a capital do Reino de Portugal de Coimbra para Lisboa. Coimbra tinha sido a capital desde D. Afonso Henriques. O rei gostou da cidade e adquiriu casas, melhorando as condições de residência.
Foram por sua ordem feitas as Inquirições Gerais, iniciadas em 1258, como forma do rei controlar, não só o grande poder da Nobreza, mas também para saber se lhe estavam a ser usurpados bens que, por direito, pertenciam à Coroa.
Foi com este rei que Portugal atinge a sua plena independência. A partir de 1270, o rei negociou com Afonso X de Castela a abolição perpétua de ajuda militar que Portugal ainda devia ao reino de Leão, estando este agora unido ao reino de Castela, desde 1230.
O reinado foi uma época de progresso social e aumento das áreas cultivadas. Aumenta a influência dos juristas, defensores do direito romano.
Reconquista
Com o trono seguro e a situação interna pacificada, D. Afonso voltou sua atenção para os propósitos da Reconquista do Sul da Península Ibérica às comunidades muçulmanas. Durante o seu reinado, Faro foi tomada com sucesso em 1249 e o Algarve incorporado no reino de Portugal. Passa a usar o título de Rei de Portugal e do Algarve.
Apesar desta conquista, a guerra contra os mouros continuou no mar.
Após esta campanha de sucesso, D. Afonso teve de enfrentar um conflito diplomático com Castela, que considerava que o Algarve lhe pertencia. Seguiu-se um período de guerra entre os dois países, até que, em 1267, foi assinado um tratado em Badajoz que determina a fronteira no Guadiana desde a confluência do rio Caia até à foz, a fronteira luso-castelhana.
Segundas núpcias
Em 1253, o rei desposou D. Beatriz, popularmente conhecida por D. Brites, filha de D. Afonso X de Castela, O Sábio. Desde logo isto constituiu polémica pois D. Afonso era já casado com Matilde II de Bolonha. A nova rainha era neta de Fernando III de Castela. Este rei era primo coirmão de D. Afonso, através da mãe, D. Urraca.
O Papa Alexandre IV respondeu a uma queixa de D. Matilde, ordenando ao rei D. Afonso que abandone D. Beatriz em respeito ao seu matrimónio com D. Matilde. O rei não obedeceu, mas procurou ganhar tempo neste assunto delicado, e o problema ficou resolvido com a morte de D. Matilde em 1258. O infante, D. Dinis, nascido durante a situação irregular dos pais, foi então legitimado em 1263.
O casamento funcionou como uma aliança que pôs termo à luta entre Portugal e Castela pelo Reino do Algarve. Também resultou em mais riqueza para Portugal quando D. Beatriz, já após a morte do rei, recebe do seu pai, Afonso X, uma bela região a Este do Rio Guadiana, onde se incluíam as vilas de Moura, Serpa, Noudar, Mourão e Niebla. Tamanha dádiva deveu-se ao apoio que D. Beatriz lhe prestou durante o seu exílio na cidade de Sevilha.
Excomunhão do rei e do reino
No final da sua vida, viu-se envolvido em conflitos com a Igreja, tendo sido excomungado em 1268 pelo arcebispo de Braga e pelos bispos de Coimbra e Porto, para além do próprio Papa Clemente IV, à semelhança dos reis que o precederam. O clero havia aprovado um libelo contendo quarenta e três queixas contra o monarca, entre as quais se achavam o impedimento aos bispos de cobrarem os dízimos, utilização dos fundos destinados à construção dos templos, obrigação dos clérigos a trabalhar nas obras das muralhas das vilas, prisão e execução de clérigos sem autorização dos bispos, ameaças de morte ao arcebispo e aos bispos e ainda, a nomeação de judeus para cargos de grande importância. A agravar ainda mais as coisas, este rei favoreceu monetariamente ordens religiosas mendicantes, como franciscanos e dominicanos, sendo acusado pelo clero de apoiar espiritualidades estrangeiradas. O grande conflito com o clero também se deve ao facto do rei ter legislado no sentido de equilibrar o poder municipal em prejuízo do poder do clero e da nobreza.
O rei, que era muito querido pelos portugueses por decisões como a da abolição da anúduva (imposto do trabalho braçal gratuito, que obrigava as gentes a trabalhar na construção e reparação de castelos e palácios, muros, fossos e outras obras militares), recebeu apoio das cortes de Santarém em Janeiro de 1274, onde foi nomeada uma comissão para fazer um inquérito às acusações que os bispos faziam ao rei. A comissão, composta maioritariamente por adeptos do rei, absolveu-o. O Papa Gregório X, porém, não aceitou a resolução tomada nas cortes de Santarém e mandou que se excomungasse o rei e fosse lançado interdito sobre o reino em 1277.
À sua morte, em 1279, D. Afonso III jurou obediência à Igreja e a restituição de tudo o que lhe tinha tirado. Face a esta atitude do rei, o abade de Alcobaça levantou-lhe a excomunhão e o rei foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça.
Títulos, estilos, e honrarias
Títulos e estilos
5 de Maio de 1210 – Maio de 1239: "O Infante D. Afonso de Portugal"
Maio de 1239 – 24 de Julho de 1245: "O Infante D. Afonso de Portugal, Conde de Bolonha"
24 de Julho de 1245 – 4 de Janeiro de 1248: "D. Afonso de Portugal, Visitador, Curador e Defensor do Reino"
4 de Janeiro de 1248 – 16 de Fevereiro de 1279: "Sua Mercê, o Rei"
O estilo oficial de D. Afonso III enquanto Rei de Portugal: "Pela Graça de Deus, D. Afonso III, Rei de Portugal e Conde de Bolonha". Em 1253, por suspeitar da sua esterilidade, D. Afonso repudia a esposa, D. Matilde, e abandona o título de Conde de Bolonha, passando a usar apenas o título de "Rei de Portugal". Após a conquista definitiva do Algarve e a disputa quanto ao domínio algarvio com Castela, o Tratado de Badajoz reconhece a D. Afonso III o senhorio do Algarve, evoluindo a sua titulatura régia para: "Pela Graça de Deus, D. Afonso III, Rei de Portugal e do Algarve".
Genealogia
Descendência
Primeira esposa, Matilde II de Bolonha, sem descendência.
Segunda mulher, infanta Beatriz de Castela (1242-1303)ː
D. Branca de Portugal (1259–1321), senhora do Mosteiro de Las Huelgas em Burgos;
D. Dinis I de Portugal (1261-1325), sucessor do pai no trono, casou-se com a rainha Santa Isabel de Aragão;
D. Afonso de Portugal (8 de fevereiro de 1263–2 de novembro de 1312), senhor de Portalegre, casou-se com a infanta Violante Manuel, senhora de Elche e Medellín, filha do infante Manuel de Castela e de Constança de Aragão;
D. Sancha de Portugal (2 de fevereiro de 1264-Sevilha 1302);
D. Maria de Portugal (1265-c. 1266), que faleceu antes de completar um ano;
D. Vicente de Portugal (22 de janeiro de 1268–1268), faleceu no mesmo ano de seu nascimento, segundo a inscrição no seu túmulo no Mosteiro de Alcobaça;
D. Fernando de Portugal, segundo Figanière, morreu em 1262 e foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça, embora, "a única vez que é referido na documentação reporta-se ao ano 1269, pelo que terá nascido e morrido no mesmo ano".
Em algumas crónicas antigas, menciona-se outra filha, Constança, no entanto, não há provas da sua existência segundo Figanière. Esta suposta filha, segundo outros historiadores, morreu muito nova em Sevilha e foi sepultada no Mosteiro de Alcobaça. No entanto, "esta referência deve (...) aplicar-se à infanta D. Sancha (que deve), embora com diferentes nomes, ter sido uma única infanta".
Filhos naturais
Havidos de Madragana Ben Aloandro, depois chamada Mor Afonso, filha do último alcaide do período mouro de Faro, o moçárabe Aloandro Ben Bakr:
D. Martim Afonso Chichorro; (1250-1313);
D. Urraca Afonso de Portugal (c. 1260- depois de 1290) casada por duas vezes, a primeira em 1265 com Pedro Anes Gago de Riba de Vizela e a segunda em 1275 com João Mendes de Briteiros, filho de Mem Rodrigues de Briteiros.
Havido de Maria Peres de Enxara:
D. Afonso Dinis (1260-1310).
Havida em Elvira Esteves:
D. Leonor Afonso (m. 1259), freira no mosteiro de Santa Clara em Santarém.
De outras senhoras:
D. Fernando Afonso, cavaleiro hospitalário;
D. Gil Afonso (1250-1346), cavaleiro hospitalário;
D. Rodrigo Afonso (1258-1272), prior de Santarém;
D. Leonor Afonso (n. 1250), senhora de Pedrógão e Neiva, casada por duas vezes, a primeira com D. Estevão Anes de Sousa, senhor de Pedrógão e a segunda em Santarém em 1273 com D. Gonçalo Garcia de Sousa filho de Garcia Mendes II de Sousa;
D. Urraca Afonso (m. 4 de novembro de 1281), viveu no mosteiro de Lorvão.
Ancestrais
Ver também
Árvore genealógica dos reis de Portugal
Bibliografia
Ligações externas
D. Afonso III, Portal da História, Manuel Amaral 2000-2008
|-
! colspan="3" style="background: #FBEC5D;" | Afonso III de PortugalCasa de BorgonhaRamo da Casa de Capeto5 de maio de 1210 – 16 de fevereiro de 1279
|-
|width="30%" align="center" | Precedido porSancho II
|width="40%" style="text-align: center;"|Rei de Portugal
|width="30%" align="center" rowspan=2| Sucedido porDinis I
|-
|width="30%" align="center" | Novo título
|width="40%" style="text-align: center;"|Rei do Algarve1249 – 16 de fevereiro de 1279
|-
|width="30%" align="center" | Precedido porMatilde II(sozinha)
|width="40%" style="text-align: center;"|Conde de Bolonha1238 a 1253(com Matilde II)
|width="30%" align="center" | Sucedido porMatilde II(sozinha)
|}
Reis de Portugal
Reis do Algarve
Condes de Bolonha
Regentes de Portugal
Casa da Borgonha (Portugal)
Monarcas católicos romanos
Pessoas com excomunhão convertida
Naturais de Coimbra
Sepultados no Mosteiro de Alcobaça |
O período clássico foi uma era da música clássica entre aproximadamente 1730 e 1820.
O período clássico situa-se entre os períodos barroco e romântico A música clássica tem uma textura mais clara do que a música barroca e é menos complexa. É principalmente homofônico, usando uma linha melódica clara sobre um acompanhamento de acordes subordinados, mas o contraponto não foi de forma alguma esquecido, especialmente mais tarde no período. Também faz uso do estilo galant que enfatiza a elegância leve em lugar da seriedade digna e grandiosidade impressionante do barroco. A variedade e o contraste dentro de uma peça tornaram-se mais pronunciados do que antes e a orquestra aumentou em tamanho, alcance e poder.
O cravo foi substituído como instrumento de teclado principal pelo piano. Ao contrário do cravo, que dedilha as cordas com penas, os pianos batem nas cordas com martelos revestidos de couro quando as teclas são pressionadas, o que permite ao músico tocar mais alto ou mais suave (daí o nome original "fortepiano"; em contraste, a força com que um executante toca as teclas do cravo não altera o som. A música instrumental foi considerada importante pelos compositores do período clássico. Os principais tipos de música instrumental foram sonata, trio, quarteto de cordas, quinteto, sinfonia (executado por uma orquestra) e o concerto solo, que apresentava um músico virtuoso tocando uma obra solo para violino, piano, flauta ou outro instrumento, acompanhado por uma orquestra. A música vocal, como canções para um cantor e piano (nomeadamente a obra de Schubert), obras corais e ópera (uma obra dramática encenada para cantores e orquestra) também foram importantes durante este período.
Os compositores mais conhecidos desse período são Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven e Franz Schubert; outros nomes notáveis incluem Carl Philipp Emanuel Bach, Johann Christian Bach, Luigi Boccherini, Domenico Cimarosa, Muzio Clementi, Christoph Willibald Gluck, André Grétry, Pierre-Alexandre Monsigny, Leopold Mozart, Giovanni Paisiello, François-André Danican Philidor, Niccolò Piccinni,Antonio Salieri, Mauro Giuliani, Christian Cannabich e o Chevalier de Saint-Georges. Beethoven é considerado um compositor romântico ou um compositor do período clássico que fez parte da transição para a era romântica. Schubert também é uma figura de transição, assim como Johann Nepomuk Hummel, Luigi Cherubini, Gaspare Spontini, Gioachino Rossini, Carl Maria von Weber, Jan Ladislav Dussek e Niccolò Paganini. O período é às vezes referido como a era do Classicismo vienense (em alemão: Wiener Klassik), já que Gluck, Haydn, Salieri, Mozart, Beethoven e Schubert trabalharam em Viena.
Classicismo
Em meados do século XVII, a Europa começou a se mover em direção a um novo estilo de arquitetura, literatura e artes, geralmente conhecido como Classicismo. Este estilo procurou emular os ideais da Antiguidade Clássica, especialmente os da Grécia Clássica. A música clássica usava formalidade e ênfase na ordem e hierarquia, e um estilo "mais claro" e "mais limpo" que usava divisões mais claras entre as partes (notavelmente uma melodia única e clara acompanhada por acordes), contrastes mais brilhantes e "cores de tons" (alcançado pelo uso de mudanças e modulações dinâmicas para mais chaves). Em contraste com a música rica em camadas da era barroca, a música clássica moveu-se para a simplicidade ao invés da complexidade. Além disso, o tamanho típico das orquestras começou a aumentar, dando às orquestras um som mais poderoso.
O notável desenvolvimento de idéias na " filosofia natural " já havia se estabelecido na consciência pública. Em particular, a física de Newton foi tomada como um paradigma: as estruturas deveriam ser bem fundamentadas em axiomas e ser bem articuladas e ordenadas. Esse gosto pela clareza estrutural começou a afetar a música, que se afastou da polifonia em camadas do período barroco para um estilo conhecido como homofonia, em que a melodia é tocada sobre uma harmonia subordinada. Este movimento significava que acordes tornou-se uma característica muito mais predominante da música, mesmo que interrompesse a suavidade melódica de uma única parte. Como resultado, a estrutura tonal de uma peça musical tornou - se mais audível.
O novo estilo também foi incentivado por mudanças na ordem econômica e na estrutura social. À medida que o século XVIII avançava, a nobreza se tornou a principal patrocinadora da música instrumental, enquanto o gosto do público preferia cada vez mais óperas cômicas engraçadas e leves. Isso levou a mudanças na forma como a música era executada, a mais importante das quais foi a mudança para grupos instrumentais padrão e a redução da importância do contínuo - a base rítmica e harmônica de uma peça musical, tipicamente tocada por um teclado (cravo ou órgão) e geralmente acompanhado por um grupo variado de instrumentos de baixo, incluindo violoncelo, contrabaixo, violão baixo eteorbo. Uma forma de rastrear o declínio do continuo e de seus acordes figurados é examinar o desaparecimento do termo obbligato, que significa uma parte instrumental obrigatória em uma obra de música de câmara. Em composições barrocas, instrumentos adicionais podem ser adicionados ao grupo contínuo de acordo com a preferência do grupo ou do líder; nas composições clássicas, todas as partes eram especificamente anotadas, embora nem sempre notadas, de modo que o termo "obbligato" tornou-se redundante. Em 1800, o basso continuo estava praticamente extinto, exceto pelo uso ocasional de uma parte do continuo do órgão de tubos em uma missa religiosa no início do século XIX.
As mudanças econômicas também tiveram o efeito de alterar o equilíbrio entre disponibilidade e qualidade dos músicos. Enquanto no barroco tardio, um grande compositor teria todos os recursos musicais de uma cidade para recorrer, as forças musicais disponíveis em uma cabana de caça aristocrática ou pequena corte eram menores e mais fixas em seu nível de habilidade. Isso foi um incentivo para ter partes mais simples para os músicos tocarem e, no caso de um grupo virtuoso residente, um incentivo para escrever partes idiomáticas espetaculares para certos instrumentos, como no caso da orquestra de Mannheim, ou partes de solo virtuoso para violinistas ou flautistas particularmente qualificados. Além disso, o apetite do público por um fornecimento contínuo de música nova herdou do barroco. Isso significava que as obras deveriam ser executadas com, no máximo, um ou dois ensaios. Mesmo depois de 1790, Mozart escreve sobre "o ensaio", com a implicação de que seus concertos teriam apenas um ensaio.
Como havia uma ênfase maior em uma única linha melódica, havia maior ênfase na anotação dessa linha para a dinâmica e o fraseado. Isso contrasta com a era barroca, quando as melodias eram tipicamente escritas sem dinâmica, marcas de fraseado ou ornamentos, já que se supunha que o intérprete improvisaria esses elementos na hora. Na era clássica, tornou-se mais comum os compositores indicarem onde queriam que os executantes tocassem ornamentos, como trinados ou voltas. A simplificação da textura tornou esse detalhe instrumental mais importante, e também tornou o uso de ritmos característicos, como fanfarras de abertura que chamam a atenção, o ritmo da marcha fúnebre ou o gênero minueto, mais importantes para estabelecer e unificar o tom de um único movimento..
O período clássico também viu o desenvolvimento gradual da forma sonata, um conjunto de princípios estruturais para a música que reconciliava a preferência clássica pelo material melódico com o desenvolvimento harmônico, que poderia ser aplicado em todos os gêneros musicais. A sonata em si continuou a ser a principal forma de solo e música de câmara, enquanto mais tarde, no período clássico, o quarteto de cordas se tornou um gênero proeminente. A forma sinfônica para orquestra foi criada neste período (isso é popularmente atribuído a Joseph Haydn). O concerto grosso (concerto para mais de um músico), forma muito popular no período barroco, começou a ser substituído pelo concerto solo, apresentando apenas um solista. Os compositores começaram a dar mais importância à habilidade do solista em mostrar habilidades virtuosas, com escalas rápidas e desafiadoras e corridas de arpejo. No entanto, alguns concerti grossi permaneceram, o mais famoso dos quais sendo a Sinfonia Concertante para Violino e Viola em Mi bemol maior de Mozart.
Características principais
No período clássico, o tema consiste em frases com figuras e ritmos melódicos contrastantes. Essas frases são relativamente breves, normalmente com quatro compassos de comprimento e podem ocasionalmente parecer esparsas ou concisas. A textura é principalmente homofônica, com uma melodia clara acima de um acompanhamento de acordes subordinado. Isso contrasta com a prática na música barroca, onde uma peça ou movimento normalmente teria apenas um tema musical, que seria então trabalhado em várias vozes de acordo com os princípios do contraponto, enquanto mantém um ritmo ou métrica consistente por toda parte. Como resultado, a música clássica tende a ter uma textura mais clara e clara do que o barroco. O estilo clássico baseia-se no estilo galant, um estilo musical que enfatiza a elegância leve no lugar da seriedade digna e grandiosidade impressionante do barroco.
Estruturalmente, a música clássica geralmente tem uma forma musical clara, com um contraste bem definido entre a tônica e a dominante, introduzida por cadências claras. Dinâmicas são usadas para destacar as características estruturais da peça. Em particular, a forma sonata e suas variantes foram desenvolvidas durante o período clássico inicial e eram frequentemente usadas. A abordagem clássica da estrutura contrasta novamente com o barroco, onde uma composição normalmente se moveria entre a tônica e a dominante e vice-versa, mas por meio de um progresso contínuo de mudanças de acordes e sem uma sensação de "chegada" à nova tonalidade. Embora o contraponto tenha sido menos enfatizado no período clássico, não foi de forma alguma esquecido, especialmente mais tarde no período, e os compositores ainda usavam o contraponto em obras "sérias" como sinfonias e quartetos de cordas, bem como em peças religiosas, como missas.
O estilo musical clássico foi apoiado por desenvolvimentos técnicos em instrumentos. A adoção generalizada de temperamento igual tornou possível a estrutura musical clássica, garantindo que as cadências em todas as tonalidades soassem semelhantes. O forte piano e depois o pianoforte substituíram o cravo, permitindo um contraste mais dinâmico e melodias mais sustentadas. Durante o período clássico, os instrumentos de teclado tornaram-se mais ricos, mais sonoros e mais poderosos.
A orquestra aumentou em tamanho e alcance e tornou-se mais padronizada. O papel de baixo contínuo de cravo ou órgão de tubos na orquestra caiu em desuso entre 1750 e 1775, deixando a seção de cordas os sopros se tornaram uma seção independente, consistindo de clarinetes, oboés, flautas e fagotes.
Embora a música vocal, como a ópera cômica, fosse popular, grande importância foi dada à música instrumental. Os principais tipos de música instrumental eram sonata, trio, quarteto de cordas, quinteto, sinfonia, concerto (geralmente para um instrumento solo virtuoso acompanhado por orquestra) e peças leves como serenatas e divertimentos. A forma Sonata se desenvolveu e se tornou a forma mais importante. Foi usado para construir o primeiro movimento da maioria das obras de grande escala em sinfonias e quartetos de cordas. A forma de sonata também foi usada em outros movimentos e em peças únicas e independentes, como aberturas.
Primeira escola vienense
A Primeira Escola Vienense é um nome usado principalmente para se referir a três compositores do período clássico na Viena do final do século XVIII: Haydn, Mozart e Beethoven. Franz Schubert é ocasionalmente adicionado à lista.
Em países de língua alemã, o termo Wiener Klassik (lit. era / arte clássica vienense) é usado. Esse termo é frequentemente aplicado de forma mais ampla à era clássica na música como um todo, como um meio de distingui-la de outros períodos que são coloquialmente referidos como clássicos, nomeadamente música barroca e romântica.
O termo "Escola Vienense" foi usado pela primeira vez pelo musicólogo austríaco Raphael Georg Kiesewetter em 1834, embora ele contasse apenas com Haydn e Mozart como membros da escola. Outros escritores seguiram o exemplo e, por fim, Beethoven foi adicionado à lista. A designação "primeiro" é adicionada hoje para evitar confusão com a Segunda Escola Vienense.
Embora, à parte Schubert, esses compositores certamente se conhecessem (com Haydn e Mozart até mesmo sendo parceiros ocasionais de música de câmara), não há nenhum sentido em que eles estivessem engajados em um esforço colaborativo no sentido de que alguém associaria a escolas do século XX como a Segunda Escola Vienense, ou Les Six. Nem há nenhum sentido significativo no qual um compositor foi "educado" por outro (da maneira que Berg e Webern foram ensinados por Schoenberg), embora seja verdade que Beethoven por um tempo recebeu lições de Haydn.
As tentativas de estender a Primeira Escola Vienense para incluir figuras posteriores como Anton Bruckner, Johannes Brahms e Gustav Mahler são meramente jornalísticas e nunca encontradas na musicologia acadêmica.
Referências
Leitura adicional
Downs, Philip G. (1992). Classical Music: The Era of Haydn, Mozart, and Beethoven, 4th vol of Norton Introduction to Music History. W. W. Norton. (hardcover).
Grout, Donald Jay; Palisca, Claude V. (1996). A History of Western Music, Fifth Edition. W. W. Norton. (hardcover).
Hanning, Barbara Russano; Grout, Donald Jay (1998 rev. 2006). Concise History of Western Music. W. W. Norton. (hardcover).
Kennedy, Michael (2006), The Oxford Dictionary of Music, 985 pages,
Lihoreau, Tim; Fry, Stephen (2004). Stephen Fry's Incomplete and Utter History of Classical Music. Boxtree.
Rosen, Charles (1972 expanded 1997). The Classical Style. New York: W. W. Norton. (expanded edition with CD, 1997)
Taruskin, Richard (2005, rev. Paperback version 2009). Oxford History of Western Music. Oxford University Press (US). (Hardback), (Paperback) |
Editor gráfico, editor de foto ou editor de imagens é um programa de computador que tem como objetivo facilitar a alteração e criação de imagens digitais. Permite aplicar efeitos, fazer ajustes e correção nas imagens. Existem três tipos de editores para cada necessidade. São eles:
Raster — programas que geram pinturas digitais, ilustrações, editam ou retocam fotografias. Dentre os mais populares estão: GIMP, Adobe Photoshop, Corel PhotoPaint, PhotoScape, Pixia, paint.net, ArtRage;
Vetoriais — programas que criam ilustrações por meio de cálculos matemáticos (vetores) e que podem ser livremente modificados, tendo como base objetos e curvas, a estes podem ser aplicadas cores de contorno e preenchimento de acordo com o programa. Dentre os mais populares estão: Inkscape, Corel Draw, Adobe Illustrator, Sodipodi, Affinity Designer;
Tridimensionais — programas que manipulam imagens em três dimensões como sólidos simples (cubos, esferas, cilindros, prismas, pirâmides, etc) são usados em diversas áreas técnicas, bem como na criação de comerciais e efeitos especiais em filmes. Dentre os mais populares estão: SketchUp, 3ds Max, Blender, Cinema 4D, , Autodesk Softimage.
Estes programas também possuem geralmente um vasto leque de filtros para exportação de arquivos. Alguns deles são BMP, JPG, GIF, TIFF, TGA, XPM, SVG, PostScript.
Ver também
Comparação de programas de conversão raster para vetorial
Referências
Computação gráfica |
Escultura é uma arte que representa ou ilustra imagens plásticas em relevo total ou parcial. Existem várias técnicas de trabalhar os materiais, como a cinzelação, a fundição, a moldagem ou a aglomeração de partículas para a criação de um objeto.
Vários materiais se prestam a esta arte, uns mais perenes como o bronze ou o mármore, outros mais fáceis de trabalhar, como a argila, a cera ou a madeira.
Embora possam ser utilizadas para representar qualquer coisa, ou até coisa nenhuma, tradicionalmente o objetivo maior foi sempre representar o corpo humano, ou a divindade numa forma antropomórfica. É considerada a quarta das artes clássicas.
Técnicas, formas e materiais utilizados
Através da maior parte da história, permaneceram as obras dos artistas que utilizaram-se dos materiais mais perenes e duráveis possíveis como a pedra (mármore, pedra calcária, granito) ou metais (bronze, ouro, prata). Ou que usavam técnicas para melhorar a durabilidade de certos materiais (argila, terracota) ou que empregaram os materiais de origem orgânica mais nobres possíveis (madeiras duráveis como ébano, jacarandá, materiais como marfim ou âmbar). Mas de um modo geral, embora se possa esculpir em quase tudo que consiga manter por pelo menos algumas horas a forma idealizada (manteiga, gelo, cera, gesso, areia molhada), essas obras efêmeras não podem ser apreciadas por um público que não seja coevo.
A escolha de um material normalmente implica a técnica a se utilizar. A cinzelação, quando de um bloco de material se retira o que excede a figura utilizando ferramentas de corte próprias, para pedra ou madeira; a modelagem, quando se agrega material plástico até conseguir o efeito desejado, para cera ou argila; a fundição, quando se verte metal quente em um molde feito com outros materiais.
Modernamente, novas técnicas, como dobra e solda de chapas metálicas, moldagens com resinas, betão armado ou plásticos, ou mesmo a utilização da luz coerente para dar uma sensação de tridimensionalidade, tem sido tentadas e só o tempo dirá quais serão perenes.
Através do tempo, algumas formas especificas de esculturas foram mais utilizadas que outras: O busto, espécie de retrato do poderoso da época; a estátua eqüestre, tipicamente mostrando um poderoso senhor em seu cavalo; Fontes de água, especialmente em Roma, para coroar seus fabulosos aquedutos e onde a água corrente tinha um papel a representar; estátua, representando uma pessoa ou um deus em forma antropomórfica; Alto ou Baixo-relevo, o modo de ilustrar uma história em pedra ou metal; mobiliário, normalmente utilizado em jardins.
A escultura pelo mundo
Índia
As primeiras esculturas na Índia são atribuídas à civilização do vale do Indo, onde trabalhos em pedra e bronze foram descobertos, sendo uma das mais antigas esculturas do mundo. Mais tarde, com o desenvolvimento do hinduismo, do budismo, e do jansenismo, esta região produziu alguns dos mais intricados e elaborados bronzes. Alguns santuários, como o de Ellora, apresentam grandes estátuas esculpidas diretamente na rocha. Durante o século II a.C. no noroeste da Índia, onde hoje é o Paquistão e o Afeganistão, as esculturas começaram a representar passagens da vida e os ensinamentos de Buda. Embora a Índia tivesse uma longa tradição de esculturas religiosas, Buda nunca tinha sido representado na forma humana antes, apenas por símbolos. Este fato reflete já uma influencia artística persa e grega na região. A Índia influenciou ainda, através do budismo, boa parte da Ásia, como as existentes na localidade de Angkor, no Camboja.
China
Artefactos chineses datam do século X a.C., mas alguns períodos selecionados tiveram destaque: Dinastia Zhou (1050-771 a.C.) produziu alguns intrincados vasos em bronze fundido; Dinastia Han (206-220 a.C.) apresentou o espectacular Exército de terracota de Xian, em tamanho natural, defendendo a tumba do imperador; As primeiras esculturas de influencia budista aparecem no período dos Três reinos (século III); Dinastia Wei (séculos V e VI) nos da a escultura dos Gigantes grotescos, reconhecidas por suas qualidades e elegância. O período considerado a idade de ouro da China é a Dinastia Tang, com suas esculturas budistas, algumas monumentais, considerados tesouros da arte mundial.
Após este período a qualidade da escultura chinesa caiu muito. É interessante notar que a arte chinesa não tem nus, como é comum na arte ocidental, à exceção de pequenas estátuas para uso dos médicos tradicionais. Também tem poucos retratos, exceto nos mosteiros, onde eram mais comuns. E nada do que se produziu após a Dinastia Ming (após o século XVII) foi reconhecido como bom pelos museus e colecionadores de arte. No século XX a influencia do realismo socialista de origem soviética arruinou o que restava da arte chinesa. Espera-se que o ressurgimento e abertura para o mundo ocidental traga a arte chinesa ao seu lugar de mérito.
Japão
Os japoneses faziam muitas estátuas associadas a religião, a maioria sob patrocínio do governo. Notáveis foram as chamadas ‘’haniva’’, esculturas em argila colocadas sobre tumbas, no período ‘’Kofun’’. A imagem em madeira do século IX de ‘’Shakyamuni’’, um Buda histórico é a típica escultura da era ‘’Heian’’, com seu corpo curvado, coberto com um denso drapeado e com uma austera expressão facial. A escola Key criou um novo estilo, mais realista.
Américas
Existem poucos exemplares de esculturas pré-colombianas no continente americano, entre elas as famosas estátuas da Ilha de Páscoa, algumas esculturas, principalmente em alto-relevo, decorando edificações Maia e Asteca do Peru ao México e algumas peças primitivas em madeira ou argila, geralmente com significado religioso, dos povos nativos de toda América.
No restante, só se começou a produzir arte a partir do século XVI, já sob influência do Barroco, com destaque para imagens religiosas em madeira, terracota e pedra macia nos locais de influência católica. Nos países de religião protestante, por sua maior resistência ao uso religioso de imagens, foi mais tardio o aparecimento de artistas, entrando diretamente no Neoclássico por influência da cultura europeia. A partir daí, com a facilidade de transporte e comunicações, a arte nas Américas ficou muito semelhante à desenvolvida na Europa.
A escultura popular em argila do Nordeste brasileiro, as obras em madeira e argila dos povos da Amazônia, figuras religiosas em todas as regiões católicas da América também possuem sua relevância no contexto atual.
África
A arte da África tem uma ênfase especial pela escultura, especialmente em ébano e outras madeiras nobres. Além das divindades antropomórficas, tem especial interesse as máscaras rituais. As esculturas mais antigas são da cultura de Noque (cerca de ), no território onde atualmente se encontra a Nigéria.
Antigo Egito
A escultura no Antigo Egito visava dar uma forma física aos deuses e seus representantes na terra, os faraós. Regras rígidas deviam ser seguidas: homens eram mais escuros que mulheres; as mãos de figuras sentadas deveriam estar nos joelhos; e cada deus tinha suas regras especificas de representação. Por esse motivo, poucas modificações ocorreram em mais de três mil anos, embora tivessem resultado em peças maravilhosas como a cabeça de Nefertiti ou a máscara mortuária de Tutancâmon.
Europa
A Grécia clássica é com certeza o berço ocidental da arte de esculpir, desde seus primeiros artefatos a partir do século X a.C., em mármore ou bronze, até o apogeu da era de Péricles (século V a.C.), com as esculturas da Acrópole de Atenas. Foi também quando alguns escultores começaram a receber reconhecimento individual, como Fídias. Produziu obras impares, como a Vitória de Samotrácia, os mármores de Elgin ou a Vénus de Milo.
A partir dos gregos, os romanos, depois de um começo na tradição etrusca, abraçaram a cultura clássica e continuaram a produzir esculturas até o fim do império, numa escala monumental e numa quantidade impressionante, espalhando principalmente o trabalho em mármore por todo o império.
Após o fim do império e a idade média, onde pouco se fez, tivemos algumas esculturas góticas (séculos XII e XIII), basicamente como decoração de igrejas, como a porta da catedral de Chartres, arte fúnebre com suas tumbas elaboradas e as famosas gárgulas.
Tudo pareceu culminar no Renascimento, com mestres como Donatello e seu Davi em bronze, a estátua eqüestre do Gattamelata ou suas inúmeras esculturas em mármore, abrindo caminho para a obra maior de Michelangelo, com seu magnífico David em mármore, a Pietá, ou Moisés. Provavelmente o David de Florença seja a escultura mais famosa do mundo desde que foi revelada em 8 de setembro de 1504. É um exemplo do contrapposto, estilo de posicionar figuras humanas.
Quando Benvenuto Cellini criou um saleiro em ouro e ébano em 1540, mostrando Netuno e Anfitrite em formas alongadas e posições desconfortáveis, transformou o Naturalismo e criou a obra maior do Maneirismo que em sua forma mais exagerada virou o Barroco, que acrescenta elementos exteriores, como efeitos de iluminação. Bernini foi sem duvida o mais importante escultor desse período, com obras como O Êxtase de Santa Teresa.
Após os excessos do Barroco, o Neoclassicismo é uma volta ao modelo helenista clássico, antes dos anos confusos do Modernismo, que teve a magnífica obra em bronze do francês Auguste Rodin e seu O Pensador, e depois enterrou a tradição clássica com o Cubismo, o Futurismo, o Minimalismo, as Instalações e a Pop Art.
Algumas das obras de escultura mais famosas são:
A Vitória de Samotrácia ou Nikké (Vitória em grego);
Vênus de Milo;
O Pensador (de Auguste Rodin);
David (de Michelangelo);
Moisés (de Michelangelo);
O Beijo (de Rodin);
Grupo de Laocoonte.
Ver também
História da arte |
Enrico Fermi (Roma, 29 de setembro de 1901 — Chicago, 28 de novembro de 1954) foi um físico italiano naturalizado estadunidense. Destacou-se pelo seu trabalho sobre o desenvolvimento do primeiro reator nuclear, e pela sua contribuição ao desenvolvimento da teoria quântica, física nuclear e de partículas, e mecânica estatística. Doutorou-se na Universidade de Pisa e recebeu o Nobel de Física de 1938.
Foi um dos poucos físicos da era moderna a combinar a teoria com a experiência. Após alguns anos na Alemanha, regressou à Universidade de Roma, onde, em 1926, dedicou-se à mecânica estatística de partículas que obedecem ao princípio de exclusão de Pauli, como os electrões. O resultado é a chamada estatística de Fermi-Dirac, uma vez que Dirac chegou independentemente às mesmas conclusões. Em 1933 Fermi introduziu o conceito de interação fraca, que em conjunto com o recém postulado neutrino, entrariam na teoria do decaimento beta. Juntamente com um grupo de colaboradores, Fermi começou uma série de experiências nas quais foram produzidos artificialmente núcleos radioativos, pelo bombardeamento com neutrões de vários elementos. Alguns dos seus resultados sugeriram a formação de elementos transuranianos. De facto, o que eles observaram, e que mais tarde foi comprovado por Otto Hahn, foi a fissão nuclear, feito que, em 1938, lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física. Foi então para os Estados Unidos, onde viria a participar no projeto Manhattan. Dirigiu o projecto de construção do primeiro reator nuclear na Universidade de Chicago. Depois da Segunda Guerra Mundial, Fermi dedicou-se à Física de partículas, a que deu contribuições importantes. O elemento químico de número atômico 100, criado sinteticamente em 1952, recebeu o nome de Férmio em sua honra.
Biografia
Primeiros anos
Enrico Fermi nasceu em Roma, Itália. Ele era o terceiro filho de Alberto Fermi, inspetor-chefe do Ministério das Comunicações da Itália, e sua mãe era Ida de Gattis, professora de uma escola primária. Sua irmã, Maria, era dois anos mais velha que ele, enquanto seu irmão, Giulio, era um ano mais velho. Desde jovem Fermi gostava de estudar física e matemática, interesses também de seu irmão mais velho. Sua família nunca foi muito religiosa, e Fermi foi um agnóstico sua vida inteira. Quando Giulio morreu inesperadamente de um abcesso na garganta em 1915, Enrico ficou emocionalmente arrasado, e refugiou-se em estudos científicos para se distrair. De acordo com ele mesmo, todos os dias caminhava em frente ao hospital onde Giulio morreu, até se acostumar com a dor. Numa banca do Campo de' Fiori, Fermi comprou e leu o livro intitulado Elementorum physicae mathematicae (900 páginas), escrito em latim pelo padre Andrea Caraffa, professor do Collegio Romano, que abordava matemática, mecânica clássica, astronomia, óptica e acústica. Mais tarde, Fermi e seu melhor amigo, outro estudante inclinado para a ciência, chamado Enrico Persico, empenharam-se em projetos científicos, tais como construir giroscópios e medir o campo magnético da Terra. O interesse de Fermi pela física foi ainda mais incentivado quando um amigo de seu pai, o engenheiro Adolfo Amidei, lhe deu vários livros sobre física e matemática, que Fermi leu e assimilou rapidamente.
Faculdade em Pisa
Em 1918 Fermi matriculou-se na "Escola Normal Superior" em Pisa, onde mais tarde recebeu o seu diploma de graduação e de doutorado. Para entrar na prestigiada instituição, havia um exame para os candidatos, que incluía um ensaio. Pelo seu ensaio sobre o tema dado, "Características do som", Fermi, com 17 anos de idade, escolheu derivar e resolver a transformada de Fourier baseada na equação diferencial parcial das ondas numa corda. O examinador, professor Giulio Pittato, entrevistou Fermi e concluiu que o seu ensaio teria sido digno de louvor mesmo para um doutorado. Enrico Fermi ficou com o primeiro lugar na classificação do exame de entrada. Durante os anos na Scuola Normale Superiore, Fermi formou equipe com um colega estudante Franco Rasetti, que mais tarde, se tornou o mais próximo amigo e colaborador de Fermi.
Além de frequentar as aulas, Enrico Fermi encontrou tempo para trabalhar nas suas atividades extracurriculares, particularmente com a ajuda de seu amigo Enrico Persico, que permaneceu em Roma para estudar numa universidade. Entre 1919 e 1923 Fermi estudou, por si mesmo, relatividade geral, mecânica quântica e física atômica.
Os seus conhecimentos de física quântica atingiram um nível tão elevado que o chefe do Instituto de Física, professor Luigi Puccianti, pediu-lhe para organizar seminários sobre o assunto. Durante esse tempo ele aprendeu cálculo tensorial, um instrumento matemático inventado por Gregorio Ricci-Curbastro e Tullio Levi-Civita, e necessário para demonstrar os princípios da relatividade geral.
Em setembro de 1920, Fermi ingressou no Instituto de Física. Como só havia, além de Fermi, mais dois estudantes nesse departamento, Puccianti deixava-os usar o laboratório livremente para os fins que desejassem. Fermi decidiu então que deviam começar a pesquisar a cristalografia de raios-X. Os três estudantes trabalharam para produzir uma Fotografia de Laue - uma fotografia de um cristal feita por raios-X.
Em 1921, seu terceiro ano na universidade, publicou os seus primeiros trabalhos científicos no periódico italiano Il Nuovo Cimento. O primeiro foi intitulado: "Sobre a dinâmica de um rígido sistema de cargas elétricas em condições transientes"; o segundo: "Sobre a eletrostática de um campo gravitacional uniforme de cargas eletromagnéticas e sobre o peso de cargas eletromagnéticas". Um sinal de que as concepções na Física estavam mudando foi que a massa começou, então, a ser expressa como um tensor, uma ferramenta matemática usada, geralmente, para descrever algo que se move e varia no espaço tridimensional. Na mecânica clássica, a massa é uma grandeza escalar, mas na relatividade ela muda com a velocidade. Usando a relatividade, Fermi provou que uma carga possui um peso igual a U/c², sendo U a energia do sistema e c a velocidade da luz. Porém, à primeira vista, a primeira publicação parecia apontar para uma contradição entre a teoria eletrodinâmica e a relativística em relação ao cálculo das massas eletromagnéticas, visto que o valor anteriormente previsto era de 4/3 U/c². Um ano depois, com um trabalho intitulado "Correção da discrepância entre a teoria eletrodinâmica e um relativista de cargas eletromagnéticas, Enrico Fermi mostrou que essa discrepância era consequência da relatividade. Esta publicação teve tanto sucesso que foi traduzida para o alemão e publicada no famoso periódico científico alemão "Physikalische Zeitschrift".
Em 1922 publicou o seu importante trabalho científico no periódico italiano I Rendiconti dell'Accademia dei Lincei intitulado "Sobre os fenômenos que ocorrem nas proximidades de uma linha de mundo"). Nesse artigo, Fermi examinou o Princípio da Equivalência e introduziu as chamadas Coordenadas de Fermi. Ele provou que, para uma linha de mundo próxima a uma linha do tempo, o espaço comporta-se como um Espaço Euclidiano. Finalmente, em 1922, Fermi recebeu o seu diploma de graduação na Scuola Normale Superiore ao apresentar a sua tese chamada "Um teorema de probabilidade e suas aplicações", obtendo laurea com impressionantes 21 anos. Nessa época, a física teórica ainda não era considerada uma disciplina na Itália, portanto a única tese aceita seria de física experimental. Por isso, Fermi usou imagens de difração de raios-X para enriquecer seu trabalho. Os físicos italianos também levaram algum tempo para assimilar as ideias da relatividade geral vindas da Alemanha.
Enquanto escrevia um apêndice para a versão italiana do livro The Mathematical Theory of Relativity, de August Kopff em 1923, Fermi descobriu um enorme potencial energético nuclear escondido na famosa equação de Einstein (E=mc²), e que podia ser explorado. "Não parece possível, pelo menos num futuro próximo", ele escreveu, "achar uma maneira de liberar essas enormes quantidades de energia - o que é algo bom, pois a primeira consequência desse fenômeno seria reduzir a pó o físico que tivesse o azar de realizá-lo".
O orientador de doutorado de Fermi foi Luigi Puccianti. Em 1924, Fermi passou um semestre em Göttingen estudando com Max Born, onde também conheceu Werner Heisenberg e Pascual Jordan. Fermi então foi para Leiden para estudar com Paul Ehrenfest de setembro a dezembro de 1924, conhecendo Albert Einstein, Hendrik Lorentz e também Samuel Goudsmit e Jan Tinbergen, que se tornaram seus bons amigos. Do início de 1925 ao final de 1926, Fermi lecionou física matemática e mecânica teórica na Universidade de Florença, onde se juntou com Rasetti para conduzir uma série de experimentos sobre os efeitos do campo magnético no vapor de mercúrio. Fermi também participou de seminários na Sapienza University of Rome, dando palestras sobre mecânica quântica e física dos estados sólidos.
Depois que Wolfgang Pauli anunciou seu princípio da exclusão, em 1925, Fermi respondeu-o com um artigo "Sobre a quantização do gás perfeito monoatômico", no qual ele aplicou o princípio de Pauli a um gás ideal. O mesmo raciocínio desse artigo foi desenvolvido independentemente por outro físico chamado Paul Dirac. Juntos e, ao mesmo tempo, separados, os dois cientistas formaram a famosa estatística de Fermi-Dirac. De acordo com Dirac, as partículas que obedecem o princípio da exclusão são chamadas de "férmions" e as que não obedecem são denominadas "bósons".
Professor em Roma
Os cargos de professores, na Itália, eram concedidos via concurso, sendo as publicações dos candidatos avaliadas por um comitê de professores. Fermi se inscreveu para a cadeira de física matemática na Universidade de Cagliari, na Sardenha, mas foi dispensado em favor de Giovanni Giorgi.
Com 24 anos, Fermi tornou-se professor da Universidade de Roma em uma nova cadeira de física teórica criada pelo Ministério da Educação a pedido do professor Orso Mario Corbino, que era professor de física experimental, diretor do Instituto de Física e membro do gabinete de Benito Mussolini. Corbino esperava que a nova cadeira conferisse um maior prestígio à física na Itália. Ele também ajudou Fermi a selecionar sua equipe, que logo foi ingressada por mentes notáveis como Edoardo Amaldi, Bruno Pontecorvo, Franco Rasetti e Emilio Segrè. Para os estudos teóricos apenas, Ettore Majorana também participou do que logo foi apelidado de "Rapazes da Via Panisperna" (em relação ao nome da rua em que o instituto tinha seus laboratórios).
Fermi se casou com Laura Capon, uma estudante de ciência da Universidade, em 19 de julho de 1928. Eles tiveram dois filhos: Nella, nascida em janeiro de 1931 e Giulio, nascido em fevereiro de 1936. Em 18 de março de 1929, Fermi se tornou membro da Academia Real da Itália, indicado por Mussolini, e se tornou membro do Partido Fascista em 27 de abril, embora tenha se oposto à ideologia em 1938 quando Mussolini criou as leis raciais de forma a aproximar mais o fascismo do nazismo de Hitler. Essas leis ameaçavam Laura, esposa do cientista, que era judia, e tiraram o trabalho de muitos de seus assistentes de laboratório.
O grupo continuou com os experimentos que vieram a ficar famosos, no entanto, o grupo se desmantelou, em 1933 Rasetti deixou a Itália e foi para o Canadá, Pontecorvo foi para a França, e Segrè partiu para lecionar em Palermo.
Durante seu tempo em Roma, Fermi e seu grupo fizeram importantes contribuições a muitos aspectos práticos e teóricos da física. Essas incluem a teoria do decaimento beta, com a inclusão do postulado do neutrino em 1930 por Wolfgang Pauli, e a descoberta dos nêutrons lentos, que foi fundamental para o funcionamento dos reatores nucleares. Em 1928, ele publicou um trabalho chamado Introdução à Física Atômica, que apresentava uma abordagem mais acessível e atualizada para os estudantes. Fermi também produziu palestras e artigos públicos para professores e cientistas para promover e divulgar a nova física tanto quanto possível. Parte do seu método de ensino era se reunir com estudantes de graduação e professores ao final do dia para trabalhar num problema, geralmente sobre uma pesquisa do grupo. Um sinal de que o trabalho de divulgação estava dando resultado era que estudantes estrangeiros estavam indo à Itália. Um deles foi Hans Bethe, que colaborou com Fermi num artigo de 1932 sobre a interação entre dois elétrons.
Os físicos, na época, ainda possuíam muitas dúvidas acerca do decaimento beta, no qual um elétron é emitido de um núcleo atômico. Para satisfazer a lei da conservação da energia, Pauli postulou a existência de uma partícula invisível com carga zero e uma massa muito pequena que era emitida ao mesmo tempo que o elétron. Fermi pegou essa ideia e, em 1934, escreveu um artigo que decretava a existência do neutrino. Essa teoria, que também pode ser chamada de interação de Fermi ou fraca interação, descrevia uma das quatro forças fundamentais da natureza. O neutrino só foi detectado após a morte de Fermi, pois é uma partícula extremamente difícil de detectar. Quando o cientista submeteu seu artigo à renomada revista britânica Nature, o editor a rejeitou pois achava que suas especulações eram "muito afastadas da realidade para serem interessantes aos leitores". Fermi então viu a teoria ser publicada em italiano e alemão antes de ser publicada em inglês.
Em janeiro de 1934, Irène Joliot-Curie e Frédéric Joliot anunciaram que eles haviam bombardeado elementos com partículas alfa e, com isso, induzido radioatividade. Em março, Gian-Carlo Wick (integrante do Rapazes da Via Panisperna) formulou uma explicação teórica para isso usando a teoria do decaimento beta. Fermi, então, recorreu à física experimental e usou o nêutron, descoberto em 1932. A partícula escolhida não possuía carga e, portanto, não seria defletida pelo núcleo. Isso causou uma grande redução nos custos do experimento (caso contrário ele seria inviável) pois eliminou a necessidade de se ter um acelerador de partículas, o que era (e ainda é) muito custoso. Para criar uma forte fonte de nêutrons, Fermi encheu um bulbo de vidro com pó de berílio, evacuando todo o ar, e então adicionando 50mCi de radônio gasoso. Porém, a eficiência da fonte decaía com a meia-vida do radônio (3,8 dias). Era sabido também que a fonte iria emitir raios-gama, mas isso não iria afetar muito os resultados do experimento. O que Fermi fez foi bombardear diferentes elementos (ao todo 22) e, em todos eles, conseguiu induzir radioatividade. A descoberta foi rapidamente reportada para a revista italiana La Ricerca Scientifica em 25 de março de 1934.
A radioatividade natural de elementos como tório e urânio tornou difícil a determinação do que estava acontecendo durante o bombardeamento desses elementos. Porém, após ter removido corretamente a presença de elementos mais leves que urânio e mais pesados que chumbo, Fermi concluiu que eles haviam criado novos elementos, e os denominou espério e ausônio. Seu trabalho, no entanto, foi criticado pela química Ida Noddack, que sugeriu que esses experimentos poderiam ter criado elementos mais leves ao invés de elementos novos mais pesados, mas Fermi e sua equipe não levaram a sério a crítica, pois a equipe da química ainda não havia feito nenhum experimento com urânio. Naqueles anos, a fissão nuclear era tomada como improvável (senão impossível) nos campos teóricos, e ninguém esperava que nêutrons tivessem energia o suficiente para quebrar um núcleo em dois fragmentos mais leves da maneira que Noddack havia sugerido.
O Rapazes da Via Panisperna também descobriu outras coisas interessantes. Fazendo o experimento em diferentes superfícies, eles notaram que a colisão com átomos de hidrogênio atrasava os nêutrons. Quanto menor o número atômico do núcleo que a partícula colide, mais energia ela perde por colisão, e portanto menos colisões são necessárias para desacelerá-la. Fermi descobriu que isso produzia uma maior indução de radioatividade, visto que nêutrons com baixa velocidade são mais facilmente capturados. Ele, então, desenvolveu uma equação de difusão para descrever isso.
Fermi era bem conhecido por sua simplicidade na solução de problemas. Suas aptidões de formidável cientista, combinando física nuclear teórica e aplicada, foram amplamente reconhecidas. Ele influenciou muitos físicos que trabalharam com ele, como Hans Bethe, que passou dois semestres trabalhando com Fermi no início da década de 1930.
Fermi permaneceu em Roma até 1938.
Professor em Columbia
Em 1938, com 37 anos, Fermi foi laureado com o Nobel de Física, por suas "demonstrações da existência de novos elementos radioativos produzidos pela irradiação de nêutrons, e por sua descoberta relacionada de reações nucleares provocadas por nêutrons lentos".
Depois que Fermi recebeu o Prêmio Nobel em Estocolmo, ele, sua esposa Laura e seus filhos emigraram para Nova Iorque. Isso foi principalmente por causa das leis anti-semitas promulgadas pelo regime fascista de Benito Mussolini que ameaçavam Laura, que era judia. Além disso, as novas leis colocaram a maior parte dos assistentes de pesquisa de Fermi fora de trabalho.
Logo após sua chegada em Nova Iorque, Fermi começou a trabalhar na Universidade de Columbia.
Fermi se mudou para o Laboratório Nacional de Los Alamos, em etapas posteriores do Projeto Manhattan, para servir de consultor geral.
Durante a explosão da primeira bomba atômica, realizada em Alamogordo, Fermi estava presente. Na ocasião, como se era esperado, havia muitos equipamento de ponta para mensurar a energia liberada pela bomba na atmosfera. Haviam cálculos para isso, porém a bomba real teria perdas consideráveis de rendimento. Entretanto, como esta foi a primeira bomba atômica testada na história, não era certo que os equipamentos de medição funcionariam. Pensando nisso Fermi fez um pequeno experimento para medir a energia liberada: no momento da explosão jogou no chão alguns pedaços de papel. "...no ar parado, os pedacinhos de papel cairiam aos seus pés, mas quando a onda de choque chegou (alguns segundos após o clarão), foram transportados por alguns centímetros na direção da onda. "Como era conhecida a distância entre o centro da explosão e onde ele estava, Fermi poderia calcular a energia.
Tornou-se cidadão naturalizado dos Estados Unidos em 1944.
Projeto Manhattan
Fermi chegou a Nova York em 2 de janeiro de 1939. Foram imediatamente oferecidas a ele posições em cinco universidades, e somente aceitou uma na Universidade de Columbia, onde ele já tinha dado aulas de verão em 1936. Ele recebeu a notícia que em dezembro de 1938, os químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann detectaram o elemento bário depois de bombardear urânio com nêutrons, e que Lise Meitner e seu sobrinho Otto Frisch interpretaram corretamente como o resultado da fissão nuclear. Frisch confirmou isso experimentalmente em 13 de janeiro de 1939. A notícia da interpretação de Meitner e Frisch da descoberta de Hahn e Strassmann cruzou o Atlântico com Niels Bohr, que faria uma palestra na Universidade de Princeton. Isidor Isaac Rabi e Willis Lamb, dois físicos da Universidade de Columbia trabalhando em Princeton, descobriram e levaram-no de volta para Columbia. Rabi disse que contou a Enrico Fermi, mas Fermi mais tarde deu o crédito a Lamb:Lembro-me muito bem do primeiro mês, janeiro de 1939, em que comecei a trabalhar nos Laboratórios Pupin porque as coisas começaram a acontecer muito rápido. Naquele período, Niels Bohr estava dando uma palestra na Universidade de Princeton e lembro que uma tarde Willis Lamb voltou muito animado e disse que Bohr havia vazado uma ótima notícia. A grande notícia que vazou foi a descoberta da fissão e pelo menos o esboço de sua interpretação. Então, um pouco mais tarde naquele mesmo mês, houve uma reunião em Washington onde a possível importância do fenômeno da fissão recém-descoberto foi discutida pela primeira vez a sério como uma possível fonte de energia nuclear.Afinal, Noddack estava certo. Fermi descartou a possibilidade de fissão com base em seus cálculos, mas não levou em consideração a energia de ligação que apareceria quando um nuclídeo com um número ímpar de nêutrons absorvesse um nêutron extra. Para Fermi, a notícia veio como um constrangimento profundo, já que os elementos transurânicos pelos quais ele havia recebido o Prêmio Nobel por descobrir não eram elementos transurânicos, mas produtos de fissão. Ele acrescentou uma nota de rodapé a esse respeito em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel.
Os cientistas da Columbia decidiram que deveriam tentar detectar a energia liberada na fissão nuclear do urânio quando bombardeado por nêutrons. Em 25 de janeiro de 1939, no porão do Pupin Hall em Columbia, uma equipe experimental incluindo Fermi conduziu o primeiro experimento de fissão nuclear nos Estados Unidos. Os outros membros da equipe eram Herbert L. Anderson, Eugene T. Booth, John R. Dunning, G. Norris Glasoe e Francis G. Slack. No dia seguinte, a Quinta Conferência de Física Teórica de Washington começou em Washington, DC, sob os auspícios conjuntos da Universidade George Washington e do Instituto Carnegie de Washington. Lá, as notícias sobre a fissão nuclear se espalharam ainda mais, fomentando muito mais demonstrações experimentais.
Os cientistas franceses Hans von Halban, Lew Kowarski e Frédéric Joliot-Curie demonstraram que o urânio bombardeado por nêutrons emitia mais nêutrons do que absorvia, sugerindo a possibilidade de uma reação em cadeia. Fermi e Anderson também o fizeram algumas semanas depois. Leó Szilárd obteve 200 quilogramas (440 lb) de óxido de urânio do produtor canadense de rádio Eldorado Gold Mines Limited, permitindo que Fermi e Anderson conduzissem experimentos com fissão em uma escala muito maior. Fermi e Szilárd colaboraram no projeto de um dispositivo para obter uma reação nuclear autossustentável - um reator nuclear. Devido à taxa de absorção dos nêutrons pelo hidrogênio na água, era improvável que uma reação autossustentável pudesse ser alcançada com urânio natural e água como moderador de nêutrons. Fermi sugeriu, com base em seu trabalho com nêutrons, que a reação poderia ser alcançada com blocos de óxido de urânio e grafite como moderador em vez de água. Isso reduziria a taxa de captura de nêutrons e, em teoria, tornaria possível uma reação em cadeia autossustentável. Szilárd apresentou um projeto viável: uma pilha de blocos de óxido de urânio intercalados com tijolos de grafite. Szilárd, Anderson e Fermi publicaram um artigo sobre "Neutron Production in Uranium". Mas seus hábitos de trabalho e personalidades eram diferentes, e Fermi teve problemas para trabalhar com Szilárd.
Fermi foi um dos primeiros a alertar os líderes militares sobre o impacto potencial da energia nuclear, dando uma palestra sobre o assunto no Departamento da Marinha em 18 de março de 1939. A resposta ficou aquém do que ele esperava, embora a Marinha concordasse em fornecer US$ 1 500 para pesquisas futuras em Columbia. Mais tarde naquele ano, Szilárd, Eugene Wigner e Edward Teller enviaram a famosa carta assinada por Einstein ao presidente dos Estados Unidos Roosevelt, avisando que a Alemanha nazista provavelmente construiria uma bomba atômica. Em resposta, Roosevelt formou o Comitê Consultivo sobre Urânio para investigar o assunto.
O Comitê Consultivo sobre Urânio forneceu dinheiro para Fermi comprar grafite, e ele construiu uma pilha de tijolos de grafite no sétimo andar do laboratório Pupin Hall. Em agosto de 1941, ele tinha seis toneladas de óxido de urânio e trinta toneladas de grafite, que usou para construir uma pilha ainda maior em Schermerhorn Hall em Columbia.
A Seção S-1 do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, como agora era conhecido o Comitê Consultivo sobre Urânio, reuniu-se em 18 de dezembro de 1941, com os Estados Unidos agora engajados na Segunda Guerra Mundial, tornando seu trabalho urgente. A maior parte do esforço patrocinado pelo Comitê havia sido direcionada para a produção de urânio enriquecido, mas membro da Comissão de Arthur Compton determinou que uma alternativa viável foi o plutónio, o que poderia ser em reatores nucleares produzido em massa até o final de 1944. Ele decidiu concentrar o trabalho de plutônio na Universidade de Chicago. Fermi mudou-se com relutância e sua equipe passou a fazer parte do novo Laboratório Metalúrgico de lá.
Os possíveis resultados de uma reação nuclear autossustentável eram desconhecidos, por isso parecia desaconselhável construir o primeiro reator nuclear no campus da Universidade de Chicago, no meio da cidade. Compton encontrou um local na Argonne Woods Forest Preserve, a cerca de 20 milhas (32 km) de Chicago. A Stone & Webster foi contratada para desenvolver o local, mas o trabalho foi interrompido por uma disputa industrial. Fermi então convenceu Compton de que ele poderia construir o reator na quadra de squash sob as arquibancadas do Stagg Field da Universidade de Chicago. A construção da pilha começou em 6 de novembro de 1942, e Chicago Pile-1 tornou-se crítica em 2 de dezembro. A forma da pilha deveria ser aproximadamente esférica, mas à medida que o trabalho avançava, Fermi calculou que a criticidade poderia ser alcançada sem terminar a pilha inteira conforme planejado.
Esse experimento foi um marco na busca por energia e foi típico da abordagem de Fermi. Cada etapa foi cuidadosamente planejada, cada cálculo executado meticulosamente. Quando a primeira reação em cadeia nuclear autossustentada foi alcançada, Compton fez uma chamada telefônica codificada para James B. Conant, o presidente do Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional.Peguei o telefone e liguei para Conant. Ele foi contatado no gabinete do presidente da Universidade de Harvard. "Jim", eu disse, "você ficará interessado em saber que o navegador italiano acaba de desembarcar no novo mundo." Então, meio que me desculpando, porque eu havia levado o Comitê Sl a acreditar que levaria mais uma semana ou mais antes que a pilha pudesse ser concluída, eu acrescentei, "a terra não era tão grande quanto ele havia estimado, e ele chegou ao novo mundo mais cedo do que ele esperava. "
"É mesmo", foi a resposta entusiasmada de Conant. "Os nativos eram amigáveis?"
"Todos pousaram seguros e felizes."
Para continuar a pesquisa onde não representaria um perigo para a saúde pública, o reator foi desmontado e movido para o local de Argonne Woods. Lá Fermi dirigiu experimentos sobre reações nucleares, deleitando-se com as oportunidades oferecidas pela abundante produção de nêutrons livres no reator. O laboratório logo se ramificou da física e engenharia para o uso do reator para pesquisas biológicas e médicas. Inicialmente, Argonne era dirigido por Fermi como parte da Universidade de Chicago, mas se tornou uma entidade separada com Fermi como seu diretor em maio de 1944.
Quando o Reator de Grafite X-10 refrigerado a ar em Oak Ridge ficou crítico em 4 de novembro de 1943, Fermi estava à disposição para o caso de algo dar errado. Os técnicos o acordaram cedo para que ele pudesse ver acontecer. Colocar o X-10 em operação foi outro marco no projeto do plutônio. Forneceu dados sobre o projeto do reator, treinamento para a equipe da DuPont na operação do reator e produziu as primeiras pequenas quantidades de plutônio gerado no reator. Fermi tornou-se cidadão americano em julho de 1944, a data mais antiga permitida por lei.
Em setembro de 1944, Fermi inseriu o primeiro cartucho de urânio combustível no Reator B em Hanford Site, o reator de produção projetado para produzir plutônio em grandes quantidades. Como o X-10, ele tinha sido projetado pela equipe de Fermi no Laboratório Metalúrgico e construído pela DuPont, mas era muito maior e era refrigerado a água. Nos dias seguintes, 838 tubos foram carregados e o reator ficou crítico. Pouco depois da meia-noite de 27 de setembro, os operadores começaram a retirar as hastes de controle para iniciar a produção. A princípio tudo parecia estar bem, mas por volta das 03h00, o nível de energia começou a cair e às 06h30 o reator desligou completamente. O Exército e a DuPont recorreram à equipe de Fermi para obter respostas. A água de resfriamento foi investigada para verificar se havia vazamento ou contaminação. No dia seguinte, o reator ligou repentinamente, apenas para desligar novamente algumas horas depois. O problema foi atribuído ao envenenamento por nêutrons do xenônio-135, um produto de fissão com meia-vida de 9,2 horas. A DuPont se desviou do projeto original do Laboratório Metalúrgico, no qual o reator tinha 1 500 tubos dispostos em um círculo, e adicionou 504 tubos para preencher os cantos. Os cientistas haviam considerado originalmente esse excesso de engenharia uma perda de tempo e dinheiro, mas Fermi percebeu que, se todos os 2 004 tubos fossem carregados, o reator poderia atingir o nível de energia necessário e produzir plutônio com eficiência.
Em meados de 1944, Robert Oppenheimer convenceu Fermi a se juntar ao seu Projeto Y em Los Alamos, Novo México. Chegando em setembro, Fermi foi nomeado diretor associado do laboratório, com ampla responsabilidade pela física nuclear e teórica, e foi colocado no comando da Divisão F, que recebeu seu nome. A Divisão F tinha quatro ramos: F-1 Super e Teoria Geral sob Teller, que investigava a bomba "Super" (termonuclear); F-2 Water Boiler sob LDP King, que cuidou do reator de pesquisa homogêneo aquoso "water boiler"; Super Experimentação F-3 sob Egon Bretscher; e F-4 Fission Studies sob Anderson. Fermi observou o Teste Trinity em 16 de julho de 1945, e conduziu um experimento para estimar o rendimento da bomba jogando tiras de papel na onda de explosão. Ele mediu a distância em que foram destruídos pela explosão e calculou o rendimento em dez quilotons de TNT; o rendimento real foi de cerca de 18,6 quilotons.
Junto com Oppenheimer, Compton e Ernest Lawrence, Fermi fez parte do painel científico que assessorou o Comitê Interino na seleção de alvos. O painel concordou com o comitê que as bombas atômicas seriam usadas sem aviso contra um alvo industrial. Como outros no Laboratório de Los Alamos, Fermi soube dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki através do sistema de som na área técnica. Fermi não acreditava que as bombas atômicas impediriam as nações de iniciar guerras, nem achava que era hora de um governo mundial. Ele, portanto, não se juntou à Associação de Cientistas de Los Alamos.
Trabalho pós-guerra
Em seus últimos anos, Fermi fez trabalhos importantes em física de partículas, especialmente a relacionada com mésons pi, e múons. Ele também era conhecido por ser um professor inspirador na Universidade de Chicago (embora não tenha deixado o Laboratório de Los Alamos até dezembro de 1945), e era conhecido por sua atenção aos detalhes, simplicidade e preparação cuidadosa das aulas. A curta distância entre Argonne e Chicago permitia a participação ativa do cientista tanto nas aulas da universidade quanto na física experimental em Argonne, estudando dispersão de nêutrons com Leona Marshall. Mais tarde, suas notas de aula, especialmente as de mecânica quântica, física nuclear, e termodinâmica, foram transcritas em livros que ainda são impressos. Enrico Fermi também discutiu aspectos em física teórica com Maria Mayer, ajudando-a em seu trabalho sobre a interação spin-órbita, o que a levaria ao Prêmio Nobel.
O Projeto Manhattan foi substituído pela Comissão de Energia Atômica (CAE) no primeiro dia de janeiro de 1947. Fermi fez parte de uma importante subdivisão científica da CAE encabeçada por Robert Oppenheimer. Ele também gostava de passar algumas semanas de cada ano no Laboratório de Los Alamos, onde ajudou Nicholas Metropolis e John von Neumann na instabilidade de Rayleigh-Taylor, a ciência do que ocorre na fronteira entre dois fluidos de diferentes densidades.
Logo após a detonação da primeira bomba nuclear soviética em agosto de 1949, Fermi, junto com Isidor Rabi, escreveu um forte manifesto ao comitê, se opondo fortemente ao desenvolvimento de uma bomba de hidrogênio tanto em aspectos morais quanto técnicos. Mesmo assim, continuou trabalhando no desenvolvimento dessa bomba como consultor.
Nos anos que se seguiram, Fermi continuou lecionando na Universidade de Chicago. Seus alunos de PhD no período pós-guerra incluíam Owen Chamberlain, Geoffrey Chew, Jerome Friedman, Marvin Goldberger, Tsung-Dao Lee, Arthur Rosenfeld e Sam Treiman. Jack Steinberger era seu aluno de graduação. Fermi conduziu importantes experimentos na física de partículas, especialmente os relacionados a píons e múons. Ele fez as primeiras predições da ressonância píon-núcleon, se baseando em métodos estatísticos, pois achava que resultados exatos não eram necessários para uma teoria que não estava completamente correta. Em um artigo com a co-autoria de Chen Ning Yang, ele especulou que píons poderiam ser partículas compostas, uma ideia anteriormente formulada por Shoichi Sakata. Foi então postulado, após anos de estudo, que os píons eram feitos de quarks, que completava o modelo de Fermi e criava o modelo quark.
Fermi também escreveu um artigo "Sobre a origem da Radiação Cósmica" no qual ele propôs que os raios cósmicos provinham de um material acelerado por campos magnéticos no espaço interestelar, o que levou a uma divergência de opiniões entre ele e Teller. O cientista italiano também examinou assuntos relacionados a campos magnéticos nos braços de uma galáxia espiral. Ele também criou o paradoxo de Fermi, um raciocínio muito interessante sobre civilizações extraterrestres.
Perto de sua morte, Fermi questionou sua fé na sociedade e também a capacidade de tomarmos uma decisão prudente em relação às armas nucleares. Ele disse:
Impacto e legado
Fermi recebeu vários prêmios em reconhecimento por suas realizações, incluindo a Medalha Matteucci em 1926, o Prêmio Nobel de Física em 1938, a Medalha Hughes em 1942, a Medalha Franklin em 1947 e o Prêmio Rumford em 1953. Ele recebeu a Medalha por Mérito em 1946 por sua contribuição para o Projeto Manhattan. Fermi foi eleito membro estrangeiro da Royal Society (FRS) em 1950. A Basílica de Santa Cruz, em Florença, conhecida como o Templo das Glórias Italianas por seus muitos túmulos de artistas, cientistas e figuras proeminentes da história italiana tem uma placa comemorativa de Fermi. Em 1999, a Time nomeou Fermi em sua lista das 100 melhores pessoas do século XX. Fermi foi amplamente considerado como um caso incomum de um físico do século XX que se destacou tanto teórica quanto experimentalmente. O historiador da física, CP Snow, escreveu que "se Fermi tivesse nascido alguns anos antes, seria possível imaginá-lo descobrindo o núcleo atômico de Rutherford e, em seguida, desenvolvendo a teoria do átomo de hidrogênio de Bohr. Se isso soa como uma hipérbole, qualquer coisa sobre Fermi provavelmente soará como uma hipérbole".
Fermi era conhecido como um professor inspirador e era conhecido por sua atenção aos detalhes, simplicidade e preparação cuidadosa de suas palestras. Mais tarde, suas notas de aula foram transcritas em livros. Seus papéis e cadernos estão hoje na Universidade de Chicago. Victor Weisskopf observou como Fermi "sempre conseguiu encontrar a abordagem mais simples e direta, com o mínimo de complicação e sofisticação". Ele não gostava de teorias complicadas e, embora tivesse grande habilidade matemática, nunca a usaria quando o trabalho poderia ser feito de maneira muito mais simples. Ele era famoso por obter respostas rápidas e precisas para problemas que confundiam outras pessoas. Mais tarde, seu método de obter respostas rápidas por meio de cálculos aproximados tornou-se informalmente conhecido como Método de Fermi, e é amplamente ensinado.
Fermi gostava de apontar que quando Alessandro Volta estava trabalhando em seu laboratório, Volta não tinha ideia de onde o estudo da eletricidade o levaria. Fermi é geralmente lembrado por seu trabalho com energia nuclear e armas nucleares, especialmente a criação do primeiro reator nuclear e o desenvolvimento das primeiras bombas atômicas e de hidrogênio. Seu trabalho científico resistiu ao teste do tempo. Isso inclui sua teoria do decaimento beta, seu trabalho com sistemas não lineares, sua descoberta dos efeitos de nêutrons lentos, seu estudo de colisões píon-nucleon e suas estatísticas Fermi-Dirac. Sua especulação de que um píon não era uma partícula fundamental apontou o caminho para o estudo de quarks e léptons.
Fermi morreu prematuramente, aos 53 anos de idade, vítima de câncer no estômago, provavelmente causado pela exposição a materiais radioativos. Foi sepultado no Oak Woods Cemetery, Chicago, Illinois, Estados Unidos.
Publicações
(com Edoardo Amaldi)
Para obter uma lista completa de seus papéis, consulte as páginas 75-78 na ref.
Patentes
Patente dos EUA 2206634, "Process for the Production of Radioactive Substances", emitida em julho de 1940
Patente dos EUA 2836554, "Air Cooled Neutronic Reactor", emitida em abril de 1950
Patente dos EUA 2524379, "Neutron Velocity Selector", emitida em outubro de 1950
Patente dos EUA 2852461, "Neutronic Reactor", emitida em setembro de 1953
Patente dos EUA 2708656, "Neutronic Reactor", emitida em maio de 1955
Patente dos EUA 2768134, "Testing Material in a Neutronic Reactor", emitida em outubro de 1956
Patente dos EUA 2780595, "Test Exponential Pile", emitida em fevereiro de 1957
Patente dos EUA 2798847, "Método de Operação de um Reator Neutrônico", emitida em julho de 1957
Patente dos EUA 2807581, "Neutronic Reactor", emitida em setembro de 1957
Patente dos EUA 2807727, "Neutronic Reactor Shield", emitida em setembro de 1957
Patente dos EUA 2813070, "Método de Sustentar um Sistema de Reação em Cadeia Neutrônica", emitida em novembro de 1957
Patente dos EUA 2837477, "Chain Reacting System", emitida em junho de 1958
Patente dos EUA 2931762, "Neutronic Reactor", emitida em abril de 1960
Patente dos EUA 2969307, "Método de teste de material fissionável por nêutrons térmicos para pureza", emitida em janeiro de 1961
Ver também
Problema de Fermi
Paradoxo de Fermi
Bibliografia
Ligações externas
National Inventors Hall of Fame
Nobel de Física
Laureados da Itália com o Nobel
Medalha Hughes
Medalha Max Planck
Membros estrangeiros da Royal Society
Pessoas do Projeto Manhattan
Professores da Universidade Columbia
Professores da Universidade de Chicago
Professores da Universidade de Göttingen
Professores da Universidade La Sapienza
Físicos nucleares da Itália
Alunos da Universidade de Pisa
Norte-americanos de ascendência italiana
Cidadãos naturalizados dos Estados Unidos
Naturais de Roma
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Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, em Massachusetts, nos Estados Unidos, 19 de janeiro de 1809 – Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos, 7 de outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico em seu país. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores norte-americanos de contos e é, geralmente, considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.
Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, em Massachusetts. Quando jovem, ficou órfão de mãe, a qual morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, na Virgínia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).
Poe mudou seu foco para a prosa e passou os anos seguintes trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu estilo próprio de crítica literária. Seu trabalho obrigou-o a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, o qual foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que o jornal pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi, por diversas vezes, atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose, entre outros agentes.
Suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.
História
Edgar Allan Poe nasceu no seio de uma família escocesa-irlandesa, em 19 de janeiro de 1809, na cidade de Boston, no estado de Massachusetts, na região americana da Nova Inglaterra, no nordeste do país. Segundo filho dos atores David Poe Jr. (1784-1811), americano, e Elizabeth Arnold Hopkins Poe (1787-1811), inglesa, ele teve, ainda, um irmão mais velho, William Henry, nascido em 1808, e uma irmã, a mais nova, Rosalie, nascida em 1811. Seu pai abandonou-os quando Edgar tinha cerca de um ano e meio de vida, em 1810, deixando ele, o irmão Henry e Elizabeth, esta grávida novamente, desamparados. Ela morreu poucas semanas depois de dar, à luz, Rosalie, já em 1811, devido tanto a complicações no parto quanto à tuberculose, deixando os três filhos órfãos.
Depois da morte da mãe, o irmão mais velho de Edgar, Henry, foi mandado para casa de parentes no interior do país, enquanto sua irmã, Rosalie, foi enviada formalmente para a adoção. Já Edgar foi acolhido, embora não formalmente adotado, pelo empresário John Allan e sua esposa, Francis Allan, que residiam na época na cidade de Richmond, no estado da Virgínia, no sudeste do país. O casal nunca o adotou legalmente, embora John tenha lhe dado o seu sobrenome, fazendo com que Edgar se chamasse, a partir de então, Edgar Allan Poe. No entanto, John Allan e Edgar nunca conseguiram desenvolver uma boa relação, sendo que algumas fontes afirmam que Allan só acolheu o menino para criá-lo por insistência de sua esposa, Francis. De fato, Edgar se mostrou desde pequeno mais apegado à mãe adotiva do que ao pai, que permanecia sempre distante, o que fomentou, direta e indiretamente, a difícil relação estabelecida entre os dois a partir da adolescência e fase adulta do escritor, permeada por constantes brigas e discussões que ambos teriam ao longo da vida de Poe.
Com os pais adotivos de boa situação financeira, Edgar recebeu uma educação formal de qualidade em sua infância. Em 1815, aos seis anos de idade, se mudou com eles para a Inglaterra, onde seu pai adotivo esperava expandir seus negócios. Lá, eles se estabeleceram por alguns anos no coração da capital, Londres. Na capital britânica, depois de frequentar a Misses Duborg School e a Manor School, Poe regressou com a família de Allan a Richmond em 1820, aos onze anos, tendo sido então matriculado em um colégio interno localizado nos arredores de Charlottesville, na Virgínia. Mais tarde, já adolescente, em 1826, foi admitido na Universidade da Virgínia, também em Charlottesville. Desta, viria a ser expulso depois de cerca de um ano de frequência, graças ao seu estilo aventureiro e boêmio.
Na sequência de desentendimentos com o seu pai adotivo, relacionados com dívidas de jogo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, no ano de 1827. Nesse mesmo período, Poe publicou o seu primeiro livro, Tamerlane and Other Poems. Depois de dois anos de serviço militar, acabaria por ser dispensado. Em 1829, a sua mãe adotiva, Francis, faleceu, e ele publicou o seu segundo livro, Al Aaraf, reconciliando-se com o seu pai adotivo, John Allan, que o auxiliou a entrar na Academia Militar de West Point. Em virtude da sua supostamente propositada desobediência a ordens, ele acabou por ser expulso desta academia, em 1831, fato pelo qual o seu pai adotivo o repudiou até a sua morte, em 1834.
Antes de entrar em West Point, Poe mudou-se para Baltimore, no estado de Maryland, onde estabeleceu-se na casa da sua tia viúva, Maria Clemm, e da sua filha, Virgínia Clemm, sua prima em primeiro grau. Durante esta época, Poe usou a escrita de ficção como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do jornal Southern Literary Messenger em Richmond, tendo trabalhado nesta posição até 1837. Neste intervalo de tempo, Poe acabaria por casar-se, em segredo, com a sua prima Virgínia, de treze anos, em 1836.
Em 1837, Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses aparentemente improdutivos, antes de se mudar em definitivo para a Filadélfia, na Pensilvânia, pouco depois de publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor assistente da Burton's Gentleman's Magazine, onde publicou um grande número de artigos, histórias e críticas literárias e teatrais. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a sua coleção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzido para o francês por Baudelaire como Histoires Extraordinaires e para o português como Histórias Extraordinárias), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco da literatura norte-americana.
Durante este período, sua esposa Virgínia Clemm-Poe, começou a sofrer de tuberculose, que a tornaria inválida e acabaria por levá-la à morte. A doença da mulher acabou por levar Poe ao consumo excessivo de álcool. Algum tempo depois, Poe deixou a Burton's Gentleman's Magazine para procurar um novo emprego. Regressou a Nova Iorque, onde trabalhou brevemente no periódico Evening Mirror, antes de se tornar editor do mais renomado Broadway Journal. Foi no Evening Mirror, porém, que, no início de 1845, foi publicado o seu popular poema The Raven (em português, "O Corvo").
Em 1846, o Broadway Journal faliu, e Poe mudou-se para uma casa no Bronx, hoje conhecida como Poe Cottage e aberta ao público, onde Virgínia morreu no ano seguinte. Biógrafos e críticos costumam sugerir que o tema de "morte de mulheres bonitas" que aparece frequentemente em suas obras decorre da perda de mulheres ao longo de sua vida, incluindo sua esposa.
Cada vez mais instável, após a morte da mulher, Poe tentou cortejar a poeta Sarah Helen Whitman. No entanto, o seu noivado com ela acabaria por falhar, alegadamente em virtude do comportamento errático e alcoólico de Poe, mas bastante provavelmente também devido à intromissão da mãe de Sarah, que não via Edgar com bons olhos. Nesta época, segundo ele mesmo relatou, Poe tentou o suicídio por sobredosagem de láudano, e acabou por regressar a Richmond, onde retomou a relação com uma paixão de infância, Sarah Elmira Royster, então já viúva.
Morte
No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram as suas, em estado de delirium tremens, e levado para o Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro dias depois. Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, "Lord, please, help my poor soul", em português, "Senhor, por favor, ajude minha pobre alma".
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de não comprovada, a ideia de ter sido causada por embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, entre as quais estão presentes: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras.
Estilo literário e temas
Gêneros
As obras mais conhecidas de Poe são góticas, um gênero que ele seguiu para satisfazer o gosto do público. Seus temas mais recorrentes lidam com questões da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por pessoas enterradas vivas, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são geralmente consideradas partes do gênero do romantismo sombrio, uma reação literária ao transcendentalismo, do qual Poe fortemente não gostava.
Além do horror, Poe também escreveu sátiras, contos de humor e embustes. Para efeito cômico, ele usou a ironia e a extravagância do ridículo, muitas vezes na tentativa de liberar o leitor da conformidade cultural. De fato, "Metzengerstein", a primeira história que Poe publicou, e sua primeira incursão em terror, foi originalmente concebida como uma paródia satirizando o gênero popular. Poe também reinventou a ficção científica, respondendo na sua escrita às tecnologias emergentes como balões de ar quente em "The Balloon-Hoax".
Poe escreveu muito de seu trabalho usando temas especificamente oferecidos para os gostos do mercado em massa. Para esse fim, sua ficção incluiu, muitas vezes, elementos da pseudociência popular, como frenologia e fisiognomia.
Poe ainda escreveu teatro, publicando entre 1835 e 1836 o drama incompleto Politian.
Teoria literária
A escrita de Poe reflete suas teorias literárias, que ele apresentou em sua crítica e também em peças literárias como "The Poetic Principle".
Ele não gostava de didatismo e alegoria, pois acreditava que os significados na literatura deveriam ser uma subcorrente sob a superfície. Trabalhos com significados óbvios, ele escreveu, deixam de ser arte. Acreditava que o trabalho de qualidade deveria ser breve e concentrar-se em um efeito específico e único. Para isso, acreditava que o escritor deveria calcular cuidadosamente todos os sentimentos e ideias.
Em The Philosophy of Composition, uma peça na qual Poe descreve seu método de escrita em The Raven, ele afirma ter seguido estritamente este método. Porém, foi questionado se ele realmente seguiu esse sistema.
T. S. Eliot disse: "É difícil para nós lermos esta peça sem pensar se Poe escreveu seu poema com tanto cálculo, ele poderia ter pensado um pouco mais sobre isto: o resultado dificilmente pode ser creditado ao método". O biógrafo Joseph Wood Krutch descreveu a peça como "um exercício um tanto engenhoso na arte de racionalização".
Legado
Influência Literária
Durante sua vida, Poe era sobretudo conhecido como um crítico literário. James Russell Lowell, também crítico, dizia que ele era "o mais distinto, filosófico e destemido crítico de obras que tem escrito na América", sugerindo – retoricamente – que ele ocasionalmente usava ácido prússico ao invés de tinta. As críticas cáusticas de Poe fizeram com que ele ganhasse o apelido de "Homem da Machadinha". Seu alvo favorito era o poeta de Boston, aclamado em sua época, Henry Wadsworth Longfellow, que era frequentemente defendido por seus companheiros literários no que seria mais tarde chamada de "A Guerra de Longfellow". Poe acusava Longfellow de "a heresia da didática", escrevendo poesias enfadonhas, derivativas e tematicamente plagiadas.
Poe também era conhecido como um escritor de ficção e se tornou um dos primeiros escritores americanos do século XIX a se tornar mais popular na Europa do que nos Estados Unidos. Poe era respeitado especialmente na França, em parte devido às traduções sem demora de Charles Baudelaire, que vieram a se tornar as edições definitivas das obras de Poe pela Europa.
Os contos de detetive de Poe com o personagem C. Auguste Dupin acabariam por se tornar a base para as futuras histórias de detetive da literatura. Segundo sir Arthur Conan Doyle: "Cada uma [das estórias de detetive de Poe] é uma raiz da qual toda uma literatura se desenvolveu... Onde estavam as estórias de detetives antes de Poe soprar o sopro da vida nelas?". A associação Mystery Writers of America nomeou seus prêmios para a excelência no gênero de "Edgars". Poe também influenciou o gênero de ficção científica, especialmente Jules Verne, que escreveu uma continuação para o romance de Poe A Narrativa de Arthur Gordon Pym chamada Le Sphinx des glaces ("A esfinge dos gelos"). Segundo o autor de ficção científica H. G. Wells, "Pym conta o que uma mente muito inteligente poderia imaginar sobre o polo sul há um século atrás".
Assim como diversos artistas famosos, as obras de Poe geraram diversos imitadores. Uma interessante tendência entre os imitadores de Poe, no entanto, eram as alegações de clarividentes ou pessoas com poderes paranormais de estarem canalizando poemas do espírito de Poe. O mais notável destes casos foi o de Lizzie Doten, que em 1863 publicou Poems from the Inner Life, no qual ela alega ter "recebido" novas obras pelo espírito do autor. Estas obras constituíam-se de retrabalhos de poemas famosos de Poe como The Bells (poema) refletindo uma nova perspectiva, mais positiva.
No entanto, Poe também era alvo de criticismo. Isto era parcialmente devido à visão negativa que existia devido ao seu caráter pessoal e à influência que este tinha em sua reputação. William Butler Yeats, ocasionalmente, criticava Poe e, uma vez, chegou a chamá-lo de "vulgar". Transcendentalista Ralph Waldo Emerson reagiu ao poema "O Corvo" dizendo que "não via nada de mais nele", referindo-se a Poe de modo zombeteiro como "o homem do chocalho". Aldous Huxley escreveu que a composição literária de Poe "cai na vulgaridade" por ser "muito poética" – o equivalente a usar um anel de diamantes em cada dedo.
Acredita-se que apenas doze cópias do primeiro livro de Poe, Tamerlane and Other Poems, ainda existem. Em dezembro de 2009, foi vendida uma cópia na sociedade de leilões Christie's, em Nova Iorque, por 662 500 dólares estadunidenses, um preço recorde pago por uma obra da literatura americana.
Física e Cosmologia
Eureka: Um poema em prosa, dissertação escrita em 1848, contém uma teoria cosmológica que previu a teoria do Big Bang oitenta anos antes do seu surgimento, assim como uma solução plausível para o paradoxo de Olbers. Poe ignorou o método científico em Eureka e, ao invés disso, escreveu utilizando apenas sua intuição. Por esta razão, ele a considerou uma obra de arte ao invés de um trabalho científico, mas insistiu que, ainda assim, era verdadeiro, e a considerou ser a obra-prima de sua carreira. Ainda assim, Eureka está repleta de erros científicos. Em particular, as sugestões de Poe ignoram as leis de Newton relacionadas à densidade e rotação de planetas.
Criptografia
Poe tinha um grande interesse em criptografia. Ele notou pela primeira vez suas habilidades no periódico da Filadélfia Alexander's Weekly (Express) Messenger, que estava convidando leitores a submeterem cifras, o qual ele procedeu a resolver. Em julho de 1841, Poe escreveu um artigo chamado "Algumas palavras sobre Escrita Secreta" no periódico Graham's Magazine. Se aproveitando do interesse público no tópico, ele escreveu "O Escaravelho de Ouro", incorporando cifras como parte essencial da estória. O sucesso de Poe com criptografia não dependia muito de seu conhecimento profundo do campo (seu método era limitado a simples cifra de substituição), mas sim no conhecimento adquirido da cultura de jornais e periódicos. Sua afiada habilidade analítica, tão evidente em suas estórias de detetive, permitia que ele visse que o público em geral não possuía o conhecimento necessário para saber como um simples criptograma de substituição podia ser resolvido, e ele usava isso a seu favor. A comoção criada por suas façanhas criptográficas desempenhou um papel importante em popularizar criptogramas em jornais e revistas.
Poe teve uma influência na criptografia, além de incrementar o interesse público por ela durante sua vida. William F. Friedman, um dos principais criptologistas da América, foi profundamente influenciado por Poe. O interesse inicial de Friedman por criptografia veio após ele ler "O Escaravelho de Ouro" quando criança, interesse este que, mais tarde, seria posto em uso para decifrar códigos da máquina "Púrpura", pertencente ao Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Obras
Contos
1833 - Manuscrito encontrado numa garrafa
1835 - Berenice
1835 - Morella
1838 - Ligeia
1839 - A Queda da Casa de Usher ("The Fall of the House of Usher")
1839 - William Wilson
1841 - Os Assassinatos da Rua Morgue ("The Murders in the Rue Morgue")
1841 - A Descida do Maelstrom
1842 - O Retrato Oval ("The Oval Portrait")
1842 - A Máscara da Morte Rubra ("The Masque of the Red Death")
1842 - O Mistério de Marie Rogêt ("The Mystery of Marie Rogêt")
1842 - O Poço e o Pêndulo ("The Pit and the Pendulum")
1843 - O Coração Revelador ("Tell Tale Heart")
1843 - O Escaravelho de Ouro ("The Gold-Bug")
1843 - O Gato Preto ("The Black Cat")
1844 - O Enterro Prematuro ("The Premature Burial")
1844 - A Carta Roubada ("The Purloined Letter")
1845 - O Demônio da Perversidade ("The Imp of the Perverse")
1845 - The System of Doctor Tarr and Professor Fether
1845 - Os Fatos que Envolveram o Caso Mr.Valdemar ("The Facts in the Case of M. Valdemar")
1846 - O Barril de Amontillado ("The Cask of Amontillado")
1849 - Hop-Frog ou "Os Oito Orangotangos Acorrentados"
Poesia
1827 - Tamerlane
1829 - Al Aaraaf
1830 - Alone
1831 - The City in the Sea
1833 - The Coliseum
1837 - O Verme Vencedor ("The Conqueror Worm")
1839 - The Haunted Palace
1840 - Silence
1843 - Lenore
1845 - Eulalie
1845 - O Corvo ("The Raven")
1847 - Ulalume
1848 - To Helen
1849 - A Dream Within a Dream
1849 - Eldorado
1849 - Annabel Lee
1849 - The Bells
Outras obras
1838 - A Narrativa de Arthur Gordon Pym ("The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket")
1844 - The Balloon Hoax
1846 - Filosofia da composição
1848 - Eureka
Bibliografia
Ligações externas
Poetas dos Estados Unidos
Romancistas dos Estados Unidos
Contistas dos Estados Unidos
Críticos literários dos Estados Unidos
Escritores de ficção científica dos Estados Unidos
Naturais de Boston
Precursores da poesia moderna
Poetas malditos
Escritores de horror
Escritores em língua inglesa
Escritores de literatura policial |
A embriologia é a especialidade da biologia que estuda a formação dos órgãos e sistemas de um animal, a partir de uma célula. Faz parte da biologia do desenvolvimento. O desenvolvimento embrionário dos animais inicia-se pela relação sexual, gerando o zigoto ou ovo, que passará por três fases sucessivamente: mórula, blástula e gástrula.
Formação dos espermatozoides e a fecundação (no ser humano)
Os espermatozoides são formados nos testículos, sendo depois armazenados nos epidídimos, estruturas em formas de C que ficam à volta dos testículos, onde ocorre a maturação dos espermatozoides. Estes são levados pelos funículos espermáticos, e em seguida ao ducto deferente até a parte final da uretra, a fossa navicular de onde é expelido durante a ejaculação. É importante lembrar que a cada ejaculação o homem produz em média de 200 a 500 milhões de espermatozoides, sendo somente 15 por cento são perfeitos, com chances de chegar ao seu objetivo. E desses um só consegue penetrar no ovócito II.
Já dentro do trato genital feminino, o espermatozoide, com seu flagelo, vai ao encontro do ovócito II, por atração química. Durante esse percurso é quando acontece a capacitação, onde o espermatozoide, juntamente com substâncias genitais femininas, das quais retira algumas propriedades, o que faz com que ele seja atraído pelo ovócito II e consiga fecundá-lo.
Chegando ao encontro do gameta feminino, esse espermatozoide, cuja célula tem grande número de lisossomas, libera algumas substâncias para digerir a camada de células (teca) e a zona pelúcida, que envolve o ovócito II. É importante lembrar que essa camada é um pouco espessa, e portanto o primeiro espermatozoide a chegar nunca entra no ovócito II, mas os outros aproveitam-se do caminho feito pelos primeiros.
Bloqueio direto
Quando o espermatozoide atinge o ovócito II, há uma despolarização química desse ovócito II, o que a enrijece e impede que outros gametas adentrem o ovócito II, o que dura aproximadamente 15 segundos, fazendo desencadear o bloqueio lento. Esse bloqueio lento é o processo pelo qual ocorre a diferenciação sexual.
Bloqueio indireto
Dentro do ovócito II, existem algumas estruturas chamadas vesículas corticais, que "estouram" depois do bloqueio lento, liberando substâncias que tornam o ovócito II não mais atrativo ao espermatozoide.
Então depois de todo esse trajeto e algum tempo, o ovócito II e o espermatozoide, já fundidos, passam a se chamar ovo, uma única célula com 46 cromossomas, 23 do pai e 23 da mãe, que dará origem a um novo ser.
Desenvolvimento
Portanto, a fecundação dá-se quando um espermatozoide fecunda um ovócito II e forma uma Célula-ovo que se divide por mitoses sucessivas em 2,4,8..16..32... células.
Atualmente há um interesse crescente em torno do desenvolvimento humano desde o período que precede o nascimento (chamado de desenvolvimento embrionário). Este é um processo contínuo que tem seu início quando um ovócito (óvulo) é fertilizado por um espermatozoide. Algumas fases se combinam e transformam o ovócito fertilizado (totipotente) em um organismo multicelular, são elas: a divisão, a migração e a morte celular junto à diferenciação, ao crescimento e ao rearranjo celular. Apesar da maioria das mudanças ocorrerem nos períodos embrionários e fetais, acontecem também muitas mudanças significativas e igualmente importantes no período posterior ao nascimento, na sequência das fases de infância, adolescência e início da fase adulta.
Com isso é fácil dizer que o desenvolvimento não termina ao nascimento, aliás se inicia com a fertilização, pois a partir de então ocorre mudanças que vão além do crescimento, como por exemplo o desenvolvimento dos dentes e das mamas. O cérebro triplica seu peso entre o nascimento e os 16 anos de idade, contudo o desenvolvimento estará completo por volta dos 25 anos, podendo variar de indivíduo para indivíduo.
Veremos a seguir as etapas do desenvolvimento do indivíduo, dividindo-o em dois períodos: pré-natal e pós-natal.
Período pré-natal
Ficheiro:
No quadro esquemático acima pode-se acompanhar as principais alterações ocorridas antes do nascimento. Vários estudos realizados sobre a cronologia pré-natal mostram que muitos dos avanços perceptíveis ocorrem entre a terceira e a oitava semana de gestação, ainda que se saiba que o embrião inicia todo seu desenvolvimento a partir da fertilização do ovócito. Para entender melhor este quadro esquemático, faz-se necessário conhecer as terminologias embriológicas a seguir:
Ovócito (do latin ovum, ovo): esta célula é do tipo germinativa feminina, ou seja, se fertilizada originará novos gametas reprodutivos. O ovário é o órgão encarregado da fabricação destas células que quando estão completamente maturadas recebem a denominação de ovócito secundário ou maduro.
Espermatozoide (do grego sperma, semente): esta célula também é do tipo germinativa masculina, tem sua produção nos testículos e é expelida durante a ejaculação.
Zigoto: é o produto do processo de fertilização. É também um marco do início de uma nova vida, que começa neste instante.
Idade da fertilização: popularmente conhecida como “idade gestacional”, que tem cerca de duas semanas a mais que a idade da fertilização de fato. É difícil precisar com exatidão quando a concepção (fertilização) ocorreu porque o processo não pode ser observado in vivo. Porém os médicos especialistas fazem cálculos aproximados a partir do primeiro dia do último período menstrual normal (UPMN), normalmente com informações fornecidas pela gestante, da idade do embrião ou feto, haja vista que o ovócito só é fertilizado cerca de duas semanas depois da menstruação precedente.
Clivagem: este evento é uma sequência de divisões celulares mitóticas que o zigoto sofre, e os produtos deste processo são os blastômeros. Durante a clivagem o zigoto não sofre variação de tamanho.
Mórula (do latin morus, amora): é o conjunto de 32 a 64 blastômeros, formado através do processo de clivagem do zigoto. Os blastômeros vão mudando sua forma e se interconectando, formando um aglomerado firme de células, assemelhando-se a uma amora, fato esse que justifica seu nome. Este estágio ocorre de 3 a 4 dias após a fertilização concomitantemente à chegada do embrião no útero.
Blastocistos (do grego blastos, germe + kystis, vesícula): nesse estágio a mórula sofre mudanças que a converte em blastocisto. Isto ocorre imediatamente após a chegada da mórula no útero, quando a cavidade blastocística é preenchida por um líquido. Neste momento suas células se dispõem centralmente e formam o primórdio do embrião.
Gástrula (do grego gaster, estômago): neste estágio, onde o embrião já está na terceira semana, o blastocisto se transforma em gástrula, a este processo de transformação chamamos “gastrulação”. Durante toda esta fase forma-se um disco embrionário trilaminar. Esse disco é responsável pelas 3 camadas germinativas da gástrula que se diferenciarão nos tecidos e órgãos do embrião: ectoderma, mesoderma e endoderma.
Nêurula (do grego neuron, nervo): neste estágio o embrião se desenvolve a partir da placa neural, isto ocorre durante a terceira e a quarta semana. É o primeiro vestígio do sistema nervoso.
Anomalias congênitas ou defeitos do nascimento: são anormalidades que acontecem durante todo o estágio de desenvolvimento do embrião, perceptíveis ao nascimento, como por exemplo uma fenda labial. Mas existe a possibilidade de não serem detectadas até a infância, e ainda mais raramente até a fase adulta, como, por exemplo, a presença de três rins.
Gametogénese
É o processo de formação e desenvolvimento das células germinativas, os gametas, preparando-os para a fertilização. Durante a gametogênese, o número de cromossomos é reduzido para metade e a forma das células é alterada. A gametogênese masculina é chamada espermatogênese e a feminina Ovogênese.
Na espermatogênese, ainda no período fetal são formadas as espermatogônias, células diploides, que ficam nos tubos seminíferos. Ao atingir a puberdade, estas células irão começar a desenvolver-se, aumentando de número por meio de sucessivas mitoses. Após sofrerem mitoses e modificações, transformam-se em espermatócitos primários. Estas células sofrerão uma meiose reducional. Assim formam-se dois espermatócitos secundários, haploides, que sofrem uma 2° divisão meiótica que formará quatro espermatidíos haploides. Esses espermatidíos sofrerão a espermiogênese, um processo de maturação das espermatidíos até se transformarem em espermatozoides. Todo o processo da espermatogênese é sustentado pelas células de Sertoli, que revestem o túbulo seminífero, nutrindo os espermatidíos.
A ovogênese é mais complicada. Consiste, muito resumidamente, na transformação das ovogônias em ovócitos maduros. Antes de nascer, no período fetal, as ovogônias, células diploides, começam a proliferar-se por divisões mitóticas. Ainda no período fetal, as ovogônias desenvolvem-se e formam os ovócitos primários (ovócito I), que consistem em células esféricas cobertas pela zona pelúcida e por um folículo primordial, células do tecido conjuntivo achatadas. Na puberdade este folículo primordial cresce, e o ovócito primário também. As células foliculares sofrem modificações até formarem o Folículo Primário. Depois com a formação de mais camadas foliculares, forma-se o folículo secundário. E assim o desenvolvimento destas células fica parado na prófase da Meiose I (estágio de dictióteno), que seria até mais ou menos os 11 anos.
A meiose feminina só é completada após a fecundação.
Acredita-se que uma substância conhecida como Inibidor da maturação do ovócito (OMI), age mantendo estacionado o processo meiótico (dictióteno).
Durante a puberdade o folículo amadurece e ocorre a ovulação (ou ovocitação).
Após o nascimento , não se forma mais nenhum ovócito I. Ou seja, a mulher nasce com um número certo de células reprodutoras, enquanto o homem têm uma contínua produção de espermatócitos, pois o ciclo mitótico e meiótico é constante nos homens.
Assim os ovócitos I permanecem em repouso nos folículos ovarianos até a puberdade (em prófase, no dictióteno). O ovócito I aumenta de tamanho na maturação imediatamente antes da ovulação.
É nos túbulos seminíferos, que são produzidos os espermatozoides. Dentro deles encontra-se o epitélio germinativo, que são células que se diferenciam para formar o espermatozoide.
Galeria
Ligações externas
Desenvolvimento Embrionário Humano
Divisões da biologia |
Ficção científica (normalmente abreviado para SF, FC, sci-fi ou scifi) é um gênero da ficção especulativa, que normalmente lida com conceitos ficcionais e imaginativos, relacionados ao futuro, ciência e tecnologia, e seus impactos e/ou consequências em uma determinada sociedade ou em seus indivíduos, desenvolvido no século XIX. Conhecida também como a "literatura das ideias", evita utilizar-se do sobrenatural, tema mais recorrente na Fantasia, baseando-se em fatos científicos e reais para compor enredos ficcionais.
A ação pode girar em torno de um grande leque de possibilidades como: viagem espacial, viagem no tempo, viagem mais rápida que a luz, universos paralelos, mudanças climáticas, totalitarismo e/ou vida extraterrestre.
Definição
Devido aos seus vários sub-gêneros e temas tratados, ficção científica não é fácil de definir. Muitos autores, ao longo do tempo, tentaram definir de maneira sucinta o que a ficção científica é e faz. O escritor Mark C. Glassy definiu que ficção científica é como pornografia: não sabemos o que é com certeza, até que vemos uma.
Um dos primeiros a utilizar o termo ficção científica, foi o criador da revista Amazing Stories, Hugo Gernsback:
Uma das definições mais completas foi feita por Rod Serling, criador da série Twilight Zone.
É consenso entre escritores e leitores, que a ficção científica deva conter uma extrapolação cuidadosa e bem informada de fatos, princípios ou tendências científicas, mesmo que a ciência apresentada nos enredos seja irreal, ainda não exista ou seja improvável. A ciência não precisa ser da área de Exatas ou Biológicas, podendo conter análises e estruturas antropológicas, sociológicas e filosóficas para se basear. A obra precursora do gênero, o romance de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), foi o primeiro a utilizar-se da separação entre ciência e misticismo para aplicar em um enredo. Outros como e O Último Homem (1826), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são também considerados ficção científica. A ausência deste componente científico classificaria obras em Fantasia ou Horror, como enquanto Drácula, de Bram Stoker (1897).
Há, evidentemente, muitos tipos de ficção científica. Os dois principais tipos são a ficção científica soft como por exemplo as séries televisivas Star Trek (Jornada nas Estrelas), Battlestar Galactica e Doctor Who, e também a ficção científica hard como por exemplo os filmes 2001: Uma Odisseia no Espaço, Blade Runner e Solaris. Há também alguns filmes que se utilizam de temas recorrentes na ficção científica embora tenham mais características do gênero fantasia, como por exemplo a série de filmes Star Wars, classificada como fantasia científica e space opera.
Características
A ficção científica se baseia em grande parte em escrever sobre mundos, futuros e cenários alternativos possíveis e de maneira racional. Diferentemente da fantasia, no contexto narrativo da FC encontramos elementos imaginários, inspirados em fatos reais ou do passado, que estão cientificamente estabelecidos ou postulados por leis e princípios científicos, ainda que o enredo permaneça imaginativo.
Uma boa parte da ficção científica se baseia no conceito da suspensão de descrença, que possibilita ao leitor em acreditar nas explicações, soluções e postulados ficcionais baseados em ciência que estão em uma determinada obra.
Alguns elementos tratados com frequência na ficção científica são:
Princípios científicos novos ou que contradizem as leis da física, como viagem no tempo ou wormholes.
Personagens alienígenas, mutantes, robóticos, holográficos, androides, replicantes, bem como personagens que desafiem a evolução humana ou a própria definição do que significa ser humano.
Universos paralelos e outras dimensões e a viagem entre nossa realidade e estes outros lugares.
Tempo estabelecido no futuro, em linhas do tempo alternativas ou no passado histórico que contradizem os fatos históricos e arqueológicos conhecidos e estabelecidos.
Cenários baseados no espaço, em outros corpos celestes ou em viagens inter e extrassolares.
Cenários baseados no interior da crosta do planeta Terra ou em outros planetas.
Tecnologia plausível como armas de laser, teletransporte, computadores humanoides e/ou conscientes.
Diferentes ou novos sistemas políticos: utopias, distopias, pós-apocalipse.
Habilidades paranormais, como telepatia, telecinese e controle da mente, baseada em princípios científicos, ficcionais ou não.
História
Proto-ficção científica
Os antecedentes da ficção científica podem ser traçados até um momento em que mitologia, religião, ou misticismo e história estavam intimamente entrelaçados e não havia ainda a ciência cartesiana tal como a conhecemos hoje e que foi e ainda é utilizado por autores de ficção científica ao compor seus enredos. História verdadeira, de Luciano de Samósata, e considerada a obra mais antiga que pode ser chamada de "proto-ficção científica", sido escrita no século II d.C., que contém muitos temas que caracterizam a ficção científica moderna, como viagem a outros mundos, formas de vida extraterrestres, vida artificial e guerra interplanetárias. Apesar de ser considerada por alguns como o primeiro livro de ficção científica, ele foi escrito em um contexto onde a ciência moderna não existia, sendo assim realocado no grupo de obras precursoras. Algumas histórias como o Conto do Cortador de Bambu, alguns contos de As Mil e Uma Noites, do século X e o conto do Teólogo Autodidata, de Ibn al-Nafis, do século XIII também são obras precursoras.
Era da Razão
Com o início do desenvolvimento da ciência e a construção da chamada Era da Razão, obras foram desenvolvidas por Johannes Kepler, com seu livro Somnium (1620–1630), Francis Bacon' The New Atlantis (1627), Cyrano de Bergerac, com Comical History of the States and Empires of the Moon (1657) e The States and Empires of the Sun (1662), e Margaret Cavendish, Duquesa de Newcastle-upon-Tyne, com The Blazing World (1666).
Século XIX
Com o desenvolvimento, ao longo do século XIX do romance como forma literária e com o surgimento de inovações tecnológicas como a eletricidade e o telégrafo e novas formas de transporte, e avanços nas áreas de biologia, física, química e astronomia, os livros de Mary Shelley Frankenstein (1818) e The Last Man (1826) estabeleceram as bases do que viriam a ser chamados os livros de ficção científica deste século em diante, como argumento Brian Aldiss. Outros autores, como H. G. Wells e Jules Verne criaram livros que também se tornaram extremamente populares em várias camadas da sociedade. Em A Guerra dos Mundos (1898), H. G. Wells descreve uma invasão marciana, no final da era vitoriana, na Inglaterra, onde os invasores usavam máquinas (tripods) e um avançado arsenal bélico. No final do século XIX, o termo "romance científico" foi usado na Inglaterra para designar a ficção científica e continuou em uso no começo do século XX por autores como Olaf Stapledon.
Destacam-se também os livros dos astrônomos Percival Lowell e Camille Flammarion, publicados entre o final do século XIX e início do século XX que conjecturavam a existência de dos canais de Marte e de vida extraterrestre, que inspiraram diversos autores.
Na América Latina, os primeiros exemplos são Páginas da história do Brasil, escritas no ano 2000 de Joaquim Felício dos Santos, uma sátira política publicada entre 1868 a 1872 no jornal O Jequitinhonha, em 1875, surgem três obras em países diferentes: El maravilloso viaje del Señor Nic-Nac de Eduardo Holmberg (Argentina), O Doutor Benignus de Augusto Emílio Zaluar (Brasil) e Historia de un Muerto de Francisco Calcagno (Cuba).
Século XX
O que desenvolveu e impulsionou a ficção científica no século XX foram as revistas pulps, que ajudou a criar alguns dos principais autores de ficção científica do século, influenciados pelo fundador da revista Amazing Stories, Hugo Gernsback. Em 1905, Roquia Sakhawat Hussain publicou o conto O Sonho da Sultana, na revista The Indian Ladies Magazine, ficção científica feminista envolvendo uma utopia onde os papéis de gênero foram invertidos. Em 1912, Edgar Rice Burroughs publicou Uma Princesa de Marte, a primeira de uma longa série livros Barsoom, situados em Marte e tendo John Carter como protagonista.
Em 1920, Karel Čapek escreveu R.U.R. (Rossumovi Univerzální Roboti), peça de teatro onde a palavra "robô" surge pela primeira vez. A palavra robô (derivada do tcheco robota = "trabalho forçado"), foi criada por Josef Čapek, irmão do autor (ver: Irmãos Čapek). Em 11 de fevereiro de 1938, uma adaptação de 35 minutos da peça R.U.R., transmitida pela BBC, foi a primeira obra de ficção científica a ser exibida na televisão.
Em 1928, Philip Francis Nowlan publicou seu aclamado Armageddon 2419 A.D., na Amazing Stories, trazendo o personagem Buck Rogers, que gerou quadrinhos que rapidamente fizeram sucesso entre o público. Quando Hugo Gernsback publicou a primeira revista pulp de ficção científica, Amazing Stories, em 1926, permitiu que a seção de cartas divulgasse endereços de leitores, que passaram a trocar correspondências, os fãs passaram a criar suas próprias histórias publicando em revistas independentes, chamadas de fanzine, o primeiro fanzine reconhecido é The Comet do Science Correspondence Club de Chicago, A primeira versão do Superman (um vilão careca) apareceu em 1933 na terceira edição do fanzine Science Fiction: The Advance Guard of Future Civilization, de Jerry Siegel e Joe Shuster, num conto ilustrado chamado The Reign of the Superman, tempo depois, foi reformulado como um super-herói de histórias em quadrinhos.
Em 30 de Outubro de 1938, Orson Welles narrou o rádio-teatro "A Guerra dos Mundos" dramatizando a invasão alienígena de Marte na Terra. A dramatização causou pânico em massa, já que muitos ouvintes do rádio acreditaram tratar-se de uma invasão real (ver: Era do Rádio).
No final dos anos 1930, John W. Campbell tornou-se o editor da revista Astounding Science Fiction, gerando uma grande massa de leitores e escritores, principalmente em Nova Iorque. O grupo dos chamados futuristas incluíam Isaac Asimov, Damon Knight, Donald A. Wollheim, Frederik Pohl, James Blish, Judith Merril e vários outros, como Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke, Olaf Stapledon, e A. E. van Vogt. Fora da influência editorial de Campbell, outros autores vinham se destacando, como Ray Bradbury, Stanisław Lem e Yevgeny Zamyatin. O trabalho de John Campbeel é considerado o começo da Era de Ouro da ficção científica, caracterizada principalmente por histórias de ficção científica que celebram o progresso e o avanço científico. Esta era durou até o pós-Segunda Guerra Mundial e seus avanços tecnológicos e científicos, com o surgimento de novas revistas, como a Galaxy, editada por H. L. Gold, e com novos autores escrevendo enredos com ênfase nas ciências sociais ao invés das ciências exatas.
Anos 1950 em diante
No início dos anos 1950, escritores como William S. Burroughs, inauguraram a chamada Geração beat, o embrião do movimento hippie. Durante as duas décadas seguintes, muitos escritores ousados exploraram novas fronteiras ou fronteiras pouco navegadas pelos escritores anteriores, como Ursula K. Le Guin, Samuel Delany, Octavia Butler, Frank Herbert, Harlan Ellison, Roger Zelazny, enquanto que na Inglaterra, muitos escritores ficaram conhecidos como a chamada New Wave, por seus graus de experimentação, em forma, contexto e sensibilidade artística. Em 1950, Isaac Asimov criou as Três Leis da Robótica com o propósito de normatizar o comportamento dos robôs dotados de inteligência artificial, impedindo-os da fazerem qualquer mal aos humanos (ver: Rebelião das máquinas). As Três Leis surgiram no livro I, Robot, publicado naquele mesmo ano, enquanto o termo "inteligência artificial" foi criado pelo cientista da computação John McCarthy (1927-2011) em 1956.
Nos anos 1980, o cyberpunk quebrou a longa tradição otimista de grande parte da ficção científica, ao trazer um novo olhar sobre o gênero, sobre sociedade e sua interação com ciência e tecnologia, em especial através das obras de William Gibson. Visões distópicas do futuro passaram a se tornar bastante comuns, em especial com os trabalhos de Philip K. Dick, como Do Androids Dream of Electric Sheep? and We Can Remember It for You Wholesale, que viriam a ser adaptadas para o cinema como Blade Runner e Total Recall. A franquia Star Wars ajudou a expandir o interesse pela space opera e autoras como C. J. Cherryh escreveram obras com riqueza de detalhes sobre a vida alienígena, com desafios científicos que inspiraram uma geração inteira de autores.
O surgimento de uma maior preocupação com o meio ambiente e com o planeta, as implicações para a sociedade do desenvolvimento da internet e a expansão da tecnologia da informação, biotecnologia e nanotecnologia, bem como um interesse em sociedades pós-Guerra Fria a partir dos anos 1990, alimentou toda uma geração de autores, como Neal Stephenson, Lois McMaster Bujold e sua Vorkosigan Saga. O retorno de Star Trek para a televisão, com Star Trek: The Next Generation em 1987, trouxe uma nova torrente de séries de ficção científica para a televisão, como Deep Space 9, Voyager, and Enterprise) and Babylon 5, grandes influenciadoras do gosto do público fã. Seguindo o sucesso de séries derivadas, a década de 1990 viu surgir Stargate SG-1, em 1997, derivada do filme de 1994, que durou dez temporadas, com 214 episódios, uma das mais longas da televisão, superando Arquivo X como a mais longa do gênero, recorde quebrado em seguida por Smallville. Temas como as rápidas mudanças propiciadas pela tecnologia se cristalizaram em torno do conceito da singularidade tecnológica, popularizada pelo livro Marooned in Realtime, de Vernor Vinge, trabalhada por outros autores nos anos seguintes.
Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e em outros locais. É frequente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do género. Os principais prémios da ficção científica, os Prémios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.
Ver também
Arma espacial
Fantasia
Ficção
Ficção científica brasileira
Ficção científica cristã
Ficção científica feminista
Filme de ficção científica
Futuro
Futurologia
Lista de prémios de ficção científica
Science Fiction and Fantasy Writers of America
Séries de televisão de ficção científica
Temas da ficção científica
Ficção científica gótica
Fantasia científica
Distopia
Cyberpunk
Ficção científica militar
Livros de ficção científica
Bibliografia
SCHOEREDER, Gilberto. "Ficção Científica". Coleção Mundos da Ficção Científica #39, Livraria Francisco Alves Editora, Rio de Janeiro (RJ), 1986.
TAVARES, Bráulio. "O que é Ficção Científica". Coleção Primeiros Passos #169, Editora Brasiliense, São Paulo (SP), 1986
SOUSA CAUSO, ROBERTO. "Ficção científica, fantasia e horror no Brasil, 1875 a 1950" Editora UFMG, 2003
SELIGMANN-SILVA, M. “Literatura e ficção científica: mal-estar na cultura e biopolítica”, in: philia & filia, v.2., n.1 (2011), pp. 95-117. ISSN: 2178-1737
Ligações externas
no Project Gutenberg
Simetria — Associação Portuguesa de Ficção Científica e Fantástico
TecnoFantasia — portal de Ficção Científica e Fantástico em língua portuguesa
Terre di Confine (em italiano)
Ficção Científica - Revista Nova Escola
Base de Dados de FC em www.bdportugal.info
na Encyclopedia of Science Fiction
Ficção Científica Projeto Gutenberg
Fanzines de ficção científica (atuais e históricos) online
Science Fiction Museum & Hall of Fame
SFWA lista de leitura
Ficção científica |
Ferry Corsten (Rotterdam, 4 de Dezembro de 1973) é um músico e DJ de trance dos Países Baixos, considerado um dos maiores produtores de música trance e uma das maiores influências no mundo da música electrónica.
Nascido e criado na cidade de Rotterdam, onde baseia todas as operações. Ferry Corsten para além do seu trabalho a tempo-inteiro como produtor é também conhecido pelas suas músicas editadas como System F e pelo seu projecto conjunto com o DJ Tiësto de nome Gouryella.
Usou também o nome System F em algumas das suas produções e remixes. Rotineiramente, toca para dezenas de milhares de pessoas em eventos por todo o mundo. Em 2009, foi classificado em 7º lugar pela DJ Magazine em seu Top 100 anual, caindo para 9º e 18º lugares, respectivamente, nos anos seguintes.
Discografia
Álbuns (originais)
1996 Looking Forward (como Ferr)
2000 Out Of The Blue (como System F)
2003 Together
2003 Right Of Way
2006 L.E.F.
2008 Twice In A Blue Moon
2010 Once Upon a Night
2012 WKND
Singles
1992 Lift Up (como Zenithal)
1992 Hurricane (como Zenithal)
1992 Fragile (como Zenithal)
1992 The Jinx (como Zenithal)
1994 Underground (como Free Inside)
1994 Skip Da Dipp (como Free Inside)
1995 Never Felt (This Way) (como Free Inside)
1995 The Mob (como Exiter)
1995 Eyes In The Sky (como Exiter)
1995 Doddle Bug (como Exiter)
1995 Trezpazz (como Exiter)
1995 Dancing Sparks (como A Jolly Good Fellow)
1996 Alasca (como Zenithal)
1996 Famosa (como Zenithal)
1996 Cyberia (como Bypass)
1996 Lunalife (como Lunalife)
1996 Supernatural (como Lunalife)
1996 Don't Be Afraid (como Moonman)
1996 Galaxia (como Moonman)
1996 Marsfire (como Moonman)
1996 The Rising Sun (como Raya Shaku)
1996 This Record Is Being Played In Clubs, Discolounges, House- Basement- Or Blockparties (como Party Cruiser)
1996 Killer Beats (como A Jolly Good Fellow)
1996 Keep It Going (como A Jolly Good Fellow)
1996 My Bass (como A Jolly Good Fellow)
1996 Seed (como Skywalker)
1996 Macarony (como Skywalker)
1996 Intentions (como Skywalker)
1996 Legend (como Ferr)
1996 Midnight Moods (como Ferr)
1996 NightTime Experiences (como Ferr)
1996 Gimme Your Love (como The Nutter)
1996 Locked On Target (como The Nutter)
1996 Mindfuck (como The Nutter)
1997 Stardust (como Ferr)
1997 Transaction (como Ferr)
1997 Dreamscape (como Ferr)
1997 I'm Losing Control (como Pulp Victim)
1997 Mind Over Matter (como Pulp Victim)
1997 Hide and Seek (como Firmly Undaground)
1997 Mozaiks (como Firmly Undaground)
1997 Applejuice (como Exiter)
1997 The Lizard (como Exiter)
1997 Iquana (como Exiter)
1997 Salamander (como Exiter)
1997 First Light (como Moonman)
1997 Carpe Diem (como Kinky Toys)
1997 Hit 'M Hard (como Kinky Toys)
1997 Somewhere Out There (Aliens Are Lurking...) (como Kinky Toys)
1997 Dissimilation (como Kinky Toys)
1997 Reach For The Sky (como Albion)
1998 Air (como Albion)
1998 The World (como Pulp Victim)
1998 Another World (como Pulp Victim)
1998 Freak Waves (como Pulp Victim)
1998 Mindsensation (como Sidewinder)
1998 Hit The Honeypot (como Sidewinder)
2000 Dreams Last For Long (como Digital Control)
2001 My Dance (como Funk Einsatz)
2002 Punk (como Funk Einsatz)
2002 Pocket Damage (como Eon)
2002 Talk To Me (como Eon)
2002 Ligaya (como Gouryella)
2002 Punk
2003 Indigo
2003 Rock Your Body Rock
2004 Everything Goes
2004 Kyoto
2004 It's Time
2004 Right Of Way
2004 Sweet Sorrow
2004 The Love I Lost (como East West)
2004 The World 2004 (como Pulp Victim)
2005 The Midnight Sun (como Cyber F)
2005 Fire
2005 Holding On
2005 Sublime
2006 Junk
2006 Watch Out
2006 Whatever
2007 Beautiful
2007 Brain Box
2007 Bring The Noise Remix (vs. Public Enemy)
2007 Forever
2007 The Race
2008 Radio Crash
Co-produções
Juntamente com Robert Smit
Como Alter Native
1995 Joy Factory
1995 Tribal Apex
1996 I Feel Good
1996 Ass-King
1996 Twister
1997 The Warning
1997 Amore
1997 Strong To Survive
Como Blade Racer
1996 Goldrush
1996 Master Blaster Party Time
1996 Turkish Bisar
Como Double Dutch
1998 Here We Go...!
Como Elektrika
1998 It Makes Me Move
1998 Whisper
Como Energiya
1997 Straight Kickin
1997 Tomba Dance
Como Roef
1997 Outthere
Como Scum
1994 Intro
1994 Your Gun
1994 T-error
1994 Simplistic Symphony
Como Selected Worx
1998 Downforce
1998 Riflebullet
Como Sons Of Aliens
1994 Invasion Of The Intruders
1994 Beyond The Realms Of Fear
1994 Yurassik Cry
1994 Hats Of Avalance
1994 The Final Solution
1994 Deeper
1994 Heroes Of The Revolution
1994 Free Zone (No Limits)
1994 Terra.X
1995 In Love With You
1995 Wicked Games
1995 Wagga Wagga
1995 So F...ing What!
Como Starparty
1997 I'm In Love
Juntamente com Peter Nijborn
Como Discodroids
1996 The Show
1996 Interspace
1998 Energy
1998 Bob 'Till Ya Drop
Juntamente com Marco Benassi (a.k.a. Benny Benassi)
Como FB
2005 Who's Knockin?
Juntamente com Nick Kazemian
Como Fernick
1996 What Would You Like Me To Do
1998 Haus
Juntamente com Tiësto
Como Vimana
1999 We Came
1999 Dreamtime
Como Gouryella 1999 Gouryella
1999 Gorella
1999 Walhalla
1999 In Walhalla
2000 Tenshi
Juntamente com Piet Bervoets
Como Mind To Mind 1997 Music Is My Life
1997 Rude Entry
Como Nixieland 1998 All I Need, All I Want
Como Penetrator 1997 Love Entry
1997 Eternal Touch
Como Riptide 1997 You Are The One
1997 Going Back
1997 Dope
1997 Click
Juntamente com Lucien Foort e Ron Matser
Como Project Aurora 1999 Sinners
1999 Sincapellas
Juntamente com Robert Smit e René de Ruyter
Como S.O.A. 1993 Schollevaar Feelings
Juntamente com Andre Van Den Bosch
Como Soundcheck 1999 Minddrive
1999 Funck Battery
Juntamente com Robert Smit, John Matze e René de Ruijter
Como Spirit Of Adventure 1991 Keep It Rockin'
1991 Total Distortion
1991 Growing Knowledge
1991 L'Hysterie
Como The Tellurians 1992 Navigator
1992 Memento Mori
1992 Gainy Days
1992 Art (Core)
1996 Nightflight
Juntamente com Vincent De Moor
Como Veracocha 1999 Carte Blanche
1999 Drafting
Juntamente com Ayumi Hamasaki
Como Ferry Corsten'
2003 Connected
Ligações externas
Página oficial
DJs dos Países Baixos
Produtores musicais dos Países Baixos
Trance
Naturais de Roterdã |
O Clube de Regatas do Flamengo (mais conhecido simplesmente como Flamengo, e popularmente pelos apelidos de Mengo, Mengão e Fla) é uma agremiação poliesportiva brasileira com sede na cidade do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo. Fundado no bairro do Flamengo para disputas do esporte remo em 17 de novembro de 1895, tornou-se um dos clubes mais bem-sucedidos e populares do esporte brasileiro, especialmente pelo futebol. Tem como suas cores tradicionais o vermelho e o preto e como seus maiores rivais esportivos o , o e o .
Dentre suas maiores glórias no futebol, destacam-se as conquistas da Copa Intercontinental (único time carioca a ter conquistado um título de dimensão mundial reconhecido pela FIFA) e das Copas Libertadores da América de 1981, 2019 e 2022 (único time carioca a ter conquistado por três vezes a competição, e um dos sete do Brasil a tê-la conquistado mais de uma vez), além de uma Recopa Sul-Americana, uma Copa Mercosul e uma Copa de Ouro Nicolás Leoz, o que lhe confere a quarta posição no ranking de títulos internacionais de clubes brasileiros. Em se tratando de Copa Libertadores da América o Flamengo é o quarto com maior aproveitamento na competição, além de ser o clube com o melhor desempenho considerando apenas duelos entre equipes brasileiras até 2019.
Em relação às conquistas nacionais o Flamengo é, por decisão judicial, e em seguida, pela CBF, oficialmente detentor de sete títulos do Campeonato Brasileiro (1980, 1982, 1983, 1992, 2009, 2019 e 2020) — além da controversa Copa União de 1987 —, quatro títulos da Copa do Brasil, duas Supercopas do Brasil e uma Copa dos Campeões. Estas quatorze conquistas dão ao clube o segundo lugar no ranking de títulos nacionais, atrás apenas do (17 conquistas). Com relação a títulos regionais e estaduais, o clube conquistou um Torneio Rio-São Paulo, uma Taça dos Campeões Estaduais Rio–São Paulo e trinta e sete títulos do Campeonato Carioca e vinte e três Taça Guanabara sendo o maior vencedor das competições estaduais. Por conta destes resultados, o clube é, desde 2017, o líder nacional do Ranking Folha, que dá uma pontuação para títulos e vice-campeonatos conquistados pelas equipes, sendo, atualmente, um dos clubes brasileiros com mais conquistas no que diz respeito ao somatório de títulos reconhecidos de abrangência nacionais e internacionais, o quarto clube brasileiro (empatado com o ) no que diz respeito ao somatório de títulos reconhecidos de abrangência internacional, o segundo em abrangência nacional, e em termos estaduais, é o clube do Estado do Rio de Janeiro com o maior número de títulos oficiais no futebol, considerando títulos de todas as abrangências (internacional, nacional e regional/estadual). Possui o maior número de conquistas do Campeonato Brasileiro considerando a partir de 1971 (quando foi adotado o nome de Campeonato Nacional de Clubes), com 7 títulos (empatado com o Corinthians); contando a Copa União, já listada pela CBF em meio aos títulos brasileiros de 1983 e 1992 como conquista à parte, seria o maior campeão isoladamente. Também é o time com mais jogos na disputa: 1443 (1971 a 2021). É também, segundo um levantamento feito pela ESPN Brasil, o primeiro (e por enquanto único) clube do Brasil ter conquistado todos os títulos nacionais e internacionais possíveis, a saber: campeonato, copa e supercopa nacionais, além dos dois principais torneios continentais, a supercopa continental e o torneio intercontinental.
Entre outros feitos, o Flamengo foi eleito o nono maior clube de futebol do Século XX em levantamento realizado pela FIFA. Em 2019, o Flamengo foi eleito o melhor time da América do Sul e o 4º melhor do mundo conforme o ranking elaborado pela IFFHS. O Flamengo é um dos três clubes do chamado G-12 que nunca foram rebaixados para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro. Ao lado do Santos, é também um dos únicos clubes a terem conquistado a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro em uma mesma temporada (feito este alcançado em 2019). É também, ao lado do Atlético Mineiro, Santa Cruz, Arsenal (Inglaterra), e Dublin (Uruguai), um dos cinco únicos clubes do mundo que já venceram a Seleção Brasileira de Futebol. Detém, junto ao Botafogo, a maior sequência invicta do futebol brasileiro com 52 partidas em 1979 e foi o primeiro clube do Brasil a atingir a marca de mil jogos na primeira divisão do campeonato nacional, em partida realizada contra o Santos em 27 de julho de 2009.
O Flamengo é o clube de futebol mais popular do Brasil, com uma torcida estimada em 40,4 milhões de torcedores espalhados por todas as regiões do Brasil. Segundo levantamento conduzido pela agência de marketing desportivo Gerardo Molina-Euroamerica, o Flamengo é, em números absolutos, o clube de futebol com o maior número de seguidores em todo o mundo. Em razão da força de sua torcida, é o clube brasileiro que mais recebe valores de direitos de transmissão. Desde 2018, o Flamengo é considerado o clube mais valioso do Brasil, tornando-se em 2019, o time mais valioso da América do Sul, além de ser o 70º time de futebol mais valioso do mundo, avaliado em mais de 145,7 milhões de euros. Um Fla-Flu detém o recorde mundial de público de partidas entre clubes: 194 603 espectadores, na final do Campeonato Carioca de 1963, vencido pelo Flamengo após um empate sem gols.
Além do prestígio com o futebol, o Flamengo também se destaca em outras modalidades esportivas coletivas e individuais, notadamente no remo, no polo aquático e no basquetebol. Neste último, é um dos clubes mais tradicionais do país, tendo a sua equipe de basquetebol masculino conquistado quarenta e sete títulos estaduais, oito títulos Brasileiros, um Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões, uma Liga Sul-Americana, uma Liga das Américas, uma Champions League Américas e duas Copas Intercontinentais FIBA.
História
A origem
Em fins do século XIX o remo dominava o Rio de Janeiro. O futebol começava apenas a aparecer em alguns clubes, mas ainda era olhado com certo temor, pois não estava sendo recebido com entusiasmo pela sociedade carioca. A criação de um grupo organizado com o objetivo de disputar competições de remo com clubes de outros bairros surgiu entre jovens do bairro do Flamengo, no Café Lamas, no Largo do Machado.
Nestor de Barros, José Agostinho Pereira da Cunha, Felisberto Laport, Augusto Lopes, Mário Spindola e José Félix da Cunha Meneses compraram um barco, chamaram-no de "Pherusa" e o reformaram.
Em 6 de outubro de 1895 os antes citados, juntamente com Maurício Rodrigues Pereira e Joaquim Bahia, saíram da Ponta do Caju, e com o tempo desfavorável, foram rumo à Praia do Flamengo, mas o vento fez o barco virar. Bahia nadou até a praia para conseguir ajuda e chegou algumas horas depois, mas a chuva parou rapidamente e outro barco, o "Leal", resgatou os jovens e o que tinha restado da Pherusa. Então foi iniciada uma nova reforma da embarcação, mas ela foi roubada e desapareceu.
A fundação
Um novo barco foi comprado e recebeu o nome de "Scyra". Na noite de 17 de novembro de 1895, muita gente estava em um dos corredores da casa número 22 da Praia do Flamengo, onde Nestor de Barros morava num dos quartos. Lá, há muito tempo, já haviam abrigado "Pherusa", e agora guardavam "Scyra". A reunião teve por objetivo a fundação do Grupo de Regatas do Flamengo. Naquela mesma noite foi eleita a primeira diretoria:
Domingos Marques de Azevedo; presidente
Francisco Lucci Colas; vice-presidente
Nestor de Barros; secretário
Felisberto Cardoso Laport; tesoureiro
Além dos eleitos, foram destacados como sócios-fundadores, José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Espínola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Maurício Rodrigues Pereira, Desidério Guimarães, Eduardo Sardinha, Emido José Barbosa, José Félix Cunha Meneses, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida Lustosa e José Augusto Chairéo, sendo que os três últimos faltaram à reunião, mas foram considerados sócios-fundadores. Na oportunidade ficou estabelecido que a data oficial da fundação do clube seria 15 de novembro, feriado nacional.
As cores iniciais foram azul e ouro em listras horizontais bem largas, entretanto, em 1898, por proposta de Nestor de Barros, houve mudança para as atuais: vermelho e preto.
Novos barcos foram sendo comprados e o Mengo começou a destacar-se nas competições. Na I Regata do Campeonato Náutico do Brasil, no dia 5 de junho de 1898, conquistou a sua primeira vitória, com "Irerê", uma baleeira a dois remos. Anteriormente o Flamengo só havia obtido colocações secundárias e muitos segundos lugares, o que lhe valeu, inclusive, o apelido de "Clube de Bronze". Em 1902, diante de seu crescimento, houve a transformação para Clube de Regatas do Flamengo.
Uma curiosidade na história do Clube de Regatas do Flamengo é que seus atletas já haviam se arriscado a praticar o futebol. No dia 25 de outubro de 1903, antes da fundação do departamento de futebol do Flamengo, os remadores flamenguistas se reuniram com os colegas de esporte do Botafogo para a disputa de um amistoso.
"O Mais Querido do Brasil"
Em 1927, um concurso promovido pela água mineral Salutaris e pelo Jornal do Brasil objetivou eleger o "clube mais querido do Brasil". O torcedor deveria escrever o nome do seu time favorito no rótulo da garrafa d'água, ou no cupom impresso no jornal, e envia-lo preenchido para a sede do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. O vencedor levaria para sua sede a portentosa Taça Salutaris e o "título" de clube mais querido do Brasil. Ao final da apuração, o Flamengo somou 254 850 votos e venceu a disputa. Atualmente, a Taça Salutaris é exibida em local de destaque na sala de troféus do Clube de Regatas do Flamengo, ladeada pela Copa Libertadores da América e pela Taça Intercontinental de 1981.
Outro fator que ajudou a popularizar a força do Flamengo pelo país foi a Segunda Guerra Mundial. Com o posicionamento do Brasil como aliado dos Estados Unidos, foram construídas nas cidades de Natal-RN e Belém-PA, pelos americanos, duas antenas de alta captação para pegar sinais enviados dos navios inimigos. Só que as mesmas antenas também permitiram a transmissão de jogos, via rádio, para o Norte e o Nordeste do país.
Na época, com o Rio de Janeiro como a capital do país, a importância do que acontecia em terras cariocas era muito alta. Além disso, o rádio era o meio de comunicação mais utilizado para notícias e, claro, transmissão de esportes. Dessa forma, as vitoriosas campanhas rubro-negras nos estaduais do começo da década de 40 se alastrou, ajudando a popularizar o clube.
Em tempos atuais, pesquisas dos mais variados institutos especializados vêm confirmando que o Rubro-Negro é o clube de maior torcida em âmbito estadual e nacional.
O início no futebol
A partir de 1902 o remo passou a dividir com o futebol a preferência popular. Assim, os associados do Flamengo tornaram-se sócios também do Fluminense para acompanhar o futebol, e os do clube das Laranjeiras vieram para o rubro-negro a fim de acompanhar as regatas. Alberto Borgerth representava bem o exemplo, pois pela manhã remava pelo Flamengo e à tarde jogava pelo seu clube, o Fluminense.
Entretanto, em 1911, houve a cisão no Fluminense e muitos jogadores do tricolor vieram para o Rubro-negro, resolvendo em assembleia do dia 8 de novembro de 1911 fundar um departamento de esportes terrestres, com Alberto Borgerth na direção. A briga entre Oswaldo Gomes e muitos dos jogadores do primeiro quadro do Fluminense foi a razão da discórdia. Originalmente pensou-se em uma simples adesão ao Botafogo, mas como o alvinegro, na época, era o grande rival do Tricolor Carioca, a ideia foi logo descartada. Em seguida consideraram a ideia de reforçar o já estabelecido Paysandu, mas também foi vetado, uma vez que o clube era composto exclusivamente de ingleses. Finalmente, surgiu a ideia de Borgerth, de se criar uma seção de futebol no Flamengo. A proposta foi aprovada e consagrada na assembleia do clube, realizada no dia 8.
Imagem da equipe
Escudo
O escudo do Flamengo mudou um pouco ao longo da história do clube. A maioria das mudanças foram alterações no monograma de letras entrelaçadas, com o mais recente redesenho sendo revelado em 2018.
O clube usa três escudos em diferentes situações: o escudo completo é usado como logotipo oficial do clube, o escudo de remo é usado para todos os uniformes e equipamentos relacionados ao remo e o monograma "CRF" branco é normalmente o único componente do escudo usado em o uniforme de futebol principal.
A partir de 1980, o Flamengo usava três estrelas brancas alinhadas verticalmente ao longo do lado de sua crista monograma para indicar seus três tri-campeonatos da liga estadual (1942-43-44, 1953-54-55 e 1978-79-79 Especial). Quando a Nike se tornou fornecedora de uniformes do Flamengo em 2000, seu primeiro uniforme apresentava o escudo completo com três estrelas acima pela primeira vez. Após o tetracampeonato estadual (1999-2000-2001) e para comemorar os 20 anos da Copa Libertadores e da Copa Intercontinental de 1981, uma quarta estrela branca e uma estrela dourada foram introduzidas acima do escudo. Desde 2005, o clube usa apenas a estrela dourada acima do escudo do monograma "CRF" em suas camisas.
Uniformes
Na reunião de 1895 que instituiu o clube de remo do Flamengo, as cores oficiais do clube foram definidas como azul e dourado para simbolizar o céu do Rio de Janeiro e as riquezas do Brasil. A equipe adotou um uniforme de grossas listras horizontais azuis e douradas. No entanto, o Flamengo não conseguiu vencer uma única regata em seu primeiro ano e ganhou o apelido de "clube do bronze". As cores do time eram percebidas como má sorte, e o tecido colorido era caro para importar da Inglaterra. Um ano após a criação do clube, as cores oficiais foram substituídas pelas atuais vermelho e preto.
Em 1912, a pedido da equipe de remo do Flamengo (que se opôs ao uso do mesmo uniforme pelo recém-criado time de futebol), os jogadores de futebol vestiram camisas divididas em quarteirões vermelho e preto que ficou conhecido como uniforme Papagaio de Vintém, nomeado após um estilo particular de pipa. No entanto, a camisa tornou-se sinônimo de azar e foi substituída em 1913 por uma camisa com listras horizontais vermelhas e pretas e faixas brancas mais finas. Este uniforme foi apelidado de cobra coral devido à sua semelhança com o padrão de uma cobra-coral. Este foi o uniforme usado quando o Flamengo conquistou seu primeiro Campeonato Carioca em 1914. As faixas brancas foram retiradas da camisa em 1916, pois o padrão era muito parecido com a bandeira da Alemanha da época, contra quem o Brasil era aliado na Primeira Guerra Mundial. A equipe de remo permitiu que o time de futebol usasse o mesmo uniforme, e assim nasceu o tradicional uniforme de futebol do Flamengo de camisa listrada vermelha e preta, calção branco e meias rubro-negras.
Em 1938, o técnico do Flamengo, Dori Kruschner, sugeriu a criação de um uniforme branco secundário para "melhorar a visibilidade nas partidas noturnas". O novo uniforme foi aprovado pelo clube, e o Flamengo se tornou pioneiro dos uniformes secundários no Brasil. A camisa branca tinha duas listras vermelhas e pretas no peito até 1979, quando foi alterada para um peito branco liso com listras nas mangas. Esta foi a camisa usada pela equipe que conquistou a Copa Intercontinental de 1981.
A partir da década de 1990, o clube começou a experimentar seus segundo e terceiro uniformes alternativos, às vezes vestindo camisas pretas ou vermelhas. Em 1995, por ocasião do centenário do clube, uma camisa "Papagaio de Vintém" foi usada em amistosos. Em 2010, a fornecedora de uniformes Olympikus introduziu um uniforme alternativo azul e dourado que homenageava as cores originais do Flamengo e o uniforme da regata, porém não foi bem recebido pelos torcedores que o compararam ao uniforme usado pelo time satírico fictício "Tabajara" no popular programa de comédia Casseta & Planeta, Urgente!. Na primeira metade da temporada de 2009, a equipe vestiu um uniforme sem patrocínio pela primeira vez em 25 anos. O Flamengo continuou a usar tradicionalmente camisas listradas vermelhas e pretas com shorts brancos como seu uniforme principal.
Uniformes atuais
Jogadores de linha
Uniforme principal: Camisa listrada em vermelho e preto, calção branco e meias listradas em vermelho e preto;
Uniforme de visitante: Camisa branca, calção preto e meias brancas;
Uniforme alternativo: Camisa listrada em vermelho e preto, calção e meias vermelhas.
Goleiros
Camisa branca, calção e meias brancas;
Camisa azul, calção e meias azuis;
Camisa vermelha, calção e meias vermelhas;
Camisa amarela, calção e meias amarelas.
Treino
Jogadores: Camisa branca, calção vermelho e meias pretas;
Comissão Técnica: Camisa vermelha, calção vermelho e meias brancas.
Sedes e estádios
A sede social do Clube de Regatas do Flamengo, também conhecida como "Sede da Gávea", ou simplesmente por "Gávea", é onde está localizada a sede principal do clube. No local, os sócios podem usufruir do parque aquático, quadras de tênis, o estádio de futebol, ginásios de basquetebol e voleibol, brinquedos, restaurantes, além de ter locais para realização de festas. Em 2011 foi inaugurado no local o Museu do Flamengo.
Rua Paysandu
O estádio estava localizado na rua de mesmo nome, no bairro do Flamengo e pertencia à Família Guinle. Em 31 de outubro de 1915, o clube fez sua estreia no estádio, vencendo o Bangu por 5 a 1, em jogo do Campeonato Carioca; e jogou lá pela última vez em 1932. Em 25 de setembro de 1925, o Flamengo disputou sua última partida no local, com uma vitória de 5 a 0, já que não tinha dinheiro para pagar o terreno.
Gávea
Em 1938, o Flamengo fez sua primeira partida oficial no Estádio da Gávea, perdendo para o Vasco por 2 a 0; e fez sua última partida oficial em 1997, vencendo o Americano por 3 a 0.
A sede principal do Flamengo fica na Lagoa, em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas. No local, está a sede social e administrativa do clube. Os sócios podem usufruir do parque aquático, quadras de tênis, futebol, basquetebol e voleibol, brinquedos, restaurantes, além de ter locais para realização de festas.
Além da parte social, existe no local ginásios para disputa e treinamentos de esportes olímpicos. No Ginásio Hélio Maurício próximo as quadras de tênis há a realização de atividades ligadas ao basquetebol, no Ginásio Togo Renan Soares, o Kanela, debaixo da arquibancada do Estádio da Gávea há realização de atividades ligadas ao voleibol e ao futsal. No Ginásio Cláudio Coutinho, acontecem treinamentos da equipe de ginástica artística. A natação também tem seu espaço nas piscinas do Parque Aquático Fadel Fadel. Além disso, o Estádio José Bastos Padilha, mais conhecido como Estádio da Gávea, é o antigo local onde o time de futebol do Flamengo mandava seus jogos de pequeno porte. Atualmente, o campo é utilizado para treinamentos da equipe. Do outro lado da rua da sede, junto à Lagoa Rodrigo de Freitas, encontra-se a base de treinamentos do remo rubro-negro.
Maracanã
O estádio Jornalista Mário Filho, é o local onde o Flamengo manda suas partidas de futebol. O primeiro jogo do clube no estádio terminou com vitória de 3 a 1 para o rubro-negro em um amistoso contra o Bangu. Em 1956, o Flamengo aplicou a maior goleada da história do Maracanã, vencendo o São Cristóvão por 12 a 2. Após reformas de modernização para os Jogos Pan-americanos de 2007, passou a ter capacidade aproximada para 92 mil espectadores, mas por questões de segurança não são colocados a totalidade de ingressos à venda. O recorde atual de público é de 87 795 espectadores, na partida válida pela antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2007, entre Flamengo e , vencida pelo rubro-negro carioca por 2 a 0, a qual garantiu-lhe vaga na Copa Libertadores da América de 2008.
Cessão da administração ao Flamengo e Fluminense e a criação da "Fla-Flu S.A."
Em 18 de março de 2019, o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, anunciou a caducidade da concessão, isto é, o cancelamento de todos os contratos com o Consórcio Maracanã, assim como informou também que o Estado o administrará inicialmente a pedido dos clubes, e em até dois meses será feita nova licitação.
Em 5 de abril de 2019, após apresentarem uma proposta de gestão em conjunto do estádio, e foram os escolhidos pelo Governo do Rio para administrar o Maracanã pelos próximos seis meses. Para isso, os dois clubes criaram a sociedade anônima "Fla-Flu S.A.", aberta especialmente para administrar o Maracanã e todo o seu complexo.
CT Ninho do Urubu
O Centro de Treinamentos Ninho do Urubu é o local onde o Flamengo realiza os seus treinamentos relacionados à equipe de futebol. Fica localizado em Vargem Grande e, apesar de a obra não estar concluída, já é utilizado pelo time principal e categorias de base. Em 2011, foi lançada a construção definitiva do CT, cuja obra poderá ser acompanhada pelos torcedores através do site oficial.
Arena de Beach Soccer Maestro Júnior
A Arena de Beach Soccer Maestro Júnior fica dentro da sede da Gávea, e foi inaugurada no dia 21 de julho de 2012 para partidas de futebol de areia. Ela recebeu este nome em homenagem a Junior, jogador com o maior número de jogos com a camisa do clube e com passagem pela modalidade após a aposentadoria dos campos.
Rivalidades
Rivalidade com o Vasco da Gama
O Clássico dos Milhões é o tradicional clássico brasileiro entre Flamengo e Vasco da Gama, ambos do Rio de Janeiro. É considerada uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro e do futebol mundial. O nome do clássico originou-se na década de 1920 e refere-se às duas maiores torcidas do estado do Rio de Janeiro. Ambos os clubes foram estabelecidos no final do século XIX como clubes de remo de regata. A primeira partida de futebol entre os clubes foi disputada em 1923, quando o Vasco entrou na primeira divisão do Campeonato Carioca. De 1972 a 2001, o confronto foi elevado como a mais importante das rivalidades do Flamengo (superando o Fluminense) e se tornou uma das maiores rivalidades de todo o Brasil. Nesse período, Flamengo e Vasco disputaram ou venceram a final de cada uma das fases do campeonato estadual quase todos os anos, frequentemente se enfrentando. Isso também coincidiu com o início do Campeonato Brasileiro e o crescimento da popularidade de ambos os clubes em todo o país. As partidas mais icônicas entre Flamengo e Vasco apresentaram os ídolos dos dois clubes se desafiando: Zico do Flamengo (1971–83; 85–89) e Roberto Dinamite do Vasco da Gama (1971–79; 80–93).
Rivalidade com o Fluminense
A rivalidade entre esses dois clubes começou em outubro de 1911 quando um grupo de jogadores insatisfeitos do Fluminense deixou seu clube e se juntou ao Flamengo, estabelecendo o departamento de futebol em seu novo clube. O primeiro Fla-Flu da história foi disputado no ano seguinte, em 7 de julho. O Fluminense venceu a partida por 3–2, com 800 pessoas presentes. Flamengo e Fluminense são os dois times de maior sucesso no Campeonato Carioca: em 2022, o Flamengo tem 37 títulos estaduais e o Fluminense tem 32. Em 1963, o Maracanã recebeu 194 603 espectadores para assistir ao jogo Fla-Flu.
Rivalidade com o Botafogo
O primeiro confronto entre os rivais cariocas Flamengo e Botafogo ocorreu em 1913. A partida ficou conhecida como Clássico da Rivaldade na década de 1960. O mascote do urubu do Flamengo originou-se durante a partida de 1º de junho de 1969, contra o Botafogo, quando torcedores do Flamengo lançaram um urubu em campo em resposta aos aplausos racistas de urubu do Botafogo e torcedores de outros times. O artilheiro do Flamengo no clássico é Zico e o artilheiro do Botafogo é Heleno de Freitas.
Rivalidade com o Atlético Mineiro
O Flamengo tem uma rivalidade interestadual com o Atlético Mineiro de Minas Gerais, desenvolvida na década de 1980 a partir de inúmeros confrontos polêmicos entre os dois clubes nas edições do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores daquela década. Manteve sua alta intensidade nos anos seguintes, e é considerada uma das maiores rivalidades interestaduais do futebol brasileiro.
Nação Rubro-Negra
Tombada pela prefeitura em 17 de outubro de 2007, a torcida do Flamengo é a maior do Brasil e do Mundo está espalhada em todas as regiões brasileiras, com maior concentração nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Pesquisas de diversas meios consideram que o clube tenha entre 33 e 40 milhões de torcedores somente no Brasil. A pesquisa mais recente sobre torcidas no país, realizada pelo Ibope em parceria com o jornal Lance, no ano de 2014, aponta o clube com 16,2% das escolhas, seguido pelo Corinthians com 13,6%, São Paulo com 6,8%, Palmeiras com 5,3% e Vasco com 3,6%. Segundo a pesquisa, 80% da torcida do Flamengo - cerca de 25 milhões de torcedores - não é oriunda do Rio de Janeiro, estado de origem do clube e no qual se localiza sua sede social e o estádio que recebe seus jogos de futebol. No Rio de Janeiro, a torcida responde por 48,2% da população, o que, em números absolutos, corresponde a cerca de 7,9 milhões de torcedores. Um estudo feito em 2012 pela agência argentina de marketing esportivo Gerardo Molina-Euromericas, apontou o Flamengo como a equipe com a maior torcida do mundo.
Segundo pesquisas do instituto Datafolha o Flamengo é o time com mais torcedores nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, é o segundo time com mais torcedores na região Sudeste atrás somente do Corinthians e o quarto no Sul do Brasil. Embora não seja o clube com mais torcedores nas regiões Sudeste e Sul, o Flamengo figura como o clube mais popular nos estados de Santa Catarina e Espírito Santo, e se destaca no estado de Minas Gerais, como o terceiro time com mais seguidores. O fato de o clube ter uma torcida imensa em regiões fora do Sudeste, faz com que torcedores rivais (especialmente os do ) afirmem que o número de torcedores do Flamengo na verdade está inflacionado por conter muitos "simpatizantes" ou "torcedores mistos" (torcedores que dizem torcer para o Flamengo, mas que na verdade torcem por outros clubes e tem o Flamengo apenas como segunda opção). Porém, uma pesquisa realizada em 2019 pelo IBOPE Repucom diz que somente 19% dos torcedores do Flamengo são na verdade "simpatizantes", o terceiro menor valor entre os clubes brasileiros, e apenas 1 ponto percentual a mais que o do .
A torcida rubro-negra tem a melhor média geral de público em jogos do Campeonato Brasileiro, terminando por 11 vezes na frente. Detém o recorde de participações nos maiores públicos da história do futebol brasileiro. Dos 244 maiores públicos já registrados, a torcida teve participação direta em 103, a frente do Vasco, segundo no ranking, com 58 participações. No campeonato brasileiro de futebol, dos 10 maiores públicos a torcida registra participação em 6 jogos, sendo detentora do recorde de público do torneio em partida realizada contra o Santos em 29 de maio de 1983 no estádio Maracanã com presença de 155 523 mil pessoas.
Em 10 de outubro de 2007 a "Camisa 12" do Flamengo foi aposentada em homenagem a esta torcida. A ideia partiu de Reginaldo Beltrão, um conselheiro do clube à época, e foi aceita pelo então presidente Márcio Braga. A carta enviada pelo conselheiro sugeria a aposentadoria do número, para homenagear o que chamou de maior jogador da história do Flamengo.
Em 1979 foi fundada a torcida Fla-Gay, a primeira torcida de gênero do Brasil.
A torcida do Flamengo é referida carinhosamente por seus seguidores e pela mídia em geral como Nação Rubro-Negra, originando-se esse termo das proporções de tamanho, diversidade e difusão dos torcedores em todas as regiões do Brasil.
Campanha "Paixão Cega"
Para estimular a presença de deficientes visuais nos jogos do time, em 2016, o clube, em parceria com a agência de comunicação NBS, criou o "Paixão Cega", campanha apoiada pela Lei Nº 837/2011 do Rio de Janeiro, que garante a gratuidade para cegos e acompanhantes não-deficientes a frequentarem eventos esportivos e culturais em todo o estado. A campanha consiste em uma plataforma online onde os torcedores deficientes e não-deficientes são listados e combinados entre si para que possam ir aos jogos juntos.
Em junho de 2019, essa campanha conquistou o prêmio Leão de Prata no Festival Cannes Lions 2019, na categoria Entretenimento para Esporte.
Embaixadas da Nação Rubro-Negra
As Embaixadas da Nação são movimentos espontâneos que ocorrem no Brasil e no exterior. Recentemente, o Clube de Regatas do Flamengo, por meio do Projeto Nação Rubro-Negra, resolveu apoiar tais manifestações espontâneas, conferindo-lhes caráter institucional. Essa oficialização dar-se-á pela emissão de um diploma a ser conferido pelo Clube de Regatas do Flamengo, assinado pelo presidente do Conselho Diretor.
Embaixadas oficiais
Nacionais
FLA-RIO BRANCO - Rio Branco, AC
FLA-MANAUS- Manaus, AM
FLA AMAPÁ - Macapá, AP
JACOFLA - Jacobina, BA
FLA-REMANSO - Remanso, BA
FLA-JUAZEIRO - Juazeiro, BA
FLA-JEQUIÉ - Jequié, BA
FLA-ILHÉUS - Ilhéus, BA
FLA-BAHIA - Salvador, BA
FLA-FORTAL - Fortaleza, CE
FLA-BRASÍLIA - Brasília, DF
FLA-VIANA - Viana, ES
FLA-VITÓRIA - Vitória, ES
FLA-GUAÇUÍ - Guaçuí, ES
FLA-GUARAPARI - Guarapari, ES
Fla-CACHOEIRO - Cachoeiro de Itapemirim, ES
FLA-COLATINA (ES) - Colatina, ES
FLA-SÃO LUÍS - São Luís (Maranhão), MA
FLA-SANTA INÊS - Santa Inês, MA
FLA-VIÇOSA - Viçosa, MG
FLA-PONTE - Ponte Nova, MG
FLA-PASSOS - Passos, MG
FLA-MINAS - Três Pontas, MG
FLA-MURIAÉ - Muriaé, MG
FLA-GV - Governador Valadares, MG
FLA-BQ - Barbacena, MG
FLA-DIV - Divinópolis, MG
FLA-BH - Belo Horizonte, MG
FLA-ALÉM - Além Paraíba, MG
FLA-FLORESTA - Alta Floresta, MT
FLA-CUIABÁ - Cuiabá, MT
FLA-PIAUÍ - Teresina, PI
FLA-RECIFE - Recife, PE
FLA-CARU - Caruaru, PE
FLA-PONTA - Ponta Grossa, PR
FLA-PARANAGUÁ - Paranaguá, PR
FLA-PARANÁ - Curitiba, PR
FLA-LONDRINA - Londrina, PR
FLA-FOZ - Foz do Iguaçu, PR
FLA-ARACAJU - Aracaju, SE
FLA-DORES - Nossa Senhora das Dores, SE
FLA-SIMÃO DIAS - Simão Dias, SE
FLA-ITABAIANA - Itabaiana, SE
FLA-GLÓRIA - Nossa Senhora da Glória, SE
FLA-SANTOS - Santos, SP
FLA-SAMPA - São Paulo, SP
FLA-CRUZEIRO - Cruzeiro, SP
FLA-RESENDE - Resende, RJ
FLA-POTIGUAR - Natal, RN
FLA-NATAL - Natal, RN
FLA-URUGUAIANA - Uruguaiana, RS
Fla-RS - Porto Alegre, RS
FLA-SOMBRIO - Sombrio, SC
FLA-LAGES - Lages, SC
FLA-Lages* - Lages, SC
FLA-JOINVILLE - Joinville, SC
FLA-JARAGUÁ - Jaraguá do Sul, SC
FLA-ITAPEMA - Itapema, SC
FLA-ITAJAÍ - Itajaí, SC
FLA-INDAIAL - Indaial, SC
FLA-CANELINHA - Canelinha, SC
FLA-BRUSQUE - Brusque, SC
FLA-BRAÇO DO NORTE - Braço do Norte, SC
Internacionais
FLA-ANGOLA - Luanda, Angola
FLA-SUCRE - Sucre, Bolívia
FLA-XANGHAI - Xangai, República Popular da China
FLA-ROMA - Roma, Itália
FLA-USA - Newark, Estados Unidos
FLA-ORLANDO - Orlando, Estados Unidos
FLA-FLÓRIDA - Miami, Estados Unidos
FLA-BOSTON - Boston, Estados Unidos
FLA-VALENÇA - Valença, Portugal
FLA-SINGAPURA - Singapura
FLA-PORTUGAL - Lisboa, Portugal
Mascote
O primeiro mascote do Flamengo foi o marinheiro Popeye, personagem de quadrinhos na década de 1940 (e, posteriormente, de desenhos animados). A ideia para o mascote partiu do chargista argentino Lorenzo Molas, que viu, no Popeye, a força e a persistência do Flamengo, além de sua óbvia ligação com o mar. No entanto, tal mascote nunca foi muito popular entre a torcida do clube.
Na década de 1960, as torcidas rivais começam a chamar os torcedores do Flamengo de "urubus", alusão racista à grande massa de torcedores rubro-negros afro-descendentes e pobres. Tal apelido de cunho ofensivo nunca foi bem recebido pela torcida do Flamengo, até o dia 31 de maio de 1969. Foi em um domingo, quando um torcedor rubro-negro resolveu levar a ave para um jogo entre o Flamengo e Botafogo no Maracanã. Na época, os dois clubes faziam o clássico de maior rivalidade pós-Garrincha. E o Flamengo não vencia o rival fazia quatro anos. Nas arquibancadas, os torcedores do Botafogo gritavam, como sempre, que o Flamengo era time de "urubu".
O urubu foi solto na arquibancada com uma bandeira presa nos pés e, quando caiu no gramado, pouco antes de o jogo iniciar, a torcida fez a festa, vibrando e gritando: "é urubu, é urubu". O Flamengo venceu o jogo por 2 a 1 e, a partir daí, o novo mascote consagrou-se, tomando o lugar do Popeye. O cartunista Henfil, rubro-negro, tratou de humanizá-lo em suas charges esportivas em jornais e revistas, e o Urubu tornou-se um mascote popular.
Em 2000, o mascote do Flamengo ganhou um desenho oficial e um nome: "Samuca". No entanto, esse nome não se popularizou entre a torcida, que o continua chamando simplesmente de "urubu".
Em 25 de maio de 2008, "Uruba" e "Urubinha" estrearam no Maracanã no jogo Flamengo X Internacional, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2008. A partir de então, estão presentes em diversos jogos e eventos do Flamengo.
Hino
O Flamengo possui dois hinos: o oficial, chamado Hymno Rubro-Negro, que foi criado em 1920 com letra e música de Paulo Magalhães (ex-goleiro do clube), gravado em 1932 pelo cantor Castro Barbosa e registrado em 1937 no Instituto Nacional de Música, com o refrão "Flamengo! Flamengo! Tua glória é lutar, Flamengo! Flamengo! Campeão de terra e mar"; e o popular, com letra e música de Lamartine Babo, gravado pela primeira vez por Gilberto Alves em 1945. Este último é o mais conhecido e o que canta as glórias do clube, cujo refrão é "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".
Títulos
Outras conquistas
Campeão invicto
Nota 1 Depois de diversos anos de brigas judiciais sobre quem era de fato o campeão daquela edição do Campeonato Brasileiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) em ação transitada em julgado, em março de 2018, definiu o como legítimo campeão de 1987. Porém, a CBF, pelo menos a partir de 2011, defende a divisão do título, quando em uma resolução publicada pelo então presidente, Ricardo Teixeira que disse: "foi passado a limpo o futebol brasileiro" e que "queria homenagear todos os jogadores da campanha de 87 e o técnico Carlinhos. Vocês são agora os legítimos campeões de 87, e o Flamengo tem direito seis títulos (na época) de campeão brasileiro." Resolução esta que foi revogada meses depois pela própria CBF, que acatou a decisão da 10ª Vara da Justiça Federal de Primeira Instância da Seção Judiciária de Pernambuco que considerou ilegal a divisão do título. Em 2015, novamente dividiu o título em seu guia oficial, antes em 2012, alegou "erro no material enviado à gráfica". Porém, cabe observar que o reconhecimento de títulos pela CBF vem através de Resoluções de Presidência da mesma, não através do Guia do Campeonato Brasileiro. O referido Guia traz, inclusive, uma seção de bibliografia, em que constam fontes externas (diversos portais da web), que não são documentos oficiais da CBF. Em 2019, após a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Flamengo, a CBF em nota publicada a imprensa disse que acatava a decisão do STF e reconhecia oficialmente o Sport como único campeão brasileiro de 1987, mas "sob o ponto de vista esportivo, o Flamengo é merecedor da designação de heptacampeão brasileiro" (reconhecendo assim, de forma não oficial, o título de 1987 do Flamengo). Tal publicação foi apenas "a título de opinião", não sendo uma resolução oficial de reconhecimento, segundo a entidade, que mostrava assim que não concordava com a decisão judicial de definir o Sport como único campeão daquela edição. Na mesma época, ao noticiar a conquista do clube carioca em seu site oficial, a CBF incluiu "1987 (Copa União)" entre os títulos de 1983 e 1992, mas diferenciando os títulos em "Brasileiro" e "Copa União".
Prêmios
Estatísticas
Participações
Campanhas de destaque
{| border="2" cellpadding="3" cellspacing="0" style="margin: 1em 1em 1em 1em 0; background: #FFFFFF; border: 1px #aaa solid; border-collapse: collapse; font-size: 90%;"
|- bgcolor="gray" align="center"
! colspan="5" style="background: Black;"| <span style="color: Red;"> Clube de Regatas do Flamengo</span>
|- bgcolor="red" align="center"
! width="230"|Torneio
! width="180"|Campeão
! width="180"|Vice-campeão
! width="180"|Terceiro colocado
! width="180"|Quarto colocado
|-
! colspan="5" |Internacionais
|-
| Mundial/Intercontinental|1 (1981)
|1 (2019)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| Copa Libertadores da América|3 (1981, 2019 e 2022)
|1 (2021)
|1 (1982)
|1 (1984)
|-
| Copa Sul-Americana|0 (não possui)
|1 (2017)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| Copa Mercosul|1 (1999)
|1 (2001)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| Copa de Ouro Nicolás Leoz|1 (1996)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| Supercopa Sul-Americana
|0 (não possui)
|2 (1993, 1995)
|1 (1992)
|0 (não possui)
|-
| Recopa Sul-Americana|1 (2020)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
! colspan="5" |Nacionais
|-
| Campeonato Brasileiro|7 (1980, 1982, 1983, 1992, 2009, 2019 e 2020)
|3 (1964, 2018 e 2021)
|2 (2007 e 2016)
|1 (2011)
|-
| Copa União|1 (1987)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| Copa do Brasil|4 (1990, 2006, 2013 e 2022)
|4 (1997, 2003, 2004 e 2017)
|3 (1989, 1996 e 2014)
|3 (1993, 1995 e 2018)
|-
| Copa dos Campeões|1 (2001)
|0 (não possui)
|2 (2000, 2002)
|0 (não possui)
|-
| Supercopa do Brasil|2 (2020 e 2021)
|3 (1991, 2022 e 2023)
|
|
|-
| Taça dos Campeões Brasileiros|1 (1992)
|0 (não possui)
|
|
|-
| Copa dos Campeões Mundiais|1 (1997)
|1 (1996)
|0 (não possui)
|1 (1995)
|-
! colspan="5" |Regionais
|-
|X Torneio Rio–São Paulo|1 (1961)
|2 (1958, 1997)
|3 (1957, 1959, 1964)
|5 (1951, 1955, 1962, 1965, 1993)
|-
| Campeonato Carioca|37 (1914, 1915, 1920, 1921, 1925, 1927, 1939, 1942, 1943, 1944, 1953, 1954, 1955, 1963, 1965, 1972, 1974, 1978, 1979, 1979 (especial), 1981, 1986, 1991, 1996, 1999, 2000, 2001, 2004, 2007, 2008, 2009, 2011, 2014, 2017, 2019, 2020 e 2021)
|33 (1912, 1913, 1919, 1922, 1923, 1924, 1932, 1936, 1937, 1938, 1940, 1941, 1952, 1958, 1961, 1962, 1966, 1968, 1969, 1973, 1977, 1982, 1983, 1984, 1987, 1988, 1989, 1992, 1994, 1995, 1998, 2010 e 2013)
|17 (1917, 1935, 1946, 1947, 1948, 1949, 1956, 1957, 1964, 1980, 1985, 1993, 1997, 2003, 2012, 2015 e 2018)
|9 (1916, 1918, 1928, 1951, 1960, 1971, 1975, 1990 e 2016)
|-
! colspan="5" |Amistosas
|-
| Primeira Liga
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|1 (2016)
|0 (não possui)
|-
|Florida Cup|1 (2019)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|}
Jogadores destacados
Jogadores que, no mundo, só jogaram pelo Clube de Regatas do Flamengo
Jogadores que, no Brasil, só jogaram pelo Clube de Regatas do Flamengo
Jogadores que, no Rio de Janeiro, só jogaram pelo Clube de Regatas do Flamengo
Esta é uma lista de jogadores de destaque que já passaram pelo Flamengo:
Adílio
Adriano Imperador
Aírton Beleza
Aldair
Alecsandro
Alessandro
Alfredinho
Athirson
Andrade
Babá
Bebeto
Benítez
Beto
Biguá
Borgerth
Bruno Henrique
Caio Ribeiro
Cantareli
Carlinhos
Carpegiani
Chamorro
Cláudio Adão
De Arrascaeta
Dequinha
Dida
Diego Alves
Diego
Dionísio
Djalminha
Domingos da Guia
Doval
Edílson
Esquerdinha
Elias
Evaristo de Macedo
Éverton Ribeiro
Fábio Baiano
Fábio Luciano
Felipe
Fillol
Filipe Luís
Fio Maravilha
Friedenreich
Gabigol
Gamarra
Gaúcho
Gerson
Gérson
Gilmar
Henrique
Hernane
Ibson
Índio
Iranildo
Isla
Jadir
Jair
Jarbas
Joel
Jordan
Jorginho
Juan
Juan (lateral)
Júlio César
Júlio César "Uri Geller"
Júnior
Júnior Baiano
Junqueira
Kléberson
Leandro
Leonardo
Leo Moura
Leônidas da Silva
Lico
Liminha
Luís Carlos
Luisinho Lemos
Mancuso
Marcelinho Carioca
Marinho
Modesto Bría
Mozer
Nélio
Nelson
Nonô
Nunes
Obina
Pablo Marí
Paulo Cézar "Caju"
Paulo Nunes
Paulinho
Pedro
Perácio
Petković
Pirillo
Rafinha
Raul Plassmann
Reinaldo
Renato Abreu
Renato Augusto
Renato Gaúcho
Réver
Reyes
Rodrigo Caio
Romário
Ronaldinho Gaúcho
Ronaldo Angelim
Rondinelli
Rubens
Sávio
Sidney Pullen
Silva Batuta
Thiago Neves
Tita
Ufarte
Vágner Love
Vitinho
Valido
Vevé
Volante
Willian Arão
Yustrich
Zagallo
Zé Carlos
Zico
Zinho
Zizinho
Treinadores
Esses são os principais treinadores (em ordem alfabética):
Andrade — em 2009, entrou como técnico interino, após o Flamengo demitir Cuca. Após alguns jogos, o clube resolveu efetivá-lo. Levou o time a conquistar seu único título brasileiro na década de 2000, quebrando um tabu de 17 anos sem conquistar o Campeonato em 2009. Na sequência o clube chegou a ficar até catorze pontos atrás do então líder , mas nos seus 17 últimos jogos o retrospecto foi de 12 vitórias, quatro empates e apenas uma derrota.
Carlinhos — o Violino, como era chamado em seus tempos de jogador, costuma chamar a Gávea, sede do clube, de "segunda casa", e não é para menos: foram 517 partidas como meio-campista do Flamengo (seu único clube) entre 1958 e 1969 e outras 313 como treinador em sete passagens pela equipe entre 1983 e 2000. Como principais títulos como treinador estão os Cariocas de 1991, 1999 e 2000, o Brasileiro de 1992, e a Copa Mercosul de 1999.
Carlos Alberto Torres — possui duas curtíssimas passagens pelo clube, a primeira entre abril e agosto de 1983, e a segunda entre novembro de 2001 e fevereiro de 2002, mas suficientes para, respectivamente, conquistar o Brasileiro de 1983 e ajudar o clube a fugir do rebaixamento do Brasileiro de 2001.
Cláudio Coutinho — capitão de artilharia e mestre em Educação física, são dele as ideias que fizeram do Flamengo o time campeão mundial de 1981. Teve duas passagens pelo Flamengo: 1976–77 e a marcante 1978–80, tendo como principais títulos: o terceiro tricampeonato Carioca (1978/1979 Especial/1979), o Palma de Maiorca de 1978, os Ramón de Carranza de 1979 e 1980, e o Brasileiro de 1980. Morreu afogado aos 42 anos, poucas semanas antes de ver o Flamengo ser campeão mundial (em 1981). Foi também o técnico da Seleção Brasileira na Copa de 1978.
Izidor "Dori" Kürschner — revolucionário técnico húngaro, implementou o primeiro esquema tático no Brasil que se tem notícia: o WM. Trazido pelo presidente José Bastos Padilha, treinou o clube no período de 1937–38, e apesar de não ter vencido nada de relevante, pode-se dizer que foi ele quem trouxe a tática futebolística não só ao Flamengo, como ao Brasil.
Dorival Júnior — em 2022 assumiu o time após a demissão do técnico português Paulo Sousa. No comando do clube, foi campeão da Copa do Brasil nos pênaltis e da Copa Libertadores da América de 2022, consagrando o centroavante Pedro como o "Melhor Jogador da América" naquele ano.
Flávio Costa — técnico com maior número de partidas disputadas à frente do time de futebol (746 ao todo). Dirigiu o clube em vários períodos: setembro de 1934 a janeiro de 1937, dezembro de 1938 a dezembro de 1946, 1951–52 e 1962–65. Como principais conquistas, o primeiro tricampeonato Carioca (1942/43/44), além dos Cariocas de 1939 e 1963.
Fleitas Solich — dirigiu o Flamengo em 504 partidas, nos períodos de abril de 1953 a junho de 1959, julho de 1960 a janeiro de 1962, depois em 1971. Como principais conquistas estão o segundo Tricampeonato Carioca (1953–54–55), Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo de 1956, e o Torneio Rio-São Paulo de 1961, além de mais de 10 outros troféus.
Jayme de Almeida — assumiu interinamente o rubro-negro em 2013 com a saída de Mano Menezes, mas foi logo efetivado ao cargo de técnico. Em 27 de novembro, conquistou o terceiro título da Copa do Brasil, consagrando-o como o melhor técnico na competição, o goleiro Felipe como melhor goleiro e o atacante Hernane como o artilheiro.
Jair Pereira — sua principal passagem pelo clube se deu em 1990, quando foi campeão da Copa do Brasil.
Joel Santana — com seu estilo defensivo, possui cinco passagens pelo clube (1996, 1998, 2005, 2007–08, 2012) em que se destacam o título Carioca invicto e a Copa de Ouro Nicolás Leoz de 1996, a fuga do rebaixamento do Brasileiro de 2005, a arrancada do Brasileiro de 2007 e o título Carioca de 2008. Em 2012, o técnico teve nova passagem, mas sem resultados expressivos, acabou demitido.
Jorge Jesus — em apenas cinco meses no cargo, o treinador português conquistou a Copa Libertadores da América de 2019 e o Campeonato Brasileiro do mesmo ano. Entre 2019 e 2020 conquistou mais títulos (cinco) do que teve derrotas (quatro) e manteve mais de 81% de aproveitamento com 43 vitórias em 57 jogos. Em 2020 conquistou a Recopa Sul americana, a Supercopa do Brasil de 2020 e o Campeonato Carioca de Futebol.
Ney Franco — o treinador mineiro teve uma passagem pelo clube entre maio de 2006 e julho de 2007, quando foi campeão da Copa do Brasil de 2006 e Carioca de 2007. Depois que Zagallo saiu do clube em novembro de 2001, foi quem ficou mais tempo à frente da equipe de forma ininterrupta (74 jogos).
Paulo César Carpegiani — titular absoluto do Flamengo entre 1977 e 1980, em meados de 1981, por conta de sérios problemas no joelho, se aposenta como jogador (oficialmente seu último jogo seria um amistoso contra o Boca Juniors em setembro de 1981), para logo então assumir o comando do Flamengo como seu treinador. Poucos meses depois, ele estaria à frente do time que deu ao clube suas maiores conquistas: a Libertadores da América e a Copa Intercontinental de 1981. Como treinador, venceu também o Carioca de 1981 e o Brasileiro 1982. Ficaria até março de 1983, para só retornar em 2000 quando teve uma rápida e apagada passagem de três meses pelo clube. Em 2018, teve uma nova passagem pelo comando do time, mas foi demitido após a derrota para o Botafogo pela semifinal do Carioca.Rogério Ceni — assumiu o clube, logo após a saída do espanhol Domènec Torrent, ainda na temporada 2020. Tendo assim, conquistado o Campeonato Brasileiro de 2020 e a Supercopa do Brasil 2021.
Zagallo — o tetracampeão do mundo de futebol tem sua história diretamente ligada ao Flamengo. Além de ter sido jogador do clube entre 1951 e 1958 (217 jogos), foi seu treinador nos períodos de 1972–73, 1984–85 e 2000–01, totalizando 283 partidas. Exercendo a função de técnico do clube constam como seus principais títulos os Cariocas de 1972 e 2001 e a Copa dos Campeões de 2001.
Categorias de base
História
O Flamengo sempre teve como grande tradição o lema: "Craque o Flamengo faz em casa", e a história do Clube nas categorias de base demonstra isso. Nas últimas gerações, é incontável o número de jogadores revelados na Gávea e recentemente no Ninho do Urubu. É o caso, por exemplo, do maior ídolo da história do Flamengo, Zico, assim como grande parte da geração de ouro do Rubro-Negro, que conquistou o Brasil, a América e o Mundo nos anos 80. Além deles, jogadores de épocas mais recentes, como Sávio, Júlio César e Adriano também tiverem passagens bem-sucedidas pela categoria de base do Fla.
Sub-20 (juniores)
A criação
A categoria de Juniores foi criada a partir de 1980 e só poderiam jogar na categoria, os jogadores com idade até 20 anos. Antes, a categoria que antecedia o time de profissionais era chamada de Juvenil, que continuou a existir, mas a partir de então, com jogadores de até 17 anos. Os juniores são a última categoria de base da carreira de um jogador. É a fase que precede sua ida para o time profissional ou o seu abandono do futebol. Grandes nomes surgiram para o profissional nesta categoria.
2000 a 2009: o tricampeonato carioca
Nos anos 2000, o Clube conquistou diversos títulos, como o tricampeonato carioca em 2005, 2006 e 2007 na categoria de juniores, onde também ficou em terceiro lugar no Campeonato Mundial Interclubes, disputado na Malásia, no ano de 2007.
Títulos
Campeão invicto
Estatísticas
Participações
Treinadores
Esses são os principais treinadores:
Adílio – em quatro anos nos juniores, ele foi tricampeão carioca, bicampeão do Torneio Octávio Pinto Guimarães, campeão do Rio-São Paulo e da Taça Belo Horizonte de Juniores, além de terceiro colocado no Mundial da Malásia.
Ernesto Paulo – comandou o time campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1990.
Liminha – foi o treinador do time de juniores campeão da Taça Belo Horizonte de Futebol Júnior de 2007 e da Copa Cultura de Juniores.
Marcelo Buarque – ganhou 4 Cariocas Sub-20 de 6 disputados.
Paulo Henrique Filho – conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2011 e o Torneio Otávio Pinto Guimarães como técnico da equipe rubro-negra.
Zé Ricardo – foi campeão estadual após oito anos e comandou o time campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2016.
Sub-17 (juvenil)
De aspirantes ao profissional a Sub-17
O time de juvenis sempre foi integrado por jovens jogadores, que tinham idade até 18 anos e que aspiravam por um dia chegar a jogar no time profissional. Até 1979, era a categoria que ficava logo abaixo dos profissionais. A partir de 1980, com a criação da categoria de Juniores, a idade limite para ser jogador juvenil passa a ser de 17 anos. É uma fase importante no desenvolvimento de qualquer atleta, pois é a fase que precede a transição para o futebol profissional, que vem geralmente na categoria de juniores. O juvenil é também conhecido como sub-17.
Dentre os grandes nomes que já passaram por esta divisão de base do Flamengo encontram-se Zico, Djalminha, Júnior Baiano, Marcelinho Carioca, entre outros.
Títulos
Estatísticas
Participações
Treinadores
Esses são os principais treinadores:
Anthoni Santoro – em 2006, dirigiu o time juvenil campeão da Copa Macaé Sub-17 e do Campeonato Carioca Sub-17.
Rogério Lourenço – conseguiu conquistar o Campeonato Carioca Sub-17 e a Copa Circuito das Águas.
Sub-15 (infantil)
Antecessor ao Juvenil
A categoria Infantil é a categoria que precede a categoria Juvenil. Esta categoria é disputada por atletas de até 15 anos de idade.
Títulos
Campeão invicto
Estatísticas
Participações
Jogadores destacados
Esta é uma lista de jogadores de destaque que já passaram pelo Flamengo Sub-15:
Adílio
Adriano
Adryan
Alanzinho
Alex Santos
Anderson Santos
Andrezinho
Baggio
Bruno Mezenga
Bruno Paulo
Bujica
Caio Rangel
Camacho
Carlinhos
Dida
Diego
Diego Maurício
Erick Flores
Fábio Augusto
Fábio Noronha
Fabrício
Fernando
Frauches
Ibson
Jajá
Jean
Jorge
Juan
Júlio César
Júnior Carioca
Kayke
Lenon
Leonardo
Lucas
Lucas Paquetá
Luís Henrique
Luiz Antônio
Marcelo Buarque
Marcelo Lomba
Marcelo Valverde
Marcinho
Marlon
Mattheus
Maxwell
Michel
Mozer
Negueba
Nunes
Paulo Henrique
Pedro Beda
Renato Augusto
Rocha
Rogério
Rômulo
Rondinelli
Sávio
Thomás
Tita
Ubirajara Alcântara
Vinícius Júnior
Wilson
Yago
Yustrich
Zico
Treinadores
Esses são os principais treinadores:
Anthoni Santoro – comandando o infantil em 2005, conseguiu ser campeão da Copa da Amizade Brasil-Japão, vice-campeão do Campeonato Carioca Sub-15 e terceiro lugar na Taça Brasil Sub-15.
Dudu Patetuci – conquistou de forma invicta a Copa Brasil Infantil de 2015.
Marcelo Buarque' – foi bicampeão do Campeonato Carioca Sub-15.
Marca e valor de mercado
Desde 2014 o Flamengo detém a marca mais valiosa do futebol brasileiro. Em 2016, a empresa BDO RCS Auditores Independentes, apresentou a nona edição de seu estudo anual "Valor das Marcas dos Clubes Brasileiros". De acordo com este levantamento a marca "Flamengo" é a maior do Brasil pelo segundo ano seguido com 1,43 bilhão em valor absoluto, superando o Corinthians (1,42 bilhão) e o Palmeiras (com 1,02 bilhão).
Em janeiro de 2019, o clube se tornou o primeiro do país a deter o status de marca de "Alto Renome" junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que agregou valor jurídico e econômico à sua marca. Com esta condição, a marca "Flamengo" "passará a receber um tratamento diferenciado em relação à marcas comuns e uma proteção distinta, conferida pela legislação prevista na Lei da Propriedade Industrial", representando uma vantagem em casos de conflitos envolvendo marcas em quaisquer esferas e o aumento substancial de penas em casos de infração.
Clubes de futebol homônimos
A importância e a popularidade do Clube de Regatas do Flamengo inspirou o batismo de diversos clubes esportivos no mundo.
Nacionais
Clube Esportivo Flamengo - Guanambi, BA
Flamengo Esporte Clube - Varginha, MG
Flamengo Futebol Clube - Conselheiro Lafaiete, MG
Esporte Clube Flamengo Paraibano - João Pessoa, PB
Flamengo Esporte Clube de Arcoverde - Arcoverde, PE
Esporte Clube Flamengo - Teresina, PI
Associação Beneficente Esportiva Flamengo - Curitiba, PR
Clube de Regatas Flamengo - Porto Velho, RO
Sociedade Esportiva Flamengo - Horizontina, RS
Sociedade Esportiva e Cultural Flamengo - Bento Gonçalves, RS
Flamengo Circulista Esporte Clube - Aracaju, SE
Associação Atlética Flamengo - Guarulhos, SP
Flamengo Futebol Clube - Americana, SP
Flamengo Esporte Clube - São Carlos, SP
Flamengo Futebol Clube - Pirajuí, SP
Internacionais
Flamengo Football Club - Birmingham, Inglaterra
Bromley Flamengo Football Club - Bromley, Inglaterra
Flamengo de Ngagara - Bujumbura, Burundi
Uniao Flamengo Santos Football Club - Gaborone, Botswana
Flamengo de Sucre - Sucre, Bolívia
Sociedad Deportiva Flamengo - Latacunga, Equador
Flamengo de Chiclayo - Chiclayo, Peru
Flamengo de Pefine - Pefine, Guiné-Bissau
Extintos
Clube de Regatas Flamengo de Brasília - Brasília, DF
Flamengo Futebol Clube - Anápolis, GO
Sport Club Flamengo - Recife, PE
Flamengo Soccer Club - Sandy, Utah , Estados Unidos
Outros esportes
Basquetebol
Masculino
O basquete rubro-negro ganhou o primeiro campeonato de basquete organizado no Brasil em 1919, e desde então se tornou um dos times mais tradicionais do país, tendo ganho sete Campeonatos Brasileiros (2008, 2009, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2019), 46 Campeonatos Cariocas (maior vencedor da competição), um Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões (1953), uma Liga Sul-Americana (2009), além de quatro Torneios da CBD (1934, 49, 51 e 53).
Em 2014, o Flamengo conquistou a Liga das Américas, considerada como a Libertadores do Basquete, invicto e em uma final inédita contra um time do mesmo país, Pinheiros. Com isto se credenciou a participar da Copa Intercontinental de 2014 contra o Maccabi Tel Aviv, campeão da Euroliga. Após duas partidas, disputadas na HSBC Arena, o Flamengo sagrou-se vencedor e tornou-se apenas o segundo clube do Brasil a conseguir tal feito, desde o E.C. Sírio em 1979. Além disso, como já havia logrado o mesmo êxito no futebol, juntou-se ao Real Madrid e ao Barcelona como únicos clubes campeões intercontinentais no basquete e futebol.
Feminino
Na categoria feminina, o basquetebol rubro-negro foi bicampeão brasileiro em 1954 e 1955, com o talento de Carminha, Didi, Marina, Regina, Ivanira, Luiza Helena Micelli. Exatos dez anos passados, em 1964 e 1965, a equipe voltou a ser campeã brasileira, com algumas atletas que conquistaram o primeiro bicampeonato. Norminha, Angelina, Marlene e Delei (da Seleção Brasileira) foram campeãs no Pan-Americano de 1967, em Winnipeg no Canadá.
Em 1966, o clube sagrou-se campeão mundial de clubes, com um time que era liderada por Angelina, considerada uma das maiores jogadora de basquete de seu tempo.
Futebol americano
O futebol americano do clube surgiu em 2013, quando o clube montou uma parceria com o Rio de Janeiro Imperadores (anteriormente Fluminense Imperadores). o clube passou então a usar o nome fantasia Flamengo Imperadores.
Futebol de areia
Futebol feminino
Em 2016 o futebol feminino do Flamengo conquistou o seu primeiro título nacional da categoria ao vencer o Campeonato Brasileiro contra o então campeão Rio Preto.
Futebol de Masters
A equipe de futebol de masters do Flamengo foi formada em 2000 por atletas que já se aposentaram dos gramados. A equipe ganhou 2 torneios: O Torneio Lendas do Futebol de 2018 e o Torneio de Lendas da Florida Cup de 2019
Ginástica artística
A ginástica artística do Flamengo começou em 1950, mesmo ano da fundação da Federação Carioca de Ginástica. O sucesso da modalidade no clube começou ainda na década 70, e se intensificou a partir da década de 80, com a ex-treinadora Georgette Vidor e atletas como Luísa Parente, Soraya Carvalho, Tatiana Figueiredo. Outros ginastas de destaque foram Jade Barbosa e os irmãos Daniele e Diego Hypólito, medalhistas em diversas competições internacionais. Atualmente, o clube não conta com uma seção profissional da modalidade, apenas nas categorias de base.
Judô
O judô foi introduzido no Flamengo em 8 de agosto de 1954 e foi o primeiro esporte de artes marciais praticado no clube. O Flamengo já conquistou vários títulos na modalidade e contou com atletas da Seleção Brasileira, como Aurélio Miguel, Henrique Guimarães, Walter Carmona e Luiz Onmura. Assim como a ginástica, atualmente apenas atletas da base e as escolinhas estão ativadas.
Natação
A natação começou no clube da Gávea antes mesmo da inauguração do respectivo departamento, fato que só ocorreu em 1921; embora o parque aquático do Flamengo só tenha ficado pronta em 1965. No fim da década de 30, o clube contou com o quarteto conhecido como "Fortalezas Voadoras" e formado por Piedade Coutinho, Scyla Venâncio, Geysa Carvalho e Ligia Cordovil. Em 1968, a natação rubro-negra conquistou seu primeiro Troféu Brasil e na década de 80 o octacampeonato dessa mesma competição e ainda outro octacampeonato, no Troféu José Finkel, sob o comando de Daltely Guimarães, revelando atletas como Ricardo Prado, Rômulo Arantes e Patrícia Amorim. Outros atletas de importância foram Fernando Scherer ("Xuxa") e Maria Lenk. Em 2001 conquistou o Troféu José Finkel e em 2002 o Troféu Brasil e novamente o Finkel. Em 2010 o clube venceu uma disputa com o Corinthians e contratou o campeão olímpico em 2008 e mundial em 2009, César Cielo, além de Henrique Barbosa e Nicholas Santos provenientes do Esporte Clube Pinheiros. Nesse período, o Flamengo conquistou em 2012 o Troféu Maria Lenk após 10 anos e igualou com o Pinheiros em número de títulos (13). Com o término da gestão de Patrícia Amorim no final daquele ano, a nova diretoria decide não renovar com Cielo, Nicholas e outros nadadores profissionais, mantendo apenas as categorias de base.
Polo aquático
O polo aquático é o segundo esporte mais antigo da história do clube, após o remo. A equipe fez seu primeiro jogo em 27 de maio de 1913, no Rio de Janeiro, e o time rubro-negro venceu o Clube Internacional de Regatas por 3 a 2. Somente em 1965, o Flamengo inaugurou seu parque aquático, antes disso os atletas treinavam e jogavam na Lagoa Rodrigo de Freitas ou no mar. O primeiro campeonato carioca masculino veio em 1985 e terminou com um eneacampeonato (nove títulos consecutivos), sendo este último em 1993. Também neste ano, o clube conquistou o Campeonato Sul-Americano de Clubes e o Troféu Brasil, título também vencido de 1985 a 1988. Uma equipe feminina de polo aquático foi formada em 1987, conquistando o Troféu Brasil em 1987 e 1991 e o eneacampeonato estadual terminado em 1995.
Remo
O "Grupo de Regatas do Flamengo", que depois se tornou "Clube de Regatas do Flamengo" nasceu em 1895 para disputas no remo e por isso a história dessa modalidade na equipe rubro-negra se confunde com a própria história do Flamengo. A primeira vitória veio em 1898 pelo Campeonato Náutico do Brasil, e o primeiro título do esporte e também do clube em 1900, na Regata do IV Centenário da Descoberta do Brasil, conquistando o troféu Jarra Tropon. Em 1905, o clube venceu uma prova clássica, a Taça Sul-América. Segundo o livro História dos Esportes Náuticos no Brasil, de Alberto Mendonça, até 1908, o Flamengo já tinha conquistado 43 medalhas de ouro, 126 de prata e 141 de bronze. A modalidade fez com que a equipe ficasse conhecida antes mesmo de fundar um departamento de futebol, em 1911; e revelou grandes atletas como Everardo Paes de Lima, Arnaldo Voigt, Alfredo Correia ("Boca Larga"), Ângelo Gammaro ("Angelú") e Antônio Rebello Júnior ("Engole Garfo"); sendo estes três últimos considerados heróis de desporto brasileiro por terem completado a travessia Rio-Santos em 1932.
De 1931 a 1937, foi heptacampeão carioca e, de 1940 a 1943, tetracampeão da mesma competição. Em 1963, começou a "era Buck", que revolucionou o remo rubro-negro, trazendo atletas de outros estados do Brasil e reformando as instalações para acomodar melhor as embarcações. Buck foi treinador da Seleção Brasileira, dirigindo a equipe em várias competições internacionais. No início da década de 1980, o Flamengo ganhou o decacampeonato estadual e voltou a conquistá-lo em 1992. Já venceu o Troféu Brasil masculino 10 vezes, e o feminino uma vez; tem, atualmente, 45 títulos cariocas, sendo o atual bicampeão da competição.
Showbol
Tênis
O Flamengo começou a disputar campeonatos de tênis em 1916, e logo conquistou um tricampeonato carioca (1916-17-18), mesmo com os atletas treinando em outros clubes. Até 1932, o clube praticava tênis em seu campo, na Rua Paysandu, mas perdeu seu parque desportivo e só em 1963, inaugurou um departamento e quadras próprias. O maior ídolo deste esporte na equipe rubro-negra foi Thomas Koch.
Voleibol
O Flamengo tem tradição no voleibol, sendo um dos fundadores da Liga Metropolitana, em 1938, ano em que conquistou seu primeiro título com a equipe feminina, a qual nas décadas de 40, 50 e 60 conquistou vários títulos, sendo apelidade de "Campeã dos campeões". Em 1978 e 1980, o clube venceu o Campeonato Brasileiro, sob a direção de Enio Figueiredo, com atletas como Isabel, Jacqueline e Ida Álvares; e em 1981 o Campeonato Sul-Americano. A equipe feminina ainda conquistou a Super Liga feminina de 2000/2001, derrotando o Vasco na decisão. No masculino, o primeiro campeonato carioca veio em 1949 e nas décadas de 80 e 90 teve atletas como Bernard, Bernardinho e Tande.
eSports
2018
Com os eSports em alta, os populares jogos eletrônicos, no segundo semestre o Flamengo anunciou sua entrada nesta categoria. Inicialmente tendo uma equipe no League of Legends para 2018, e futuramente, no PES. O Flamengo anunciou a intenção de ter times de eSports sem parcerias com organizações já existentes. Por conta da cenário competitivo do League of Legends ser realizado nos estúdios da Riot Games em São Paulo, tornou-se necessário uma gaming office fixa na capital paulista, uma espécie de centro de treinamento para os cyberatletas. Visando um ingresso rápido no cenário do LoL, o Rubro Negro comprou a vaga da Merciless Gaming no Circuito Desafiante, a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de League of Legends.
Em 21 de novembro o Flamengo anunciou a contratação de Gabriel "miT" Souza, campeão brasileiro pela paiN Gaming em 2015, para a posição de head coach do time, visando a preparação e a montagem do time para o Circuito Desafiante. Logo depois foram anunciadas as vindas de Thúlio "SirT" Carlos, anunciado como caçador do time e vindo do Big Gods Jackals dos Estados Unidos, o suporte André "esA", vindo da Keyd Stars, e o meio Daniel "Evrot" Franco. Para ser o atirador rubro negro, o Flamengo trouxe um dos principais nomes do League of Legends no Brasil, Felipe "brTT" Gonçalves, anunciado ainda em dezembro após sua passagem pela RED Canids em 2017. Para a rota do topo foi contratado o sul-coreano Park "Jisu" Jin-cheol.
Na disputa do Circuito Desafiante, o Flamengo se classificou em primeiro na fase de pontos e se classificou nos playoffs para a grande final, após vencer a T Show por 3 a 1 na semi, porém, na final diante da IDM Gaming (atualmente, Uppercut Esports) acabou perdendo o título do competição e tendo que decidir a vaga para o CBLOL na série de acesso diante da Team oNe eSports, em uma série disputada com direito a cinco jogos e pentakill do atirador Felipe "brTT" Gonçalves o time Rubro-Negro se classificou para a elite do League of Legends no Brasil. No segundo split do CBLOL, o time anunciou as saídas do caçador Thúlio "SirT" Carlos e do meio Daniel "Evrot" Franco, segundo a própria comissão técnica devido aos seus rendimentos durante a preparação para o jogo contra a Team oNe. Em seus lugares o Flamengo anunciou o caçador coreano Lee "Shrimp" Byeong-hoon, vindo da FlyQuest Academy e o meio Bruno "Goku" Miyaguchi, vindo da ProGaming eSports. Ao longo da competição o coach Gabriel "MiT" Souza foi afastado e em seu lugar Gabriel "Von" Barbosa assumiu o time. A campanha do time carioca na fase de pontos rendeu o segundo lugar geral na tabela, tendo que enfrentar apenas um jogo para se classificar para a grande final em Porto Alegre (o modelo do split naquela época era em escalada) contra a KaBuM! eSports. Após vencer a CNB por 3 a 0 o time de brTT e companhia se classificaram para a grande final. Porém o time Rubro-Negro acabou sendo surpreendido pelo time dos Ninjas e acabou saindo derrotado por 3 a 2.
2019
Após a amarga derrota para o time da KaBuM!#KaBuM! eSports, o Flamengo passou por uma reformulação em sua line-up com as saídas do suporte Eidi "esA" Yanagimachi e do topo coreano Park "Jisu" Jin-cheol. Para seus lugares o time Rubro-Negro se reforçou com o topo ex-CNB Leonardo "Robo" Souza, eleito o melhor de sua posição no split passado e o suporte coreano Han "Luci" Chang-hoon vindo da Winners. Além disso, foram anunciadas as renovações de contrato com Felipe "brTT" Gonçalves, Lee "Shrimp" Byeong-hoon, Bruno "Goku" Miyaguchi e o coach Gabriel "Von" Barbosa. Também trouxe reforços para a comissão técnica com a chegada do head coach americano Jordan "Grey" Corby, do analista e também jogador Seong "Reven" Sang-hyeon (apelidado na comunidade como FLAnalista) e a contratação do atirador Gabriel "Juzo" Nishimura ex-Vivo Keyd. No primeiro split o time demonstrou dominação durante a fase de pontos tendo vencido 21 jogos de 22, tendo perdido apenas para a KaBuM! eSports, nos playoffs novamente encontrou a CNB e emplacou outro 3 a 0 e indo para a final nos estúdios da Riot Games em São Paulo diante da INTZ e-Sports. Mais uma vez o Flamengo acabou por ser surpreendido em outra final perdendo por 3 a 2 para os intérpritos e acumulando mais um vice-campeonato em sua história.
Apesar das imensas críticas e pressão em cima do elenco, o time optou por manter sua line-up tanto de jogadores e comissão técnica visando a conquista do título de campeão brasileiro de League of Legends (no caso a Riot Games considera apenas o campeão do segundo split como campeão brasileiro do ano). Numa intensa disputa com a KaBuM! eSports na fase de pontos, o Rubro-Negro'' se classificou em primeiro lugar para os playoffs, tendo pela frente na semifinal o time da Uppercut Esports (ex-IDM Gaming), porém esquecendo os fantasmas do passado o Flamengo se classificou para a grande final na Jeunesse Arena no Rio de Janeiro, a casa do time. Na final o Flamengo reencontrou o revés do primeiro split, a INTZ, em uma final disputada e emocionante, o Flamengo finalmente conquistou seu primeiro título no cenário competitivo de League of Legends se classificando para a disputa do Mundial na Europa.
Outras modalidades
O Clube de Regatas do Flamengo é detentor de títulos em diversas modalidades, com milhares de conquistas, sendo três mundiais, dezenove medalhas olímpicas e mais de 50 mil medalhas em outras competições desportivas.
Automobilismo (Superleague Fórmula)
Bocha
Futebol de areia
Futebol de sete
Futsal
Ginástica artística
Judô
Nado sincronizado
Natação
Polo aquático
Remo
Showbol
Tênis
Voleibol
Esportes extintos
O clube já contou com atletas, equipes e disputou competições nas seguintes modalidades:
Aeromodelismo
Arco e flecha
Atletismo
Autobol
Bodyboard
Boxe
Canoagem
Caratê
Ciclismo
Escotismo
Esgrima
Futebol de botão
Ginástica rítmica
Halterofilismo
Handebol
Handebol de praia
Hipismo
Hóquei
Jiu-Jitsu
Luta greco-romana
Patinação
Pelota basca
Pentatlo moderno
Saltos ornamentais
Tênis de mesa
Tiro esportivo
Tiro prático
Triatlo
Vela
Voleibol de praia
Xadrez
Medalhistas olímpicos
Lista de todos os atletas do C.R. Flamengo que conquistaram medalhas nas Olimpíadas em seus respectivos esportes. São ao todo 2 medalhas de ouro, 7 medalhas de prata e 16 de bronze:
Atletismo
José Telles da Conceição - bronze no salto em altura em 1952
Basquetebol
Alfredo da Motta - bronze em 1948
Afonso Azevedo Évora - bronze em 1948
Fernando Pereira de Freitas - bronze em 1960
Waldyr Geraldo Boccardo - bronze em 1960
Zenny de Azevedo (Algodão) - bronze em 1948 e bronze em 1960
Futebol
Augilmar Oliveira (Gilmar Popoca) - prata em 1984
Jorge de Amorim Campos (Jorginho) - prata em 1988
Jorge Luís Andrade da Silva (Andrade) - prata em 1988
José Carlos da Costa Araújo (Zé Carlos) - prata em 1988
José Roberto Gama de Oliveira (Bebeto) - prata em 1988 e bronze em 1996
Sávio Bortolini Pimentel - bronze em 1996
Natação
Jorge Fernandes - bronze nos 4x200 m livres em 1980
Ricardo Prado - prata nos 400 m medley em 1984
Fernando Scherer (Xuxa) - bronze nos 50 m livres em 1996 e bronze no revezamento 4x100 m em 2000
César Cielo - bronze nos 50 m livres em 2012
Voleibol
Kátia Lopes - bronze em 2000
Leila Barros - bronze em 2000
Virna Dias - bronze em 2000
Ginástica Artística
Rebeca Andrade - ouro no salto e prata no individual geral em 2021
Canoagem Velocidade
Isaquias Queiroz - ouro no C1 1000 metros em 2021
Homenagens
Em 9 de março de 2007, foi sancionada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, a Lei Estadual 4 998/2007, instituindo o "Dia do Flamengo", festejado no estado em 17 de novembro, data da fundação do clube. Também em 2007 o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Cesar Maia, tombou a Torcida do Flamengo como Patrimônio Cultural da Cidade, por promover espetáculos de alegria no estádio do Maracanã e em diversos estádios, instituindo também, em 17 de outubro de 2007, o Dia do Flamenguista, comemorado em 28 de outubro, mesmo dia do padroeiro do Flamengo, São Judas Tadeu.
Ver também
Incêndio no alojamento do Flamengo
Lista de títulos do Clube de Regatas do Flamengo
Lista de presidentes do Clube de Regatas do Flamengo
Lista de campeões do futebol brasileiro
Lista de títulos internacionais de clubes brasileiros de futebol
Lista de futebolistas estrangeiros do Clube de Regatas do Flamengo
Outros esportes praticados pelo Clube de Regatas do Flamengo
Publicações sobre o Clube de Regatas do Flamengo
Ligações externas
Fundações no Rio de Janeiro em 1895
Clubes de futebol fundados em 1895 |
Uma função é uma relação de um conjunto com um conjunto Usualmente, denotamos uma tal função por onde é o nome da função, é chamado de domínio, é chamado de imagem e expressa a lei de correspondência (relação) dos elementos com os elementos Conforme suas características, as funções são agrupadas em várias categorias, entre as principais temos: função trigonométrica, função afim (ou função polinomial do 1° grau), função modular, função quadrática (ou função polinomial do 2° grau), função exponencial, função logarítmica, função polinomial, dentre inúmeras outras.
Conceito
As funções são definidas por certas relações. Por causa de sua generalidade, as funções aparecem em muitos contextos matemáticos e muitas áreas da matemática baseiam-se no estudo de funções. Deve-se notar que as palavras "função", "mapeamento", "mapa" e "transformação" são geralmente usadas como termos equivalentes. Além disso pode-se ocasionalmente se referir a funções como "funções bem definidas" ou "funções totais". O conceito de uma função é uma generalização da noção comum de fórmula matemática. As funções descrevem relações matemáticas especiais entre dois elementos. Intuitivamente, uma função é uma maneira de associar a cada valor do argumento (às vezes denominado variável independente) um único valor da função (também conhecido como variável dependente). Isto pode ser feito através de uma equação, um relacionamento gráfico, diagramas representando os dois conjuntos, uma regra de associação, uma tabela de correspondência, etc.. Muitas vezes, é útil associar cada par de elementos relacionados pela função com um ponto em um espaço adequado (por exemplo, no espaço geometricamente representado no plano cartesiano). Neste caso, a exigência de unicidade da imagem (valor da função) implica um único ponto para cada entrada (valor do argumento).
Assim como a noção intuitiva de funções não se limita a cálculos usando números individuais, a noção matemática de funções não se limita a cálculos e nem mesmo a situações que envolvam números. De forma geral, uma função liga um domínio (conjunto de valores de entrada) com um segundo conjunto, o contradomínio ou codomínio (conjunto de valores de saída), de tal forma que a cada elemento do domínio está associado exatamente um elemento do contradomínio. O conjunto dos elementos do contradomínio para os quais existe pelo menos um no domínio tal que (i.e., se relaciona com ), é o conjunto imagem ou chamado simplesmente de imagem da função.
Definição formal
Sejam dados os conjuntos uma relação e o conjunto dos pares ordenados Dizemos que é uma função se, e somente se, para todos com temos Ou, em outras palavras, para todo existe no máximo um tal que se relaciona com Assim sendo, escrevemos quando se relaciona com por O conjunto é chamado de conjunto de partida e é chamado de contradomínio da função
Outra maneira de dizer isto é afirmar que é uma relação binária entre os dois conjuntos tal que é unívoca, i.e. se e então Algumas vezes, na definição de função, impõe-se que todo o elemento do conjunto se relaciona com algum elemento de
Exemplos
Vejamos as seguintes relações
Exemplo de aplicação
Podemos usar uma função para modelar o número de indivíduos em uma população de acordo com o tempo (modelos de crescimento demográfico). Por exemplo, denotando o tempo por e o número de indivíduos em um dado tempo por escrevemos Assim, temos abstratamente modelado o número de indivíduos (variável dependente) em função do tempo (variável independente). Aqui, o nome da função foi arbitrariamente escolhido como o conjunto de partida é o conjunto dos números reais não negativos (assumindo que o tempo é contínuo e não negativo) e o contradomínio é o conjunto dos números naturais (assumindo que o número de indivíduos é sempre um número inteiro não negativo).
Elementos de uma função
Da definição, temos que uma função tem um nome, um conjunto de partida, um contradomínio (conjunto de chegada) e uma lei de correspondência. Por exemplo, denotamos onde é o nome da função, é seu conjunto de partida, é seu contradomínio e denota sua lei de correspondência.
Em muitos casos, nem todos os elementos do conjunto de partida se relacionam com algum elemento do contradomínio. Aqueles que se relacionam são elementos do chamado domínio da função. Mais precisamente, o domínio de uma função é o conjunto:Também, geralmente, nem todos os elementos do contradomínio se relacionam com algum elemento do conjunto de partida. Aqueles que se relacionam são elementos da chamada imagem da função. A imagem de uma função é o conjunto:
Exemplo
Seja onde o conjunto de partida é dada por e o contradomínio por Pela lei de correspondência, vemos que, neste caso, e Veja a ilustração.
Gráfico de uma função
O gráfico de uma função é o conjunto:i.e, é o conjunto dos pares ordenados tal que
Quando possível, usualmente fazemos uma representação geométrica do gráfico da função. Tal representação é usualmente chamada de esboço do gráfico da função (ou, simplesmente gráfico, quando subentendido).
Popularmente, temos os gráficos de funções de uma variável, para as quais seu esboço é dado pelo conjunto de pontos no plano cartesiano (veja a ilustração). Neste caso, usualmente as variáveis independentes são chamadas de abcissas e marcadas sobre o eixo horizontal (chamado de eixo das abcissas). As variáveis dependentes são chamadas de ordenadas e marcadas sobre o eixo vertical (chamado de eixo das ordenadas).
Classificação quando a imagem
Funções são usualmente classificadas quanto a sua imagem como: funções injetoras, funções sobrejetoras e funções bijetoras.
Seja dada a função Por definição, é injetora (ou injetiva) se, e somente se, para todos temos A função é dita sobrejetora (ou sobrejetiva) quando Por fim, uma função injetora e sobrejetora é dita ser bijetora (ou bijetiva). Veja a seguinte tabela.
Funções implícitas e explicitas
Dizemos que uma função é definida de forma explícita (função explícita) quando seus valores podem ser expressados pela variável independente i.e., quando temos uma relação da forma Por outro lado, dizemos que uma tal função é definida de forma implícita (função implícita) quando a relação entre as variáveis dependente e independente é dada como onde denota uma expressão envolvendo e
Exemplo
Seja dada por Isto é, a função que toma dois valores reais e os associa ao produto entre eles. Trata-se de uma função explícita. Agora, a equação define implicitamente a função que associa um número real não nulo ao seu inverso. Ou seja, tal função está, aqui, definida implicitamente por Notamos que neste caso em particular, podemos definir a função de forma explícita, escrevendo
Composição de funções
Dadas uma função e uma função com definimos a função composta de com por Analogamente, quando também podemos definir a função composta de com dada por
Exemplo
Considere as seguintes funções e dada por:
e
Notamos que e, portanto, podemos definir a função composta por:
Também, como temos a composição dada por:
Outras classificações
Funções são classificadas quanto a uma séries de propriedades (características) além das já mencionadas. Alguns desses tipos de funções são listados a seguir.
Função algébrica
Função computável
função côncava
Função convexa
Função contínua
Função diferenciável
Função holomorfa
Função ímpar
Função inteira
Função integrável
Função inversa
Função linear
Função modular
Função meromorfa
Função monótona
Função par
Função polinomial
Função quadrática
Função racional
Função transcendental
Função trigonométrica
Função vetorial
História
O conceito matemático de função emergiu no século XVII em conexão com o desenvolvimento do Cálculo. O termo "função" foi introduzido por Gottfried Leibniz em uma de suas cartas, datada de 1673, na qual ele descreve a declividade de uma curva em um ponto específico. Na antiguidade, embora não se conheça o uso explícito de funções, tal conceito pode ser observado em alguns trabalhos percursores de filósofos e matemáticos medievais, como Oresme.
Matemáticos do século XVII tratavam por funções aquelas definidas por expressões analíticas. Foi durante os desenvolvimentos rigorosos da Análise Matemática por Weierstrass e outros, a reformulação da Geometria em termos da análise e a invenção da Teoria dos Conjuntos por Cantor, que se chegou ao conceito moderno e geral de uma função como um mapeamento unívoco de um conjunto em outro. Não há consenso sobre a quem se deva os créditos da noção moderna de função, sendo cotada os matemáticos Nikolai Lobachevsky, Peter Gustav Lejeune Dirichlet e Dedekind.
Ver também
Cálculo diferencial e integral
Conjuntos
Funcional
Função se então (informática)
Função generalizada
Funtor
Bibliografia
Ávila, Geraldo Severo de Souza. (2005). Análise matemática para licenciatura. São Paulo. Edgard Blücher. ISBN 85-212-0371-3.
Barboni, Ayrton; Paulette, Walter. (2007). Fundamentos de Matemática: Cálculo e Análise. Editora LTC. ISBN 978-85-216-1546-0.
Iezzi, G; Murakami, C.. (2013). Fundamentos de Matemática Elementar: Conjuntos e Funções. vol. 1, 9. ed., Atual Editora:São Paulo. ISBN 9788535716801.
Ligações externas
Funções e Gráficos: um curso introdutório da UFRGS
Relações e Funções
Explicação de funções em 19 páginas pelo Grupo de Matemática da Universidade Técnica de Lisboa
Teoria dos conjuntos
Funções matemáticas |
O Gato de Schrödinger é uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. A experiência procura ilustrar a interpretação de Copenhague da mecânica quântica, imaginando-a aplicada a objetos do dia a dia. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas, sim em uma sobreposição desses dois estados.
Por sua vida supostamente atrelar-se a um evento aleatório — usualmente o decaimento radioativo — Schrödinger interpreta que um gato "vivomorto" surgiria como reflexo de um estado físico atípico ao senso comum, mas presente em sistemas quânticos: um estado de superposição ou emaranhamento quânticos. Em termos técnicos, o estado "vivomorto" (claramente distinto do estado vivo, distinto do estado morto), compõe-se pela soma desses dois estados e constitui de fato, a situação do gato no experimento, ao menos enquanto o sistema permanecer fechado, sem ser observado. Porém, um cuidado é necessário na interpretação da superposição de estados: não significa que ambos são válidos ao mesmo tempo.
O experimento também traz à tona questionamentos quanto à natureza do "observador", e da "observação" na mecânica quântica; se você, pelo fato de abrir a caixa e deparar-se com o gato ou vivo ou morto (colapso da função de onda), é ou não o responsável pela vida ou pela morte do gato; à parte o próprio gato como observador, por simplicidade.
Foi no transcurso desse experimento que Schrödinger criou o termo Verschränkung (em português, entrelaçamento).
Origem e motivação
O experimento mental de Schrödinger foi proposto como discussão do artigo EPR, nomeado devido aos seus autores: Albert Einstein, Podolsky, Rosen em 1935. O paradoxo EPR abordou a estranha natureza das superposições quânticas. Amplamente exposta, a superposição quântica é a combinação de todos os possíveis estados do sistema (por exemplo, as possíveis posições de uma partícula subatômica). A interpretação de Copenhague implica que a superposição apenas sofre colapso em um estado definido no exato momento da medição quântica.
Schrödinger e Einstein trocaram cartas sobre o artigo EPR de Einstein, durante o qual Einstein indicou que a superposição quântica de um barril instável de pólvora irá, após um tempo, conter ambos componentes explodidos e não-explodidos.
Para melhor ilustrar o suposto paradigma incompleto da mecânica quântica, Schrödinger aplicou a teoria da mecânica quântica em uma entidade viva que podia ou não estar consciente. No experimento mental original de Schrödinger, ele descreveu como, em princípio, seria possível transformar a superposição dentro de um átomo para uma superposição em grande escala de um gato morto e vivo por relacionar gato e átomo com a ajuda de um "mecanismo diabólico". Ele propôs um cenário com um gato em uma caixa lacrada, onde a vida ou morte do gato é dependente do estado de uma partícula subatômica. De acordo com Schrödinger, a interpretação de Copenhague implica que o gato permanece vivo e morto até que a caixa seja aberta.
Schrödinger não desejava promover a ideia de gatos vivos-e-mortos como uma séria possibilidade; o experimento mental serve para ilustrar a complexidade extrema da mecânica quântica e da matemática necessária para descrever os estados quânticos. Entendida como uma crítica da interpretação de Copenhague – a teoria prevalecente em 1935 – o experimento mental do gato de Schrödinger permanece um tópico padrão para todas as interpretações da mecânica quântica; a maneira como cada interpretação lida com o gato de Schrödinger é frequentemente usada como meio de ilustrar e comparar características particulares de cada interpretação, seus pontos fortes e fracos.
Descrição do experimento
O experimento mental do Gato de Schrödinger consiste em um gato preso dentro de uma caixa sem transparências, junto a um frasco de veneno e um contador Geiger ligados por relés, e um martelo. O contador Geiger será acionado ou não. Se for, transmitirá movimento através dos relés; o martelo baterá no frasco de veneno quebrando-o e o gato morrerá. Mas se o contador não acionar, o martelo não quebrará o frasco e o gato permanecerá vivo. Esse experimento mental foi proposto por Erwin Schrödinger, em 1935, para demonstrar os estados de superposição quântica: só saberemos se o gato está vivo ou morto se abrirmos a caixa, mas se isso for feito, alteraremos a possibilidade do gato estar vivo ou morto. O princípio desta está intrinsecamente ligado ao Princípio da Incerteza de Heisenberg. O estado de superposição quântica acontece quando for desconhecido o estado de um corpo. Se não pudermos identificá-lo, diremos que este corpo está em todos os estados. Não poderíamos inferir, por exemplo, que o gato não está em estado nenhum, já que foi colocado dentro da caixa e sabemos que ele está lá.
Schrödinger escreveu:
O texto acima é a tradução de dois parágrafos do artigo original bem mais extenso, o qual aparece na revista alemã Naturwissenschaften ("Ciências Naturais") em 1935.
A famosa experiência mental de Schrödinger coloca a questão: quando o sistema quântico para de ser uma mistura de estados e se torna ou um ou o outro?
(Mas tecnicamente, quando o atual estado quântico para de ser uma combinação linear de estados, cada um dos quais se parece com estados clássicos diferentes, e em vez disso começar a ter apenas uma clássica descrição?)
Se o gato sobreviver, isso lembra que ele está apenas vivo. Mas as explicações das experiências EPR que são consistentes com a mecânica quântica microscópica padrão requerem que objetos macroscópicos, como gatos e cadernos, não podem ter sempre apenas uma descrição clássica. O propósito da experiência mental é para ilustrar esse aparente paradoxo: nossa intuição diz que nenhum observador pode estar em uma mistura de estados, mesmo que eles sejam gatos, por exemplo, eles não podem estar em tal mistura. É necessário que os gatos sejam observadores, ou sua existência em um estado clássico simples e bem definido exige outro observador externo? Cada alternativa pareceu absurda para Albert Einstein, que estava impressionado pela habilidade do experimento mental para esclarecer esses problemas; em uma carta a Schrödinger datada de 1950 ele escreveu:
Note que nenhuma carga de pólvora é mencionada no esquema de Schrödinger, que usa um contador Geiger como amplificador e cianeto no lugar de pólvora; a pólvora foi apenas mencionada na sugestão original de Einstein para Schrödinger 15 anos antes.
Interpretação de Copenhague
Na interpretação de Copenhague na mecânica quântica, um sistema para a superposição de estados se torna um ou outro quando uma observação acontece. Essa experiência torna aparente o fato de que a natureza da medição, ou observação, não é bem definida nessa interpretação. Alguns interpretam a experiência, enquanto a caixa estiver fechada, como um sistema onde simultaneamente existe uma superposição de estados "núcleo decaído/gato morto" e "núcleo não-decaído/gato vivo", e apenas quando a caixa é aberta e uma observação é feita é que, então, a função de onda colapsa em um dos dois estados. Mais intuitivamente, alguns pensam que a "observação" é feita quando a partícula do núcleo atinge o detector. Essa linha de pensamento pode ser desenvolvida pelas teoria de colapso objetiva. Por outro lado, a interpretação de muitos mundos nega que esse colapso sequer ocorra.
Steven Weinberg disse:
A interpretação de muitos mundos de Everett & Histórias consistentes
Na interpretação de muitos mundos da mecânica quântica, a qual não isola a observação como um processo especial, ambos estados vivo e morto do gato persistem, mas são incoerentes entre si. Nos outros mundos, quando a caixa é aberta, a parte do universo contendo o observador e o gato são separados em dois universos distintos, um contendo um observador olhando para um gato morto, outro contendo um observador vendo a caixa com o gato vivo.
Como os estados vivo e morto do gato são incoerentes, não têm comunicação efetiva ou interação entre eles. Quando um observador abre a caixa, ele se entrelaça com o gato, então, as opiniões dos observadores do gato sobre ele estar vivo ou morto são formadas e cada um deles não tem interação com o outro. O mesmo mecanismo de incoerência quântica é também importante para a interpretação em termos das Histórias consistentes. Apenas "gato morto" ou "gato vivo" pode ser parte de uma história consistente nessa interpretação.
Roger Penrose criticou isso:
Embora a visão mais aceita (sem necessariamente endossar os Vários-Mundos) é que a incoerência é o mecanismo que proíbe tal percepção simultânea.
Uma variante da experiência do Gato de Schrödinger conhecida como máquina de suicídio quântico foi proposta pelo cosmologista Max Tegmark. Ele examinou a experiência do Gato de Schrödinger da perspectiva do gato, e argumentou que essa teoria pode ser distinta entre a interpretação de Copenhague e a de muitos mundos.
Interpretação conjunta
A interpretação conjunta afirma que superposições não são nada mais do que subconjuntos de um grande conjunto estatístico. Sendo esse o caso, o vetor estado não se aplicaria individualmente ao experimento do gato, mas apenas às estatísticas de muitos experimentos semelhantes. Os proponentes dessa interpretação afirmam que isso faz o paradoxo do Gato de Schrödinger um problema trivial não resolvido.
Indo por esta interpretação, ela descarta a ideia que um simples sistema físico tem uma descrição matemática que corresponde a isso de qualquer jeito.
Teorias de colapso objetivas
De acordo com as teorias de colapso objetivo, superposições são destruídas espontaneamente (independente de observação externa) quando algum princípio físico objetivo (de tempo, massa, temperatura, irreversibilidade etc) é alcançado. Assim, espera-se que o gato tenha sido estabelecido em um estado definido muito tempo antes da caixa ser aberta. Isso poderia vagamente ser dito como "o gato se observa", ou "o ambiente observa o gato".
Teorias do colapso objetivo requerem uma modificação da mecânica quântica padrão, para permitir superposições de serem destruídas pelo processo de evolução no tempo.
Em teoria, como cada estado é determinado pelo estado imediatamente anterior, e este pelo anterior, ad infinitum, a pré-determinação para cada estado teria sido determinada instantaneamente pelo "princípio" inicial do Big Bang. Assim o estado do gato vivo ou morto não é determinada pelo observador, ele já foi pré-determinado pelos momentos iniciais do universo e pelos estados subsequentes que sucessivamente levaram ao estado referenciado no experimento mental.
Aplicações práticas
O experimento é puramente teórico, e o esquema proposto jamais poderá ser construído. Efeitos análogos, entretanto, tem algum uso prático em computação quântica e criptografia quântica. É possível enviar luz em uma superposição de estados através de um cabo de fibra óptica. Colocando um grampo no meio do cabo que intercepta e retransmite, a transmissão irá quebrar a função de onda (na interpretação de Copenhague, "realizar uma observação") e irá provocar que a luz caia em um estado ou em outro. Por testes estatísticos realizados na luz recebida na outra ponta do cabo, o observador pode saber se ele permanece na superposição de estados ou se ele já foi observado e retransmitido. Em princípio, isso permite o desenvolvimento dos sistemas de comunicação que não possam ser grampeados sem que o grampo seja notado na outra ponta. O experimento pode ser citado para ilustrar que a "observação" na interpretação de Copenhague não tem nada a ver com percepção (a não ser em uma versão do Panpsiquismo onde é verdade), e que um grampo perfeitamente imperceptível irá provocar que as estatísticas no fim do cabo sejam diferentes.
Em computação quântica, a frase "cat state" (Estado do gato) frequentemente refere-se ao emaranhamento dos qubits onde os qubits estão em uma superposição simultânea de todos sendo 0 e todos sendo 1, ou seja, + .
Extensões
Embora a discussão desse experimento mental fale sobre dois possíveis estados (gato vivo e gato morto), na realidade teria um número enorme de estados possíveis, pois a temperatura e grau e estado de decomposição do gato iria depender de exatamente quando e como mecanismo foi acionado, ou se o mecanismo foi acionado, ou ainda qual o estado do gato imediatamente antes da morte.
Em outra extensão, físicos foram tão longe como sugerir que astrônomos observando matéria escura no universo durante 1998 poderiam ter "reduzido sua expectativa de vida" através de um cenário de pseudo-Gato de Schrödinger, embora esse seja um ponto de vista controverso.
Outra variação do experimento é do Amigo de Wigner, no qual tem dois observadores externos, o primeiro que abre e inspeciona a caixa e quem então comunica suas observações a um segundo observador. O problema aqui é, a função de onda entra em colapso quando o primeiro observador abre a caixa, ou apenas quando o segundo observador é informado das observações do primeiro observador?
Ver também
Amigo de Wigner
Experiência da dupla fenda
Imortalidade quântica
Interpretações da mecânica quântica
Problema de Elitzur-Vaidman
Estado do gato
Ligações externas
A situação atual da Mecânica Quântica por Erwin Schrödinger
Experimentos mentais em mecânica quântica
Gatos fictícios
Paradoxos físicos
Erwin Schrödinger |
Goiás é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Situa-se na Região Centro-Oeste do país, no Planalto Central brasileiro. O seu território é de 340 257 km², sendo delimitado pelos estados de Mato Grosso do Sul a sudoeste, Mato Grosso a oeste, Tocantins a norte, Bahia a nordeste, Minas Gerais a leste, sudeste e sul e pelo Distrito Federal a leste.
Goiânia é a capital e maior cidade do estado, assim como sede da Região Metropolitana de Goiânia, a única no estado. Outras cidades importantes, fora da região metropolitana de Goiânia, são: Anápolis, Rio Verde, Itumbiara, Catalão, Luziânia, Águas Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás, Formosa, Planaltina, Jataí, Caldas Novas, Goianésia, que também são as maiores cidades em população do interior do estado. Seus municípios situados a leste formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, uma das duas RIDES no país. Ao todo, o estado possui 246 municípios.
Com 7,2 milhões de habitantes, é o estado mais populoso da Região Centro-Oeste e o 11º mais populoso do país. Possui, ainda, a nona maior economia entre as unidades federativas brasileiras. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em 2022 registram-se eleitores.
A história de Goiás remonta ao início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes vindos de São Paulo, atraídos pela descoberta de minas de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, liderou a primeira bandeira com a intenção de se fixar no território, que saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. A região do Rio Vermelho foi a primeira a ser ocupada, onde fundou-se Vila Boa (mais tarde renomeada para Cidade de Goiás), que serviu como capital do território durante 200 anos. O processo de independência de Goiás se deu gradativamente, impulsionado pela formação de juntas administrativas. O desenvolvimento e povoamento do estado deu-se, de forma mais intensificada, a partir da mudança da capital para Goiânia, na década de 1930, e com a construção de Brasília, em 1960.
Etimologia
A origem do topônimo Goiás (anteriormente, Goyaz) é incerta e necessita de pesquisas mais aprofundadas. Usualmente, afirma-se que o termo viria da suposta tribo dos índios Goiases que teria habitado a região próxima a Cidade de Goiás e se extinguido rapidamente. Entretanto, não há qualquer vestígio físico ou imaterial da existência real de tal tribo. Há apenas relatos distantes, esparsos e divergentes que apontam que haveria um mito entre os indígenas e caboclos vicentinos, principais integrantes das bandeiras que iniciaram a ocupação de Goiás no século XVIII, dizendo que haveria no interior do continente um povo chamado “Goyá” ou “Guaiana” que possuía cerâmica e agricultura bem desenvolvidas e seriam parentes da Nação Tupi. Daí o termo “Guaiá”, forma composta de “Gua” e “iá”, que em Tupi significa, entre outras possibilidades, "indivíduo igual", "pessoas de mesma origem". Isto nos leva a supor que quando as bandeiras encontraram ouro na Serra Dourada, próximo à atual cidade de Goiás, o nome mítico "Guaiá" teria sido empregado para denominar a área pelos indígenas paulistas, que também pertenciam ao grupo Tupi. Como os únicos integrantes dos Tupis na região eram os Avá-Canoeiros, podemos concluir que eles tiveram na realidade contato com esta tribo. Outra conclusão possível e que seriam Kaiapós. Assim, o topônimo "Goiás" viria de um engano dos primeiros bandeirantes, motivado pelos mitos dos indígenas que compunham as bandeiras.
O nome Goiás, quando utilizado no meio de uma frase, dispensa o emprego de artigo, similarmente ao que acontece na designação dos estados de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul, de Alagoas e de Minas Gerais.
História
Os registros históricos mais antigos encontrados na região do atual estado de Goiás, foram datados de cerca de 11 mil anos atrás, o que indica que a ocupação humana na área iniciou-se há milhares de anos. Grande parte dos sítios arqueológicos presentes no estado estão situados em Serranópolis, Caiapônia e na Bacia do Paranã, abrigados em rochosos de arenito e quartzito, além de grutas de maciços calcários. Além destes, há fortes indícios de ocupação pré-histórica nos municípios de Uruaçu e Niquelândia que, juntos, abrigam abundante material lítico do homem pré-histórico, conhecido como "homem Paranaíba".
Por conseguinte, o "homem Paranaíba" é tido como o primeiro representante humano que viveu na área, pertencente ao grupo caçador-coletor. Outro grupo caçador-coletor que viveu na região foi o da "Fase Serranópolis", cujo comportamento foi influenciado por mudanças climáticas, o que fez com que este passasse a se alimentar de moluscos terrestres e dulcícolas, além de uma quantidade maior de frutos. Populações ceramistas também ocuparam o território goiano, em uma época em que o clima e a vegetação eram, supostamente, semelhantes aos atuais. Estas populações ceramistas viveram há cerca de dois mil anos, e eram divididos em: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani.
A cultura ceramista da tradição Una, a mais antiga, habitava abrigos e grutas naturais. Alimentavam-se sobretudo de vegetais, e cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbora e algodão. Também foram responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia da produção de vasilhames cerâmicos. Os Aratus habitavam grandes agrupamentos, situados em ambientes abertos, principalmente em matas próximas a rios ou riachos. São os primeiros aldeões conhecidos. Assim como os Una, cultivavam milho, feijão e algodão. Eram responsáveis pela produção de vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, confeccionavam rodelas de fusos, utilizados na fiação do algodão, dentre outros artefatos oriundos da manipulação da argila. Já a população da tradição Uru só veio chegar ao território do atual estado, muito tempo após os Aratus. Sua passagem pela pré-história goiana tornou-se conhecida através dos sítios arqueológicos localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes, datados do século XII. A mais recente das populações, os Tupi-Guaranis, é datada de 600 anos atrás. Estes viviam em aldeias super populosas, dispersas na bacia do Alto Araguaia e na bacia do Tocantins.
Período colonial
Aos tempos do descobrimento do Brasil pelos portugueses, a região do atual estado de Goiás era habitada pelos índios Avás-canoeiros, tupi-guaranis e tapuias. A ocupação do território goiano teve início com Catarina Silva e as expedições de aventureiros (bandeirantes) provenientes da Capitania de São Vicente. As Bandeiras objetivavam procurar metais preciosos e capturar índios que, por sua vez, serviam como mão de obra escrava no desenvolvimento da agricultura e minas, tanto no "território dos Goyazes" quanto na Capitania de São Vicente. Além destas, outras expedições saíam do Pará, nas chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos índios da região. Todas essas expedições tinham como rota o território do atual estado, mas não se dava a criação de vilas permanentes e nem a manutenção de um notável número de população na região.
Com a descoberta de ouro na área, a ocupação efetiva se consolidou, tornando-se propriamente dita. Devido à descoberta de ouro em Minas Gerais (próximo à Ouro Preto) e em Mato Grosso (próximo à Cuiabá) entre 1698 e 1718, acreditava-se que a região também possuía abundância em minérios, ideia que ganhou força com a crença, de origem renascentista, de que o ouro era mais abundante quanto mais próximo da Linha do Equador e no sentido leste-oeste. Assim sendo, a busca por ouro no território se intensificou cada vez mais, fazendo deste o foco das expedições dos Bandeirantes pela região.
Umas das Bandeiras mais importantes recebida pelo território goiano foi a liderada por Francisco Bueno, a primeira a encontrar ouro nestas terras, em 1682, embora em pequena quantidade. A região explorada por essa Bandeira estendeu-se das margens do Rio Araguaia até a região do atual município de Anhanguera. Bartolomeu Bueno da Silva, filho de Francisco Bueno e conhecido por Anhanguera (Diabo velho), também fazia parte desta Bandeira. Segundo registros, Bartolomeu Bueno da Silva interessou-se pelo ouro que adornava algumas índias de uma tribo, mas não obteve sucesso em obter informações confiáveis sobre a localização exata desse ouro. Para descobrir a localização, Anhanguera resolveu ameaçar por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para convencer os índios da tribo de que tinhas "poderes" e meios para fazer isto acontecer. Apavorados, os índios levaram-no imediatamente às jazidas, surgindo assim o apelido "Anhanguera" (Diabo Velho ou Feiticeiro).
O filho de Anhanguera, também chamado Bartolomeu Bueno da Silva , tentou retornar aos locais onde seu pai havia passado, 40 anos após o acontecido. Bueno da Silva tinha como objetivo encontrar a “Serra dos Martírios”, um lugar fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas semelhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”. Esse lugar, místico, nunca foi encontrado, mas este acabou chegando às regiões próximas ao rio Vermelho, onde encontrou ouro em maior quantidade em 1722. Bartolomeu Bueno da Silva acabou fixando-se na vila de Sant'Anna, em 1727, que mais tarde viria a se tornar a Vila Boa de Goyaz.
Depois de seu retorno a São Paulo, onde apresentou os achados em terras goianas, Bueno da Silva foi nomeado capitão-mor das "minas das terras do povo Goiá". Apesar disso, sua influência foi sendo diminuída a medida que a administração régia se organizava na região. Acusado de sonegação de rendas, Bueno da Silva perdeu direitos obtidos junto ao rei, falecendo pobre e sem poder em 1740. O ouro explorado na área era retirado principalmente da superfície dos rios, através da peneiragem do cascalho, se tornando escasso após 1770. A região passou a viver basicamente da pequena agricultura de subsistência e de algumas atividades relativas à pecuária. Nesta época, as principais regiões de Goiás exploradas pela Capitania de São Paulo eram o Centro-Sul (proximidades dos limites com São Paulo). o Alto Tocantins e o Norte da capitania, até os limites da cidade de Porto Nacional (hoje pertencente ao Tocantins). Estas regiões, entretanto, só viriam a receber ocupação humana intensamente a partir dos séculos XIX e XX, como resultado da ampliação da pecuária e agricultura.
Separação da Capitania de São Paulo
O atual estado de Goiás foi administrado, no período colonial, pela Capitania de São Paulo, na época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado de Rondônia. Todavia, seu poder não era tão extenso e proeminente, ficando distante das populações e, também, dos rendimentos.
Depois da descoberta de ouro em Goiás, em 1722, os portugueses buscaram aproximar-se da região produtora, como uma forma de controlar melhor a produção de ouro e evitar o contrabando, além de servir como uma resposta mais imediata aos ataques dos índios e controlar os conflitos e revoltas entre os mineradores. Assim sendo, foi criado através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748. O primeiro governador da então Capitania de Goyaz foi Dom Marcos de Noronha, que passou a residir em Vila Boa de Goyaz.
Durante a maior parte do período colonial e imperial, os limites territoriais entre as capitanias e províncias não eram demarcados com exatidão, estando quase sempre definidos pelos limites das paróquias ou através de deliberações políticas oriundas do poder central. Nesse período, Goiás foi uma das administrações a sofrer maiores perdas de território, com diversas divisões. Duas perdas significativas de território marcaram Goiás na época colonial: O Triângulo Mineiro e o Leste do Mato do Grosso.
A região que hoje corresponde ao Triângulo Mineiro pertenceu à capitania de Goiás, desde sua criação, em 1744, até 1816, pouco antes da independência brasileira. A região foi incorporada a Minas Gerais devido a pressões pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região. Apesar de ter passado à hegemonia mineira, o Triângulo continuou sofrendo influência goiana nas suas mais variadas ações, sobretudo na questão política. Em 1861, a Assembleia Geral sediou uma das maiores discussões políticas à época, entre parlamentares de Minas Gerais e de Goiás, por conta da tentativa mineira de ampliar ainda mais o território de Minas Gerais, incorporando áreas do Sul Goiano e próximas ao Rio São Marcos, administradas pela Capitania de Goiás.
As capitanias de Mato Grosso e Goyaz começaram as discussões acerca de seus limites territoriais em 1753. Como resultado das discussões, ficou definido que os limites entre as duas capitanias seria a partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo, sendo que este último seria usado como o último limite entre as duas, por sua localização quase na fronteira do Brasil com Bolívia. Em 1838, Mato Grosso reiniciou as movimentações de contestação de limites territoriais, criando a vila de Sant'Ana do Paranaíba, próximo ao limite pré-estabelecido com Goiás. O caso foi tratado pela Assembleia Geral apenas em 1864, que criou uma legislação específica para o entrave. A situação perdurou até a República Velha, com a criação do município de Araguaia em 1913 por parte de Mato Grosso, e criação de Mineiros por parte de Goiás, o que culminou no agravamento do conflito. A questão ficou em suspenso até 1975, quando uma nova demarcação foi efetuada, durante o Regime militar. A decisão final veio em 2001, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) demarcou, por definitivo, a nascente "A" do Rio Araguaia como ponto de partida das linhas demarcatórias entre os dois estados, resultando em perda territorial para Goiás.
Império
De 1780 em diante, a Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão a uma economia de subsistência, devido ao esgotamento das jazidas auríferas, o que causou graves problemas financeiros, pela ausência de um produto básico rentável. Os portugueses
agiram ativamente para tentar reverter essa situação, incentivando e promovendo a agricultura na região. Todavia, a ação não gerou resultados positivos, já que os agricultores temiam o pagamento de dízimos. Outros motivos que contribuíram para o fracasso da iniciativa foi a ausência de um mercado consumidor, dificuldade de exportação - sobretudo pela ausência de um sistema viário - e a falta de interesse dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco rentável.
Quando o Brasil conquistou a independência, em 1822, a Capitania de Goyaz foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança pouco alterou a realidade socioeconômica de Goiás, que ainda enfrentava um quadro de pobreza e isolamento geográfico. Poucas mudanças ocorreram, sendo a maioria de ordem política e administrativa. A expansão da pecuária em Goiás alcançou relativo êxito nas três primeiras décadas do século XIX, resultando em um significativo aumento populacional, principalmente no sul da província. A maioria dos migrantes que chegavam ao estado, vinham de outras províncias próximas, como Grão-Pará, Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Com essa migração, surgiram novas localidades, que logo tornaram-se cidades: no sudoeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (então Rio Bonito), Quirinópolis (então Capelinha), entre outras. O norte da província também mudou consideravelmente com o aumento populacional. Além do surgimento de novas cidades, as que já existiam (Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina e Arraias, ganharam novo impulso.
O poder central, apesar de distante, ainda exercia amplo poder sobre a região, pois detinham a livre escolha dos presidentes de província e outros cargos de importância política - todos de nacionalidade portuguesa - descontentando os grupos locais. Após a abdicação de D.Pedro I, Goiás experimentou um movimento nacionalista liderado pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez, pelo bispo Dom Fernando Ferreira e pelo coronel Felipe Antônio. De imediato, o movimento recebeu o apoio das tropas, conseguindo depor todos os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, entre eles, o presidente da província.
Vários partidos foram fundados na província por grupos locais insatisfeitos com a influência exercida pelo governo central. Nas últimas décadas do século XIX, surgiram os partidos O Liberal, em 1878, e o Conservador, em 1882. Jornais também foram fundados, usados principalmente como meio de difusão das ideias destes partidos, entre eles Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio, Folha de Goyaz e O Libertador. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases para as futuras oligarquias.
O jornal O Libertador havia sido fundado pelo poeta goiano Antônio Félix de Bulhões, e usado por este como meio de divulgação de seus ideais abolicionistas. Félix de Bulhões também promoveu festas para angariar fundos, com o objetivo de alforriar escravos, e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Aproximadamente 4 mil escravos viviam em Goiás, à época da promulgação da Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888.
O ensino educacional em Goiás foi regulamentado em 1835, pelo presidente da província, José Rodrigues Jardim. Em 1846, foi criado na então capital, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário. À época, jovens do interior de família classe média-alta e alta concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminhavam-se para a escola militar ou seminários. No entanto, a maioria da população permanecia analfabeta. Somente em 1882 foi criada a primeira Escola Normal de Goiás, na capital deste.
República
O Brasil passou ao regime republicano em 15 de novembro de 1889, fazendo de Goiás um estado. Entretanto, pouco se modificou na unidade administrativa em termos socioeconômicos, em especial pelo isolamento resultante da carência dos meios de comunicação. Aliado a isso, a ausência de centros urbanos e de um mercado interno, além de uma economia de subsistência, também contribuíram para os problemas enfrentados pela população goiana. Apenas mudanças administrativas e políticas foram vistas.
A primeira fase da República no Brasil, que durou desde sua proclamação até 1930, acentuou a disputa entre as elites oligárquicas de Goiás pelo poder político. Os principais grupos de elite eram os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado, que exerciam influência nas mais diversas atividades do estado. Os Bulhões apresentaram forte influência sobre a política do estado até por volta de 1912, com sua liderança maior em José Leopoldo de Bulhões, sucedidos pela elite oligárquica dos Jardim Caiado, liderada por Antônio Ramos Caiado, com seu poder exercido até 1930.
Um dos meios de desenvolvimento advindos da mudança para o período republicano, de forma imediata, foi a instalação do telégrafo em 1891, usado para a transmissão de notícias. Posteriormente, a estrada de ferro em território goiano, que chegou no início do século XX, também foi de grande importância para a urbanização na região e a ligação com outras partes do país, facilitando a produção de arroz para exportação. Entretanto, a estrada de ferro não se estendeu até a cidade de Goiás, capital estadual à época, assim como não se prolongou ao norte do estado, devido principalmente a falta de recursos financeiros. Essas regiões permaneciam praticamente incomunicáveis. A pecuária, predominante na parte sul, passou a ser o setor mais importante da economia.
Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência do Brasil, foram registradas alterações no cenário político estadual. Getúlio Vargas destituiu os governadores e nomeou um governo provisório composto por três membros. O Dr. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado em Goiás, passando a ser interventor do estado dias após sua primeira nomeação. Outra iniciativa surgida como resultado da revolução foi um plano de ação adotado pelo governo nacional, para levar desenvolvimento a alguns estados interioranos do país, entre os quais Goiás, que recebeu investimentos nas áreas do transporte, educação, saúde e exportação. O plano de ação de desenvolvimento em Goiás previa uma outra medida para alcançar o objetivo: A mudança da capital estadual e construção da futura capital.
Construção de Goiânia
Os ideais de "progresso e desenvolvimento", levantados durante a revolução de 1930, foram os principais impulsionadores da mudança da capital goiana, proposta que já havia sido pensada em governos anteriores, mas que nunca havia sido habilitada em parte por falta de apoio do governo nacional. A região onde se encontra a atual capital foi escolhida por apresentar melhores condições hidrográficas, topográficas, climáticas e pela proximidade da estrada de ferro.
No dia 24 de outubro de 1933, lançou-se o projeto de construção e mudança da sede do governo do estado de Goiás, sendo que dois anos depois, em 7 de novembro de 1935, a mudança provisória da nova capital foi iniciada. Para escolher o nome da nova capital, foi promovido um concurso, administrado pelo semanário "O Social". O nome escolhido foi "Goiânia", conforme sugerido pelo professor Alfredo de Castro.
Em 23 de março de 1937, a mudança da capital para Goiânia foi finalizada. O município de Goiás perdeu o posto de sede estadual por meio do Decreto 1.816 daquele ano. Cinco anos após sua instalação definitiva como capital, Goiânia já registrava 15 mil habitantes, atraídos principalmente do norte de Goiás e de estados próximos, como Minas Gerais, Piauí, Bahia e Maranhão.
Goiás experimentou um crescimento acelerado em vários setores, a partir de 1940, resultado de políticas adotadas tanto pelo governo estadual quanto pelo governo nacional, como o desbravamento do Mato Grosso Goiano, a campanha nacional de "Marcha para o Oeste" - com a finalidade de povoação de áreas do interior do Brasil - e a construção de Brasília, que viria a ser a nova capital nacional, assim como ocorrido com Goiânia.
A imigração no estado se intensificou, a urbanização e o êxodo rural foram estimuladas, e a agropecuária se espalhou para outras partes do território, que não fossem apenas o sul. Entretanto, assim como outras partes do país, a industrialização ainda era recorrente e a economia era quase que integralmente dependente do setor primário (agricultura e pecuária), com a vigência do sistema latifundiário.
Em contrapartida, como meio de estimular o desenvolvimento de outras áreas econômicas no estado (principalmente a industrialização), foram criados o Banco do Estado e a Centrais Elétricas de Goiás (CELG), na década de 1950.
A continuação dessa inciativa se deu no governo de Mauro Borges Teixeira, que governou Goiás entre 1960 e 1964. Mauro Borges Teixeira também procurou descentralizar a economia, elaborando outro projeto, chamado de "Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás", que funcionou como uma diretriz onde se abrangia áreas de agricultura e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos naturais e turismo.
Geografia
O estado de Goiás está localizado no Planalto central brasileiro, entre chapadas, planaltos, depressões e vales. Há bastante variação de relevo no território goiano, onde ocorrem terrenos cristalinos sedimentares antigos, áreas de planaltos bastante trabalhadas pela erosão, bem como chapadas, apresentando características físicas de contrastes marcantes e beleza singular. As maiores altitudes localizam-se a leste e a norte, na Chapada dos Veadeiros (1.784 metros), na Serra dos Cristais (1250 m) e na Serra dos Pireneus (1395 m). As altitudes mais baixas ocorrem especialmente no oeste do estado.
Goiás é banhado por quatro bacias hidrográficas: a Bacia do rio Paraná, a Bacia do Tocantins, a Bacia do rio Araguaia e uma pequena porção da Bacia do rio São Francisco à leste do estado. Os principais rios são: Paranaíba, Aporé, Araguaia, São Marcos, Corumbá, Claro, Paranã, dos Bois, das Almas, Vermelho, Verdão e Maranhão.
Biodiversidade
A fauna em Goiás é riquíssima, destacando-se animais de variadas espécies, como capivaras e antas, as margens de rios e riachos. Nas matas: onças, tamanduás,lobos-guarás,macacos e animais típicos do cerrado, como a ema e a seriema. Pássaros de variadas espécies enriquecem a fauna goiana, além de peixes e anfíbios nos rios e lagos espalhados em todo o estado. Para proteger as florestas, a flora e a fauna, foram criados pelo Governo parques e reservas florestais, onde são proibidas a pesca, a derrubada das árvores e a caça. Os principais parques de proteção ambiental no estado são o Parque Nacional das Emas, situado no município de Mineiros, no sul do estado, e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, nos municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante.
Com exceção da região do "Mato Grosso Goiano", onde domina uma pequena área de floresta tropical em que existem árvores de grande porte aproveitadas pela indústria, como o mogno, jequitibá e peroba, o território goiano apresenta a típica vegetação do Cerrado. Arbustos altos e árvores de galhos retorcidos de folha e casca grossas com raízes profundas formam boa parte da vegetação. Municípios como Goiânia, Anápolis, bem como diversos outros localizados no sul do estado possuem estreitas faixas de floresta Atlântica, as quais, na maioria das vezes, cobrem margens de rios e grandes serras. Ao contrário das áreas de caatinga do Nordeste brasileiro, o subsolo do cerrado apresenta água em abundância, embora o solo seja ácido, com alto teor de alumínio, e pouco fértil. Por esse motivo, na estação seca, parte das árvores perde as folhas para que suas raízes possam buscar a água presente no subsolo. Exemplos de árvores do cerrado são: lobeira, mangabeira, pequizeiro, e de algumas plantas medicinais, como a caroba e a quineira.
Clima
O clima é majoritariamente tropical savânico (Aw). Basicamente, há duas estações bem definidas: a chuvosa, que vai de outubro a abril, e a seca, que vai de maio a setembro. A média térmica é de 26 °C, e tende a subir nas regiões oeste e norte, e a diminuir nas regiões sudoeste, sul e leste. As temperaturas mais altas são registradas entre setembro e outubro, e as máximas podem chegar a até 40 °C.
As temperaturas mais baixas, por sua vez, são registradas entre maio e julho, quando as mínimas, dependendo da região , podem chegar a até 9 °C. A tipologia climática tropical se faz presente na maior parte do estado, apresentando invernos secos e verões chuvosos. As temperaturas variam de região para região; no sul giram em torno dos 20 °C aumentando ao norte para 25 °C. O índice de chuvas segue o regime das temperaturas.
A oeste do estado o índice atinge 1 800 mm anuais diminuindo no sentido leste para 1 500 mm/ano. Em parte do estado, mais precisamente no planalto de Anápolis e Luziânia ocorre o clima tropical de altitude com temperaturas médias anuais baixas, porém, a precipitação ocorre da mesma forma que no restante do estado.
Meio ambiente
A expansão da agropecuária tem causado graves prejuízos ao cerrado goiano. As matas ciliares estão sendo destruídas e as reservas permanentes sendo desmatadas, para ceder espaço para o gado bovino e as plantações. Na região de nascentes do Rio Araguaia, a implantação de pastagens fez surgir inúmeros focos de erosão provocados pelo desmatamento, causando as voçorocas (valetas profundas causadas pela erosão), praticamente incontroláveis, que atingem o lençol freático. Algumas dessas valas chegam a medir 1,5 km de extensão, por 100 m de largura e 30 m de profundidade.
Esse quadro desolador, aliado ao assoreamento dos rios, tem feito com que Goiás enfrente sérios problemas de abastecimento de água, uma situação que se torna grave nos períodos de estiagem prolongada. A vazão das nascentes de águas, em 1999, alcançou os mais baixos níveis desde 1989, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente, fazendo com que o governo já pense na possibilidade de adotar racionamento de água para as cidades mais populosas, como é o caso de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis.
Demografia
De acordo com o censo de 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás contava com habitantes, fazendo deste o estado mais populoso da Região Centro-Oeste. Segundo estimativas do mesmo instituto, a população atingiu, em 2021, habitantes.
O crescimento demográfico no estado acentuou-se após a fundação das cidades de Goiânia, em 1933, e Brasília, em 1960. Atualmente a taxa de crescimento demográfico em Goiás é maior do que a média nacional brasileira. Em 2010 a densidade demográfica era de 17,20 hab/km². O território goiano é marcado tanto por vazios demográficos quanto por regiões de alta concentração populacional. As áreas mais densamente povoadas do estado são a Região Metropolitana de Goiânia, com cerca de 2 milhões de habitantes, Microrregião de Anápolis, com mais de meio milhão de habitantes, e o Entorno do Distrito Federal, com um pouco mais de 1 milhão de habitantes.
Religiões
Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 58,89% da população do estado era católica romana, 28,07% eram evangélicos, 8,11% não tinha religião, 2,46% eram espíritas, 0,67% Testemunhas de Jeová, 1,01% outras religiosidades cristãs (que incluem Igreja Católica Apostólica Brasileira, Igreja Ortodoxa, mórmons e outras) e 0,79% de outras religiões.
Segundo a divisão da Igreja Católica no Brasil, Goiás pertence à Regional Centro-Oeste e seu território é dividido em uma província eclesiástica, com sede na Arquidiocese de Goiânia.
A maioria da população protestantes em Goiás é pentecostal, cerca de 18,99%. 1,15% são batistas, 0,78% presbiterianos, 0,67% adventistas os demais grupos (luteranos, congregacionais e metodistas e outras igrejas de missão) constituem juntos 0,19% da população do estado e 6,28% não possuem denominação. Entre os pentecostais o maior grupo são as Assembleias de Deus com 10,62% da população do Estado, seguida pela Congregação Cristã no Brasil com 1,37% da população goiana e Igreja Universal do Reino de Deus com 1,07% da população.
Composição étnica
De acordo com estudo genético autossômico de 2008, a composição (ancestralidade) da população de Goiás como um todo encontrar-se-ia assim descrita: 83,70% europeia, 13,30% africana e 3,0% indígena.
Os primeiros habitantes de Goiás foram as populações das diversas nações indígenas que ocupavam praticamente todo o atual território do Estado. Apesar dessa aparente diversidade, daquele período até o início do século XIX, Goiás era uma unidade cuja população era majoritariamente negra - principalmente, levando em consideração que os indígenas, a essa altura, se dividiam em três destinos: parte havia sido exterminada, parte fazia guerra contra o colonizador e parte vivia em aldeamentos oficiais. O recenseamento de 1804, o primeiro oficial, mostrou que 85,9% dos goianos eram "pardos e pretos".
Esse perfil só vai ser alterado gradativamente na passagem da sociedade mineradora para a sociedade agropastoril, que vai promover uma nova ocupação do Estado ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará. Esses movimentos vão promover uma ampla mestiçagem, constituindo, de certa forma, o perfil do habitante do cerrado , o sertanejo goiano. Desse total de habitantes, 3,7 milhões são nascidos em Goiás e 1,3 milhão são nascidos em outros Estados. Desses últimos, 331 mil são de Minas Gerais; 188 mil, da Bahia; 129 mil, do Distrito Federal; 88 mil, do Maranhão; 78 mil, de São Paulo; 73 mil, de Piauí; e 70 mil, do Tocantins. Graças a esses imigrantes , hoje os goianos tem sangue holandês e francês.
A população indígena em Goiás ultrapassa 10 mil habitantes. 39 781 hectares perfazem a soma das quatro áreas indígenas atualmente existentes no estado - três da quais se encontram demarcadas pela Funai. Tais áreas localizam-se nos seguintes municípios: Aruanã, Cavalcante, Colinas do Sul, Minaçu, Nova América e Rubiataba, sendo que a maioria da população considerada parda, possui ancestrais indígenas.
Política
Goiás é um estado da federação, sendo governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e outros tribunais e juízes. Também é permitida a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
Goiânia é o município com o maior número de eleitores, com 958,4 mil destes. Em seguida aparecem Aparecida de Goiânia, com 277,6 mil eleitores, Anápolis, com 260,2 mil eleitores, Luziânia (117,7 mil eleitores), Rio Verde (114,8 mil eleitores) e Águas Lindas de Goiás, Trindade e Itumbiara, com 85,9 mil, 77,2 mil e 65,1 mil eleitores, respectivamente. O município com menor número de eleitores é Anhanguera, com 1,1 mil.
Tratando-se sobre partidos políticos, todos os 35 partidos políticos brasileiros possuem representação no estado. Conforme informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base em dados de abril de 2016, o partido político com maior número de filiados em Goiás é o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com membros, seguido do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com membros e do Partido Progressista (PP), com filiados. Completando a lista dos cinco maiores partidos políticos no estado, por número de membros, estão o Partido dos Trabalhadores (PT), com membros; e o Democratas (DEM), com membros. Ainda de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o Partido Novo (NOVO) e o Partido da Causa Operária (PCO) são os partidos políticos com menor representatividade na unidade federativa, com e membros, respectivamente.
Subdivisões
O estado de Goiás é composto por 246 municípios, que estão distribuídos em 22 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em seis regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017.
As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Na divisão vigente até 2017, os municípios do estado estavam distribuídos em 18 microrregiões e cinco mesorregiões, segundo o IBGE.
Economia
A composição da economia do estado de Goiás está baseada na produção agrícola, na pecuária, no comércio e nas indústrias de mineração, alimentícia, de confecções, mobiliária, metalurgia e madeireira. Agropecuária é a atividade mais explorada no estado. Estas tendências do estado pode ser exemplificada por sua pauta de exportações que, em 2012, se baseou em Soja (21,59%), Milho (12,17%), Farelo de Soja (9,65%), Minério de Cobre (8,51%) e Carne Bovina Congelada (7,90%).
A agropecuária é a atividade mais explorada no estado e umas das principais responsáveis pelo rápido processo de agro - industrialização que Goiás vem experimentando. Privilegiado com terras férteis, água abundante, clima favorável e um amplo domínio na tecnologia de produção, o estado é um dos grandes exportadores de grãos, além de possuir um dos maiores rebanhos do país. O estado de Goiás destaca-se na produção de cana-de-açúcar, milho, soja, tomate, sorgo, feijão, girassol, alho, além de também produzir algodão, arroz, café e trigo. Em 2019, Goiás foi o 4º estado brasileiro com maior produção de grãos, 10% da produção nacional.
A criação pecuária compreende 22,87 milhões de bovinos (sendo o 2º maior rebanho do Brasil), 1,053 milhões de suínos (6º maior rebanho no brasileiro), 49,5 mil bufalinos, além de equinos, asininos (jumentos, mulas e burros), ovinos e aves (cerca de 90 milhões de galináceos - galos, galinhas, frangos e pintos - sendo o maior rebanho de aves do Centro-Oeste e o 6º no Brasil). Em janeiro de 2019, Goiás ocupou a sexta posição entre os estados brasileiros no que diz respeito ao Valor Bruto da Produção (VBP), com valor agregado de 45,14 bilhões de reais. Em 2016, Goiás foi o quarto maior produtor de leite, respondendo por 10,1% da produção de leite do país. O número de galinhas no Estado foi de 64,2 milhões de cabeças em 2015. A produção de ovos de galinha neste ano foi de 188 milhões de dúzias. Goiás foi o 9º maior produtor de ovos, 5% da produção nacional.
O estado é rico em reservas minerais. O subsolo goiano apresenta grandes variedades de minérios, que dá condições economicamente muito favoráveis. Sendo os principais minérios o níquel, cobre, ouro, nióbio, alumínio (bauxita), calcário e o fosfato, sendo os principais municípios mineradores Niquelândia, Barro Alto e Catalão. Goiás tinha, em 2017, 4,58% da participação na mineração nacional (3º lugar no país, somente atrás de Minas Gerais e Pará, os grandes estados mineradores do país). No níquel, Goiás foi o maior produtor, tendo obtido 154 mil toneladas a um valor de R$ 1,4 bilhão.
Goiás tinha em 2017 um PIB industrial de R$ 37,1 bilhões, equivalente a 3,1% da indústria nacional. Emprega 302.952 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (25,6%), Alimentos (25,2%), Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (17,2%) e Derivados do Petróleo e Biocombustíveis (7,4%) e Químicos (3,7%). Estes 5 setores concentram 79,1% da indústria do estado.
Em 2000, foi criado em Anápolis um polo farmaquímico, responsável pela produção de matérias-primas para a indústria de medicamentos, uma vez que o município já contava com um pólo farmacêutico. A instalação dos novos laboratórios farmaquímicos, composto de oito laboratórios farmacêuticos de médio e grande porte já instalados no Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), contribui para a expansão do setor, um reflexo direto da aprovação da Lei dos Medicamentos Genéricos, que possibilitou aos laboratórios ampliarem sua participação no mercado interno.
O estado tem se tornado um importante pólo automotivo. Nos últimos anos o estado tem atraído a instalação de novas montadoras de automóveis no Brasil. Já possui duas montadoras instaladas - a japonesa Mitsubishi (MMC) na cidade de Catalão e a do Grupo CAOA em Anápolis, com a sul-coreana Hyundai e a sino-brasileira CAOA Chery. Em maio de 2011 foi assinado protocolo de intenção para a construção e instalação de uma unidade da montadora de automóveis japonesa Suzuki Motors .
Turismo
O turismo em Goiás é muito cosmopolitano, como as belezas naturais, como águas termais, locais intocados pelo homem do cerrado, grutas, cachoeiras, e temos também o turismo histórico, como em Pirenópolis e Cidade de Goiás, com seus monumentos históricos, e temos as festas tradicionais como ocorre em Pirenópolis, que é o caso das cavalhadas de Pirenópolis e a Festa do Divino de Pirenópolis.
As águas termais encantam os turistas principalmente de Goiânia, região Sudeste e de Brasília que vão para Caldas Novas, hoje considerada uma das cidades turísticas mais visitadas do Brasil, por abrigar grandes hotéis de classe superior e o maior parque hidrotermal do mundo com suas águas que chegam a 58 °C, recebendo cerca de 300 mil turistas em época de fim de ano e cerca de 1 milhão durante o ano inteiro. A cidade também é conhecida por ser uma das cidades com o maior número de hotéis de luxo, mesmo não sendo uma cidade grande, superando cidades como Pelotas-Rs, Búzios, Palmas, Governador Valadares, Piracicaba-Sp e Goiânia.
Infraestrutura
Saúde
Conforme dados de 2009, existiam no estado estabelecimentos hospitalares, com leitos. Destes estabelecimentos hospitalares, 1 577 eram públicos, sendo 1 547 de caráter municipais, 19 de caráter estadual e 11 de caráter federal. 1 434 estabelecimentos eram privados, sendo 1.369 com fins lucrativos e 65 sem fins lucrativos. 52 unidades de saúde eram especializadas, com internação total, e 2 200 unidades eram providas de atendimento ambulatorial. Em 2005, 77% da população goiana tinha acesso à rede de água, enquanto apenas 36,6% tinha acesso à rede de esgoto sanitário. Em 2009, verificou-se que o estado tinha um total de 393,1 habitantes por leitos hospitalares e, em 2005, registrou-se 11,4 médicos para cada grupo de 10 mil habitantes. A mortalidade infantil é de 18,9 a cada mil nascimentos, de acordo com dados de 2008.
Uma pesquisa promovida pelo IBGE em 2008 revelou que 75,8% da população do estado avalia sua saúde como boa ou muito boa; 66,8% da população realiza consulta médica periodicamente; 40,6% dos habitantes consultam o dentista regularmente e 9,7% da população esteve internada em leito hospitalar nos últimos doze meses. Ainda conforme dados da pesquisa, 31,6% dos habitantes declararam ter alguma doença crônica e 24,8% possuíam plano de saúde. Pouco mais da metade dos domicílios particulares no estado são cadastrados no programa Unidade de Saúde da Família: 52,4%.
Na questão da saúde feminina, 36,6% das mulheres com mais de 40 anos fizeram exame clínico das mamas nos últimos doze meses; 49,1% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram exame de mamografia nos últimos dois anos; e 80% das mulheres entre 25 e 59 anos fizeram exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos três anos.
Educação
Com 3 512 estabelecimentos de ensino fundamental, 1 960 unidades pré-escolares, 866 escolas de nível médio e 29 instituições de nível superior, a rede de ensino do estado é a mais extensa do Centro-Oeste do país. Ao total, são matrículas e docentes registrados. O fator "educação" do IDH no estado atingiu em 2005 a marca de 0,891 – patamar consideravelmente médio, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 8,6%, superior às porcentagens verificadas em 11 estados brasileiros. A taxa de analfabetismo funcional é de 19,7% da população.
Goiás possui várias instituições educacionais, sendo que as mais renomadas delas estão localizadas principalmente na Região Metropolitana de Goiânia e em Anápolis. Na lista de estados brasileiros por taxa de alfabetismo, Goiás aparece em décimo quarto lugar, com 9,6% de sua população analfabeta e 21,4% analfabeta funcional. Esses dados colocam Goiás logo acima de Rondônia e atrás do Espírito Santo, exatamente na metade da lista. As cidades que mais se destacaram em educação segundo o IDEB são: Anápolis, Itumbiara, Rio Verde, São Luís de Montes Belos, Cristalina, Formosa, Jataí, Caldas Novas, Bom Jesus de Goiás, Morrinhos, Aparecida de Goiás, Porangatu, Niquelândia e Novo Gama. Todas essas cidades ficaram acima da média esperada pelo IDEB.
As instituições públicas de ensino superior são as seguintes: Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Instituto Federal de Goiás (IFG) e Instituto Federal Goiano (IFGoiano). Em 2018, o campus da UFG foi desmembrado para a criação da Universidade Federal de Jataí (UFJ) e Universidade Federal de Catalão (UFCat), após articulação da bancada goiana, com o senador Wilder Morais na sub-relatoria da comissão que iniciou os trabalhos para a conversão em universidades independentes.
As mais notáveis instituições privadas de ensino superior são as seguintes: Universidade Paulista (UNIP), Instituto Unificado de Ensino Superior Objetivo (IUESO), Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara (ILES/ULBRA), Faculdade Metropolitana de Anápolis (FAMA), Faculdade Araguaia, Faculdades e Colégio Aphonsiano, Faculdade Aliança de Itaberaí (FAIT), Faculdade Cambury, Faculdade Estácio de Sá de Goiás (FESGO), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Universidade Paulista (UNIP),Faculdade Alves Faria (ALFA), UniEvangélica, Faculdade do Instituto Brasil (Fibra), Universidade Anhanguera (Uni-Anhanguera), Faculdade Sete de Setembro, Faculdade Padrão, Centro de Ensino Superior de Catalão (CESUC), Faculdade Educacional de Ciências Humanas de Anicuns (FECHA), Centro de Ensino Superior de Jataí (CESUT), Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - Faculdade Objetivo (IESRIVER), Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), Faculdade Quirinópolis (FAQUI), Faculdade Mineirense, Fundação Almeida Rodrigues (FAR), Faculdade de Caldas Novas (UNICALDAS), Faculdade de Goiás (FAGO), Faculdade do Norte Goiano (FNG), Faculdade Montes Belos (FMB), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Goiatuba (FAFICH), Faculdade Sul-americana (FASAM) e Universidade de Rio Verde (UNIRV), Faculdade Alfredo Nasser ( UNIFAN).
Transportes
Goiás possui uma extensa malha viária. Conta com 2 094 km de rodovias federais, 21 212 quilômetros de rodovias estaduais e 64 690 quilômetros de rodovias municipais, o que totaliza 87 996 quilômetros de rodovias. São mais de 13.000 km de estradas pavimentadas e cerca de 1.200 km de vias duplicadas. A BR-060 tem mais de 520 km duplicados entre Brasília, Goiânia e Jataí. A BR-050 (que passa por Catalão, e liga cidades como Brasília, Uberlândia, Uberaba e Santos) é quase totalmente duplicada no estado, com mais de 200 km de rodovias entre Cristalina e a divisa com Minas Gerais. A BR-153 (que corta o estado de Norte a Sul, ligando Itumbiara, na divisa com Minas Gerais, a Porangatu, na divisa com Tocantins) também está duplicada entre Goiânia e a divisa com Minas Gerais, havendo também um projeto para duplicá-la entre Anápolis e a divisa com Tocantins. Também há duas rodovias duplicadas que ligam Goiânia à BR-070 (que liga Brasília a Aragarças e ao Mato Grosso.). A duplicação de rodovias no estado começou na década de 2000 e vem evoluindo constantemente desde então. Outra rodovia de destaque é a BR-040 que liga Brasília a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro conecta também, por sua vez, diversos municípios goianos como Cristalina, Luziânia, Valparaíso de Goiás.
O transporte ferroviário era pouco utilizado em Goiás: o Estado possuía um trecho de linha férrea que interliga parte de Minas Gerais ao Sudeste de Goiás e um outro trecho que interliga o Sudeste Goiano à capital Goiânia passando por Senador Canedo, cidade na qual possui grande distribuidoras petrolíferas e abatedouros de grande porte junto a margem dessa ferrovia. Posteriormente, o Governo Federal começou as obras da Ferrovia Norte-Sul com grande parte já pronta em Goiás, despontando do recém criado Porto Seco de Anápolis em direção ao Tocantins lado norte e lado sul indo em direção a Minas Gerais. A Ferrovia Norte-Sul está em construção desde 1985. Em 4 de março de 2021, a Rumo iniciou a operação no trecho entre São Simão (GO) e Estrela d'Oeste (SP), após investimentos de 711 milhões de reais. Em São Simão foi construído um terminal com capacidade estática de 42 mil toneladas e capacidade de movimentar por ano, 5,5 milhões de toneladas de soja, milho e farelo de soja. Já no dia 29 de maio de 2021, partiu do Terminal Multimodal de Rio Verde (GO) a primeira composição ferroviária carregada com soja, com destino ao Porto de Santos. Esta viagem marcou a inauguração do trecho entre Rio Verde e São Simão (GO) com pouco mais de 200 km.
Há apenas uma hidrovia no Rio Paranaíba e o principal porto dela é o de São Simão que faz parte da Hidrovia Paraná-Tietê.
O tráfego aéreo em Goiás possui vários aeroportos, sendo o mais movimentado o Aeroporto Internacional de Goiânia. Foi construída a Base Aérea de Anápolis para aeronaves supersônicas da Força Aérea Brasileira.
Cultura
Música
Muitos são os nomes que se destacam e projetam na área artística em Goiás. A área musical é de maior alcance, com vários cantores, duplas e bandas com origem no estado, nos mais variados estilos, especialmente no sertanejo. Entre estes, destacam-se: Marília Mendonça, Jorge e Mateus, Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Amado Batista, Guilherme e Santiago, Bruno e Marrone, Humberto e Ronaldo, Chrystian e Ralf, João Neto e Frederico, Cristiano Araújo, Wanessa Camargo, Marcelo Barra, Leo Jaime e Odair José. Entre as bandas, pode-se citar: Banda Uó e Pedra Leticia .
Literatura
O Estado de Goiás produziu grandes nomes na âmbito literário ao longo das décadas, dentre os quais vários atingiram projeção e influência nacioanis. Entre os mais aclamados escritores está a poetisa Cora Coralina, que foi projetada nacionalmente pela admiração que recebia de Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. O contista Hugo de Carvalho Ramos, que influenciou Guimarães Rosa e Monteiro Lobato, foi considerado o autor do melhor livro do cânone literário goiano, Tropas e Boiadas, eleito por um júri de críticos, jornalistas, escritores e outras sumidades escolhidas pelo jornal O Popular. Além dos dois, merece destaque também o imortal Bernardo Élis que atingiu a proeza de ser o primeiro e único goiano, até hoje, a ser membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a Cadeira 1. Apesar de Bernardo Élis ter sido o único a ingressar na ABL, a entidade também consagrou dois outros autores goianos com a maior premiação literária brasileira, o Prêmio Machado de Assis; são eles Gilberto Mendonça Teles (1989) e José J. Veiga (1997).
Além dos autores de prestígio nacional e internacional já citados, deve-se destacar também outros grandes nomes como Bariani Ortêncio, Leo Lynce, Miguel Jorge, Eli Brasiliense, Carmo Bernardes, Rosarita Fleury, Afonso Félix de Souza, Leodegária de Jesus e muitos outros.
Museus
Em Goiânia, há três museus dedicados a períodos da história regional, nacional e ao movimento artístico, sendo eles: Museu de Arte de Goiânia, Museu Estadual Professor Zoroastro Artiaga e Memorial do Cerrado.
Na cidade de Goiás, a antiga capital, existe o Museu da Polícia Militar dedicado a difusão da história e cultura da Polícia Militar do Estado de Goiás.
Culinária
A culinária goiana é muito diversificada sendo seus principais pratos o peixe na telha, o suã (espinha dorsal de porco) com arroz, o arroz com pequi, e também os pratos de todos os dias dos brasileiros como o arroz e feijão; além da pamonha, que é usada como prato principal nas refeições; os frutos são a jabuticaba, a gabiroba, o jatobá, entre muitos outros do cerrado. Também se destacam as misturas, nome que se dá às verduras, como a serralha e a taioba, além da introdução da guariroba, um dos principais ingredientes do empadão, como vegetal na dieta quase diária.
A quitanda, denominação que se dá aos biscoitos caseiros, também é diversificada: quebrador, mané pelado (bolo de mandioca assado na folha de bananeira), biscoito-de-queijo (que foi inventado em Goiás), mentira (biscoito de polvilho frito), a peta, o quase esquecido brevidade (polvilho batido com ovos e açúcar), o pastelinho de doce de leite e o bolinho doce de arroz (esses dois últimos são quitandas típicas da Cidade de Goiás). É riquíssima a variedade de doces: marmelada em caixeta (região de Luziânia), moça-de-engenho (melado batido e emoldurado em forma de escultura), doce-de-leite (sobretudo com pau de mamão ralado ou sidra ralada), doce-de-ovo (ambrosia feita diretamente no melaço), de frutas cristalizadas (riquíssimos em Pirenópolis), doce de sidra ralada, de cascas de frutas (laranja, limão), entre tantos outros. As rapaduras temperadas (com leite, casca de laranja, sidra ou amendoim).
Os temperos são muito diversificados sendo uma culinária rica em temperos como açafrão, gengibre e pimenta, sendo este último empregado em quase todos os pratos salgados. O pequi, por exemplo, nas antigas vilas de Meia Ponte (hoje Pirenópolis), e Vila Boa, ainda no início do século XVIII, começou a ser utilizado na culinária de Goiás. Na região que circunda a cidade industrial de Catalão, o pequi era empregado tão somente na fabricação do sabão de pequi, de propriedades terapêuticas. Hoje já é comercializado em compota. O fruto pode ser degustado das mais variadas formas: cozido, no arroz, no frango, com macarrão, com peixe, com carnes, ao leite e na forma de um dos mais apreciados licores de Goiás.
Eventos
Goiás tem inúmeras festas tradicionais, como os carnavais em diversas cidades do estado, o Carna - Goiânia que é conhecido como carnaval fora de época que vem pessoas do Brasil inteiro.
As principais festas religiosas são as famosas Romarias do Divino Pai Eterno, em Trindade, a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, em Catalão, onde acontece a tradicional Congada de Catalão a festa de Nossa Senhora da Abadia, no povoado de Muquém, em Niquelândia, que juntam fiéis do estado inteiro, e a festa em louvor a Nossa Senhora Auxiliadora que acontece na cidade de Iporá que é considerada a Terceira maior concentração religiosa do estado de Goiás.
E também em Pirenópolis na Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, com as Cavalhadas de Pirenópolis, trazida de Portugal no século XVIII, sendo sua primeira edição em 1819. É uma festa intercultural, pois reúne traços europeus, africanos e indígenas. Reúne amantes da música e da arte do mundo inteiro, sendo essa, a mais tradicional festa do centro-oeste brasileiro.
Um dos mais importantes eventos culturais do estado é o FICA, Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que em 2010 teve sua 12ª edição. O festival acontece anualmente, em meados de junho, na Cidade de Goiás, antiga Vila Boa (capital do estado de Goiás até a transferência para Goiânia), e patrimônio histórico da humanidade. A mostra exibe 15 horas de vídeos com o que de melhor se produz sobre meio ambiente e tem a maior premiação de festivais de cinema e vídeo da América Latina. Os eventos paralelos trazem shows, oficinas e debates com nomes nacionais e internacionais. Cerca de 70 mil pessoas passam pela cidade durante a semana do Festival.
Esportes
Goiás tem diversas modalidades esportivas, como o futsal, vôlei e o rugby, mas o principal esporte do estado é o futebol, sendo que todos os anos é realizado o Campeonato Goiano de Futebol, popularmente conhecido como Goianão. Os principais clubes de futebol são o , , , , , , , e o . O principal estádio de Goiás é o Estádio Serra Dourada. O time mais conhecido, com a maior estrutura física e com a maior torcida do Centro-Oeste é o , que disputa o Campeonato Brasileiro Série A, Copa do Brasil, e já disputou a Copa Libertadores da América e a final da Copa Sul-americana.
O vôlei também é muito praticado pela população goiana ocupando a 3ª colocação na preferência, sendo o segundo colocado o futsal. Um local onde o vôlei e o futsal são muito praticados é na cidade de Anápolis, possuindo o Ginásio Internacional com capacidade de sediar jogos oficiais. O rugby é o quarto colocado na preferência dos goianos, é esporte que mais cresce no país, muito por causa das Olimpíadas de 2016. Ainda com a conclusão no Novo Estádio Olímpico, o rugby em Goiás tem muito a crescer. O rugby em Goiás é representado pela Federação Goiana de Rugby (FGRu), e tem como principais clubes: Goianos Rugby Clube, UFG Rugby, Gigantes Itumbiara Rugby e o Anápolis Rugby.
Goiânia, capital do estado, foi uma das 18 cidades candidatas a subsede da Copa do Mundo FIFA de 2014, mas não foi escolhida. A Federação Goiana de Futebol já é a sétima colocada do ranking da CBF.
No estado nasceram os medalhistas olímpicos Dante no vôlei e Carlos Jayme na natação; além dos medalhistas em Mundiais César Sebba no basquete e Diogo Villarinho na maratona aquática.
Ver também
Fórum de Governadores do Brasil Central
Ligações externas
IBGE. Contas Regionais do Brasil 2004-2008: Tabela 1 - Conta de produção por operações e saldos, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação - 2004-2008. Acessado em 17 de novembro de 2010
Fundações no Brasil em 1822 |
A Galiza é uma comunidade autónoma de Espanha, considerada pelo respetivo estatuto de autonomia e pela constituição espanhola como nacionalidade histórica. Situada no noroeste da Península Ibérica, ocupa uma parte do território histórico da antiga Galécia e do Reino da Galiza .
É formada pelas províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra. Geograficamente, limita a norte com o mar Cantábrico, ao sul com Portugal (Minho e Trás-os-Montes), a oeste com o oceano Atlântico e a leste com o Principado das Astúrias e Castela e Leão (províncias de Samora e de Leão). À Galiza pertencem o arquipélago das ilhas Cies, o arquipélago de Ons e o arquipélago de Sálvora, assim como as ilhas de Cortegada, Arouça, as Sisargas ou as Malveiras. A Galiza caracteriza-se, ao contrário de outras regiões espanholas, pela ausência de uma metrópole que domina o território. Com efeito, a rede urbana é constituída por sete cidades principais (as quatro capitais de província A Corunha, Pontevedra, Ourense e Lugo, a capital política Santiago de Compostela e as cidades industriais Vigo e Ferrol) e outras pequenas cidades. A Galiza possuía, em 2015, cerca de 2 726 291 de habitantes, com uma densidade demográfica elevada nas faixas entre a Corunha e Ferrol, a noroeste, e Pontevedra e Vigo a sudoeste. Santiago de Compostela é a capital política, com um estatuto especial, dentro da . É na sua capital que se situa um dos mais importantes santuários católicos do Ocidente, a Catedral de Santiago de Compostela.
O hino da Galiza, Os Pinos, elaborado por Eduardo Pondal, refere-se à Galiza como a nação de Breogão, herói da mitologia céltica.
Topónimo
Origem e evolução
O nome para o território atual da Galiza deriva da palavra latina Gallaecia (ou Callaecia), que significa literalmente «terra dos galaicos». Callaecia, «a terra dos Callaeci», poderia derivar de kallā- 'madeira', juntamente com o sufixo complexo local - āik -. O topónimo transformou-se mais tarde em Gallicia, e daí para as formas atuais. Os galaicos foram o povo mais numeroso do noroeste da Península Ibérica antes da sua integração no Império Romano no século I a.C., apesar de alguns autores considerarem que, originalmente, o termo «galaico» era empregue para denominar uma pequena tribo ao norte do Douro. Seja como for, o nome acabou por abarcar todo um grupo étnico de língua celta e culturalmente homogéneo, situado entre o Mar Cantábrico e o Rio Douro.
A primeira referência histórica dos galaicos remonta-se ao ano 136 a.C., quando o general romano Décimo Júnio Bruto Galaico regressa a Roma — depois da sua vitoriosa campanha bélica contra dois povos previamente desconhecidos: os lusitanos e galaicos — recebendo do próprio Senado romano o título de Gallaecus ou "galaico" em honra pela dura expedição militar contra estes. Após estes primeiros contactos, o mundo grecolatino passa a denominar o seu país como Gallaecia, tal como o fizeram Estrabão, Plínio e Apiano, entre outros. Será este nome, Gallaecia, que irá evoluindo durante mais de treze séculos, e que acabará por adotar as formas «Galiza» e «Galicia».
Mais controverso é, porém, o significado original do termo Gallaicus (galaico) e consequentemente de Gallaecia. O primeiro autor que teorizou sobre isto foi Isidoro de Sevilha, que no século VII explicava que o nome "galaico" aludia à pele branca como o leite que tinham os seus habitantes, de jeito semelhante aos habitantes da Gália. Serão muitos autores posteriores os que tentem procurar o significado deste nome, tais como Afonso X o Sábio, Ramón Barros Sivelo ou Murguía, mas hoje tende a ser relacionado com étimos das línguas celtas, e indo-europeias em geral, de maneira que o significado exato da palavra é, hoje em dia, desconhecido.
Formas atuais
O nome oficial da comunidade é Galicia, forma considerada maioritária e preferente pela Real Academia Galega e também usada em castelhano. No entanto, a Real Academia Galega e o Instituto da Língua Galega admitiram tanto Galiza como Galicia na sua normativa de concórdia do verão de 2003. Sobre este assunto, concretamente, as normas ortográficas e morfológicas do idioma galego referem o seguinte:Por sua parte, a Associação Galega da Língua, inserida na corrente reintegracionista, admite apenas a forma Galiza. O mesmo acontece no Brasil e em Portugal, onde as obras de maior renome, como os dicionários Aurélio, Houaiss, Michaelis, Caldas Aulete, e os Dicionários Porto Editora, apenas aceitam a forma Galiza para o nome da região em português, reservando o termo Galícia para a região da Polónia. Existem porém minidicionários, entre os quais o Minidicionário António Olinto, Soares Amora, Sacconi, ou Minidicionário Silveira Bueno, além de enciclopédias traduzidas, como a Grande Enciclopédia Larousse Cultural, a Enciclopédia Geográfica Universal, que dão os termos como sinónimos.
Todavia, obras como o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida ou «A imprensa e o caos na ortografia», de Marcos de Castro, afirmam, com veemência, a condição de barbarismo que representaria o uso do termo Galícia em detrimento do português Galiza. Outras obras, como o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, nem mesmo registram o referido termo, cujo uso, segundo alguns autores, teria sido disseminado no Brasil como adaptação do topónimo mais comum na Galiza, Galicia, por uma possível influência dos numerosos imigrantes galegos que chegaram ao país, ou, ainda, por influência do inglês ou do espanhol.
História
Pré-história
Paleolítico
As primeiras provas líticas da presença humana na Galiza datam de há cerca de 300 mil anos, no Paleolítico Inferior, durante o Pleistoceno Médio. Deste período, que nesta zona perdura até cerca de 5000 a.C., existem diversos restos dos seus povoadores por todo o litoral, desde Ribadeu até à Guarda, que consistem em instrumentos líticos que demonstram uma indústria acheuliana à base de bifaces, fendedores e triedros feitos sobre uma base de quartzo ou quarcita. São também de destaque as descobertas na parte portuguesa do Rio Minho – de Caminha a Melgaço – e o da caverna Eirós, em Triacastela, no qual foram preservados restos de animais e líticos dos neandertais até ao Paleolítico Médio, graças ao seu ambiente básico. Também existem outras reservas deste período no Baixo Minho e na depressão de Ourense. Conhecem-se duas culturas, o Paleolítico Inferior Arcaico (ou "cultura dos cantos talhados", com uma técnica mais simples) e o Paleolítico Inferior Clássico. As indústrias são simples e o número de tipos reduzido.
Cultura megalítica
A primeira grande cultura claramente identificada se caracterizava por sua capacidade construtora e arquitetónica, juntamente com o seu sentido religioso, fundamentado no culto aos mortos como mediadores entre o homem e os deuses.
A sociedade estaria organizada num tipo de estrutura de clãs. Da época do megalítico depõe milhares de túmulos estendidos por todo o território, escondendo no seu interior uma câmara funerária de dimensões maiores ou menores, edificada com brames de pedra, conhecidas como dólmen.
Idade do Bronze
É nesta época que se atinge o desenvolvimento metalúrgico, impulsionado pela riqueza mineira. Devido às mudanças climáticas, vários povos da meseta migraram para o território da Galiza, aumentando a população e os conflitos entre povos. É a época de produção de diversos utensílios e joias de ouro ou de bronze, que foram até levadas além-Pirenéus.
Cultura céltica castreja
Corresponde ao período de tempo desde a chegada dos celtas e seu assentamento até à fortificação nos seus castros. Floresceu na segunda metade da Idade do Ferro, resultado da fusão com a cultura da Idade do Bronze e outros contributos posteriores, coexistindo em parte com a época romana. Os celtas trouxeram novas variedades de gado, o cavalo domesticado e provavelmente o centeio.
O primeiro povo celta que invade Galiza é o dos Sefes, no . Submeterá os Estrímnios, mas este influirá no primeiro sobretudo no terreno da religião, da organização política e das relações marítimas com a Bretanha e a Inglaterra. Segundo Estrabão, a topografia predominantemente montanhosa da Galiza fez com que os galaicos fossem o povo mais difícil de vencer da Península Ibérica e tivessem derrotado grande parte dos povos da Lusitânia. É preciso dizer que a província romana dos galaicos, a Galécia (), ainda não estava constituída política e administrativamente.
Os castros são recintos fortificados de forma circular, providos de um ou vários muros concêntricos, precedidos geralmente do seu correspondente fosso e situados, os mais deles, na cimeira de colina e montanhas. Entre os castros de tipo costeiro, destacam-se os de Fazouro, Santa Trega, Baronha e Neixão. No interior, podem mencionar-se os de Castromau e Viladonga. Comum a todos eles é o facto de que o homem se adapta ao terreno e não ao contrário.
Quanto aos templos, a única construção encontrada é a de Elvinha. O de Meirãs conserva uma necrópole. Noutros castros existiam pequenas construções em forma de caixa onde eram guardadas as cinzas (cultura sorotápica, dos campos de enterro de furnas – urnenfelder em alemão). Existem também outras parcialmente enterradas, com um depósito para a água, nas quais os vestígios de fogo indicam que deveria ter como propósito a incineração de cadáveres.
A partir dos finais do Megalítico, aparecem inscrições sobre rochas graníticas a céu aberto das quais atualmente se desconhece a sua origem e significado, sendo de nota as do Campo Lameiro.
Da Idade Antiga ao século XIX
Século XIX
Até o século XIX, a Galiza estava dividida em sete províncias: Mondonhedo, Lugo, Ourense, Tui, Santiago, Corunha e Betanços. Desde essa época, as províncias foram reduzidas a apenas quatro e quatro capitais: Corunha, Ponte Vedra, Ourense e Lugo.
Tinha órgãos de governo próprios, sendo eles, a Junta da Galiza () e o Parlamento Galego.
Portugal foi um destino migratório para muitos galegos, desde o tempo da reconquista.
Política e governo
Administração autonómica
O Estatuto de Autonomia da Galiza, comparável à constituição dum Land alemão, estabelece que os poderes da comunidade são executados por via do Parlamento, da Junta e da Presidência.
O Parlamento da Galiza é o representante máximo da comunidade, e sobre o qual recai o poder legislativo. É composto por 75 deputados eleitos por sufrágio universal através de representação proporcional por um período de quatro anos, na qual está também garantido o voto da diáspora galega;
A Junta da Galiza (Xunta de Galicia), órgão encarregue do poder executivo e administrativo do governo. Composta pelo presidente, vice-presidente e dez conselheiros. Coordena também as atividades das deputações provinciais;
O Presidente da Junta da Galiza dirige e coordena as suas ações e representa a comunidade autónoma. É membro do Parlamento e eleito pelos seus deputados.
Nacionalidade galega
O primeiro reconhecimento internacional da Galiza como nação terá ocorrido em 1933 no IX Congresso das Nacionalidades Europeias da Sociedade das Nações. O dia feriado de festejo da comunidade foi oficializado em 1979 logo nos primórdios da autonomia como "Dia Nacional da Galiza". O Estatuto de Autonomia de Galiza de 1981 define a Galiza como "nacionalidade histórica" em razão de ter aprovado em referendum um estatuto de autonomia em 1936, semanas antes do golpe militar da Guerra da Espanha.
Ainda um documento intitulado "Defesa da Nacionalidade" foi assinado em público (Pacto de Governo), após o acordo de coligação BNG-PSdG em 2005 no governo bipartido (2005-2009).
Geografia
O território galego confina-se entre 43º 48' N (Estaca de Bares) e 41º 49' N (Portela do Homem, na fronteira com Portugal) em latitude. Em longitude, entre 6º 44' O (limite entre Ourense e Samora) e 9º 18' O (cabo Tourinhão).
A cidade mais populosa é A Corunha com habitantes, o concelho mais populoso é o de Vigo em Pontevedra com habitantes, e o menos povoado o de Negueira de Moniz com 215 habitantes em 2016. O concelho mais extenso é o da Fonsagrada, com uma superfície de 438,4 km², e o mais pequeno o de Mondariz-Balneário com 2,3 km². A Corunha é o concelho com maior densidade de população, com hab./km² e Vilarinho de Conso é o que tem menor densidade de população com 2,92 hab./km² em 2016.
Divisão administrativa
Durante a Idade Moderna e até à divisão territorial de Espanha em 1833, a Galiza esteve dividida em sete províncias: Corunha, Betanços, Lugo, Mondonhedo, Ourense, Santiago e Tui. Atualmente, a comunidade estrutura-se em quatro províncias, as da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra. Estas, por sua vez, dividem-se em comarcas (53), concelhos (313), seguindo-se as paróquias (3792) e, por último, as aldeias e lugares. A sua capital política é a cidade de Santiago de Compostela, na província da Corunha.
Economia
Os têxteis, a pesca, a pecuária, a silvicultura, a venda a retalho e a indústria automóvel são os setores mais dinâmicos da economia galega.
A cidade de A Corunha e a sua região metropolitana geram 70% da riqueza de Galiza, sendo o principal agente económico da região. Arteixo, um município industrial da área metropolitana da Corunha, é a sede da Inditex, o maior retalhista de moda do mundo. Das suas oito marcas, Zara é a mais conhecida; de facto, é a marca espanhola mais conhecida de qualquer tipo numa base internacional. Para 2007, a Inditex teve 9 435 milhões de euros em vendas para um lucro líquido de 1 250 milhões de euros.
Demografia
Com uma população estimada (2016) de 2 718 525 habitantes, a Galiza é a quinta comunidade autónoma de Espanha em população. A sua densidade de população, de 92,94 hab./km², é ligeiramente superior à media espanhola e semelhante à europeia.
A população concentra-se na sua maioria nas zonas costeiras, sendo as áreas das Rias Baixas e o Golfo Ártabro (áreas metropolitanas da Corunha e Ferrol) as de maior densidade de população. A Galiza conta com sete localidades consideradas cidades: as quatro capitais: Corunha, Ponte Vedra, Ourense e Lugo além de outras três cidades: Santiago de Compostela (capital administrativa) e as cidades industriais de Vigo e Ferrol.
Assim, o país conta com outros cinco concelhos com mais de 30 mil habitantes, dez concelhos de entre 20 mil e 30 mil habitantes, e trinta e cinco de entre 10 mil e 20 mil.
A cidade mais populosa é A Corunha com 213 418 habitantes e o concelho mais povoado é o de Vigo em Pontevedra, com 292 817 habitantes, enquanto que no extremo oposto se encontra o de Negueira de Moniz, com 216 habitantes. O mais extenso é o da Fonsagrada, que conta com uma superfície de 438,4 km², e o mais pequeno o de Mondariz-Balneário com 2,3 km². A Corunha é o concelho com maior densidade populacional ( hab./km²) e Vilarinho de Conso é o que conta com a menor densidade populacional da Galiza (2,92 hab./km²).
Segundo o censo de 2014, o nível de fertilidade das galegas era de 1,07 filhos por mulher contra os 1,32 estatal e menor que a cifra de 2,1 filhos por mulher necessários para que se produza a substituição geracional da população. Entre as galegas, as ourensãs e as luguesas são as que menos filhos têm, com 0,99 e 1,04, sendo as primeiras das que menos filhos têm em Espanha só acima das asturianas. Em 2013 registaram-se na Galiza um total de nascimentos, o que supõe 1.362 a menos que em 2012, segundo o IGE. Efetivamente, nos últimos anos a Galiza vive uma diminuição paulatina do número absoluto de nascimentos desde o ano 2008, no qual houve 23.175 nascimentos, após um breve período de recuperação entre os anos 2002 e 2008.
O crescimento natural, ou seja, a diferença entre o número de pessoas nascidas e as falecidas, é negativo na Galiza desde finais dos anos oitenta. Em 2013 houve um total de falecimentos pelo que a diferença entre falecimentos e nascimentos é de pessoas.
Quanto à esperança de vida, os galegos tinham em 2013 uma esperança de vida ao nascer de 82,59 anos (79,48 anos para os homens e 85,59 anos para as mulheres). Desde 1981, ano em que a esperança de vida dos galegos era de 75,4 anos, esta cresceu em 7 anos, graças à melhoria da qualidade de vida. O envelhecimento da população também se manifesta no incremento de idosos de idade avançada que regista gradualmente a comunidade em cada período. A Galiza contava em 1996 com 226 pessoas com mais de cem anos. Dezoito anos depois, o número cresceu para galegos em 2014.
Em 2014 residiam na Galiza 98.245 estrangeiros, o que supõe 3,57% do total da população. As nacionalidades predominantes são a portuguesa (19,03% do total de estrangeiros), a romena (9,36%) e a brasileira (8,34%).
Concelhos mais populosos
Cultura
Língua
A língua galega é a língua própria da Galiza, e assim foi reconhecida legalmente no seu Estatuto de Autonomia, tornando-se uma das suas línguas oficiais. É usada maioritariamente pelo povo galego, o 90% afirma usá-lo sempre ou frequentemente. A outra língua oficial é o castelhano, também muito utilizada, que mais do 96% afirma conhecer. Além disso, em várias comarcas de Leão e Astúrias, que limitam com o oriente da Galiza, comarcas, separadas da Galiza administrativa no , fala-se também galego. Estas comarcas são reivindicadas por uma parte do nacionalismo galego como pertencente à nação galega.
Disputa linguística
A postura oficial na Galiza afirma a total distinção entre ambas línguas, não havendo nenhuma menção da sua semelhança no Estatuto Autonómico, ainda que se alude ao português, de facto, nas primeiras Normas ortográficas e morfolóxicas do galego (1982) quando se estabelece que: O Estatuto de Autonomia atribui apenas à Real Academia Galega competência para determinar a normativa da "língua própria" da Galiza.
Apesar da aparente apatia do governo local até 2014, quando aprovou a "Lei 1/2014 para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia", existe, na Galiza, um movimento reintegracionista que defende a tese de que a língua portuguesa e o galego nunca se separaram realmente, sendo variantes ou dialetos da mesma língua, tal como o português de Portugal e o português brasileiro. Denominam, à variante da Galiza, galego, galego-português, portugalego ou português da Galiza. Em 2008 foi constituída a Academia Galega da Língua Portuguesa.
Símbolos
Bandeira
A atual bandeira galega foi criada em finais do século XIX pelos galeguistas históricos do Ressurgimento como insígnia nacional, e hasteia desde, pelo menos, 1891. Possui fundo branco e uma faixa azul entre os cantos superior esquerdo e inferior direito. A antiga bandeira possuía com fundo azul e cruzes douradas, com um cálice no centro. Durante a ditadura franquista, criou-se uma nova bandeira sem o cálice mas com uma estrela vermelha.
Escudo
O cálice é a figura heráldica que representa a Galiza. Foi documentado pela primeira vez no escudo dos reis da Galiza do Armorial Segar da Inglaterra em 1282. Sofreu várias alterações ao longo da história. O atual escudo está descrito no artigo 3.º da Lei de Símbolos da Galiza:
Hino
O hino galego, Os Pinos, é o símbolo acústico mais solene da Galiza. O texto consiste nas duas primeiras estrofes do poema Queixumes dos pinos de Eduardo Pondal, e a música foi composta por Pascual Veiga. A letra refere-se à Galiza como a nação de Breogán, um herói mítico celta. Foi interpretado pela primeira vez em Havana, Cuba, a 20 de dezembro de 1907.
Internet
O domínio de internet proposto para a língua e cultura galegas é o ".gal". A proposta foi aprovada em Junho de 2013 pela Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números. O novo domínio é utilizado para websites com conteúdo majoritário em idioma galego, tal como está determinado nas normas da "Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números".
Clubes de futebol
Salientam-se as equipas que jogaram na Primeira Divisão, especialmente o Real Club Celta de Vigo, única equipa galega na Primeira Divisão.
Outras equipas são: Real Club Deportivo de La Coruña, hoje na Segunda Divisão, única equipa galega que possui títulos oficiais de importância: foi campeã do Campeonato Espanhol de Futebol (ano 2000) e campeã da Taça do Rei de Espanha por duas vezes, em 1995 e 2002, além de ganhar 3 títulos de Supertaça de Espanha nas únicas três vezes que a disputou; o Club Deportivo Lugo, a Sociedad Deportiva Compostela, o Pontevedra Club de Fútbol e o Racing Club de Ferrol.
Ver também
Literatura galega
Música galega
Bandeira da Galiza
Brasão de armas da Galiza
Ligações externas |
Os godos (; ; em Sueco antigo Gutar; ) eram uma tribo germânica, composta por uma amálgama de grupos e clãs com diversos líderes. A sua origem é objeto de controvérsias. Estão mencionados pela primeira vez em , como habitando a foz do Rio Vístula na atual Polónia. Por volta do ano 200 começaram a deslocar-se em direção ao Mar Negro, tendo-se fixado na atual Ucrânia e Bielorrússia. No encontro com o Império Romano no , os godos dividem-se em Ostrogodos e Visigodos. Os ostrogodos acabaram por se estabelecer na Península Itálica e na Panónia, e os visigodos na Gália e na Hispânia. No os ostrogodos são derrotados pelo Império Bizantino e no os visigodos pelos Árabes.
História
Os testemunhos históricos conhecidos apresentam os godos, e os seus ramos ostrogodo e visigodo, como uma comunidade migrando desde o até o , e deslocando-se sucessivamente da foz do Rio Vístula na atual Polónia para as margens do Mar Negro, para a Itália e para a Península Ibérica.
O mito da origem dos godos
No , o historiador gótico-bizantino Jordanes afirma na sua obra Gética que os godos tinham a sua origem numa ilha do Mar Báltico chamada Scandza, presumivelmente a Península da Escandinávia ou a ilha da Gotlândia.
Estava assim lançada a hipótese da origem escandinava dos Godos, segundo a qual eles teriam emigrado por volta de da Escandinávia, atravessando o Mar Báltico em 3 barcos, e desembarcado na foz do rio Vístula, na Europa Continental, onde teriam atacado os rúgios, que viviam na costa, expulsando-os de seus domínios, e depois, derrotado os seus novos vizinhos, os vândalos.
Não existe nenhuma fonte primária ou secundária que mencione esta longa migração, e as evidências arqueológicas não sustentam essa hipótese. Sabemos também que os barcos escandinavos dessa época longínqua eram rudimentares, movidos a remos e com pequenas tripulações.
A teoria construída por Jordanes estava apoiada na ideia de que os os Godos eram o mesmo povo que os Gautas do Sul da Escandinávia e os Getas das margens do Mar Negro, visto terem nomes semelhantes. Na sua obra Gética, publicada em 551, Jordanes apoiava-se numa obra anterior chamada História Gótica, escrita pelo escritor romano Cassiodoro por volta de 526-533, na qual este afirmava que os Godos eram originários de uma ilha do Mar Báltico chamada Scandza. Este livro de Cassiodoro perdeu-se, e Jordanes parece só ter tido acesso a ele durante três dias para consulta. O próprio Cassiodoro usou como fonte uma outra obra, igualmente perdida, do historiador romano Ablávio do , na qual este teria afirmado que os Godos teriam vindo de uma ilha do Mar Báltico, sem todavia indicar o nome.
A elite gótica mantinha a sua posição através de alianças de famílias e de um mito de origem da comunidade gótica. Na qualidade de ministro do rei godo , Cassiodoro tinha conhecimento dos cânticos góticos que falavam das suas origens, e sabia como era apreciada a história de um passado gótico extraordinário e grandioso. E Jordanes, como funcionário do Império Romano, estava igualmente consciente do interesse dos romanos na reabilitação e elevação dos seus novos aliados godos, esquecendo o seu passado bárbaro.
Hoje em dia, os historiadores pendem em geral para uma origem continental europeia, na costa do sul do mar Báltico, algures na Polónia dos nossos dias, de onde os Godos teriam migrado para o Sul, até se estabelecerem entre o rio Danúbio e o rio Don, onde acabaram por se dividir em dois ramos, chamados tervíngios e grutungos, com dinastias reais e territórios separados.
Do Mar Báltico ao Mar Negro e ao Mar Mediterrâneo
As primeiras referências históricas aos Godos são feitas pelo historiador romano Tácito, em , pelo geógrafo grego Ptolemeu, no , e pelo naturalista romano Plínio, o Velho, no , colocando este povo na área do rio Vístula na atual Polónia.
No , os Godos migram sucessivamente e em pequenos grupos para as margens do Mar Negro. Quando transpõem as fronteiras do Império Romano, os seus exércitos, compostos por variados grupos étnicos liderados por uma élite gótica, atacam cidades gregas e romanas, até que o imperador os enfrenta e derrota em 269 na batalha de Naísso. Com o exército godo destroçado, muitos dos seus guerreiros passam a servir como soldados no exército romano e como colonos no povoamento das terras fronteiriças do império. Todavia, muitos outros voltam a reagrupar-se, e voltam a atacar os romanos, juntamento com outros povos bárbaros.
No , se dividem em dois grupos: os tervíngios, depois designados como visigodos (os nobres godos), habitando as margens do rio Danúbio na Roménia, e os grutungos, depois denominados como ostrogodos (godos do sol nascente), habitando as estepes da Ucrânia, junto ao Mar Negro.
Os visigodos entram nessa altura na atual Roménia, onde ficam durante um século. Acossados pela invasão dos hunos, os visigodos fazem numerosas incursões no Império Romano no , tendo até saqueado Roma no . Depois de inúmeras confrontações com os romanos acabam por se estabelecer no sul da Gália no , como aliados dos mesmos romanos. Uma aliança de romanos e visigodos, consegue finalmente derrotar os hunos na batalha dos Campos Cataláunicos em 451. Com a derrocada do Império a decorrer, os visigodos conquistam por um lado uma parte da Hispânia e perdem por outro lado a Gália para os francos. O Reino Visigótico da Hispânia respeitou as leis e as instituições da população local, tendo durado até ao , quando foi invadido e ocupado pelos árabes.
Os ostrogodos também entram em movimento, penetrando no na atual Ucrânia e subjugando vários povos locais. A invasão dos hunos - no - esmaga substancialmente os ostrogodos. Mas estes conseguem reerguer-se e recuperar a liberdade, e acabam conquistando a Itália no , onde fundam um reino. Um dos seus reis - Teodorico, o Grande - governa um reino onde há uma prosperidade e tolerância assinalável entre godos e romanos, entre cristãos e judeus. A atitude positiva dos ostrogodos para com a cultura romana e a língua latina, assim como a sua conversão ao cristianismo, deixaram rastro importante na integração da esfera germânica e latina na Europa. Todavia, o Império Romano do Oriente invade a Itália em meados do , e os ostrogodos são definitivamente vencidos pelos bizantinos na Guerra Gótica, desaparecendo da história.
Arqueologia e culturas
Achados arqueológicos, permitem alguma associação dos Godos à Cultura de Vilemberga, assim como apoiam em alguma medida uma migração de Godos da região do rio Vístula em direção ao sul. Mas não permitem mais do que uma vaga associação à Escandinávia, baseada em algumas semelhanças em alguns montes funerários tardios. Os contactos entre a Escandinávia e o continente europeu existiram sobretudo na forma de intercâmbio comercial nos dois sentidos, e de migração de pequenos grupos de escandinavos, em que alguns se alistaram no exército romano, e alguns outros podem também ter entrado nas hostes godas.
Reino godo no mar Negro
Fontes da história e mitologia dos Godos
Algumas das fontes invocadas para a história e mitologia dos Godos são credíveis e fidedignas, outras são fantasias literárias, e outras ainda, contêm tanto elementos credíveis como elementos fantasiosos.
Plínio, o Velho () - naturalista romano; História Natural, gutões (Gutones)
Tácito () - historiador romano; Germânia, gotões (gotones)
Ptolemeu () - geógrafo grego
Amiano Marcelino (; História, Liber XXXI)
Ablávio ()
Cassiodoro (; História dos Godos)
Jordanes () - historiador bizantino; Gética, De origine actibusque Getarum
Procópio de Cesareia (; Da Guerra Gótica)
Línguas
O gótico é uma língua germânica oriental arcaica. É a única com alguns registros escritos dentro de essa família. Tem claro parentesco com as línguas germânicas da Europa Central e do Norte - por exemplo, o alemão, o inglês e o sueco. De acordo com a maior parte dos linguistas, está "grosso modo" tão perto das línguas germânicas ocidentais - p.ex alemão, holandês e inglês - como das línguas germânicas setentrionais - p.ex. sueco, dinamarquês e islandês.
O fato é que virtualmente todas as características fonéticas e gramaticais que caracterizam as línguas germânicas setentrionais como um ramo separado da família de línguas germânicas (sem mencionar as características que distinguem os vários dialetos noruegueses) parecem ter se expandido em um estágio posterior àquele preservado no gótico. O gótico por sua vez, sendo uma forma extremamente arcaica do germânico em muitos aspectos, todavia desenvolveu características próprias que não são compartilhadas com outras línguas germânicas.
No entanto, isto não exclui a possibilidade dos godos, dos gutar e dos gautas serem tribos relacionadas. Similarmente, os dialetos saxões da Alemanha são mais próximos do anglo-saxão que qualquer outra língua germânica ocidental que sofreu a mudança consonantal do alto alemão (ver lei de Grimm), mas as tribos são definitivamente idênticas. Os jutos (em dinamarquês jyder) da Jutlândia (em dinamarquês Jylland), na Dinamarca Ocidental, são pelo menos etimologicamente idênticos aos jutos que partiram daquela região e invadiram a Grã-Bretanha junto com os anglos e saxões, no . No entanto, não há fontes escritas remanescentes que associem os jutos da Jutlândia com qualquer outro dialeto germânico setentrional, ou os jutos da Grã-Bretanha com qualquer dialeto germânico ocidental. Dessa forma, a língua nem sempre é o melhor critério para distinção étnica ou tribal e sua continuidade.
Os gutas (gotlandeses) possuíam entre suas tradições orais histórias de uma migração em massa para o sul da Europa, escritas na Saga dos Gutas. Se os fatos estiverem relacionados, seriam um caso único de tradição oral que sobreviveu a mais de mil anos e que de fato antecede a maioria das principais divisões da família de línguas germânicas.
Origem do nome "godo" (*Gut-)
Os nomes gutar e godos são etimologicamente ditos sinónimos etnônimos. Próximo, mas não da mesma origem, é também o nome tribal escandinavo gauta. Os godos e os gutar são derivados de *Gutaniz enquanto gauta é derivado do proto-germânico *Gautoz (plural *Gautaz). *Gautoz e *Gutaniz são duas apofonias de uma palavra proto-germânica (*geutan) que significa "derramar, verter, espalhar" (sueco moderno gjuta, alemão moderno giessen, gótico giutan) e que designa as tribos como "derramadores de sémen", ou seja, "homens". Gauti, o mais antigo herói gótico, registrado por Jordanes, é geralmente observado como uma corruptela de Gaut.
De forma interessante, registros em norueguês antigo não distinguem os godos dos gutar e ambos são chamados Gotar em norueguês antigo ocidental. O termo em norueguês antigo oriental para godos e gutar parece ter sido Gutar (por exemplo, na Gutasaga e na inscrição rúnica da Pedra de Rök). No entanto, os gautas são claramente distinguidos dos godos/gutar nas literaturas do norueguês antigo e do inglês antigo.
Uma segunda teoria, de menor força, liga o povo com o nome de um rio que atravessa Gotalândia Ocidental na Suécia, o rio Gota, que escoa do lago Vener para a baía Categate. No período pré-histórico, esse rio tinha um fluxo maior que o atual. A interpretação, todavia, utiliza uma analogia de nomeação geral indo-europeia, tal como Dutch, Deutsch, man, human, etc. e era a preferida de Jordanes, que via os godos com procedentes da Escandinávia.
A raiz indo-europeia da derivação "espalhar" seria *gheu-d- como ela está catalogada no The American Heritage Dictionary of the English Language (AHD) ("Dicionário da Herança Americana da Língua Inglesa"). *gheud- é uma forma centum. O AHD apóia-se em Julius Pokorny para a mesma raiz (p. 447).
g a partir do *gh e um *t a partir do *d. Esta mesma lei mais ou menos rejeitou *ghedh-, raiz do inglês "good" no sentido de "goodman" ("pai de família"), como sugerem alguns. O *dh neste caso se transformaria em um *d no lugar de um *t. Quando e onde os ancestrais dos godos deram-se este nome e se eles o usaram na época do indo-europeu ou do proto-germânico permanece uma questão não resolvida de linguística histórica e arqueologia pré-histórica.
De acordo com as regras de apofonia indo-europeia, a graduação plena *gheud- pode ser substituída por *ghud- ou *ghoud-, relatando as várias formas para o nome. O uso de todas as três formas sugere que o nome derive de um estágio indo-europeu.
Um nome composto, Gut-þiuda, o "povo gótico", aparece no calendário gótico (aikklesjons fullaizos ana gutþiudai gabrannidai). Além dos godos, este jeito de nomear uma tribo é apenas encontrado na Suécia.
Como mencionado acima, o nome dos godos é idêntico ao dos gutar, os habitantes de Gotlândia, uma ilha do mar Báltico. O número de similaridades que existiam entre a língua gótica e o gútnico antigo fez o proeminente linguista sueco Elias Wessén considerar o gútnico antigo como sendo uma forma de gótico. O mais famoso exemplo é que tanto o gútnico quanto o gótico usavam a palavra lamb para carneiros jovens e adultos. Ainda, alguns reivindicam que o gútnico não é mais próximo do gótico que qualquer outra língua germânica.
Significado simbólico
A relação dos godos com a Suécia se tornou uma parte importante do nacionalismo sueco, e até o a opinião de que os suecos eram os descendentes diretos dos godos era comum. Hoje, acadêmicos suecos identificam isso como um movimento cultural chamado goticismo, o qual inclui um entusiasmo por assuntos em geral do norueguês antigo.
Na Espanha medieval e moderna, os visigodos são considerados como sendo a origem da nobreza da Espanha. Por causa disto, no Chile, Argentina e Ilhas Canárias, godo era uma ofensa étnica usada contra espanhóis europeus, que no início do período colonial se sentiam superiores às pessoas nascidas nas colônias (criollos).
Esta reivindicação espanhola de origens góticas conduziu a um confronto com a delegação sueca no Concílio de Basileia em 1434. Antes que a assembleia de cardeais e delegações pudessem iniciar as discussões teológicas, eles tinham que decidir como se sentar durante os procedimentos. As delegações das nações mais importantes estavam sentadas mais próximas ao papa, e havia também disputas para quem ficaria com as melhores cadeiras e quem teria seus assentos em esteiras. Neste conflito, o bispo de Växjö, Nicolaus Ragvaldi invocou que os suecos eram descendentes dos grandes godos, que o povo de Gotalândia Ocidental (Vestrogócia em latim) eram os visigodos e que o povo de Gotalândia Oriental (Ostrogócia em latim) eram os ostrogodos. A delegação espanhola então respondeu afirmando que apenas os godos "preguiçosos" e "sem iniciativas" haviam ficado na Suécia, enquanto que os godos "heroicos", por outro lado, tinham deixado a Suécia, invadido o Império Romano e se estabelecido na Espanha.
Ver também
Alfabeto gótico
Migrações dos povos bárbaros
Saga de Hervör
Scandza
Úlfilas; Códice Argênteo
Jurate Rosales
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Wenskus, Reinhard: Stammesbildung und Verfassung. Das Werden der Frühmittelalterlichen Gentes (Köln 1961).
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"Barbarians", Episódio 2: "The Savage Goths''", documentário em 4 episódios de Terry Jones, exibido pela BBC, exibido no Brasil pela TV Escola (versão dublada), apresenta o Império Romano romanos a partir de uma perspectiva não-romana.
Ligações externas
"The Origins and Deeds of the Goths" ("As origens e feitos dos godos"), by Jordanes, trans. Charles C. Mierow
"The Goths in Greater Poland" ("Os godos na Grande Polônia") by Tadeusz Makiewicz
"Jewellery of the Goths" ("Joalheria dos Godos"), by Tomasz Skorupka, em um site de um museu polonês
"The Germans" ("Os Germanos") by Richard Hooker
Summary of "Gothic Connections" ("Conexões Góticas") by Anders Kaliff
Godos
Goticismo |
O nome Albânia deriva de uma tribo, os Albanoi, antepassados dos Albaneses atuais. Shqiperia é o nome do país em albanês.
A Albânia tem origem no antigo Reino da Ilíria. Conquistada pelos romanos em 168 a.C., é incorporada ao Império Bizantino em 395. No século XV cai em poder dos turcos otomanos, que convertem a população ao islamismo e adotam uma política despótica, despertando o nacionalismo albanês, duramente reprimido.
Antes do século XX, a Albânia foi sempre dominada por estrangeiros, excepto entre 1443 e 1478, durante a revolta contra o Império Otomano. A Albânia declarou sua independência durante a Primeira Guerra dos Bálcãs, em 1912 e permaneceu independente após a Primeira Grande Guerra em grande parte devido à intervenção do Presidente Americano Woodrow Wilson na Conferência de Paz de Paris (1919).
Em 1939, a Itália, sob comando de Benito Mussolini, anexa a Albânia. Com o render das tropas italianas em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, tropas germânicas ocuparam o país. Guerrilheiros, incluindo os da comunista Frente Libertação Nacional (FLN), ganharam o controle em 1944, após a retirada dos alemães. Desde a intervenção dos comunistas da Jugoslávia na criação do Partido Comunista Albanês do Operariado em Novembro de 1941, o regime da FLN, liderado por Enver Hoxha, tornou-se num satélite virtual juguslavo até ao rompimento entre Tito e Stalin em 1948. Consequentemente, o comunismo linha-dura começou a ter dificuldades crescentes com a União Soviética sob o comando de Nikita Khrushchov, tendo seu ápice em 1961 quando os líderes soviéticos abertamente denunciaram a Albânia em um congresso de partido. Os dois estados quebraram relações diplomáticas naquele ano; entretanto, a Albânia continuou membro nominal do Pacto de Varsóvia até a invasão da Checoslováquia em 1968.
Em 1945, uma missão não oficial dos Estados Unidos foi enviada à Albânia para estudar a possibilidade de estabelecer relações com o regime. Entretanto, o regime negou-se a reconhecer a validade dos tratados pré-guerra, aumentando as hostilidades com a missão americana até a sua retirada em novembro de 1946. O governo dos EUA não manteve contato com o governo da Albânia entre 1946 e 1990.
Durante os anos 1960, a República Popular da China emergiu como leal aliada da Albânia e fonte primária de assistência econômica e militar. Entretanto, esse relacionamento próximo caiu em 1970, quando a China decidiu introduzir algumas reformas de mercado e procurar uma reaproximação com os EUA. Depois de anos de relações sólidas, a ruptura aberta veio em 1978, quando o governo chinês terminou seu programa de ajuda e cortou todo o comércio. O embargo econômico de outros países resultou na ruína financeira para a Albânia.
Por volta de 1990, mudanças em todos os lugares do bloco comunista começaram a influenciar o pensamento na Albânia. O governo começou a procurar laços com o Ocidente para melhorar as condições econômicas no país. A Assembleia do Povo aprovou uma constituição interina em abril de 1991. Governos de curta duração.
Introduziram reformas democráticas iniciais no decorrer de 1991. Em 1992, o vitorioso Partido Democrata sob o governo do presidente Sali Berisha começou um programa mais deliberado de reformas econômicas e democráticas. O progresso parou em 1995, resultando em um declínio da confiança pública no governo e uma crise econômica encorajou a proliferação e colapso de muitos esquemas financeiros. A crise de autoridade no começo de 1997 alarmou o mundo, trazendo intensa mediação e pressão internacionais. Eleições antecipadas realizadas em junho de 1997 trouxeram à vitória uma coalizão de partidos liderados por socialistas. Os observadores internacionais julgaram as eleições legislativas em 2001 aceitáveis e um passo em direção ao desenvolvimento democrático, mas identificaram sérias deficiências que devem ser sanadas com reformas no código eleitoral albanês.
Em 2009, a Albânia (juntamente com a Croácia), tornaram-se membros da OTAN.
Pré-história
Os Ilírios surgem da presença Indo-Europeia do lado oeste dos balcãs. A sua formação pode ser assumida como coincidente com o início da Idade do Ferro nos Balcãs, no primeiro milénio antes de Cristo.
Os arqueologistas associam os Ilírios com a cultura Hallstatt, um povo da Idade do Ferro conhecida pela sua produção de ferro, espadas em bronze com punhos em forma de asas, e pela domesticação de cavalos.
É importante delinear as tribos Ilírias do Pelo-Balcãs no sentido estrito linguístico, mas áreas incluídas sob os "Ilírios" da Idade do Ferro nos Balcãs incluem a área dos rios Sava, Danúbio e o Morava até ao Mar Adriático e as Montanhas Shar.
Antiguidade
Colónias gregas
Com início no século VII foram estabelecidas colónias na costa Ilíria, sendo as mais importantes as colónias de Apolônia, Avlona (atualmente Vlorë), Epidamno (atualmente Durrës), e Lisso (atualmente Lezhë). A redescoberta da cidade Grega de Butroto (actualmente Butrint) é provavelmente mais significativo hoje em dia do que quando Júlio César a utilizou como depósito de provisões para as suas tropas durante as suas campanhas no Século I a.C.. Na época não era um local importante, na sombra de Apolônia e Epidamno.
Ilírios
Na antiguidade, o território da Albânia era sobretudo habitado por povos Ilírios, que, tal como outros povos antigos, estavam subdivididos em tribos e clãs. A região encontrava-se igualmente habitada por bríges, e por caônios, um povo grego da Antiguidade.
No Século IV a.C. o rei Ilírio Bardílis I uniu várias tribos Ilírias e entrou em conflito com os macedónios a sudeste, mas foi derrotado. Bardílis foi sucedido por Grabos e depois por Bardílis II, e depois por Cleito o Ilírio, que foi derrotado por Alexandre o Grande. Em 229 a.C., a Rainha Teuta dos ardieus enfrentou os Romanos, iniciando a Primeira Guerra Ilíria, a primeira das Guerras Ilírias que resultaram em derrota e no fim da independência Ilíria (por volta de 168 a.C.), quando o rei Gêncio foi derrotado por um exército Romano. |
Histologia (do grego hystos = tecido + logos = estudo, conhecimento) é também denominada Anatomia Microscópica ou Biologia Tecidual. Estas denominações se referem ao ramo da Biologia que estuda a estrutura microscópica e as funções das células, tecidos e órgãos que compõem os organismos animais e vegetais. Um setor da Histologia dedicado especificamente ao estudo das células, denominado antigamente Citologia, desenvolveu-se em um importante ramo da ciência denominado Biologia Celular.
A Histologia uma importante disciplina de Graduação e de Pós-graduação das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde. Além disso é uma relevante área de pesquisa que contribuiu e contribui significativamente com importantes descobertas científicas no conhecimento de Biologia e Saúde.
A Histologia pode ser conceitualmente classificada em Histologia Animal, com enfoque em animais, Histologia Humana, com enfoque em seres humanos, Histologia Vegetal, com enfoque em vegetais, dentre outras.
Os primeiros microscópios - do sec. 16 ao sec. 19
A Histologia surgiu como um resultado da invenção do microscópio óptico, também denominado microscópio de luz ou microscópio fotônico. Este instrumento utiliza iluminação por luz visível e lentes que produzem uma imagem aumentada de um objeto.
Os microscópios mais primitivos, denominados microscópios simples, são constituídos por uma única lente, em contraposição aos microscópios formados por pelo menos dois sistemas de lentes, denominados microscópios compostos. A invenção do microscópio é uma questão obscura. Teria ocorrido entre 1590 e 1619 sendo atribuída a várias pessoas, dentre as quais os fabricantes de lentes holandeses Zacharias Janssen (1585 –1632) e Hans Lippershey ou Lipperhey (1570 –1619).
As primeiras descrições publicadas sobre células e outras estruturas microscópicas se devem a Robert Hooke (1635 –1703) e a Anton van Leeuwenhoek (1632 - 1723), ambos membros da Royal Society de Londres. O inglês Robert Hooke era um arquiteto e cientista que se dedicou a pesquisas em Física e Astronomia. Em 1665 publicou um livro denominado Micrographia no qual relata que utilizou um microscópio composto (construído pelo fabricante de instrumentos Christopher Cock) para estudar diversos objetos de pequeno tamanho. Nesta obra mostra imagens de delegados cortes de cortiça e descreve pequenos espaços delimitados tendo pela primeira vez utilizado a denominação "células". Estes espaços representam as células da cortiça envolvidas pelas suas paredes celulares.
Leeuwenhoek foi um holandês comerciante de tecidos, de pouca instrução especializada, mas que em certo momento de sua vida aprendeu a polir lentes. Construiu centenas de microscópios dotados de uma única lente, pequena e quase esférica, porém que forneciam grandes ampliações.
Por meio desses microscópios simples observou e descreveu detalhadamente a partir de 1674 diversos tipos de materiais biológicos, como protozoários, embriões de plantas, glóbulos vermelhos do sangue e espermatozoides presentes no sêmen de animais. Foi Leeuwenhoek quem descobriu a existência dos micróbios, como eram antigamente chamados os seres microscópicos atualmente conhecidos como micro-organismos.
Os primeiros microscópios chamados microscópios simples e por uma única lente geralmente forneciam aumentos relativamente pequenos e com imagens de baixa qualidade e resolução, mas mesmo assim permitiram a Leeuwenhoek a observação adequada de muitos objetos microscópicos.
Um grande progresso foi o desenvolvimento dos microscópios dotados de dois ou mais sistemas de lentes, os microscópios compostos. Neste tipo de microscópio, as lentes situadas próximas aos objetos são denominadas lentes objetivas. As lentes situadas próximas aos olhos ou a um sistema de captação de imagens são denominadas lentes oculares. As lentes objetivas são as mais importantes do sistema óptico, pois fornecem um aumento inicial do objeto que é em seguida ampliado pelas lentes oculares. As lentes objetivas são as maiores responsáveis pela obtenção de imagens com altas resoluções, qualidade que permite a observação de grande número de detalhes dos objetos. Estas lentes, isoladas ou em associação de duas, três ou quatro, permitiram o exame cada vez mais preciso das estruturas que compõem os seres vivos.
A grande evolução dos microscópios compostos nos séculos seguintes resultou principalmente da pesquisa em busca de melhores lentes objetivas. Estas são as lentes cruciais para a produção de uma boa imagem, enquanto que as lentes oculares são mais simples e de fabricação mais fácil.
No início da fabricação dos microscópios, as lentes objetivas padeciam de muitos defeitos, que em óptica são denominados aberrações. Exemplos são a aberração cromática e a aberração da esfericidade, que produzem grande deterioração da imagem. Um outro fator de grande importância para a obtenção de uma imagem de boa qualidade é o poder de resolução das lentes. O poder de resolução é fundamental para fornecimento de detalhes, especialmente importante quando se estudam objetos microscópicos.
O inglês Joseph Jackson Lister (1786 - 1869) era um negociante de vinho em Londres e apaixonado por História Natural. No entanto, ficava muito insatisfeito por que os microscópios à sua disposição não produziam imagens adequadas para a boa observação de espécimes vegetais e animais. Lister decidiu pesquisar a fabricação de melhores lentes de vidro para o instrumento. Além de construir lentes de alta qualidade, ele associou lentes em conjuntos de duas ou três e também desenhou e mandou fabricar o suporte para o microscópio que acabou se tornando padrão para estes instrumentos por 150-200 anos. Lister foi o principal responsável por transformar o microscópio composto em um instrumento de alta qualidade.
Lister publicou os detalhes de seu microscópio em 1830 fato que desencadeou a produção de excelentes microscópios na Inglaterra e no continente europeu. Na Alemanha a fábrica de microscópios de Ernst Leitz introduziu em 1863 o dispositivo para mudança de posição das lentes objetivas, utilizado até a atualidade. Em 1866 Carl Zeiss contratou o físico Ernst Abbe para sua companhia de produtos ópticos. Abbe introduziu novos conceitos sobre a definição da resolução óptica das lentes, sobre a fabricação de lentes e inventou um componente para a iluminação adequada dos microscópios, o condensador de Abbe.
Na década de 1880, a fabricação das lentes dos microscópios ópticos compostos atingiu o limite da resolução possível nestes instrumentos.
Portanto, o microscópio óptico composto, inicialmente bastante simples e rudimentar, foi sendo progressivamente aperfeiçoado e a partir dos modelos iniciais muitos tipos de microscópios foram desenvolvidos, por exemplo microscópio estereoscópico (também denominado lupa estereoscópica), microscópio de polarização, microscópio de contraste de fase, microscópio invertido, microscópio de fluorescência, microscópio confocal de varredura a laser e vários outros instrumentos.
Os microscópios eletrônicos pertencem a uma outra família de microscópios. Caracterizam-se por utilizarem um feixe de elétrons para obtenção de imagens em vez de luz visível. Suas lentes são bobinas eletromagnéticas em vez de lentes de vidro. Ernst Ruska e Max Knoll trabalhando na firma Siemens na Alemanha construíram o primeiro protótipo de um microscópio eletrônico de transmissão, que foi apresentado em 1931. O tipos de microscópios eletrônicos mais utilizados são o microscópio eletrônico de transmissão e o microscópio eletrônico de varredura.
Desenvolvimento inicial da Histologia do sec. 16 ao sec. 19
Marcello Malpighi (1628 –1694) foi um médico italiano que dedicou a maior parte de sua vida a um grande número de estudos sobre a anatomia microscópica de animais e vegetais. Pode ser considerado o pai da Histologia. Em animais examinou órgãos sadios e patológicos e descreveu um grande número de estruturas, várias das quais receberam o seu nome, como por exemplo os corpúsculos de Malpighi presentes no baço, uma das camadas da epiderme e os corpúsculos de Malpighi dos rins, atualmente denominados corpúsculos renais.
Malpighi estudou a circulação sanguínea nos pulmões de ovelhas e sapos. Nestes últimos observou a presença de uma rede de minúsculos vasos sanguíneos, mais tarde denominados capilares sanguíneos, elucidando interpretações errôneas existentes na época sobre o mecanismo da respiração. Esta foi também uma importante contribuição para entender o mecanismo da circulação sanguínea inicialmente apresentada por Harvey, pois a descoberta de Malpighi demonstrou a conexão entre o sistema arterial e o sistema venoso e comprovou que a circulação sanguínea ocorre em um compartimento fechado. Dedicou-se também a estudos sobre Embriologia, pela sua observação do desenvolvimento de embriões de galinha.
O termo tecido já havia sido introduzido por volta de 1800 pelo anatomista, patologista e cirurgião francês Marie François Xavier Bichat (1771-1802) ). Bichat não utilizava microscópios, mas por meio da dissecção de corpos humanos percebeu que os diversos órgãos não eram entidades únicas e homogêneas, mas que eram formados por diversos constituintes. Alguns destes constituintes tinham formatos de membranas e, talvez por esta razão, os denominou tecidos. Outra importante contribuição de Bichat foi sua proposta de que as doenças poderiam ser causadas por alterações dos tecidos componentes dos órgãos.
A. F. J. Karl Mayer (1787 - 1865) deu o nome de Histologia em 1819, à disciplina que descreve a estrutura microscópica dos tecidos e órgãos dos animais.
O desenvolvimento subsequente da Histologia esteve principalmente relacionado à pesquisa biológica sobre estrutura e funções das células, tecidos e órgãos assim como à pesquisa ligada à Patologia humana e animal.
Este desenvolvimento dependeu da introdução de metodologias para a preparação de tecidos e órgãos para serem observados ao microscópio. Gradualmente foram aperfeiçoados os métodos para:
preservação dos tecidos e órgãos retirados de animais, procedimento também denominado de fixação;
métodos para permitir que estes materiais fossem cortados em espessuras microscópicas;
técnicas para a coloração dos cortes histológicos. Além disso, o desenvolvimento da Bioquímica, associado à pesquisa da estrutura e função das células revolucionou o conhecimento da Biologia e da Medicina humana e animal.
A introdução por Ferdinand Blum em 1894 da solução de formaldeído para a preservação de tecidos animais desencadeou um grande avanço no estudo de tecidos e órgãos ao microscópio, devido à excelente qualidade da preservação das estruturas dos tecidos em comparação com os procedimentos usados anteriormente. A fixação de células, tecidos e órgãos por solução de formaldeído, também denominada formalina, ainda se constitui na maneira mais usada para preparação de tecidos para estudo em microscopia óptica, pois mantém a estrutura e muito da composição química dos tecidos. Outras soluções fixadoras, além da formalina, foram sendo propostas mais tarde.
Para se obter fatias muito delgadas de tecidos e órgãos, denominados cortes histológicos, da ordem de 5 a 10 μm (micrometros) de espessura (5 a 10 milésimos de milímetro), é necessário que os fragmentos de tecidos e órgãos sejam suportados por um substrato relativamente rígido. A introdução por volta de 1860 da técnica de embebição dos fragmentos de órgãos por parafina, atribuída ao bacteriologista suíço Edwin Klebs quando trabalhava na Universidade de Berna, possibilitou um enorme avanço para a obtenção de cortes histológicos.
O instrumento utilizado para obtenção de cortes histológicos é denominado micrótomo. Sua denominação deriva do grego micros (pequeno) e temnein (cortar). Os primeiros micrótomos foram inventados em 1770 por George Adams, Jr. (1750–1795) e por Alexander Cummings. Estes micrótomos, no entanto, forneciam cortes relativamente espessos que não permitiam a observação detalhada das estruturas dos tecidos.
Mais tarde surgiram melhoramentos importantes para obtenção de um instrumento adequado a fornecer cortes mais delgados. Um destes instrumentos aperfeiçoados foram desenvolvidos em 1865 pelo anatomista suíço Wilhelm His, um estudioso do sistema nervoso.
Jan Evangelista Purkynje (1787- 1869) um importante anatomista e fisiologista tcheco foi um dos primeiros a utilizar o micrótomo para obter cortes histológicos. Entre outras descobertas, Purkinje descreveu as células do cerebelo que receberam seu nome (células de Purkinje), as fibras do sistema de condução dos impulsos cardíacos (fibras de Purkinje), os cílios móveis presentes na superfície das células dos epitélios que revestem dutos genitais e o aparelho respiratório.
A Edwin Klebs é atribuída construção do primeiro micrótomo de congelação (1871), instrumento aperfeiçoado e utilizado até hoje em pesquisa em laboratório e em diagnóstico durante atos cirúrgicos.
Como a maior parte das estruturas celulares é incolor, a observação de cortes histológicos ao microscópio óptico depende da introdução de cor a estas estruturas por meio do processo de coloração. Um dos primeiros corantes utilizados tanto para estruturas vegetais foi o Carmim. Este corante é uma substância de cor vermelha com um pequeno toque de azul, extraída de um inseto, a cochonilha.
A hematoxilina, usada por Wilhelm von Waldeyer em 1863 e associada à eosina por Bohner (1865), é a combinação de corantes mais usada até os dias de hoje para coloração de cortes histológicos.
A síntese de anilina efetivada por William Perkin (1838 - 1907) em 1856 e aplicada inicialmente a tintura de tecidos, desencadeou a pesquisa pela síntese muitos outros corantes principalmente pela indústria química inglesa e alemã dentre os quais podem ser citados os corantes alizarina, acridina, índigo (anil), fucsina, safranina sintetizados por Heinrich Caro e Adolf von Baeyer.
Desde então estes e muitos outros corantes foram aplicados para coloração de cortes histológicos. A fluoresceína, uma substância fluorescente ainda largamente usada em técnicas imuno-histoquímicas na atualidade, também foi sintetizada no século XIX. Uma grande variedade de corantes, isoladamente ou em combinações de corantes, foram capazes de revelar toda a riqueza de componentes que constituem a estrutura das células e tecidos do corpo. Técnicas de impregnação metálica permitiram grandes descobertas, principalmente sobre a estrutura do sistema nervoso.
Dentre os maiores histologistas do século XIX merece ser citado Albert von Kölliker (1817-1905) pelos seus estudos embriológicos e de tecidos animais, identificação no músculo esquelético dos corpúsculos mais tarde denominados mitocôndrias, demonstração da continuidade dentre os neurônios e as fibras nervosas contribuindo para a confirmação da Teoria neuronal proposta por Ramón y Cajal e, além disso, desenvolveu muitas técnicas de preparação de tecidos para obtenção de cortes histológicos. Publicou entre 1852 e 1854 o primeiro grande tratado de Histologia denominado Handbuch der Gewebelehre des menschen für Aertze und Studierende.
Muitas metodologias foram desenvolvidas para obter informações de cortes histológicos, como a Radioautografia in situ, a Histoquímica, a Imunocitoquímica, a Hibridização in situ, a Estereologia. Estas metodologias fizeram com que a Histologia passasse a investigar cada vez mais profundamente o funcionamento das células que constituem os tecidos e órgãos.
Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1906 pelas suas investigações sobre a estrutura e funções do tecido nervoso.
Nos séculos XX e XXI o conhecimento sobre a estrutura e função das células, tecidos e órgãos se ampliou muito pela introdução de variadas metodologias para preparação e coloração de tecidos, técnicas para detecção de moléculas em células isoladas e em cortes histológicos por citoquímica e imunocitoquímica. Paralelamente foram desenvolvidos diversos tipos de microscópios ópticos e microscópios eletrônicos que permitiram aprofundar conhecimentos anteriores e descobrir novas estruturas e funções das células e tecidos. Graças aos aperfeiçoamentos destas metodologia as pesquisas em Histologia permitiram desvendar a estrutura e a função dos tecidos e órgãos animais e geraram conhecimentos que levaram à grande revolução ocorrida nos últimos 100 anos na Biologia animal, Medicina Humana e Medicina Veterinária.
Métodos de estudo de células, tecidos e órgãos animais por microscópios
Na maioria dos tipos de microscópios um feixe luminoso deve atravessar o objeto para se formar uma imagem. Por esta razão, os objetos que queremos observar necessitam ser muito delgados e transparentes ou translúcidos.
Células isoladas espalhadas sobre uma lâmina de vidro são delgadas e transparentes. Não oferecem obstáculo relevante para a passagem de um feixe luminoso e para a formação de uma boa imagem. Por outro lado, tecidos e órgãos animais são espessos e opacos. Para que estes possam ser observados por microscópios necessitam ser cortados em fatias muito delgadas.
Células espalhadas sobre uma lâmina de vidro, a lâmina histológica, ou cortes de tecidos ou órgãos colocados sobre a lâmina de vidro constituem o que se denomina preparado histológico. As células e os cortes são protegidos por uma delgada lâmina de vidro denominada lamínula.
A seguir serão descritos resumidamente alguns procedimentos necessários para confecção e coloração de fatias delgadas de tecidos e órgãos animais, denominados cortes histológicos. O conjunto destas metodologias é chamado Técnicas Histológicas.
Os cortes histológicos são obtidos em um instrumento de precisão denominado micrótomo. Para obter cortes muito delgados da ordem de 5 a 10 μm (micrometros) os fragmentos necessitam ser rígidos. Há várias maneiras de obter cortes histológicos. A maneira mais comum é pela utilização do micrótomo de parafina. Para essa finalidade os fragmentos de tecidos e órgãos são colocados no interior de parafina, material que fornece um suporte rígido para a obtenção de fatias de 5 a 10 um (micrometros) de espessura. Antes de serem embebidos em parafina os fragmentos de tecidos e órgãos necessitam passar por uma série de tratamentos.
A confecção de cortes histológicos se inicia pelo procedimento denominado fixação. A fixação tem como finalidades principais o endurecimento e a preservação da estrutura e da composição química das células, tecidos e órgãos. Nesta etapa fragmentos de tecidos ou órgãos são geralmente mergulhados durante um certo tempo em líquidos chamados fixadores histológicos. Um exemplo de fixador muito usado é o formol. Em seguida os fragmentos são submetidos à retirada de seu componente aquoso (desidratação) que é seguida pela diafanização ou clareamento dos fragmentos e, finalmente, eles são colocados em um meio que depois permitirá o corte dos fragmentos dos tecidos e órgãos. A substância mais utilizada para esta finalidade é a parafina aquecida ao ponto de se tornar líquida. Deixando-se a parafina voltar depois à temperatura ambiente ela se solidifica e oferece um suporte rígido adequado para a próxima etapa que é a confecção dos cortes dos tecidos em um micrótomo. Os cortes são colocados sobre pequenas lâminas de vidro que medem geralmente 25 x 75 mm, nas quais ficam aderidos.
As células, tecidos e órgãos animais são em sua maioria incolores. Para produzirem uma imagem em um microscópio necessitam quase sempre serem corados. Para isso a parafina deve ser inicialmente solubilizada e retirada e o corte mergulhado em vários líquidos até ser finalmente colocado em soluções corantes. Após a coloração os cortes são protegidos com delgadas lâminas de vidro (as lamínulas) e podem ser finalmente observados ao microscópio. A técnica de coloração mais usada em Histologia utiliza os corantes hematoxilina e a eosina. Esta coloração define bastante bem vários componentes das células e da matriz extracelular. A hematoxilina cora o núcleo, nucléolo e ergastoplasma, assim como componentes ácidos presentes na matriz extracelular. A eosina cora o citoplasma e suas várias organelas, assim como componentes da matriz extracelular de caráter neutro e menos ácido. Diversas organelas e componentes da matriz extracelular necessitam de colorações específicas para serem evidenciados.
Cortes por congelação
Há maneiras rápidas de se obter cortes delgados além da descrita acima. Por exemplo, para o exame microscópico de órgãos durante um ato cirúrgico que necessita um diagnóstico anatomopatológico feito naquele momento. Neste caso os fragmentos de órgãos são congelados e seccionados em um micrótomo especial que fornece cortes que podem ser imediatamente corados e examinados ao microscópio. São os chamados cortes de congelação. Cortes por congelação também são utilizados em laboratórios de pesquisa para procedimentos que revelam a presença de moléculas nas estruturas presentes nos cortes.
Conceito de tecido animal
Há centenas de tipos celulares em um organismo multicelular complexo como o nosso. Todas estas células são derivadas de uma única célula, o ovócito fertilizado ou zigoto. Este, no decorrer do desenvolvimento, se multiplicou por inúmeros ciclos mitóticos.
Durante o desenvolvimento embrionário e fetal as células indiferenciadas e totipotentes gradativamente passam por um processo chamado diferenciação, durante o qual alguns genes são silenciados ou reprimidos e outros ativados.
Grupos de células que passaram pela ativação de determinados genes ou de conjuntos de genes começam a produzir proteínas novas ou aumentam muito a produção de proteínas pré-existentes. Devido a esses processos estes grupos de células adquirem propriedades estruturais e funcionais características (a sua morfologia, tipo de organização, sua função), resultando na formação de famílias de células.
As famílias de células com estrutura, função e comportamento semelhantes constituem os tecidos do corpo. Estes tecidos foram classificados com base em sua morfologia, localização, funções e origem embriológica. Há quatro tecidos básicos: tecido epitelial, tecido conjuntivo, tecido muscular e tecido nervoso.
Esta classificação é útil do ponto de vista da sistematização dos tecidos e do ponto de vista didático. Com o correr do tempo e em consequência dos progressos havidos nos conhecimentos das células e da matriz extracelular, percebeu-se que esta classificação rígida das células em tecidos pode não mais ser aplicada indiscriminadamente.
Um exemplo é o termo célula secretora, que antigamente era aplicado às células glandulares do tecido epitelial, pois se pensava que eram as únicas células que exerciam a função de secreção. Hoje sabe-se que muitos tipos de células, tanto epiteliais como do tecido conjuntivo, muscular e nervoso também são secretoras.
Ver também
Anatomia
Citologia
Citoquímica
Morfologia
Ligações externas
Imagens Histológicas
depto.icb.ufmg.br Técnicas histológicas. ICB/UFMG.
cynara.com.br Histologia
youtube.com Técnicas histológicas - Fiocruz
MOL- Microscopia on line. Histologia interativa.
Atlas de Histologia UFG
Atlas Digital de Histologia Básica
Atlas digital de Histologia
Biologia celular
Anatomia
Biomedicina |
Na química, um hidrocarboneto é um composto químico constituído por átomos de carbono e de hidrogênio unidos tetraedricamente por ligação covalente assim como todos os compostos orgânicos.
Os hidrocarbonetos naturais são compostos químicos constituídos apenas por átomos de carbono (C) e de hidrogênio (H), aos quais se podem juntar átomos de oxigênio (O), azoto ou nitrogênio (N) e enxofre (S), dando origem a diferentes compostos de outros grupos funcionais.
São conhecidos alguns milhares de hidrocarbonetos. As diferentes características físicas são uma consequência das diferentes composições moleculares. Contudo, todos os hidrocarbonetos apresentam uma propriedade comum: oxidam-se facilmente, liberando calor. Além de usá-los como combustível, os hidrocarbonetos também são importantes materiais de partida na indústria química. Por exemplo, etano e propano são convertidos para syngas ou para etileno e propileno. Estas olefinas são precursores de polímeros, incluindo polietileno, poliestireno, acrilatos, polipropileno, etc. Outra classe de hidrocarbonetos é a chamada fração BTX que é uma mistura de benzeno, tolueno e os três isómeros de xileno.
Os hidrocarbonetos naturais formam-se a grandes pressões no interior da terra (abaixo de 150 km de profundidade) e são trazidos para zonas de menor pressão através de processos geológicos, onde podem formar acumulações comerciais (petróleo, gás natural, carvão, etc.). As moléculas de hidrocarbonetos, sobretudo as mais complexas, apresentam alta estabilidade termodinâmica. Apenas o metano, que é a molécula mais simples (CH4), pode-se formar em condições de pressão e temperatura mais baixas. Os demais hidrocarbonetos não são formados espontaneamente nas camadas superficiais da terra.
Cadeias carbônicas do hidrocarboneto
Os hidrocarbonetos têm uma série de cadeias, sendo divididos em:
hidrocarbonetos alifáticos: neles, a cadeia carbônica é acíclica (ou seja, aberta), sendo subdivididos em:
alcanos
alcenos
alcinos
alcadienos
alcadiinos
hidrocarbonetos cíclicos: têm pelo menos uma cadeia carbônica fechada, subdivididos em:
cicloalcanos ou ciclanos
cicloalcenos ou ciclenos
cicloalcinos ou ciclinos
aromáticos, que têm pelo menos um anel aromático (anel benzênico) além de suas outras ligações.
Hidrocarbonetos policíclicos de Von Baeyer
Ligações entre os hidrocarbonetos
Os hidrocarbonetos tem uma série de divisões sendo:
hidrocarbonetos saturados, englobando alcanos e cicloalcanos, que não possuem ligações dupla, tripla ou aromática;
hidrocarbonetos insaturados, que possuem uma ou mais ligações dupla ou tripla entre átomos de carbono (entre eles os alcenos, alcadienos e cicloalcenos - com ligação dupla; alcinos - com ligações tripla -; e aromáticos).
O número de átomos de hidrogênio em hidrocarbonetos pode ser determinado, se o número de átomos de carbono for conhecido, utilizando as seguintes equações:
Alcanos: CnH2n+2
Alcenos: CnH2n
Alcinos: CnH2n-2
Ciclanos: CnH2n
Ciclenos: CnH2n-2
Hidrocarbonetos geralmente líquidos geologicamente extraídos são chamados de petróleo (literalmente "óleo de pedra") ou óleo mineral, enquanto hidrocarbonetos geológicos gasosos são chamados de gás natural. Todos são importantes fontes de combustível.
Hidrocarbonetos são de grande importância econômica porque constituem a maioria dos combustíveis minerais (carvão, petróleo, gás natural, etc.) e biocombustíveis como o plásticos, ceras, solventes e óleos. Na poluição urbana, esses compostos - juntamente com NOx e a luz solar - contribuem para a formação do ozônio troposférico.
Ver também
Petróleo
Gás Natural
Compostos da química orgânica
Hidrocarboneto aromático |
Os primeiros registros escritos conhecidos da história da China datam de 1250 a.C., da dinastia Shang. Textos históricos antigos como os Registros do Grande Historiador (c. 100 a.C.) e os Anais do Bambu (296 a.C.) descrevem uma dinastia Xia (c. 2070–1600 a.C.) antes dos Shang, mas nenhuma escrita é conhecida do período, e os escritos de Shang não indicam a existência da dinastia Xia. Documentos que datam do século XVI a.C. em diante é que demonstram que aquele país é uma das civilizações mais antigas do mundo com existência contínua. Os estudiosos entendem que a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado no vale do rio Amarelo. O ano 221 a.C. costuma ser referido como o momento em que a China foi unificada na forma de um grande reino ou império, apesar de já haver vários estados e dinastias antes disso. As dinastias sucessivas desenvolveram sistemas de controle burocrático que permitiriam ao imperador chinês administrar o vasto território que viria a ser conhecido como a China.
A fundação do que hoje se chama a civilização chinesa é marcada pela imposição de um sistema de escrita comum, criado pela dinastia Qin no século III a.C., e pelo desenvolvimento de uma ideologia estatal baseada no confucionismo, no século II a.C. Politicamente, a China alternou períodos de unidade e fragmentação, sendo conquistada algumas vezes por potências externas, algumas das quais terminaram assimiladas pela população chinesa. Influências culturais e políticas de diversas partes da Ásia, e mais tarde algumas da Europa levadas por ondas sucessivas de imigrantes, fundiram-se para criar a imagem da atual cultura chinesa.
Pré-história
Na pré-história, a China foi habitada, entre 550 mil a 300 mil anos antes de Cristo, pelo Homo erectus, antepassado do Homo sapiens cujo um dos espécimes mais famoso é o Homem de Pequim, descoberto em 1927 em Zhoukoudian que usava instrumentos de pedra e o fogo. Os primeiros indícios de fogo são de 460 mil anos atrás pelo Homo Erectus, sessenta mil anos depois alimentavam-se de carne, nozes e bagas. Também foram descobertos restos de alimentos de frutos selvagens, especialmente ginginha do rei, juntamente com rebentos de plantas e tubérculos, insetos, répteis, aves, ovos, ratos e grandes mamíferos. Viviam em grutas, em abrigos nos rochedos e acampamentos ao ar livre. Os caçadores-coletores primitivos de 200 mil anos atrás moviam-se de um sítio a outros aproveitando os diversos e diferentes recursos sazonais Entre 200 a 50 mil anos a.C. o Homo sapiens passou a habitar algumas regiões do que hoje conhecemos como China e o mais recente, o Homo Sapiens Sapiens esteve em Zhoukoudian 40 mil anos a.C.. Também esteve no mesmo sítio Homo Erectus meio milhão de anos atrás. Os homens Sapien fixaram-se no Nordeste da China há cerca de 25 mil anos após a parte mais quente do Sul já ter sido explorada.
Neolítico
No início do período Neolítico, que na China é entre 8000 e 2000 a.C, o clima da Ásia Oriental era tropical. O Norte chinês possuía densas florestas, onde havia crocodilos e elefantes. Descobertas arqueológicas recentes revelaram que várias culturas regionais efetuaram separadamente a transição da recoleção para a produção de alimentos. Nelas incluem-se as culturas de Yangshao no curso médio do rio Amarelo, que cultivava painço e outros cereais a 6500 a.C, talvez 7000 e também tinha galinhas e porcos, a Dawenkou em Shandong. Os agricultores do norte chinês tinham de enfrentar secas e cheias frequentes, apesar dessas dificuldades a sofisticada cultura da aldeia de Yangshao usava uma forma primitiva de irrigação, estava florescente em 5000 a.C. e tinha 100 casas. A Majiabang no curso inferior do rio Yangzi (Iansequião) e a Dapenkeng ao longo da costa sul e de Taiwan. A cultura Majiabang emergiu no sexto milénio a.C. e caracterizou-se pelo cultivo de arroz à cerca de 6500 a.C., apesar de já o terem aclimatado 1500 anos antes e de se pensar que já era cultivado em 8500 a.C.. A agricultura chinesa tornou-se bem organizada e intensiva ao longo dos séculos seguintes, especialmente no sul. já possuindo porcos e búfalos aquáticos e pelo uso da cerâmica com motivos gravados por incisão.
Perto da costa chinesa o cultivo de tubérculos como o inhame e o taro foi acompanhado pelo surgimento de alfaias mais complexas para cavar e pintar.
Em Hemudu
No sudeste da China, em Hemudu tinha sido descoberta uma povoação neolítica de 5000 a.C.. As descobertas incluem peças de terracota, artigos de madeira e osso e ossadas de porcos e búfalo, havia igualmente apitos feitos com ossos de aves, possivelmente destinados a atrair pássaros a armadilhas. A descoberta com maior importância foi a de que o povo de Hemedu se dedicava à orizicultura.
Em Bampo
O sítio arqueológico mais conhecido em Bampo, perto de Xi'an e foi ocupado a partir de 4500 a.C.. até 3750 a.C. Bampo tinha 45 casas, mais ou menos, e os seus habitantes cultivavam painço, possuíam cães e porcos e produziam cerâmica que além de decorada ocasionalmente possuía marcas gravadas.
Cerâmica
Como marcas iguais têm sido descobertas em cerâmicas em outros locais da região, foi sugerido que elas não seriam simples marcas de oleiro mas um estágio inicial da criação de caracteres chineses, sugestão algo polémica. Também foram descobertos fragmentos de outro tipo de cerâmica, conhecida como cerâmica de Longshan, descoberta em Chengziyai, no noroeste da província de Shadong. Em vez de ser vermelha e às vezes pintada com representações estilizadas de pássaros e flores como a de Yangshao, não era pintada, era mais delicada e elevada numa base circular ou assente em três pés. O provável é que as duas culturas se desenvolveram isoladamente e que a cultura de Longshan, que se espalhou largamente na Ásia Oriental, se espalhou lentamente até à Planície Central, onde a tradição da cerâmica pintada já começara a esmorecer.
Abrigos
Os agricultores iniciais do norte da China construíram aldeamentos semi-permanentes, movendo-se quando precisavam de novas terras e voltando mais tarde a seguir da terra recuperar a fertilidade. As casas, em concavidades ou ao nível do solo, redondas ou quadradas, como paredes de taipa e telhados de colmo feitos de camadas canas e argila e hastes de painço, sustentados por traves.
Ornamentos de osso
No norte chinês e na Manchúria os primeiros ornamentos pessoais são de há cerca de 7500 a.C.. Os caçadores que os criaram faziam agulhas e furadores de ossos de tigre, de leopardos, de ursos e de veados e inscreviam desenhos em bocados de chifre. Perfuravam dentes de texugo e de outros animais, fazendo colares com eles, medalhões e brincos.
História antiga
Dinastia Xia
A dinastia Xia é algo mítico. A tradição chinesa diz que os humanos têm a sua origem nos parasitas do corpo do criador, Pangu. A seguir ao seu óbito governantes sábios introduziram as invenções e instituições fundamentais da sociedade humana. O primeiro governante chamava-se Fuxi, que domesticou os animais e instituiu o casamento. Depois foi Shennong, que introduziu a agricultura, a medicina e o comércio. Mais tarde veio Huangdi, o Imperador Amarelo, a quem foi atribuída a invenção da escrita, da cerâmica e do calendário. Séculos mais tarde surgiu o imperador Yao que governou sabiamente e introduziu o controle de cheias. O seu feito mais notório foi a sua decisão de não eleger o filho como futuro imperador, por não o considerar digno, mas um sábio humilde de nome Shun. Os reinados de Shun e Yao seriam mais tarde admirados como uma idade dourada. Voltando ao tema, Shun nomeou por sua vez o seu fiel ministro Yu como sucessor. É nesta altura que a pré-história da China se funde com a história. O reinado de Yu teve segundo a tradição início em 2205 a.C., Yu terá alegadamente fundado a Dinastia Xia, a primeira das três dinastias da China antiga: Xia, Shang e Zhou.
Quando as escavações arqueológicas se iniciaram, na década de 20 do século passado, a visão tradicional da dinastia Xia foi desafiada e Yu foi reduzido a figura mítica. Mais recentemente, a posição da dinastia Xia foi restaurada, não como a primeira de uma série de dinastias mas como o mais poderoso de muitos pequenos estados existentes ao longo do vale do rio Amarelo, coexistindo com os estados Shang e Zhou iniciais. O estado Xia que existiu aproximadamente entre 1900 e 1350 a.C., foi identificado com a localidade de Erlitou, na província de Henan, local onde têm sido escavados edifícios apalaçados e túmulos e os mais antigos recetáculos de bronze até hoje conhecidos foram encontrados. A árvore genealógica dos seus governantes foi mantida nos Shiji, os Registos Históricos compilados por Sima Qian, grande historiador chinês, e futuramente provados por inscrições em ossos oraculares.
Em 1900 a.C. foi o ano das primeiras cidades descobertas na China.
Diz-se que Jie, o último rei da dinastia, foi um rei corrupto. Ele foi deposto por T'ang, o lider do povo de Shang, localizado mais ao leste.
Dinastia Shang
O registro mais antigo do passado da China data da Dinastia Shang (ou Chang), possivelmente no século XIII a.C., na forma de inscrições divinatórias em ossos ou carapaças de animais, segundo a tradição chinesa começou em 1766 e acabou em 1122 a.C.
A dinastia Shang teve uma série de capitais das quais a mais importante era Zhengzhou, capital durante o período inicial e intermédio da dinastia que tinha uma muralha com cerca de 6,4 quilómetros de comprimento e 10 metros de altura que protegia um grande povoado, e Anyang ocupada entre 1300 e 1050 a.C..
As casas e oficinas ali (em Zhengzhou) encontradas indicam que a sociedade Shang era altamente organizada e socialmente estratificada. Nos arredores de Anyang, em Xiaotun, foram descobertos indícios do que teria sido o centro cerimonial e administrativo do estado Shang na sua fase tardia. Em Xibeigang, 3 quilómetros a norte foram descobertos 11 grandes túmulos cruciformes que podiam pertencer aos 11 monarcas Shang, que segundo os registos existentes teriam reinado em Anyang.
Governantes Shang
Os governantes Shang faziam um importante papel cerimonial, mas também se ocupavam da administração do estado e eram servidos por funcionários com funções especializadas. Eram apoiados por vários clãs aristocráticos com os quais tinham relações de parentesco ou de matrimónio. A aristocracia dedicava-se a artes militares e lutava com carros puxados a cavalo. A relação entre os Shang e os clãs era pessoal mas formalizada através de cerimónias de investidura, nos quais o rei podia pedir serviços aos clãs, laborais e militares. Os Shang bem como os seus apoiantes da aristocracia levavam a cabo campanhas agressivas contra os vizinhos, obtendo prisioneiros e saques. Também se expandiam graças a mandatos para a criação de novos povoados e da disponibilização de novas zonas para a agricultura. Com estes meios o estado Shang expandiu-se do seu núcleo territorial junto ao rio amarelo até ao vale do rio Wei até a atual província de Shanxi.
Relações dos Shang com outros
Os Shang formaram relações com um estado chamado Shu, o que talvez signifique que uma cultura se desenvolveu de forma independente na província de Sichuan.
Economia Shang
A base económica do estado Shang era a agricultura e a sua colheita mais importante era o milhete (ou painço). O clima da planície do norte chinês era então mais tropical e arborizado, necessitando assim de uma grande quantidade de mão de obra para a libertar para a agricultura. Afirma-se muitas vezes, especialmente por historiadores marxistas, como Guo Moruo, que a mão de obra utilizada normalmente era escrava e que a sociedade Shang devia ser considerada como o estágio esclavagista da evolução social chinesa. Tal ideia tem sido motivada por indícios de sacrifícios humanos que faziam parte das cerimónias funébres da realeza, e por certas inscrições oraculares. Há pouco tempo Jun Li sugeriu que não a maioria da população não era composta por escravos, no sentido de serem comprados e vendidos, e que esta usufruía de liberdade individual. No entanto era obrigada a trabalhos coercivos, como a construção de muralhas e tarefas agrícolas, sendo também recrutada para serviços militares.
Fragmentos de ossos oraculares
Muita da informação disponível da sociedade Shang chegou até nós graças a inscrições feitas em omoplatas de bovinos, ou com menos regularidade, em carapaças de tartarugas. Diziam que eram "ossos de dragão" e eram reduzidos a pó para fins medicinais. Foram descobertos mais 200 mil fragmentos do ossos oraculares em Xiaotun. Os osso oraculares revelam nos as mais variadas coisas sobre o estado Shang. Usavam de 3 mil grafemas diferentes e incluíam uma semana de dez dias e um ciclo de 60 dias.
Metalurgia chinesa Shang
Os indícios acumulados nos últimos anos apoiam a teoria da descoberta independente da metalurgia na China e da rápida transferência de técnicas cerâmicas para a manufatura de objetos em bronze. A produção e utilização do bronze era controlada pelo rei. A quantidade de objetos encontrados demonstra que a extração de minério e a manufatura de peças constituíam grandes indústrias. Os recipientes Shang iniciais eram fundidos em moldes distintos sendo as várias partes posteriormente unidas. Uma indústria em pequena escala surgiu em Gansu por volta do ano 2000 a.C.. Este método foi a base sobre o qual se desenvolveu a produção de bronze em grande escala.
Túmulos
Os reis Shang eram sepultados em grandes túmulos cruciformes, cuja escavação exigia o trabalho de centenas de pessoas. Os cadáveres eram postos em caixões de madeira rodeados por objetos funerários. Nas rampas que conduziam ao fundo do túmulo encontravam-se cadáveres humanos e de cavalos.
Religião
Graças as provas pode se ter uma ideia da religião Shang. O povo Shang adorava vários deuses, dos quais muitos eram ascendentes da realeza. Outros eram espíritos da Natureza, e ainda outros possivelmente derivassem de mitos populares ou de cultos locais. O culto dos ancestrais era praticado por grande parcela da população e permaneceu uma parte essencial do culto religioso até os tempos modernos. Um estudo recente mostra que Di significava "deuses" coletivamente e apenas com os Zhous surgiria a ideia de um deus principal. Os indícios descobertos nos túmulos mostra-se claro que acreditavam na vida depois da morte, e as perguntas oraculares podem ter sido dirigidas a antepassados falecidos. A corte Shang pode ter sido frequentada por Xamãs e, possivelmente, o próprio rei fosse um líder religioso, de forma similar ao que ocorria com outras civilizações antigas da mesma época, como os reis mesopotâmicos e faraós do Antigo Egito. Se estas opiniões estiverem certas o caráter da religião Shang era muito diferente da abordagem racional das escolas filosóficas que tornariam-se preponderantes durante o período Zhou.
Os historiadores chineses de períodos posteriores habituaram-se à noção de que uma dinastia sucedia a outra, mas sabe-se que a situação política na China primitiva era muito mais complexa. Alguns acadêmicos sugerem que os xias e os shangs talvez fossem entidades políticas que co-existiram, da mesma maneira que os zhous foram contemporâneos dos shangs.
Alimentação
A soja foi introduzida em 1200 a.C..
Dinastia Zhou
Segundo a tradição a dinastia Zhou reinou entre 1122 e 256 a.C.. Este período enorme é divido em Zhou Ocidental, de 1122 a 771 a.C., e Zhou Oriental, estando este ainda subdivido nos períodos de Primavera e Outono, de 771 a 481 a.C., e dos Estados Combatentes, de 481 a 221 a.C..
A capital dos Zhou era perto da atual Xi'an. No apogeu do poder dos Zhou a China chegava tão a norte como a Mongólia.
Na tradição historiográfica chinesa, os líderes de Zhou dissiparam a família Yin (Shang) e legitimaram seu domínio invocando o Mandato do Céu - noção segundo a qual o rei (o " filho do céu ") governava por direito divino, mas a perda do trono indicaria que ele havia perdido o tal direito. O Mandato do Céu estabelecia que os Zhou assumiam ascendência divina (Tian-Huang-Shangdi) sobre a ascendência divina dos Shang (Shangdi). A doutrina explicava e justificava o fim da Dinastia Xia e Dinastia Shang, ao mesmo tempo que dava suporte à legitimidade dos governantes atuais e futuros. A Dinastia Zhou foi fundada pela família Ji e tinha sua capital na cidade de Hao (ou Haojing, próxima da atual Xi'an). Possuindo o mesmo idioma e uma cultura similar à dos Shang, os primeiros reis Zhou, através da conquista e colonização, gradualmente estenderam a cultura chinesa pelas terras bárbaras das Planíces Centrais.
Segundo o Shujing, o Livro dos Documentos a queda dos Shang foi devida aos erros do seu último governante, Zhou.
Resultante da queda dos Shang o Mandato do Céu foi-lhes retirado. O rei Wen passou a ser considerado um expoente de virtude e o seu filho, o rei Wu, venceu os Shang numa batalha num sítio chamado Muye. Os documentos indicam que os Zhou faziam parte uma aliança de oito nações e eles ganharam porque as tropas Shang se revoltaram por causa da crueldade do seu líder. Tudo isto se passou cerca de 1045 a.C., cerca de 80 anos depois da data do costume considerada como a queda dos Shang.
Um pouco mais tarde, possivelmente em 1043 a.C., o rei Wu faleceu, sucedendo-lhe o filho, decisão diferente da adotada na dinastia Shang, onde a sucessão era feita por um irmão.
Os Zhou tem sido considerados feudais. Na historiografia Ocidental, o período Zhou é usualmente descrito como feudal, pois o descentralizado sistema dos Zhou se assemelhava ao sistema medieval europeu. Entretanto, historiadores debatem acerca do termo feudal, surgido para referir-se a um contexto puramente e especificamente europeu. Portanto, o termo mais apropriado para classificar o sistema político dos Zhou seria da própria língua chinesa: sistema Fengjian. A organização do território era feita com base em estados subordinados, governados por homens eleitos pelo rei, geralmente conselheiros e generais de confiança, e por seus herdeiros. Os estados pagavam tributos à capital, onde o Filho do Céu governava como monarca absoluto. Também deviam fornecer soldados em tempo de guerra. No entanto, toda essa organização existiu de fato apenas durante o Período Zhou Ocidental, após o qual perdeu sua relevância com o declínio do poder real diante dos estados ascendentes.
Origem e localização
Muito tempo antes da queda dos Shang, os Zhou apareceram como um estado poderoso a ocidente do principal centro de atividades Shang. A origem do povo Zhou não é clara. Segundo Mêncio, um discípulo de Confúcio, "o rei Wen era um bárbaro ocidental", a teoria que os Zhou teriam origem turca tem ganho algum apoio. No entanto não há apoios linguísticos que assinalem uma origem distante. Uma teoria mais equilibrada sugere que a sua origem seria o vale do rio Fen, na província de Shanxi, tendo os Zhou migrado mais tarde para o vale do rio Wei, a oeste de Xi'an, na adjacente província de Shanxii. Lá, na proximidade do estado Shang, eles acabaram por adotar muitos aspectos da cultura vizinha, um processo que lhes permitiu adquirir técnicas administrativas que tornou mais fácil a tomada de poder.
Período das Primaveras e dos Outonos
No século VIII a.C., o poder político tornou-se descentralizado, durante o chamado Período das Primaveras e dos Outonos, cujo nome advém dos Anais das Primaveras e dos Outonos. Naquele período, chefes militares locais empregados pelos Zhous começaram a agir com autonomia e a disputar a hegemonia. A situação agravou-se com a invasão de outros povos a partir de nordeste, como os qins (ou chins), o que forçou os Zhous a mover sua capital a leste, para Luoyang. Isto marca a segunda grande fase da Dinastia Zhou: os Zhous Orientais. Em cada uma das centenas de Estados que vieram a surgir (alguns meros vilarejos com um castelo), potentados locais detinham a maior parte do poder político e sua subserviência aos reis Zhous era apenas nominal. Este período foi marcado por batalhas e anexações entre uns 170 pequenos estados. O lento progresso da nobreza resultou num aumento na alfabetização; o incremento na alfabetização estimulou a liberdade de pensamento e o avanço tecnológico. Este período viu surgir movimentos intelectuais e filosóficos influentes como o confucionismo, o taoísmo, o legalismo e o moísmo, parcialmente como reação às mudanças políticas da época. Para efeito comparativo este período poderia ser comparado com o período das cidades-estados da Grécia Antiga da mesma época, devido a descentralização política e grande desenvolvimento de escolas filosóficas.
À medida que a era continuava, estados maiores e mais poderosos anexavam ou reivindicavam suserania sobre os menores. Por volta do século VI a.C, a maioria dos pequenos estados havia desaparecido e apenas alguns grandes e poderosos principados dominavam a China. Alguns estados do sul, como Chu e Wu, reivindicaram a independência dos Zhou, com seus líderes se auto-proclamando reis, o que levou os Zhou a reagirem empreendendo guerras contra alguns deles (Wu e Yue).
Período dos reinos combatentes
Após um processo de consolidação política, restavam, no final do século V a.C., sete Estados proeminentes. A fase durante a qual estas poucas entidades políticas combateram umas contra as outras é conhecida como o Período dos Reinos Combatentes. Durante este período, existiam sete reinos combatentes: Qin, Qi, Zhao, Han, Wei, Chu e Yan. Além desses sete estados principais, outros estados menores sobreviveram no período. Eles incluem: o Território Real do Rei Zhou e os estados de Yue, Zhongshan, Song, Lu, Zheng, Wey, Teng e Zou e no extremo sudoeste, os estados não-Zhou de Ba e Shu. O Reino de Qin acabou por conquistar todos no final do período, ficando a China unificada sob um mesmo governo e o mesmo sistema de escrita e de pesos e medidas.
A figura de um rei zhou continuou a existir até 256 a.C., mas apenas como chefe nominal, sem poderes concretos. A fase final deste período começou durante o reinado de Ying Zheng, rei de Qin. Após lograr a unificação dos outros seis Estados e anexar outros territórios nos atuais Zhejiang, Fujian, Guangdong e Guangxi em 214 a.C., proclamou-se o Primeiro Imperador (Qin Shi Huangdi).
China Imperial
Dinastia Qin (221 – 206 a.C.)
Os historiadores costumam denominar de China Imperial o período entre o início da Dinastia Qin (também chamada Dinastia Chin) (século III a.C.) e o fim da Dinastia Qing (no começo do século XX). Em 230 a.C, o Estado Qin iniciou as várias campanhas que levaram à unificação da China. Os outros estados formaram alianças para tentarem impedir o seu avanço, e em 227 a.C. houve uma tentativa de assassinato do rei Ying Zheng. Os esforços de resistência fraquejaram e em 221 a.C o rei Zheng do estado Qin assumiu o título de Qin Shi Huangdi, primeiro imperador da Dinastia Qin. Embora seu reinado sobre uma China unificada tenha durado apenas doze anos, o imperador Qin logrou subjugar grande parte do que se constitui no cerne das terras hans chinesas e uni-las sob um governo altamente centralizado com sede em Xianyang (a atual Xian). A doutrina do legalismo, pela qual se orientava o imperador, enfatizava a observância estrita de um código legal e o poder absoluto do monarca. Tal filosofia, embora muito eficaz para expandir o império pela força, mostrou-se inservível para governar em tempo de paz. Os qins promoveram o silenciamento brutal da oposição política, cuja epítome foi o incidente conhecido como a queima de livros e o sepultamento de acadêmicos (vivos).
A Dinastia Qin é famosa por ter iniciado a Grande Muralha da China, que foi posteriormente ampliada e aperfeiçoada durante a Dinastia Ming. Incluem-se entre as demais contribuições dos qin a unificação do direito chinês, da linguagem escrita e da moeda da China, bem-vindas após as tribulações dos períodos da Primavera e do Outono e dos Reinos Combatentes. Até mesmo algo tão prosaico como o comprimento dos eixos das carroças teve que ser uniformizado de modo a permitir um sistema comercial viável que abrangesse todo o império.
Muitos autores defendem que a reunificação da China sob um governo burocrático nessa ocasião se deveu em certa medida aos constantes ataques das tribos nômades do norte dirigidos para pilhar os bens da civilização chinesa, que aumentaram consideravelmente a partir do século III a.C..
Exatamente pela forma de governo instituída pelos Qin, extremamente centralizada na pessoa do imperador, as coisas deixaram de funcionar com a morte de Zheng em 210 a.C. O sucessor legítimo do primeiro imperador foi assassinado por seu irmão mais jovem. O Segundo Imperador, Qin Er Shi, por sua vez, foi assassinado por um de seus ministros, Li Si em 208 antes de Cristo. Li Si foi morto em 207 a.C., assim como o ministro e o imperador que assumiram posteriormente. A massa campesina e alguns dos antigos nobres, diante dessa situação, participaram de sublevações contra o governo. Liu Bang (mais conhecido como Gaozu), um funcionário do Império, derrubou o governo da família Ying (Dinastia Qin) e declarou-se imperador sob a dinastia de Han em 202 a.C..
Dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.)
A Dinastia Han emergiu em 202 a.C., como a primeira a adotar a filosofia do confucionismo, que se tornou a base ideológica de todos os regimes chineses até o fim da China Imperial. A dinastia Han foi governada pela família conhecida como o clã de Liu. Durante esta fase dinástica, a China logrou grandes avanços nas artes e nas ciências. O Imperador Wu consolidou e ampliou o império ao expulsar os xiongnus (que alguns identificam com os hunos) para as estepes do que é hoje a Mongólia Interior, tomando-lhes o território correspondente às atuais províncias de Gansu, Ningxia e Qinghai. Isto permitiu abrir as primeiras ligações comerciais entre a China e o Ocidente: a Rota da Seda.
Durante a dinastia Han, a China transformou-se oficialmente num estado confucionista e progrediu em questões internas: a agricultura, o artesanato e o comércio floresceram, e a população chegou a 55 milhões. A dinastia Han foi notável também pela sua aptidão militar. O império expandiu-se para o oeste à bacia do Tarim (na região autónoma moderna de Sinquião), com expedições militares para o oeste, assim como além-Mar Cáspio, tornando possível o tráfego mercantil através da Ásia central, desenvolvendo o comércio inclusive com os romanos. Os trajetos do tráfego vieram a ser conhecidos como "a estrada de seda" porque a rota foi usada para exportar a seda chinesa. Os exércitos chineses também invadiram e anexaram partes da Coreia setentrional (Wiman Joseon) (assim como o estabelecimento de colónias) e o norte do Vietname no final do século II d.C. As fronteiras perto dos territórios periféricos eram frequentemente tensas por possíveis conflitos com outros estados. Para assegurar a paz com os poderes não Chineses, a corte de Han desenvolveu "um sistema tributário mutuamente benéfico". Foi permitido aos estados não chineses permanecer autónomos em troca da aceitação simbólica da autoridade dos Han. Os laços tributários foram confirmados e reforçados.
Entretanto, internamente, as aquisições de terras pelas elites gradualmente causaram uma crise tributária. Em 9 d.C., o usurpador Wang Mang fundou a breve Dinastia Xin ("nova") e deu início a um amplo programa de reformas agrária e econômica. As famílias proprietárias de terras jamais apoiaram as reformas, que favoreciam os camponeses e a pequena nobreza, e a instabilidade causada por sua oposição levou ao caos e a rebeliões. Isso foi agravado pela inundação em massa do rio Amarelo; o acúmulo de lodo fez com que ele se dividisse em dois canais e deslocasse um grande número de agricultores. O usurpador Wang Mang acabou sendo morto no Palácio Weiyang por uma turba camponesa enfurecida em 23 d.C..
O Imperador Guangwu reinstituiu a Dinastia Han, sediada agora em Luoyang, próximo a Xian, com o apoio das famílias proprietárias e mercantis. Alguns denominam este período Dinastia Han Oriental. O poder dos hans declinou em meio a aquisições de terras, invasões e rixas entre clãs consortes (isto é, clãs a que pertenciam a consorte do imperador) e eunucos. Invasões dos homens das estepes, revoltas internas da nobreza e a Rebelião do Turbante Amarelo, protagonizado pelos camponeses, que estalou em 184 d.C, resultou numa era de chefes guerreiros. No caos subseqüente, três Estados buscaram a preeminência durante o chamado Período dos Três Reinos.
Período dos Três Reinos
No século II d.C, o império havia declinado em crises tributária em meio a aquisições de terras pela elite, invasões de povos estrangeiros e disputas entre clãs da nobreza e os eunucos. A Rebelião do Turbante Amarelo eclodiu em 184 d.C, inaugurando uma era de senhores da guerra. Na turbulência que se seguiu, três estados tentaram ganhar predominância no período dos Três Reinos. Este período de tempo foi muito romantizado em obras como Romance dos Três Reinos.
Depois que Cao Cao reunificou o norte em 208, seu filho Cao Pi forçou o Imperador Xian de Han a abdicar, após isso se auto-proclamou imperador e inaugurou a dinastia Wei (liderada pelo clã Cao) em 220. Logo, os rivais de Wei, Shu (liderado pelo família imperial deposta, o clã de Liu) e Wu (liderado pelo clã de Sun) proclamaram sua independência, levando a China para o período dos Três Reinos (Wei, Shu e Wu). O termo próprio “três reinos” é um tanto inexpressivo, sendo que cada estado foi dirigido eventualmente por um Imperador que reivindicou a sucessão legítima da Dinastia Han, não por reis. Não obstante o termo tornou-se padrão entre sinologistas e será usado neste artigo. Este período foi caracterizado por uma gradual descentralização do estado que havia existido durante as dinastias Qin e Han, e um aumento no poder das grandes famílias.
Em 266, a Dinastia Jin (fundada pela família Sima) derrubou a Dinastia Wei e depois reunificou o país em 280, mas essa união durou pouco.
Dinastia Jin
Embora os três grupos tenham sido temporariamente unificados em 278 pela Dinastia Jin, esta foi severamente enfraquecida por conflitos internos entre príncipes imperiais e perdeu o controle do norte da China depois que colonos chineses não-han se rebelaram e capturaram Luoyang e Chang'an. Em 317, um príncipe Jin em Nanjing tornou-se imperador e continuou a dinastia, agora conhecida como Jin Oriental, que ocupou o sul da China por mais um século.
O norte da China se fragmentou em uma série de reinos independentes, a maioria dos quais foi fundada por governantes dos povos Xiongnu, Xianbei, Jie, Di e Qiang. Os grupos étnicos não-hans controlavam boa parte do país no início do século IV. Em 303, o povo di revoltou-se, capturou Chengdu e estabeleceu o Estado de Cheng Han. Os xiongnus, chefiados por Liu Yuan, rebelaram-se também e fundaram o Estado de Han Zhao. Seu sucessor, Liu Cong, capturou e executou os dois últimos imperadores jins ocidentais. O Período dos Dezesseis Reinos assistiu a uma pletora de breves dinastias não-chinesas que, a partir de 303, governaram o norte da China. Os grupos étnicos ali presentes incluíam os ancestrais dos turcos, mongóis e tibetanos. A maioria daqueles povos nômades, relativamente pouco numerosos, já havia sido achinesada muito antes de sua ascensão ao poder. Na verdade, alguns deles, em especial os chiangs e os xiongnus, já habitavam as regiões de fronteira no interior da Grande Muralha desde o final da Dinastia Han, com o consentimento desta. Durante o período dos Dezesseis Reinos, a guerra devastou o norte e provocou migrações de hans em grande escala para a margem sul do YangTzé. O colapso da Dinastia Jin Ocidental e a ascensão de regimes bárbaros na China durante este período se assemelha ao declínio e queda do Império Romano do Ocidente em meio a invasões pelos hunos e tribos germânicas na Europa, que também ocorreram nos séculos IV e V.
Dinastias do Norte e do Sul
No início do século V a China entrou num período conhecido como as Dinastias do Norte e do Sul, em que os regimes paralelos dominaram as metades norte e sul do país. No sul, os Jin Orientais deram lugar as Dinastias Liu Song (família Liu), Qi Meridional e Liang (ambas governadas pela família Xiao) e finalmente Chen (família Chen). Cada uma dessas dinastias do sul foi liderada por famílias governantes chinesas Han e usou Jiankang (moderna Nanjing) como a capital. Eles detiveram ataques do norte e preservaram muitos aspectos da civilização chinesa, enquanto os regimes bárbaros do norte começaram a significar.
No norte, o último dos Dezesseis Reinos foi extinto em 439 pelo Reino de Wei, um reino fundado pelos Xianbei, um povo nômade que unificou o norte da China. O Reino de Wei finalmente se dividiu em Wei Oriental e Ocidental, que então se tornou Qi do Norte e o Zhou do Norte. Esses regimes eram dominados pelos xianbei ou chineses han que haviam se casado com famílias xianbei. Durante esse período, a maioria dos Xianbei adotou os sobrenomes Han, levando a completa assimilação dos Han.
Apesar da divisão do país, o budismo se espalhou por toda a terra. No sul da China, debates ferozes sobre se o budismo deveria ser permitido eram realizados com frequência pela corte e pelos nobres reais. No final da era, budistas e taoístas tornaram-se muito mais tolerantes uns com os outro.
Dinastia Sui: reunificação
A Dinastia Sui (família Yang) logrou reunificar o país em 581, após quase quatro séculos de fragmentação política na qual o norte e o sul se desenvolveram independentemente. Do mesmo modo que os soberanos qin haviam unificado a China após o Período dos Reinos Combatentes, os Suis uniram o país e criaram diversas instituições que terminaram por ser adotadas por seus sucessores, os Tangs.
Fundada pelo imperador Wen em 581 em sucessão ao Zhou do Norte, os Sui conquistaram os Chen em 589 para reunificar a China, encerrando três séculos de divisão política. Os Sui foram pioneiros em muitas novas instituições, incluindo o sistema governamental de Três Departamentos e Seis Ministérios, concursos públicos para selecionar funcionários públicos entre os plebeus, melhorou os sistemas de recrutamento do exército e adotou um sistema de igualdade de distribuição de terras. Essas políticas, que foram adotadas por dinastias posteriores, trouxeram um enorme crescimento populacional e acumularam riqueza excessiva para o Estado. A cunhagem padronizada foi aplicada em todo o império unificado. O budismo criou raízes como uma religião proeminente e foi apoiado oficialmente. A China era conhecida por seus numerosos projetos de mega-construções. Destinado a embarques de grãos e transporte de tropas, o Grande Canal da China foi construído, ligando as capitais Daxing (Chang'an) e Luoyang à região sudeste, e em outra rota, à fronteira nordeste. A Grande Muralha também foi ampliada, enquanto séries de conquistas militares e manobras diplomáticas pacificaram ainda mais suas fronteiras. No entanto, as invasões maciças da Península Coreana durante a Guerra Goguryeo-Sui falharam desastrosamente, provocando revoltas generalizadas que levaram à queda da dinastia.
Dinastia Tang: o retorno da prosperidade
Em 18 de junho de 618, Gaozu tomou o poder e estabeleceu a Dinastia Tang (família Li). Iniciou-se então uma era de prosperidade e inovações nas artes e na tecnologia. O budismo, que se havia instalado gradualmente na China a partir do século I, tornou-se a religião predominante e foi adotada pela família imperial e pelo povo.
Os Tangs, da mesma forma que os Hans, mantiveram abertas as rotas comerciais para o Ocidente e para o sul; diversos comerciantes estrangeiros fixaram-se na China.
O segundo imperador, Taizong, é amplamente considerado como um dos maiores imperadores da história chinesa, que lançou as bases para a dinastia florescer durante séculos além de seu reinado. Combinações de conquistas militares e manobras diplomáticas foram implementadas para eliminar ameaças de tribos nômades, estender a fronteira e submeter estados vizinhos a um sistema tributário. As vitórias militares na bacia do Tarim mantiveram a Rota da Seda aberta, ligando Chang'an à Ásia Central e áreas mais a oeste. No sul, rotas lucrativas de comércio marítimo começaram a partir de cidades portuárias como Guangzhou. Houve comércio extensivo com países estrangeiros distantes, e muitos comerciantes estrangeiros se estabeleceram na China, incentivando uma cultura cosmopolita. A cultura Tang e os sistemas sociais foram observados e imitados pelos países vizinhos, mais notavelmente o Japão. Internamente, o Grande Canal ligava o centro político de Chang'an aos centros agrícolas e econômicos nas partes leste e sul do império.
Subjacente à prosperidade da antiga dinastia Tang havia uma forte burocracia centralizada com políticas eficientes. O governo foi organizado como "Três Departamentos e Seis Ministérios" para elaborar, revisar e implementar políticas separadamente. Esses departamentos eram dirigidos por membros da família imperial, bem como funcionários acadêmicos selecionados por exames imperiais. Essas práticas, que amadureceram na dinastia Tang, foram continuadas pelas dinastias posteriores, com algumas modificações.
Sob o "sistema de campo igual" todas as terras eram de propriedade do Imperador e concedidas a pessoas de acordo com o tamanho da casa. Os homens que receberam terras foram recrutados para o serviço militar por um período fixo a cada ano, uma política militar conhecida como "sistema Fubing". Essas políticas estimularam um rápido crescimento da produtividade e um exército significativo sem muita carga para o tesouro do estado. No ponto médio da dinastia, no entanto, os exércitos permanentes haviam substituído o recrutamento, e a terra caía continuamente nas mãos de proprietários privados
A dinastia continuou a florescer sob o domínio da imperatriz Wu Zetian, a única imperatriz reinante na história chinesa, e atingiu o seu apogeu durante o longo reinado do imperador Xuanzong, que supervisionou um império que se estendia do Pacífico ao Mar de Aral com pelo menos 50 Milhões de pessoas. Havia criações artísticas e culturais vibrantes, incluindo obras dos maiores poetas chineses, Li Bai e Du Fu.
A partir de cerca de 860, a Dinastia Tang começou a declinar, devido a uma série de rebeliões internas e de revoltas de Estados clientes. Um chefe guerreiro, Huang Chao, capturou Guangzhou em 879 e executou a maioria dos seus habitantes. Em 880, Luoyang caiu-lhe nas mãos e, em 881, Changan. O Imperador Xizong fugiu para Chengdu e Huang estabeleceu um governo que, embora posteriormente destruído por forças Tangs, lançou o país num novo período de caos político.
A maioria dos chineses considera a dinastia Tang (618-907) como o ponto alto da China Medieval, tanto política como culturalmente. O império atingiu seu tamanho máximo antes da dinastia manchu Qing, tornando-se o centro de um mundo do Leste Asiático ligado por religião, escrita e muitas instituições econômicas e políticas. Além disso, os escritores Tang produzem a melhor poesia na grande tradição lírica da China.
Cinco dinastias e dez reinos
Ao interregno entre a Dinastia Tang e a Dinastia Sung, caracterizado pela fragmentação política, dá-se o nome de Período das Cinco Dinastias e dos Dez Reinos. Com duração de pouco mais de meio século, entre 907 e 960, esta fase histórica viu a China tornar-se uma pluralidade de estados. Cinco dinastias (a saber, Liang, Tang, Jin, Han e Zhou) sucederam-se rapidamente no controle do tradicional coração territorial do país, no norte, enquanto que dez regimes mais estáveis ocupavam porções do sul e do oeste da China.
Em meio ao caos político no norte, as dezesseis prefeituras estratégicas (região ao longo da Grande Muralha de hoje) foram cedidas à emergente dinastia Liao, que enfraqueceu drasticamente a defesa da China contra os impérios nômades do norte. Ao sul, o Vietnã conquistou uma independência duradoura depois de ser uma prefeitura chinesa por muitos séculos. Com as guerras dominando o norte da China, houve migrações em massa para o sul do país, o que aumentou ainda mais a mudança para o sul dos centros culturais e econômicos na China. A era terminou com o golpe de Zhao Kuangyin, general dos Zhou, e o estabelecimento da dinastia Song em 960, que acabou aniquilando os restos dos "Dez Reinos" e reunificou a China.
Divisão política: os Liaos, os Sungs, os Xias Ocidentais e os Jins
Em 960, a Dinastia Sung (família Zhao) (960–1279) logrou controlar a maior parte da China e escolheu Kaifeng para sua capital, dando início a um período de prosperidade econômica, enquanto que a Dinastia Liao (família Yelu) dos quitais governava a Manchúria e a Mongólia, Enquanto isso, no que hoje são as províncias de Gansu, Shaanxi e Ningxia, no noroeste do país, as tribos Tangut fundaram a dinastia Xia Ocidental (família Lǐ) de 1032 a 1227. Em 1115, subiu ao poder a Dinastia Jin (1115-1234) (família Waynan), do povo jurchen e, em dez anos, aniquilou a Dinastia Liao. Tomou a China setentrional e Kaifeng das mãos da Dinastia Sung, forçando-a a transferir sua capital para Hangzhou e a reconhecer os Jins como soberanos. A China encontrava-se, então, dividida entre a Dinastia Jin, ao norte, a Dinastia Sung Meridional, ao sul e os Xias Ocidentais, a oeste. Os sungs meridionais passaram por um período de grande desenvolvimento tecnológico, possivelmente devido, em parte, à pressão militar que sofriam na sua fronteira setentrional.
A economia Song, facilitada pelo avanço da tecnologia, atingiu um nível de sofisticação provavelmente nunca visto na história mundial antes de sua época. A população aumentou para mais de 100 milhões e os padrões de vida das pessoas comuns melhoraram tremendamente devido a melhorias no cultivo de arroz e à ampla disponibilidade de carvão para a produção. As capitais de Kaifeng e, posteriormente, Hangzhou foram as cidades mais populosas do mundo para o seu tempo, e encorajaram sociedades civis vibrantes, incomparáveis com dinastias chinesas anteriores. Embora as rotas de comércio terrestres para o extremo oeste fossem bloqueadas por impérios nômades, havia um extenso comércio marítimo com os estados vizinhos, o que facilitou o uso da moeda Song como moeda de troca. Navios de madeira gigantes equipados com bússolas viajavam pelos mares da China e pelo norte do Oceano Índico. O conceito de seguro era praticado pelos comerciantes para cobrir os riscos de tais embarques marítimos de longa distância. Com prósperas atividades econômicas, a primeira utilização histórica do papel-moeda surgiu na cidade de Chengdu, no oeste, como um complemento às moedas de cobre existentes.
A dinastia Song também foi um período de grande inovação na história da guerra. A pólvora, embora tenha sido inventada na dinastia Tang, foi usada pela primeira vez em campos de batalha pelo exército Song, inspirando uma sucessão de novos projetos de armas de fogo e motores de cerco. Durante a dinastia Song do Sul, como sua sobrevivência dependia decisivamente da proteção do rio Yangtze e Huai contra as forças de cavalaria do norte, a primeira marinha da China foi montada em 1132, com a sede do almirante estabelecida em Dinghai. Navios de guerra com rodas de pás podiam lançar bombas incendiárias feitas de pólvora e cal, como registrado na vitória de Song sobre as forças invasoras Jin na Batalha de Tangdao no Mar da China Oriental, e a Batalha de Caishi no Rio Yangtze em 1161.
Os avanços na civilização durante a dinastia Song chegaram a um fim abrupto após a devastadora conquista mongol, durante a qual a população diminuiu drasticamente, com uma contração acentuada da economia.
Os mongóis e a Dinastia Yuan
O Império Jin foi derrotado pelos mongóis, que em seguida subjugaram os sungs meridionais ao cabo de uma guerra longa e cruenta, a primeira na qual as armas de fogo desempenharam um papel importante. Com isto, a China foi mais uma vez unificada, mas agora como parte de um vasto Império Mongol. Neste período, Marco Polo visitou a corte imperial em Pequim. Os mongóis dividiam-se então entre os que preferiam manter sua base nas estepes e aqueles que desejavam adotar os costumes dos chineses hans. Um destes era Cublai Cã, neto de Gêngis Cã e fundador da Dinastia Yuan (clã Borjiguim), a primeira a governar toda a China a partir de Pequim.
A dinastia também controlava diretamente o coração da Mongólia e outras regiões, herdando a maior parte do território do dividido Império Mongol, que aproximadamente coincidia com a área moderna da China e regiões próximas no leste da Ásia. A expansão posterior do império foi interrompida após derrotas nas invasões do Japão e do Vietnã. Pela primeira e única vez na história, a Rota da Seda foi controlada inteiramente por um único estado, facilitando o fluxo de pessoas, comércio e intercâmbio cultural. Rede de estradas e um sistema postal foram estabelecidos para conectar o vasto império. O comércio marítimo lucrativo, desenvolvido a partir da dinastia Song anterior, continuou a florescer, com Quanzhou e Hangzhou emergindo como os maiores portos do mundo. A dinastia Yuan foi a primeira economia antiga, onde o papel-moeda, conhecido na época como Chao, era usado como meio de troca predominante. Sua emissão irrestrita no final da dinastia Yuan infligiu hiperinflação, que acabou provocando a queda da dinastia.
Os governantes mongóis posicionaram todos os mongóis no extrato superior da sociedade, conferindo-lhes isenção de impostos e direitos de propriedade. Em seguida vinham os funcionários públicos. Kublai Khan havia abolido a tradição do concurso público para a seleção de chineses para compor o corpo burocrático do Império. A decisão de abolir os concursos teve consequências sociais a longo prazo. Até então, muitos jovens de famílias abastadas esforçavam-se para passar nesses exames, para ter uma vida cômoda na administração. Com a abolição dos concursos, estes jovens passaram a procurar outras saídas profissionais, resultando no crescimento do número de professores e de médicos, por exemplo. Ademais, a supressão dos exames também teve repercussões a nível linguístico. Ao não haver os concursos, deixaram de estudar os textos clássicos, e com isso declinou o conhecimento do chinês clássico, fazendo crescer o uso da língua vernácula como meio escrito.
A ineficiência dos mongóis em operar a máquina administrativa de uma civilização tão antiga e complexa fez com que os mongóis importassem, principalmente, turcos e persas para compor a burocracia imperial, e estes estrangeiros, conhecidos como "os de olhos coloridos", compunham a segunda classe social mais importante. Os chineses nativos, a grande maioria da população, encontravam-se nas classes mais baixas.
Durante toda a dinastia Yuan, houve algum sentimento geral entre a população contra o domínio mongol. Os fracassados programas econômicos que geraram um esvaziamento do tesouro imperial, aliado às rixas entre os sucessores do Imperador (invariavelmente homens fracos e de competência administrativa duvidosa), assim como a situação servil do povo chinês em suas próprias terras foram o rastilho para o surgimento dos movimentos nacionalistas durante a primeira metade do Século XIV. No entanto, em vez da causa nacionalista, foram principalmente as catástrofes naturais e a governação incompetente que desencadearam revoltas camponesas generalizadas desde a década de 1340. Após o massivo envolvimento naval no Lago Poyang, Zhu Yuanzhang prevaleceu sobre outras forças rebeldes no sul. Ele proclamou-se imperador e fundou a dinastia Ming em 1368. No mesmo ano, seu exército de expedição do norte capturou a capital Khanbaliq. Os remanescentes de Yuan fugiram de volta para a Mongólia onde continuaram a reinar.
Dinastia Ming: nova hegemonia dos hans
O forte sentimento popular hostil ao governo "estrangeiro" levou a rebeliões camponesas que terminaram por repelir os mongóis de volta às estepes e a instituir a Dinastia Ming em 1368.
Durante o governo mongol, a população havia sido reduzida em 30 por cento, para um total estimado em 60 milhões de pessoas (no século XIV, a China sofreu com epidemias de peste negra, estima-se que matou 25 milhões de pessoas, 30% da população da China). Dois séculos depois, a população dobrara de tamanho, o que deu causa a uma maior urbanização e à maior complexidade da divisão do trabalho. Surgiram pequenas indústrias, dedicadas à produção de papel, seda, algodão e porcelana, em especial em grandes centros urbanos como Pequim e Nanquim. Prevaleciam, porém, as pequenas cidades com mercados que comerciavam principalmente comida mas também alguns itens manufaturados, como alfinetes e azeite.
Apesar da xenofobia e da introspecção intelectual característica do neo-confucionismo, uma escola crescentemente popular, a China do início da Dinastia Ming não se isolara. O comércio exterior e outros contatos com o mundo externo, em especial com o Japão, cresceram bastante. Mercadores chineses exploraram todo o Oceano Índico e atingiram a África Oriental com as viagens de Zheng He.
Zhu Yuanzhang (ou Hongwu), fundador da Dinastia Ming (família Zhu), lançou as bases de um Estado menos interessado em comércio do que em extrair recursos do setor agrícola. Talvez devido ao passado camponês do imperador, o sistema econômico ming enfatizava a agricultura, ao contrário do que fizeram as Dinastias Sung e Mongol, cujas finanças se baseavam no comércio. As grandes propriedades rurais foram confiscadas pelo governo, divididas e arrendadas. Proibiu-se a escravidão privada, o que fez com que os camponeses com a posse da terra predominassem na agricultura, após a morte do Imperador Yongle. Tais políticas permitiram aliviar a pobreza causada pelos regimes anteriores.
A dinastia possuía um governo central forte e complexo que unificou o império. O papel do imperador passou a ser mais autocrático, embora Zhu Yuanzhang precisasse lançar mão dos chamados "Grandes Secretários" para auxiliá-lo a lidar com a enorme burocracia, a qual mais tarde causaria o declínio da dinastia, por impedir o governo de se adaptar às mudanças sociais.
O Imperador Yongle procurou ampliar a influência da China além de suas fronteiras, ao exigir que outros governantes lhe enviassem embaixadores para pagar tributo. Construiu-se uma grande marinha, inclusive navios de quatro mastros com deslocamento de 1 500 t. Criou-se um exército regular de um milhão de homens. As forças chinesas conquistaram parte do que é hoje o Vietnã, enquanto que a frota imperial navegava pelos mares da China e o Oceano Índico, chegando até a costa oriental da África. Os chineses estenderam sua influência até o Turquestão. Diversas nações asiáticas pagaram tributo ao imperador. Internamente, o Grande Canal foi ampliado, com impacto positivo sobre o comércio. Produziam-se mais de t de ferro por ano. Imprimiam-se livros com o uso da tipografia. O palácio imperial da Cidade Proibida atingiu então ao seu atual esplendor. Durante as dinastias Ming o mosquete com fecho de mecha era usado na China. Os chineses usavam o termo "arma de pássaro" para se referir aos mosquetes. Enfim, o período Ming parece ter sido um dos mais prósperos para a China. Também foi naquela época que o potencial do sul da China veio a ser totalmente explorado.
O período Ming testemunhou a última ampliação da Grande Muralha da China.
Dinastia Qing: Domínio Manchu
A Dinastia Qing (clã Aisin Gioro) (1644–1911) foi fundada após a derrota dos Mings, a última dinastia han chinesa, pelas mãos dos manchus. Estes, anteriormente conhecidos como jurchens, invadiram a China a partir do norte no final do século XVII. Embora os manchus fossem conquistadores estrangeiros, adotaram rapidamente as tradicionais regras de governo confucianas e terminaram por governar na mesma linha das dinastias nativas anteriores.
O sistema de governo seguia os princípios da monarquia absoluta. O imperador tinha o poder supremo em todas as coisas temporais e espirituais, mas seu autoritarismo era consideravelmente limitado pelos ministros e outros funcionários da alta de hierarquia que de fato dirigiam o Estado. Pessoa do imperador era sagrada e inviolável. O imperador promulgava as leis, sem entretanto legislar pois todas propostas eram feitas por seus ministros.
Os manchus obrigaram os hans a adotar o seu estilo de penteado e de vestimenta, sob pena de morte.
O Imperador Kangxi ordenou a criação do mais completo dicionário de caracteres chineses até então. Durante o reinado do Imperador Qianlong, compilou-se um catálogo das obras mais importantes sobre cultura chinesa.
Para evitar uma assimilação completa pela sociedade chinesa, os manchus estabeleceram um sistema de "oito estandartes" (ou "bandeiras"), divisões administrativas - oriundas de tradições militares manchus - nas quais as famílias manchus se distribuíam. Os manchus na China empregavam a sua própria língua, mantinham suas tradições, como o tiro com arco e o hipismo, e detinham privilégios econômicos e legais nas cidades chinesas. Os manchus não podiam empreender comércio ou trabalho manual; eles tinham que pedir para serem removidos do status da bandeira. Eles eram considerados uma forma de nobreza e recebiam tratamento preferencial em termos de pensões anuais, terras e loteamentos de roupas.
Entre 1673 e 1681, o Imperador Kangxi suprimiu a Revolta dos Três Feudatórios, uma revolta de três generais no sul da China a quem foi negado o domínio hereditário de grandes feudos concedidos pelo imperador anterior. Em 1683, os Qing realizaram um ataque anfíbio ao sul de Taiwan, derrubando o rebelde Reino de Tungning, que foi fundado em 1662 pelo lealista Ming Koxinga (Zheng Chenggong), após a queda da Dinastia Ming, e que servia como base para o conflito de resistência contínua Ming no sul da China. Os Qing derrotaram os russos em Albazin, resultando no Tratado de Nerchinsk.
Ao longo do meio século seguinte, dominaram completamente o território antes pertencente aos Mings e conquistaram Xinjiang, o Tibete e a Mongólia.
Durante a dinastia Qing, culturas alimentares estrangeiras, como a batata, foram introduzidas durante o século XVIII em larga escala. Estas culturas, juntamente com a paz generalizada do século 18, encorajou um aumento dramático na população, de aproximadamente 150-200 milhões durante os Ming para mais de 400 milhões durante os Qing. Durante o século XVIII, os mercados continuaram a se expandir como no final do período Ming. Para dar às pessoas mais incentivos para participar do mercado, os Qing reduziram a carga tributária em comparação com os Ming tardios e substituíram o sistema Corvée por um imposto principal usado para contratar trabalhadores. A China continuou a exportar chá, seda e manufaturas, criando uma grande balança comercial favorável com o Ocidente.
Revertendo uma das tendências do Mings, o governo Qing interferiu muito na economia. O monopólio do sal foi restaurado e se tornou uma das maiores fontes de receita para o estado. Os funcionários da dinastia Qing tentaram desencorajar o cultivo de culturas de rendimento a favor dos cereais. Desconfiados do poder dos comerciantes ricos, os governantes Qing limitavam suas licenças comerciais e geralmente lhes recusavam permissão para abrir novas minas, exceto em áreas pobres. As corporações mercantis proliferaram em todas as cidades chinesas em crescimento e freqüentemente adquiriram grande influência social e até mesmo política. Mercadores ricos com conexões oficiais construíram enormes fortunas e patrocinaram a literatura, o teatro e as artes. Produção de tecidos e artesanato cresceu.
No final do século XVIII a China dominava mais de um terço da população mundial, possuía a maior economia do mundo e, por área, era um dos maiores impérios de todos os tempos. Porém após a morte do imperador Qianlong a economia chinesa começou a declinar devido a corrupção e desperdício em sua corte e a uma sociedade civil estagnada.
O século XIX testemunhou o enfraquecimento do governo Qing, em meio a grandes conflitos sociais, estagnação econômica e influência e ingerência ocidentais. O interesse britânico em continuar o comércio de ópio com a China colidiu com éditos imperiais que baniam aquela droga viciante, o que levou à Primeira Guerra do Ópio, em 1840. O Reino Unido e outras potências ocidentais, inclusive os Estados Unidos, ocuparam "concessões" à força e ganharam privilégios comerciais. Hong Kong foi cedida aos britânicos em 1842 pelo Tratado de Nanquim. Também ocorreram naquele século a Rebelião Taiping (1851–1864) e o Levante dos Boxers (1899–1901). Em muitos aspectos, as rebeliões e os tratados que os Qings se viram forçados a assinar com potências imperialistas são sintomáticos da incapacidade do governo chinês em reagir adequadamente aos desafios que enfrentava a China no século XIX. Para se ter ideia da estagnação tecnológica da China (o país inventor da pólvora), armas de fecho de mecha ainda estavam sendo usadas por soldados do exército imperial em meados do século XIX, enquanto os europeus já haviam abandonado esta tecnologia em favor da pederneira e estavam começando a utilizar a tecnologia do mecanismo de percussão, com o advento dos cartuchos.
O sistema de estandartes que os Qings haviam confiado por tanto tempo fracassou: as forças imperiais não conseguiram reprimir os rebeldes e o governo convocou autoridades locais nas províncias, que levantaram "Novos Exércitos" (com treinamento e equipamento militar em estilo ocidental), que esmagaram com sucesso os desafios à autoridade Qing. A China Imperial jamais reconstruiu um forte exército central, situação que persistiu após a proclamação da república e até meados do século XX. Muitas autoridades locais tornaram-se senhores da guerra que usavam o poder militar para governar de maneira independente em suas províncias.
A Renda per capita chinesa caiu implacavelmente durante a dinastia Qing. Em 1620, era aproximadamente a mesma de 980. Em 1840, havia caído quase um terço.
O declínio da monarquia
As duas Guerras do Ópio e o tráfico daquela droga foram custosos para a Dinastia Qing e o povo chinês. O tesouro imperial quebrou duas vezes, por conta do pagamento de indenizações devidas às guerras e à grande evasão de prata causada pelo tráfico de ópio. A China sofreu duas fomes extremas vinte anos após cada uma das Guerras do Ópio nos anos 1860 e 1880, quando a Dinastia Qing se mostrou incapaz de acudir a população. Tais eventos tiveram um profundo impacto ao desafiar a hegemonia de que os chineses gozavam na Ásia há séculos e mergulharam o país no caos.
Uma vasta revolta, a Rebelião Taiping, fez com que cerca de um-terço do país passasse ao controle de um movimento religioso pseudo-cristão chefiado pelo "Rei Celestial" Hong Xiuquan. Somente ao cabo de catorze anos é que as forças qings lograram destruir o movimento, em 1864. Estima-se que a rebelião teria causado entre vinte e cinquenta milhões de mortos.
Os líderes qing suspeitavam da modernidade e dos avanços sociais e tecnológicos, que viam como ameaças ao seu controle absoluto sobre a China. Por exemplo, a pólvora, que havia sido largamente empregada pelos exércitos das Dinastias Sung e Ming, fora proibida pelos qings ao assumirem o controle do país. Por este e outros motivos, a dinastia encontrava-se despreparada para lidar com as invasões ocidentais. As potências ocidentais intervieram militarmente para reprimir o caos doméstico, como nos casos da Rebelião Taiping e do Levante dos Boxers.
Nos anos 1860, a Dinastia Qing logrou sufocar revoltas, com enorme custo e perda de vidas. Isto minou a credibilidade do regime qing e contribuiu para o surgimento de senhores da guerra locais. O Imperador Guangxu procurou lidar com a necessidade de modernizar o país por meio do Movimento de Auto-Fortalecimento. O objetivo era modernizar o império, com ênfase primordial no fortalecimento das forças armadas. No entanto, a reforma foi minada por funcionários corruptos, cinismo e brigas dentro da família imperial. A partir de 1898, a Imperatriz regente Cixi manteve Guangxu preso sob a alegação de "deficiência mental", após um golpe militar por ela orquestrado com o apoio da facção conservadora, contrária às reformas. Guangxu faleceu um dia antes da imperatriz regente (segundo alguns, por ela envenenado). Os "novos exércitos" qings (treinados e equipados conforme o modelo ocidental) foram fragorosamente derrotados na Guerra Sino-Francesa (1883–1885) e na Guerra Sino-Japonesa (1894–1895).
No início do século XX, o Levante dos Boxers, um movimento conservador antiimperialista que pretendia fazer o país regressar a um estilo de vida tradicional, ameaçou o norte da China. A imperatriz regente, provavelmente com o fito de garantir o seu controle sobre o governo, apoiou os boxers quando estes avançaram sobre Pequim. Em reação, a chamada Aliança dos Oito Estados invadiu a China. Composta de tropas britânicas, japonesas, russas, italianas, alemãs, francesas, norte-americanas e austro-húngaras, a aliança derrotou os boxers e exigiu mais concessões do governo qing.
Muitos setores da "classe média" chinesa eram a favor de uma necessidade de reformas políticas que permitissem à China conseguir o desenvolvimento econômico e social que havia atingido as potências ocidentais e o Japão. O Japão havia conseguido um desenvolvimento econômico destacado após a restauração Meiji, e muitos intelectuais chineses defendiam a necessidade de que a dinastia Qing, empreendesse também reformas necessárias para se atingir um modelo de monarquia constitucional, mantendo-se assim a tradição imperial e, ao mesmo tempo, adotando um sistema político moderno, imprescindível para que a China pudesse acompanhar as revoluções industrial e tecnológica, saindo, dessa forma, de seu estado relativamente atrasado. Frente à estas correntes, outros reformadores mais radicais propunham, inclusive, a necessidade de destronar a dinastia Qing, vista por muitos como uma dinastia "estrangeira", devido à sua origem manchu, e proclamar uma república
A República da China
Frustrados com a resistência da corte qing em reformar o país e a fraqueza da China, jovens funcionários, oficiais militares e estudantes - inspirados nas ideias revolucionárias de Sun Yat-sen - começaram a defender a derrubada da Dinastia Qing e a proclamação da república. Um levante militar, conhecido como Levante Wuchang, iniciou-se em 10 de outubro de 1911 em Wuhan, e levou à formação de um governo provisório da República da China em Nanquim, em 12 de março de 1912. Sun Yat-sen foi o primeiro a assumir a presidência, mas viu-se forçado a entregar o poder a Yuan Shikai, que comandara o Novo Exército (tropas chinesas treinadas e equipadas à maneira ocidental) e fora primeiro-ministro durante a era qing, como parte do acordo para a abdicação do último monarca da dinastia. Nos anos seguintes, Shikai aboliu as assembleias nacional e Provinciais e declarou-se imperador em 1915. Suas ambições imperiais encontraram forte oposição por parte de seus subordinados, de modo que terminou por abdicar, morrendo em 1916 e deixando um vácuo de poder na China. Com o governo republicano em frangalhos, o país passou a ser administrado por coligações variáveis de chefes militares provinciais.
Um evento pouco notado, ocorrido em 1919 - o Movimento do Quatro de Maio -, haveria de ter repercussões a longo prazo para o restante da história da China no século XX. O movimento teve início como uma resposta ao que teria sido um insulto imposto à China pelo Tratado de Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra Mundial, mas tornou-se um movimento de protesto contra a situação interna do país. Entre os intelectuais chineses, a adoção de ideias mais radicais seguiu-se ao descrédito da filosofia liberal ocidental, o que resultaria no conflito irreconciliável entre a esquerda e a direita na China que dominaria a história do país pelo restante do século.
Nos anos 1920, Sun Yat-sen estabeleceu uma base revolucionária no sul da China e lançou-se à unificação de seu fragmentado país. Com auxílio da União Soviética (recém estabelecida por Vladimir Lenin), ele aliou-se ao Partido Comunista da China (PCC). Após a sua morte por câncer em 1925, um de seus protegidos, Chiang Kai-shek, assumiu o controle do direitista Kuomintang (Partido Nacionalista, ou KMT) e logrou reunir sob seu governo a maior parte do sul e do centro da China numa campanha militar conhecida como a Expedição do Norte. Após derrotar os líderes militares daquelas regiões, Chiang obteve a fidelidade nominal dos líderes do norte. Em 1927, voltou-se contra o PCC e expulsou os exércitos comunistas e seus chefes de suas bases no sul e no leste da China. Em 1934, as tropas do PCC empreenderam a Longa Marcha, através da região mais inóspita da China a noroeste, onde estabeleceram uma base guerrilheira em Yan'an, na província de Shanxi.Durante a Longa Marcha, os comunistas reorganizaram-se sob um novo chefe, Mao Tse-tung.
Assim como Mao, Chiang Kai-shek é considerado uma figura controversa. Seus apoiadores o creditam por ter desempenhado um grande papel durante a vitória dos Aliados da Segunda Guerra Mundial e ter unificado a nação, sendo também um símbolo nacional e uma figura importante na resistência contra os japoneses, os soviéticos e comunistas. Detratores e críticos o denunciam como um ditador, um autocrata autoritário que reprimiu e expurgou seus opositores a todo o custo, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos a todos que não apoiavam o Kuomintang e outros.
O conflito entre o KMT e o PCC continuou, aberta ou clandestinamente, ao longo dos catorze anos da invasão japonesa, apesar da aliança nominal entre ambos os partidos para opor-se aos japoneses em 1937. As forças japonesas cometeram numerosas atrocidades de guerra contra a população civil, incluindo guerra biológica (ver Unidade 731) e a Política dos Três Todos (Sankō Sakusen), sendo os três todos: "Matem Todos, Queimem Todos e Saquem Todos". A guerra civil chinesa continuou após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial em 1945, após tentativas fracassadas de reconciliação e de solução negociada entre o KMT e o PCC. Em 1949, o PCC já ocupava a maior parte do país.
Westad diz que os comunistas venceram a Guerra Civil porque cometeram menos erros militares do que Chiang, e porque em sua busca por um poderoso governo centralizado, Chiang antagonizou muitos grupos de interesse na China. Além disso, seu partido foi enfraquecido na guerra contra os japoneses. Enquanto isso, os comunistas disseram a diferentes grupos, como os camponeses, exatamente o que eles queriam ouvir, e se cobriram na capa do nacionalismo chinês. Durante a guerra civil, tanto os nacionalistas quanto os comunistas realizaram atrocidades em massa, com milhões de não-combatentes mortos por ambos os lados.Estes incluíram mortes por recrutamento forçado e massacres.
Chiang Kai-shek refugiou-se, com o resto de seu governo, em Taiwan, onde declarou Taipé a capital provisória da República da China. O governo de Chiang em Taiwan foi ditatorial, ele impôs a lei marcial e perseguiu todos os socialistas, críticos e opositores do seu regime na ilha no que ficou conhecido como "Terror Branco". Após evacuar para Taiwan, o governo de Chiang e seus apoiadores continuaram a declarar sua intenção de, um dia, retomar a China dos comunistas. Chiang Kai-shek faleceu em 1975 (um ano antes da morte de seu rival Mao) e foi sucedido pelo filho, Chiang Ching-kuo, que iniciou uma política de liberalização. Em 1977, foi abolida a lei marcial (em vigor desde 1946) e autorizado o funcionamento de outros partidos. A morte de Chiang Ching-kuo, em 1988, acelerou a abertura do regime, sob o comando de Lee Teng-hui. O Kuomintang venceu as eleições de 1992, as primeiras com a participação da oposição. Taiwan é uma democracia semipresidencialista e com sufrágio universal desde o final da década de 1980.
A Era dos Senhores da Guerra e Guerra Civil acelerou o declínio da economia chinesa, que rapidamente declinou em comparação com o produto interno bruto mundial. Embora o padrão de vida dessa era fosse baixo, a taxa de numeramento da população chinesa - um índice que mede as habilidades numéricas de uma sociedade e mostra uma forte correlação com o desenvolvimento econômico posterior - era comparável àquelas dos países do noroeste da Europa e, portanto, entre o mais alto do mundo. A diferença entre o potencial do capital humano do povo chinês e o comparativamente baixo padrão de vida enfatiza o impacto negativo dessa era política e social instável sobre a economia chinesa e também fornece uma explicação para o crescimento econômico explosivo que aparece sempre que a China desfruta de um período de paz interior.
A China do presente
Com a proclamação da República Popular da China (RPC) em 1 de outubro de 1949, o país viu-se novamente dividido entre a RPC, no continente, e a República da China (RC), em Taiwan e outras ilhas. Cada uma das partes se considera o único governo legítimo da China e denuncia o outro como ilegítimo.
A RPC foi moldado por uma série de campanhas e planos de cinco anos. O plano econômico e social conhecido como Grande Salto Adiante foi um fracasso e causou uma estimativa de 45 milhões de mortes (Grande Fome Chinesa). O governo de Mao realizou execuções em massa de proprietários de terras, instituiu a coletivização e implementou o sistema de campos de Laogai. Execução, mortes por trabalho forçado e outras atrocidades resultaram em milhões de mortes sob Mao. Em 1966, Mao e seus aliados lançaram a Revolução Cultural, que continuou até a morte de Mao, uma década depois. A Revolução Cultural, motivada pelas lutas pelo poder dentro do Partido e pelo medo da União Soviética, levou a uma grande reviravolta na sociedade chinesa.
Os alvos da Revolução eram membros do partido mais alinhados com o Ocidente ou com a União Soviética, funcionários burocratas, e, sobretudo, intelectuais (anti-intelectualismo). Como na intelectualidade se encontravam alguns dos potenciais inimigos da revolução, o ensino superior foi praticamente desativado no país durante a revolução. Foi neste período que se alavancou a produção e distribuição de O Livro Vermelho, a coletânea de citações de Mao que exaltam sua ideologia e professam uma forma de culto à sua personalidade
Em 1972, no auge da ruptura sino-soviética, Mao e Zhou Enlai encontraram-se com o presidente dos EUA, Richard Nixon, em Pequim, para estabelecer relações com os Estados Unidos. No mesmo ano, a RPC foi admitida nas Nações Unidas no lugar da República da China, com filiação permanente ao Conselho de Segurança da ONU.
Uma luta pelo poder seguiu a morte de Mao em 1976. A Camarilha dos Quatro foi presa e culpada pelos excessos da Revolução Cultural, marcando o fim de uma turbulenta era política na China. Deng Xiaoping superou o presidente sucessor de Mao, Hua Guofeng, e gradualmente emergiu como líder de fato nos próximos anos.
Deng Xiaoping foi o líder supremo da China de 1978 a 1992, embora nunca tenha se tornado o chefe do partido ou estado, e sua influência dentro do Partido levou o país a reformas econômicas significativas. O Partido Comunista, em seguida, afrouxou o controle governamental sobre as vidas pessoais dos cidadãos e as comunas foram desmanteladas com muitos camponeses que receberam vários arrendamentos de terra, o que aumentou muito os incentivos e a produção agrícola. Além disso, havia muitas áreas de livre mercado abertas. As áreas de livre mercado de maior sucesso foram Shenzhen. Está localizado em Guangdong e a área livre de impostos ainda existe hoje. Esta reviravolta marcou a transição da China de uma economia planificada para uma economia mista com um ambiente de mercado cada vez mais aberto, um sistema denominado por alguns como "socialismo de mercado" e oficialmente pelo Partido Comunista da China como "Socialismo com características chinesas". O PRC adotou sua constituição atual no dia 4 de dezembro de 1982.
Politicamente, o governo deixou de ser heterodoxamente comunista após a morte de Mao Zedong em 1976, apesar do Partido Comunista continuar no poder. Deng Xiaoping, mesmo não sendo o presidente de direito, foi de fato quem comandou a China durante a década de 1980. Em 1991 Jiang Zemin assumiu a presidência do país, governando até 2003, quando entregou o poder ao seu sucessor, Hu Jintao.
Em 1989, a morte do ex-secretário geral Hu Yaobang ajudou a desencadear os protestos na Praça Celestial naquele ano, durante os quais estudantes e outros fizeram campanha durante vários meses, denunciando a corrupção e a favor de uma reforma política maior, incluindo direitos democráticos e liberdade de expressão. No entanto, eles acabaram sendo derrubados em 4 de junho, quando as tropas e veículos do exército e entraram e forçaram a retirada da praça, com muitas fatalidades. Esse evento foi amplamente divulgado e trouxe condenação e sanções contra o governo em todo o mundo. Um incidente filmado envolvendo um um rebelde desconhecido foi visto em todo o mundo.
O secretário geral do PCC e presidente da RPC, Jiang Zemin, e o primeiro-ministro da China, Zhu Rongji, ambos ex-prefeitos de Xangai, lideraram a República Popular da China pós-Praça Celestial na década de 1990. Sob os dez anos de administração de Jiang e Zhu, o desempenho econômico da RPC retirou cerca de 150 milhões de camponeses da pobreza e sustentou uma taxa média anual de 11,2% de crescimento do produto interno bruto. O país aderiu formalmente à Organização Mundial do Comércio em 2001.
Desde os anos 1990, a RC tem procurado obter maior reconhecimento internacional, enquanto que a RPC se opõe veementemente a qualquer envolvimento internacional e insiste na "Política de uma China".
Xi Jinping assumiu o cargo de Presidente da China no dia 15 de março de 2013, sucedendo Hu Jintao, na principal sessão legislativa do Congresso Nacional Popular. Em 2013, anunciou a Iniciativa do Cinturão e Rota, um projeto de investimentos em projetos de infraestrutura em diversos países da Ásia, África e Europa, com o objetivo de aumentar a influência econômica da China. Em 2017, foi eleito pelo The Economist o homem mais poderoso do mundo. O conceito de "Sonho Chinês" de Xi Jinping, foi descrito como uma expressão de neo-nacionalismo. Sua forma de nacionalismo enfatiza o orgulho da histórica civilização chinesa, adotando os ensinamentos de Confúcio e de outros antigos sábios chineses, rejeitando assim a campanha anti-Confúcio de Mao Tsé-Tung.
Em 2018, o parlamento chinês aprovou o mandato vitalício a Xi Jinping.
Embora a RPC necessite de crescimento econômico para estimular seu desenvolvimento, o governo começou a se preocupar com o rápido crescimento econômico que estava degradando os recursos e o meio ambiente do país. Outra preocupação é que certos setores da sociedade não estão se beneficiando suficientemente do desenvolvimento econômico da RPC; Um exemplo disso é a grande diferença entre as áreas urbanas e rurais. Como resultado, segundo o ex-secretário geral do PCC e ex-presidente Hu Jintao e o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao, a RPC iniciou políticas para tratar de questões de distribuição equitativa de recursos, mas o resultado não era conhecido a partir de 2014. Mais de 40 milhões de agricultores foram deslocados de suas terras, geralmente para o desenvolvimento econômico, contribuindo para manifestações e tumultos em toda a China em 2005. Para grande parte da população da RPC, os padrões de vida melhoraram muito substancialmente e a liberdade aumentou, mas os controles políticos permaneceram apertados e as áreas rurais pobres.
Para a história da China após a Guerra Civil Chinesa, ver História da República Popular da China e História de Taiwan.
Ver também
Cronologia da história da China
Dinastias chinesas
História da ciência e tecnologia na China
História de Hong Kong
História de Macau
História de Taiwan
Revolução Chinesa
Controvérsia dos ritos na China
Ligações externas |
O ido é uma língua auxiliar, possivelmente a segunda língua construída mais usada do mundo atrás do esperanto, com o qual tem uma grande diferença no número de falantes. É uma versão restaurada do esperanto (idioma criado por L. L. Zamenhof) que em 1907 foi oficialmente escolhida pela Délégation pour l'Adoption d'une Langue Auxiliaire Internationale (Delegação para a Adoção de uma Língua Auxiliar Internacional) como o melhor projeto de língua internacional de todos os propostos até meados do século XX.
Foi considerada uma língua morta por uns anos, até que, pelo advento da Internet, a língua começou a renascer.
Diversas obras literárias foram publicadas e traduzidas para Ido, incluindo O Pequeno Príncipe, o Evangelho Segundo São Lucas, Pinóquio, Romeu e Julieta e O Guardador de Rebanhos. A partir do ano 2000, estima-se que havia aproximadamente de 100 a 200 falantes de ido no mundo.
Introdução
O ido apareceu pela primeira vez em 1907 como resultado de um desejo de reformar as falhas constatadas no esperanto, que seus defensores acreditavam ser um obstáculo na sua propagação como uma língua fácil de aprender. Muitos outros projetos de reforma apareceu depois do Ido, como por exemplo, o Novial mas caíram no esquecimento. Atualmente, o Ido, junto com o esperanto e Interlingua, são as únicas línguas auxiliares com algum peso na literatura e com uma base relativamente grande de falantes. O nome do idioma tem sua origem em I.D.O., acrônimo de Idiomo di Omni (idioma de todos) ou no sufixo '-ido' da palavra esperantido, que literalmente significa “descendente do esperanto”.
O ido usa as vinte e seis letras latinas utilizadas no alfabeto latino, sem sinais diacríticos. Sem deixar de ser simples e regular gramaticalmente falando, Ido assemelha-se as línguas românicas na aparência e à primeira vista. É, por vezes, confundido com o italiano ou espanhol. O ido é amplamente acessível aos falantes de esperanto, embora haja algumas diferenças na formação de gramática, vocabulário e algumas palavras de função gramatical diferente, ido é mais do que um projeto de reforma, é uma língua independente. Após o início, ganhou amplo apoio da comunidade esperantista que queria reformas no esperanto (estimativas falam de cerca de 20%). Mas desde então, com a morte repentina de um dos seus autores (Louis Couturat em 1914) o surgimento de dissidências com outras reformas, bem como a ignorância do Ido, era um candidato a língua internacional enfraquecido. O movimento idista não foi ativo até o surgimento da Internet, quando começou a recuperar a sua dinâmica anterior.
História
A ideia de uma segunda língua universal não é nova, e línguas artificiais não são um fenômeno recente. A primeira língua construída conhecida foi a Lingua Ignota, criada no século XII. Mas a ideia não cativou até o idioma Volapük ter sido criado em 1879. O Volapük foi muito popular durante algum tempo e aparentemente teve alguns milhares de usuários, mas foi posteriormente eclipsado pela popularidade do rsperanto, que surgiu em 1887. Várias outras línguas, como Latino sine flexione e Idiom Neutral também tinham sido apresentadas. Foi nessa época que o matemático francês Louis Couturat formou a Delegação para a Adoção de uma Língua Auxiliar Internacional.
Esta delegação fez um pedido formal à International Association of Academies (Associação Internacional das Academias) em Viena para selecionar e aprovar uma língua internacional; o pedido foi rejeitado maio de 1907. Da Delegação reuniu-se então como um comitê em Paris em outubro de 1907 para discutir a adoção de uma língua padrão internacional. O comitê concluiu que não havia nenhuma língua que atendia as expectativas, mas que o esperanto podia ser o mais aceito, devido à uma série de elementos que faziam dele uma língua aceitável, com algumas condições
A comunidade atual de falantes
A grande maioria dos falantes de ido conheceu o esperanto primeiro, então o percentual de idistas que sabem esperanto é muito maior do que o contrário. O maior número de concentração de falantes estão na Alemanha, França e Espanha, mas na verdade pode-se encontrar os fãs desta língua em quase 30 países dos cinco continentes, segundo a lista de pessoas que representam as organizações de ido em seus países que aparece atualizada em cada edição do órgão oficial da organização mundial idista.
Por se tratar de uma língua artificial, é extremamente difícil saber o número exato de falantes. Porém, estima-se que possa haver de 100 a 200 e a Internet tem permitido um renovado interesse nos últimos anos. Em comparação, o esperanto tem, pelo menos, centenas de milhares. O psicólogo aposentado Sidney S. Culbert, que liderou um estudo global, estimou que o número de falantes chega aos 2 milhões, mas muitos esperantistas não acreditam que este número seja real e é um pouco exagerado.
Agora, é imprescindível distinguir o números de falantes de ido, com o número de seguidores ou simpatizantes do idioma. Muitos esperantistas procuram aprender o ido mais como curiosidade, preferindo apoiar o movimento esperantista, por ser mais conhecido. É possível encontrar pela Internet fóruns trilingues Ido-Esperanto-Língua Mãe, em que diferentes interlocutores se comunicam quase sem problemas.
Vocabulário
O vocabulário do ido baseia-se em línguas indo-europeias. Durante a sua criação, as primeiras cinco mil raízes do ido foram analisadas e comparadas com o vocabulário inglês, francês, espanhol, alemão, russo e italiano e os resultados foram os seguintes:
2024 raízes, 38%, pertencem a 6 idiomas
942 raízes, 17%, pertencem a 5 idiomas
1111 raízes, 21%, pertencem a 4 idiomas
585 raízes, 11%, pertencem a 3 idiomas
454 raízes, 8%, pertencem a 2 idiomas
255 raízes, 5%, pertence a 1 idioma
total 5371 100%
Além disso, uma comparação do vocabulário das seis línguas do ido acima mostra os seguintes percentuais de similaridade:
francês 4880 - 91%
italiano 4454 - 83%
espanhol 4237 - 79%
inglês 4219 - 79%
alemão 3302 - 61%
russo 2821 - 52%
Isso faz com que o ido algumas vezes seja confundido a primeira vista com francês, italiano ou espanhol.
A tabela seguinte compara algumas palavras de ido com as línguas em que se fez referência acima. Pode-se notar a grande semelhança em alguns casos:
O vocabulário do ido é expandido com o acréscimo de prefixos e sufixos nas palavras existentes. Isto pode assumir e modificar palavras existentes para criar um neologismo e é entendido por toda a comunidade, sem ter que ser previamente explicado pelo seu criador.
Sistema de numeração
Grupos de números grandes em ido
Notas:
As centenas formam-se prefixando a palavra para cem (cent) com o seu algarismo multiplicador, seguido pela letra a, à exceção de cem mesmo: cent [100], duacent [200], triacent [300], quaracent [400], kinacent [500], sisacent [600], sepacent [700], okacent [800] e nonacent [900].
Os milhares formam-se como as centenas, isto é prefixando a palavra para mil (mil) com o seu algarismo multiplicador, seguido pela letra a, à exceção de mil mesmo: mil [1.000], duamil [2.000], triamil [3.000], quaramil [4.000], kinamil [5 000], sisamil [6.000], sepamil [7.000], okamil [800] e nonamil [9.000]. Os múltiplos de mil maiores formam-se da mesma maneira (exemplo: dekamil [10.000], centamil [100.000]).
Os nomes de escala seguem o princípio da escala numérica longa, na qual cada número maior do que um milhão é um milhão de vezes maior do que o seu antecessor, alternando os sufixos -ion e -ardo: un milion [1 milhão] (106), un miliardo [mil milhões] (109), un biliono [1 trilhão] (1012).
Exemplos do uso da língua ido
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Universal Deklaro di Homal Yuri, em ido)
La Princeto
Capítulo 17 de O Pequeno Príncipe; a conversa entre o príncipe e a serpente em sua chegada à Terra. O título da versão em ido é La Princeto.
CHAPITRO XVII
(...)
—Bona nokto ! — dicis la surprizata princeto.
—Bona nokto ! — dicis la serpento.
—Adsur qua planeto me falis ? — questionis la princeto —.
—Adsur Tero, sur Afrika. — respondis la serpento —.
—Ha !... Kad esas nulu sur Tero ?
—To esas la dezerto, e nulu esas sur la dezerti. Tero esas tre granda —dicis la serpento —.
La princeto sideskis sur stono e levis lua okuli a la cielo.
—Me questionas a me — lu dicis — ka la steli intence brilas por ke uladie singlu povez trovar sua stelo. Videz mea planeto, olu esas exakte super ni... ma tre fore !
—Olu esas bela planeto — dicis la serpento —. Por quo vu venis adhike ?
—Esas chagreneto inter floro e me — dicis la princeto.
—Ha ! — dicis la serpento.
E la du permanis silence.
— Ube esas la personi ? — klamis fine la princeto —. Onu esas kelke sola sur la dezerto...
— Inter la personi onu anke esas sola — dicis la serpento.
La princeto regardis la serpento longatempe.
—Vu esas stranja animalo ! — dicis la princeto —. Vu esas tam tenua kam fingro...
—Yes, ma me esas plu potenta kam fingro di rejo — dicis la serpento —.
La princeto ridetis.
—Me ne kredas ke vu esas tre potenta, mem vu ne havas pedi... nek vu povas voyajar...
—Me povas transportar vu plu fore kam navo — dicis la serpento —.
Ed olu spulis la maleolo di la princeto, same kam ora braceleto.
—Ta quan me tushas retroiras a la tero deube lu venis. Ma vu esas pura e vu venas de stelo...
La princeto nulon respondis.
—Me kompatas vu, qua esas tante sola sur ta harda granita Tero. Me povas helpar vu se vu sentas nostalgio a vua planeto. Me povas...
—Ho ! — dicis la princeto —. Me bone komprenis, ma pro quo vu sempre parolas enigmatoze ?
—Me solvas omna enigmati — dicis la serpento —.
E la du permanis silence.
Mea vido-cirklo (horizonto)
Tradução da música do poeta russo Alexandr Sukhanov, Yunna Morits.
Me nule savas la Angla, la Franca, la Greka,
Mea vid-cirklo do restas sat mikra e streta -
En mea vid-cirklo trovesas nur flori, arbori,
Nur tero e maro, aero, fairo, amoro.
Me nule savas la Dana e la Portugala,
Mea vid-cirklo restas sat infantala -
Nur joyi rapide pasant', bruligiva aflikto,
Nur esperi, e timi noktal' es en mea vid-cirklo.
Me savas nek la Sanskrito e nek la Latina,
Mea vid-cirklo es ancien-mod' quale tino
Nur morto e nasko homala, nur grani ed astri
Aden mea vid-cirklo penetras e standas sat mastre.
Mea savo artala esas fakultativa.
Mea vid-cirklo restas presk' primitiva -
En olu es nia afero intima, interna
Por ke kun homaro la Tero flugadez eterne.
Mea vid-cirklon restriktas nur timi, esperi,
En olu trovesas nur amo, nur maro e tero.
Aden mea vid-cirklo penetras e standas sat mastre
Nur morto e nasko homala, nur grani ed astri.
Pai-Nosso
Patro nia, qua esas en la cielo,
tua nomo santigesez;
tua regno advenez;
tua volo facesez quale en la cielo
tale anke sur la tero.
Donez a ni cadie l'omnadiala pano,
e pardonez a ni nia ofensi,
quale anke ni pardonas a nia ofensanti,
e ne duktez ni aden la tento,
ma liberigez ni del malajo.
Literatura e publicações
O ido tem algumas publicações de assinatura ou que podem ser baixadas da Internet gratuitamente na maioria dos casos. Quase todos os itens publicações atende os mais variados assuntos, e algumas páginas dedicadas à situação em que o movimento se encontra, bem como notícias relacionadas. Kuriero Internaciona é uma revista feita na França por mês. Adavane! é outra publicação editada a cada dois meses na Espanha pela Sociedad Española de Ido contendo uma série de artigos de interesse geral e sobre uma dúzia de páginas de livros traduzidos de outras línguas. Progreso é um órgão oficial do Movimento e sua voz oficial desde 1908.
A literatura atual em ido é muito pobre e apenas alguns livros são publicados a cada ano com poucas páginas. Há poucos leitores, escritores e tradutores, mas é esperado um aumento, embora um pouco lento, também pode crescer literatura em Ido.
Convenções Internacionais
2012: Dessau, Alemanha (Informações)
2011: Echternach, Luxemburgo (Informações)
2010: Tübingen, Alemanha (Informações)
2009: Tallin, Estónia (Informações)
2008: Wuppertal-Neviges, Alemanha, participantes de 5 países (Informações)
2007: Paris, França, 14 participantes de 9 países (Informações, Fotografias)
2006: Berlim, Alemanha; aproximadamente 25 participantes de 10 países (Raporto)
2005: Toulouse, França, 13 participantes de 4 países (Información)
2004: Kiev, Ucrânia, 17 participantes de 9 países (Información)
2003: Großbothen, Alemanha, participantes de 6 países (Informações)
2002: Cracóvia, Polónia, 14 participantes de 6 países (Raporto)
2001: Nuremberg, Alemanha, 14 participantes de 5 países (Informações)
1998: Białobrzegi, Polónia, 15 participantes de 6 países
1997: Bakkum (mun. Castricum), Países Baixos, 19 participantes de 7 países
1995: Elsnigk, Alemanha
1991: Ostend, Bélgica, 21 participantes
1980: Namur, Bélgica, 35 participantes
1960: Zurique, Suíça, ca. 50 participantes
Veja também
Esperanto
Interlingua
Bibliografia
Compendio Grammaticale della Lingua Internazionale Ido (Raiteri) Biella : Edizioni Martinero, 12 pagine, 1949
Beaufront, de Louis. (1925). Kompleta Gramatiko Detaloza di la linguo internaciona Ido otro sitio em HTML, también en HTML (en Ido)
Couturat, L. y L. Leau. Delegation pour l'adoption d'une Langue auxiliare internationale (15-24 ottobre 1907). Coulommiers: Imprimerie Paul Brodard, 1907
Jacob, Henry. A Planned Auxiliary Language (Dennis Dobson)
Jespersen, Otto. 1928. An International Language (George Allen et Unwin)
Harlow, Don. How to Build a Language
Nadal y de Quadras, Juan Luis de. 1965. Gramática del Idioma Mundial Ido
López, José Miguel. 2003. Kurso di la linguo Internaciona Ido la Hispana
Leituras adicionais
Página de la Unión para la Lengua Internacional Ido
Historia del Ido por Otto Jespersen
Otra historia del Ido
"How to Build a Language", de Don Harlow
"Ido: The Beginning" de Don Harlow
"Report to the World Esperanto Congress, 1908" de Emile Boirac acerca de sus experiencias como parte del Delegation's Committee
"The Truth About the Delegation in 1907", de Léopold Leau, basada en sus experiencias como miembro de la Delegación
Ligações externas
«Gonçalo Neves: Ciência, engenho e arte: manual da língua internacional Ido em 77 lições. Ilustrado; 1.180 notas em português, muitas delas detalhadas, onde se explicam 3.300 palavras, expressões e temas gramaticais; 48 lições com textos bilingues, 18 lições com textos apenas em Ido, 11 lições de revisão em português; 137 obras consultadas (dicionários, gramáticas, textos literários, artigos de periódicos, textos de blogues, etc.); 95 escritores, lexicógrafos, tradutores ou activistas idistas citados ou mencionados; inclui apontamentos etimológicos e comentários sobre arcaísmos, neologismos, licenças poéticas, etc. Espinho: Editerio Sudo 2022. xii + 452 p.»
→ Blog desatualizado.
Ido |
Imperialismo cultural é um conjunto de políticas que têm por objetivo ampliar a esfera de influência geopolítica de um país sobre outro (ou outros), impondo-lhe(s) a sua cultura.
Conceito
Herbert Schiller era professor da Universidade da Califórnia quando definiu um conceito de "imperialismo cultural". Segundo Schiller, imperialismo cultural é "o conjunto dos processos pelos quais uma sociedade é introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é levada, por fascínio, pressão, força ou corrupção, a moldar as instituições sociais para que correspondam aos valores e estruturas do centro dominante do sistema, ou ainda para lhes servir de promotor dos mesmos".
O termo "imperialismo" vem do latim e remete ao sentido de "ter o poder de mandar", o que implica uma dominação, um controle direto ou indireto sobre o outro. Essa ação de poder antagoniza os interesses sobre os quais incide e não pode ser vista apenas como um processo de dominação política e econômica de uma nação mais rica e poderosa sobre uma região ou um país mais pobre. Há também outra forma de dominação: o imperialismo cultural, ou seja, a imposição de valores, hábitos de consumo e influências culturais que se tornam uma espécie de padrão cultural a ser seguido pelo país dominado. Muitas vezes, o imperialismo cultural assume a forma de injetar a cultura ou a língua natural de uma nação em outra. Geralmente a primeira é uma grande potência militar ou economicamente poderosa nação. Imperialismo cultural pode se referir a uma política ativa e formal ou de uma atitude geral.
O termo é geralmente usado em um sentido pejorativo, juntamente com uma chamada de rejeição à influência estrangeira. Os impérios durante toda a história foram estabelecidos usando a guerra e o imperialismo militar. As populações conquistadas tenderam a ser absorvidas pela cultura dominante, ou adquirir seus atributos indiretamente. O imperialismo cultural é uma forma de influência cultural distinguida de outras pelo uso de força, tal como a militar ou econômica.
A influência cultural é um processo que sempre ocorre entre todas as culturas que têm contato uma com a outra. Por exemplo: as tradições musicais africanas influenciaram a música afro-americana, que, por sua vez, influenciou a música dos Estados Unidos - mas o imperialismo cultural não tem nada a ver com essa transmissão. Similarmente, a ascensão da popularidade da ioga indiana em nações ocidentais nunca dependeu de qualquer tipo de força. Do mesmo modo, os povos de estados, nações e culturas mais pobres ou menos poderosos adaptam frequente e livremente práticas e artefatos culturais de sociedades mais poderosas e mais ricas sem nenhuma força estar sendo necessariamente aplicada.
Quando os povos adotam livremente as práticas culturais de outros, o uso da frase pejorativa "imperialismo cultural" se torna problemático. Quando força é ausente da influência cultural, o uso do termo "imperialismo cultural" pode facilmente transformar-se uma tática de debate que envolve radicalismo, a xenofobia e o nacionalismo latentes - as respostas emocionais à influência cultural que é presente em todas as culturas que já tiveram contato com outras em algum período da história.
O cenário para o desenvolvimento dessa teoria é a percepção de um conflito internacional de categorias sociais, a existência de combate psicopolítico e a noção de hegemonia.
Capitalismo e cultura
Para compreender a relação entre cultura e imperialismo é necessário compreender a relação entre cultura e capitalismo, tendo em vista que a cultura é um elemento essencial para a propagação das relações capitalistas, sejam estas nacionais ou internacionais. Pois essas relações se reproduzem por meio de ideias, valores e doutrinas organizados pelo modo capitalista de produção.
Política cultural imperialista
A política cultural do imperialismo começou a se tornar hegemônica após a Segunda Guerra Mundial e se fundamenta em relações sociais econômicas e políticas baseadas na troca de mercadorias e relações de compra e venda relacionadas à propriedade privada. Seus objetivos centrais são produzir convicções nos grupos sociais.
Cultura dominada (Dominação Cultural)
A formação cultural dominada está voltada para aquelas culturas que tem poucas possibilidades de crescimento em relação à nação que a domina. Sendo assim, não dispõem de uma cultura própria e nem profissões habilitadas a levar adiante suas formas de formação, multiplicando-as e renovando-as.
Cultura dominante
Cultura dominante é a nação que exerce hegemonia sobre outras, impondo a sua cultura, tradição, crença, ideologia etc. Essas potências têm o poder de estabelecer seu domínio sobre os povos pelos mais diversos motivos, sejam por fatores econômicos, políticos ou ideológicos.
Exemplos
Exemplos de imperialismo cultural podem ser encontrados desde a Antiguidade, como a dominação da cultura grega sobre as demais durante o Império de Alexandre Magno (processo conhecido como Helenismo). Muitas vezes o processo de dominação de uma cultura acaba culminando em novos processos em outras culturas como, por exemplo, a dominação de Napoleão Bonaparte sobre o território europeu durante o século XIX e a imposição do bloqueio continental, está ligada a imposição da cultura Portuguesa no Brasil após a vinda da família Real em 1808. A dominação britânica sobre a Índia utilizava-se dos mesmos argumentos de superioridade cultural, que mais adiante no século XX serviram de base para as ideologias nazistas de Adolf Hitler. Em épocas contemporâneas, imperialismos culturais são geralmente associados ao imperialismo político, militar e econômico (caso das potências europeias na África e na Ásia). No século XX, durante a Guerra Fria, as duas superpotências rivais (EUA e URSS) disputaram áreas de influência cultural, exportando filmes, livros e música, além de produtos da indústria cultural. Por exemplo, em países como Cuba, livros e escolas em língua russa foram introduzidos. No entanto, como a indústria cultural no sistema capitalista é mais desenvolvida, os EUA conseguiram expandir sua influência cultural mais expressivamente.
O imperialismo cultural dos EUA atua sobre o mundo inteiro, mas é melhor observado em países em desenvolvimento, como o Brasil. Filmes, alimentos, expressões, termos e roupas são exemplos da influência exercida pelos norte-americanos no país. A indústria cultural traz muitos lucros para os EUA e outros países "produtores de cultura".
A influência cultural é um processo que ocorre todas as vezes em que há contato entre culturas. Quando a força é ausente da influência cultural, o uso do termo “imperialismo cultural” é uma tática de argumentação que envolve xenofobia e nacionalismo - respostas à influência cultural que existe entre centro e periferia.
Cultura repressiva
A indústria cultural capitalista impõe seus objetivos para manipular das mais variadas formas o pensamento dos grupos sociais menos favorecidos, induzindo o pensamento e o expressionismo pela transmissão da informação e pelos sistemas de comunicação como, por exemplo: jornais, revistas, propagandas. A cultura repressiva compreende os produtos, os processos e a comercialização de mercadorias culturais que cercam a população, que são desenvolvidos e disseminados pelo próprio governo e que consideraram os interesses específicos e necessidades de cada faixa etária e categorias sociais, adotando uma ação não ostensiva, mas muito influente.
Imperialismo cultural estadunidense
Na relação entre os Estados Unidos e os países da América Latina, os problemas culturais sempre estiveram presentes. Visando a lidar com esta questão, são feitos acordos, tratados, pactos e programas com o objetivo de solucionar os problemas de cooperação cultural, isto é, de cooperação nos campos da educação, ciência e cultura. Visando a esta problemática, o sistema interamericano possui um Departamento de Assuntos Culturais denominado Pan-Americana.
A conferência de Punta Del Este, realizada no ano de 1961, dá início a um programa comum entre os Estados Unidos e os países da América Latina cujo objetivo é fazer face às repercussões da vitória do socialismo em Cuba. Para isso, foi aprovada a Carta de Punta Del Este. Nesta conferência, foram aprovadas resoluções que tratam das questões relacionadas à cultura. Assim, recomenda-se que os países da América Latina adotem programas de educação e tratem também da importância da mobilização da opinião pública nos países latino-americano tendo em vista a realização dos princípios formulados naquela conferência e consubstanciados na referida carta.
Em 1969, Nelson Rockefeller realizou um relatório apresentando, ao presidente dos Estados Unidos Richard M. Nixon, um diagnóstico dos problemas relacionados à educação, ciência e cultura nos países da América Latina, fazendo também sugestões práticas de como resolver esses problemas. Diante disso, pode-se perceber que este relatório apresenta uma parte importante da política cultural que os Estados Unidos têm procurado sugerir e impor aos países latino-americanos.
A Carta da Organização dos Estados Americanos relata os propósitos do Conselho Interamericano de Cultura, onde este tem, por objetivo, promover relações entre os povos americanos através do incentivo com relação ao intercâmbio educacional, científico e cultural, isto é, intensificar o intercâmbio de estudantes, professores, pesquisadores etc. a fim de utilizar os recursos disponíveis para ensino e pesquisa.
Os programas estabelecidos pelos Estados Unidos se propõe oficialmente a auxiliar o desenvolvimento econômico e político dos governos latino-americanos. Outro aspecto da cooperação cultural entre os Estados Unidos e os países da América Latina é a difusão dos valores que correspondem aos interesses predominantes no governo e nas grandes empresas norte-americanas.
Existem outras formas de relações culturais entre os Estados Unidos com os países da América Latina. Dentre essas relações, podem-se citar o poder que as cadeias publicitárias possuem e o poder que as empresas têm para auxiliar na produção e difusão de programas de televisão, filmes, livros, jornais etc. Mostrando-se, assim, que, na maioria dos países da América Latina, o conteúdo dos meios de comunicação de massa é produzido pelos Estados Unidos. Tal fato mostra a força que o imperialismo cultural norte-americano tem perante os países latino-americanos.
Contradições do pensamento Imperialista
A indústria cultural do imperialismo reflete as inconsistências e as contradições das relações econômicas, políticas e militares, além de expressar sistematicamente a agressividade do capitalismo monopolista.
A dominação imperialista não é totalmente homogênea, monolítica, nem preponderante; ela não pode ser homogênea ou monolítica por causa da multiplicidade e devido à divergência dos interesses dos vários grupos em que se subdividem as burguesias em cada país dependente. Na prática, ela se divide em forças divergentes e facções e estilos distintos.
As relações imperialistas refletem inclusive os antagonismos de classes em escala nacional e internacional. Nos últimos anos, devido à expansão dos investimentos das empresas norte-americanas nos países dependentes, têm havido frequentes protestos de sindicatos operários dos Estados Unidos contra esses investimentos. Os mesmos alegam que os investidores buscam fontes de mão de obra mais barata e, assim, enfraquecem as condições de reivindicação dos operários industriais naquele país.
Isto tudo indica situações, relações econômicas e políticas que influenciam direta e indiretamente a operação da indústria cultural do imperialismo. As dificuldades do imperialismo norte-americano em países dependentes mostram que a própria cultura do imperialismo é incapaz de interpretar adequadamente as condições verdadeiras da sua dominação.
Ver também
Anti-intelectualismo
Aculturação
Capitalismo
Colonialismo cultural
Cultura
Etnocídio
Globalismo
Preconceito linguístico
Preconceito social
Relações internacionais
Xenofilia
Xenofobia
Estudos culturais
Colonialismo
Assimilação cultural |
A Idade Contemporânea, também chamada de Contemporaneidade, é o período atual da história ocidental e cujo início remonta à Revolução Francesa (1789).
Desde os seus primórdios, é marcado pelo iluminismo, corrente filosófica que defende o primado da razão e o desenvolvimento da ciência como garantia de progresso civilizatório para a Humanidade.
A Contemporaneidade distingue-se, de maneira geral, pelo desenvolvimento e consolidação do capitalismo no ocidente e, consequentemente pelas disputas das grandes potências europeias por territórios, matérias-primas e mercados consumidores.
Após duas grandes guerras mundiais, no entanto, o ceticismo veio abalar a crença iluminista de progresso da civilização, aumentando a percepção de que nações consideradas tão avançadas e instruídas eram de fato capazes de cometer atrocidades dignas de bárbaros. Decorre daí o conceito de que a classificação de nações mais desenvolvidas e nações menos desenvolvidas tem limitações de aplicação.
Atualmente está havendo uma especulação a respeito de quando essa era irá acabar, e consequentemente, a respeito da validade do modelo europeu de divisão histórica.
Linha do tempo
Século XVIII
Revolução Francesa
Guerras Napoleônicas
Revolução Industrial
Século XIX
Independência da América Espanhola
Independência do Brasil
Restauração (Europa)
Revolução Haitiana
Primavera dos Povos
Manifesto Comunista
Guerras do ópio
Neocolonialismo
Neoimperialismo
Conferência de Berlim
Partilha da África
Guerra civil dos Estados Unidos
Rebelião Taiping
Restauração Meiji
Unificação da Itália
Unificação da Alemanha
Comuna de Paris
Revolta de Haymarket
Guerra Franco-Prussiana
Século XX
Belle Époque
Revolução Mexicana
Revolução Xinhai
Primeira Guerra Mundial
Revolução Russa
Crise de 1929
Modernismo
Comunismo
Assassinatos em massa sob regimes comunistas
Fascismo
Nazismo
Guerra Civil Espanhola
Segunda Guerra Mundial
Conflito árabe-israelense
Guerra Civil Chinesa
Guerra Fria
Descolonização da África
Descolonização da Ásia e da Oceania
Revolução Cubana
Revoluções de 1989
Dissolução da URSS
Descomunização
Lustração
Consolidação e expansão da União Europeia
Globalização
Século XXI
Guerra ao Terrorismo
Revolução Digital
Grande Recessão
Primavera Árabe
Crise migratória na Europa
Eurasianismo
Vigilância Global
Guerra contra o Estado Islâmico
Pandemia de COVID-19
Ver também
Análise macro-histórica
História das mentalidades
Método histórico
Ocidentalismo
Orientalismo |
A Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia ou Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia (em grego: Ελληνορθόδοξο Πατριαρχείο Αντιοχείας), legalmente Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente (, romanizado: Baṭriyarkiyya Anṭākiyya wa-Sāʾir al-Mashriq li'l-Rūm al-Urthūdhuks, lit.: Patriarcado de Antioquia e Todo o Oriente para os Rumes Ortodoxos) é uma Igreja ortodoxa autocéfala, parte da comunhão do Cristianismo Ortodoxo. Encabeçada pelo Patriarca Ortodoxo Grego de Antioquia, considera-se a sucessora da Comunidade cristã fundada em Antioquia pelos Apóstolos Pedro e Paulo.
É também um dos cinco patriarcados da antiguidade, chamados de Pentarquia.
Dentro da Comunhão Ortodoxa, ele ocupa o terceiro lugar de precedência.
O título histórico completo do primaz da Igreja de Antioquia é Sua Beatitude Patriarca da Grande Cidade de Deus de Antioquia, Síria, Arábia, Cilícia, Ibéria, Mesopotâmia e Todo o Oriente.
História
A Igreja de Antioquia data do período apostólico, a tradição localizando sua fundação no ano de 34, por São Pedro e São Paulo Apóstolo. Extensamente citada nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas, na cidade de Antioquia é descrita por São Lucas, ele mesmo membro da comunidade, a primeira vez em que os discípulos de Cristo foram chamados cristãos. A Igreja se tornou um grande centro da cristandade, com seu patriarca São Serapião de Antioquia, já pelo fim do século II, sendo registrado exercendo poderes fora da Síria (província romana), intervindo em Roso (na Cilícia) e em Edessa (fora do Império Romano).
À medida que o sistema “metropolitano” surgiu nos primeiros séculos da Igreja – com bispos das principais cidades presidindo sínodos de bispos regionais regularmente convocados – Antioquia era uma sé de liderança. O cânon 6 do Primeiro Concílio Ecumênico confirmou a preeminência de longa data de Antioquia, juntamente com a de Roma e Alexandria.
No começo da era cristã, a comunidade de Antioquia sofreu com muita divisão. Após a eleição de São Melécio, cuja posição cristológica se encontra até hoje ambígua, o Patriarcado se dividiu entre seus sucessores seminicenos sem comunhão com Alexandria e Roma, os nicenos estritos seguidores de Eustácio em comunhão com ambas as sés, os arianistas apoiados pelo Imperador Valente e os seguidores de Apolinário de Laodiceia. Pouco depois a reunificação destes grupos em conflito, seguiu-se uma alternância entre patriarcas diofisistas (que seriam apoiados pelo Concílio de Calcedônia em 451) e miafisistas. A disputa se agravou depois da escolha do influente miafisista Severo de Antioquia pelo Imperador Anastácio I Dicoro em 512. Seis anos depois, Justino I assumiu o império, depôs Severo e elegeu Paulo. Severo, no entanto, liderou um cisma, dando origem à Igreja Ortodoxa Síria, enquanto os sucessores de Paulo permaneceriam como a Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia.
Durante o reinado de Justiniano, a importância da Sé de Antioquia foi relevada com a inclusão dela na Pentarquia, estrutura de governo da Igreja Cristã que perdura até o Grande Cisma de 1054, quando Antioquia, junto às outras sés orientais, separa-se de Roma. Em 1386, como consequência da invasão de Antioquia, hoje Antáquia, na Turquia, pelo Império Otomano em 1268, a Sé se mudou para Damasco, na Síria, onde permanece até hoje.
Administração e Estrutura
O Patriarca
O Patriarca é eleito pelo Santo Sínodo entre os metropolitas que o compõem. O Patriarca preside o Santo Sínodo e executa suas decisões. Ele também atua como Metropolita da Arquidiocese de Antioquia e Damasco.
O atual Patriarca, João X (Iazigi), foi eleito em 17 de dezembro de 2012, sucedendo ao Metropolita Saba Esber, eleito lugar-tenente em 7 de dezembro de 2012, após a morte de Inácio IV (Hazim).
Arquidioceses e Metropolitas
Existem atualmente 22 arquidioceses, cada uma chefiada por um metropolita.
Dioceses Titulares e Bispos
Bispos Aposentados
Igrejas filhas
Igreja de Chipre: Autocefalia concedida pela Igreja de Antioquia em 431 d.C.
Igreja da Geórgia: Autocefalia concedida pela Igreja de Antioquia em 486 d.C.
Igreja de Imerícia e Abecásia: Concedida autocefalia pela Igreja de Antioquia na década de 1470, mas suprimida pelo Império Russo em 1814 e continuou a ser uma dependência da Igreja da Rússia até 1917, quando foi reunida com a Igreja da Geórgia.
Igreja de Jerusalém: Originalmente Bispado de Aelia Capitolina da Metrópole de Cesareia da Palestina, ganhou a dignidade de Patriarcado em 451 d.C. no Concílio de Calcedônia com território esculpido do Patriarcado de Antioquia.
Igreja de Constantinopla: Concedida a autocefalia em 381 d.C. no Concílio de Constantinopla e ganhou a dignidade de Patriarcado em 451 d.C. no Concílio de Calcedônia.
No Brasil
O Brasil tem seu próprio Metropolita ortodoxo antioquino, Dom Damaskinos Mansour, nascido em Damasco, na Síria. A Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo e Todo o Brasil é sediada na Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo, localizada na cidade de São Paulo, possui também paróquias espalhadas pelo resto do estado, bem como por Goiás, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e o Distrito Federal. Há um Vicariato Patriarcal no Rio de Janeiro, isto é, uma comunidade ligada diretamente ao Patriarca, não sujeita à arquidiocese brasileira.
A primeira liturgia ortodoxa na América do Sul foi celebrada em São Paulo pelo Padre Mussa Abi Haidar com fiéis antioquinos de origem síria e libanesa em salão devidamente adaptado em 1897. Deste grupo viriam a primeira igreja ortodoxa no subcontinente, a Igreja da Anunciação à Mãe de Deus, localizada no centro histórico da cidade de São Paulo e atualmente fechada após ter sido atingida por um incêndio em julho de 2022. Sete anos mais tarde, e, em 1922, um bispo para o Brasil, o Bispo Michael Chehade. Em 1958, Dom Ignatios Ferzli assumiria o posto de Metropolita do Brasil, que manteria até sua morte em 1997, quando é ordenado Dom Mansour.
Patriarcas
Anexo:Lista de patriarcas de Antioquia - lista até o cisma (1054 d.C.).
Anexo:Lista dos patriarcas ortodoxos gregos de Antioquia - do cisma até hoje.
Ver também
Patriarcado de Antioquia
Catedral Metropolitana Ortodoxa
Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo e Todo o Brasil
Vicariato Patriarcal Ortodoxo Antioquino do Rio de Janeiro
Ligações externas
História da Ortodoxia no Brasil
Cronologia da fundação de Templos no Brasil
Patriarcados de Antioquia
Igreja Ortodoxa
Jurisdições autocéfalas da Igreja Ortodoxa
Patriarcado de Antioquia |
Jornalismo é a coleta, investigação e análise de informações para a produção e distribuição de relatórios sobre a interação de eventos, fatos, ideias e pessoas que são notícia e que afetam a sociedade em algum grau. A palavra se aplica à ocupação (profissional ou não), aos métodos de coleta de dados e à organização de estilos literários. A mídia jornalística inclui: impressão, televisão, rádio, Internet e, no passado, noticiários.
Os conceitos do papel apropriado do jornalismo variam de país para país. Em algumas nações, os meios de comunicação de notícias são controlados pelo governo e não são um corpo completamente independente. Em outros, os meios de comunicação são independentes do governo, mas a motivação pelo lucro entra em tensão com as proteções constitucionais da liberdade de imprensa. O acesso à informação livre recolhida por empresas jornalísticas independentes e concorrentes, com normas editoriais transparentes, pode permitir aos cidadãos participarem efetivamente do processo político. Nos Estados Unidos, o jornalismo é protegido pela cláusula de liberdade de imprensa na Primeira Emenda.
O papel e o estatuto do jornalismo, juntamente com o dos meios de comunicação de massa, tem sofrido mudanças ao longo das duas últimas décadas com o advento da tecnologia digital e a publicação de notícias na Internet. Isto criou uma mudança no consumo de canais de mídia impressa, à medida que as pessoas consomem cada vez mais notícias através de jornalismo eletrônico, smartphones, computadores, tablets e outros dispositivos, desafiando as organizações de notícias a rentabilizarem totalmente suas versões digitais, bem como a improvisar o contexto no qual elas publicarão notícias na imprensa. Notavelmente, no cenário da mídia estadunidense as redações têm reduzido sua equipe e cobertura em canais de mídia tradicionais, como a televisão, para lidar com a diminuição do público nesses formatos.
Esta compacidade na cobertura tem sido associada ao atrito geral do público, uma vez que grande maioria dos entrevistados em estudos recentes mostram mudanças nas preferências no consumo de notícias. A era digital também deu início a um novo tipo de jornalismo no qual os cidadãos comuns desempenham um papel maior no processo de produção de notícias, sendo possível o surgimento do jornalismo cidadão através da Internet. Através do uso de smartphones equipados com câmeras de vídeo, os cidadãos podem gravar imagens de eventos de notícias e enviá-los para canais como o YouTube, que é frequentemente usado por meios de comunicação. Ademais, o acesso fácil às notícias de uma variedade de fontes, como blogs e outras mídias sociais, resultou em leitores que podem escolher entre fontes oficiais e não oficiais, em vez de apenas depender das organizações tradicionais.
História
O mais antigo jornal de que se tem notícia foi o Acta Diurna, que surgiu por volta de 69 a.C., a partir do desejo de Júlio Cesar de informar a população sobre fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções. As notícias eram colocadas em grandes placas brancas expostas em local de grande acesso ao público. Na China, jornais escritos a mão surgiram no século VIII.
A partir da invenção de Johannes Gutenberg, em 1447, surgiram os jornais modernos, que tiveram grande circulação entre comerciantes, para a divulgação de notícias mercantis. Havia ainda jornais sensacionalistas escritos a mão, como o que noticiou as atrocidades ocorridas na Transilvânia, feitas por Vlad Tsepes Drakul, mais conhecido como Conde Drácula. Em Veneza, o governo lançou o Notizie scritte, em 1556, ao custo de uma pequena moeda que ficou conhecida como "gazetta".
A publicação periódica iniciou-se na Europa Ocidental a partir do século XVII, como o ''Avisa Relation oder Zeitung'', surgido na Alemanha em 1609. O London Gazette, lançado em 1665, ainda mantém-se até a atualidade, agora como publicação oficial do Judiciário. Esses jornais davam pouca atenção a assuntos nacionais, preferindo focar-se em fatos negativos ocorridos em outros países, como derrotas militares e escândalos envolvendo governantes. Os assuntos locais passaram a ser mais abordados na primeira metade do século XVII, mas a censura era uma prática comum, não sendo possível noticiar algo que pudesse provocar insatisfação popular contra o governo. A primeira lei protegendo a liberdade de imprensa foi aprovada na Suécia em 1766.
Com a invenção do telégrafo, em 1844, as notícias passaram a circular muito mais rapidamente, gerando uma grande mudança no jornalismo. Em meados do século XIX, os jornais já eram o principal veículo de transmissão das informações, passando a surgir grandes grupos editoriais, que tinham grande capacidade de influência.
Nos anos 1920, o surgimento do rádio novamente transformou o jornalismo, o que voltou a acontecer a partir dos anos 1940 com o surgimento da televisão. Na década de 1950 surge no Rio de Janeiro uma nova forma de Jornalismo impresso, no jornal Diário Carioca, Danton Jobim, que foi o fundador da primeira faculdade publica de jornalismo no Brasil, introduziu o Lead, a Pirâmide invertida e elaborou de um Manual de redação, modernizando o jornalismo brasileiro. A partir do fim dos anos 1990, a internet trouxe volume e atualização de informações sem precedentes.
Gêneros
Existem várias formas diferentes de jornalismo, todas com audiências diversas. O jornalismo é dito para servir o papel de um "quarto poder", agindo como um cão de guarda do funcionamento do governo. Uma única publicação (como um jornal) contém muitas formas de jornalismo, cada uma das quais pode ser apresentada em diferentes formatos. Cada seção de um jornal, revista ou site pode atender a diferentes públicos.
Alguns gêneros jornalísticos incluem:
Advocacia jornalística - escrever para defender pontos de vista particulares ou influenciar as opiniões do público;
Jornalismo de radiodifusão - jornalismo escrito ou falado para rádio ou televisão;
Jornalismo cidadão - jornalismo participativo;
Jornalismo de dados - a prática de encontrar histórias em números e usar números para contar histórias;
Jornalismo drone - uso de drones para capturar imagens jornalísticas;
Jornalismo gonzo - defendido pela primeira vez por Hunter S. Thompson, é um "estilo altamente pessoal de relatar";
Jornalismo interativo: um tipo de jornalismo on-line que é apresentado na web;
Jornalismo investigativo: relatórios aprofundados que revelam problemas sociais, muitas vezes leva a grandes problemas sociais a serem resolvidos;
Fotojornalismo: a prática de contar histórias verdadeiras através de imagens;
Jornalismo sensorial: o uso de sensores para apoiar a investigação jornalística;
Jornalismo tabloide - escrita que é alegre e divertida, mas menos legítima do que o jornalismo convencional;
Jornalismo marrom (ou sensacionalismo) - escrita que enfatiza alegações ou rumores exagerados;
Jornalismo de precisão: conjunto de métodos científicos com base na investigação social e psicossocial à prática de conteúdo do jornalismo. Trabalha com o valor fundamental da exatidão e de "relatar exatamente o que aconteceu" em uma perspectiva precisa.
A recente ascensão das mídias sociais resultou em argumentos para reconsiderar o jornalismo como um processo, em vez de atribuí-lo a determinados produtos de notícias. Nesta perspectiva, o jornalismo é participativo, um processo distribuído entre múltiplos autores e envolvendo jornalistas e o público socialmente mediador.
Campo acadêmico
Os estudos do jornalismo vêm se desenvolvendo desde antes da criação dos cursos de Mestrado e de Doutorado nos Estados Unidos do século XX. Os Estados Unidos contam com uma forte tradição na pesquisa acadêmica no campo do Jornalismo, sendo as primeiras investigações sobre o assunto em solo americano foram iniciadas ainda na década de 60. A configuração do campo de estudos tem relação com questões como o papel do jornalismo na sociedade, a constituição das notícias e a figura do jornalista. Assim, as pesquisas do campo estão, em sua maioria, relacionadas com a prática da profissão, o que envolve também descrições das rotinas de produção do Jornalismo.
Apesar do desenvolvimento de diversos estudos relativos à área, que permitiram a elaboração de explicações e teorias, o estabelecimento do campo epistemológico do jornalismo enfrenta dificuldades devido à forma como as pesquisas são feitas. Não há distinção entre campo jornalístico e campo profissional, o que impede que se alcance efetivamente uma análise e crítica dos fenômenos em estudo. Para isso, faz-se necessária também uma separação entre o jornalista profissional e o pesquisador jornalista, o que inclui as práticas textuais da profissão (como imparcialidade).
Além disso, o objeto de estudo do Jornalismo é fragmentado, visto que não há distinção de categorias de temas ou estabelecimento de metodologias próprias, o que dificulta a compreensão dos problemas de pesquisa típicos do campo.
No Brasil destaca-se a atuação de Danton Jobim que em 1948, participa como docente fundador do Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. a primeira faculdade publica de Jornalismo no Brasil.
Caráter ativo
O "caráter ativo" do jornalismo refere-se à tendência da mídia de intervir na vida política, de se envolver partidariamente, ou de tentar influenciar os acontecimentos políticos. Ele age forma flexível e instável e não necessariamente ligada a uma corrente de valores políticos ideológicos.
A relação entre mídia e política tem sido alvo de longa discussão no meio acadêmico. Uma das variáveis mais utilizadas para comparar a intervenção política do jornalismo é o chamado paralelismo político. O termo surgiu em 1974, no livro "The Political Impact of Mass Media", de Colin Seymour-Ure, mas ganhou popularidade em 2004, quando Hallin e Mancini, produziram uma pesquisa empírica comparativa em 18 países da América do Norte e da Europa Ocidental. Na definição clássica, paralelismo político envolve a percepção do grau de “convergência de objetivos, meios e enfoques entre veículos da mídia e partidos políticos”.
Contudo, o pesquisador brasileiro Afonso de Albuquerque, em contribuição para o livro Comparing Media Systems Beyond the Western World, avalia que essa variável apresenta severas limitações para comparações fidedignas à complexidade e à diversidade dos sistemas mediáticos. Na sua visão, o termo se aplica a contextos onde existem relações estáveis entre veículos de comunicação e elites políticas. Essa variável seria, portanto, débil para identificar e analisar o caráter ativo que a imprensa pode assumir de modo flexível e instável.
A noção de “caráter ativo” das práticas jornalísticas tem sido conceituada de diversas formas, não havendo consenso sobre sua descrição. Ela não necessariamente liga a imprensa a uma ideologia política de esquerda ou direita, mas a flexibiliza e a torna participante do debate, ou seja, ela não toma partidos, mas discute as ações realizadas pelos agentes políticos.
A prática jornalística brasileira foi utilizada como exemplo para a análise de Albuquerque, pois ela interviria na política em relação ao jogo político, em nome do próprio interesse público. Desta forma, o sistema midiático assumiria o papel de árbitro nas disputas políticas setoriais vinculadas a ideologias partidárias ou instituições do poder político, encontrando na concepção de “poder moderador” ou “quarto poder” uma linha de continuidade histórica para intervenção nesse meio. Ele define o caráter ativo nos seguintes termos:
tomada de posições políticas;
foco da atenção mais direcionada ao presidente do que à política partidária;
fornecimento de interpretação e informação.
Alguns autores, porém, oferecem uma definição alternativa à de Albuquerque. Donsbach e Patterson afirmam que existem múltiplas dimensões de intervenção do jornalismo, que são sobrepostas na proposição de Albuquerque. Nesse sentido, eles sustentam que a noção de um "jornalismo ativo" deve ser mantida separada da compreensão de um "jornalismo advocatício", por serem dimensões diferenciadas e independentes da intervenção política realizada pelas práticas jornalísticas.
Jornalismo Ativo e Jornalismo Advocatício
O jornalismo ativo, na definição de Donsbach e Patterson, seria “aquele que atuaria mais plenamente como um participante do debate, enquadrando, interpretando ou investigando os assuntos políticos”. É ele que revela informações, que de outro modo, não viriam à esfera pública. Trazendo publicidade para questões políticas por meio de informações de bastidores ou denúncia de escândalos. Esse caráter investigativo não pode, entretanto, ser diretamente vinculado à tomada de posicionamento político.
Já o jornalismo advocatício (ou militante) é “aquele que atua com base em posicionamentos políticos na forma correspondente a de um ator político”, emitindo opinião ou juízo de valor, de forma “consistente, substancial e agressiva”.
Fundamentos
O jornalismo possui alguns conceitos fundamentais que devem ser seguidos para resultar num pleno desempenho da atividade. O jornalista atua como mediador entre a sociedade e os acontecimentos interessantes e relevantes para o conhecimento do público. Desde a sua fundação, alguns conceitos foram se institucionalizando com o decorrer dos anos. Traquina cita a "existência de uma constelação de valores e um conjunto de normas profissionais" e exemplifica que ser jornalista é acreditar nesses valores.
Liberdade
Deste modo, a liberdade mantém uma ligação com o jornalismo e a democracia, onde a liberdade está no centro do desenvolvimento do jornalismo. Traquina cita Tocqueville ao considerar a soberania do povo e a liberdade de imprensa como coisas inseparáveis. Para Thomas Jefferson, democracia não existe sem liberdade de imprensa e John Stuart Mill complementa alertando que qualquer tentativa de censurar a mídia teria consequências desastrosas. Essa censura resultaria na perda de outro fundamento do jornalismo, como a credibilidade. Os jornalistas estão a frente dessa luta pela liberdade que se mistura a questões políticas, econômicas e sociais. A independência e autonomia dos profissionais em relação a outros agentes sociais são importantes fatores que garantem a credibilidade.
Objetividade
A objetividade no jornalismo é até hoje um objeto de discussão, crítica e má compreensão. Esse conceito surgiu baseado na ideia de subjetividade e sua inevitabilidade. Nasceu no século XX em que os fatos eram mais importantes que as opiniões, contrariando o que se entendia do jornalismo no século XIX, mais opinativo do que factual.
Com isso, ficou estabelecido que era necessário seguir a regras e procedimentos para que o fundamento da objetividade permanecesse. Isso asseguraria a credibilidade do veículo de comunicação, como parte não interessada e ajudaria na proteção contra as críticas. Gaye Tuchman elenca a objetividade como um ritual, uma série de procedimentos estratégicos que devem ser seguidos para reduzir as críticas. Os jornalistas podem alegar que há objetividade levando em conta que esses procedimentos foram seguidos.
Ela identifica 4 pontos:
A apresentação de dois lados da história, não favorecendo nenhum dos dois;
Exposição de dados técnicos, provas auxiliares que fortaleçam o que foi dito;
Uso das aspas. O fato fala por si só, a presença do repórter desaparece;
Estruturação da informação. A informação mais importante é apresentada no 1°paragrafo. Ela considera esse o procedimento o mais difícil, pois o lead é de responsabilidade do jornalista, baseado na sua percepção profissional.
Credibilidade
Segundo Philip Meyer, credibilidade não é o único componente da influência mas é um bom começo. A influência é apontada como um dos possíveis fatores que determinam o sucesso econômico de um jornal. Adequar-se ou não é uma opção de cada jornal, as decisões resultarão no ganho ou na perda da credibilidade. Um jornal que tenta agradar demais põe em risco a sua integridade jornalística e sua capacidade de dizer verdades duras que a comunidade precisa ouvir para seu próprio bem. Dessa maneira, as pesquisas realizadas por Philip Meyer mostravam que o jornal considerado como apoiador da comunidade era visto de maneira tendenciosa em vez de objetiva. A influência e os seus dois componentes: a credibilidade e ligação com a comunidade podem mudar de acordo com as notícias e depois se recuperar. Dar notícias que a comunidade não quer ouvir mas precisa ouvir para seu bem a longo prazo, pode ser a melhor maneira de aumentar a influência do jornal com o decorrer do tempo. Mesmo que a curto prazo a credibilidade caia, a longo prazo os benefícios são visíveis.
Sendo assim, os jornais confiáveis atraem mais leitores, e o efeito é mais forte onde a competição obriga os jornais a lutar por seus leitores. A credibilidade de um jornal é essencial quando há competição com outros jornais.
As pesquisas de Meyer também apontam que a circulação do jornal e a sua credibilidade são afetados diretamente pela sua exatidão, ou seja, um menor número de erros. O pesquisador constatou que quando um jornal possui a confiança da fonte das matérias, ele também apresenta credibilidade junto à população. Contudo, para Vieira e Christofoletti, o erro jornalístico não intencional, quando ocorre, pode ser um caminho para fortalecer a credibilidade do veículo de comunicação a depender de seu posicionamento perante o erro. Neste contexto, conforme estes dois autores, explicitar a correção mostra uma preocupação do meio informativo com o acerto e amplia seu contato com o público.
Para Philip Meyer, as fontes são ótimos juízes da qualidade de um jornal e formadores de opinião sobre a credibilidade do periódico. Em seu estudo, o autor descobriu que, quando as fontes percebem que as informações prestadas por elas são fielmente publicadas, passam a ter uma visão positiva sobre o jornal e disseminam tal percepção entre os leitores. Assim, a opinião das fontes é fundamental para a credibilidade do jornal, exercendo forte poder de influência.
Segundo Traquina, a importância de manter a credibilidade leva a um trabalho constante de verificação dos fatos e a avaliação das fontes de informação. Um exemplo da perda dessa credibilidade foi o caso "Janet Cooke", onde uma jovem jornalista do Washington Post teve que devolver o Prêmio Pulitzer quando descobriram que a personagem central de sua premiada reportagem foi inventada.
Christofoletti e Laux afirmam que com a emergência dos blogs como fontes de informação, há mudanças nos critérios que atestam confiabilidade aos veículos informativos. Estes novos critérios seriam influenciados pelos já existentes, mas também seriam caracterizados pelo que chamaram de novos sistemas de reputação, dentre os quais destaca-se a opinião do público em relação aos conteúdos. Uma pesquisa de 2017 reforça esse argumento: em meio a um boom de notícias falsas, os leitores buscam informações nos veículos da imprensa tradicional, que tem uma reputação mais consolidada frente ao público, como é o caso de revistas e jornais impressos e canais de TV.
Texto jornalístico
O produto da atividade jornalística é geralmente materializado em textos, que recebem diferentes nomenclaturas de acordo com sua natureza e objetivos. Uma matéria é o nome genérico de textos informativos resultantes de apuração, incluindo notícias, reportagens e entrevistas. Um artigo é um texto dissertativo ou opinativo, não necessariamente sobre notícias, e nem necessariamente escrito por um jornalista.
Redatores geralmente seguem uma técnica para hierarquizar as informações, apresentando-as no texto em ordem decrescente de importância. Esta técnica tem o nome de pirâmide invertida, pois a "base" (lado mais largo, mais importante) fica para cima (início do texto) e o "vértice" (lado mais fino, menos relevante) fica para baixo (fim do texto). O primeiro parágrafo, que deve conter as principais informações da matéria, chama-se "lead" (do inglês, principal). O texto é geralmente subdividido em "capítulos" agrupados por tema, chamados retrancas e sub-retrancas, ou matérias coordenadas.
O conjunto de técnicas e procedimentos específicos para a atividade de redação jornalística é chamado de técnica de redação.
As matérias apresentam, quase sempre, relatos de pessoas envolvidas no fato, que servem para tanto validar (por terceiros) as afirmativas do jornal (técnica chamada de documentação) quanto para provocar no leitor a identificação com um personagem (empatia). No jargão jornalístico, os depoimentos destes personagens chamam-se aspas.
Apesar de as matérias serem geralmente escritas em estilo sucinto e objetivo, devem ser revisadas antes de serem publicadas. O profissional que exerce a função de revisão, hoje figura rara nas redações, é chamado de revisor ou copy-desk.
Sendo Introduzidas no Brasil por Danton Jobim a frente do Diario Carioca, sendo Danton um dos fundadores e o primeiro professor a ocupar a cadeira de Técnicas de Redação Jornalística no Curso de Jornalismo da então Universidade do Brasil.
Tipos
notícia - de carácter objectivo, composto pelo Lead e o corpo da notícia:
No Lead tenta-se responder a seis perguntas: quem, o quê, onde, quando, porque, como, a ausência destas pode dever-se a dados não apurados;
No corpo da notícia desenvolve-se gradualmente a informação em cada parágrafo, por isso a informação é cada vez mais elaborada, detalhada.
matéria - todo texto jornalístico de descrição ou narrativa factual. Dividem-se em matérias "quentes" (sobre um fato do dia, ou em andamento) e matérias "frias" (temas relevantes, mas não necessariamente novos ou urgentes). Existem ainda os seguintes subtipos de matérias:
matéria leve ou feature - texto com informações pitorescas ou inusitadas, que não prejudicam ou colocam ninguém em risco; muitas vezes este tipo de matéria beira o entretenimento;
suíte - é uma matéria que dá seqüência ou continuidade a uma notícia, seja por desdobramento do fato, por conter novos detalhes ou por acompanhar um personagem;
perfil - texto descritivo de um personagem, que pode ser uma pessoa ou uma entidade, um grupo; muitas vezes é apresentado em formato testemunhal;
entrevista - é o texto baseado fundamentalmente nas declarações de um indivíduo a um repórter; quando a edição do texto explicita as perguntas e as respostas, seqüenciadas, chama-se de ping-pong;
opinião ou editorial - reflete a opinião apócrifa do veículo de imprensa (não deve ser assinado por nenhum profissional individualmente);
artigo - texto eminentemente opinativo, e geralmente escrito por colaboradores ou personalidades convidadas (não jornalistas);
crônica(br) ou crónica(pt) - texto que registra uma observação ou impressão sobre fatos cotidianos; pode narrar fatos em formato de ficção;
nota - texto curto sobre algum fato que seja de relevância noticiosa, mas que apenas o lead basta para descrever; muito comum em colunas;
chamada - texto muito curto na primeira página ou capa que remete à íntegra da matéria nas páginas interiores;
texto-legenda - texto curtíssimo que acompanha uma foto, descrevendo-a e adicionando a ela alguma informação, mas sem matéria à qual faça referência; tem valor de uma matéria independente;
erro jornalístico - não é "Fake News". Se constituí em uma erro não intencional do jornalista. Ex: nome da fonte, idade da fonte e/ou erros tipográficos. Nesse caso se utiliza da errata para que possa reparar o erro. Em muitos casos esse erro pode diminuir a credibilidade e a precisão da matéria.
Notícia
A notícia é um formato de divulgação de um acontecimento por meios jornalísticos. É a matéria-prima do Jornalismo, normalmente reconhecida como algum dado ou evento socialmente relevante que merece publicação numa mídia. Fatos políticos, sociais, econômicos, culturais, naturais e outros podem ser notícia se afectarem indivíduos ou grupos significativos para um determinado veículo de imprensa. Geralmente, a notícia tem conotação negativa, justamente por ser excepcional, anormal ou de grande impacto social, como acidentes, tragédias, guerras e golpes de estado. Notícias têm valor jornalístico apenas quando acabaram de acontecer, ou quando não foram noticiadas previamente por nenhum veículo. A "arte" do Jornalismo é escolher os assuntos que mais interessam ao público e apresentá-los de modo atraente. Nem todo texto jornalístico é noticioso, mas toda notícia é potencialmente objeto de apuração jornalística.
Jornalismo no mundo
Em diversos países de regime democrático, o trabalho jornalístico é protegido por lei ou pela constituição. Isto inclui, muitas vezes, o direito de o jornalista preservar em segredo a identidade de suas fontes, mesmo quando interpelado judicialmente. O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece normas para a liberdade de expressão e de imprensa.
No entanto, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (Reporters Sans Frontières), 42 jornalistas foram mortos no ano de 2003, principalmente na Ásia, enquanto outros 766 estavam presos. O futuro do jornalismo passa pela adequação dos profissionais da área às novas mídias emergentes. Todo bom profissional não poderá deixar de observar esses novos meios. O profissional tem de se adaptar aos novos mecanismos das tecnologias, além disso ele precisa ser polivalente para continuar no mercado.
A independência dos profissionais da área tem sido um grande debate, o que pode ser observado no livro "O que é Jornalismo" (Brasiliense, 1980), de Clóvis Rossi.
Em 2011 a Turquia se tornou o país com maior número de jornalistas presos.
Brasil
O primeiro sindicato de jornalistas no Brasil foi fundado em 1934, na cidade de Juiz de Fora. Quatro anos depois, houve a primeira regulamentação da profissão. Conforme disposto na Lei de Imprensa de 9 de fevereiro de 1967, o diploma de curso superior de Jornalismo foi obrigatório para o exercício da profissão, por força de lei, até o Supremo Tribunal Federal torná-lo facultativo em 2009. Porém, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada pelo Senado Federal em 2012, restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Atualmente, há cerca de 120 cursos de graduação na área, formando quase 5 mil jornalistas a cada ano em todo o país. No Brasil, o curso de Jornalismo tem a maior carga horária entre os cursos da área da comunicação. O curso tem carga horária mínima de 3 mil horas e tempo mínimo de 4 anos para a conclusão do Curso de Bacharel em Jornalismo, segundo as novas diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC). Após concluir o curso, a pessoa é reconhecida pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e pelos sindicatos de jornalistas como jornalista profissional, podendo se filiar aos sindicatos e solicitar a Carteira Nacional de Jornalista, emitida pela FENAJ.
Para a organização Repórteres sem Fronteiras, o Brasil ainda é um dos países mais violentos da América Latina para a prática do jornalismo. O país ocupa a 102ª posição entre as 180 nações analisadas pelo Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2018, estando ao lado dos países com as piores posições do continente, que são Cuba, Venezuela, México e Colômbia. A “situação sensível” na qual o Brasil se encontra em relação à liberdade de informação é explicada por fatores como a aplicação de processos judiciais a determinadas matérias sobre interesses do poder político. Além disso, os jornalistas também são alvos de ameaças no território nacional. De janeiro a outubro de 2018, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 137 casos de agressões a profissionais da comunicação em contexto político-eleitoral. No caso de Leniza Krauss, que investigava o Caso Pedra da Macumba, nunca foi descoberto o motivo das agressões direcionadas a ela e sua equipe. O Observatório da Imprensa listou seu caso no artigo "A mudança na vida de jornalistas que sofreram violentas represálias".
Ver também
Imprensa
Mídia
Grande mídia
Agência de notícias
Jornalismo internacional
Jornalismo econômico
Jornalismo de turismo
Jornalismo ambiental
Jornalismo esportivo
Jornalismo comunitário
Jornalismo cultural
Jornalismo literário
Escola de jornalismo
Estilo
Fraude jornalística
Prêmio Pulitzer
Freelancer
Foca (jornalista iniciante)
Lista de filmes sobre jornalismo
Lista de jornais do Brasil
Lista de revistas do Brasil
Lista de jornais e revistas de Portugal
Lista de jornais e revistas de Angola
Lista de jornais e revistas de Moçambique
Lista de jornais e revistas
Bibliografia
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Ligações externas
WikiNews em português
Federação Internacional de Jornalistas
Associação Brasileira de Imprensa
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo
Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
Associação Nacional de Jornais (Brasil)
Federação Nacional dos Jornalistas (Brasil)
Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo - FNPJ (Brasil)
Clube de Jornalistas (Portugal)
Comitê para Proteção a Jornalistas
Seleção Diária de Notícias (clipping oficial do Itamaraty)
Jornalistas distinguidos com Prémios Gazeta criticam prevalência do imediatismo |
Janeiro é o primeiro mês do ano nos calendário juliano e gregoriano. É composto por 31 dias. O nome provém do latim Ianuarius, décimo-primeiro mês do calendário de Numa Pompílio, o qual era uma homenagem a Jano, deus do começo na mitologia romana, que tinha duas faces, uma olhando para trás, o passado e outra olhando para a frente, o futuro. Júlio César estabeleceu que o ano deveria começar na primeira lua nova após o solstício de inverno, que no hemisfério norte era a 21 de dezembro, a partir do ano 709 romano (). Nessa ocasião o início do ano ocorreu oito dias após o solstício. Posteriormente o início do ano foi alterado para onze dias após o solstício.
A Igreja dedica o mês de Janeiro ao Santíssimo nome de Jesus e à paz mundial.
É em média o mês mais quente na maior parte do hemisfério sul, onde é o segundo mês de verão, e o mês mais frio em grande parte do hemisfério norte, onde é o segundo mês de inverno. A primeira metade do ano começa em janeiro. No hemisfério sul, janeiro é o equivalente sazonal de julho no hemisfério norte e vice-versa.
História
Janeiro (em latim, Ianuarius) é nomeado após Janus, o deus dos inícios e transições na mitologia romana.
Tradicionalmente, o calendário romano original consistia em 10 meses, totalizando 304 dias, sendo o inverno considerado um período sem mês. Por volta de 713 aC, o sucessor semi-mítico de Romulus, rei Numa Pompilius, deveria ter adicionado os meses de janeiro e fevereiro, de modo que o calendário cobria um ano lunar padrão (354 dias). Embora março tenha sido originalmente o primeiro mês do antigo calendário romano, janeiro se tornou o primeiro mês do ano civil, sob Numa ou sob os Decemvirs, por volta de 450 aC (os escritores romanos diferem). Por outro lado, cada ano civil específico foi identificado pelos nomes dos dois cônsules , que entraram no cargo em 1º de maio ou 15 de março até 153 aC, a partir de quando entraram no cargo em 1º de janeiro.
Várias datas de festas cristãs foram usadas para o Ano Novo na Europa durante a Idade Média, incluindo 25 de março (Festa da Anunciação) e 25 de dezembro. No entanto, os calendários medievais ainda eram exibidos na moda romana com doze colunas de janeiro a dezembro. A partir do século XVI, os países europeus voltaram oficialmente a tornar o dia 1 de janeiro como início do ano novo.
Os nomes históricos de janeiro incluem sua designação romana original, Ianuarius, o termo saxão Wulf-monath (que significa "mês do lobo") e a designação de Carlos Magno Wintarmanoth ("inverno/mês frio"). Em esloveno, é tradicionalmente chamado prosinec. O nome, associado ao pão com milho e ao ato de pedir algo, foi escrito pela primeira vez em 1466 no manuscrito Škofja Loka.
Datas comemorativas
1 de janeiro - Dia de Ano Novo e Dia Internacional da Paz.
6 de janeiro - Dia de Reis no calendário cristão.
Igreja Católica
Dia de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro)
Dia de Reis (6 de janeiro)
Dia de São Sebastião (20 de janeiro)
Dia de Santa Inês (21 de janeiro)
Dia de São Francisco de Sales (24 de janeiro)
Dia da Conversão de São Paulo (25 de janeiro)
Dia de São Timóteo e Tito (26 de janeiro)
Dia de Santa Ângela de Mérici (27 de janeiro)
Dia de São Tomás de Aquino (28 de janeiro)
Dia de São Dom Bosco (31 de janeiro)
Nascimentos
1 de janeiro de 1449 — Lourenço de Médici, estadista italiano (m. 1492).
1 de janeiro de 1752 — Betsy Ross, costureira estadunidense (m. 1836).
1 de janeiro de 1863 — Pierre de Coubertin, pedagogo e historiador francês (m. 1937).
1 de janeiro de 1991 — Stacy Martin, atriz francesa.
2 de janeiro de 1873 — Teresa de Lisieux, santa católica francesa (m. 1897).
2 de janeiro de 1950 — Débora Duarte, atriz e poetisa brasileira.
2 de janeiro de 1972 — Rita Guedes, atriz brasileira.
2 de janeiro de 1983 — Kate Bosworth, atriz estadunidense.
3 de janeiro de 1694 — Paulo da Cruz, santo católico italiano (m. 1775).
3 de janeiro de 1892 — J. R. R. Tolkien, escritor inglês (m. 1973).
3 de janeiro de 1956 — Mel Gibson, ator e cineasta estadunidense.
3 de janeiro de 1969 — Michael Schumacher, ex-automobilista alemão.
3 de janeiro de 2003 — Greta Thunberg, ativista ambiental sueca.
4 de janeiro de 1643 — Isaac Newton, físico britânico (m. 1727).
4 de janeiro de 1839 — Casimiro de Abreu, poeta brasileiro (m. 1860).
4 de janeiro de 1989 — Graham Rahal, automobilista norte-americano.
4 de janeiro de 1993 — Manu Gavassi, cantora e atriz brasileira.
4 de janeiro de 2005 — Dafne Keen, atriz espanhola.
4 de janeiro de 2008 — Rayssa Leal, skatista e medalhista olímpica brasileira.
5 de janeiro de 1801 — Manuel da Silva Passos, político português (m. 1862).
5 de janeiro de 1938 — Juan Carlos da Espanha.
5 de janeiro de 1995 — Whindersson Nunes, youtuber e comediante brasileiro.
6 de janeiro de 1256 — Gertrudes de Helfta, santa católica, mística e teóloga alemã (m. 1302).
6 de janeiro de 1412 — Joana d'Arc, heroína e santa francesa (m. 1431).
6 de janeiro de 1832 — Gustave Doré, pintor e ilustrador de livros francês (m. 1883).
6 de janeiro de 1913 — Loretta Young, atriz estadunidense (m. 2000).
6 de janeiro de 1992 — Rodrigo Simas, ator brasileiro.
7 de janeiro de 1796 — Carlota de Gales (m. 1817).
7 de janeiro de 1844 — Bernadette Soubirous, religiosa e santa francesa. (m. 1879)
7 de janeiro de 1933 — Nicette Bruno, atriz brasileira. (m. 2020)
7 de janeiro de 1985 — Lewis Hamilton, automobilista britânico.
8 de janeiro de 1601 — Baltasar Gracián, religioso espanhol (m. 1658).
8 de janeiro de 1935 — Elvis Presley, cantor e ator norte-americano (m. 1977).
8 de janeiro de 1937 — Shirley Bassey, cantora britânica.
8 de janeiro de 1983 — Kim Jong-un, político norte-coreano.
9 de janeiro de 1554 — Papa Gregório XV (m. 1623).
9 de janeiro de 1735 — John Jervis, almirante britânico (m. 1823).
9 de janeiro de 1902 — Josemaría Escrivá de Balaguer, sacerdote católico espanhol (m. 1975).
9 de janeiro de 1920 — João Cabral de Melo Neto, poeta e diplomata brasileiro (m. 1999).
9 de janeiro de 1982 — Catarina, Duquesa de Cambridge.
9 de janeiro de 1995 — Nicola Peltz, atriz norte-americana.
10 de janeiro de 1859 — Francesc Ferrer, pedagogo e político espanhol (m. 1909).
10 de janeiro de 1887 — José Américo de Almeida, político e escritor brasileiro (m. 1980).
10 de janeiro de 1976 — Flávia Muniz, cantora, compositora e escritora brasileira.
10 de janeiro de 1990 — Mirko Bortolotti, automobilista italiano.
11 de janeiro de 1755 — Alexander Hamilton, militar e político norte-americano (m. 1804).
11 de janeiro de 1842 — William James, filósofo e psicólogo estadunidense (m. 1910).
11 de janeiro de 1864 — Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, aviador brasileiro (m. 1902).
11 de janeiro de 1997 — Cody Simpson, cantor australiano.
12 de janeiro de 1591 — José de Ribera, pintor espanhol (m. 1652).
12 de janeiro de 1751 — Fernando I das Duas Sicílias (m. 1825).
12 de janeiro de 1876 — Jack London, escritor norte-americano (m. 1916).
12 de janeiro de 1913 — Rubem Braga, jornalista e escritor brasileiro (m. 1990).
12 de janeiro de 1944 — Carlos Villagrán, ator mexicano.
12 de janeiro de 1998 — Nathan Gamble, ator norte-americano.
13 de janeiro de 1400 — João, Condestável de Portugal (m. 1442).
13 de janeiro de 1777 — Elisa Bonaparte, princesa francesa (m. 1820).
13 de janeiro de 1990 — Liam Hemsworth, ator australiano.
14 de janeiro de 1767 — Maria Teresa da Áustria (m. 1827).
14 de janeiro de 1981 — André Ramiro, ator brasileiro.
14 de janeiro de 1990 — Grant Gustin, ator e cantor norte-americano.
15 de janeiro de 1432 — Afonso 5.º de Portugal (m. 1481).
15 de janeiro de 1824 — Marie Duplessis, cortesã francesa (m. 1847).
15 de janeiro de 1913 — Lloyd Bridges, ator estado-unidense (m. 1998).
15 de janeiro de 1956 — João Carlos Costa, treinador brasileiro de futebol.
15 de janeiro de 1996 — Dove Cameron, atriz e cantora norte-americana.
16 de janeiro de 1822 — Henrique, Duque de Aumale (m. 1897).
16 de janeiro de 1836 — Francisco II das Duas Sicílias (m. 1894).
16 de janeiro de 1974 — Kate Moss, modelo britânica.
17 de janeiro de 1504 — Papa Pio V (m. 1572).
17 de janeiro de 1706 — Benjamin Franklin, escritor, estadista e inventor norte-americano (m. 1790).
17 de janeiro de 1933 — Dalida, cantora francesa (m. 1987).
17 de janeiro de 1991 — Willa Fitzgerald, atriz norte-americana.
18 de janeiro de 1669 — Maria Antónia da Áustria (m. 1692).
18 de janeiro de 1789 — Henri Giraud, militar francês (m. 1949).
18 de janeiro de 1892 — Oliver Hardy, ator norte-americano (m. 1957).
19 de janeiro de 1544 — Francisco II de França (m. 1560).
19 de janeiro de 1922 — Guy Madison, ator estadunidense (m. 1996).
19 de janeiro de 1992 — Logan Lerman, ator norte-americano.
19 de janeiro de 1992 — Agatha Moreira, atriz e modelo brasileira.
19 de janeiro de 1998 — Giovanna Grigio, atriz brasileira.
20 de janeiro de 1554 — Sebastião I de Portugal (m. 1578).
20 de janeiro de 1716 — Carlos III de Espanha (m. 1788).
20 de janeiro de 1900 — Colin Clive, ator britânico (m. 1937).
20 de janeiro de 1965 — Sofia, Condessa de Wessex.
20 de janeiro de 1987 — Evan Peters, ator norte-americano.
21 de janeiro de 1829 — Óscar II da Suécia (m. 1907).
21 de janeiro de 1896 — Paula Hitler, secretária austríaca (m. 1960).
21 de janeiro de 1953 — Paul Allen, empresário e filantropo norte-americano (m. 2018).
21 de janeiro de 1981 — Michel Teló, cantor e compositor brasileiro.
21 de janeiro de 1986 — Gabriela Prioli, advogada criminalista, professora universitária e apresentadora brasileira.
21 de janeiro de 1988 — Felipe Neto, youtuber brasileiro.
21 de janeiro de 1991 — Casey McQuiston, jornalista, romancista
21 de janeiro de 1992 — Marcela Barrozo, atriz brasileira.
21 de janeiro de 1997 — Jeremy Shada, ator norte-americano.
22 de janeiro de 1561 — Francis Bacon, filósofo inglês (m. 1626).
22 de janeiro de 1788 — Lord Byron, poeta britânico (m. 1824).
22 de janeiro de 1797 — Maria Leopoldina de Áustria (m. 1826).
22 de janeiro de 1922 — Leonel Brizola, político brasileiro (m. 2004).
22 de janeiro de 1989 — Caio Castro, ator brasileiro.
23 de janeiro de 1585 — Mary Ward, freira católica britânica (m. 1645).
23 de janeiro de 1896 — Carlota de Luxemburgo (m. 1985).
23 de janeiro de 1957 — Caroline de Mônaco.
23 de janeiro de 1980 — Carlos Alberto da Silva, humorista brasileiro.
24 de janeiro de 76 — Adriano, imperador romano (m. 138).
24 de janeiro de 1712 — Frederico II da Prússia (m. 1786).
24 de janeiro de 1814 — Helena de Mecklemburgo-Schwerin, duquesa de Orleães (m. 1858).
24 de janeiro de 1878 — João Pessoa, político brasileiro (m. 1930).
24 de janeiro de 1986 — Mischa Barton, atriz norte-americana.
24 de janeiro de 1986 — Cristiano Araújo, cantor brasileiro (m. 2015).
25 de janeiro de 1225 — Tomás de Aquino, religioso italiano (m. 1274)
25 de janeiro de 1477 — Ana, Duquesa da Bretanha e rainha consorte de França (m. 1514).
25 de janeiro de 1882 — Virginia Woolf, escritora britânica (m. 1941).
25 de janeiro de 1917 — Jânio Quadros, político e escritor brasileiro (m. 1992).
25 de janeiro de 1927 — Antônio Carlos Jobim, compositor brasileiro (m. 1994).
25 de janeiro de 1963 — Fernando Haddad, político brasileiro.
25 de janeiro de 1968 — Carolina Ferraz, atriz e apresentadora brasileira.
25 de janeiro de 1979 — Bianca Castanho, atriz brasileira.
26 de janeiro de 1763 — Carlos XIV João da Suécia (m. 1844).
26 de janeiro de 1878 — Afonso Lopes Vieira, poeta português (m. 1946).
26 de janeiro de 1880 — Douglas MacArthur general estadunidense (m. 1964).
26 de janeiro de 1925 — Paul Newman, ator norte-americano (m. 2008).
26 de janeiro de 1963 — José Mourinho, treinador de futebol português.
26 de janeiro de 1993 — Cameron Bright, ator canadense.
27 de janeiro de 1708 — Ana Petrovna da Rússia, grã-duquesa da Rússia (m. 1728).
27 de janeiro de 1756 — Wolfgang Amadeus Mozart, compositor erudito austríaco (m. 1791).
27 de janeiro de 1805 — Maria Ana da Baviera (m. 1877).
27 de janeiro de 1805 — Sofia da Baviera (m. 1872).
27 de janeiro de 1832 — Lewis Carroll, escritor britânico (m. 1898).
27 de janeiro de 1859 — Guilherme II da Alemanha (m. 1941).
27 de janeiro de 1938 — Raul Gil, apresentador de televisão e cantor brasileiro.
27 de janeiro de 1949 — Djavan, cantor e compositor brasileiro.
28 de janeiro de 1457 — Henrique VII de Inglaterra (m. 1509).
28 de janeiro de 1886 — José Linhares, político brasileiro (m. 1957).
28 de janeiro de 1958 — Maitê Proença, atriz brasileira.
28 de janeiro de 1979 — Samantha Schmütz, atriz e humorista brasileira.
28 de janeiro de 1980 — Nick Carter, cantor estadunidense.
28 de janeiro de 1983 — Sandy, cantora brasileira.
29 de janeiro de 1749 — Cristiano VII da Dinamarca (m. 1808).
29 de janeiro de 1843 — William McKinley, político norte-americano (m. 1901).
29 de janeiro de 1984 — Nuno Morais, futebolista português.
30 de janeiro de 1832 — Luísa Fernanda de Bourbon, infanta da Espanha (m. 1897).
30 de janeiro de 1962 — Abdullah II da Jordânia.
30 de janeiro de 1988 — Léo, futebolista brasileiro.
31 de janeiro de 1673 — Luís Maria Grignion de Montfort, sacerdote francês e santo católico (m. 1716).
31 de janeiro de 1911 — Baba Vanga, vidente búlgara (m. 1996).
31 de janeiro de 1928 — Miltinho, cantor brasileiro (m. 2014).
31 de janeiro de 1938 — Beatriz dos Países Baixos.
31 de janeiro de 1976 — Malvino Salvador, ator brasileiro.
31 de janeiro de 1996 — Joel Courtney, ator norte-americano.
Mortes
1 de janeiro de 1515 — Luís XII de França (n. 1462).
1 de janeiro de 1782 — Johann Christian Bach, compositor alemão (n. 1735).
1 de janeiro de 2013 — Patti Page, cantora norte-americana (n. 1927).
2 de janeiro de 1554 — João Manuel, Príncipe de Portugal (n. 1537).
2 de janeiro de 1886 — Emílio Mallet, militar brasileiro (n. 1801).
2 de janeiro de 2013 — Ladislao Mazurkiewicz, futebolista uruguaio (n. 1945).
6 de janeiro de 1884 — Gregor Mendel, botânico austríaco (n. 1822).
6 de janeiro de 1958 — Josefina da Bélgica, princesa de Hohenzollern (n. 1872).
6 de janeiro de 2010 — Beniamino Placido, jornalista e escritor italiano (n. 1929).
14 de janeiro de 1984 — Ray Kroc, empresário norte americano
16 de janeiro de 1833 — Paula de Bragança, princesa do Brasil (n. 1823).
16 de janeiro de 2012 — Carminha Mascarenhas, cantora brasileira (n. 1930).
16 de janeiro de 2017 — Eugene Cernan, astronauta norte-americano (n. 1934).
20 de janeiro de 1983 — Garrincha, futebolista brasileiro (n. 1933).
20 de janeiro de 2022 — Elza Soares, cantora e compositora brasileira (n. 1930).
21 de janeiro de 1495 — Madalena da França, princesa de França e Viana (n. 1443).
21 de janeiro de 1793 — Luís XVI de França (n. 1754).
21 de janeiro de 1913 — Aluísio Azevedo, caricaturista, romancista e diplomata brasileiro (n. 1857).
21 de janeiro de 1924 — Lenin, revolucionário russo (n. 1870).
25 de janeiro de 389 — Gregório de Nazianzo, patriarca de Constantinopla (n. 329).
25 de janeiro de 1947 — Al Capone, gângster ítalo-americano (n. 1899).
25 de janeiro de 2004 — Miklós Fehér, futebolista húngaro (n. 1979).
26 de janeiro de 1583 — Catarina Paraguaçu, indígena tupinambá (n. 1495).
26 de janeiro de 1873 — Amélia de Leuchtenberg, imperatriz consorte do Brasil (n. 1812).
26 de janeiro de 1957 — José Linhares, político brasileiro e 15° Presidente do Brasil (n. 1886).
27 de janeiro de 1839 — Charles Paget, político britânico (n. 1778).
27 de janeiro de 1960 — Osvaldo Aranha, político e diplomata brasileiro (n. 1894).
27 de janeiro de 1990 — Adriana de Oliveira, modelo brasileira (n. 1969).
31 de janeiro de 1888 — Dom Bosco, religioso, educador e escritor italiano (n. 1815).
31 de janeiro de 1991 — Márcio de Sousa Melo, militar brasileiro (n. 1906). |
A Companhia de Jesus (, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas, é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Santo Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional.
Em 2023, conta com aproximadamente 16 mil integrantes.
História
Inácio de Loyola, de origem nobre, foi ferido em combate na defesa da fortaleza de Pamplona contra os franceses em 1521. Durante o período de convalescença dedicou-se à leitura do Flos Sanctorum, após o que decidiu-se a desprezar os bens terrenos em busca dos sobrenaturais. No santuário de Monserrat fez a sua 'vigília d'armas' e submeteu-se a uma confissão geral. Abandonou a indumentária fidalga substituindo-a pela dos mendicantes. Retirando-se para a gruta de Manresa ali entregou-se a rigorosas penitências e escreveu a sua principal obra o Livro de Exercícios Espirituais, admirável sobretudo por não ter ainda o autor conhecimentos teológicos acadêmicos.
Em 15 de agosto de 1534, Inácio e seis outros estudantes (o francês Pedro Fabro, os espanhóis Francisco Xavier, Alfonso Salmerón, Diego Laynez, e Nicolau de Bobadilla e o português Simão Rodrigues) encontraram-se na Capela dos Mártires, na colina de Montmartre, e fundaram a Companhia de Jesus — para "desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém, ou para ir aonde o papa nos enviar, sem questionar". Nesta ocasião fizeram os votos de pobreza e castidade.
Inácio de Loyola escreveu as constituições jesuítas, adotadas em 1554, que deram origem a uma organização rigidamente disciplinada e guerreira, como se de uma primitiva ordem de cavalaria se tratasse, enfatizando a absoluta abnegação e a obediência ao Papa e aos superiores hierárquicos (perinde ac cadaver, "disciplinado como um cadáver", nas palavras de Inácio). O seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas: Ad maiorem Dei gloriam ("Para a maior glória de Deus").
Acompanhado por Fabro e Laynez, Inácio viajou até Roma, em outubro de 1538, para pedir ao papa a aprovação da ordem. O plano das Constituições da Companhia de Jesus foi examinado por Tomás Badia, mestre do Sacro Palácio, e mereceu sua aprovação. A congregação de cardeais, depois de algumas resistências, deu parecer positivo à constituição apresentada. Em 27 de setembro de 1540 Paulo III confirmou a nova ordem através da bula Regimini militantis Ecclesiae, que integra a "Fórmula do Instituto", onde está contida a legislação substancial da ordem, cujo número de membros foi limitado a 60. A limitação foi porém posteriormente abolida pela bula Injunctum nobis de 14 de março de 1543.
O papa Paulo III autorizou que fossem ordenados padres, o que sucedeu em Veneza, pelo bispo de Rab, em 24 de junho. Devotaram-se inicialmente a pregar e em obras de caridade em Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os turcos seljúcidas tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável. Inácio de Loyola foi escolhido para servir como primeiro superior geral. Enviou os seus companheiros e missionários para vários países europeus, com o fim de criar escolas, liceus e seminários.
Obra inicial
A Companhia de Jesus foi fundada no contexto da Reforma Católica (também chamada de Contrarreforma). Os jesuítas fazem votos de obediência total à doutrina da Igreja Católica, tendo Inácio de Loyola declarado:
A companhia logo se espalhou muito. Em Portugal, D. João III pediu missionários e lhe foram enviados Simão Rodrigues, que fundou a província, e S. Francisco Xavier, que foi enviado ao Oriente. Na França tiveram a proteção do Cardeal de Guise. Na Alemanha, os primeiros foram Pedro Faber e Pedro Canísio e outros, que foram apoiados pela casa da Baviera, logo dirigiram colégios, ensinaram em universidades e fundaram congregações. A causa das perseguições contra a companhia costuma ser sua íntima união com a Santa Sé, a universalidade do apostolado e a firmeza de princípios. Os jesuítas alcançaram grande influência na sociedade nos períodos iniciais da Idade Moderna (séculos XVI e XVII), frequentemente eram educadores e confessores dos reis dessa altura — D. Sebastião de Portugal, por exemplo.
A Companhia de Jesus teve atuação de destaque na Reforma Católica, em parte devido à sua estrutura relativamente livre (sem os requerimentos da vida na comunidade nem do ofício sagrado), o que lhes permitiu uma certa flexibilidade de ação. Em algumas cidades alemãs os jesuítas tiveram relevante papel. Algumas cidades, como Munique e Bona, por exemplo, que inicialmente tiveram simpatia por Martinho Lutero, ao final permaneceram como bastiões católicos — em grande parte, graças ao empenho e vigor apostólico de padres jesuítas.
Organização
São membros da ordem os professos, os escolásticos e os coadjutores. Os professos devem ser doutores e, além dos três votos comuns têm o de obediência ao papa. O geral, os provinciais, assistentes e os professores de teologia devem ser professos. O geral, além dos assistentes, tem ainda o admoestador. O órgão superior de administração é a Congregação Geral na qual tomam parte todos os professos eleitos por suas províncias. Os assistentes são eleitos pelas províncias e o geral é vitalício.
A companhia possui casas de professos, colégios, residências e missões. O vestuário depende do lugar onde moram, não têm hábito próprio. Não há a obrigação do ofício de côro. Após quinze anos de vida religiosa proferem os últimos votos; devem passar dois anos de noviciado, três de filosofia, alguns de magistério, quatro de teologia, e um segundo noviciado que é chamado de terceiro ano de aprovação. Como em todas as ordens religiosas da Igreja Católica, os jesuítas também têm a prática do retiro espiritual, mas de modo especial praticam os Exercícios Espirituais de Santo Inácio.
Expansão
Em Portugal, o caráter de milícia era evidente, acabando a Companhia por se tornar a arma mais poderosa da Contrarreforma. D. João III, aconselhado por Diogo de Gouveia, solicitou a Loyola o envio de irmãos para a evangelização do Oriente. Ainda em 1540, chegam a Portugal o basco Francisco Xavier (depois São Francisco Xavier) e o português Simão Rodrigues. Este permaneceu no reino e aquele partiu para o Oriente em missão evangélica, chegando ao Ceilão e às Molucas em 1548, e à China em 1552. As missões iniciais no Japão tiveram como resultado a concessão aos jesuítas de um enclave feudal em Nagasaki, em 1580. No entanto, o receio em relação a crescente influência da ordem fez com que esse privilégio fosse abolido no ano de 1587.
Os jesuítas penetraram no Reino do Congo (1547), em Marrocos (1548) e na Etiópia (1555).
Simão Rodrigues, enquanto isso, criara a primeira casa em Portugal, em 1542, concretamente o Colégio de Santo Antão o Velho, em Lisboa, logo se seguindo outros — em Coimbra (1542), Évora (1551) e de novo Lisboa (1553). Em 1555, foi-lhes entregue o Colégio das Artes em Coimbra e, em 1559, a Universidade de Évora. Em 1560 recebem em doação o Colégio de São Paulo, em Braga, por D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Logo muitos poderosos passaram a querer jesuítas como confessores.
O jesuíta António de Andrade, padre e explorador português, é o primeiro europeu a visitar o Tibeteː em 1624 chega a Tsaparang a capital do reino tibetano de Guge. Outros missionários jesuítas Gruber e D'Orville chegaram a Lassa em 1661.
Na América do Sul
Desde 1549, chegara ao Brasil (Bahia) o primeiro grupo de seis missionários liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos pelo governador-geral Tomé de Sousa.
Certamente a maior obra jesuítica em terras brasileira consistiu na fundação de São Paulo de Piratininga em torno do seu famoso colégio, ponto de origem da expansão territorial e da colonização do interior do país.
As missões jesuítas na América Latina foram controversas na Europa, especialmente na Espanha e em Portugal, onde eram vistas como interferência na ação dos reinos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à escravidão indígena. Eles fundaram uma série de aldeamentos missionários — chamados missões ou misiones no sul do Brasil, ou ainda reducciones, no Paraguai — organizados de acordo com o ideal católico, que, mais tarde, acabaram sendo destruídos por espanhóis, e principalmente por portugueses, à cata de escravos.
Segundo o historiador Manuel Maurício de Almeida, desde o fim do século XVI houve expansão hispano-jesuítica a partir de Asunción (Assunção) no atual Paraguai, em três frentes pioneiras:
no Paraná, onde se fundou em 1554 Ontíveros, Ciudad Real del Guayrá, Vila Rica del Espiritu Santu e outras reduções na então República do Guairá;
rumo ao Mato Grosso do Sul. Fundada a vila de Santiago de Xerez, que seria o centro da Província de Nueva Vizcaya, havia missões que aldeavam os representantes das comunidades primitivas do Itatim. Projeto com apoio do Estado e da Igreja, para assegurar o controle do vale do rio Paraguai e articular as missões do Itatim com as de Mojos e Chiquitos, de modo a assegurar proteção ao altiplano mineiro na atual Bolívia;
em trechos do atual território do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, aldeias do Tape, Uruguai e Sierra.
As missões na América do Sul eram unidades de produção autossuficientes, com relação de produção do tipo feudal. Cada família cultivava em regime de posse individual e coletiva porções de terra. A retribuição era sempre representada por produtos, realizados coletivamente (tupambaé, "parte de Deus") ou nas terras de posse familiar (abambaé,"parte das pessoas"). O que era reservado à reprodução do sistema econômico, ou comércio, constituía tabambaé ou "parte da aldeia". Havia um cabido rudimentar, presidido por um corregedor indígena eleito pela comunidade. A ideologia religiosa era católica.
Com a ocupação dos portos negreiros na África, São Jorge da Mina, São Tomé e São Paulo de Luanda, pelos holandeses, o apresamento de índios se expandiu na segunda metade do século XVII para muito além das vizinhanças do planalto de Piratininga, força de trabalho escrava mais lucrativa — principalmente Guairá. Autoridades espanholas favoreceram mesmo, na vigência da União Ibérica, a destruição das missões.
Em 30 de julho de 1609, uma lei de Filipe III declarou livres todos os índios. Sob influência da Companhia de Jesus, a escravidão era proibida mas se mantinha sobre eles a jurisdição dos jesuítas. Houve reclamações tamanhas, por se ter desordenado a economia da colônia, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, que a Coroa retrocedeu, por lei de 10 de janeiro de 1611 ao regime anterior, os escravos sendo prisioneiros de guerra justa. Foi sempre a principal causa dos conflitos entre o povo e os jesuítas.
Atuação no Brasil
Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 liderados por Manoel de Nóbrega e começaram sua catequese erguendo um colégio em Salvador da Bahia, fundando a Província Brasileira da Companhia de Jesus. Cinquenta anos mais tarde já tinham colégios pelo litoral, de Santa Catarina ao Ceará. Quando o marquês de Pombal os expulsou, em 1760, eram 670 por todo o país, distribuídos em aldeias, missões, colégios e conventos. Os primeiros jesuítas que Ignacio enviou para a América foram o espanhol José de Anchieta e o português Manuel da Nóbrega.
A supressão da ordem
As tendências anticristãs do século XVIII dirigiram contra a Congregação dos Jesuítas grandes combates, por julgá-la o mais forte baluarte da Santa Sé. A par de algumas queixas políticas mais ou menos fundadas, a Companhia suscitava ódios em razão da bem-sucedida luta contra os jansenistas; oposição ao galicanismo e a consequente adesão do Papa. Além disto, tinha posição destacada nas cortes com professores, pregadores e confessores e um certo predomínio científico manifestado tanto nos colégios como nas publicações.
Em Portugal, o rei D. José I tinha por ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, que na convicção que os jesuítas eram obstáculo aos seus planos, resolveu dar-lhes combate culpando-os da crise nos Sete Povos das Missões com os indígenas, mandou prender a todos no Brasil e os meteu em cárcere em Portugal sem que tivessem defesa e de onde só puderam sair em 1777, com a ascensão de D. Maria I ao trono: dos 9.460 encarcerados só restavam uns 800. Em Portugal e nas Cortes Borbónicas, muitos Jesuítas foram presos ou mesmo condenados a suplícios, como é o caso do padre Gabriel Malagrida, acusado no processo dos Távoras. Outros ingressaram no clero secular ou em outras ordens.
Na França, os jansenistas, galicanos e voltaireanos já havia muito queriam exterminar a Companhia, para isto valeram-se do caso do Pe. La Valette. Este era procurador de uma casa de jesuítas na Martinica e deu-se a especulações comerciais contra todas as regras da ordem, pelo que dela foi expulso. No entanto, como devia pessoalmente grande soma, atribuíram a dívida à Companhia que se negou a pagar. O assunto foi ao parlamento que deu a alternativa: ou a Ordem se reconhecia culpada das acusações ou os jesuítas seriam exilados. Apesar dos protestos do episcopado francês e do próprio Papa, Luís XV também expulsou a Companhia da França em 1764. Foram promotores da expulsão o ministro absolutista Choiseul e madame Pompadour, cuja escandalosa presença na corte francesa era repudiada pelo Pe. Perisseau, confessor do rei.
Em Espanha, o ministro de Carlos III, Aranda, intrigou os jesuítas com o rei acusando-os de defenderem a independência das colônias e de levantarem dúvida sobre a legitimidade do nascimento do rei. Carlos III mandou prender a todos os jesuítas em 1767 com a Pragmática Sanção. Por mais que o papa pedisse, o rei nunca lhe apresentou as razões do decreto.
Em Nápoles, o ministro Tanucci era mais forte que Fernando IV. Depois de dois anos de perseguição os desterrou para os Estados Pontifícios. Em Parma o marquês Tillot imperava tiranicamente: aos pedidos do papa respondeu com a expulsão dos jesuítas em 1768. No mesmo ano o grão-mestre dos cavalheiros de Malta os desterrou da ilha. Essas cortes juntaram-se na pressão sobre o Papado para suprimir a Companhia, ao que resistiu Clemente XIII.
O papa Clemente XIV, seu sucessor, embora bem intencionado, era indeciso e fraco, cedendo às pressões dos reis e principalmente da Espanha — através da bula Dominus ac Redemptor — obtida quase à força pelo embaixador espanhol Moniño, órgão central de quase todas as maquinações antijesuíticas, no período da supressão — suprimiu oficialmente a Companhia em 21 de julho de 1773. O Superior Geral da Companhia, Lorenzo Ricci, juntamente com os seus assistentes, foi feito prisioneiro no Castelo de Sant'Angelo, em Roma, sem julgamento prévio. Os demais foram obrigados a deixar a Ordem ao que obedeceram.
Como papa Clemente XIV deixou a critério dos soberanos a publicação da bula, a czarina Catarina a Grande os conservou na Rússia e usou a ocasião para atrair para o seu país os membros da Companhia, gente de grande erudição, o mesmo se deu com Frederico da Prússia, na Silésia. Na altura da supressão havia cinco assistências, 39 províncias, 669 colégios, 237 casas de formação, 335 residências missionárias, 273 missões e membros.
Restauração
Depois de suprimida pelo papa Clemente XIV em julho de 1773, a Companhia de Jesus manteve-se na Rússia. Nessa altura milhões de católicos, incluindo numerosos jesuítas, viviam nas províncias polacas da Rússia. Aí a companhia manteve intensa actividade religiosa, de ensino e de missionação.
Deste modo, o papa Pio VI autorizou formalmente a existência da Companhia de Jesus na Polónia e Rússia, o que levou os jesuítas a elegerem Stanislaus Czerniewicz como seu superior em 1782. Em 1814, mudadas as cortes europeias pelas Guerras Napoleônicas, o papa Pio VII viu-se em condições de restaurar a companhia, o que fez no dia 7 de agosto daquele ano em Roma, entregando a bula da restauração encíclica Sollicitudo omnium ecclesiarum aos velhos padres ainda existentes e ali reunidos. O superior geral Thaddeus Brzozowski, que havia sido eleito em 1805, adquiriu então jurisdição universal. A Companhia de Jesus foi derrubada e levantou-se.
Durante os séculos XIX e XX, a Companhia de Jesus voltou a crescer enormemente até os anos 50 do século XX, quando atingiu o pico. Desde aí, seguindo a quebra de vocações na Igreja Católica, o número de jesuítas também tem vindo a decrescer.
Os jesuítas hoje
Em 2009, a Companhia de Jesus era o instituto religioso masculino mais numeroso na Igreja Católica. Contava com membros com uma média de idades de 57 anos, sendo que eram sacerdotes, irmãos, jesuítas em formação e eram noviços. A sua distribuição fazia-se por 127 países dos cinco continentes, sendo os Estados Unidos e a Índia os países com maior número de jesuítas.
A companhia caracteriza-se pela sua forte ligação com a educação, com numerosos estabelecimentos de ensino, inclusive de nível superior. No Brasil, as universidades Católica do Rio de Janeiro, Católica de Pernambuco, do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Centro Universitario FEI, em São Paulo, a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), a EMGE - Escola de Engenharia e a Escola de Direito Dom Helder, em Belo Horizonte, pertencem à Ordem.
No Brasil, os Jesuítas também dispõem de uma revista eletrônica: o domtotal.com
Em 2023 a Companhia de Jesus tem em Portugal dois colégios, estão em nove cidades com os seus 147 membros espalhados por 12 comunidades.
Após o Concílio Vaticano II, sob a direção do superior geral Pedro Arrupe, a Companhia de Jesus privilegiou a defesa dos direitos humanos o que levou alguns dos seus membros a serem rotulados como subversivos e perseguidos. Tal foi o caso de seis jesuítas mortos pelo exército salvadorenho a 16 de novembro de 1989 no campus universitário da Universidade da América Central, em San Salvador.
A 31 de outubro de 1991, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus foi feita membro-honorário da Ordem da Instrução Pública.
Em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro papa jesuíta da Igreja Católica.
A 14 de outubro de 2016, Arturo Sosa Abascal foi eleito para suceder a Adolfo Nicolás como 31º Superior Geral da Companhia de Jesus, o que foi logo reconhecido pelo Papa Francisco.
Os jesuítas vítimas do Holocausto
Nove padres jesuítas foram formalmente reconhecidos como heróis do Holocausto pelo Yad Vashem, a autoridade israelita em favor da memória dos mártires e heróis do Holocausto, por levarem a cabo todos os esforços possíveis para salvar e dar asilo a judeus durante a Segunda Grande Guerra Mundial. A aldeia foi fundada pelo padre José de Anchieta em 1561.
Por cerca de 500 anos, a Ordem Jesuíta não ocupou lugares no alto clero do Vaticano devido à sua distância em relação a altos cargos na Igreja. O primeiro jesuíta eleito papa foi o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI. Além de ser o primeiro jesuíta, foi também o primeiro sul-americano no papado.
Outras considerações
Acima das inevitáveis ambiguidades, as missões dos jesuítas impressionam pelo espírito de inculturação (adaptação à cultura do povo a quem se dirigem). As Reduções do Paraguai e a adoção dos ritos malabares e chineses são os exemplos mais significativos.
A atividade educativa tornou-se logo a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da antiga Companhia favoreceu a expansão dos seus colégios. Em 1556, à morte de Santo Inácio, eram já 46. No final do século XVI, o número de colégios elevou-se a 372. A experiência pedagógica dos jesuítas sintetizou-se num conjunto de normas e estratégias, chamado a Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos), que visa à formação integral do homem cristão, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo.
Os primeiros jesuítas participaram ativamente da Reforma Católica e do esforço de renovação teológica da Igreja Católica. No Concílio de Trento, destacaram-se dois companheiros de Santo Inácio (Laínez e Salmerón). Desejando levar a fé a todos os campos do saber, os jesuítas dedicaram-se às mais diversas ciências e artes: Matemática, Física, Astronomia. Entre os nomes de crateras da Lua há mais de 30 nomes de jesuítas. No campo do Direito, Suarez e seus discípulos desenvolveram a doutrina da origem popular do poder. Na Arquitetura, destacaram-se muitos irmãos jesuítas, combinando o estilo barroco da época com um estilo mais funcional.
Papas jesuítas
Cardeais jesuítas
Pedro Ricardo Barreto Jimeno
Jorge Mário Bergoglio (atual Papa Francisco)
Michael Czerny
Julius Riyadi Darmaatmadja
Jean-Claude Höllerich
Luis Francisco Ladaria Ferrer
Sigitas Tamkevičius
Albert Vanhoye
Bispos jesuítas
Ferdinand Verbiest
Luciano Mendes de Almeida
Alessio Saccardo
Aloysio José Leal Penna
João Evangelista Martins Terra, SJ
Ver também
André de Santa Maria
António Vieira
Apolinário de Almeida
Companhia de Jesus no Brasil
Expulsão dos jesuítas de Portugal
São José de Anchieta
Inácio de Azevedo
Inácio de Loyola
Instituto Ricci de Macau - Associação de promoção cultural da Companhia de Jesus em Macau
Padre Mariano Pinho
Manuel da Nóbrega
Missões
Padre Cruz
Patriarcado da Etiópia
Quarenta Mártires do Brasil
Superior-geral da Companhia de Jesus
Supressão da Companhia de Jesus
Publicações no Japão
Lista dos documentos cristãos (KIRISHITAN-MONO)
DOCTRINA CHISTAN - 1592
FIDES NO DOXI - 1592
FEIQE MONOGATARI - 1592
ESOPONO FABVLAS - 1593
QUINCVXV - 1593
DE ISTITTVTIONE GRAMMATICA - 1594
DICTIONARIVM LATINO LUSITANICVM IAPONICV - 1596
APHORISMI CINFESSIONARVM 1603
VOCABVLARIO DA LINGOA DE IAPAN - 1603
ARTE DA LINGOA DE IAPAM - 1604
MANUALE AC SACRAMENTA - 1605
SPIRITVAL XVGVIO - 1607
FLOSCVLI - 1610
Bibliografia
BAPTISTA, Jean. . São Miguel das Missões: Museu das Missões-IBRAM, 2010 (Dossiê Missões, I).
BAPTISTA, Jean. O Eterno: Crenças e Práticas Missionais. São Miguel das Missões: Museu das Missões-IBRAM, 2010. (Dossiê Missões, II).
BAPTISTA, Jean; SANTOS, Maria Cristina dos. As Ruínas: a Crise entre o Temporal e o Eterno. São Miguel das Missões: Museu das Missões-IBRAM, 2010. (Dossiê Missões, III)
CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica. Editora Vozes, Petrópolis: 1957.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. 10 vols. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938-1950.
MÜLLER, Andreas; TAUSCH, Arno; ZULEHNER, Paul Michael; WICKENS, Henry (eds.). Global capitalism, liberation theology, and the social sciences: An analysis of the contradictions of modernity at the turn of the millennium. Comack, NY: Nova Science Publishers, 1999. .
Cf. especialmente:
Cap. 2: AMIM, Samir. Judaism, Christianity and Islam: An Introductory Approach to their Real or Supposed Specificities by a Non-Theologian;
Cap. 3: MO SUNG, Jung.Economics and Theology, Reflections on the Market, Globalization and the Kingdom of God;
Cap. 4: MOREIRA, Alberto da Silva. Saint Francis and Capitalist Modernity. A View from the South;
Cap. 5: TAUSCH, Krystyna. Feminism in the Country of Liberation Theology: Peru;
Cap. 6: MÜLLER, Andreas. Ethical, Biblical and Theological Aspects of Foreign Debt;
Cap. 7: FLECHSIG, Steffen. Raul Prebisch's Contribution to a Humane World;
Cap. 9: MURSHED, S. Mansoob. Development in the Light of Recent Debates about Development Theory;
Cap. 11: RENOLDER, Severin. Towards a Theology of the Democratization of Europe;
Cap. 12: ROSS, Robert J. The Race to the Bottom;
Cap. 13: ZULEHNER, Paul M. New Departures. On the Social Positioning of the Christian Churches Before and After Communism in Central and Eastern Europe.
TEIXEIRA, António José. Documentos para a História dos Jesuítas em Portugal coligidos pelo Lente de Matemática António José Teixeira''. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1899.
Ligações externas
A fundação da Companhia de Jesus, Os Dias da História - A Fundação da Companhia de Jesus, por Paulo Sousa Pinto, Antena 2, 2017
Os Jesuítas em Portugal depois de Pombal. História ilustrada, por Francisco Malta Romeiras, Lucema
Jesuitas |
Kent ou, raramente, Câncio é um condado situado no sudeste da Inglaterra, próximo de Londres, com capital em Maidstone. Kent é denominada The Garden of England, pela sua beleza exuberante. Segundo estimativa de 2008, conta 1 660 100 habitantes numa área de 3736 km², limitada a leste pelo Mar do Norte, a sul pelo Estreito de Dover e por East Sussex, a oeste por Surrey e pela Grande Londres e a norte por Essex.
Ligações externas
Conselho de Kent
Turismo em Kent
Kent Online
Kent Villages
Condados não metropolitanos da Inglaterra
Condados cerimoniais da Inglaterra
Condados históricos da Inglaterra |
Em jornalismo, o lide (do inglês lead; em latim incipit) é a primeira parte de uma notícia. Geralmente o primeiro parágrafo com duas linhas posto em destaque que fornece ao leitor informação básica sobre o conteúdo. A expressão inglesa lead tem, entre outras, a tradução de “primeiro”, “guia” ou “(o que vem) à frente”.
O lide é um elemento fundamental para a funcionalidade do texto jornalístico, que expressa a função das linhas iniciais de uma matéria, no intuito de atrair e conduzir o leitor aos demais parágrafos.
De uma maneira geral, o lide deve responder a seis perguntas: o quê (a ação), quem (o agente), quando (o tempo), onde (o lugar), como (o modo) e por que (o motivo) se deu o acontecimento central da história. No caso de não conseguir colocar todas as informações no início, o jornalista tem a opção de colocar o restante no sub-lead que representa o segundo parágrafo do assunto noticiado.
O lide, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. Segundo Adelmo Genro Filho, em “O Segredo da Pirâmide”, o lide deve descrever a maior singularidade da notícia.
Já o lide do texto de reportagem, ou de revista, não tem necessidade de responder imediatamente às seis perguntas. A sua principal função é oferecer uma prévia, como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado.
O lide deve ser objetivo e direto, evitando a subjetividade, e pautar mais pela exatidão, linguagem clara e simples. O leitor ganha interesse pela notícia quando o lide é bem elaborado e coerente.
História
Fruto de obstáculos de comunicação o lide surgiu no século XIX nos Estados Unidos. Jornalistas que cobriam a Guerra Civil Americana entre os anos de 1861 e 1865, enfrentavam sérios problemas para noticiar. Nessa época o problema girava em torno de muitos jornalistas e poucas linhas de telégrafo para fazer a transmissão das notícias, então era necessário criar uma tática para que as informações mais importantes fossem passadas primeiro. Um parágrafo de cada matéria era transmitido, depois passavam para o segundo e assim por diante, até o fim da notícia. E assim surgiu o lide.
No Brasil, o lide chegou no ano de 1950, trazido pelas agências de notícia norte-americanas. Antes as matérias eram escritas a partir de comentários e uma combinação entre interpretação e informação em que a principal notícia ficava no final. Esse período foi responsável pelo declínio do jornalismo literário, que era desenvolvido desde o princípio da imprensa.
Após a chegada do lide se desencadeava mais uma estruturação para o texto jornalístico, a pirâmide invertida que é uma técnica de hierarquização dos fatos, da ordem decrescente de relevância dos fatos. Segundo Ricardo Carde, em Manual do Jornalismo “a verdade é que o sistema do lide e da pirâmide invertida possui potencialidades que seria um erro menosprezar”, por isso é importante que o jornalista tenha domínio da técnica na construção da notícia.
O lide permite que a resposta se estruture no esquema da pirâmide invertida:
Devido ao surgimento do lide o nariz de cera foi eliminado dos textos jornalísticos. O nariz de cera nada mais é que criar um suspense, ou até mesmo como alguns chamam: “enrolação”. Esse esquema fazia com que o cerne da notícia fosse compreendido apenas no fim da matéria. A padronização para os textos com o uso do lide e da pirâmide invertida tornou a escrita mais objetiva.
Radiojornalismo
O lide no texto para o rádio é algo mais simplificado, menos complicado que no jornal. Atende basicamente “o quê”, o “onde”, e o “quando” tem menos relevância, porém não sendo descartado podendo aparecer em uma outra parte da notícia.
Advérbios de modo e adjetivos devem ser evitados, pois fazem a leitura ser demorada. Verbos no presente indicativo são bem-vindos por dá a ideia de atualidade, evidenciando a linguagem oral, pois imediatismo e instantaneidade são características do rádio.
No lide para o rádio também deve ser rejeitado frases negativas ou interrogativas. Outro ponto importante é o tratamento dado a última frase, por ser a que fixa na mente do ouvinte.
Telejornalismo
Assim como para o impresso e para o rádio, o lide para TV deve ser claro, com breves parágrafos e gerar impacto. Já que um elemento a mais é incluído, a imagem, tal deve está em perfeita sincronização com o texto, fazendo ambos caminharem juntos.
O lide na TV pode ser dito pelo repórter, ou antecipadamente na introdução do assunto anunciado pelo apresentador. Tradicionalmente na TV a abertura da matéria não vai atender absolutamente ao fato principal da notícia, porém com um detalhe atraente que prenda a atenção do telespectador.
A combinação entre a imagem e o texto, o título que corresponde ao lide do jornal impresso, são os principais atributos do lide no texto para o telejornalismo.
Crítica
Alguns críticos do jornalismo são contra ao uso do lide nos textos jornalísticos, alegam ser algo que cortou a criatividade dos jornalistas, que passaram a escrever de forma automática, sempre respondendo as seis perguntas. Outros são a favor, afirmam que há como ser criativo e dinâmico mesmo fazendo o tradicional uso do lide.
Para Dimas Kunsch, jornalista e filósofo, o jornalismo sem o lide seria melhor, argumenta que o mundo nem as pessoas cabem em um simples lide. Ricardo Noblat também se contrapõe a questão, e diz que o texto sem lide, que esteja mais próximo do literário, visualmente atrativo, tem mais significado.
Jornalismo |
A língua latina ou latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no Lácio, a região em volta da cidade de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente na Europa Ocidental, como a língua oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste último ao cristianismo, da Igreja Católica Romana. Através da Igreja Católica, tornou-se a língua dos acadêmicos e filósofos europeus medievais. Por ser uma língua altamente flexiva e sintética, a sua sintaxe (ordem das palavras) é, em alguma medida, variável, se comparada com a de idiomas analíticos como o mandarim, embora em prosa os romanos tendessem a preferir a ordem SOV. A sintaxe é indicada por uma estrutura de afixos ligados a temas. O alfabeto latino, derivado dos alfabetos etrusco e grego (por sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua a ser o mais amplamente usado no mundo.
Embora o latim seja hoje uma língua morta, ou seja, uma língua que não mais possui falantes nativos, ele ainda é empregado pela Igreja Católica para fins rituais e burocráticos. Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir de fonte vocabular para a ciência, o mundo acadêmico e o direito. O latim vulgar, nome dado ao latim no seu uso popular inculto, é o ancestral das línguas neolatinas (italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche, galego, occitano, mirandês, sardo e outros idiomas e dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por outras línguas modernas, como o inglês. O fato de haver sido a lingua franca do mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.
O latim ainda é a língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica. Foi a principal língua litúrgica até o Concílio Vaticano Segundo nos anos 1960. O latim clássico, a língua literária do final da República e do início do Império Romano, ainda hoje é ensinado em muitas escolas primárias e secundárias, embora seu papel se tenha reduzido desde o início do .
Diacronia
O latim inclui-se entre as línguas itálicas, e seu alfabeto baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado do alfabeto grego. No século IX ou , o latim foi trazido para a península Itálica pelos migrantes latinos, que se fixaram numa região que recebeu o nome de Lácio, situada ao longo do rio Tibre, onde a civilização romana viria a desenvolver-se. Naqueles primeiros anos, o latim sofreu a influência da língua etrusca, proveniente do norte da península e que não era uma língua indo-europeia.
A importância do latim na península Itálica firmou-se gradativamente. A princípio, era apenas a língua de Roma, uma pequena cidade circundada por vários centros menores (Lanúvio, Preneste, Tívoli), nos quais se falavam dialetos latinos ou afins ao latim (o falisco, língua da antiga cidade de Falérios). Já a poucos quilômetros de Roma, eram faladas línguas muito diversas: o etrusco e sobretudo línguas do grupo indo-europeu — o umbro, no norte, e o osco, na porção mais ao sul, até a atual Calábria. Na Itália setentrional falavam-se outras línguas indo-europeias como o lígure, o gálico e o venético. O grego era difundido nas numerosas colônias gregas da Sicília e da Magna Grécia. Ao longo de toda a era republicana, a situação linguística da Itália permaneceu muito variada: o plurilinguismo era uma condição comum, e os primeiros autores da literatura, como Ênio e Plauto dominavam o latim, o grego e o osco.
Além das variações regionais, mesmo o latim de Roma não foi uma língua sempre igual a si mesma, apresentando fortes diferenças diacrônicas e sociolinguísticas. Do ponto de vista diacrônico, deve-se distinguir:
latim pré-literário, a língua das inscrições (do ao );
latim arcaico, a partir das origens da literatura, no , até o final do , A literatura faz sua aparição, sob influência grega, Nesse período é feita a tradução da Odisseia por Lívio Andrônico (). Destacam-se também o dramaturgo Plauto e Terêncio. A ortografia, porém, ainda não está padronizada;
latim clássico (sermus urbanus) é o latim usado no Império Romano, florescendo a partir do segundo quartel do até , o período de Augusto, que corresponde à idade de ouro da literatura latina, destacando-se Ovídio, Cícero, Virgílio, Horácio e Tito Lívio, entre outros. Trata-se da língua escrita, notável pelo apuro do vocabulário, pela correção gramatical e pela elegância do estilo — ou seja urbanitas, o que, nas palavras de Quintiliano, corresponde a "um certo gosto citadino" (gustum urbis) que é manifestado no discurso através dos vocábulos, da pronúncia e de seu uso particular, bem como um alto nível de cultura não ostentada, extraída das conversas entre pessoas instruídas; numa palavra, tudo o que é contrário à rusticidade;
Idade de prata, de a ;
latim imperial, até o . Autores como Sêneca, Lucano, Petrônio, Quintiliano, Estácio, Juvenal, Suetônio, que viveram entre os séculos I e II, apesar das diferenças estilísticas, mantiveram em geral invariante a língua literária clássica. No , surge, de um lado, uma moda cultural literária de recuperar os modelos clássicos do período de Augusto; de outro, com autores como Apuleio, começa a adquirir maior importância o latim vulgar, a língua falada que será a base das línguas modernas derivadas do latim — as línguas neolatinas;
latim vulgar (sermo vulgaris, sermo usualis ou sermo plebeius) é a língua coloquial usada por diferentes camadas da população romana, desde a aristocracia até o povo iletrado, como uma espécie de denominador comum, sendo o instrumento de comunicação diária. O latim coloquial é, para muitos, o proto-romance, isto é, o ponto de partida da formação das línguas românicas;
latim tardio, incluindo o período patrístico, do ao , época da publicação da Vulgata de São Jerônimo, das obras de Santo Agostinho e de Boécio. No período imperial tardio, ao lado de autores mais ligados à tradição clássica, como Ausônio e Claudiano, emergiram as grandes figuras dos Padres da Igreja como Tertuliano, Ambrósio, Jerônimo e, sobretudo, Agostinho de Hipona. No viveu também um dos maiores historiadores latinos (embora de origem greco-síria): Amiano Marcelino;
latim medieval, do ao , período de surgimento das línguas românicas;
latim renascentista, do ao ;
neolatim (ou latim científico), do ao .
Embora a literatura romana sobrevivente seja composta quase inteiramente de obras em latim clássico, a língua falada no Império Romano do Ocidente na Antiguidade tardia (200 a ) era o latim vulgar, que diferia do primeiro em sua gramática, vocabulário e pronúncia.
O latim manteve-se por muito tempo como a língua jurídica e governamental do Império Romano, mas, com o tempo, o grego passou a predominar entre os membros da elite culta romana, já que grande parte da literatura e da filosofia estudada pela classe alta havia sido produzida por autores gregos, em geral atenienses. Na metade oriental do Império, que viria a tornar-se o Império Bizantino, o grego terminou por suplantar o latim como idioma governamental e era a lingua franca da maioria dos cidadãos orientais, de todas as classes.
A difusão do latim por um território cada vez mais vasto teve duas consequências:
o contato do latim com línguas diversas gerou um influxo mútuo mais ou menos considerável;
o latim foi se diferenciando nas diversas regiões, sendo que, enquanto os laços políticos com o centro eram fortes, as diferenças eram pequenas, mas, à medida em que esses laços foram enfraquecendo, até se romperem completamente, tais diferenças se acentuaram.
Geralmente, as populações submetidas desejavam elevar-se culturalmente adotando o latim, coisa que ocorre sempre que dois povos entram em contato: prevalece linguisticamente aquele que possui maior prestígio cultural. Dessa forma Roma conseguiu fazer prevalecer o latim sobre o etrusco, o osco e o umbro, mas não sobre o grego, cujo prestígio cultural era maior.
As populações submetidas e as federadas, antes de perder sua língua em favor do latim, atravessaram um período mais ou menos longo de bilinguismo; de fato, algumas das línguas pré-romanas tiveram, no território romanizado, considerável vitalidade durante muito tempo. E essas línguas originárias deram uma cor específica a cada língua neolatina (ou românica) surgente, permanecendo presentes em topônimos dessas regiões até hoje.
Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e técnicos, em uma ampla variedade de línguas.
Características
O latim é uma língua flexiva. No caso dos substantivos e adjetivos, a flexão é denominada declinação; no caso dos verbos, conjugação.
No latim clássico cada substantivo ou adjetivo pode tomar seis formas ou casos:
Caso nominativo (sujeito e predicativo do sujeito);
Caso genitivo (indicando posse ou especificação);
Caso dativo (objeto indireto);
Caso acusativo (objeto direto);
Caso vocativo (vocativo);
Caso ablativo (complementos circunstanciais).
Também existem resquícios de um sétimo caso de origem indo-europeia, o locativo, que indica localização (por exemplo: domī, "em casa"), no entanto, este é limitado a palavras específicas.
Outra característica distintiva do latim é o uso de formas simples para expressar a voz passiva dos verbos, além de uma forma verbo-nominal muito frequente chamada de supino. Ambas formas se perderam nas línguas românicas.
Ortografia
Os romanos usavam o alfabeto latino, derivado do alfabeto itálico antigo, o qual por sua vez advinha do alfabeto grego. O alfabeto latino sobrevive atualmente como sistema de escrita das línguas românicas (como o português), célticas, germânicas (inclusive o inglês) e muitas outras.
Os antigos romanos não usavam pontuação, macros (mas empregavam ápices para distinguir entre vogais longas e breves), nem as letras j e u, letras minúsculas (embora usassem uma forma de escrita cursiva) ou sem espaço entre palavras (mas por vezes empregavam-se pontos entre palavras para evitar confusões). Assim, um romano escreveria a frase "Lamentai, ó Vênus e cupidos" da seguinte maneira:
LVGETEOVENERESCVPIDINESQVE
Esta frase seria escrita numa edição moderna como:
Lugete, O Veneres Cupidinesque
Ou, com macros:
Lūgēte, Ō Venerēs Cupīdinēsque
A escrita cursiva romana é encontrada nos diversos tabletes de cera escavados em sítios como fortes, como por exemplo os descobertos em Vindolanda, na Muralha de Adriano, na Grã-Bretanha.
Pronúncia
A chamada pronúncia reconstituída ou restaurada baseia-se em pesquisas recentes sobre os mais prováveis sons que os romanos antigos atribuíam a cada letra e, embora não haja uniformidade de opiniões em alguns pontos, vem sendo adotada em escolas de todo o mundo.
Há dois outros tipos de pronúncia: a pronúncia tradicional lusófona, também a mais usada em fórmulas jurídicas, e a pronúncia adotada pela Igreja Católica (latim eclesiástico). Quanto à ortografia, não há diferenças.
A seguir, as principais características da pronúncia restaurada (entre parênteses a pronúncia e a marcação do acento tônico):
æ e œ, ditongos, são pronunciados ái e ói: nautae (náutai);
c soa sempre como k: Cicero (Kíkero), cetera (kétera);
ch soa também como k: pulcher (púlker);
g sempre como gue ou gui: angelus (ánguelus);
h é levemente aspirado, quase como o h do inglês;
j soa sempre como i; v sempre como u: vita (uíta), observando que as letras u e j só aparecem no alfabeto latino por volta do ;
m em posição inicial ou intermediária é como em português magnífico; em posição final de palavra, é um mero sinal de nasalidade da vogal anterior, como em português mim, jovem, bom — exceto quando o primeiro som da palavra seguinte é consonantal, caso em que ocorre assimilação no ponto de articulação desta consoante, e.g. tam durum [tã(n)duː.rũː] — dental, aquam bibit [akwã(m)bɪbɪt] — bilabial, autem curo [autẽ(ŋ)ku:ro:] — velar;
r nunca como rr: Roma (róma, com o r pronunciado como em 'barato');
s sempre como ss: rosa (róssa);
u do grupo qu é sempre pronunciado: qui, quem (kuí, kuém);
x como ks: maximus (máksimus);
z como dz: Zeus (dzeus);
as letras restantes (a, b, d, e, f, i, l, o, p, t,) são pronunciadas como em português;
letras dobradas como ll, tt, mm, etc., devem ser pronunciadas separadamente, pois há diferentes significados envolvidos: coma e comma, por exemplo;
y como ü. Igual ao u do francês, ou o ü do alemão. ("abyssus").
Acentuação tônica
Os romanos antigos faziam distinção entre vogais breves e vogais longas, estas últimas com o dobro de duração das primeiras e, para efeitos de acentuação tônica, usavam a regra da penúltima, segundo a qual o critério de acentação tônica é a duração (longa ou breve) da penúltima vogal: se a penúltima vogal é longa, ela recebe o acento; se é curta, o acento recua para a antepenúltima vogal. Existem ainda alguns aspectos a notar, como, por exemplo:
vogal seguida de outra vogal é geralmente breve: filius (pronuncia-se 'fílius': o i antes do u é breve e, portanto, o acento recua);
vogal seguida de duas consoantes é geralmente longa: puella (o e vem antes de duas consoantes e, portanto, é longo e acentuado);
em latim não existem palavras com acento na última sílaba (oxítonas).
Todas as vogais de uma palavra têm sua duração bem definida e dessa duração depende a compreensão dos ritmos da poesia latina.
Gramática
O latim não possui artigos.
Os substantivos têm dois números (singular e plural) e seis casos (nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo). Organizam-se em cinco declinações, que se distinguem pela terminação da forma do genitivo singular: 1ª: -ae, 2ª: -i, 3ª: -is, 4ª: -us e 5ª: -ei. Nem sempre a forma de nominativo correspondente é determinável a partir da forma de genitivo. Por exemplo, nominativo uerbum, genitivo uerbi ("palavra"); mas nominativo puer, genitivo pueri (menino). Assim, para se saber declinar um nome em todas as suas formas, é preciso saber a forma de nominativo e a de genitivo; tipicamente os dicionários fornecem ambas: uerbum, uerbi; puer, pueri.
Há três géneros gramaticais: masculino, feminino e neutro. O género de um nome depende em certa medida da declinação que o nome segue, mas a associação não é completamente rígida. Os nomes da primeira declinação são quase todos femininos (p. ex., rosa, rosae "rosa"), mas os que têm referentes humanos geralmente respeitam o género natural e por isso alguns são masculinos (p. ex., nauta, nautae "marinheiro"). Os nomes da segunda declinação cujo nominativo singular termina em -um são todos neutros. Os restantes nomes desta declinação (com nominativo em -us or -r, como dominus, domini "senhor", ager, agri "campo", uir, uiri homem) são quase todos masculinos, mas há muitos nomes de árvores em -us, -i e estes são todos femininos: ficus, fici "figueira". Nas restantes declinações o género é mais arbitrário.
O adjetivo concorda com o nome que modifica ou de que é predicado em número, género e caso.
A numeração é: unus/una/unum (1), duo/duae/duo (2), tres/tria (3), quattuor (4), quinque (5), sex (6), septem (7), octo (8), novem (9), decem (10); undecim (11), duodecim (12), tredecim (13)..., viginti (20), triginta (30), centum (100)...
Os verbos flexionam em pessoa, número, tempo, modo, aspeto e voz. Alguns verbos pertencem a uma de quatro conjugações, que se distinguem por exemplo pela forma de infinitivo presente ativo: 1ª: -are, 2ª: -ēre, 3ª: -ěre, 4ª: -ire. O lema de um verbo latino (isto é a forma de dicionário) não é contudo uma forma de infinitivo mas sim a forma de primeira pessoa singular do presente do indicativo ativo: p.ex., o verbo sum ("sou"), não esse ("ser").
O latim possui muito poucos nomes e verbos com flexão verdadeiramente irregular, mas contém muitíssimos verbos cujas formas se baseiam em radicais diferentes e que não são previsíveis entre si. Por exemplo, o verbo cano ("cantar"), tem formas como cano ("canto", radical can-), cecini ("cantei", radical cecin-) e cantum ("para cantar", radical cant-).
O pronome interrogativo é quis (masculino e feminino) "quem?", quid "quê?". Quis possui formas plurais qui/quae/qua. Os demonstrativos são is/ea/id, hic/haec/hoc, "este/esta/isto", iste, ista, istud "esse, essa, isso", ille/illa/illud "aquele/aquela/aquilo". Os pronomes pessoais são: singular ego "eu", tu "tu"; plural nos "nós", uos "vós". Para a terceira pessoa podem usar-se demonstrativos ou sobretudo sujeitos nulos.
A ordem canónica do latim clássico é SOV, mas é uma língua não configuracional: a ordem das palavras não está diretamente ligada a funções gramaticais, pois a flexão em caso é muitas vezes suficiente para determinar estas funções. Por exemplo, as seguintes frases latinas significam todas "Marco ama Cornélia", uma vez que a forma Marcus é nominativa e a forma Corneliam é acusativa:
Marcus Corneliam amat
Marcus amat Corneliam
Amat Marcus Corneliam
Amat Corneliam Marcus
Corneliam Marcus amat
Corneliam amat Marcus
A frase "Cornélia ama Marco" seria Cornelia Marcum amat (ou outra ordem, como acima).
Casos no Latim
Nominativo
Sujeito
Predicativo do sujeito
a no singular Ex.: "Bona discipula sum." ("Boa discípula sou." ou "[Eu] sou [uma] boa discípula.")
ae no plural Ex.: "Ideo servae sedulae sunt." ("Por isso, escravas aplicadas são." ou "Por isso, [as] escravas são aplicadas.")
Genitivo
Adjunto adnominal (indicando posse)
Ex.: Amica Staphylae etiam serva est. "A amiga de Estáfila ainda é escrava."
Dativo
Objeto indireto
Ex.: Phaedra servae rosam dat. "Fedra dá a rosa à escrava."
Acusativo
Objeto direto
am no singular Ex.: Staphyla Phaedram amat. "Estáfila ama Fedra."
as no plural Ex.: Staphyla Phaedras amat. "Estáfila ama as Fedras".
Vocativo
Vocativo, como em português
Ex.: Domine, cur laudas discipulas? "Senhor, por que louvas as alunas?"
Ablativo
Adjunto adverbial
Ex.: Cum amica ambulat. "Anda com a amiga."
Agente da Passiva
Ex.: Filius amatur a matre. "O filho é amado pela mãe."
Casos e complementos
Em português, diferenciamos os complementos verbais por posição e por preposições. Em orações afirmativas, por exemplo, o sujeito vem tipicamente antes do verbo e os outros complementos vêm tipicamente depois do verbo. Abaixo temos os sujeitos em negrito e os outros complementos com a primeira letra em negrito.
Pedro ama Fabíola.
Fabíola ama Pedro.
Pedro adora chocolate.
Pedro gosta muito de chocolate.
Em latim, contudo, além da posição relativa dos complementos e das preposições, também se diferenciavam os complementos verbais pela escolha das terminações dos nomes.
Sujeitos
Os sujeitos, no latim, ocorrem tipicamente no caso nominativo e "denotativo".
Oc.: hic homō ex amōre insānit (esse homem enlouqueceu por amor)
Podem também ocorrer no caso acusativo quando uma oração complementar representa o que alguém imagina, deseja, percebe ou diz.
Ex.: ego hunc hominem ex amōre insānīre cupiō (eu quero que esse homem enlouqueça por amor)
Outros Complementos
Aquilo que se faz, imagina, deseja, percebe ou se diz ocorre tipicamente no caso acusativo.
Oc.: sed eccum lēōnem videō
Aquilo com que se atinge ou que se dá a alguém ocorre tipicamente no caso acusativo.
Oc.: […], ut ego hunc lēōnem perdam
Alguém a quem se dá ou se diz algo ocorre tipicamente no caso dativo.
Oc.: tuos servos aurum ipsī lēōnī dabit
Oc.: haec verba lēōnī dīcī
Alguém a quem algo pertence também ocorre tipicamente no caso dativo.
Oc.: servos est huic lēōnī Surus
Aquilo que se usa ocorre no caso ablativo.
Oc.: ego rectē meīs auribus ūtor
Conjugação verbal
Tempo
Presente: descreve ações no presente.
Ex.: Lucius amphoram domum portat
Imperfeito: descreve ações contínuas no passado.
Ex.: Lucius ibi ambulabat
Futuro: descreve ações futuras.
Ex.: Lucius uinum bibet
Perfeito simples: descreve ações no pretérito.
Ex.: Lucius mane surrexit
Mais que perfeito: descreve ações no pretérito mais-que-perfeito.
Ex.: Lucius totam noctem peruigilauerat
Futuro perfeito: descreve ações planejadas antes de ocorrerem.
Modo
Indicativo
Infinitivo
Imperativo
Subjuntivo
Pessoa
1ª do singular: Ego
2ª do singular: Tu
3ª do singular: Is / Ea / Id
1ª do plural: Nos
2ª do plural: Vos
3ª do plural: Ei / Eae / Ea
(Em latim, não existem pronomes do caso reto para a 3ª pessoa do singular: faz-se o uso de pronomes demonstrativos para indicar essa ausência).
Numerais
Os numerais latinos podem ser cardinais, ordinais, multiplicativos e distributivos.
Cardinais
Os três primeiros cardinais declinam nos 3 gêneros (M, F, N), no singular / plural e nos 5 casos (Nom., Acu., Gen., Dat., Abl.). O cardinal 3 utiliza a mesma forma para os gêneros M e F. Os demais cardinais até 100 não declinam.
Os cardinais são:
primeira dezena: unus, duo, tres, (esses aqui Nom. Sing. Masc.), quattuor, quinque, sex, septem, octo, nouem, decem;
de 11 a 17 são formados por unidade + decim (dez): undecim, duodecim, tredecim, quattuordecim, quinquedecim, sedecim, septemdecim;
18 e 19 são formados pelo que falta para "viginte" (vinte): duodeviginte e undeviginte;
20, 30, 40, etc. até 100 (dezenas): viginte, triginta, quadraginta, quinquaginta, sexaginta, septuaginta, octaginta, nonaginta, centum;
dezenas + unidades:
dezena + 1 a 7; ex.: 21 a 27 – viginte unus até viginte septum;
dezena + 8 e 9; ex.: 28 e 29 – similar a 18 e 19 – duodetriginta, unodetriginta;
Nota – isso vale até 99;
centenas – só existem no plural e declinam: ducenti, trecenti… até sexcenti, septigenti, octagenti, nongenti;
milhares: mille, duo milia, tria milia … viginte milia … centi milia, etc.;
Ordinais
Os ordinais indicam em latim, além da sequência, as frações. São declináveis como adjetivos da primeira classe. Apresentam as formas como segue:
primus, secundus, tertius, quartus, quintus, sextus, septimus, octavus, nonus, decimus.
undecimus, duodecimus; de 13 a 19 temos: tertius decimus, quartus decimus, etc… até nonus decimus;
dezenas: vicesimus, trigesimus, quadragesimus, etc… até nonagesimus;
centenas: centesimus, ducentesimus, tricentesimus, etc.
Multiplicativos
Os adjetivos declinam conforme adjetivos de segunda classe e são: simplex, duplex, triplex, etc.
Os advérbios (uma vez, duas vezes, etc.) não tem declinação e são: semer, bis, ter, quater, etc.
Distributivos
São também declináveis, indicam "de um em um", "de dois em dois" e assim por diante. Apresentam a forma: singuli, bini, terni, quaterni, etc. até nuoeni, deni; dezenas: viceni, triceni, etc.
Legado
A expansão do Império Romano espalhou o latim por toda a Europa e o latim vulgar terminou por dialetar-se, com base no lugar em que se encontrava o falante. O latim vulgar evoluiu gradualmente de modo a tornar-se cada uma das distintas línguas românicas, um processo que continuou pelo menos até o . Tais idiomas mantiveram-se por muitos séculos como línguas orais, apenas, pois o latim ainda era usado para escrever. Por exemplo, o latim foi a língua oficial de Portugal até 1296, quando foi substituído pelo português. Estas línguas derivadas, como o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o romeno, floresceram e afastaram-se umas das outras com o tempo.
Dentre as línguas românicas, o italiano é a que mais conserva o latim em seu léxico, enquanto que o sardo é o que mais preserva a fonologia latina.
Algumas das diferenças entre o latim clássico e as línguas românicas têm sido estudadas na tentativa de se reconstruir o latim vulgar. Por exemplo, as línguas românicas apresentam um acento tônico distinto em certas sílabas, ao qual o latim acrescentava uma quantidade vocálica distinta. O italiano e o sardo logudorês possuem, além do acento tônico, uma ênfase consonantal distinta; o espanhol e o português, apenas o acento tônico; e no francês, a quantidade vocálica e o acento tônico já não são distintos. Outra grande diferença entre as línguas românicas e o latim é que as primeiras, com exceção do romeno, perderam os seus casos gramaticais para a maioria das palavras, afora alguns pronomes. A língua romena possui um caso direto (nominativo/acusativo), um indireto (dativo/genitivo), um vocativo e é o único idioma que preservou do latim o gênero neutro e parte da declinação.
Embora não seja uma língua românica, o inglês sofreu forte influência do latim. Sessenta por cento do seu vocabulário são de origem latina, em geral por intermédio do francês. O mesmo ocorreu com o maltês, uma língua semítica falada na República de Malta, na costa sul da Itália, que fora influenciado por 50% de palavras italianas e sicilianas e, em menor grau, pelo francês em seu léxico, e que mais recentemente fora influenciado pelo inglês em 20% de seu léxico. Também herdou o alfabeto latino, sendo a única língua semítica a ser escrita neste alfabeto.
Ademais do português, outras línguas românicas surgidas a partir do latim incluem o espanhol, o francês, o sardo, o italiano, o romeno, o galego, o occitano, o rético, o catalão e o dalmático — este, já extinto. As áreas onde as línguas românicas extintas eram faladas, são denominadas Romania submersa.
Como o contato com o latim escrito se manteve ao longo dos tempos, mesmo muito depois de o latim deixar de ter falantes nativos, muitas palavras latinas foram sendo introduzidas em muitas línguas. Este fenómeno acentuou-se desde o Renascimento, altura em que a cultura clássica foi revalorizada. Sobretudo o inglês e as línguas românicas receberam (e continuam a receber) muitas palavras de origem latina, mas bastantes outras línguas também o fizeram. Em especial, muitos novos termos dos domínios técnicos e científicos têm na sua base palavras latinas.
Uso atual
O latim vive sob a forma do latim eclesiástico usado para éditos e bulas emitidos pela Igreja Católica, e sob a forma de uma pequena quantidade esparsa de artigos científicos ou sociais escritos utilizando a língua, bem como em inúmeros clubes latinos. O vocabulário latino é usado na ciência, na universidade e no direito. O latim clássico é ensinado em muitas escolas, muitas vezes combinado com o grego, no estudo de clássicos, embora o seu papel tenha diminuído desde o início do . O alfabeto latino, juntamente com suas variantes modernas, como os alfabetos inglês, espanhol, francês, português e alemão, é o alfabeto mais utilizado no mundo. Terminologia decorrente de palavras e conceitos em latim é amplamente utilizada, entre outros domínios, na filosofia, medicina, biologia e direito, em termos e abreviações como subpoena duces tecum, lato sensu, etc., i.e., q.i.d. (quater in die: "quatro vezes por dia") e inter alia (entre outras coisas). Estes termos em latim são utilizados isoladamente, como termos técnicos. Em nomes científicos para organismos, o latim é geralmente o idioma preferido, seguido pelo grego.
A maior organização que ainda usa o latim em contextos oficiais e semioficiais é a Igreja Católica (principalmente na Igreja Católica de Rito Latino). O rito romano costumava celebrar a Missa e os outros sacramentos unicamente em latim até o . O latim ainda é a língua padrão do rito romano da Igreja Católica e os textos usados nas línguas vernáculas são traduções do latim. O latim é a língua oficial da Santa Sé, enquanto o italiano é usado em decretos oficiais da Cidade do Vaticano. A Cidade do Vaticano é também onde está instalado o único caixa eletrônico do mundo no qual as instruções são dadas em latim.
Nos casos em que é importante empregar uma língua neutra, como em nomes científicos de organismos, costuma-se usar o latim. Muitas instituições ainda hoje ostentam lemas em latim. Alguns filmes, como A Paixão de Cristo, apresentam diálogos em latim.
Ver também
Appendix Probi
Latim macarrónico
Lista de expressões jurídicas em latim
Ligações externas
Curso de Latim em 13 lições. Por Frederico José Andries Lopes.
Ephemeris, notícias em Latim |
Lisboa é uma cidade, um município, capital de Portugal e da Área Metropolitana de Lisboa. Tem uma área urbana de 100,05 km² e habitantes () em 2021, sendo a maior cidade do país. Lisboa é o centro político de Portugal, sede do Governo e da residência do chefe de Estado. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tem a sua sede na cidade e é a capital mais a ocidente do continente europeu, na costa atlântica.
Os limites administrativos da cidade coincidem com os do município, cujo território se subdivide em 24 freguesias. O estatuto administrativo da cidade foi originalmente concedido pelo ditador Júlio César enquanto município romano. O imperador acrescentou orgulhosamente à palavra “Olissipo”, que deu origem ao nome de Lisboa, a designação "Felicidade Júlia" (Felicitas Julia), em sua memória. Em 2021 residiam na Área Metropolitana de Lisboa, pessoas, sendo por isso a maior e mais populosa área metropolitana do país.
Lisboa é considerada como cidade global devido à sua importância em aspectos financeiros, comerciais, mediáticos, artísticos, educacionais e turísticos. É um dos principais centros económicos do continente europeu, graças a um progresso financeiro crescente favorecido pelo maior porto de contentores da costa atlântica da Europa e mais recentemente pelo Aeroporto Humberto Delgado, que recebe mais de 20 milhões de passageiros anualmente (2015). Lisboa conta com uma rede de autoestradas e um sistema de ferrovias de alta velocidade (Alfa Pendular), que liga as principais cidades portuguesas à capital. A cidade é a sétima mais visitada do sul da Europa, depois de Istambul, Roma, Barcelona, Madrid, Atenas e Milão, com de turistas em 2009, tendo em 2014 ultrapassado a marca dos 3,35 milhões. A nível global, Lisboa foi a 35.ª cidade com maior destino turístico em 2015, cerca de 4 milhões de visitantes. Em 2015, foi considerada a 11.ª cidade turística mais popular, à frente de Madrid, Rio de Janeiro, Berlim e Barcelona. Em 2018 conquistou nos World Travel Awards os galardões de “Melhor Cidade Destino” e “Melhor Destino City Break” a nível mundial.
A região de Lisboa é a mais rica do país, com um PIB PPC per capita de euros (4,7% maior do que o PIB per capita médio da União Europeia). A sua área metropolitana é a vigésima mais rica do continente, com um PIB-PPC no valor de 58 mil milhões de euros, o que equivale a cerca de 35% do PIB-PPC total do país. Lisboa ocupa o 122.º lugar entre as cidades com maiores receitas brutas do mundo. A maioria das sedes das multinacionais instaladas em Portugal encontram-se na região de Lisboa, a nona cidade do mundo com maior número de conferências internacionais.
Etimologia e gentílico
Para Samuel Bochart, um francês do que se dedicou ao estudo da Bíblia, o nome Olissipo é uma designação pré-romana de "Lisboa" que remontaria aos Fenícios. Segundo ele, a palavra “Olissipo” deriva de "Allis Ubbo" ou "Porto Seguro" em fenício, porto esse situado no Estuário do Tejo. Não existe nenhum registo que possa comprovar tal teoria. Segundo Francisco Villar, “Olissipo” seria uma palavra de origem tartessa sendo o sufixo ipo usado em territórios de influência Turdetano-Tartessica. O prefixo "Oli(s)" não seria único visto estar associado a outra cidade lusitana de localização desconhecida, que Pomponius Mela dizia chamar-se "Olitingi".
Os autores da Antiguidade conheciam uma lenda que atribuía a fundação de Olissipo ao herói grego Ulisses, provavelmente baseando-se em Estrabão: Ulisses teria fundado em local incerto da Península Ibérica uma cidade chamada Olissipo (Ibi oppidum Olisipone Ulixi conditum: ibi Tagus flumen). Posteriormente, o nome latino teria sido corrompido para "Olissipona". Ptolomeu deu a Lisboa o nome de "Oliosipon". Os Visigodos chamaram-na Ulishbon. e os mouros, que conquistaram Lisboa no ano 714, deram-lhe em árabe o nome ou ainda .
Na gíria popular, os naturais ou habitantes de Lisboa são chamados "alfacinhas". A origem da palavra é desconhecida. Supõe-se que o termo se explica pelo facto de existirem hortas nas colinas da primitiva cidade de Lisboa, onde verdejavam "plantas hortenses utilizadas na culinária, na perfumaria e na medicina", vendidas na cidade. A palavra alface provem do árabe e poderá indicar que o cultivo da planta começou aquando da ocupação da Península Ibérica pelos Muçulmanos. Há também quem sustente que, num dos cercos de que a cidade foi alvo, os habitantes da capital portuguesa tinham como alimento quase exclusivo as alfaces das suas hortas. O certo é que a palavra ficou consagrada e que os grandes da literatura portuguesa convencionaram tomar por alfacinha um lisboeta.
História
Neolítico e fundação
Em Lisboa encontram-se vestígios do Neolítico, Eneolítico e Neo-neolitico. Durante o Neolítico, a região de Lisboa foi habitada por povos que também viveram neste período noutros espaços da Europa atlântica. Estes povos construíram vários monumentos megalíticos. É ainda possível encontrar alguns dólmens e menires na atual área metropolitana. Situado no estuário do rio Tejo, o excelente porto de Lisboa tornou-a cidade ideal para abastecer de alimentos os navios que rumavam para as Ilhas do Estanho (actuais Ilhas Scilly) e para a Cornualha. O povo celta invadiu a Península no . Graças a casamentos tribais com os povos ibéricos pré-romanos, aumentou significativamente na região o número de falantes da língua celta. O povoado pré-romano de Olissipo, com origem nos séculos , assentava no morro e na encosta do castelo. A Olissipo pré-romana foi o maior povoado orientalizante de Portugal. Estima-se que a sua população rondasse entre e pessoas. Olissipo seria um bom fundeadouro para o tráfego marítimo e para o comércio com os fenícios.
Achados arqueológicos sugerem que já havia trocas comerciais com os fenícios na região de Lisboa em , levando alguns historiadores a admitir que teriam habitado o que é hoje o centro da cidade, na parte sul da colina do castelo. Na praça de D. Luís, em Lisboa, foram localizados vestígios de um fundeadouro com mais de 2000 anos, remontando ao e ao , onde os navios ancoravam para fazer descargas e reparações e também para o trânsito de passageiros e carga. Além de viajarem daí para o Norte, os fenícios também aproveitaram o facto de estarem na desembocadura do maior rio da Península Ibérica para fazerem comércio de metais preciosos com as tribos locais. Outros importantes produtos aí comercializados eram o sal, o peixe salgado e os cavalos puros-sangue lusitanos, bem conhecidos na Antiguidade.
Recentemente (1990/94) vestígios fenícios do foram encontrados sob a Sé de Lisboa. Não obstante, alguns historiadores modernos consideram que a ideia da fundação fenícia é irreal, convictos que Lisboa era uma antiga civilização autóctone (chamada pelos romanos de ópido) que se limitava a estabelecer relações comerciais com os fenícios, o que explicaria a presença de cerâmicas e de outros artefactos com tal origem. Uma velha lenda refere que a cidade de Lisboa foi fundada pelo herói grego Odisseu (Ulisses), e que, tal como Roma, o seu povoado original era rodeado por sete colinas. Se todas as viagens de Ulisses através do Atlântico tivessem ocorrido como Théophile Cailleux as descreveu, isso significaria que Ulisses fundou a cidade vindo do Norte, antes de dar a volta ao Cabo Malea, (que Cailleux diz ser o Cabo de São Vicente), na sua viagem para Sudeste, rumo a Ítaca. No entanto, a presença dos fenícios, mesmo ocasional, é anterior à presença helénica neste território. Posteriormente, o nome grego da cidade teria sido corrompido em latim para Olissipona. Outros deuses pré-romanos da Lusitânia são Araco, Carióceco, Bandua e Trebaruna.
Período romano
Presume-se que os gregos antigos tiveram na foz do rio Tejo um posto de comércio durante algum tempo, mas os conflitos que grassavam por todo o Mediterrâneo levaram sem dúvida ao seu abandono, devido sobretudo ao poderio de Cartago nessa época. Parece certo no entanto que o território de Lisboa é primordialmente ocupado por populações mediterrânicas organizadas em torno de uma família nuclear. As influências civilizacionais desta região saloia da Estremadura é fenícia, púnica e, sobretudo, em termos estruturais, berbere-moura e latino-romana. Esta última, exógena, mais requintada, dominará enquanto cultura de poder, nas estruturas administrativas e do ensino, quando os legados do Império Romano são apropriados pela Igreja Católica.
Após a conquista de Cartago, os romanos iniciam as guerras de pacificação do ocidente. Cerca de , conquistaram Olissipo, durante a campanha de Décimo Júnio Bruto Galaico, que reforçou as muralhas da cidade para se defender das tribos hostis. A Lisboa de então foi depois anexada ao império e recompensada com a atribuição de cidadania romana, privilégio então raríssimo para povos não romanos. Felicitas Julia beneficia assim do estatuto de município, juntamente com os territórios em seu redor, num raio de 50 km, não pagando impostos a Roma, ao contrário do que se passava com quase todos os outros castros e povoados autóctones conquistados. A cidade foi por fim integrada, com larga autonomia, na província da Lusitânia, cuja capital era Emeritas Augusta, a actual Mérida, situada na Estremadura espanhola. A Olissipo romana dispunha-se em anfiteatro desde a colina do Castelo de São Jorge até ao Terreiro do Trigo, o Campo das Cebolas, a antiga Ribeira Velha e a Rua Augusta. Um dos mais antigos e importantes vestígios da presença romana em Lisboa são as ruínas de um magnífico teatro () então construído no local que hoje corresponde ao nº 3A da Rua de São Mamede, em Alfama, muito frequentado pelas elites da época.
No tempo dos romanos, a cidade era famosa pelo fabrico de garum, alimento de luxo feito de pasta de peixe, conservado em ânforas e exportado para Roma e todo o império. Outros produtos comercializados eram o vinho e o sal. Ptolomeu designava essa primordial Lisboa como sendo a cidade de Ulisses. No seu tempo, para além exploração das minas de ouro e prata, a maior receita provinha de tributos, impostos, resgates e saques, que incluíam ouro e prata dos tesouros públicos dos povos da Lusitânia e de outras feitorias peninsulares. No finais do império romano, Olissipo seria um dos primeiros agregados que espontaneamente acolheram o cristianismo. O primeiro bispo da cidade foi São Gens. Em consequência da queda do império, Lisboa foi vítima de invasões bárbaras, dos Alanos, dos Vândalos e dos suevos, tendo sido parte do seu reino. Foi tomada pelos visigodos de Toledo, que lhe chamavam “Ulishbona”.
Presença muçulmana
Após três séculos de saques, pilhagens e perda de dinâmica comercial, “Ulishbuna” pouco mais seria que uma vila como muitas outras do início do . Em 711, aproveitando uma guerra civil dos visigodos, tropas mouriscas lideradas por Tárique invadem a Península Ibérica. O que sobra do ocidente peninsular romano é conquistado por Abdalazize ibne Muça, um dos filhos de Tárique. Segundo velhos historiadores, “Olishbuna” não lhe escapa. Investigadores modernos desmentem essa versão afirmando que não existiu invasão muçulmana de Lisboa. Eram berberes os autóctones lisboetas, detentores de uma cultura profundamente enraizada.
Em 714 Lisboa é tomada por mouros do norte de África, chamados Aluxbuna (al-Lixbûnâ) em árabe, cujo antigo nome teria sido Cudia (Kudia ou ainda Kudiya). Construiu-se neste período a Cerca Moura. A cidade pertenceu à primeira Taifa de Badajoz no ano de 1013, criada por Sabur al-Amiri (1013–1022), um saqaliba, antigo súbdito de .
Em 754 houve uma incursão viking na costa de Lisboa. Esta frota nórdica era constituída por 6 navios e cerca de 520 homens e mulheres que pensa-se originarem do que é hoje o sul da Noruega. Esta frota desembarcou e destruiu vilas costeiras. Ficaram 12 dias até o atual governo de Lisboa finalmente agir e organizar uma força de 300 homens do Norte de África que recentemente tinham chegado de Marrocos. Finalmente saíram e navegaram rumo ao Mediterrâneo. Os cristãos de Lisboa foram considerados responsáveis pelos muçulmanos e muitos foram expulsos da região.
Enquanto se fragmentavam as Taifas islâmicas do Sul, no Norte o Condado Portucalense separava-se do Reino de Leão, já em plena Reconquista da Península Ibérica. Apesar de estabelecida em Guimarães, a força económica e a autonomia do Condado Portucalense residia no Porto, i.e. em Portucale, no porto da cidade de Cale, em Gaia. Bem podemos imaginar como seria o novo reino, movido pelo dinamismo comercial da jovem cidade de mercadores que, na foz do segundo maior rio da Península Ibérica, o rio Douro, usufruía então de importância semelhante à de Lisboa no rio Tejo, e que acabaria também por ser conquistada.
Diz o geógrafo árabe Edrisi que em Lisboa
"o mar lança palhetas de ouro pela praia fora". No Inverno " os habitantes da cidade vão até ao rio em busca desse metal e a isso se dedicam enquanto o frio dura".
Almunime Al-Himiar descreve Lisboa com mais requinte:
"É uma cidade à beira-mar, com ondas que se quebram de encontro às muralhas, admiráveis e de boa construção. A parte ocidental da cidade é encimada por arcos sobrepostos assentes em colunas de mármore apoiadas em envasamentos de mármore. Por natureza, a cidade é belíssima".
O geógrafo Yâqût al-Hamâwî revela outras coisas ainda:
"É uma velha cidade perto do mar, a oeste de Córdova. Nos montes à sua volta há lindos falcões e nela se produz o melhor mel de todo o al-Andalus, conhecido como al-ladharnî. Parece açúcar e conserva-se embrulhado em pano para não se estragar. A cidade é junto do rio Tejo e perto do mar. Tem no solo jazidas de ouro puro e nas encostas excelente âmbar."
Por seu lado, ibne Saíde Almagribi diz no que Lisboa "é noiva em alcova nupcial."
Reconquista
Diz-nos a historiografia tradicional portuguesa que al-Ushbuna foi conquistada aos mouros por Afonso Henriques. Sabe-se hoje que foram as classes senhoriais marranas do Entre Douro e Minho, cujo patrono era São Tiago, os obreiros da conquista e que Afonso Henriques pertence ao grupo desses nordestinos cristãos de língua portuguesa que dominarão o centro e o sul pagão de Portugal e se perpetuarão deixando descendência.
A primeira tentativa de reconquista de Lisboa ocorre em 1137. Fracassa frente às muralhas da cidade. Em 1140, acorrem aos sediantes cruzados em trânsito por Portugal. Juntos, empreendem novo ataque, que também falha. Só sete anos depois, os cristãos reconquistariam a povoação dando graças ao primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques. O rei concede-lhe foral em 1179. Em 1255, graças à sua localização estratégica, Lisboa torna-se a capital do reino. Terminada a reconquista, consolidada a religião cristã e instituída a língua portuguesa, é criada a diocese de Lisboa que, no , será elevada a metrópole (arquidiocese).
Nos últimos séculos da Idade Média a cidade expandiu-se e tornou-se um importante porto, com comércio estabelecido com o norte da Europa e com as cidades costeiras do Mar Mediterrâneo. Em 1290 o rei Dom Dinis criou a primeira universidade portuguesa em Lisboa que, por causa de um incêndio, foi transferida para Coimbra em (1308), quando a cidade já dispunha de grandes edifícios religiosos e conventuais.
Dom Fernando I, o Formoso, construiu a famosa Muralha Fernandina, já que a cidade crescia rapidamente para fora do perímetro inicial. Começando pelo lado dos bairros mais pobres e acabando nos bairros da burguesia, a maior parte do dinheiro utilizado na execução do projeto veio desta última. Esta estratégia mostrou-se conveniente, já que de outra forma a burguesia deixaria de financiar a obra.
O novo capítulo da história de Lisboa é iniciado com a revolução motivada pela crise de 1383–85. Após a morte de Fernando de Portugal, o Reino deveria passar a ter como soberano nominal o rei de Castela, , e ser regido por Leonor Teles. Porém o rei castelhano quis ser soberano efectivo ou, como se costuma dizer, "rei e senhor", persuadindo a sogra e rainha regente a renunciar ao governo e a ceder-lho. Isto, sem o consentimento das Cortes, constituía uma usurpação de poder, o que deu guerra. Depois de cerca de ano e meio de luta, a burguesia da cidade, com as suas ligações inglesas e capitais avultados, seria um dos vencedores: o Mestre de Avis é aclamado João I de Portugal, depois de levar a bom termo o cerco de Lisboa de 1384 e antes de ganhar, em 1385, a Batalha de Aljubarrota, sob a liderança de Nun'Álvares Pereira, contra as forças castelhanas reforçadas com militares franceses e apoiadas pelos fidalgos portugueses que prestavam vassalagem ao rei de Castela.
Em 1385 Lisboa substitui Coimbra como capital do reino.
Era das Navegações
Os descobrimentos marítimos portugueses eram, nos finais do , uma das prioridades estratégicas de , que ascendeu ao trono em 1481 e que mudou a sua residência do Castelo de São Jorge para o Terreiro do Paço (Paço da Ribeira) que, por esse motivo, assim ficou conhecido: o grande “terreiro” onde e em redor do qual se concentravam os grandes estaleiros de construção naval de Lisboa e onde ficou instalado o paço real, no lado ocidental da “praça do comércio”. Seria esse o melhor local para o jovem soberano vigiar o Tejo, lá do alto de uma fina torre, ali mesmo a dois passos das ruelas de fama duvidosa por ele preferidas em escapadelas nocturnas.
Portugal fica na vanguarda dos países seus contemporâneos ao ser o primeiro a transformar a pesquisa tecnológica e científica em política de Estado e ao abrir as portas a especialistas aragoneses, catalães, italianos e alemães com o objectivo de aumentar e enriquecer os conhecimentos náuticos de oficiais e simples marinheiros. Esta política seria incrementada com o saber de pilotos orientais.
Várias expedições se fazem com tripulações portuguesas integrando expatriados de outros reinos que levarão à descoberta dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. Com sérios argumentos, afirmam alguns historiadores que caravelas portuguesas terão entretanto alcançado o Brasil. Relacionam-se tais argumentos com projectos secretos de João II que, antes do Tratado de Tordesilhas contratou navegantes e cartógrafos. Um destes, alemão, chamava-se Martin Behaim. Num dos seus mapas, desenhado pouco antes da descoberta "oficial" da América, destaca-se a sul um vasto território no prolongamento da Ásia. Seria intenção do rei ocultar a sua existência com vista a garantir, perante as ambições de Castela, o predomínio de uma área colonial de vital importância para Portugal.
Permite o povoamento das ilhas atlânticas a oeste e sudoeste de Portugal fundar cidades-portos necessários para a exploração de novos mercados. De Lisboa partem inúmeras expedições nessa época dos descobrimentos (séculos XV a XVII), como a de Vasco da Gama, em 1497–1498, fazendo melhorar o porto de Lisboa, centro mercantil da Europa, ávida por ouro e especiarias.
Na alta da expansão colonial portuguesa, as casas ribeirinhas de Lisboa tinham entre três a cinco andares: uma loja e, acima dela, instalações comerciais. Duas gravuras da Rua Nova dos Mercadores no descobertas em Londres ilustram essa realidade e o importante papel da presença negra na cidade. Lisboa passou a ocupar o lugar de Génova no comércio de escravos provenientes de África, da Península Ibérica e resto da Europa Tornou-se um porto em que circulavam cativos que depois eram vendidos para diversos pontos da Europa. Lisboa era então frequentada por muitos comerciantes estrangeiros.
A maior riqueza de Lisboa desde o fim do era o ouro e o monopólio dos produtos do Brasil. Findos os conflitos e guerras entre conservadores e liberais, foi perdido o monopólio e do ouro só uma pequena parte chegava aos cofres reais devido ao contrabando e à pirataria.
Encontrava-se o país numa situação económica difícil quando as nações da Europa, iniciando a industrialização, enriqueciam com o comércio das Américas (a Inglaterra viria a dominar o comércio brasileiro) e da Ásia. É entretanto em Lisboa, em 1640, que terá lugar a principal revolta na Restauração da Independência.
Os problemas do comércio aumentam quando, em 1636, os Catalães se revoltam, povo mercador como o de Lisboa também oprimido pelas taxas castelhanas. É a Portugal que Madrid vem reclamar homens e fundos para submeter a Catalunha. É então que os mercadores da cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança, Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta nobreza, é favorecido por Madrid e só a intenção de o tornar rei o convence. Os conspiradores assaltam o Palácio do Governador e aclamam o novo rei (D. João IV), primeiramente com o apoio do Cardeal Richelieu, francês, e depois recorrendo à velha aliança com a Inglaterra, processo este designado como Restauração da Independência (1640).
A Lisboa da pós-Restauração será uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas católicas. Mais de quarenta conventos são fundados na cidade, para além dos trinta já existentes. Religiosos ociosos, cujo sustento é assegurado por esmolas e expropriações, contam-se aos milhares, somando mais de 5% da população da cidade. O clima político torna-se cada vez mais conservador, mais autoritário. Reprimindo a classe mercadora, concentra-se a Inquisição no controlo das mentalidades, vigiando ideias e a criatividade, que suprime em nome da “pureza” da fé. Filhos indignos da herança paterna, que antes se dedicavam ao comércio e às empresas de além-mar, refugiam-se nas ordens religiosas e passam a viver à conta de outrem, na maioria dos casos sem convicção religiosa.
Lisboa seria então o grande palco de autos-de-fé movidos pela Igreja contra apóstatas, heréticos, cristãos-novos, judeus em particular, acusados de desvios do cristianismo. Além destes, qualquer cidadão podia ser sacrificado por “pecados” irrisórios denunciados por vinganças mesquinhas. A delação era elevada a virtude. Na maior parte dos casos por falsas razões ou por motivos fúteis, as vítimas eram queimadas vivas em aparatosas fogueiras acendidas em locais como o Rossio e a Praça do Comércio, perante multidões excitadas que à vezes apaziguavam a vergonha com churrascadas e vinho. Tais espectáculos, animados por hábeis carrascos da Coroa, em que participavam representantes das autoridades eclesiástica e secular, duraram até 1821. Eram regularmente honrados com a presença do rei , que se empenhava em não ficar aquém da vizinha Espanha e de outros países europeus em obras grandiosas, notáveis feitos e grandes medidas como as do Santo Ofício. Tais práticas repressivas, cultivando o medo, suscitando um estigma na alma de um povo, serviriam de modelo a governantes vindouros, que delas souberam tirar bom partido. Foi ele quem ordenou em 1731 a construção do Aqueduto das Águas Livres.
Terramoto de 1755 e a Lisboa Pombalina
Lisboa foi quase na totalidade destruída a 1 de Novembro de 1755 por um terrível terramoto. Foi reconstruída segundo os planos traçados pelo Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo), Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros. Oriundo da baixa nobreza, depressa reagiu perante as ruínas do terramoto logo depois de ter dito ser necessário enterrar os mortos, cuidar dos vivos e reconstruir a cidade. A parte central reconstruída terá o nome de Baixa Pombalina. A quadrícula adoptada nos planos de reconstrução permitiria desenhar as praças do Rossio e Terreiro do Paço, esta com uma belíssima arcada aberta em frente do rio Tejo.
Ainda no e a instâncias de D. João V, o Papa concederá ao arcebispo da cidade o título honorífico de Patriarca e a nomeação automática como Cardeal (daí o título de "Cardeal Patriarca de Lisboa"). Nos primeiros anos do Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte, obrigando o rei Dom João VI a deslocar-se temporariamente para o Brasil. Lisboa ressentiu-se. Muitos bens foram saqueados pelos invasores.
A cidade viveu intensamente as lutas liberais. Teve início uma época de florescimento dos cafés e teatros. Mais tarde, em 1879, foi aberta a Avenida da Liberdade que iniciou a expansão citadina para além da Baixa.
O centro cultural e comercial da cidade passou para o Chiado durante o (cerca de 1880). Com as velhas ruas da Baixa já ocupadas, os donos de novas lojas e clubes estabeleceram-se na colina anexa, que rapidamente se transformou. Aqui são fundados clubes célebres, como o Grémio Literário, afamado pelas histórias de Eça de Queirós, frequentado por Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Alexandre Herculano. Surgiram no Chiado lojas de roupas da moda, em particular de Paris, e outros produtos de luxo, grandes armazéns no estilo do Harrods de Londres ou das Galerias Lafayette de Paris, novos cafés de luso-Italianos, como O Tavares e o Café do Chiado.
Século XX
Espectáculo típico de tavernas e pequenos recintos dos bairros populares de Lisboa, o fado, a partir do início do século, «… conhece uma gradual divulgação e consagração popular, através da publicação de periódicos que se consagram ao tema e da consolidação de novos espaços performativos numa vasta rede de recintos …».
Ao mesmo tempo, em espaços amplos como a Praça de Touros do Campo Pequeno, a tourada torna-se um dos divertimentos populares preferidos. O teatro popular ou teatro de revista, pegando em temas de velhas comédias e dramas eruditos, ocupa novas salas da capital. Outro passatempo, tipicamente português, é a Oratória, praticada por actores que, comentando temas em moda, imitam o Padre António Vieira com uma retórica cheia de floreados, com argumentos superficiais, por vezes cantando, em espetáculos onde se disputa prémios. Matam ainda os alfacinhas os seus ócios em grandes jardins públicos que surgem em Lisboa imitando o Hyde Park de Londres e jardins das cidades alemãs. O primeiro é o Jardim da Estrela.
É então, em 1907, que, alarmadas, as elites impõem a ditadura com João Franco, mas é tarde de mais. Em 1908 a família real sofre um atentado (no Terreiro do Paço) em que morrem El-Rei Dom Carlos de Portugal e o herdeiro do trono, o Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, numa acção provavelmente executada pelos anarquistas (que neste período atacam figuras públicas em toda a Europa). Em 1909, os operários de Lisboa organizam greves frequentes. Em 1910, em Lisboa, dá-se a revolta que implantaria a república em Portugal. Uma grande quantidade de habitantes da cidade, incitados pelo Partido Republicano Português, formam barricadas nas ruas e são distribuídas armas. Os exércitos ordenados a reprimir a revolução são desmembrados pelas deserções. O resto do país é obrigado a seguir a capital, apesar de continuar profundamente rural, católico e conservador. É proclamada a Primeira República. Em 1912 os monárquicos do norte aproveitam o descontentamento com as leis liberais dos republicanos e tentam um golpe de estado, que falha.
Em 1916 Portugal entra, por via da Aliança, na Primeira Guerra Mundial. Em plena crise nacional, mobiliza homens e recursos consideráveis. São muitas as baixas. Perante o desastre do Corpo Expedicionário Português, Sidónio Pais é um dos que se opõem ao Governo do Partido Democrático acabando por liderar novo golpe em dezembro de 1917, protagonizado pela Junta Militar Revolucionária, de que era Presidente. No dia oito é demitido o Governo da União Sagrada chefiado por Afonso Costa e o poder transferido para a Junta. Destituído Bernardino Machado, Afonso Costa assume provisoriamente o cargo de Presidente da República. Emite uma série de decretos ditatoriais que mudam a Constituição e lhe dão poderes acumulados de Presidente e chefe do Governo, fundando uma República Nova que antecipará o Estado Novo. A política torna-se mais tensa. Há fome no país.
Sidónio será morto a tiro em dezembro de 1918. O fim da Primeira República tem lugar em 1926, quando a direita conservadora antidemocrática (largamente liderada pelos descendentes da antiga Nobreza do norte do país e pela Igreja Católica) toma por fim o poder, após duas outras tentativas em 1925. Alega pretender acabar com a anarquia, que ela própria tinha criado. Liderado pelo General Gomes da Costa, o novo governo adota uma ideologia fascista, sob a liderança do ditador Salazar. O novo regime governaria impunemente o país durante quatro décadas. Essa impunidade seria justificada pelas muitas e generosas ‘’ofertas” de Salazar ao “bom povo português”, alardeadas pelos meios de comunicação e ilustradas em cerimónias solenes frequentadas pelas elites da época. A maior delas foi a Ponte Salazar (hoje Ponte 25 de Abril), inaugurada em 1966 com toda a pompa e circunstância : tornava real um velho sonho, unia o Norte e o Sul através da capital, era a maior do continente.
O Estado Novo foi derrubado pela Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974. Ao golpe militar seguiu-se o período conturbado do PREC, marcado particularmente em Lisboa pela propaganda e acção da esquerda, da mais moderada à mais radical. O Comício da Fonte Luminosa seria evento decisivo para o futuro político do país A agitação é ao mesmo tempo agravada por grupos de extrema direita que chegam ao ponto de bloquear os acessos à cidade e de levar a cabo acções terroristas no norte do país com o intuito de travar os progressos da revolução. Durante dois anos, em 1974 e 1975, Lisboa foi invadida por jornalistas estrangeiros e esteve nas luzes da ribalta dos principais meios de comunicação internacionais. O repórter Horst Hano da televisão alemã ARD foi um dos mais importantes, dando cobertura particularmente completa aos principais eventos políticos em Portugal e em Espanha entre 1975 e 1979.
Dez anos após a queda do regime fascista, já longe dos dramas do Processo Revolucionário em Curso, é assinado em Lisboa em 1985 o Tratado de Adesão à Comunidade Económica Europeia, no Mosteiro dos Jerónimos pelo então Presidente da República, Mário Soares. Desde então Lisboa e o país têm sido governados, em alternância partidária, por um regime democrático. Lisboa continua a desenvolver-se ao ritmo das mais importantes capitais europeias, melhorando as suas infraestruturas e construindo novas, remodelando o sistema de transportes urbanos, de segurança e saúde. Em 1994 é Capital Europeia da Cultura. Em 1998 inaugura a sua segunda ponte, na altura a mais longa de toda a Europa e a quarta maior do mundo, a Ponte Vasco da Gama. Nesse mesmo ano organiza a EXPO 98, no Parque das Nações, com o tema Oceanos. O actual Presidente da Câmara de Lisboa (C.M.L), é Fernando Medina, do Partido Socialista (PS).
Geografia
Localizada na margem direita do estuário do Tejo, a 38º42' N e a 9º00' W, com altitude máxima na Serra de Monsanto (226 metros de altitude), Lisboa é a capital mais ocidental da Europa. Fica situada a oeste de Portugal, na costa do Oceano Atlântico. Os limites da cidade, ao contrário do que ocorre em grandes cidades, encontram-se bem delimitados dentro dos limites do perímetro histórico. Isto levou à criação de várias cidades ao redor de Lisboa, como Loures, Odivelas, Amadora e Oeiras, que são de facto parte do perímetro metropolitano de Lisboa. Mais recentemente, a sul do Tejo, mas pertencentes já ao distrito de Setúbal, Almada, Seixal e Barreiro são também casa para a expansão urbanística de Lisboa em particular após 1974, beneficiando da proximidade ao centro nevrálgico de Lisboa, embora com uma identidade claramente distinta da existente a norte do Tejo.
O centro histórico da cidade é composto por sete colinas, sendo algumas das ruas demasiado estreitas para permitir a passagem de veículos. A cidade serve-se de três funiculares e um elevador (Elevador de Santa Justa). A parte ocidental da cidade é ocupada pelo Parque Florestal de Monsanto, um dos maiores parques urbanos da Europa, com uma área de quase 10 km². Lisboa tem ganho terreno ao rio com sucessivos aterros, sobretudo a partir do . Esses aterros permitiram a criação de avenidas, a implantação de linhas de caminho-de-ferro e a construção de instalações portuárias e mesmo de novas urbanizações como o Parque das Nações e equipamentos como o Centro Cultural de Belém.
Meio ambiente e áreas verdes
Lisboa é uma cidade repleta de espaços verdes, de variadas dimensões. Foi nesta cidade que surgiu o primeiro jardim botânico português: Jardim Botânico da Ajuda. Alguns dos jardins da cidade estão em processo de recuperação, no intuito da criação de um corredor verde na cidade, enquanto outras áreas, anteriormente concentrando elevados níveis de tráfego e poluição, estão a ser requalificadas, sendo o caso mais recente o da CRIL – 2ª Circular.
Em temos de qualidade do ar, apresenta níveis progressivamente descendentes de poluição atmosférica, embora ainda com partículas NO2 claramente superiores ao limite legal. Estes valores de partículas decorrem da utilização acima da média europeia de tráfego automóvel, por contraponto à utilização de transportes públicos, o que distingue Lisboa de outras capitais europeias. Em anos recentes, têm sido feitas melhorias dentro e fora de Lisboa no planeamento da rede de transportes públicos ferroviária e rodoviária, permitindo uma utilização mais eficiente e eficaz e, por consequência, menos poluição emitida.
Existem em Lisboa mais de uma centena de parques, jardins, quintas e tapadas, entre eles o Parque Eduardo VII, o Parque Florestal de Monsanto, o Jardim Botânico da Ajuda, o Jardim Botânico de Lisboa, o Jardim da Estrela, a Tapada da Ajuda, entre muitos outros. O Parque Florestal de Monsanto é o maior e mais importante parque da cidade, chamado o seu "Pulmão Verde", ao ser a única grande floresta em Lisboa (as outras mais próximas são a Tapada de Mafra, a Tapada da Ajuda e a Serra de Sintra). Por sua vez, destacam-se entre os jardins o Parque Eduardo VII, o Jardim Botânico da Ajuda e o Jardim Botânico de Lisboa. O primeiro por ser a maior zona verde no centro antigo de Lisboa, e os outros dois por possuírem uma variadíssima colecção de espécies arborícolas. Possui um oceanário: o Oceanário de Lisboa. A cidade também possui diversos jardins, sendo de destacar o Jardim Zoológico de Lisboa, o Jardim da Estrela, o Jardim Botânico da Ajuda e o Campo de Santana. Existem ainda importantes parques urbanos como o Parque Eduardo VII, o Parque da Bela Vista e o Parque José Gomes Ferreira.
Clima
Lisboa é uma das capitais mais amenas da Europa, com um clima mediterrânico (Csa segundo a classificação climática de Köppen) fortemente influenciado pela Corrente do Golfo. A Primavera é fresca a quente (de 8 °C a 26 °C) com sol e alguns aguaceiros. O Verão é, em geral, quente e seco e temperaturas entre 16 °C a 35 °C. O Outono é ameno e instável, com temperaturas entre 12 °C e 27 °C e o Inverno é tipicamente chuvoso e fresco, também com algum sol. A temperatura mais baixa registada foi de -1,7 °C em 11 de fevereiro de 1956 e a mais elevada foi de 44,0 °C, em 4 de agosto de 2018.
Demografia
A população de Lisboa é caracterizada por vários altos e baixos ao longo da sua história. Atualmente, a população de Lisboa está em queda. Já a área metropolitana de Lisboa está em crescimento populacional, em decorrência da migração dos habitantes da cidade para as cidades vizinhas. Na atual estrutura demográfica de Lisboa, as mulheres representam mais de metade da população (54%) e os homens 46%. A cidade apresenta uma estrutura etária envelhecida, com 23% de idosos (65 anos ou mais), quando a média portuguesa é de 16%. Entre os mais novos, 13% da população tem menos de 15 anos, 9% está entre os 15 e os 24 anos e 53% dos 25 aos 64 anos de idade.
População por freguesia
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(Obs: De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no município à data em que os censos se realizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente)
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Religiões
Segundo pesquisa de 2018, pouco mais da metade da população de Lisboa afirmou ser católica (54,9%) e 35% declarou não ter religião (13,1% crentes sem religião, 10% ateus e 6,9% agnósticos). As minorias religiosas somavam 10% da população, sendo metade (5%) pertencentes a igrejas protestantes e os outros 5% divididos entre testemunhas de Jeová, muçulmanos, budistas, ortodoxos e outros. Apenas 11,4% da população de Lisboa declarou frequentar a igreja ou outros locais de culto semanalmente.
Administração municipal
É em Lisboa que se localizam os principais órgãos políticos do país (ministérios, tribunais, etc.). O município de Lisboa é administrado por uma Câmara Municipal composta por 17 vereadores. Existe uma Assembleia Municipal que é o órgão legislativo do município, constituída por 75 deputados municipais, 51 dos quais eleitos directamente mais os presidentes das 24 juntas de freguesia do município.
O cargo de Presidente da Câmara Municipal ficou vago desde 15 de Maio de 2007, após a demissão de António Carmona Rodrigues que tinha sido eleito pelo PSD. Nas eleições de 15 de Julho de 2007 foi eleito António Costa, pelo PS. Após a renúncia deste ao mandato, em 2015, o vice-presidente Fernando Medina assumiu o cargo, tendo sido posteriormente eleito presidente como resultado das eleições autárquicas de 2017, apesar de o PS ter perdido a maioria absoluta, recebendo 42% dos votos.
Subdivisões administrativas
Desde a reorganização administrativa de 2012, Lisboa conta 24 freguesias agrupadas em cinco Zonas (ou Unidades de Intervenção Territorial - UIT).
Relações internacionais
A cidade de Lisboa é uma das 7 Cidades Fundadoras da UCCLA, União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. A cidade de Lisboa faz parte da União de Cidades Capitais Ibero-americanas. Abaixo está uma lista das cidades geminadas de Lisboa e aquelas com as quais o governo da cidade estabeleceu um acordo de cooperação e amizade:
Cidades geminadas
Bissau, Guiné-Bissau
Brasília, Brasil
Budapeste, Hungria
Cacheu, Guiné-Bissau
Cidade do México, México
Fortaleza, Brasil
Guimarães, Portugal
Luanda, Angola
Macau, China
Madrid, Espanha
Malaca, Malásia
Maputo, Moçambique
Natal, Brasil
Praia, Cabo Verde
Rabat, Marrocos
Rio de Janeiro, Brasil
Salvador, Brasil
São Paulo, Brasil
São Tomé, São Tomé e Príncipe
Acordo de cooperação e amizade
Água Grande, São Tomé e Príncipe
Argel, Argélia
Belém, Palestina
Buenos Aires, Argentina
Curitiba, Brasil
Quieve, Ucrânia
Miami, Estados Unidos
Montevideu, Uruguai
Moscovo, Rússia
Pangim (Goa), Índia
Paris, França
Pequim, China
Qingdao, China
Santa Catarina, Cabo Verde
Sófia, Bulgária
Toronto, Canadá
Tunes, Tunísia
Zagrebe, Croácia
Economia
A região de Lisboa é a mais rica de Portugal e produz um produto interno bruto (PIB) per capita acima da média da União Europeia, além de ser responsável pela produção de 45% do PIB português. A economia da cidade baseia-se principalmente no sector terciário. A maioria das sedes das empresas multinacionais que operam em Portugal estão concentradas na Grande Lisboa, especialmente no município de Oeiras. A Área Metropolitana de Lisboa é altamente industrializada, especialmente na margem sul do rio Tejo.
A região de Lisboa teve um rápido crescimento económico durante grande parte dos anos 2000 e aumentou seu PIB PPC per capita de euros em 2004, para em 2007. Em 2011, a região metropolitana de Lisboa registou um PIB no valor de 95,2 mil milhões de dólares e dólares per capita.
O principal porto do país, com uma das maiores e mais sofisticados mercados regionais da Península Ibérica, Lisboa e seus populosos arredores também estão a se desenvolver como um importante centro financeiro e um polo tecnológico e dinâmico. Os fabricantes de automóveis têm construído fábricas nos subúrbios como, por exemplo, a AutoEuropa.
A cidade tem o maior e mais desenvolvido sector de meios de comunicação em massa do país e é a sede de várias empresas relacionadas, que vão desde principais redes de televisão e estações de rádio até grandes jornais nacionais e internacionais.
A bolsa de valores Euronext Lisboa, que faz parte do sistema financeiro pan-europeu Euronext, juntamente com as bolsas de Amesterdão, Bruxelas e Paris, está associada com a Bolsa de Valores de Nova York desde 2007, quando o grupo multinacional de bolsa de valores NYSE Euronext foi criado. A indústria da cidade tem muito grandes sectores, como refinarias de petróleo, fábricas de produtos têxteis, estaleiros e indústrias de pesca que são encontradas ao longo do Tejo.
Próximo de Lisboa existe um dos maiores centros comerciais da Península Ibérica, o UBBO (Amadora), já dentro da cidade estão o Centro Colombo, Amoreiras Shopping Center e o Centro Vasco da Gama. Para compras mais típicas, a Baixa de Lisboa. Existem muitos outros centros comerciais nas periferia de Lisboa, como o Almada Forum (Almada), o Allegro Shopping, o Oeiras Parque (Oeiras), o (Seixal), o Freeport (Alcochete) e outras áreas como no Montijo, em Cascais, em Loures e em Odivelas.
Antes da crise da dívida pública da Zona Euro estourar e um plano de resgate financeiro ser implementado pela UE e pelo FMI na década de 2010, a cidade de Lisboa estava prestes a receber muitos investimentos financiados pelo Estado, incluindo a construção de um novo aeroporto, uma nova ponte, uma expansão de 30 km do sistema do metropolitano da cidade, o construção de um hospital central, a criação de duas linhas de TGV para conectar a capital portuguesa à Madrid, Porto, Vigo e ao resto da Europa, a restauração da parte histórica da cidade, a criação de um grande número de ciclovias, além da modernização e reforma de várias instalações.
Infraestruturas
Saúde
Em Lisboa existem vários hospitais (quer públicos quer privados), clínicas, centros de saúde, etc. Existe também um projecto em curso, que prevê a construção de um Hospital Central, no Parque da Bela Vista. O Hospital intitulado Hospital de Lisboa Oriental, englobará alguns hospitais existentes no centro de Lisboa (como por exemplo, o Hospital de Dona Estefânia, o Hospital de Santa Marta, etc. A inauguração está prevista para 2019.
Em Lisboa existem vários hospitais públicos (do Serviço Nacional de Saúde), hospitais militares, centros de saúde, hospitais privados e clínicas. Existe também um projecto em curso, que prevê a construção de um Centro Hospitalar Oriental, no Parque da Bela Vista. Os hospitais de Santa Marta e Santa Cruz começaram por ser especializados em Cardiologia, posteriormente englobaram outras especialidades.
Os hospitais públicos da Cidade de Lisboa estão agrupados em centros: Centro Hospitalar Lisboa Norte; Centro Hospitalar Lisboa Central; Centro Hospitalar Lisboa Ocidental; Centros Especializados; e hospitais militares.
Educação
A cidade de Lisboa possui escolas e jardins-de-infância, públicas e privadas, de ensino primário, básico e secundário, num total de 312. Na área da Grande Lisboa existem escolas internacionais como a Saint Julian's School, o Carlucci American International School of Lisbon, a St Dominic's International School, a Deutsche Schule Lissabon e o Lycée Français Charles Lepierre.
Lisboa dispõe actualmente de duas universidades públicas, a Universidade de Lisboa, criada em 2013 pela junção da Universidade Clássica de Lisboa (também chamada só de Universidade de Lisboa) com a Universidade Técnica de Lisboa, formando assim a maior universidade a nível nacional, e a Universidade Nova de Lisboa, fundada em 1957, Universidade Aberta, assim como diversas universidades privadas, que oferecem cursos superiores em todas as áreas académicas. Existe também o ISCTE-IUL, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e o Instituto Politécnico de Lisboa. Neste local, junto ao Hospital de Sta. Maria, destaca-se ainda a existência da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, a maior escola de enfermagem do país.
As maiores instituições privadas de ensino superior, incluem a Universidade Católica Portuguesa, a Universidade Lusíada, a Universidade Lusófona e a Universidade Autónoma de Lisboa, entre outras. O total de inscritos nas instituições de ensino superior público e privado foi, no ano lectivo de 2007-2008, de alunos, dos quais em instituições públicas.
A cidade está equipada com diversas bibliotecas e arquivos, sendo a mais importante a Biblioteca Nacional. A merecer destaque como um dos mais importantes arquivos do mundo, com mais de 600 anos, está o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, arquivo central do Estado Português desde a Idade Média e uma das mais antigas instituições portuguesas activas. Há ainda, entre outros, o Arquivo Histórico Militar e Arquivo Histórico Ultramarino.
Transportes
Duas pontes unem Lisboa à margem sul do rio Tejo: a Ponte 25 de Abril que liga Lisboa a Almada, inaugurada em 1966 com o nome de Ponte Salazar e posteriormente rebaptizada com a data da Revolução dos Cravos, e a Ponte Vasco da Gama, com 17,2 km de comprimento, a mais longa da Europa e a quinta mais longa ponte do Mundo, que liga a zona Oriental e Sacavém ao Montijo. Inaugurada em 1998 no âmbito da Expo 98, comemora também os 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. Existe já um projecto aprovado para a construção de uma terceira ponte sobre o rio Tejo, prevista para 2013.
O aeroporto de Lisboa, Aeroporto Humberto Delgado, situa-se a 7 km do centro, na zona nordeste da cidade. O Aeroporto Humberto Delgado é o maior aeroporto em Portugal, com um volume de tráfego de cerca de 20 milhões de passageiros por ano. Aberto ao tráfego em 1942, o Aeroporto Humberto Delgado é servido por duas pistas e possuí dois terminais: o Terminal 1 para voos internacionais, o Terminal 2 para voos nacionais, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Em 2008 foi aprovada a construção de um novo aeroporto na zona do Campo de Tiro de Alcochete, na margem sul, a cerca de 40 km da cidade. A sua conclusão prevê-se para 2017, entretanto o Aeroporto Humberto Delgado permanecerá.
O Porto de Lisboa é um dos principais portos turísticos europeus, paragem de numerosos cruzeiros. Está equipado com três cais para navios-cruzeiro: Alcântara, Rocha Conde Óbidos e Santa Apolónia. A cidade tem ainda várias marinas para barcos de recreio, nas docas de Belém, Santo Amaro, Bom Sucesso, Alcântara Mar e Olivais. Existe ainda uma rede de transportes fluviais, a Transtejo, que liga as duas margens do Tejo, com estações em Cais do Sodré, Belém, Terreiro do Paço e Parque das Nações, na margem norte, e Cacilhas, Barreiro, Montijo, Trafaria, Porto Brandão e Seixal, na margem sul.
A cidade dispõe de uma rede ferroviária urbana e suburbana com nove linhas (4 de metropolitano e 5 de comboio suburbano) e 123 estações (56 de metropolitano e 67 de comboio suburbano). A exploração da rede de metro é efectuada pela Metropolitano de Lisboa e a rede ferroviária suburbana pela Comboios de Portugal (linhas de Azambuja, Cascais, Sintra e Sado) e pela Fertagus (linha do eixo Norte–Sul, entre Roma-Areeiro e Setúbal). As principais estações do caminho de ferro são: Oriente, Rossio, Cais do Sodré, Entrecampos e Santa Apolónia.
Construída por altura da Expo'98, a Gare do Oriente é uma das principais estações terminais e interfaces de transportes de Lisboa. Por ela passam comboios, o metropolitano, autocarros e táxis. A estação, com uma notável arquitectura de vidro e colunas aço a lembrar palmeiras, foi desenhada pelo arquitecto Santiago Calatrava. Mesmo em frente, situa-se o Parque das Nações, e a estação possui ligação ao Centro Comercial Vasco da Gama. Com a sua cor amarela característica, os Elétricos de Lisboa são o transporte tradicional no centro da cidade. São explorados pela Carris, assim como os vários elevadores que galgam as colinas de Lisboa: elevador da Bica, elevador da Glória, elevador do Lavra e elevador de Santa Justa.
A rede de eléctricos é composta actualmente por seis carreiras e percorre um total de 48 km de linhas em bitola de 900 mm, sendo 13 km em faixa reservada. Emprega 165 guarda-freios (condutores de eléctricos, funiculares e elevador) e uma frota de 58 veículos (40 históricos, 10 articulados e 8 ligeiros), baseados numa única estação — Santo Amaro.
A exploração dos autocarros está também a cargo da empresa Carris. Existe ainda o Terminal Rodoviário de Lisboa, um dos mais importantes do país, onde partem e chegam todos os dias dezenas de autocarros com os mais variados destinos nacionais e internacionais. Os táxis também são muito comuns na cidade, sendo actualmente de cor creme, muitos mantêm ainda as cores emblemáticas dos táxis antigos: preto e verde. Existem várias praças de táxis e circulam centenas de táxis por toda a cidade. Apesar da rede de transportes, todos os dias se deslocam para Lisboa mais de 3 milhões de automóveis. Lisboa e a sua área metropolitana são atravessadas por duas autoestradas circulares, uma exterior e outra interior – a CRIL, Circular Regional Interior de Lisboa e a CREL,Circular Regional Exterior de Lisboa, ou A9. As principais autoestradas que ligam a cidade à envolvente são as A1 (em direcção a norte, por Vila Franca de Xira), A8 (também para norte, via Loures), A5 (em direcção a oeste, até Cascais), A2 (para sul, por Almada) e A12 (para leste, por Montijo).
Segundo dados de 2000, da Câmara Municipal de Lisboa, e segundo a tipologia de percursos cicláveis, existiam e estavam em projecto 84 km de percursos de bicicleta, 50 km de pistas cicláveis, 73 km de faixas circuláveis e 74 km de tipologia de coexistência com veículos. Em 2008, dava-se a informação que Lisboa iria fazer um investimento de 5 milhões de euros (parte dele com fundo do Quadro de Referência Estratégico Nacional) com o intuito de serem executados mais 40 km de novas vias cicláveis, havendo também a intenção de fazer recuperação de outras já existentes. Na área ribeirinha da cidade, existe já uma pista entre a Torre de Belém e o Cais do Sodré, que irá mais tarde ligar também a Santa Apolónia e posteriormente até ao Parque das Nações. Estava também previsto a instalação de uma rede de bicicletas, 250 postos de bicicletas e 65 estacionamentos. Em 2009, a informação era a de que já era possível pedalar entre Benfica e Campolide. Em dois anos, a cidade teria 90 km de pistas cicláveis e poderia estar equipada com cerca de 90 km de pistas cicláveis. Nesse mesmo ano, estaria previsto o funcionamento do anel "Palácio da Justiça – Campolide – Benfica – Carnide – Telheiras – Lumiar – Campo Grande" e a entrada em obras do percurso que uniria, em vários troços, Telheiras ao Parque das Nações. Actualmente, existem também a ciclovia de Monsanto, de 6 km de extensão.
Cultura
Lisboa é uma cidade com uma intensa vida cultural. Epicentro dos descobrimentos desde o , a cidade é o ponto de encontro das mais diversas culturas, o primeiro lugar em que Oriente, Índias, Áfricas e Américas se encontraram. Mantendo estreitas ligações com as antigas colónias portuguesas e hoje países independentes, Lisboa é uma das cidades mais cosmopolitas da Europa. É possível, numa só viagem de metro ouvir falar línguas como o cantonês, o crioulo cabo-verdiano, o gujarati, o ucraniano, o italiano ou o português com pronúncia moçambicana ou brasileira. E nenhuma delas falada por turistas, mas sim por habitantes da cidade.
Música e teatro
A música tradicional de Lisboa é o fado, canção nostálgica acompanhada à guitarra portuguesa. Uma explicação popular da sua origem remete para os cânticos dos mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, após a reconquista cristã. Mais plausivelmente, a origem do fado parece despontar da popularidade nos séculos XVIII e XIX da Modinha, e da sua síntese popular com outros géneros afins, como o lundu, no rico caldo de culturas presentes em Lisboa.
Lisboa acolhe a Companhia Nacional de Bailado, a companhia estatal criada em 1977, com vasto reportório de programação de dança clássica e contemporânea. Após a Expo'98, a CNB tornou-se residente do Teatro Camões, no Parque das Nações. Conta com a Fundação EDP como mecenas exclusivo. A Companhia de Dança de Lisboa, CDL, fundada em 1984, tem como objectivo divulgar e descentralizar a dança, ensinando as diferentes técnicas de dança em aulas abertas à população a partir dos 3 anos de idade. Cria e apresenta espectáculos com particular atenção aos temas da cultura portuguesa, a nível nacional e internacional.
Eventos
Música e dança
Desde 1994, ano em que foi Capital Europeia da Cultura, Lisboa tem vindo a acolher uma série de eventos internacionais, da Expo 98 ao Tenis World Master 2001, , Gymnaestrada, MTV Europe Music Awards, Rali Dakar, Rock in Rio ou os 50 anos da Tall Ships' Races (Regata Internacional dos Grandes Veleiros). Em 2005, Lisboa foi considerada pela International Congress & Convention Association como a oitava cidade do mundo mais procurada para a realização de eventos e congressos internacionais.
O eixo Alfama-Baixa/Chiado-Bairro Alto é palco para a cultura erudita como para a popular. Na noite lisboeta a oferta é variada: a um jantar com fado ao vivo no Bairro Alto pode seguir-se um espectáculo de ópera no São Carlos, ou um concerto no Coliseu dos Recreios. Pode continuar-se com música alternativa na ZDB, ou com uma viagem pelos muitos bares e discotecas do Bairro Alto ou de toda a zona ribeirinha da cidade. Quando o Sol nasce é tempo de ver os habitantes locais e os turistas que enchem os miradouros históricos, como os do castelo, do bairro típico de Alfama do Bairro Alto.
O Festival Jazz em Agosto, realiza-se todos os anos em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian. Aqui, músicos nacionais e internacionais dão concertos para públicos de todas as idades. Lisboa recebe ainda o Festival Internacional de Órgão de Lisboa desde 1998 em órgãos históricos restaurados. Alguns dos locais onde o festival ocorre são a Sé Patriarcal de Lisboa e a Basílica da Estrela. Outro evento relevante no mundo da música é o Super Bock Super Rock, um festival de música de Verão realizado anualmente no Parque do Tejo, na foz do rio Trancão, junto ao Parque das Nações). Organizado desde 1995, é actualmente um dos mais importantes festivais portugueses.
O Rock in Rio é um festival de música originalmente organizado no Rio de Janeiro, de onde vem o nome, que rapidamente se tornou um evento de repercussão mundial e, em 2004, teve a sua primeira edição internacional em Lisboa. Ao longo da sua história, teve 7 edições, três no Brasil, três em Portugal e uma em Espanha. Em 2008, foi realizado pela primeira vez em dois locais diferentes, Lisboa e Madrid, e há intenções em organizar uma edição simultânea em três continentes diferentes. Em 2014, Lisboa voltará a receber o Festival.
A cidade de Lisboa é palco de alguns festivais, como o IndieLisboa, um festival internacional de cinema alternativo e independente. O festival é organizado pela associação cultural Zero em comportamento, e conta já com cinco edições desde 2003. Ao longo do Outono volta o cinema com o DocLisboa (festival internacional de documentário), o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa além do Festival "Temps d'Images".
Datas comemorativas
Lisboa possuí um feriado municipal, o 13 de Junho, Dia de Santo António. Porém, o padroeiro da capital é São Vicente. As festas em honra de Santo António de Lisboa, acontecem em toda a cidade e os bairros típicos, como Alfama, Madragoa, Mouraria, Castelo e outros, são enfeitados com balões e arcos decorativos. Neles há arraiais populares, locais engalanados onde se comem sardinhas assadas na brasa, Caldo Verde (uma sopa de couve cortada aos fiapos) e se bebe vinho tinto. A Noite de Santo António, como é popularmente designada, é a festa que começa logo na noite do dia 12. Todos os anos a cidade organiza nesta noite as marchas populares, grande desfile alegórico que desce a Avenida da Liberdade (principal artéria da cidade), no qual competem os diferentes bairros, um pouco à maneira das escolas de samba, numa espécie de carnaval português. Um grande fogo de artifício costuma encerrar o desfile. Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para oferecer à namorada, o qual traz uma bandeirinha com uma quadra popular, por vezes brejeira ou jocosa.
Santo António é conhecido como santo casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a nova família. Esta tradição dos casamentos de Santo António, começou em 1958. Já as marchas surgiram em 1932.
Todos os anos, de 25 de Novembro a 7 de Janeiro, Lisboa é iluminada por milhões de pequenas luzes. Em 2004, ergueu a Maior Árvore de Natal da Europa. Inicialmente colocada em Belém, passou para o Terreiro do Paço em 2005 e 2006, então com 76 metros de altura, equivalentes a um prédio de 30 andares. Pelas ruas da Baixa, é normal ver-se várias atracções natalícias, como espectáculos de música, animadores disfarçados de Pai Natal, etc (animação de rua).
No Ano Novo, são comuns as festas por toda a cidade. A televisão costuma exibir vários programas em directo, e a festa principal da cidade realiza-se no Terreiro do Paço, com vários concertos e um mega-espectáculo pirotécnico à meia-noite em ponto (além do Terreiro do Paço, existem vários pontos de lançamento de engenhos pirotécnicos espalhados por Lisboa e pela margem sul do rio Tejo em frente à capital).
O Carnaval em Lisboa é festejado principalmente nas escolas. Algumas escolas organizam desfiles, que percorrem algumas ruas da cidade (principalmente a Rua Augusta). O mais antigo é o desfile da Escola Artística António Arroio. Nas instituições recreativas e, no Bairro Alto também se pode admirar festas relacionadas com o Carnaval.
Outros
A Moda Lisboa aquece o Inverno mais suave de todas as capitais europeias com vários desfiles de moda, onde vários criadores portugueses e estrangeiros mostram as suas tendências.
Lisboa, é também palco de outros inúmeros eventos culturais. O Lisbonarte, consiste em várias exposições de artes plásticas nas galerias de arte lisboetas. Vários artistas expõem os seus trabalhos ao público. No teatro, a Mostra de Teatro Jovem consiste na representação de várias peças teatrais, pelos futuros artistas.
Na literatura, a Feira do Livro de Lisboa, um certame que se realiza anualmente desde maio de 1930 em Lisboa. A Feira decorre, em geral, nos últimos dias de Maio. A sua localização actual é o Parque Eduardo VII. Nesta feira são, geralmente, convidados vários autores de diversos livros para sessões de autógrafos. São óptimas ocasiões para comprar livros a preços mais baixos.
Outros eventos incluem o Festival dos Oceanos, que ocorre todos os anos em Agosto, no Parque das Nações; o Experimentadesign, um mega-festival de design realizado de dois em dois anos em Setembro; e a LisboaPhoto, uma exposição, onde vários fotógrafos podem expor as suas fotos ao público. Desde 2006 que se realiza em Lisboa um evento dedicado exclusivamente à Luz (um evento bianual), o Luzboa. Pela cidade são espalhados várias instalações criadas por artistas plásticos centradas no tema Luz. Bairro Alto, Baixa, Avenida, são alguns dos locais que recebem este espectáculo.
Há vários anos que, no dia 1 de Dezembro, é organizado na Praça dos Restauradores uma grande cerimónia que envolvem várias entidades, políticas, civis e militares, para homenagear a Restauração da Independência de Portugal. Durante 44 anos, Lisboa foi na maior parte das vezes a sede do Festival RTP da Canção. Este festival serve para eleger um representante, que irá representar o país, noutro país europeu, vencedor da edição anterior do Festival Eurovisão da Canção.
Espaços públicos e museus
Lisboa dispõe de três universidades públicas, a Universidade de Lisboa, a Universidade Técnica de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa e diversas universidades privadas. A cidade está equipada com diversas bibliotecas, sendo a mais importante a Biblioteca Nacional, e arquivos, nomeadamente o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo Histórico Ultramarino entre outros, no entanto o que merece maior destaque, por ser um dos mais importantes arquivos do mundo, é a Torre do Tombo.
Entre os museus destacam-se: Museu Nacional de Arte Antiga, com a mais importante colecção nacional de pintura antiga; Museu Calouste Gulbenkian, cuja colecção diversificada inclui seis mil peças de arte de vários períodos históricos; Museu do Chiado, com uma colecção de arte portuguesa a partir do ; Museu-Colecção Berardo, onde é apresentada uma colecção de arte moderna e contemporânea internacional em paralelo com mostras de arte contemporânea; Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão onde, a par de exposições temporárias se expõe um núcleo permanente de arte portuguesa dos séculos XX e XXI; Museu Nacional dos Coches, o mais visitado do país, com a maior colecção de coches do mundo; Museu da Electricidade com uma exposição permanente onde se mostra a produção de energia e a maquinaria da antiga Central Tejo misturando ciência e diversão; Oceanário de Lisboa, com a sua impressionante colecção de espécies vivas; Museu Militar de Lisboa, com uma exposição permanente de armamento de diversas épocas.
Outros museus e centros culturais: Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva; Museu Rafael Bordalo Pinheiro; Museu do Design e da Moda; Museu de Artes Decorativas; Museu Nacional de Arqueologia; Museu Nacional do Traje; Museu do Oriente; Museu Nacional do Azulejo; Museu da Farmácia; Museu de Marinha; Museu da Água; Museu da Companhia Carris de Ferro de Lisboa; Casa-Museu de Fernando Pessoa; Fundação José Saramago.
Nas salas de espectáculos destacam-se o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna da Universidade de Lisboa, o Fórum Lisboa, os auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Cultural de Belém e da Culturgest, o Pavilhão Atlântico e a Praça de Touros do Campo Pequeno, para além dos diversos teatros e cinemas existentes.
Monumentos e bairros históricos
A Baixa Pombalina e Chiado são o "coração" da cidade. Foi edificada sobre as ruínas da antiga cidade de Lisboa, destruída pelo grande Terramoto de 1755. A sua edificação obedeceu a um rigoroso plano urbanístico, segundo um modelo reticular de rua/quarteirão, obedecendo à filosofia do Iluminismo. A reedificação da baixa de Lisboa após o terramoto constituiu o primeiro caso de construção tipificada, normalizada e em "série" da humanidade. Os seus autores foram Manuel da Maia e Eugénio dos Santos e a decisão política deve-se ao Marquês de Pombal, ministro d'El Rei D. José I. A Baixa é também a maior zona comercial da cidade de Lisboa. Nas proximidades e com interesse histórico são ainda a Praça dos Restauradores e o Elevador de Santa Justa, projectado em finais do por Mesnier du Ponsard. Na baixa também se localiza a Praça do Comércio, também conhecida como Terreiro do Paço, o Rossio, ou Praça Dom Pedro V, Chiado, o Convento do Carmo e a Praça dos Restauradores.
Alfama é um dos bairros mais típicos de Lisboa, com sua arquitectura típica cidade árabe e medieval com ruas estreitas, sendo um dos poucos sítios de Lisboa que sobreviveu ao Terremoto de Lisboa de 1755. É em Alfama que se encontram a maioria das casas de Fado, onde se pode desfrutar de vários espectáculos ao vivo. Em Alfama, distinguem-se o Castelo de São Jorge, na colina mais alta do centro da cidade, a Sé de Lisboa, o Panteão Nacional e a Feira da Ladra e o Miradouro de Santa Luzia.
O Bairro Alto é um bairros típicos de Lisboa, situado no centro da cidade, acima da baixa pombalina. É uma zona de comércio, entretenimento e habitacional. Actualmente, o Bairro Alto é um lugar de "reunião" entre os jovens da cidade, e uma das principais zonas de divertimento nocturno da capital. Aqui concentram-se tribos urbanas, que possuem os seus lugares de reunião próprios. O fado, ainda sobrevive nas noites do bairro. As pessoas que visitam o Bairro Alto durante a noite são uma miscelânea de locais e de turistas.
Junto à zona ribeirinha do Tejo, a Poente do centro da cidade, encontra-se a freguesia de Belém, representante da cidade da época dos Descobrimentos. Podemos ver nesta zona duas construções classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade: o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir pelo Rei D. Manuel I em 1501 e o melhor exemplo do denominado Estilo Manuelino, cuja inspiração provém dos descobrimentos, estando também associado ao estilo gótico e algumas influências renascentistas. O mosteiro custou o equivalente a 70 kg de ouro por ano, suportados pelo comércio de especiarias. Os restos mortais de Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas, repousam no Mosteiro, e também o grande descobridor Vasco da Gama.
Muito perto do Mosteiro dos Jerónimos, encontra-se a Torre de Belém, construção militar de vigia na barra do Tejo, o grande "ex-libris" da cidade de Lisboa e uma preciosidade arquitectónica. Para além disto, é em Bélem que se encontram o Padrão dos Descobrimentos, o Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, o Museu Nacional dos Coches, o Museu da Electricidade, a Igreja da Memória e o Centro Cultural de Belém.
A freguesia da Estrela inclui um dos parques mais famosos e antigos da capital, o Jardim da Estrela, que foi criado há mais de 100 anos, e foi inspirado pelo Hyde Park, em Londres. A Basílica da Estrela, com um estilo Barroco-Neoclássico, é a principal atracção desta zona da cidade. A Assembleia da República e o Cemitério dos Prazeres, são também outros dois pontos importantes da cidade, que se localizam neste zona da cidade.
Representante da Lisboa moderna, o Parque das Nações nasceu em 1998, para acolher a exposição mundial Expo 98 subordinada ao tema dos Oceanos. A exposição abriu a 22 de Maio de 1998, dia em que se celebraram os 500 anos da descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Com tudo isto, a zona oriental da cidade chamada Parque das Nações tornou-se na zona mais moderna de Lisboa e mesmo de Portugal, e Lisboa ganhou imensas estruturas, como a Torre São Rafael e Torre São Gabriel, ambas com 110 metros de altura, as mais altas estruturas de Lisboa e de Portugal). As principais atracções do bairro são: o Oceanário de Lisboa, o Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal, a Torre Vasco da Gama, a Ponte Vasco da Gama e o Gare do Oriente, do arquitecto Santiago Calatrava.
A freguesia do Beato destaca-se pela nova dinâmica cultural que tem vindo a conhecer no . Os bairros de manufatura e as instalações industriais à beira-rio são o palco de eleição para galerias de arte contemporânea, vida noturna, mercados, restaurantes e museus, como o Museu Nacional do Azulejo ou o Palácio do Grilo.
Do início do o monumento mais significativo é o Aqueduto das Águas Livres. De referir ainda os palácios reais das Necessidades e da Ajuda, na parte Oeste da cidade. Em finais do os planos urbanísticos permitiram estender a cidade além da Baixa para o vale da actual Avenida da Liberdade. Em 1934 é construída a Praça do Marquês de Pombal, remate superior da avenida. No sobressaem os extensos planos urbanísticos das Avenidas Novas, da envolvente da Universidade de Lisboa (Cidade Universitária), e da zona dos Olivais, e os mais recentes do Parque das Nações e da Alta de Lisboa, ainda em construção.
Gastronomia
A gastronomia de Lisboa está influenciada pela sua proximidade do mar. Especialidades tipicamente lisboetas são as pataniscas de bacalhau e os peixinhos da horta. Também se pode desfrutar das saborosas sardinhas (principalmente nas épocas festivas, como no Santo António). O famoso bife à café, é outro ex-libris alimentar da capital. O doce mais famoso de Lisboa, é o pastel de nata, cujos mais famosos são os de Belém, que são feitos numa antiga fabrica na Freguesia de Belém. Reza a lenda, que há mais de 500 anos, uma cozinheira, não tinha ingredientes suficientes para fazer um doce, e que resolveu inventar, ai nasceram os pastéis de Belém. Foram fabricados durante anos no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, só há poucos anos é que mudaram o seu local de fabricação. Nas salas de espectáculos destacam-se o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna da Universidade de Lisboa, o Fórum Lisboa, os auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Cultural de Belém e da Culturgest, o Pavilhão Atlântico e a Praça de Touros do Campo Pequeno, para além dos diversos teatros e cinemas.
Desportos
O futebol é o desporto mais popular de Lisboa. Os clubes de futebol mais destacados são o Sport Lisboa e Benfica (SLB) e o Sporting Clube de Portugal (SCP), conhecidos apenas por Benfica e Sporting respectivamente. Estes clubes jogam nas mais altas modalidades desportivas nacionais e internacionais: o Benfica joga no Estádio da Luz, com 65 mil lugares sentados e com a distinção de 5 estrelas pela UEFA. Já ganhou duas vezes a Liga dos Campeões da UEFA, tendo já chegado um total de 7 vezes à final. Os seus jogadores mais famosos são Eusébio (Bola de Ouro, Bota de Ouro por 2 vezes), Rui Costa (FIFA 100), Nuno Gomes e Simão Sabrosa. O Sporting joga no Estádio José Alvalade, com uma capacidade para 50 mil pessoas com a distinção de 5 estrelas pela UEFA. Vencedor da Taça dos Clubes Vencedores de Taças e finalista, por uma ocasião, da Taça UEFA, é o segundo clube na Europa com mais títulos no conjunto de todas as modalidades, apenas suplantado pelo FC Barcelona, e o terceiro clube europeu com mais taças europeias conquistadas (25). Os jogadores mais famosos que surgiram no Sporting são Luís Figo e Cristiano Ronaldo, ambos distinguidos como "Melhor Jogador do Mundo" pela FIFA (FIFA World Player) e ambos vencedores da "Bola de Ouro". Outro clube desportivo importante é o Belenenses, com uma grande tradição no desporto português. O Belenenses é a terceira equipa de futebol da cidade, jogando no Estádio do Restelo e competindo na Primeira Liga. Porém, atrás dos clubes anteriores, com um número de sócios muito inferior.
O Futsal é, provavelmente, o segundo desporto mais popular da capital, havendo três equipas profissionais na Liga Sport Zone sediadas na cidade: Sporting CP, SL Benfica e Belenenses. O Basquetebol profissional tem cada vez mais seguidores. Belenenses e Benfica possuem equipas profissionais, jogando na primeira divisão, e Lisboa foi a sede do Mundial Masculino de Basquetebol de 2003, disputado no Pavilhão Atlântico. Outro desporto popular é o hóquei: a Selecção Portuguesa de Hóquei ganhou 15 títulos de campeão do mundo e obteve um grande apoio dos cidadãos. Na cidade, praticam-se muitos outros desportos, com destaque para os desportos náuticos, como vela e remo, mas também golfe, ciclismo, etc. As principais instituições desportivas lisboetas além das referidas são: Ginásio Clube Português, Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Casa Pia Atlético Clube, Atlético Clube de Portugal, CDUL – Rugby, Grupo Desportivo de Direito.
A Meia Maratona de Lisboa realiza-se todos os anos no mês de Março, e conta com a participação de milhares de concorrentes de vários países, profissionais e amadores. Existem sempre dois estilos de provas, uma curta para amadores que não se sintam muito preparados, e uma mais longa para profissionais, e quem quiser arriscar. A parte principal da corrida/maratona é quando os participantes atravessam a Ponte 25 de Abril. Em 2014, Lisboa sediou a Final da Liga dos Campeões da UEFA de 2013–14 , Final da Liga dos Campeões da UEFA de Futebol Feminino de 2013–14 e em 2020 a Final da Liga dos Campeões da UEFA de Futebol de 2019–20.
Ver também
Bibliografia
Sainz Guerra, José-Luis (coord.), "La remodelación de la ciudad europea", Valladolid, 2007, ISBN 978-84-8448-417-2, Publicações da Universidade de Valladolid
Ligações externas
Câmara Municipal
Agenda Cultural na página da CML
Outros
Associação de Turismo de Lisboa
Lisboa 360
Grã-Cruzes da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
Cidades portuárias da Europa
Cidades de Portugal
Capitais da Europa
Comendadores da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito |
é o estudo científico da linguagem. Em outras palavras, trata-se do estudo abrangente, objetivo e sistemático de todos os aspectos das línguas humanas. A depender da teoria empregada, a linguística pode estudar as línguas naturais como sistemas autônomos, sociais, cognitivos, biológicos ou sociocognitivos. Consequentemente, a linguística pode ser considerada parte das ciências sociais, das ciências naturais, das ciências cognitivas e das humanidades.
As áreas tradicionais de análise linguística refletem os diferentes fenômenos que compõem os sistemas linguísticos, como sintaxe (estrutura de orações), morfologia (estrutura de palavras), semântica (significado), fonética (os sons da fala), fonologia (os sistemas de sons de cada língua), pragmática (a relação entre significados e o seu contexto de uso). Outras áreas dizem respeito ao contato com outras disciplinas, como a sociolinguística (contato com a sociologia e a antropologia), a psicolinguística (contato com a psicologia) e a biolinguística (contato com a biologia).
Há ainda a divisão entre linguística teórica, que tem como objetivos a descrição e a explicação do funcionamento dos sistemas linguísticos, e a linguística aplicada, que se volta ao modo como conceitos e descobertas em linguística podem ser utilizados para fins práticos, como aprimorar o ensino (especialmente de línguas maternas e adicionais), a tradução e o uso de evidências linguísticas em processos judiciais (linguística forense).
Divisões da linguística
Os linguistas dividem o estudo da linguagem em certo número de áreas que são estudadas mais ou menos independentemente. Estas são as divisões mais comuns:
fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras;
sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais;
semântica, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical;
lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
terminologia, estudo que se dedica ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
estilística, o estudo do estilo na linguagem;
pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
Nem todos os linguistas concordam que todas essas divisões tenham grande significado. A maior parte dos linguistas cognitivos, por exemplo, acham, provavelmente, que as categorias "semântica" e "pragmática" são arbitrárias e quase todos os linguistas concordariam que essas divisões se sobrepõem consideravelmente. Por exemplo, a divisão gramática usualmente cobre fonologia, morfologia e sintaxe.
Ainda existem campos como os da linguística teórica e da linguística histórica. A linguística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas, usando suas particulares linguagens, conseguem realizar comunicação; quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças.
A linguística histórica
A linguística histórica, dominante no , tem por objetivo classificar as línguas do mundo de acordo com suas afiliações e descrever o seu desenvolvimento histórico. Na Europa do século XIX, a linguística privilegiava o estudo comparativo histórico das línguas indo-europeias, preocupando-se especialmente em encontrar suas raízes comuns e em traçar seu desenvolvimento.
A preocupação com a descrição das línguas espalhou-se pelo mundo e milhares dessas foram analisadas em vários graus de profundidade. Quando esse trabalho esteve em desenvolvimento no início do na América do Norte, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam fortemente do paradigma europeu, mais familiar. Percebeu-se, assim, a necessidade de se desenvolver uma teoria e métodos de análise da estrutura das línguas, por mais que na época ninguém pensava na existência de línguas e culturas próprias entre os índios da América e consideravam os índios como uma criatura selvagem que pensava como animal selvagem. O pensamento de pessoas como Franz Boas caracterizou-se uma grande excepção, já que esse foi quem inventou a ideia de que índios tinham cultura própria, o que vai ser extremamente contrário a Visão Normal de Mundo e as noções científicas da época.
Para a linguística histórico-comparativa ser aplicada a línguas desconhecidas, o trabalho inicial do linguista era fazer sua descrição completa. A linguagem verbal era, geralmente, vista como consistindo de vários níveis, ou camadas, e, supostamente, todas as línguas naturais humanas tinham o mesmo número desses níveis.
O primeiro nível é a fonética, que se preocupa com os sons da língua sem considerar o sentido. Na descrição de uma língua desconhecida esse era o primeiro aspecto estrutural a ser estudado. A fonética divide-se em três: articulatória, que estuda as posições e os movimentos dos lábios, da língua e dos outros órgãos relacionados com a produção da fala (como as cordas vocais); acústica, que lida com as propriedades das ondas de som; e auditiva, que lida com a percepção da fala.
O segundo nível é a fonologia, que identifica e estuda os menores elementos distintos (chamados de fonemas) que podem diferenciar o significado das palavras. A fonologia também inclui o estudo de unidades maiores como sílabas, palavras e frases fonológicas e de sua acentuação e entonação.
O terceiro nível é a morfologia, que analisa as unidades com as quais as palavras são montadas, os morfemas. Esses são as menores unidades da gramática: raízes, prefixos e sufixos. Os falantes nativos reconhecem os morfemas como gramaticalmente significantes ou significativos. Eles podem frequentemente ser determinados por uma série de substituições. Um falante de inglês reconhece que "make" é uma palavra diferente de "makes", pois o sufixo "-s" é um morfema distinto. Em inglês, a palavra "morpheme" consiste de dois morfemas, a raiz "morph-" e o sufixo "-eme", nenhum dos quais tinha ocorrência isolada na língua inglesa por séculos, até "morph" ser adotado em linguística para a realização fonológica de um morfema e o verbo "to morph" ter sido cunhado para descrever um tipo de efeito visual feito em computadores. Um morfema pode ter diferentes realizações (morphs) em diferentes contextos. Por exemplo, o morfema verbal "do" no inglês tem três pronúncias bem distintas nas palavras "do", "does" (com o sufixo "-es") e "don't" (com a aposição do advérbio "not" em forma contracta "-n't"). Tais diferentes formas de um morfema são chamados de alomorfos.
Os padrões de combinações de palavras de uma linguagem são conhecidos como sintaxe. O termo gramática usualmente cobre sintaxe e morfologia. O estudo dos significados das palavras e das construções sintáticas é chamado de semântica.
Escolas de pensamento
Linguística humanística
O princípio fundamental da linguística humanística é que a linguagem é uma invenção criada por pessoas. Uma tradição semiótica de pesquisa linguística considera a linguagem um sistema de signos que surge da interação de significado e forma. A organização dos níveis linguísticos é considerada computacional. A lingüística é essencialmente vista como relacionada aos estudos sociais e culturais porque diferentes línguas são moldadas na interação social pela comunidade da fala. Estruturas que representam a visão humanística da linguagem incluem linguística estrutural, entre outros.
A análise estrutural significa dissecar cada nível linguístico: fonético, morfológico, sintático e do discurso, nas menores unidades. Estes são coletados em inventários (por exemplo, fonema, morfema, classes lexicais, tipos de frase) para estudar sua interconexão dentro de uma hierarquia de estruturas e camadas. A análise funcional adiciona à análise estrutural a atribuição de funções semânticas e outras funções funcionais que cada unidade pode ter. Por exemplo, um sintagma nominal pode funcionar como sujeito ou objeto da frase; ou o agente ou paciente.
A linguística funcional, ou gramática funcional, é um ramo da linguística estrutural. No referencial humanístico, os termos estruturalismo e funcionalismo estão relacionados ao seu significado em outras ciências humanas. A diferença entre o estruturalismo formal e o funcional está na maneira como as duas abordagens explicam por que as linguagens têm as propriedades que possuem. A explicação funcional envolve a ideia de que a linguagem é uma ferramenta de comunicação ou que a comunicação é a função primária da linguagem. As formas lingüísticas são, conseqüentemente, explicadas por um apelo ao seu valor funcional, ou utilidade. Outras abordagens estruturalistas assumem a perspectiva de que a forma decorre dos mecanismos internos do sistema de linguagem bilateral e multicamadas.
Linguística biológica
Abordagens como a linguística cognitiva e a gramática gerativa estudam a cognição linguística com o objetivo de descobrir os fundamentos biológicos da linguagem. Na Gramática Gerativa, esses fundamentos são entendidos como incluindo o conhecimento gramatical específico do domínio inato. Assim, uma das preocupações centrais da abordagem é descobrir quais aspectos do conhecimento linguístico são inatos e quais não são..
A Lingüística Cognitiva, em contraste, rejeita a noção de gramática inata e estuda como a mente humana cria construções linguísticas a partir de esquemas de eventos, e o impacto das restrições cognitivas e preconceitos na linguagem humana. Da mesma forma que a programação neurolinguística, a linguagem é abordada por meio dos sentidos. Linguistas cognitivos estudam a encarnação do conhecimento, buscando expressões que se relacionam com esquemas modais.
Uma abordagem intimamente relacionada é a linguística evolutiva que inclui o estudo de unidades linguísticas como replicadores culturais. É possível estudar como a linguagem se replica e se adapta à mente do indivíduo ou da comunidade de fala. A gramática de construção é uma estrutura que aplica o conceito de meme ao estudo da sintaxe.
A abordagem generativa versus evolutiva é às vezes chamada de formalismo e funcionalismo, respectivamente. Esta referência é, no entanto, diferente do uso dos termos em ciências humanas.
Falantes, comunidades linguísticas e universais linguísticos
Os linguistas também diferem em quão grande é o grupo de usuários das linguagens que eles estudam. Alguns analisam detalhadamente a linguagem ou o desenvolvimento da linguagem de um dado indivíduo. Outros estudam a linguagem de toda uma comunidade, como por exemplo a linguagem de todos os que falam o inglês vernáculo afro-americano. Outros ainda tentam encontrar conceitos linguísticos universais que se apliquem, em algum nível abstrato, a todos os usuários de qualquer linguagem humana. Esse último projeto tem sido defendido por Noam Chomsky e interessa a muitas pessoas que trabalham nas áreas de psicolinguística e de Ciência da Cognição. A pressuposição é que existem propriedades universais na linguagem humana que permitiriam a obtenção de importantes e profundos entendimentos sobre a mente humana.
Fala versus escrita
Alguns linguistas contemporâneos acham que a fala é um objeto de estudo mais importante do que a escrita Talvez porque ela seja uma característica universal dos seres humanos, e a escrita não (pois existem muitas culturas que não possuem a escrita). O fato das pessoas aprenderem a falar e a processar a linguagem oral mais facilmente e mais precocemente do que a linguagem escrita também é outro fator. Alguns (veja cientistas da cognição) acham que o cérebro tem um "módulo de linguagem" inato e que podemos obter conhecimento sobre ele estudando mais a fala que a escrita.
A escrita também é muito estudada e novos meios de estudá-la são constantemente criados. Por exemplo, na intersecção do corpus linguístico e da linguística computacional, os modelos computadorizados são usados para estudar milhares de exemplos da língua escrita do Wall Street Journal, por exemplo. Bases de dados semelhantes sobre a fala já existem, um dos destaques é o Child Language Data Exchange System ou, em tradução livre, "Sistema de Intercâmbio de Dados da Linguagem Infantil".
Descrição e prescrição
Provavelmente, a maior parte do trabalho feito atualmente sob o nome de linguística é puramente descritivo. Há, também, alguns profissionais (e mesmo amadores) que procuram estabelecer regras para a linguagem, sustentando um padrão particular que todos devem seguir.
As pessoas atuantes nesses esforços de descrição e regulamentação têm sérias desavenças sobre como e por que razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, em linguagens diferentes. Aquilo que, para um grupo é uso incorreto, para o outro é uso idiossincrático, ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem).
Em alguns contextos, as melhores definições de linguística e linguista podem ser: aquilo estudado em um típico departamento de linguística de uma universidade e a pessoa que ensina em tal departamento. A linguística, nesse sentido estrito, geralmente não se refere à aprendizagem de outras línguas que não a nativa do estudioso (exceto quando ajuda a criar modelos formais de linguagem).
Especialistas em linguística não realizam análise literária e não se aplicam a esforços para regulamentar como aqueles encontrados em livros como The Elements of Style (Os Elementos de Estilo, em tradução livre), de Strunk e White. Os linguistas procuram estudar o que as pessoas efetivamente fazem, nos seus esforços para comunicar usando a linguagem, e não o que elas deveriam fazer.
Estudos inspirados no cérebro
Psicolinguística e a Neurociência da Linguagem fazem pesquisa linguística centrada no cérebro. Segundo Marr é preciso analisar os neurônios em concomitância seu funcionamento durante o processamento da linguagem para que essa relação faça sentido. Por isso, a Neurociência da Linguagem busca relacionar o processamento cognitivo da linguagem ao funcionamento fisiológico do cérebro. Por intermédio de tecnologias de monitoramento online como a eletroencefalografia (EEG) e magnetoencefalografia (MEG) é possível monitorar online — em tempo real — a atividade cerebral no momento da produção ou compreensão de materiais escritos. Atualmente, a Neurociência da Linguagem mapeia as vias do processamento da linguagem.
Ver também
Charles Sanders Peirce
William Jones
Jacob Grimm
Franz Bopp
Franz Boas
Leonard Bloomfield
Marcos Bagno, linguista brasileiro atuante na UnB
Noam Chomsky
Curso de Linguística Geral
John Deely
Oswald Ducrot
Umberto Eco
John Grinder
Charles F. Hockett
Samuel Ichiye Hayakawa
Roman Jakobson
Joseph H. Greenberg
Kenneth L. Pike
Edward Sapir
Ferdinand de Saussure
Variação linguística
Benjamin Lee Whorf
Ghil'ad Zuckermann
Michael Halliday
Multimodalidade
Bibliografia
Ligações externas
Associação Brasileira de Linguística
Associação Portuguesa de Linguística
Fórum Franco-Dousha
Códigos e nome das línguas
Sobre língua, linguagem e Linguística: uma entrevista com Mário Perini. ReVEL, vol. 8, n. 14, 2010 |
Lugar da freguesia do Préstimo e Macieira de Alcoba, concelho de Águeda, Lourizela é uma aldeia perdida nas faldas das serras de Águeda. Aldeia rústica, com 9 habitantes à semana, é ao fim de semana que ganha o movimento de outrora, nas suas ruas estreitas e sem saída, onde mal cabe um automóvel. Esta aldeia recomeçou a cativar os seus filhos e alguns forasteiros. Têm sido reconstruídas várias casas, o que lhe está a dar uma nova vida.
Ligações externas
Mais informações sobre Lourizela
Aldeias do Distrito de Aveiro |
A microeletrônica é um ramo da eletrônica, voltado à integração de circuitos eletrônicos, promovendo uma miniaturização dos componentes em escala microscópica. A área engloba tanto os processos físico-quimicos de fabricação dos circuitos integrados como o projeto do circuito em si. São considerados ramos desta área, igualmente, o desenvolvimento de software de apoio ao projeto de circuitos, modelagem de componentes, técnicas de teste, entre outras.
Os componentes utilizados na microeletrônica são construídos na escala de mícrons ou mesmo nanômetros, tornando-se parte do ramo de nanotecnologia. A redução no tamanho dos componentes utilizados vem, ao longo da história, seguindo a Lei de Moore. O conjunto de componentes usados para um mesmo projeto é tipicamente chamado de circuito integrado (CI), ou ainda, "chip". Alguns exemplos de circuitos integrados são memórias de computadores, processadores, modems e conversores analógicos digitais.
Os circuitos integrados são produzidos em wafers, discos de silício, normalmente de 300mm de diâmetro, sobre os quais são fabricadas estruturas laminares, em um processo denominado fotolitografia. Tipicamente, diversos circuitos eletrônicos (idênticos ou não) são fabricados em um mesmo wafer por vez, de modo a ocupar toda a área disponível. O custo de produção do circuito será o custo de fabricação do wafer, dividido pelo número de circuitos nele presentes (excluindo-se os defeituosos). Assim, um circuito é mais caro pelo fato de usar uma maior área do wafer - e, consequentemente, tendo um menor número de circuitos por wafer - e não necessariamente devido ao número de componentes presentes.
Circuitos Analógicos x circuitos digitais
O projeto de circuitos integrados possui diferenças significativas quando feitos para circuitos analógicos e digitais. Esta diferença se reflete tanto no mercado de trabalho (profissionais trabalham, normalmente, em apenas um destes ramos) como em ferramentas utilizadas para o projeto dos circuitos.
A diferença fundamental entre circuitos analógicos e circuitos digitais é o nível de abstração das grandezas envolvidas. Enquanto que circuitos digitais são elaborados para trabalhar com sinais lógicos, circuitos analógicos são elaborados para processar, criar ou analisar sinais de tensão e corrente.
Os circuitos integrados mais conhecidos hoje são circuitos digitais, tais como processadores e memórias. Eles são tipicamente produzidos através da combinação de transistores de modo a formar portas lógicas. O projeto de circuitos digitais permite um alto nível de abstração. Linguagens de descrição de circuitos integrados (tais como VHDL e Verilog) possuem grandes semelhanças com linguagens de programação de software.
Assim,como os circuitos digitais, circuitos analógicos fazem uso de transistores, capacitores e resistores. Entretanto, por trabalhar diretamente com os componentes físicos do sistema,o nível de abstração possível para um circuito analógico é bem menor quando comparado com um circuito digital. Assim sendo, pode-se falar em circuitos digitais com milhões de transistores em estruturas compiladas a partir de descrições em VHDL. Circuitos analógicos, por outro lado, demandam atenção detalhada do projetista - componente por componente.
Além destes, são considerados parte da microeletrônica os MEMS (do inglês "MicroElectroMechanical Systems", Sistemas microeletricomecânicos). Estes projetos apresentam apenas em parte uma concepção eletrônica, sendo, em larga medida, projetos mecânicos. Eles são usados para diversas aplicações, tais como micro sensores.
Aspectos econômicos
A microeletrônica vem assumindo crescente importância no mundo atual, estando presente na informática, nas telecomunicações, nos controles de processos industriais, na automação dos serviços bancários e comerciais e nos bens de consumo. Quanto a esses últimos, ela aparece não apenas nos tradicionais segmentos de áudio e vídeo, mas de forma disseminada entre os eletrodomésticos, cada vez mais “inteligentes”, e os automóveis.
Cursos no Brasil
Existe um curso de graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP) em Tecnologia em Materiais, Processos e Componentes Eletrônicos onde são estudados diversos aspectos da microeletrônica, desde as etapas de microfabricação de componentes eletrônicos até a física dos componentes. Existe também um Programa de Pós Graduação em Microeletrônica (PGMICRO) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) o curso tem natureza multidisciplinar e engloba conhecimentos nas áreas de Engenharia, Informática, Física e Química. Gerando pesquisa e desenvolvimento e adsorvendo profissionais destas áreas.
Há também o curso de Sistemas Eletrônicos na graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo(POLI-USP). O estudante é conduzido a uma formação generalista de elétrica e eletrônica, mas aprofundando conceitos importantes da microeletrônica e do desenvolvimento de sistemas integrados.
Microeletrônica |
Quando um sistema operacional permite a execução de mais de um programa ao mesmo tempo, ele é chamado de multitarefa e tem de lidar com procedimentos que concorrem quanto à utilização da capacidade de processamento do hardware. Então, é necessário definir e gerenciar uma questão básica que é a prioridade de cada programa quanto ao uso de recursos existentes.
Os sistemas operacionais executam novos processos sem ter a necessidade que processos que foram iniciados antes precisem ser encerrados, para isso os programas executam segmentos (partes) de múltiplos processos de maneira intercalada fazendo que cada segmento dos processos executados, utilize os recursos computacionais (CPU, memória principal, disco, etc) de maneira ordenada e sequencial, mantendo as informações de cada processo consistentes.
A multitarefa automaticamente parcialmente interrompe a execução de cada processo salvando seu estado atual(resultados parciais, conteúdo de registradores, conteúdo de memória) e então carregando o estado salvo de outro processo e passando o controle dos recursos do sistema para ele, essa interrupção pode ser implementada a partir de divisões iguais de tempo (multitarefa preemptiva) ou administrada por um programa que gerencia e supervisiona os processos e define quando estes serão interrompidos.
A multitarefa não está diretamente ligada ao processamento paralelo pois mesmo em CPUs de vários núcleos, o processamento de mais de um processo é permitido em apenas um único núcleo do processador.
História
O primeiro sistema informatizado a usar multitarefa foi o computador Leo 3, completado 1961.
A multitarefa preemptiva foi implementada nas versões iniciais do Unix em 1969, e é o padrão no Unix e em sistemas operacionais similares, incluindo Linux, Solaris e BSD em suas variações.
Pode parecer difícil de imaginar um computador monotarefa, i.e., que apenas permita utilizar uma aplicação mas, de fato, houve um percurso histórico notável até se atingir o nível atual de paralelização de processos. Com efeito, os primeiros computadores apenas permitiam executar uma única tarefa de cada vez. O Apple DOS é um excelente exemplo disso, já que foi dos primeiros sistemas operativos para computadores pessoais.
O primeiro passo para a multitarefa no MS-DOS foi a criação dos TSR's (Terminate and Stay Resident), pequenos programas que permaneciam em memória enquanto se executava outro programa, e que podiam instalar rotinas de tratamento de interrupções para serem ativados posteriormente. Ou seja, estando o utilizador a escrever um texto num processador de texto, por exemplo, poderia apertar uma combinação de teclas que dispararia uma interrupção e chamaria a TSR de uma agenda pessoal para tirar notas. Assim, do ponto de vista do processador, o processo do processador de texto era bloqueado e passava-se o controle para a agenda. Quando o utilizador terminasse, voltava-se ao processador. Ambos programas coexistiam, mas não podiam ser executados simultaneamente.
O passo seguinte foi a emulação de multitarefa. Exemplos disto eram as primeiras versões de Windows, que este executava sobre DOS (monotarefa), mas o núcleo do Windows fazia a sua própria gestão dos processos. Curiosamente, se um processo bloqueasse o Windows, todas as aplicações teriam que ser terminadas pois eram todas dependentes.
Posteriormente, surgiu uma das principais componentes dos SO atuais: o escalonador de processos, ou (em inglês) scheduler, que faria a gestão, qualificação e o gerenciamento de prioridade dos processos sem afetar o núcleo do sistema operativo. Ou seja, todas as tarefas núcleo são críticas, e todo o tempo que sobrar é legado aos processos. Adivinha-se, portanto, a necessidade de estabilizar o núcleo, por forma a minimizar o tempo de execução de tarefas internas.
O escalonador de processos é uma componente muito polêmico em termos de inovação e de aplicações. Dependendo das situações, um escalonador de processos deve gerir os seus processos por forma a diminuir a latência entre aplicações interativas, ou assegurar a coerência em termos de critérios no escalonamento: se uma tarefa não é crítica, então não devia estar a ser executada.
Diferentes tipos de sistemas multitarefas
Os sistemas podem ainda ser classificados pela forma com que suas aplicações são gerenciadas, podendo ser divididos em sistemas batch, de tempo compartilhado ou de tempo real.
Um sistema operacional pode suportar um ou mais destes tipos de processamento, dependendo de sua implementação.
Sistemas batch: Foram os primeiros tipos de SOs multiprogramáveis a serem implementado. Eram armazenados em disco enquanto esperam para serem executados.
Sistemas de tempo compartilhado: Os sistemas de tempo compartilhado (timesharing) também são conhecidos por sistemas online. Permitem que diversos programas sejam executados a partir da divisão do tempo do processador em pequenos intervalos, denominados fatia de tempo (time-slice).
Sistemas de tempo real: Os sistemas de tempo real (real-time) são implementados de forma semelhante à dos sistemas de tempo compartilhado. A diferença entre os dois tipos de sistemas é o tempo exigido no processamento das aplicações. Em sistemas de tempo compartilhado o tempo de processamento pode variar sem comprometer as aplicações em execução. Em sistemas de tempo real os tempos de processamento devem estar dentro de limites rígidos (devem ser obedecidos) caso contrário poderão ocorrer problemas irreparáveis.
Tarefas
Os conceitos ligados ao paralelismo de tarefas não são consensuais. A linguagem vulgar no UNIX sugere, no entanto, alguns termos razoavelmente universais.
No UNIX, existem dois níveis de tarefa: o processo e a thread. Os processos têm uma série de threads associadas. Tipicamente, cada processo tem um determinado espaço de endereçamento que as diferentes threads compartilham. Cada thread tem o seu próprio estado de processador e a sua própria pilha.
Processo
Um processo pode ser visto como um conjunto de recursos utilizados por uma ou mais tarefas. Cada processo é isolado e como recursos são atribuídos aos processos, as tarefas fazem o uso deles através dos processos. Assim uma tarefa de um processo A não consegue acessar recursos de uma tarefa do processo B.
As tarefas de um mesmo processo podem trocar informações com facilidade, pois compartilham a mesma área de memória. No entanto, tarefas de processos distintos não conseguem essa comunicação facilmente, pois estão em áreas diferentes de memória. Esse problema é resolvido com chamadas de sistema do kernel que permitem a comunicação entre processos.
Alternância de tarefas
Cada processador pode executar apenas um programa de cada vez. Por esta razão, a multitarefa num sistema uniprocessador (ou monoprocessador) é apenas uma ilusão conseguida com a alternância rápida entre as várias tarefas.
O núcleo do sistema operativo é responsável por isolar os contextos de execução das diversas tarefas. Para conseguir isto, é necessário que uma rotina do núcleo seja chamada a dada altura. Essa rotina (que pode ser chamada por uma interrupção provocada por um temporizador interno do computador) geralmente executa as seguintes operações:
Salva o estado do processador numa estrutura de dados do núcleo (a árvore de processos);
Seleciona, com base num algoritmo, a próxima tarefa a executar;
Se for necessário, reconfigura o espaço de endereçamento de modo a que a próxima tarefa encontre a memória no estado que espera;
Carrega o estado do processador referente à tarefa que vai receber tempo de processador;
A rotina retorna permitindo que o programa execute.
Escalonador
Para que a CPU não fique muito tempo sem executar tarefa alguma, os sistemas operacionais utilizam técnicas para escalonar os processos que estão em execução na máquina. O escalonamento é a atividade organizacional feita pelo escalonador da CPU, possibilitando executar os processos mais viáveis e concorrentes, priorizando determinados tipos de processos.
O Escalonador escolhe o processo que será executado pela CPU com o auxílio do hardware se preocupando com a eficiência da CPU e de maneira que execução dos processos seja realizada de maneira íntegra.
Os escalonadores preemptivos são algoritmos que permitem que um processo seja interrompido durante sua execução,tanto por uma interrupção de entrada/saída ou por decorrência do algoritmo de escalonamento adotado. Após a interrupção ocorre o que se chama de troca de contexto, que consiste em salvar o conteúdo dos registradores e a memória utilizada pelo processo que fora interrompido e conceder a outro processo o privilégio de executar na CPU restaurando os registradores e espaços de memória utilizado por esse processo.
Ver também
Escalonador de processos
Monotarefa
Tecnologia dos sistemas operacionais
Computação concorrente |
O rock and roll, também conhecido como rock & roll, rock 'n' roll, ou ainda rock 'n roll, é um gênero musical surgido nos Estados Unidos no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes nos estilos musicais norte-americanos, como: country, blues, R&B, e que rapidamente se espalhou para o resto do mundo.
O instrumento mais comum neste estilo é a guitarra, sempre presente nas bandas, podendo possuir um único instrumentista, ou dois com funções diferenciadas (guitarrista base e solo).
Normalmente, as bandas, além do instrumento predominante, a guitarra, são formadas por um: contrabaixo (após 1950, um baixo elétrico) e uma bateria. Nos primórdios do rock and roll, também se utilizava o piano ou o saxofone frequentemente como instrumentos bases, mas estes foram substituídos ou suplementados, geralmente, pela guitarra a partir da metade dos anos 1950.
A batida é essencialmente um blues com country com contratempo acentuado, este último quase fornecido por uma caixa-clara. A enorme popularidade e eventual visão no mundo inteiro do rock and roll deu-lhe um impacto social único. Muito além de ser simplesmente um gênero musical, como visto nos filmes e na televisão e de acordo com a mídia que se desenvolvia na época, influenciou estilos de vida, moda, atitudes e linguagem.
História
Origens do Gênero
Por se tratar de gêneros musicais que foram influenciados e influenciam em ritmo acelerado, a delimitação exata de onde termina o R&B ou o soul e começa o rock and roll é impossível de ser apontada, mas aceita-se que as "origens" do rock and roll remontam entre as décadas de 1940 e 1950, através de uma combinação de diversos gêneros musicais populares na época. Estes incluíram: o gospel, a folk, o blues - em especial as formas elétricas desenvolvidas em Memphis, Nova Orleans e Texas - à base do boogie woogie tocado no piano e um jump blues, que se tornaram conhecidos como a fusão R&B. Também adicionaram-se influências de country e jazz.
No entanto, elementos de rock and roll podem ser ouvidos em gravações country da década de 1910 e blues dos anos 1920. Muitos brancos norte-americanos experimentaram o jazz e blues afro-americanos, que, frequentemente, eram relegados à condição de "race music" (código da indústria fonográfica para estações de rádio de rhythm and blues) e que raramente eram ouvidos pela corrente majoritária branca.
Poucos músicos negros de rhythm and blues, notadamente Louis Jordan, The Mills Brothers e The Ink Spots, alcançaram algum sucesso, embora em alguns casos (como o da canção Choo Choo Ch'Boogie, de Jordan), este êxito tenha sido alcançado com canções escritas por compositores brancos. O gênero western swing da década de 1930, geralmente tocado por músicos brancos, também seduziu fortemente o blues e diretamente influenciou o rockabilly e o rock and roll, como pode ser ouvido, por exemplo, na canção Jailhouse Rock, de Elvis Presley, de 1957.
O desenvolvimento do rock and roll foi um processo evolutivo, não há um registro único que pode ser identificado como inequivocamente "o primeiro" disco de rock and roll. Candidatos para o título de "primeiro disco de rock and roll" incluem "Strange Things Happening Everyday" de Sister Rosetta Tharpe (1944); "Rock Awhile" de Goree Carter (1949); "Rock the Joint" de Jimmy Preston (1949), que mais tarde foi regravado por Bill Haley & His Comets, em 1952; "Rocket 88" de Jackie Brenston and his Delta Cats (na verdade, Ike Turner e sua banda The Kings of Rhythm), gravada na Sun Records de Sam Phillips em março de 1951, em termos de sua grande impacto cultural em toda a sociedade americana e outros lugares do mundo, "Rock Around the Clock" de Bill Haley, foi gravada em abril 1954, mas não foi um sucesso comercial até o ano seguinte; é geralmente reconhecida como um marco importante, mas foi precedida de muitas gravações das décadas anteriores em que os elementos do rock and roll pode ser claramente detectados.
Voltando mais algumas décadas, o rock and roll pode traçar uma linhagem para o distrito de Five Points, em Manhattan, em meados do século XIX, cenário da primeira fusão pesadamente rítmica de danças africanas com a melodia de gêneros europeus (especialmente de origem irlandesa).
Em 1956, no filme Rock, Rock, Rock, Alan Freed interpreta a si mesmo e diz ao público que "Rock and roll é um rio musical que tem absorvido muitos riachos: rhythm and blues, jazz, ragtime, canções de cowboy, country e folk. Todos contribuíram para o big beat."
A tabela abaixo aponta algumas, mas não todas, as principais influências sobre o rock and roll. O que deve ser salientado é que, antes do rock and roll, a música foi categorizada por: raça, nacionalidade, localização, estilo, instrumentação, técnicas vocais e até mesmo por religião. No entanto, com a imensa popularidade e sucesso comercial de Elvis Presley em 1956, o Rock and roll se tornou um objeto angular da indústria musical americana. Nunca mais a música foi definida e categorizada desta forma.
Origens da expressão
A palavra rock teve uma longa história no idioma inglês como uma metáfora para to shake up, to disturb or to incite (sacudir, perturbar ou incitar). Em 1937, Chick Webb e Ella Fitzgerald gravaram "Rock It for Me", que incluía na letra o verso So won't you satisfy my soul with the rock and roll. (Então, você não vai satisfazer a minha alma com o rock and roll.). Já o termo Rocking era usado por cantores negros gospel no sul dos Estados Unidos para dizer algo semelhante ao êxtase espiritual. Pela década de 1940, no entanto, o termo foi usado como um duplo sentido, referindo-se pretensamente a dançar e ao ato sexual, como em "Good Rocking Tonight", de Roy Brown.
O verbo roll era uma metáfora medieval que significava ter relações sexuais. Durante centenas de anos, escritores têm utilizado expressões como They had a roll in the hay (Eles tiveram um rolo no feno) ou I rolled her in the clover (Eu transei com ela no trevo). Os termos eram muitas vezes utilizados em conjunto (rocking-and-rolling) para descrever o movimento de um navio no mar, por exemplo, como na canção Rock and Roll, das Irmãs Boswell, em 1934, que apareceu no filme Transatlantic Merry-Go-Round' (literalmente, Transatlântico Carrossel), naquele mesmo ano, e na canção "Rockin 'Rollin' Mama", de Buddy Jones em 1939. O cantor country Tommy Scott se referia ao movimento de um trem na ferrovia em Rockin e Rollin, de 1951.
Uma versão alternativa às origens de rocking-and-rolling pode, ainda, remonta aos trabalhadores das ferrovias Reconstruction South. Esses homens cantariam canções na batida do martelo para manter o ritmo do seu instrumento de trabalho. Ao final de cada linha em uma canção, os homens balançariam seus martelos para baixo para fazer um furo na rocha. Os shakers - homens que ocupavam as pontas de aço perfuradas pelo martelo humano - "balançariam" o prego para frente e para trás para limpar a pedra ou rolar, girando o prego para melhorar a 'mordida' da broca.
Até então, a frase rocking-and-rolling ("balançando e rolando"), conforme uma gíria laica negra que remete a dançar ou fazer sexo, apareceu em gravações pela primeira vez em 1922, na canção My Man Rocks Me With One Steady Roll de Trixie Smith. Mesmo antes, em 1916, o termo rocking-and-rolling foi usado com conotação religiosa, no registro fonográfico de The Camp Meeting Jubilee, gravado por um quarteto masculino desconhecido.Em 1934, a canção "Rock and Roll" por Boswell Sisters apareceu no filme Transatlantic Merry-Go-Round. Em 1942, o colunista da revista Billboard, Maurie Orodenker começaram a usar o termo "rock-and-roll" para descrever gravações otimistas, como "Rock Me", de Sister Rosetta Tharpe. Em 1943, o "Rock and Roll Inn" em Merchantville, Nova Jérsia, foi estabelecido como um local de música.
A expressão foi também incluída nos anúncios para o filme "Wabash Avenue", estrelado por Betty Grable e Victor Mature. Uma propaganda para o filme que circulou em 12 de abril de 1950 anunciou Ms. Grable como the first lady of rock and roll e Wabash Avenue como the roaring street she rocked to fame.
Três diferentes canções com o título "Rock and Roll" foram gravadas no final dos anos 1940: uma em 1947 por Paul Bascomb, outra por Wild Bill Moore em 1948, e ainda outra em 1949 por Doles Dickens, e a expressão estava em constante uso nas letras de canções R&B da época. Um outro registro onde a frase foi repetida durante toda a canção foi em Rock and Roll Blues, gravado em 1949 por Erline Rock and Roll Harris.
Em 1951, em Cleveland (Ohio), o DJ Alan Freed começou a tocar R&B para uma audiência multirracial. Freed é creditado como o primeiro a utilizar a expressão "rock and roll" para descrever a música. No entanto, o termo já tinha sido apresentado ao público dos Estados Unidos, especialmente nas letras de muitas gravações rhythm and blues.
Início e primeiras gravações
Rockabilly
"Rockabilly", geralmente (mas não exclusivamente) se refere ao tipo de rock and roll, que foi tocado e gravado em meados dos anos 1950 por cantores brancos, como Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis, que tinham bastante influência da música country. Muitos outros cantores populares de rock and roll da época, como Fats Domino, Chuck Berry e Little Richard, vieram da tradição do rhythm and blues negro, faziam músicas que atraiam a plateias brancas, e normalmente não são classificados como "rockabilly".
Em julho de 1954, Elvis Presley gravou um hit regional: "That's All Right", pela gravadora de Sam Phillips, a Sun Records em Memphis. Dois meses antes, em Maio de 1954, Bill Haley e Seus Cometas gravaram "Rock Around the Clock". Embora apenas tenha sido um hit menor quando lançado, quando usado na sequência de abertura do filme "Blackboard Jungle", um ano mais tarde, ela realmente passou a definir o auge do rock and roll em movimento. A canção se tornou um dos maiores sucessos na história, e frenéticos grupos adolescentes para ver Haley e os Cometas tocar, causavam em algumas cidades. "Rock Around the Clock" foi um avanço tanto para o grupo e para todas as músicas de rock and roll. Se tudo que veio antes de lançar as bases, "Clock" introduziu a música para um público global.
Em 1956, a chegada de rockabilly foi sublinhada pelo sucesso de canções como "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash, "Blue Suede Shoes", de Carl Perkins e o Hit No. 1 de Presley, "Heartbreak Hotel", de Presley. Por alguns anos, tornou-se a forma de rock and roll de maior sucesso comercial. Atos posteriores do rockabilly, particularmente cantores como Buddy Holly, seriam uma grande influência nos artistas da Invasão Britânica e particularmente na composição dos Beatles e, por meio deles, na natureza posterior do rock.
Doo wop
Doo-wop era uma das formas mais populares do rhythm and blues dos anos 50, muitas vezes comparadas ao rock and roll, com ênfase em harmonias vocais de várias partes e letras de apoio sem sentido (de onde se originaria seu nome), que geralmente eram suportado com instrumentação leve. Suas origens estavam nos grupos vocais afro-americanos das décadas de 1930 e 40, como Ink Spots e Mills Brothers, que tiveram considerável sucesso comercial com arranjos baseados em harmonias estreitas. Eles foram seguidos por artista vocais de R&B dos anos 40, como The Orioles, The Ravens e The Clovers, que injetaram um forte elemento do gospel tradicional e, cada vez mais, a energia do jump blues. Em 1954, quando o rock and roll estava começando a surgir, vários artistas semelhantes começaram a passar das paradas de R&B para o sucesso principal, muitas vezes com adição de buzinas e saxofones, como Crows, Penguins, El Dorados e Turbans, todos marcando grandes hits. Apesar da explosão subsequente nas gravações de artistas doo wop nos anos 50, muitos não conseguiram traçar ou foram artistas de um só sucesso. As exceções incluíam o The Platters, com músicas como "The Great Pretender" (1955) e The Coasters com canções humorísticas como "Yakety Yak" (1958), ambas classificadas entre os artistas de rock and roll de maior sucesso da época. No final da década, havia um número crescente de cantores brancos, especialmente ítalo-americanos, ocupando o Doo Wop, criando grupos totalmente brancos como os Mystics e Dion and the Belmonts, e grupos racialmente integrados como The Del-Vikings e The Impalas. O Doo-wop seria uma grande influência na surf music vocal, soul e no início do Merseybeat, incluindo os Beatles.
Versões cover
Muitos dos primeiros sucessos do rock and roll branco foram versões covers ou reescritas parciais de canções anteriores do rhythm and blues ou do blues negro. No final dos anos 1940 e no início dos anos 1950, a música R&B vinha ganhando uma batida mais forte e um estilo mais selvagem, com artistas como Fats Domino e Johnny Otis acelerando os tempos e aumentando a batida de fundo para grande popularidade no circuito de juke joint. Antes dos esforços de Freed e outros, a música negra era tabu em muitas rádios de propriedade de brancos, mas artistas e produtores rapidamente reconheceram o potencial do rock and roll. Algumas das primeiras gravações de Presley foram covers de black rhythm and blues ou blues, como "That's All Right" (um arranjo country de um número de blues), "Baby Let's Play House", "Lawdy Miss Clawdy" e "Hound Dog". As linhas raciais, no entanto, são um tanto mais nubladas pelo fato de algumas dessas canções R&B originalmente gravadas por artistas negros terem sido escritas por compositores brancos, como a equipe de Jerry Leiber e Mike Stoller. Os créditos das composições geralmente não eram confiáveis; muitos editores, executivos de gravação e até mesmo gerentes (brancos e negros) inseriam seus nomes como compositores para coletar cheques de royalties.
Covers eram comuns na indústria musical da época; tornou-se particularmente fácil pela provisão de licença compulsória da lei de direitos autorais dos Estados Unidos (ainda em vigor).] Um dos primeiros covers de sucesso relevantes foi a transformação de Wynonie Harris do hit blues original de Roy Brown de 1947, "Good Rocking Tonight" em um rock mais vistoso. A tendência mais notável, no entanto, foram covers pop brancas de gravações negras de R&B. O som mais familiar dessas capas pode ter sido mais palatável para o público branco, pode ter havido um elemento de preconceito, mas as gravadoras voltadas para o mercado branco também tinham redes de distribuição muito melhores e eram geralmente muito mais lucrativas.. Notoriamente, Pat Boone gravou versões higienizadas de canções gravadas por nomes como Fats Domino, Little Richard, The Flamingos e Ivory Joe Hunter. Mais tarde, à medida que essas canções se tornaram populares, as gravações dos artistas originais também foram tocadas no rádio.
As versões covers não eram necessariamente imitações diretas. Por exemplo, a versão incompleta de Bill Haley de "Shake, Rattle and Roll" transformou o conto humorístico e atrevido de amor adulto de Big Joe Turner em um enérgico número de dança adolescente, enquanto Georgia Gibbs substituiu o vocal duro e sarcástico de Etta James em "Roll With Me, Henry" (regravada como "Dance With Me, Henry") com um vocal alegre, mais apropriado para um público não familiarizado com a canção para a qual a canção de James foi uma resposta, "Work With Me, Annie" de Hank Ballard". A versão rock and roll de Elvis de "Hound Dog", tirada principalmente de uma versão gravada pela banda pop Freddie Bell and the Bellboys, era muito diferente do blues shouter que Big Mama Thornton havia gravado quatro anos antes.. Outros artistas brancos que gravaram versões cover de canções de rhythm & blues incluem Gale Storm ["I Hear You Knockin'" de Smiley Lewis], The Diamonds ["Little Darlin'" dos Gladiolas, e "Why Do Fools Fall in Love?" de Frankie Lymon & the Teenagers"], Crew Cuts ["Sh-Boom" de the Chords', e "Don't Be Angry" de Nappy Brown], Fountain Sisters ["Hearts of Stone" de The Jewels] e Maguire Sisters ["Sincerely" de The Moonglows].
Rock britânico
Na década de 1950, a Grã-Bretanha estava bem posicionada para receber a música e a cultura do rock and roll americano. Compartilhava uma linguagem comum, fora exposto à cultura americana por meio do estacionamento de tropas no país e compartilhava muitos desenvolvimentos sociais, incluindo o surgimento de distintas subculturas juvenis que, na Grã-Bretanha, incluíam os Teddy Boys e os rockers. Trad jazz se tornou popular, e muitos de seus músicos foram influenciados por estilos americanos relacionados, incluindo boogie woogie e blues. A mania do skiffle, liderada por Lonnie Donegan, utilizou versões amadoras de canções folk americanas e encorajou muitos da geração seguinte de rock and roll, folk, R&B e músicos beat a começar a se apresentar. Ao mesmo tempo, o público britânico estava começando a conhecer o rock and roll americano, inicialmente por meio de filmes como Blackboard Jungle (1955) e Rock Around the Clock. (1956). Ambos os filmes continham o sucesso de Bill Haley & His Comets, "Rock Around the Clock", que entrou nas paradas britânicas no início de 1955 - quatro meses antes de chegar às paradas pop dos Estados Unidos - liderou as paradas britânicas no final daquele ano e novamente em 1956, e ajudou a identificar o rock and roll com a delinquência adolescente. Artistas americanos de rock and roll, como Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly, Chuck Berry e Carl Perkins, depois disso, tornaram-se grandes forças nas paradas britânicas.
A resposta inicial da indústria musical britânica foi tentar produzir cópias de discos americanos, gravados com músicos de sessão e muitas vezes liderados por ídolos adolescentes. Mais roqueiros britânicos de base logo começaram a aparecer, incluindo Wee Willie Harris e Tommy Steele. Durante este período, o rock and roll americano permaneceu dominante; no entanto, em 1958, a Grã-Bretanha produziu sua primeira estrela e canção rock and roll "autêntica", quando Cliff Richard alcançou o número 2 nas paradas com "Move It". Ao mesmo tempo, programas de TV como Six-Five Special e Oh Boy! promoveu as carreiras de roqueiros britânicos como Marty Wilde e Adam Faith. Cliff Richard e sua banda de apoio, The Shadows, foram os artistas caseiros de rock and roll mais bem-sucedidos da época. Outros artistas principais incluem Billy Fury, Joe Brown e Johnny Kidd & the Pirates, cujo hit de 1960 "Shakin 'All Over" se tornou um standard do rock and roll.
Como o interesse pelo rock and roll estava começando a diminuir na América no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, ele foi assumido por grupos nos principais centros urbanos britânicos como Liverpool, Manchester, Birmingham e Londres. Quase ao mesmo tempo, uma cena de blues britânico se desenvolveu, inicialmente liderada por seguidores puristas do blues, como Alexis Korner e Cyril Davies, que foram diretamente inspirados por músicos americanos como Robert Johnson, Muddy Waters e Howlin' Wolf. Muitos grupos se moveram em direção à música beat de rock and roll e rhythm and blues do skiffle, como os Quarrymen que se tornaram os Beatles, produzindo uma forma de revivalismo do rock and roll que os levou e muitos outros grupos ao sucesso nacional por volta de 1963 e internacional sucesso de 1964, conhecido na América como a invasão britânica. Os grupos que seguiram os Beatles incluíram Freddie and the Dreamers, com influência beat, Wayne Fontana e Mindbenders, Herman's Hermits e Dave Clark Five. Os primeiros grupos de rhythm and blues britânicos com mais influências de blues incluem Animals, Rolling Stones e Yardbirds.
Impacto cultural
Alan Freed, também conhecido como "Moondog", é creditado como o primeiro a utilizar a expressão "rock and roll" para descrever a música rhythm and blues tocada para uma audiência multirracial. Enquanto trabalhava como DJ na estação de rádio WJW, em Cleveland, ele também organizou o primeiro grande concerto de rock and roll, o "Moondog Coronation Ball", em 21 de março de 1952. Posteriormente, Freed organizou muitos concertos de rock and roll marcados pela presença tanto de brancos quanto de negros, contribuindo ainda mais para introduzir estilos musicais afro-americanos para um público mais vasto.
Tensões raciais
O rock and roll surgiu em uma época em que as tensões raciais nos Estados Unidos estavam próximos de vir à tona. Os negros norte-americanos protestavam contra a segregação de escolas e instalações públicas. A doutrina racista "separate but equal" foi nominalmente derrubada pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1954, mas a difícil tarefa de fazer respeitar a decisão estava por vir. Este novo gênero musical combinando elementos das músicas branca e negra inevitavelmente provocou fortes reações.
Depois do "The Moondog Coronation Ball", as gravadoras logo compreenderam que havia mercado formado pelo público branco para a música negra que estava para além das fronteiras estilísticas do rhythm and blues. Mesmo o preconceito considerável e as barreiras raciais não podiam barrar as forças do mercado. O rock and roll tornou-se um sucesso de um dia para outro nos Estados Unidos, repercutindo no outro lado do Oceano Atlântico e, talvez, culminando em 1964 com a "Invasão Britânica".
Os efeitos sociais do rock and roll foram massivos mundialmente, influenciando estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Além disso, pode ter ajudado a causa do movimento dos direitos civis, porque tanto os jovens norte-americanos brancos como os negros gostavam do gênero, que ainda derivou muitos estilos musicais: soul music, funk, progressivo, punk, heavy metal e alternativo.
Cultura teen
Um ídolo teen geralmente é um artista que atrai um grande número de seguidores, principalmente adolescentes do sexo feminino, devido à sua boa aparência, apelo sexual além de suas qualidades musicais. Um bom exemplo é Frank Sinatra na década de 1940, embora um exemplo anterior possa ser Rudy Vallée. Com o nascimento do rock and roll, Elvis Presley se tornou um dos maiores ídolos teen de todos os tempos. Seu sucesso levou os promotores de eventos à criação deliberada de novos ídolos, tais como Frankie Avalon e Ricky Nelson. Outros músicos daquela época também atingiram popularidade.
Devido ao sucesso de muitos outros artistas, como os Beatles e os Monkees, no meio teen, foram criadas algumas revistas orientadas exclusivamente ao público jovem (por exemplo 16 Magazine e Tiger Beat). Essas publicações mensais estampavam um ídolo teen na capa, bem como fotografias atraentes, uma seção de "Perguntas & Respostas", e uma lista de predileções (ou seja, cor favorita, comida favorita etc).
Os ídolos teen também influenciaram na produção de desenhos animados matutinos a brinquedos, entre outros produtos. No auge da popularidade dos Beatles, não era incomum ver perucas inspiradas no corte de cabelo, por exemplo.
Militar
Durante a guerra do Vietnã, o termo "Rock and Roll" se referia ao disparo com uma arma automática (geralmente o fuzil M-16), empunhando a arma no quadril como uma guitarra. Era muitas vezes utilizado o termo "Let's Rock and Roll".
Estilo de dança
Desde o seu início na década de 1950 até o início dos anos 1960, a música rock and roll gerou novos estilos de danças. Adolescentes encontraram, no ritmo irregular do Contratempo, a brecha para reavivar a dança jitterbug da era das big bands. Danças Sock-hops, de ginásio ou de festas em porões residenciais tornaram-se uma mania, e os jovens norte-americanos assistiam ao programa de televisão American Coreto, apresentado por Dick Clark, para se manter atualizados sobre os mais recentes estilos de dança e moda. A partir de meados dos anos 1960, quando o rock and roll gradualmente tornou-se rock, este influenciou danças de gêneros musicais seguintes, começando pelo twist, e conduziu em direção ao funk, disco, house, techno e hip-hop.
Ver também
Rock brasileiro
Rock português
Ligações externas
R
Música afro-americana
Géneros musicais dos Estados Unidos |
Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, sendo o quarto estado com a maior área territorial e o segundo em quantidade de habitantes, localizada na Região Sudeste do país. Limita-se ao sul e sudoeste com São Paulo, a oeste com Mato Grosso do Sul, a noroeste com Goiás e Distrito Federal, a norte e nordeste com a Bahia, a leste com o Espírito Santo e a sudeste com o Rio de Janeiro. Seu território é subdividido em 853 municípios, a maior quantidade dentre os estados brasileiros.
A topografia mineira é bastante acidentada, sendo que alguns dos picos mais altos do país encontram-se em seu território. O estado também abriga a nascente de alguns dos principais rios do Brasil, o que o coloca em posição estratégica no que se refere aos recursos hídricos nacionais. Possui clima tropical, que varia de mais frio e úmido no sul até semiárido em sua porção setentrional. Todos esses fatores aliados propiciam a existência de uma rica fauna e flora distribuídas nos biomas que cobrem o estado, especialmente o cerrado e a ameaçada Mata Atlântica.
O território de Minas Gerais era habitado por indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil. Contudo, ocorreu uma grande migração para o estado a partir do momento em que foi anunciada a existência de ouro. A extração do metal trouxe riqueza e desenvolvimento para a então província, proporcionando seu desenvolvimento econômico e cultural. Mas o ouro logo se tornou escasso, provocando a emigração de grande parte da população, até que um novo ciclo (o do café) novamente traria a Minas projeção nacional e cujo fim levou ao processo de industrialização relativamente tardio. Minas Gerais atualmente possui o terceiro maior produto interno bruto do Brasil, sendo que grande parte do total produzido no estado ainda se deve a atividades mineradoras. Tal desenvolvimento também advém de sua notável infraestrutura, como a grande quantidade de usinas hidrelétricas e a maior malha rodoviária do país.
Em virtude de suas belezas naturais e de seu patrimônio histórico, Minas Gerais é um importante destino turístico brasileiro. O povo mineiro possui uma cultura peculiar, marcada por manifestações religiosas tradicionais e culinária típica do interior, além de importância nacional nas produções artísticas contemporâneas e também no cenário esportivo.
Etimologia
Minas Gerais se relaciona literalmente por abrigar campos de extração de inúmeros minérios, principalmente ouro, denominadas "minas gerais", em oposição às minas particulares ou por sua variedade de tipos de minério. No início do século XVIII, a região era simplesmente denominada Minas. Em 1710, surge a capitania de São Paulo e Minas de Ouro e, em 1720, desmembra-se dela a capitania de Minas Gerais.
História
Uma parte da história do atual estado de Minas Gerais foi determinada pela exploração da grande riqueza mineral que se encontra em seu território. Seu nome, inclusive, provém da larga quantidade e variedade das minas presentes, que passaram a ser exploradas desde o século XVII e até os dias atuais movimentam uma fração importante da economia do estado.
Ocupação indígena
A região onde se encontra atualmente Minas Gerais já era habitada por povos indígenas possivelmente entre a anos atrás, período o qual se estima ter se originado Luzia, nome recebido pelo fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, achado em escavações na Lapa Vermelha, uma gruta na região de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na região dos municípios de Januária, Montalvânia, Itacarambi e Juvenília, no norte do estado, escavações arqueológicas levaram a estimativas de que a ocupação inicial tenha ocorrido entre e anos atrás. Desse período, herdaram-se características culturais como o uso de peças de pedra ou osso, fogueiras extintas, criação de cemitérios, pequenos silos com sementes e pinturas rupestres. Mais tarde, cerca de 4 mil anos atrás, especula-se que tenha ocorrido o cultivo de vegetais, em especial o milho, e há dois mil anos já existia importante manufatura de produtos cerâmicos.
O descobrimento de Luzia, na década de 1970, fez com que fosse formulada a hipótese de que o povoamento das Américas teria sido feito por correntes migratórias de caçadores e coletores, ambas vindas da Ásia, provavelmente pelo estreito de Bering através de uma língua de terra chamada Beríngia (que se formou com a queda do nível dos mares durante a última idade do gelo). Os povos indígenas que predominavam em Minas Gerais, assim como em todo o Brasil e na América do Sul, são descendentes dessas tribos caçadoras que se instalaram na região, oriundas da América do Norte.
Mais de cem grupos indígenas habitavam o estado de Minas Gerais na época da chegada dos portugueses ao Brasil. Nos vales dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri, habitavam os povos genericamente conhecidos como "botocudos”, como os maxacalis, maconis, naquenuques, aranãs, crenaques e pataxós. O Norte de Minas era dominado pelos cariris e xacriabás. O centro, oeste e sul de Minas eram habitados pelos cataguás, que eram o grupo indígena mais numeroso do território mineiro na época colonial, tanto que a região era conhecida como “Campos Gerais dos Cataguases” na época dos bandeirantes. A região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba eram habitadas pelos caiapós e araxás, enquanto que a Zona da Mata Mineira era povoada pelos puris. A região de Minas Gerais próxima à divisa com São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás era ocupada pelos bororós. Entretanto, durante os primeiros séculos de colonização do Brasil, os indígenas dessa região foram capturados pelos bandeirantes para serem escravizados e os grupos que se revoltaram eram exterminados, o que provocou uma grande redução na população indígena, restando atualmente cinco grupos: xacriabás, crenaques, maxacalis, pataxós e pankararus, este último sendo oriundo do interior de Pernambuco.
A corrida do ouro
A primeira penetração europeia no território mineiro foi com a expedição dos espanhóis Francisco Bruza Espinosa e João de Azpilcueta Navarro entre 1553 e 1555, que partiu do litoral da Bahia e percorreu o Norte de Minas. Nas décadas seguintes, outras expedições conhecidas como “entradas”, vindas do litoral nordestino, percorreram essa mesma região, como a de Sebastião Fernandes Tourinho em 1573.
A partir do final do século XVI, os bandeirantes percorrem o território de Minas Gerais à procura de ouro e pedras preciosas. Com a decadência do ciclo do açúcar em meados do século XVII, as bandeiras se intensificam, contando com o apoio da Coroa Portuguesa, destacando-se as expedições de Fernão Dias e de seu genro Borba Gato.
Entre 1692 e 1693, o bandeirante Antônio Rodrigues Arzão descobre as primeiras jazidas de ouro no território de Minas. Nos anos seguintes, bandeirantes vindos das vilas de São Paulo e Taubaté percorrem a região do Rio das Velhas à procura de ouro. Em 1696, Salvador Fernandes Furtado descobre ouro nas margens do Rio do Carmo e ali ergue seu acampamento, que originou a Vila de Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana). Dois anos depois, Antônio Dias de Oliveira descobre o metal amarelo no sopé do Pico do Itacolomi e ali funda seu assentamento, embrião de Vila Rica (atual Ouro Preto). Em 1702, descobre-se essa pedra preciosa no vale do Rio das Mortes. Inicialmente, o ouro era extraído do leito dos rios, o que obrigava os garimpeiros a se mudar conforme o esgotamento do metal. Após algum tempo, a exploração passou a ser feita também nas encostas de montanhas, o que obrigava o assentamento permanente dos mineradores, proporcionando o surgimento dos primeiros povoados.
A notícia descoberta de ouro em Minas Gerais logo se espalhou e, nas décadas seguintes, centenas de milhares de pessoas ávidas por riqueza, sobretudo portugueses (o que inclui cristãos novos), mas também brasileiros oriundos de São Paulo, Bahia, Pernambuco e do Rio de Janeiro. A chegada de um grande número de pessoas em pouco tempo levou a falta de alimentos e consequentemente a uma fome entre 1700 e 1701.
Os paulistas se julgavam proprietários do ouro retirado das minas, alegando direito de descoberta e conquista, e não queriam que outros se apossassem dessa riqueza. Com isso, em 1707, entram em conflito com os portugueses e brasileiros e não paulistas (apelidados de "emboabas", termo tupi que significa "aquele que ofende"), ocasionando a Guerra dos Emboabas, encerrada em 1709. Os paulistas foram derrotados e muitos deles tiveram que abandonar as jazidas de ouro de Minas Gerais, tendo que procurar o metal na Região Centro-Oeste do Brasil, encontrando-o anos depois em Goiás e Mato Grosso. A imposição da autoridade da Coroa Portuguesa também contribuiu para o fim do conflito, a partir da criação da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro em 1709.
Em 1711, as primeiras vilas são criadas em Minas Gerais, sendo elas Sabará, Vila Rica e Vila do Nossa Senhora do Carmo. Em 1720, ocorre a Revolta de Filipe dos Santos contra as taxações sobre o ouro e, com isso, nesse mesmo ano é criada a Capitania de Minas Gerais.
A Coroa Portuguesa, então, passou a controlar com rigor a exploração de ouro nas minas, recolhendo 20% de tudo o que era produzido, o que ficou conhecido como quinto. A população da capitania continuava a crescer, mas existiam até então somente pequenos cultivos agropecuários de subsistência, o que demandava a importação de produtos de outras regiões da colônia. Novos acessos a região passaram a ser criados e o fluxo de pessoas e mercadorias aumentou intensamente surgindo, assim, o primeiro grande mercado consumidor do Brasil. Ao longo desses acessos apareciam povoados, tendo, portanto, papel fundamental no povoamento da capitania. Dentre esses trajetos destaca-se o Caminho Novo, que ligava as regiões mineradoras ao Rio de Janeiro. A intensa mistura de pessoas associada a riqueza oriunda do ouro e a vida urbana proporcionaram a formação de uma nova sociedade culturalmente diversa, com vários músicos, artistas, escultores e artesãos. Dentre os movimentos culturais destacam-se o trabalho de Aleijadinho e Mestre Ataíde, dentre outros, que permitiram o florescimento do Barroco Mineiro.
Na década de 1720, na região do vale do Jequitinhonha, ocorreu a descoberta do diamante, embora seus descobridores por décadas não reconheceram o valor desta pedra preciosa. Contudo, a Coroa Portuguesa, ao reconhecer a produção mineral da região, logo estabeleceu uma forma de cobrar impostos sobre a produção, de forma similar ao quinto do ouro. O principal núcleo de exploração dos diamantes era próximo de onde surgiu o Arraial do Tijuco (hoje Diamantina).
No auge da exploração do ouro, a mão de obra escravizada era essencial para os grandes proprietários. Desta forma, intensificou-se o comércio de negros trazidos do continente africano para trabalhar nas minas. Muitos dos negros tentavam e conseguiam fugir, o que provocou o intenso surgimento de quilombos por todo o atual estado. Estima-se que durante o século XVIII surgiram mais de 120 destas comunidades por toda a capitania. Contudo, tais assentamentos não se encontravam tão afastados dos centros mineradores, o que facilitava a fuga de mais negros. Existia, ainda, o comércio de produtos de subsistência entre os negros e comerciantes, que tiravam vantagem do preço mais baixo oferecido pelos quilombolas.
Inconfidência Mineira
No entanto, a partir da segunda metade do século XVIII a produção aurífera dava sinais claros de declínio. Para manter a arrecadação, a Coroa Portuguesa passou a aumentar os impostos e a fiscalização na colônia, além de criar a derrama, uma nova forma de imposto que garantiria seus lucros. As regiões auríferas passaram a ficar cada vez mais escassas, e os colonos não mais podiam arcar com tais impostos, levando o governo lusitano ao confisco de suas propriedades.
Tais ações consideradas abusivas trouxeram profunda insatisfação entre a população mineira. Então, influenciados pelos ideais do Iluminismo que surgira na Europa e se espalhavam pelo mundo ocidental, as elites mineradoras passaram a conjecturar um plano com o objetivo de criar uma nova república na região de Minas Gerais. A revolução estava marcada para acontecer em 1789, quando ocorreria uma nova cobrança da derrama. Dentre os líderes do movimento estavam os poetas Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, o padre Carlos Correia de Toledo e Melo, o coronel Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes. Contudo, a cobrança da derrama foi revogada pelas autoridades lusitanas. Ao mesmo tempo, tinha-se a investigação por parte da coroa sobre o movimento de insurreição que estaria para acontecer. Em troca do perdão de suas dívidas, Joaquim Silvério dos Reis delatou todo o plano dos inconfidentes, o que levou à prisão de vários de seus companheiros antes que a insurreição acontecesse. Como boa parte dos membros dos movimentos tinham forte ligação com a elite, poucos foram de fato condenados. Como Tiradentes era de origem popular, toda a responsabilidade do movimento foi atribuída a ele. Como forma de reprimir outros movimentos, a Coroa Portuguesa realizou o enforcamento e o esquartejamento do alferes, e partes de seu corpo foram espalhadas por vias de acesso da capitania.
Decadência da produção mineral
Até então a maior parte da população da capitania concentrava-se nos núcleos urbanos e nas proximidades da região mineradora. Contudo, o esgotamento das jazidas auríferas e de diamantes levou à diáspora da população urbana, que se deslocou para outras regiões. Os desbravadores passaram a criar novas fazendas por outras regiões do atual estado, erguiam capelas onde posteriormente surgiam arraiais e vilas. No início do século XIX, houve uma intensa criação de vilas, freguesias, distritos e municípios. Isto contribuiu para a expansão e povoamento do território mineiro, expandido suas fronteiras para o norte (adquirindo partes da província de Pernambuco), para leste (adquirindo áreas do Espírito Santo), para o oeste (anexando a região do Triângulo Mineiro, antes pertencente a Goiás). A população mineira passou a ser predominantemente rural, e as cidades do ouro ficaram cada vez mais vazias, o que teve grande influência na cultura e na política da província.
O período imperial
Durante o período imperial, teve duas mobilizações importantes da população. A primeira delas foi a Sedição Militar de 1833, um movimento sem consistência que queria o retorno de Dom Pedro I ao país, mas foi logo abafado pelo governo provincial. Outro grande movimento foi a Revolução Liberal de 1842. No Brasil Império as forças políticas estavam divididas essencialmente entre liberais e conservadores. Quando Dom Pedro II atingiu a maioridade em 1840, o Partido Conservador assumiu o poder, o que provocou a revolta dos liberais. Tiveram início, então, conflitos armados na província de São Paulo, que ganharam adesão dos liberais mineiros em 1842, com a participação inicial de quinze dos quarenta e dois municípios existentes na época. Para conter os revoltosos, o governo imperial enviou guardas nacionais e unidades do exército, que deveriam prender os líderes do partido liberal. Transcorreram vários conflitos durante mais de dois meses até que o movimento foi finalmente abafado por completo. Os líderes foram julgados e absolvidos seis anos depois.
Durante a segunda metade do século surgiram os primeiros avanços no setor industrial em Minas. No campo siderúrgico, começava a aumentar a produção e manufatura do ferro. Surgiram ainda várias fábricas de produtos têxteis, laticínios, vinhos, alimentos, cerâmicas e louças. Contudo, as atividades agropecuárias dominavam a economia da época, sendo voltadas principalmente para subsistência, desfavorecendo o crescimento econômico da província. A mão de obra era predominantemente escrava, provenientes dos que restaram das atividades mineradoras. A produção de café voltada para a exportação chegou à província no início do período imperial e aumentou substancialmente até o fim do século. Porém, a produção paulista sempre foi expressivamente maior e fatores administrativos, naturais e econômicos desfavoreceram o desenvolvimento da cafeicultura mineira na época.
Cafeicultura
Em 1889 tem início o período da República Velha no Brasil, que foi comandado inicialmente por presidentes militares. Somente em 1894 houve a eleição do primeiro presidente civil do Brasil, dando início ao período da República Oligárquica. Em Minas Gerais, surgiam os primeiros grandes barões do café, responsáveis por aumentar significativamente a produção do estado. As oligarquias cafeeiras tinham grande influência no cenário político nacional, a ponto de escolherem os representantes que iriam ocupar o cargo de presidente do país. Os dois estados mais populosos do país, então, firmaram um acordo em que os presidentes eleitos seriam alternados entre paulistas e mineiros, o que ficou conhecido como política do café-com-leite.
Existiram, porém, algumas divergências políticas entre os dois estados, o que permitiu a eleição de presidentes de outros estados, embora nunca deixassem de exercer influência sobre o processo eleitoral. Na década de 1920, vários fatores aceleraram o declínio do domínio oligárquico, como revoltas populares, movimentos tenentistas e a crise econômica do café, que se agravou ainda mais com a grande depressão. Mas a política do café-com-leite terminou de fato quando o então presidente paulista Washington Luís deveria indicar um mineiro para sucessão, mas indicou outro paulista, Júlio Prestes. Em oposição ao episódio, Minas Gerais se uniu à Aliança Liberal, que realizou um golpe de Estado em 1930 e instaurou uma nova república no Brasil, sob o comando de Getúlio Vargas.
Industrialização
O ciclo do café no estado teve certas características particulares que desfavoreceram o crescimento econômico do estado. O lucro gerado pela cultura era em parte destinado aos portos de exportação nos estados vizinhos. Além disso, findo o período da escravidão, não houve a transição direta para o trabalho livre e assalariado nas lavouras, o que levou à menor circulação monetária. Outro agravante era a desarticulação entre as regiões do estado, que tinham mais relações econômicas com os estados vizinhos. Em reconhecimento a esta situação, as elites mineiras iniciaram uma tentativa de centralizar a economia estadual a partir de diversas iniciativas, dentre elas a criação de uma nova capital, Belo Horizonte, em 1897. Uma exceção ao atraso industrial foi a cidade de Juiz de Fora, que apresentou um surto de desenvolvimento industrial sustentado pela economia cafeeira aliado à proximidade com o Rio de Janeiro. Contudo, tal desenvolvimento durou até 1930, quando a competição com os outros grandes centros industriais do país levou à estagnação e posterior declínio do parque industrial da cidade.
O projeto de desenvolvimento mineiro estava pautado por duas orientações. A primeira delas incluía a diversificação produtiva, em que se pretendia a criação de uma forte agricultura capaz de sustentar o desenvolvimento industrial. A outra estratégia envolvia o aproveitamento dos recursos naturais do estado para realizar a especialização produtiva, com a produção de bens intermediários. Através das primeiras décadas do século XX o plano foi sendo gradualmente implementado com diversas iniciativas, como a criação da Cidade Industrial de Contagem em 1941. Contudo, o avanço foi prejudicado por conta de problemas logísticos como a falta de energia e de uma rede eficiente de transportes.
A partir do fim da década de 40 e ao longo da década de 50, no entanto, Minas passa por um importante processo de transformação, que visa sanar os problemas que barravam o desenvolvimento mineiro, principalmente durante o período do mandato de Juscelino Kubitschek como governador (1951-1955) e presidente da república (1956-1961). Foram criadas a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), várias usinas hidroelétricas e milhares de quilômetros de rodovias. Um importante setor industrial que se desenvolveu neste período foi o metalúrgico, sustentado pela exploração do ferro na região central do estado. Contudo, a instabilidade econômica que se sucedeu durante a década de 1960 afetou a continuidade de tal crescimento, deixando o estado em defasagem. Durante a ditadura militar, as federações de indústrias de Minas Gerais e importantes industriais mineiros apoiaram o regime.
Na década seguinte, porém, Minas retoma sua trajetória de crescimento econômico beneficiado, sobretudo, pelo processo de descentralização industrial. Como resultado, o crescimento do produto interno bruto mineiro foi superior à média nacional por vários anos. Tal processo deveu-se ao incremento da produção industrial e fortalecimento da agricultura. Tal processo provocou ainda o aumento da porcentagem da população que vivia nas cidades, embora boa parte deste êxodo rural tenha motivado a emigração da população para os grandes centros urbanos de outros estados. Na década de 1980, o crescimento econômico mineiro sofre uma nova descontinuidade por conta da crise econômica generalizada pela qual o país passava. Mesmo assim, o crescimento mineiro ainda foi superior à média nacional. A partir da década de 90, o estado apresentou baixo dinamismo econômico, seguindo a tendência nacional. A partir de então, Minas se consolida na economia nacional com o terceiro maior PIB do país, e se mantém na posição até hoje.
Geografia
Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada na Região Sudeste do país, limitando-se com os estados de São Paulo a sul e sudeste, Rio de Janeiro a sudeste, Mato Grosso do Sul a oeste, Goiás e Distrito Federal a noroeste, Bahia (a norte e nordeste) e Espírito Santo a norte e leste, tendo um total de de linha fronteiriça. A área do estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de (um pouco menor que a soma das áreas ocupadas por Portugal e Espanha juntos, de 596 994 km²) e equivale a 6,89% do território brasileiro, sendo o quarto maior estado em tamanho territorial (depois de Amazonas, Pará e Mato Grosso), dos quais estão em perímetro urbano. A distância linear entre os pontos extremos estaduais é de no sentido leste–oeste e 986 no sentido norte–sul.
Relevo
A maior parte do território mineiro apresenta altitudes que oscilam entre 900 e metros, tendo predominância de planaltos com escarpas e depressões, mais notáveis na região central. O ponto mais alto do estado é o Pico da Bandeira, situado na divisa com o Espírito Santo, com metros de altitude (o terceiro maior do país), seguido pelo Pico do Cristal com metros. Além da Serra do Caparaó, onde está o pico da Bandeira, outros maciços montanhosos merecem destaque no território mineiro, dentre eles a Serra do Espinhaço, que segue do centro em direção ao norte do estado até o limite com a Bahia. Ao sul, delimitando a fronteira com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, está a Serra da Mantiqueira na qual se situam alguns dos mais altos picos do país, como o Agulhas Negras com metros de altitude. Outras cadeias montanhosas de menor porte espalham-se por todo o estado, dentre as mais notáveis a Serra da Canastra e do Lenheiro.
Oficialmente, as formas de relevo existentes no estado de Minas Gerais podem ser divididas nos seguintes tipos de unidades geomorfológicas: planalto Cristalino, serra do Espinhaço, depressão do rio São Francisco, planalto do São Francisco e planalto do Paraná. O planalto cristalino possui altitudes médias de 800 metros — sendo reduzida ao aproximar-se da Zona da Mata —, apresentando depressões onde originam-se os vales dos rios Jequitinhonha e Doce. A serra do Espinhaço possui altitude média de metros, relevando-se por dividir a bacia do rio São Francisco com as bacias hidrográficas costeiras. A depressão do rio São Francisco tem altitude média de 500 metros e está presente na parte oeste de Minas, em sentido norte-sul. O planalto do São Francisco tem altitude média de mil metros e é composto por chapadões acidentados entrelaçados por vales. Por fim, o planalto do Paraná tem altitude média de 600 metros e corresponde ao sudoeste mineiro, sendo cortado por rios como o da Prata, Tijuco e o Araguari.
Hidrografia
Na rede hidrográfica, entre os principais rios do estado de Minas Gerais estão o Doce, que nasce entre as encostas das serras da Mantiqueira e Espinhaço e percorre 853 km até desaguar no Oceano Atlântico, no Espírito Santo; o Grande, cuja nascente está na Serra da Mantiqueira, no município de Bocaina de Minas, percorrendo km até o Rio Paranaíba, formando assim o Rio Paraná (no estado de São Paulo); o Paranaíba, que nasce na Mata da Corda, em Paranaíba, e tem aproximadamente km; o São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, percorre km, cortando a Bahia e passando por Pernambuco, Sergipe e Alagoas até desaguar no oceano, sendo suas águas essenciais para o turismo, lazer, irrigação e transporte em várias cidades, especialmente no norte mineiro e, por fim, o Jequitinhonha, que nasce na serra do Espinhaço, em Serro, e percorre 920 km até sua foz no Atlântico. Outros rios importantes do estado são o Mucuri, Pardo, Paraíba do Sul, São Mateus e das Velhas. O Parque Estadual do Rio Doce abriga o maior sistema lacustre do estado. Contudo, existem importantes reservatórios de usinas hidrelétricas, como a Represa de Furnas no sul e a Três Marias no centro do estado.
Devido à grande quantidade de nascentes, o estado é conhecido como a caixa-d'água do Brasil, tendo muitos desses rios relevância energética, agrícola e turística, com grande presença de usinas hidrelétricas, canais para irrigação e atividades de lazer. 16 bacias hidrográficas compõem o estado de Minas Gerais, sendo a maior delas a do São Francisco, que abrange uma área de 2,3 milhões de km² no estado. Quatro regiões hidrográficas abrangem o território mineiro, sendo elas a do São Francisco (tendo como principais componentes, em Minas, os rios São Francisco, das Velhas e Paracatu), do Atlântico Leste (rios como São Mateus, Doce, Itaúnas e Itabapoana), do Atlântico Sudeste e do Paraná (composta pelas sub-bacias dos rios Paranaíba e Grande). Na estação das secas é observado um menor volume das águas, sendo que no norte mineiro alguns cursos chegam a secar nos períodos de estiagem. Já na estação das chuvas ocorre a cheia dos rios e, por vezes, enchentes.
Clima
No estado de Minas Gerais, predominam quatro tipos distintos de clima: o clima subtropical de altitude (Cwb, segundo a Classificação climática de Köppen-Geiger), que ocorre nas regiões mais elevadas das serras da Canastra, Espinhaço e Mantiqueira e em pequenas áreas próximas às cidades de Araguari e Carmo do Paranaíba, tendo estiagens no inverno e temperaturas amenas durante o ano e cuja temperatura média do mês mais quente é inferior a 22 °C; o clima subtropical de inverno seco — e com temperaturas inferiores a 18 °C — e verão quente — temperaturas maiores de 22 °C — (Cwa), observado a norte das serras do Espinhaço e do Cabral; clima tropical com inverno seco (Aw), que predomina no Triângulo Mineiro, na Zona da Mata, Vale do Rio Doce e em quase toda a metade norte do estado, tendo estação seca no inverno e chuvas abundantes no verão, com precipitações anuais entre 750 mm a mm; e o clima tropical semiúmido com chuvas no verão (As), que ocorre no norte mineiro, com precipitações anuais sempre inferiores a mm e por vezes menores que 750 mm. Segundo a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o clima semiárido está presente em 88 municípios mineiros, todos no norte do estado, muitos dos quais estão em processo de desertificação.
O estado sofre influência de frentes frias durante todo o ano, no entanto, no inverno, a presença do anticiclone do Atlântico Sul impede o avanço da umidade, mantendo os dias secos e ensolarados, e favorece a influência de massas de ar frio, configurando-se a estação seca. Entre o final da primavera e começo do verão (principalmente entre novembro e março), com o afastamento do anticiclone, as frentes frias atuam com maior intensidade e há uma intensa organização da convecção tropical, manifestada por uma banda de nebulosidade convectiva, as chamadas zonas de convergência — dentre as quais a zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é a que mais afeta o estado, provocando dias seguidos de chuvas intensas em algumas regiões. Devido à nebulosidade, as chuvas causadas pelas ZCAS e por frentes frias são capazes de provocar quedas de temperatura, que normalmente fica elevada nessa época, devido à atuação de massas de ar quente continentais.
Ecologia e meio ambiente
Originalmente, a cobertura vegetal de Minas Gerais era constituída por quatro biomas principais: Cerrado, Mata Atlântica, Campos Rupestres e a mata seca. O cerrado é o bioma predominante, sendo observado em 50% do território mineiro, mais presente na porção oeste do estado. A vegetação é predominantemente rasteira, composta por gramíneas, arbustos e árvores, tendo como representantes da fauna tamanduá, tatu, anta, jiboia, cascavel e o cachorro-do-mato, além de espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará, o veado-campeiro e o pato-mergulhão.
A Mata Atlântica ocupa a segunda maior área de ocorrência em Minas Gerais, predominando nas regiões da Zona da Mata, Campos das Vertentes, Sul, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce e Vale do Mucuri, no entanto foi fortemente devastada, ocorrendo atualmente em áreas restritas. A vegetação é densa e, devido ao elevado índice pluviométrico, bastante verde, sendo possível encontrar bromélias, cipós, samambaias, orquídeas e líquens e, na fauna, macacos, preguiças, capivaras, onças, araras, papagaios e beija-flores. Os campos rupestres possuem cobertura vegetal de menor porte e são típicos das terras altas do estado, tendo vegetação herbácea e poucas árvores, apresentando raposas, veados, micos, capivaras e cobras. Já a mata seca é uma fitocenose do cerrado e ocorre no norte do estado, no vale do rio São Francisco, apresentando plantas espinhosas e com galhos secos, dentre as quais destacam-se as barrigudas, os ipês e os pau-ferros na flora e a ariranha, a onça, a anta, a capivara e a águia-pescadora na fauna.
Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o estado contava, em 2012, com onze estações ecológicas (que protegiam um total de ), nove reservas biológicas (), onze monumentos naturais (), quatro refúgios de vida silvestre (), 16 áreas de proteção ambiental (APA — ), duas florestas estaduais (), uma reserva de desenvolvimento sustentável (), 182 reservas particulares do patrimônio natural (RPPN — ), e 23 parques estaduais. Sete parques nacionais também estão situados em Minas Gerais: Caparaó, Grande Sertão Veredas, Itatiaia, Cavernas do Peruaçu, Sempre-Vivas, Serra da Canastra e Serra do Cipó, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A Serra do Cipó é inclusive a maior comunidade vegetal em espécies por metro quadrado do mundo.
Apesar da existência das áreas de preservação, o estado ainda apresenta consideráveis índices de desmatamento, encontrando-se com 9,84% de seu território dentro do polígono das secas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Outra situação grave é a da Mata Atlântica, cujo bioma perdeu um espaço de entre 2011 e 2012 em Minas Gerais, o que representa 44% do total desmatado em todo país.
A Mata Atlântica, que já chegou a se estender do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje, foi quase totalmente devastada, restando atualmente apenas 5% de sua vegetação original (cerca de ); em Minas Gerais, cobria cerca de 81,8% da área que corresponde ao atual estado, mas hoje esse percentual é de apenas de 7%, sendo os principais responsáveis pelo desflorestamento, no período colonial, a extração do pau-brasil e as plantações de cana-de-açúcar e café e, mais recentemente, a mineração e a agropecuária. Por outro lado, muitos projetos do governo e iniciativas privadas estão tentando reverter este quadro.
Demografia
Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do Brasil, com uma população estimada em mais de 21 milhões de habitantes em 2020. A densidade demográfica do estado era de 33,41 habitantes por quilômetro quadrado em 2010. Ao longo do século passado, Minas tem sempre apresentado um crescimento populacional inferior à media nacional. O movimento da população rural em direção às zonas urbanas observado durante o mesmo período também foi acentuado, contudo bem abaixo da média nacional. Ainda durante o mesmo período, observou-se o intenso movimento emigratório da população mineira em direção a outros estados que se mostravam promissores durante seu desenvolvimento industrial, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Especialmente durante a década de sessenta, mais de dois milhões de mineiros deixaram o estado. Ao longo das décadas seguintes, a população continuou a emigrar para outras regiões mas, devido às novas oportunidades que surgiam em Minas, essa taxa foi gradualmente diminuindo. Somente na década de 1990 o saldo migratório tornou-se favorável para Minas, ou seja, o estado possuía mais imigrantes do que emigrantes.
A região central do estado, em especial a região metropolitana de Belo Horizonte, é a mais populosa e a que apresenta maior crescimento populacional em todo o estado. Logo a seguir encontram-se as regiões do Alto Parnaíba, Centro-Oeste, Sul e Triângulo. A região nordeste do estado, por sua vez, possui o menor contingente populacional do estado em virtude da pobreza e estagnação econômica da região.
A população mineira era composta em 2012 por 49,2% de homens e 50,8% de mulheres. A taxa de fecundidade em 2012, ou seja, a quantidade média de filhos que uma mulher teria em média é de 1,7, pouco abaixo da média nacional que é 1,8. A mortalidade infantil no mesmo ano, por sua vez, ficou em 13,2 mortes por mil nascidos vivos, também abaixo da média brasileira de 15,7 mortes. Por fim, a esperança de vida ao nascer em Minas ficou em torno de 76 anos, sendo que para as mulheres esta expectativa é de 79 anos e para os homens é de aproximadamente 73 anos.
Urbanização
Etnias
De acordo com o censo de 2010 do IBGE, pouco menos da metade (45,4%) da população mineira se autodeclarava branca, enquanto uma parcela semelhante (44,3%) se autodeclarava pardos e 9,2% se consideravam pretos. Uma pequena parcela, por sua vez, consideravam-se amarelos ou indígenas (1,1%).
A maior parte da população mineira é descendente de colonos portugueses originários do Norte de Portugal (particularmente do Minho) e de escravos africanos, sobretudo oeste-africanos e bantos, vindos durante a época da mineração, no século XVIII e, após a decadência desta no século XIX, para trabalharem na produção agrícola. Além desses dois povos principais, contribuíram para a diversidade da população mineira os bandeirantes paulistas, descobridores das jazidas de ouro, e, no final do século XIX e início do XX, imigrantes não-portugueses, sobretudo italianos. Dos pouco mais de trinta mil indígenas que habitam o estado atualmente, pouco mais de onze mil estão distribuídos entre doze etnias que pertencem ao tronco linguístico macro-jê. A maior reserva indígena do estado pertence aos Xacriabás, localizados nos municípios de Itacarambi e São João das Missões, com mais de oito mil integrantes.
Em um estudo genético, 13,8% dos mineiros portadores de anemia falciforme testados tinham mais de 85% de ancestralidade europeia e 11,05% dos portadores de anemia falciforme tinham mais de 85% de ancestralidade africana. A maioria deles, 73,37%, apresentou níveis intermediários de mistura (entre 15 e 85%). De acordo com um estudo genético autossômico realizado em 2013, a composição da população mineira é a seguinte: 59,20% europeia, 28,90% africana e 11,90% indígena.
Habitação
Em 2012, cerca de 84,5% da população mineira, o que representa mais de 16,7 milhões de pessoas, viviam nas cidades, sendo que a taxa de urbanização era ligeiramente menor que a brasileira (84,8%). Outros 2,9 milhões viviam nas áreas rurais do estado.
O estado de Minas Gerais possuía, segundo o censo de 2010, domicílios, sendo na zona urbana (86,05%) e na zona rural (13,95%). Desse total, eram casas (88,89%), eram apartamentos (9,76%), eram casas de vila ou em condomínio (0,86%), eram habitações em casa de cômodos ou cortiços (0,48%) e 164 eram ocas ou malocas. Quanto à forma de ocupação, domicílios eram próprios (72,30%), sendo próprios já quitados (67,47%) e em processo de aquisição (4,82%); eram alugados (18,36%); eram cedidos (8,93%), sendo por empregador (2,85%) e cedidos de outra forma (6,09%) e os restantes eram ocupados sob outras condições (0,41%).
Ainda no ano de 2010, segundo os critérios elaborados pela Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional ultrapassava 557 mil pessoas, dos quais mais de 507 mil estavam situados na zona urbana. Este indicador representa a parcela da população cujas moradias não apresentam o mínimo de infraestrutura necessária ou que pagam aluguel que compromete a renda familiar ou que moram em locais com uma quantidade elevada de pessoas.
Língua
A língua portuguesa falado em Minas Gerais possui três dialetos: o mineiro, o paulista e o baiano, segundo uma pesquisa da UFJF. O Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG) foi o primeiro mapeamento linguístico do estado de Minas Gerais, realizado por pesquisadores dialetologistas da UFJF e publicado em 1977. O estudo identificou três regiões dialetais em Minas: no norte do estado, o falar baiano, caracterizado pela abertura das vogais pretônicas. No Triângulo Mineiro e no sul do estado, o falar paulista, com o principal traço fonético o chamado “r retroflexo”. Por fim, na região central, o falar mineiro propriamente, caracterizado por alongamento das vogais, nasalização e fala mais pontuada.
Renda e desigualdade
O rendimento médio per capita de Minas Gerais é de 733 reais, de acordo com o censo realizado em 2010 pelo IBGE, encontrando-se abaixo da média nacional. Contudo, o estado apresenta uma grande disparidade entre suas regiões no que se refere ao desenvolvimento econômico e social. As regiões mais ricas do estado, como a Central e o Triângulo Mineiro, possuem renda per capita de mais de 900 reais, enquanto as áreas mais pobres localizadas no norte do estado, especialmente nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, este valor não ultrapassa 500 reais. Contudo, verifica-se o crescimento maior da renda das regiões mais pobres, motivados sobretudo pelo aumento do salário mínimo e pelos programas de transferência de renda do governo federal.
O Índice de Desenvolvimento Humano, baseados em fatores como saúde, educação e qualidade de vida, revelam de forma ainda mais acentuada a desigualdade entre as regiões de Minas Gerais. O norte e nordeste do estado concentram a maioria dos municípios com baixo IDH, enquanto a região Sul, Triângulo e Alto Paranaíba que a situação é oposta. A região central do estado, embora seja rica, possui alto índice de desigualdade, ou seja, a renda não é igualmente distribuída entre a população. Cerca de seiscentos mil pessoas moram em aglomerados subnormais, dos quais pouco mais da metade estão na capital mineira. O maior aglomerado, contudo, localiza-se em Betim e possui mais de vinte e três mil habitantes. Coronel Fabriciano e Vespasiano são os que apresentam maior porcentagem da população vivendo nessas áreas (mais de 20%).
Religião
De acordo com o Censo 2010, a maior parte da população (13,8 milhões de pessoas) se consideram católicos, o que coloca o estado em nono lugar quando se considera a porcentagem da população pertencente a esta religião (73,32%). Embora o número de católicos venha apresentando gradual queda nos últimos anos, a religião ainda está fortemente enraizada na cultura mineira, especialmente nas áreas rurais e nas cidades do interior, onde são comuns celebrações e festejos organizados pelas paróquias das comunidades.
Quase quatro milhões de mineiros pertencem a igrejas evangélicas das quais destacam-se, de acordo com o número de adeptos, a Assembleia de Deus (mais de setecentos mil seguidores), Igreja Batista (mais de quinhentos mil seguidores) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (quase trezentos e cinquenta mil adeptos). Cerca de 420 mil pessoas no estado são adeptas do espiritismo, que teve como importante divulgador o médium mineiro Chico Xavier. Existem ainda várias outras minorias religiosas no estado, dentre elas a umbanda e o candomblé que juntas possuem menos de vinte mil adeptos e cujos rituais por vezes são confundidos com tradições folclóricas. Quase um milhão de mineiros, por sua vez, consideram-se sem religião dos quais cerca de setenta mil são ateus e pouco mais de sete mil são agnósticos.
Política
Sendo um estado da Federação, Minas Gerais é governado por três poderes, independentes e harmônicos entre si: o executivo, representado pelo governador; o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e outros tribunais e juízes. Por vezes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos. A atual constituição mineira foi promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores emendas constitucionais. São símbolos estaduais a bandeira, o brasão e o hino.
O poder executivo está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. Ouro Preto foi a capital mineira entre 1721 e o final do século XIX, no entanto em 1897 a sede do governo fora transferida para a recém-criada cidade de Belo Horizonte, devido à antiga Vila Rica não comportar o crescimento econômico e populacional. Nesta mesma ocasião foi construído o Palácio da Liberdade, primeira sede do governo mineiro em Belo Horizonte, que desde 2010 funciona no Palácio Tiradentes, localizado na Cidade Administrativa de Minas Gerais.
O poder legislativo mineiro é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, que funciona no Palácio da Inconfidência e é constituída por 77 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação mineira é de três senadores e 55 deputados federais. No poder judiciário, a mais alta instância é o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), constituído por desembargadores. Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de dezesseis milhões de eleitores aptos a votar, distribuídos em pouco mais de trezentas zonas eleitorais.
Subdivisões
A primeira divisão feita no território mineiro foi feita em 1711, a pedido do então governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, após a área do atual estado desmembrar-se da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Neste ano, foram criadas a Vila Ribeirão do Carmo (atual Mariana, em 8 de abril), Vila Rica (atual Ouro Preto, em 8 de julho) e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará (atual Sabará, em 17 de julho). Atualmente, Minas Gerais possui várias subdivisões, baseadas em aspectos socioeconômicos, com fins estatísticos, principalmente.
O estado é dividido em 853 municípios, que estão distribuídos em 70 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em 13 regiões geográficas intermediárias, segundo a nova divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. São as regiões intermediárias: de Barbacena, Belo Horizonte, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas, Pouso Alegre, Uberaba, Uberlândia, Teófilo Otoni e Varginha.
O estado também é dividido a partir da regionalização da Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG; antiga Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral — SEPLAN), que vinha sendo elaborada desde a década de 1970 e hoje segue a divisão adotada em dezembro de 1995. Segundo a SEPLAG, Minas Gerais se divide em dez regiões de planejamento, a saber: Alto Paranaíba (31 municípios), Central (158), Centro-Oeste de Minas (56), Jequitinhonha/Mucuri (66), Mata (142), Noroeste de Minas (19), Norte de Minas (89), Rio Doce (102), Sul de Minas (155) e Triângulo (35). O governo mineiro realizou uma redivisão em 2015, desta vez em 17 territórios, sendo estes: Alto Jequitinhonha, Caparaó, Central, Mata, Médio e Baixo Jequitinhonha, Metropolitano, Mucuri, Noroeste, Norte, Oeste, Sudoeste, Sul, Triângulo Norte, Triângulo Sul, Vale do Aço, Vale do Rio Doce e Vertentes.
Oficialmente, também existem duas regiões metropolitanas no estado de Minas Gerais, sendo elas a de Belo Horizonte e do Vale do Aço, além da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, que tem sede em Brasília, mas envolve os municípios mineiros de Buritis, Cabeceira Grande e Unaí. Uma região metropolitana ou área metropolitana é um grande centro populacional, que consiste em uma (ou, às vezes, duas ou até mais) grande cidade central, e sua zona adjacente de influência. Geralmente, regiões metropolitanas formam aglomerações urbanas, uma grande área urbanizada formada pela cidade núcleo e cidades adjacentes, formando uma conurbação, a qual faz com que as cidades percam seus limites físicos entre si.
Economia
Minas Gerais é o estado brasileiro que possui o terceiro maior produto interno bruto, que totalizava 351,38 bilhões de reais no fim do ano de 2010. Ao longo dos últimos anos, a economia mineira apresentou crescimento praticamente contínuo, interrompido somente durante a grande recessão entre os anos de 2008 e 2009 quando houve o decréscimo significativo do PIB mineiro. Contudo, posteriormente, a economia voltou a crescer em ritmo superior à media nacional. Das regiões mineiras, a Região Metropolitana de Belo Horizonte concentra 45% das atividades econômicas do estado, e é também uma das regiões que apresenta maior crescimento. A capital mineira, por si só, possui 43% das atividades econômicas da região, seguida pelos municípios de Betim e Contagem. A seguir estão o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o Sul e Sudoeste de Minas, Zona da Mata e Vale do Rio Doce que juntas correspondem a cerca de 40% do PIB mineiro. As regiões menos desenvolvidas são os vales do Jequitinhonha e do Mucuri, que juntas possuem 2,1% de participação no PIB estadual.
O estado, segundo dados de 2012, é o terceiro que mais exporta no país, sendo responsável por 12,78% dos produtos vendidos ao exterior, ficando atrás apenas de São Paulo (26,55%) e Rio de Janeiro (12,88%). A pauta de exportação do estado, no entanto, é muito concentrada e baseada em produtos primários, principalmente minério de ferro (43,15%), café (11,29%), ferro-ligas (5,86%) e ouro (5,15%). O volume total de exportações em 2012 foi de cerca US$ (trinta e três bilhões de dólares).
Agropecuária
O setor primário da economia mineira correspondeu a cerca de 8,7% da soma de tudo o que foi produzido no estado durante o ano de 2012. Das culturas do estado, o café foi o que teve a maior participação no que se refere ao valor da produção agrícola estadual, chegando a 40% em 2011. Em 2017, Minas respondia por 54,3% da produção nacional total de café, sendo, portanto, o maior produtor do país. A região sul do estado é a principal origem do café mineiro, onde é cultivado em sua maioria a variedade arábica. A produção de cana-de-açúcar, por sua vez, representa quase 20% do valor da produção agrícola de Minas, seguido pelo milho, soja e feijão. Em 2019, Minas era o 3º maior produtor de cana-de-açúcar do país (11% do total), com 74,3 milhões de toneladas. Na safra 2018/2019, Minas Gerais colheu 5 milhões de toneladas de soja, sendo o 7º lugar no país. Minas Gerais era o 2º maior produtor de feijão do Brasil em 2019, com 17,2% da produção nacional. Em 2019, o estado foi o 2º maior produtor de laranja (989 mil toneladas), 3º maior produtor de banana (825 mil toneladas) , o 2º maior produtor de tangerina (210 mil toneladas) e o 3º maior produtor de abacaxi (179 milhões de frutos) do país. Minas produz cerca de 30% do sorgo do país, atrás apenas de Goiás. Sobre a cenoura, o Brasil ocupava em 2016 o 5º lugar no ranking mundial, com uma produção anual próxima de 760 mil toneladas. Minas Gerais e São Paulo são os 2 maiores produtores do Brasil. Entre os polos de produção em Minas Gerais, estão os municípios de São Gotardo, Santa Juliana e Carandaí. Já a batata tem como principal produtor nacional o estado de Minas Gerais, com 32% do total produzido no país. Minas Gerais colheu, em 2017, cerca de 1,3 milhão de toneladas do produto. Em 2019, no Brasil, havia uma área total produtora em torno de 4 mil hectares de morango. O maior produtor é Minas Gerais, com aproximadamente 1 500 hectares, cultivado na maioria dos municípios do extremo sul do Estado, na região da Serra da Mantiqueira, sendo Pouso Alegre e Estiva os maiores produtores. Minas também se destaca no cenário nacional na produção de tomate, onde é o 3º maior produtor nacional (572 mil toneladas em 2019).
No município de Jaíba, no norte de estado, um projeto implantou a maior área de agricultura irrigada da América do Sul, onde são cultivadas mais de trinta variedades de frutas, dentre elas a banana-prata, da qual o município é o maior produtor.
Em relação à pecuária, Minas Gerais lidera a produção nacional de leite, com uma produção de 8,4 bilhões de litros em 2010, o que equivaleu a um quarto da produção brasileira. O estado também possui uma importante participação nacional nas criações de corte de bovinos, suínos e frangos. A produção mineira de ovos também foi a segunda maior do país, com cerca de 375 milhões de dúzias.
Indústria
Minas Gerais tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 142,8 bilhões, equivalente a 10,9% da indústria nacional. Emprega 1 141 944 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (17%), Extração de Minerais Metálicos (16,2%), Metalurgia (12,9%), Alimentos (11,4%) e Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (11%). Estes 5 setores concentram 68,5% da indústria do estado. Outros setores relevantes são os de Derivados de petróleo e biocombustíveis (5,4%), Químicos (3,7%), Veículos automotores (3,6%), Produtos de metal (2,2%) e Bebidas (1,8%).
A atividade de extração de minerais metálicos é a que possui maior participação no setor secundário mineiro, com aproximadamente um quarto de representação na indústria estadual e responde por mais de quarenta por cento da produção mineral nacional. Dentre os principais minérios extraídos destacam-se o ferro, manganês (explorados sobretudo na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero), ouro, níquel, nióbio, zinco, quartzo, enxofre, fosfato e bauxita. Três quartos da indústria mineira, por sua vez, correspondem a atividades de transformação dos quais o mais participativo é o setor de metalurgia, sendo que, no âmbito da indústria siderúrgica o estado foi responsável por um terço da produção nacional. Em Minas estão instaladas unidades produtivas de alguns dos maiores grupos ligados ao setor do país, como a Gerdau, Usiminas e ArcelorMittal. O estado possui, ainda, significativa participação no setor de fundição, com atividades concentradas sobretudo no centro-oeste do estado e cuja metade da produção é destinada ao setor de automobilísticos.
A seguir, destaca-se o setor de produtos alimentícios, que corresponde a 13% das atividades industriais de Minas. Em seguida, com participação praticamente semelhante, está o setor automobilístico, responsável pela produção de quase um quarto da produção nacional de veículos a parti da presença de unidades produtivas de empresas como Iveco, Fiat e Mercedes Benz. Destaca-se, ainda, a produção de cimento, sendo que o estado é o maior produtor nacional, fato que é favorecido pelas grandes reservas de calcário em território mineiro. Outro setor importante é a indústria química, especialmente o setor de plásticos, cuja produção destina-se principalmente a atender outras cadeias produtivas. Na indústria do calçado, o estado tem um polo especializado em tênis e calçados baratos em Nova Serrana. Na indústria eletroeletrônica, o estado tem um pequeno pólo em Santa Rita do Sapucaí, com produção de equipamentos para o ramo das telecomunicações, como conversores (set-top Box), incluindo os utilizados na transmissão do sistema de TV digital. Na produção de celulares e outros eletrônicos, a Multilaser produz em Extrema.
Serviços
O setor terciário é o mais importante da economia mineira, pois corresponde a mais da metade das atividades econômicas do estado. Neste setor, o comércio varejista tem acompanhado o crescimento do setor no país, que foi de 8,3% no período de 2009 a 2012. Contudo, alguns segmentos apresentaram comportamentos distintos como a venda de móveis e eletrodomésticos que evoluiu acima da média nacional, ao contrário do segmento de super e hipermercados, que foi abaixo da média brasileira no mesmo período.
No entanto, a participação do comércio no setor terciário é superada somente pelo segmento de administração pública, responsável por movimentar 13,7% de todo o PIB estadual. Em 2010, foram arrecadados no estado aproximadamente 43,5 bilhões de reais em impostos, o que corresponde a doze por cento do PIB mineiro. Destacam-se ainda, as atividades ligadas ao setor imobiliário e de aluguéis (8,6% do valor agregado bruto mineiro), intermediação financeira (5,2%) e de transportes (5,1%).
O comércio exterior de Minas Gerais tem apresentado um crescimento contínuo acima da média nacional, o que fez sua participação em vendas externas nacionais aumentarem de 10,5% em 2002 para 13,4% em 2012 e consolidar-se como o segundo maior estado exportador do país. Mais da metade do total exportado compõe-se de produtos da extração mineral bruta ou processados pela indústria metalúrgica. Cerca de um quinto desse total compõe-se de produtos da agropecuária, em especial o café. Destaca-se, ainda, o crescimento na exportação de medicamentos, soja e ouro não monetário nas exportações mineiras. Os principais destinos dos produtos exportados são a China, o Japão, Alemanha, Estados Unidos e Argentina. De forma similar, a importação de produtos no estado manteve-se crescendo com taxas similares às nacionais. Destaca-se nesse contexto a compra de veículos automotores, produtos químicos e farmacêuticos, produtos minerais e maquinaria industrial. O resultado da balança comercial mineira manteve-se positivo ao longo nos últimos dez anos, o que significa que o estado exportou mais do que importou. Em 2011, o superávit mineiro chegou a 28,4 bilhões de reais, muito próximo ao superávit brasileiro de 29,8 bilhões, evidenciando, portanto, a relevância do estado no comércio internacional brasileiro.
No ano de 2011, 10,635 milhões de pessoas se enquadravam na categoria de população economicamente ativa, dos quais aproximadamente dez milhões se encontravam ocupadas. Desses, 3,8 milhões de pessoas possuíam carteira assinada. A taxa de desemprego no estado apresentou contínua queda desde 2009, passando de 7,2% para 3,9% no fim de 2012. Dentre as principais ocupações da população economicamente ativa, destacam-se as atividades de comércio (16,3%), agropecuária (16,2%) e da indústria de transformação (11,8%), seguidas por serviços de saúde, educação e serviços sociais, construção civil e serviços domésticos. Todos os setores de atividade econômica apresentam maior quantidade de empregados na região central do estado, com exceção das atividades agropecuárias, na qual o Sul de Minas possui maior quantidade de trabalhadores formais.
Infraestrutura
O estado de Minas Gerais é dotado de uma notável infraestrutura que permite seu desenvolvimento econômico. No estado, encontra-se a maior rede rodoviária dentre as unidades da federação, além de uma importante parcela das ferrovias do país. Minas Gerais conta ainda com 92 aeroportos e cinco portos secos distribuídos em várias regiões do estado. Minas conta ainda com várias usinas hidroelétricas e possui inclusive um quarto das pequenas centrais hidrelétricas do país. O estado possui ainda mais de oitocentos quilômetros de gasodutos administrados pela Companhia de Gás de Minas Gerais.
Serviços básicos
Dos domicílios, eram abastecidos pela rede geral (86,28%) de abastecimento de água, por meio de poços ou nascentes fora da propriedade (8,32%), por meio de poços ou nascentes situados dentro da propriedade (3,94%), através de rios, açudes, lagos ou igarapés (0,77%), 908 em poço ou nascente situado dentro ou fora da aldeia (0,01%) e eram abastecidos de outras maneiras (0,68%). domicílios eram abastecidos pela rede de fornecimento de energia elétrica (99,29%) e domicílios destinavam seu lixo à coleta (87,63%), sendo por meio de serviço de limpeza (83,59%) e por meio de caçambas (4,03%). E, por último, na questão de existência de banheiros e esgotamento sanitário, dos domicílios que tinham banheiros de uso exclusivo do próprio domicílio (97,25%), eram atendidos pela rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica (77,99%) e tinham o esgoto coletado de outra maneira (19,26%). Havia ainda domicílios com banheiro de uso comum a mais de um domicílio (1,50%), sendo por meio da rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica (0,62%) e possuíam outro escoadouro (0,87%); outros domicílios não tinham banheiros nem sanitários (1,26%).
Existem várias empresas responsáveis pelo saneamento básico. No entanto, em 615 dos 853 municípios mineiros a empresa encarregada do fornecimento de água é a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que também se responsabiliza pela coleta de esgoto em outros 220. Os demais municípios são abastecidos por outras companhias, por empresas locais ou pelos chamados serviços autônomos de água e esgoto (SAAEs; criados a partir do extinto Serviço Especial de Saúde Pública) — um exemplo ocorre em Governador Valadares, na região do Vale do Rio Doce, onde o saneamento básico é feito pelo SAAE de Governador Valadares.
Ainda há serviços de internet discada e banda larga (ADSL) sendo oferecidos por diversos provedores de acesso gratuitos ou pagos, além de cobertura pela rede wireless (internet sem fio) nos principais centros urbanos. O serviço de telefonia é oferecido por operadoras como a Vivo, Oi, TIM, Claro, Algar, entre outras. sendo que o código de área (DDD) das cidades do estado pode ser 31, 32, 33, 34, 35, 37, 38 e 39.
Energia
Minas Gerais é um dos estados com maior demanda de energia, sendo que em 2010 o consumo total chegou a 35,8 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, o que correspondeu a 13,2% da demanda nacional, a maior parte destinada ao setor industrial. Minas Gerais é um dos maiores produtores de energia hidroelétrica do país, com grandes geradores dos quais destacam-se a Usina Hidrelétrica de Furnas, Itumbiara e São Simão. Contudo, embora o estado exporte parte da energia elétrica gerada, boa parte da energia utilizada é importada, sobretudo na forma de lenha, carvão mineral e derivados, utilizados sobretudo nas indústrias siderúrgicas. Dentre os principais componentes da matriz energética mineira em 2010 foram o petróleo e gás (33,7%), seguido por lenha e derivados (21,4%), derivados de cana-de-açúcar (15,4%) e energia hidroelétrica (14,6%).
No mesmo ano, 53,6% da energia utilizada no estado provinha de fontes renováveis, das quais a maior participação era da lenha e seus derivados. O estado possui potencial de produção de energia eólica que chega a ter a mesma ordem de grandeza que a energia hidrelétrica produzida atualmente. A Serra do Espinhaço é a região mais promissora para a implantação desse tipo de empreendimento. Minas Gerais possui condições climáticas favoráveis, sobretudo nos meses de inverno, que permitem o aproveitamento da energia solar, utilizada principalmente para o aquecimento. No que se refere à produção de energia elétrica a partir da radiação solar, os locais mais promissores para a instalação encontram-se no norte e noroeste do estado.
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é a encarregada do fornecimento de energia elétrica em 774 municípios mineiros, ou seja, 96% da área de concessão, sendo a responsável pela operação de 65 usinas (situadas dentro e fora do estado). A companhia possui ainda ações de várias outras empresas de energia espalhadas pelo Brasil, dentre elas a Light, do Rio de Janeiro, e suas ações são negociadas em São Paulo e Nova Iorque. Os demais 79 municípios do estado são atendidos por outras concessionárias, sendo a maior delas a Energisa, que atende a 66 cidades da Zona da Mata.
Saúde
Em 2009, existiam estabelecimentos hospitalares no estado, com leitos. Do total de estabelecimentos, eram públicos, sendo de caráter municipal, 84 de caráter estadual e 46 de caráter federal. estabelecimentos eram privados, sendo com fins lucrativos e 766 sem fins lucrativos. 257 unidades de saúde possuíam especializações com internação e unidades eram providas de atendimento ambulatorial.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios em 2008, 79,1% da população mineira avaliou sua saúde como boa ou muito boa, 69,6% afirmaram ter realizado consulta médica nos últimos doze meses anteriores à data da entrevista, 41,0% dos habitantes consultaram o dentista no mesmo período e 7,6% da população estiveram internados em leito hospitalar. 35,1% dos habitantes declararam ter alguma doença crônica e 29,3% dos residentes tinham cobertura de plano de saúde. No mesmo ano, 63,1% dos domicílios particulares permanentes estavam cadastrados no programa Unidade de Saúde Familiar.
De acordo com a mesma pesquisa, na questão de saúde feminina, 42,0% das mulheres com mais de 40 anos fizeram exame clínico das mamas nos últimos doze meses, 56,7% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram exame de mamografia nos últimos dois anos e 77,9% das mulheres entre 25 e 59 anos fizeram exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos três anos.
Educação
O fator "educação" do IDH no estado atingiu em 2010 a marca de 0,638 — a oitava maior do país, estando em conformidade aos padrões mínimos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) — ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 7,66%, a décima melhor porcentagem nacional, porém a segunda pior do Sudeste brasileiro, à frente apenas do Espírito Santo. Tomando-se por base o relatório do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2011, Minas Gerais obteve o maior índice dentre os alunos do 5º ano do ensino fundamental entre os estados brasileiros — 5,9 —, o terceiro maior valor do 9º ano — 4,6, perdendo apenas para Santa Catarina e São Paulo — e o quarto maior dentre os alunos do 3º ano do ensino médio — 3,9, perdendo para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2013, cinco escolas do ente federativo figuraram entre as dez melhores do ranking nacional, inclusive sendo o único estado que possui uma escola com esta excelência localizada em uma cidade fora da capital.
Com estabelecimentos de ensino fundamental, unidades pré-escolares e escolas de nível médio, a rede de ensino do estado é uma das mais extensas do Brasil. De acordo com dados da amostra do censo demográfico de 2010, da população total, habitantes frequentavam creches e/ou escolas. Desse total, frequentavam creches, estavam no ensino pré-escolar, na classe de alfabetização, na alfabetização de jovens e adultos, no ensino fundamental, na educação de jovens e adultos do ensino fundamental, no ensino médio, na educação de jovens e adultos do ensino médio, em cursos superiores de graduação, em especializações de nível superior, no mestrado e no doutorado. pessoas não frequentavam unidades escolares, sendo que nunca haviam frequentado e haviam frequentado alguma vez.
Entre as muitas instituições de ensino superior, destaca-se a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), classificada como a 478ª melhor universidade do mundo e, juntamente com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade Federal de Lavras (UFLA), está entre as melhores do Brasil segundo o Índice Geral de Cursos, do Ministério da Educação. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também se destaca no estado, ela ficou em 4º melhor lugar em Minas, e em 28º no Brasil, na frente da UFLA (Lavras), UFOP (Ouro Preto) e UFTM (Uberaba), segundo dados do ranking das universidades brasileiras da Folha de S. Paulo, em 2016. Minas Gerais é o estado com o maior número de instituições federais de ensino superior do país, abrigando 20 instituições, sendo 8 Institutos Federais, 1 Centro Federal e 11 Universidades Federais. Conta ainda com duas instituições estaduais: a Universidade do Estado de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Montes Claros. Além de cerca de 350 faculdades e universidades particulares e filantrópicas presentes em mais de 240 municípios.
Ciência e tecnologia
Minas Gerais é sede de importantes institutos de pesquisa, no entanto 40% dos grupos de pesquisa mineiros estavam concentrados na UFMG, que abrigava ainda 46% do total de projetos do conjunto de instituições do estado. A UFV mantinha 19% do total de equipes. As universidades ainda não formam um grupo homogêneo e cerca de 87% dos professores do ensino superior dedicam-se exclusivamente à entidade. A maior parte dos estudos científicos oriundos das universidades estão voltados às engenharias, saúde, ciências biológicas e ciências exatas, sendo que muitas vezes estão voltados às necessidades econômicas e sociais regionais — na UFV e na UFTM, situadas respectivamente na Zona da Mata e no Triângulo Mineiro, grande parte das pesquisas está voltada às ciências agrárias, por exemplo.
São alguns dos principais institutos subordinados às instituições de ensino e que visam o aprimoramento científico e tecnológico o Centro de Estudos Aeronáuticos da Universidade Federal de Minas Gerais (CEA), com ênfase em pesquisas da área de engenharia aeronáutica; o Laboratório de Alta Tensão da Universidade Federal de Itajubá (LAT-UNIFEI), um dos poucos laboratórios de alta tensão do Brasil; o Laboratório Nacional de Astrofísica; a Fundação Christiano Ottoni (FCO), que promove programas acadêmicos de ensino, pesquisa e extensão da UFMG; e o Centro de Pesquisa Manuel Teixeira da Costa (CPMTC), órgão complementar do Instituto de Geociências da UFMG que promove a realização de pesquisas ligadas à geologia e áreas afins das geociências.
Fora do campo universitário, destacam-se o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD), que realiza pesquisas aplicadas às ciências econômicas e contábeis; a Fundação João Pinheiro (FJP), referência nacional em diversos setores das ciências sociais; a Fundação Ezequiel Dias (FUNED), referência na produção de medicamentos e soros, em estudos em saúde pública e nas ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; o Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), unidade regional da Fiocruz onde são realizadas pesquisas ligadas à saúde e à epidemiologia; o Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), com vistas à aplicação tecnológica ao desenvolvimento social e econômico e, por fim, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, que possui diversos centros de pesquisas espalhados por todo o estado.
Comunicações
A Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais é o órgão oficial responsável pelas comunicações em todo o estado, atuando tanto na assessoria da imprensa, quanto no marketing e na Internet. Existem diversos jornais presentes em vários municípios mineiros, como por exemplo Diário do Aço (em Ipatinga e Vale do Aço), Hoje em Dia, Estado de Minas, Diário da Tarde, O Tempo (Belo Horizonte), Jornal Correio de Uberlândia (Uberlândia), Jornal da Manhã (em Uberaba), O Mantiqueira (em Poços de Caldas), Tribuna de Minas (em Juiz de Fora), Folha do Sul (em Três Corações), Diário de Caratinga (em Caratinga), Jornal de Minas (em São João del-Rei) e O Norte (em Montes Claros). O Super Notícia, com sede em Belo Horizonte, estava entre os dez de maior circulação no país em 2008, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação, ocupando a terceira colocação, com exemplares/dia, após a Folha de S. Paulo e O Globo.
O estado também possui uma grande quantidade de emissoras de rádio, tanto AM quanto FM, sendo algumas das principais a BH FM, Globo Minas, América, Itatiaia, 98 FM, Nativa FM, Alvorada, Jovem Pan FM e BandNews — a maioria sediada em Belo Horizonte, mas com retransmissoras em outros municípios. A primeira rádio mineira foi a Rádio Sociedade de Juiz de Fora, que foi ao ar em 1° de janeiro de 1926, e em 1927 surge a Rádio Mineira, a primeira da capital mineira. No entanto, a primeira emissora do estado a ter reconhecimento nacional foi a Rádio Inconfidência, criada em 3 de setembro de 1936, notória por suas sessões de auditório e programação diversificada, voltada à população. Também obteve destaque a Rádio Itatiaia, que foi criada em 1951 e é considerada a líder de audiência em sua frequência AM no estado desde a década de 1970, com programação voltada ao jornalismo, esporte e prestação de serviço.
No campo da televisão, a primeira emissora do estado a ter projeção nacional foi a TV Itacolomi, criada na capital mineira em 8 de novembro de 1955. Nesta época, poucos habitantes possuíam aparelho televisor em Minas Gerais, devido ao preço, mas à medida que a emissora aumentava seu raio de transmissão as vendas de telerreceptores cresciam, o que proporcionou o estabelecimento de novas emissoras no estado. Até seu fechamento, em 1980, a Itacolomi fazia parte dos Diários Associados, conglomerado de empresas de mídia do Brasil fundado por Assis Chateaubriand, que também foi o criador da paulista TV Tupi, primeira emissora de televisão do país. Assim como já vinha ocorrendo em São Paulo e no Rio de Janeiro com a Tupi, a TV Itacolomi passa a ter como concorrentes em Minas Gerais, a partir da década de 1960, a Rede Excelsior (extinta), a Rede Globo e a Rede Record. Atualmente há várias emissoras sediadas no estado, tais como a Record Minas, Paranaíba, TV Leste (afiliadas à Record), TV Globo Minas, InterTV dos Vales, EPTV Sul de Minas (afiliadas à Globo), TV Alterosa Belo Horizonte e TV Alterosa Leste (afiliadas ao SBT).
Segurança pública e criminalidade
As principais unidades das forças armadas presentes em Minas Gerais são o Exército Brasileiro, sendo que o estado é integrante do Comando Militar do Leste (exceto o Triângulo, que pertence ao Comando Militar do Planalto), com sedes em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro; a Marinha do Brasil, segundo a qual Minas situa-se no 1º Distrito Naval, com sede no Rio de Janeiro (exceto o sul mineiro, que está jurisdiciado ao 8º Distrito Naval da Marinha do Brasil); e a Força Aérea Brasileira, segundo a qual o estado faz parte do 3º Esquadrão de Transporte Aéreo. Assim como os demais estados do Brasil, há dois tipos de corporações policiais que possuem a finalidade de realizar a segurança pública em seu território. São elas: a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que tem função de defesa social, e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, que exerce a função de polícia judiciária e é subordinada ao governo estadual.
De acordo com dados do "Mapa da Violência 2011", publicado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em Minas Gerais é a terceira menor do Brasil. No entanto, o número de homicídios saltou de 8,6 para 19,5 por 100 mil habitantes no período entre 1998 e 2008, fazendo com que o estado permanecesse na 23ª posição, apresentando um aumento de 126,6% no número de assassinatos durante o período pesquisado. Em 2010, de acordo com dados do IPEA, Minas alcançou a taxa de 18,5 homicídios por 100 mil habitantes, um aumento de 61,4% em relação ao número registrado em 2000, que foi de 11,5 homicídios a cada 100 mil habitantes, sendo que o suportável pela Organização Mundial da Saúde é de 10 homicídios por 100 mil habitantes. Apesar da pequena queda do número de homicídios entre 2008 e 2010, entre janeiro e setembro de 2013 houve um crescimento de 21% da ocorrência de crimes violentos, como sequestro e estupro, em relação ao mesmo período de 2012.
De acordo com dados do "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2014", também publicado pelo Instituto Sangari, os dez municípios mineiros com as maiores taxas de homicídios por grupo de 100 mil habitantes são São Joaquim de Bicas (71,3), Mateus Leme (63,3), Teixeiras (61,5), Governador Valadares (59,0), Esmeraldas (57,8), Juatuba (56,3), Betim (55,5), Sarzedo (55,3), Itaobim (52,5) e Buritizeiro (51,7). São Joaquim de Bicas apareceu na lista das 100 cidades mais violentas do Brasil, ocupando a 80ª posição. Para reduzir as taxas, diversas medidas vêm sendo tomadas pelo poder público, como a ampliação do efetivo de policiais civis, militares e bombeiros e a implantação de unidades do Instituto Médico Legal (IML) e batalhões da PM. O estado também foi o pioneiro na criação de um presídio em parceria com a inciativa privada.
Transportes
Em novembro de 2020, o estado de Minas Gerais possuía, além das rodovias municipais, 39.738 km de rodovias estaduais e federais, sendo 29.255 km pavimentados e 2.505 km de rodovias duplicadas. O estado possui rodovias duplicadas que saem da capital Belo Horizonte e a conectam com São Paulo (BR-381) e Rio de Janeiro (BR-040), e em sua parte oeste (BR-050, BR-153 e BR-365 na área conhecida como Triângulo Mineiro, entre os estados de São Paulo e Goiás, próximo a Uberaba e Uberlândia). Algumas partes do BR-262 também estão duplicadas. O estado, no entanto, apresenta, em geral, um déficit de duplicações, com trechos de pista única com circulação acima do limite de saturação. Recentemente, em 2022, foi criado um projeto para conceder BR-381 à iniciativa privada, com a intenção de duplicar 215 km entre Belo Horizonte, Ipatinga e Novo Oriente de Minas. A grande extensão da malha viária associada ao relevo predominantemente montanhoso — que faz com que haja uma grande quantidade de curvas sinuosas nas estradas — e às condições climáticas típicas do estado faz com que Minas tenha uma considerável taxa de acidentes em relação ao restante do Brasil; situações agravadas pelo fato do estado possuir apenas 31,6% das estradas em condições classificadas como "boa" ou "ótima", segundo informações do CNT de 2010. A frota estadual em 2012 era de veículos, sendo automóveis, caminhões, caminhões-trator, caminhonetes, caminhonetas, micro-ônibus, motocicletas, motonetas, ônibus, utilitários, tratores de rodas e outros classificados como outros tipos de veículos.
No estado, existem seis aeroportos administrados pelo Infraero. São eles: o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte-Confins (em Confins), o Aeroporto da Pampulha - Carlos Drummond de Andrade (em Belo Horizonte), o Aeroporto de Belo Horizonte-Carlos Prates (em Belo Horizonte), o Aeroporto de Uberlândia (em Uberlândia), o Aeroporto de Montes Claros (em Montes Claros), e o Aeroporto de Uberaba (em Uberaba). Há também outros aeroportos menores, como os de Alfenas, Araxá, Caxambu, Diamantina, Divinópolis, Espinosa, Frutal, Governador Valadares, Ipatinga, Ituiutaba, Juiz de Fora, Leopoldina, Monte Verde, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, São João del-Rei, Unaí, Varginha, entre outros.
Também há transporte hidroviário, sendo que a principal hidrovia contida no estado é a Hidrovia do São Francisco, cujo curso d'água é navegável desde o município de Pirapora até Juazeiro, na Bahia.
O transporte ferroviário, por sua vez, faz-se presente desde o século XIX, quando da construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, na década de 1860. Em 1874, foi inaugurada a Estrada de Ferro Leopoldina. Em 1880, foi fundada a Estrada de Ferro Oeste de Minas e nas décadas seguintes foram abertas várias outras ferrovias em território mineiro. A partir da década de 1960, as ferrovias passaram a ser substituídas pelas rodovias, devido à demanda do crescimento da frota automobilística, levando ao fechamento de algumas estradas de ferro e ramais. Na década de 1990, ocorre a privatização de todo o sistema ferroviário nacional, desativando os serviços de passageiros restantes em algumas linhas locais. No entanto, ainda há caminhos de ferro ativos cortando Minas Gerais, sendo hoje utilizados somente para o transporte de carga, como as antigas Estrada de Ferro Central do Brasil, Estrada de Ferro Leopoldina, Estrada de Ferro Oeste de Minas e a Ferrovia do Aço, administradas pelas concessionárias MRS Logística e Ferrovia Centro Atlântica. A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) é a responsável por escoar a produção da Vale e de outras empresas do estado em direção ao Porto de Tubarão, em Vitória, no Espírito Santo, e também opera o único trem de passageiros diário do Brasil que percorre longas distâncias, entre Vitória e Belo Horizonte, interligando outras cidades que também contam com estações.
Cultura
A Secretaria Estadual de Cultura (SEC), que foi criada em 1983, durante o governo de Tancredo Neves, e estruturada em 1996, é o órgão vinculado ao Governo do Estado de Minas Gerais responsável por atuar no setor de cultura do estado, desde seu planejamento financeiro até a execução de projetos e manutenção de bibliotecas, museus e do Arquivo Público Mineiro. A SEC atua em parceria com diversas outras instituições e entidades culturais, diretamente subordinadas ou não ao órgão público, como a Fundação Clóvis Salgado (FCS), a Fundação TV Minas Cultural e Educativa, a Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) e a Rádio Inconfidência.
Artes cênicas
Minas Gerais conta com vários espaços, projetos e eventos dedicados ao fomento das áreas teatral e de dança. O estado é berço de uma considerável gama de grupos teatrais de sucesso nacional ou mesmo internacional, tais como o Grupo Galpão, o Giramundo Teatro de Bonecos, o Grupo Corpo e Ponto de Partida. Muitos deles têm suas origens e manutenção ligadas à formação artística profissional e a mecanismos municipais e estaduais de incentivo cultural; o Grupo Divulgação, de Juiz de Fora, por exemplo, nasceu na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A Companhia de Dança Palácio das Artes, fundada em Belo Horizonte em 1971, é um dos grupos profissionais mantidos pela Fundação Clóvis Salgado e ocasionalmente está presente em palcos nacionais e internacionais.
Em Minas Gerais, situam-se alguns dos maiores espaços teatrais do Brasil, tais como o Teatro Municipal de Ouro Preto, que também é o teatro mais antigo das Américas, inaugurado no século XVIII; o Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, cuja importância arquitetônica e histórica culminou no tombamento pelo IPHAN; o Palácio das Artes de Belo Horizonte, que é considerado como o maior centro de produção, formação e difusão cultural do estado e um dos maiores da América Latina, sendo mantido pela Fundação Clóvis Salgado, que oferece à população uma série de programações artísticas e de atividades educativas; o Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, considerado como um dos mais modernos do país e mantido pelo Instituto Cultural Usiminas; e o Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte, mantido pelo Banco do Brasil.
São vários os eventos artísticos do estado em que os grupos e artistas demonstram suas atividades, sendo realizados tanto nos espaços culturais quanto ao ar livre. Na capital mineira, são alguns exemplos o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua (FIT-BH), o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, o Festival Internacional de Dança (FID), o Festival Internacional de Corais (FIC), o Festival Internacional de Curtas, o Festival Mundial de Circo do Brasil e o Festival Internacional de Quadrinhos. No interior do estado, destaca-se a realização da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, com espetáculos teatrais em Juiz de Fora e no Vale do Aço; e o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, com oficinas de iniciação e atualização, espetáculos, peças de teatro e exposições em vários municípios do estado, como Diamantina e Cataguases.
Música, cinema e literatura
A música se faz presente em Minas Gerais desde o período colonial. Os primeiros instrumentos musicais a adentrarem o estado foram trazidos pela Companhia de Jesus na segunda metade do século XVI, com objetivo de converterem os indígenas aos costumes europeus, difundindo a música barroca. Por décadas, os jesuítas foram responsáveis tanto pelo ensinamento da gramática e do latim quanto pela alfabetização musical nas escolas. No século XVIII destacou-se a obra sacra de Lobo de Mesquita e, no XIX, a de João de Deus de Castro Lobo, cujas obras estão disponibilizadas, dentre outras, nas séries Acervo da Música Brasileira e Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro. A partir do século XIX, as bandas de música se desenvolvem a ponto de serem hoje um dos marcos de identidade cultural do estado. Na primeira metade do século XX, destacam-se o samba, a bossa nova, o chorinho e as marchinhas com os compositores Ary Barroso, de Ubá, e Ataulfo Alves, de Miraí. Na década de 1970, surge em Belo Horizonte o movimento Clube da Esquina, cujas maiores influências eram a bossa nova e os Beatles. Na década de 80, destacaram-se mundialmente Sepultura e Sarcófago e na década de 90, surgem Skank, Jota Quest, Pato Fu e Tianastácia. Às primeiras décadas do século XXI, surgem artistas musicais como César Menotti & Fabiano e Paula Fernandes.
No cinema mineiro, os nomes de Humberto Mauro e João Carriço se destacam por serem os pioneiros do cinema nacional. Humberto Mauro iniciou suas primeiras filmagens em 1925 em Cataguases, mudando-se para o Rio de Janeiro. Seu contemporâneo João Carriço, com o lema "Cinema para o povo", lançou a Carriço Filmes, em Juiz de Fora, produzindo cinejornais e documentários no início do século XX. No período do Cinema Novo e do Cinema Marginal, desponta o nome de Carlos Alberto Prates Correia, um dos principais realizadores da história do estado, autor de filmes evocadores da paisagem, da cultura e do povo mineiro, como os inventivos Perdida, Cabaret Mineiro e Noites do Sertão. Finalmente, no cinema contemporâneo, ressaltam-se Cao Guimarães produtor de curtas premiados no mundo inteiro; Helvécio Ratton, diretor de entre outros filmes Menino Maluquinho e Pequenas Histórias; e Selton Mello, que atuou em filmes como Guerra de Canudos, O Que É Isso, Companheiro?, O Palhaço, O Cheiro do Ralo e Meu Nome Não é Johnny.
A literatura mineira, por sua vez, teve bastante contribuição para a primeira geração literária brasileira, ainda no século XVIII. As obras oriundas do estado tinham ideais bucólicos, visando a representar paisagens locais, sendo os principais autores da época Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manoel da Costa. Com o Romantismo e o Simbolismo, no século XIX, ganham destaque as obras de Bernardo Guimarães e Alphonsus de Guimaraens. No século XX, Minas conquista grande espaço no cenário literário brasileiro, revelando nomes como Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e João Guimarães Rosa, que contribuíram para o auge do Modernismo no Brasil. Entre a segunda metade do século XX e a contemporaneidade, ressaltam-se Abgar Renault, Cyro dos Anjos, Murilo Rubião, Luiz Vilela, Affonso Romano de Sant'Anna, Murilo Mendes, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Henriqueta Lisboa, Affonso Ávila, Oswaldo França Júnior, Roberto Drummond, Bartolomeu Campos de Queirós e Ziraldo.
Folclore, artesanato e culinária
A religiosidade tem influência marcante nas principais manifestações culturais do povo mineiro, principalmente nas festas folclóricas. Dentre as tradições presentes no estado, destacam-se o Congado, que reúne danças herdadas dos costumes africanos, difundidos pelos escravos, com as tradições católicas dos colonizadores; as comemorações da Folia de Reis, que celebram desde o nascimento de Jesus até a visita dos Três Reis Magos através de procissões e visitas a casas; as "Pastorinhas", que são meninos e meninas que visitam os presépios nas casas, assim como se fazia em Belém na época do nascimento de Jesus; o bumba meu boi, que simboliza a morte e renascimento do boi; a Festa do Divino, em homenagem ao Divino Espírito Santo; as Cavalhadas, representando os combates e guerras travadas entre mouros e cristãos; a Dança de São Gonçalo; e as quadrilhas, nas festas juninas.
Boa parte da produção artesanal mineira tem ligação às tradições culturais do estado, como na representação de imagens de santos ou personagens históricos. O artesanato está presente em diversas regiões de Minas Gerais, com produção baseada em pedra-sabão, cerâmica, madeira e fibras vegetais, argila, prata e estanho. Em Tiradentes destacam-se os objetos em prata; na região do Vale do Jequitinhonha são feitas peças em madeira e principalmente cerâmica; em Ouro Preto, Congonhas, Mariana e Serro há considerável presença dos trabalhos em pedra-sabão; em Ouro Preto e Viçosa são produzidos utensílios com cobre e outros metais; e em todo o estado são encontrados bordados, trançados em talas, bambu e fibras têxteis, crochês e tricôs, além da madeira.
Na cozinha mineira, por sua vez, a carne de porco é muito presente, sendo famosos o tutu com lombo de porco, a costelinha de porco e o leitão à pururuca. Também são apreciados a vaca atolada, o feijão tropeiro com torresmo, a canjiquinha com carne (de boi ou porco), linguiça e couve, o frango ao molho pardo com angu de fubá, o frango com quiabo ensopado e arroz com pequi. São famosos os doces mineiros, especialmente o doce de leite, a goiabada e a paçoca. O pão de queijo, os queijos (e seu modo artesanal de preparo) e o café também estão entre as principais referências da cozinha mineira. Muitos pratos têm origens indígenas, cuja culinária era predominantemente à base de mandioca e milho e teve incremento dos costumes europeus, com a introdução dos ovos, do vinho, dos quentes e dos doces.
Arquitetura
Durante o período colonial, a riqueza oriunda do ouro e dos diamantes propiciou o surgimento de cidades que tinham como característica o dinamismo cultural. Nesse contexto, desenvolveram-se as cidades e a arquitetura colonial, cujas obras permanecem como sendo alguns dos conjuntos mais notáveis deste período da história brasileira. As casas das cidades mineiras eram construídas com aspectos uniformes entre si e, usualmente, ocupavam todo o terreno. As ruas estreitas se adaptavam à topografia acidentada do território mineiro. Dada a influência da Igreja Católica, muitas igrejas foram erguidas nas cidades e vilas da época, com características arquitetônicas notáveis típicas do período barroco. Merecem destaque, especialmente, as obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, notável por seu estilo peculiar refletido nas esculturas, obras arquitetônicas e entalhes do final do período colonial. Os principais remanescentes desta fase da arquitetura mineira são o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (em Congonhas, com obras de Aleijadinho), o centro histórico de Ouro Preto e de de Diamantina (todos declarados patrimônios da humanidade pela UNESCO), além da Igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei. Já no fim do período colonial, houve a transição para o período neoclássico. Contudo, tal estilo não foi tão marcante em território mineiro, deixando traços em algumas construções como na Casa da Câmara e Cadeia de Ouro Preto e na fachada da Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Nova Lima.
Posteriormente, a partir das últimas décadas do século XIX, o ecletismo europeu passa a influenciar as obras arquitetônicas do estado, que passava por um surto de desenvolvimento graças à atividade cafeeira e à pecuária. Em um primeiro momento, tal estilo ainda sofre influência do neoclassicismo, apresentando contornos suaves. Somente a partir do século XX, o ecletismo passa a apresentar uma estética rebuscada, além de permitir uma vasta gama de combinações estilísticas influenciada sobretudo pela arte europeia, que se estendem até a década de 1940. No período entreguerras chega ao estado a tendência mundial do art déco, que valorizava em sua estética a abstração, a linha, a forma, o volume e a cor e que se beneficiou pelas inovações construtivas, como a utilização do concreto armado. Contudo, uma grande revolução viria com os projetos de Oscar Niemeyer que, ao conceber o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, buscou a criação de formas simples e úteis, com suas características curvas. Na década de 50, o arquiteto concebeu outras obras notáveis, como o Edifício Niemeyer. Ao mesmo tempo chegam a Minas novos conceitos do nascente Estilo Internacional, além do surgimento da arquitetura modernista no Brasil. Desde então, as construções passaram a integrar como princípios a funcionalidade e integração com seus arredores. Um dos mais recentes e notáveis projetos arquitetônicos no estado é a Cidade Administrativa de Minas Gerais, projetada por Oscar Niemeyer e concluída em 2010.
Turismo
Um dos mais importantes circuitos turísticos de Minas Gerais é a Estrada Real, que passa pelos antigos caminhos utilizados para transportar o ouro das minas, que liga a região central do estado às cidades do Rio de Janeiro e Parati. Os diferentes roteiros deste circuito apresentam atrativos históricos, culturais e naturais para seus visitantes. Outro aspecto notável do turismo mineiro inclui a visitação às cidades históricas, as quais conservam as construções do museu colonial além de incluírem museus e espaços culturais que revelam o passado dessas localidades. Destas cidades, destaca-se Ouro Preto, onde encontra-se o Museu da Inconfidência.
O relevo do estado, com abundância de picos e serras (especialmente os grandes picos), além da grande quantidade de grutas e cavernas, rios e lagos naturais e artificiais e a riqueza da fauna e flora estadual atraem praticantes do ecoturismo e também do turismo de aventura. Outro segmento relevante é o turismo rural, já que Minas é um dos estados que mais possuem empreendimentos voltados para esta finalidade. Na região central do estado, além das cidades históricas e da capital, encontram-se parques nacionais como o Serra do Cipó, além do Museu de Inhotim, que possui um dos maiores acervos de arte contemporânea do país. No sul do estado, encontra-se o Circuito das águas, conhecido por suas estâncias minerais.
Destaca-se ainda o turismo de negócios que está em franca expansão, uma vez que nos últimos anos grandes eventos de projeção internacional foram realizados no estado. Em especial, destaca-se nesse segmento a cidade de Belo Horizonte, que atrai cada vez mais feiras, congressos e reuniões, o que pode ser atribuído à infraestrutura e à importante rede hoteleira da cidade. Outras cidades do interior (como Juiz de Fora, Uberaba e Uberlândia) também oferecem opções para a realização de eventos de negócios de grande porte.
Esportes
O futebol é um dos esportes mais populares no estado de Minas Gerais, tendo como principais equipes Atlético, Cruzeiro, América, Villa Nova, Tupi, Ipatinga, Boa Esporte e Caldense. A Federação Mineira de Futebol é a entidade responsável por organizar a competição mais tradicional do estado, o Campeonato Mineiro, cuja primeira edição foi realizada em 1915. Outra competição tradicional é a Taça Minas Gerais que, por falta de interesse das agremiações mineiras, não foi realizada no ano de 2013. Dentre os maiores estádios de futebol do estado, destacam-se o Independência na capital, Parque do Sabiá em Uberlândia, Mário Helênio em Juiz de Fora, Melão em Varginha, Arena do Jacaré em Sete Lagoas e o Ipatingão, além do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, que foi uma das arenas da Copa do Mundo FIFA de 2014.
A Federação Mineira de Voleibol é a responsável pela organização das competições de vôlei no estado que possui o maior número de atletas registrados como praticantes desse esporte. Existe ainda a Federação Mineira de Basketball, que organiza as competições do esporte, além de buscar difundi-lo pelo estado. Anualmente são realizados os Jogos Escolares de Minas Gerais, na qual competem escolas em vários níveis, desde etapas municipais até as finais estaduais.
No estado nasceram os tenistas Marcelo Melo e Bruno Soares, que foram respectivamente o nº1 e o nº2 do mundo em duplas; Ronaldo da Costa, ex-recordista mundial da maratona; medalhistas olímpicos como Maicon de Andrade no taekwondo, Marcus Mattioli na natação, Moysés Blás e Cláudia Pastor no basquete; Adenízia da Silva, Ana Carolina da Silva, Ana Flávia Sanglard, Ana Paula Henkel, Anderson Rodrigues, Camila Brait, Érika Coimbra, Fabiana Claudino, Gabriela Guimarães, Giovane Gávio, Hilma, Márcia Fu, Xandó, Maurício Souza, Lucarelli, Sassá, Sheilla Castro, Talmo e Walewska no vôlei; além de medalhistas em Mundiais como André Cordeiro, Henrique Barbosa, Larissa Oliveira, Nicolas Oliveira, Rodrigo Castro e Teófilo Ferreira na natação.
Feriados
Em Minas Gerais, existe apenas um feriado estadual: o dia 21 de abril, que é considerado como a Data Magna do Estado. Comemora-se juntamente ao feriado nacional em homenagem a Tiradentes, por ocasião do aniversário de sua execução em 21 de abril de 1792.
Ver também
Lista de municípios de Minas Gerais por área urbana
Lista de municípios de Minas Gerais por população
Dialeto mineiro
Dialeto caipira
Dialeto baiano
Bibliografia
"As Minas Gerais". Miran de Barros Latif. Editora Itatiaia. 1991. 3ª edição.
"Códice Costa Matoso. Coleção das noticias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749, & vários papéis". Coleção Mineiriana. Fundação João Pinheiro. 1999.
Ligações externas
Governo do Estado de Minas Gerais
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Arquivo Público Mineiro Acervo histórico
Minas Gerais Estatísticas oficiais do IBGE
Fundações no Brasil em 1720 |
Maria Gaetana Agnesi (Milão, 16 de maio de 1718 — Milão, 9 de janeiro de 1799) foi uma linguista, teóloga, benfeitora, filósofa e matemática italiana. Agnesi é reconhecida como tendo escrito o primeiro livro que tratou, simultaneamente, do cálculo diferencial e integral. Escreveu em latim a obra "Propositiones philosophicae" (Proposições Filosóficas), publicada em Milão em 1738; mas o que a tornou notável foi o seu compêndio profundo e claro de análise algébrica e infinitesimal na obra "Instituzioni Analitiche" (Instituições Analíticas), traduzida para o inglês e para o francês.
O livro foi além dos tópicos sobre filosofia e abordou mecânica celestial e teoria da gravidade de Newton. Durante uma década, Agnesi escreveu uma obra de dois volumes; o primeiro deles, com mais de mil páginas tratava de aritmética, álgebra, trigonometria, geometria analítica e cálculo. O segundo abrangia equações diferenciais. Foi a primeira obra que uniu as ideias de Isaac Newton e de Gottfried Leibniz. É dela também a autoria da chamada "curva de Agnesi". Faleceu numa instituição para idosos, em Milão, chamada Pio Albergo Trivulzio.
Primeiros anos
Seu pai, Pietro, foi um rico homem de negócios e professor de matemática na Universidade de Bolonha que elevou sua família para a nobreza de Milão.
Tendo nascido em Milão, Maria foi considerada uma menina prodígio muito cedo, falava francês e italiano aos cinco anos de idade. Aos 13 anos de idade já havia adquirido fluência no grego, hebraico, espanhol, alemão e latim, sendo considerada uma verdadeira poliglota. Sempre educou seus irmãos mais novos. Quando tinha nove anos de idade compôs um discurso em latim para um encontro acadêmico. O tema era o direito das mulheres de receber educação.
Contribuições para a matemática
Segundo a Enciclopédia Britannica, ela é "considerada a primeira mulher no mundo ocidental a atingir uma reputação na matemática". O resultado mais valioso de seus trabalhos foi o Instituzioni analitiche ad uso della gioventù italiana, (Instituições analíticas para o uso da juventude italiana), que foi publicado em Milão em 1748 e "foi considerado como a melhor introdução existente às obras de Euler". O objetivo deste trabalho foi, de acordo com a própria Agnesi, dar uma ilustração sistemática dos diferentes resultados e teoremas do cálculo infinitesimal. O modelo para seu tratado foi Le calcul différentiel et intégral dans l'Analyse de Charles René Reyneau. Neste tratado, ela trabalhou na integração de análise matemática com álgebra. O primeiro volume trata da análise de quantidades finitas e o segundo da análise de infinitesimais.
Uma tradução francesa do segundo volume por P.T. d'Antelmy, com acréscimos por Charles Bossut (1730-1814), foi publicada em Paris em 1775; e Analytical Institutions, uma tradução para o inglês de todo o trabalho de John Colson (1680-1760), o Lucasian Professor of Mathematics em Cambridge, "inspecionado" por John Hellins, foi publicada em 1801 às custas do Barão Maseres. A obra foi dedicada à Imperatriz Maria Teresa, que agradeceu a Agnesi com o presente de um anel de diamante, uma carta pessoal e uma caixa de diamantes e cristal. Muitos outros elogiaram seu trabalho, incluindo o Papa Bento XIV, que lhe escreveu uma carta elogiosa e lhe enviou uma coroa de ouro e uma medalha de ouro.
Ao escrever este trabalho, Agnesi foi aconselhada e ajudada por dois ilustres matemáticos: seu ex-professor Ramiro Rampinelli e Jacopo Riccati.
Bruxa de Agnesi
O Instituzioni analitiche ... , entre outras coisas, discutiu uma curva anteriormente estudada e construída por Pierre de Fermat e Guido Grandi. Grandi chamou a curva de versoria em latim e sugeriu o termo versiera para o italiano, possivelmente como um trocadilho: 'versoria' é um termo náutico, "folha", enquanto versiera / aversiera é "diabo", "bruxa", do latim Adversarius, um pseudônimo de "diabo" (Adversário de Deus). Por qualquer motivo, depois de traduções e publicações do analitiche Instituzioni ...a curva ficou conhecida como "Bruxa de Agnesi".
Outros trabalhos
Agnesi também escreveu um comentário sobre o Traité analytique des section coniques du marquis de l'Hôpital que, embora muito elogiado por aqueles que o viram no manuscrito, nunca foi publicado.
Ver também
Laura Bassi
Elena Piscopia
Lista de mulheres matemáticas
Filósofos da Itália
Matemáticos da Itália
Matemáticos da Itália do século XVIII
Mulheres na ciência
Mulheres na filosofia
Matemáticas
Mulheres cientistas da Itália
Inventores
Mulheres linguistas
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História e religião
Maria (mãe de Jesus)
Títulos de Maria
Maria Madalena – santa e uma das mais dedicadas discípulas de Jesus Cristo
Maria I de Inglaterra – rainha da Inglaterra (dinastia Tudor)
Maria I de Portugal – (D. Maria Francisca), rainha de Portugal (dinastia de Bragança)
Maria II de Inglaterra – rainha de Inglaterra e rainha da Escócia (dinastia Stuart)
Maria II de Portugal – (D. Maria da Glória), rainha de Portugal (dinastia de Bragança)
Maria III de Portugal ou Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança – pretendente ao trono de Portugal
Maria Nikolaevna da Rússia – grã-duquesa da Rússia
Maria da Escócia – rainha Maria I da Escócia (dinastia Stuart)
Maria da Penha – biofarmacêutica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado
Maria (filha de Eudemão) – nobre romana filha do governador Eudemão.
Maria (esposa de Hiério) – nobre bizantina esposa de Hiério.
Maria, a judia -- antiga filósofa grega e famosa alquimista que viveu no Egipto por volta do ano 273 a.C, a quem é atribuída a invenção do processo de aquecimento de substâncias conhecido como banho-maria.
Geografia
Maria (distrito) – distrito peruano localizado na Província de Luya
María (Espanha) – um município na província de Almería, Andaluzia, Espanha
María Pinto – comuna chilena da Região Metropolitana de Santiago
María Elena – comuna chilena da Região de Antofagasta
Jesús María (distrito) – no Peru
María la Baja, município colombiano de Bolívar
Outros
Maria (revista) – revista feminina portuguesa
Banho-maria – método para aquecer qualquer substância num recipiente
Maria (bolacha) – tipo de biscoito
Maria (mecanismo de armazenamento) – mecanismo de armazenamento do MySQL
Maria, Maria – telenovela brasileira produzida pela Rede Globo
Maria (cantora)
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Mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVIII. O mercantilismo originou um conjunto de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados. Caracterizou-se por uma forte intervenção do Estado na economia. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como finalidade a formação de fortes Estados-nacionais.
É possível distinguir três modelos principais: balança comercial favorável, pacto colonial e protecionismo. Segundo William Holman Hunt, o mercantilismo originou-se no período em que a Europa estava a passar por uma grave escassez de ouro e prata, não tendo, portanto, dinheiro suficiente para atender ao volume crescente do comércio.
As políticas mercantilistas partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de metais preciosos (ouro e prata), advogando que estes se atrairiam através do incremento das exportações e da restrição das importações (procura de uma balança comercial favorável). Essa crença é conhecida como bulionismo ou metalismo.
O Estado desempenha um papel intervencionista na economia, implantando novas indústrias protegidas pelo aumento dos direitos alfandegários sobre as importações, protecionismo, controlando os consumos internos de determinados produtos, melhorando as infraestruturas e promovendo a colonização de novos territórios (monopólio), entendidos como forma de garantir o acesso a matérias-primas e o escoamento de produtos manufaturados. A forte regulamentação da economia pelo mercantilismo será contestada na segunda metade do século XVIII por François Quesnay e pelo movimento dos fisiocratas.
O mercantilismo é um conjunto de ideias econômicas que considera a prosperidade de uma nação ou Estado dependente do capital que possa ter. Os pensadores mercantilistas preconizam o desenvolvimento econômico por meio do enriquecimento das nações graças ao comércio exterior, o que permite encontrar saída aos excedentes da produção. O Estado adquire um papel primordial no desenvolvimento da riqueza nacional, ao adotar políticas protecionistas, e em particular estabelecendo barreiras tarifárias e medidas de apoio à exportação.
Princípios mercantilistas
Os princípios mercantilistas eram os seguintes:
Incentivos às manufaturas O governo estimulava o desenvolvimento de manufaturas em seus territórios. Como o produto manufaturado era mais caro do que as matérias-primas ou gêneros agrícolas, sua exportação era certeza de bons lucros.
Protecionismo alfandegário O governo de uma nação deve aplicar uma política protecionista sobre a sua economia, favorecendo a exportação e desfavorecendo a importação, sobretudo mediante a imposição de tarifas alfandegárias. Incentiva-se, portanto, a balança comercial positiva com outras nações. Eram criados impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a indústria e manufaturas nacionais e também evitar a saída de moedas para outros países.
Balança comercial favorável O esforço era para exportar mais do que importar, desta forma os ingressos de moeda seriam superiores às saídas, deixando em boa situação financeira.
Soma zero Acredita que o volume global do comércio mundial é inalterável. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma zero, no qual o lucro de uma das partes implica a perda da outra.
Colônias de exploração A riqueza de um país está diretamente ligada à quantidade de colônias de que dispunha para exploração. O mercantilismo indiretamente impulsionou muitas das guerras europeias do período e serviu como causa e fundamento do imperialismo europeu, dado que as grandes potências da Europa lutavam pelo controlo dos mercados disponíveis no mundo. Sob este aspecto, vale salientar que, nas expansões marítimas e comerciais das nações, um país não poderia invadir o caminho percorrido constantemente por outro, como no caso da procura pelas Índias Ocidentais. Isto perdurou até que, após o descobrimento da América, a Inglaterra decidiu "trilhar" o seu próprio caminho. Portugal e Espanha se mostraram insatisfeitos com o fato, o que motivou a célebre frase do rei da Inglaterra:
O sol brilha para todos! E eu desconheço a cláusula do testamento de Adão que dividiu a terra entre portugueses e espanhóis.
Comércio colonial monopolizado pela metrópole As colônias europeias deveriam comercializar exclusivamente com suas respectivas metrópoles. Para as metrópoles tratava-se de vender caro e comprar barato. Dentro desse contexto ocorreu o ciclo do açúcar no Brasil Colonial.
O mercantilismo enquadra-se historicamente na Idade Moderna, com a progressiva autonomia da economia frente à moral e a religião bem como frente à política. Esta enorme ruptura realizar-se-á por meio de conselheiros dos governantes e pelos comerciantes. Esta nova disciplina chegará a ser uma verdadeira ciência econômica com a fisiocracia. Entre os muitos autores mercantilistas, há que destacar a Martín de Azpilicueta (1492-1586), Tomás de Mercado (1525-1575), Jean Bodin (1530–1596), Antoine de Montchrétien (1576–1621), ou William Petty (1623–1687).
O mercantilismo foi a teoria predominante ao longo de toda a Idade Moderna (do século XVI ao XVIII), época que aproximadamente indica o surgimento da ideia do Estado-nação e a formação econômico social conhecida como Antigo Regime na Europa Ocidental. Marca o final da proeminência da ideologia econômica do cristianismo (a crematística), inspirada em Aristóteles e Platão, que recusava a acumulação de riquezas e os empréstimos com juros (vinculados ao pecado da usura). Numa época que os reis desejavam possuir o máximo de ouro possível, as teorias mercantilistas buscavam esse objetivo e desenvolviam uma problemática baseada no enriquecimento, com base numa análise simplificada dos fluxos econômicos, em que, por exemplo, não se leva em conta o papel do sistema social.
Como agente unificador tendente à criação de um Estado nacional soberano, o mercantilismo contrapõe-se a duas forças: a primeira, mais espiritual e jurídica do que político-econômica, era constituída pelos poderes universais: a Igreja e o Sacro Império Romano Germânico; a segunda, de caráter predominantemente econômico foi o particularismo local, com a dificuldade que produz para as comunicações e a sobrevivência da economia natural (em determinadas zonas as rendas do Estado eram em espécie e não em dinheiro), enquanto a pretensão mercantilista era de que o mercado fechado fosse substituído pelo mercado nacional, e as mercadorias fossem substituídas por ouro, como medida de valor e meio de troca. O mercantilismo vê a intervenção do Estado como o meio mais eficaz para o desenvolvimento econômico.
Outra tendência do mercantilismo era fortalecer o poder do Estado no exterior, subordinando a atividade econômica a esse objetivo, e interessando-se pela riqueza enquanto servisse como base para isso. O liberalismo considerará a riqueza como preciosa para o indivíduo e, portanto, digna de ser atingida como um fim em si mesmo: se o particular não deve pensar em nada mais senão em enriquecer, é um fato puramente natural e involuntário que a riqueza dos cidadãos contribua para aumentar a riqueza do Estado. Por outro lado, para os mercantilistas, a riqueza privada é simplesmente um meio, e como tal fica subordinado ao Estado e aos seus fins de domínio.
A confiança no mercantilismo começou a decair em finais do século XVIII, quando as teorias de Adam Smith e de outros economistas clássicos foram ganhando prestígio no Império Britânico e, em menor grau, no restante da Europa (exceto na Alemanha, onde a Escola Histórica de Economia foi a mais importante durante todo o século XIX e começo do XX). Adam Smith, na sua obra "A riqueza das nações", critica o mercantilismo com dureza, qualificando-o como uma "economia ao serviço do Príncipe". Curiosamente, embora tenha sido uma antiga colônia britânica, os Estados Unidos não aderiram à economia clássica. Em vez disso, adotaram uma forma de neomercantilismo preconizada pela chamada "escola americana" - organizada em torno das políticas de Alexander Hamilton, Henry Clay e Abraham Lincoln, as quais posteriormente seriam defendidas pelo Partido Republicano. Essa corrente seria dominante nos EUA até ao surgimento do New Deal, após a crise de 1929. A escola americana também influenciaria os economistas da Escola Histórica de Economia, como Friedrich List.
Atualmente a teoria do mercantilismo é recusada pela maioria dos economistas, se bem que alguns dos seus elementos sejam ocasionalmente vistos de modo positivo por alguns, entre os quais cabe citar a Ravi Batra, Pat Choate, Eammon Fingleton, ou Michael Lind.
Doutrina econômica mercantilista
O mercantilismo como conjunto de ideias econômicas
Quase todos os economistas europeus dentre 1500 e 1750 são considerados atualmente como mercantilistas. Contudo, estes autores não se consideravam partícipes de uma única ideologia econômica. O termo só foi inventado em 1763, por Vitor Riquetti Marquês de Mirabeau, e popularizado por Adam Smith, em 1776. O termo mercantilismo foi criado a partir da palavra latina mercari, que significa mercantil, no sentido de levar a cabo um negócio, e que procede da raiz merx que significa mercadoria. De início foi usado apenas por críticos, como Mirabeau e o próprio Smith, mas foi logo adotada pelos historiadores. De fato, Smith foi quem primeiro organizou formalmente muitas das contribuições dos mercantilistas no seu livro A Riqueza das Nações.
O mercantilismo em si não pode ser considerado como uma teoria unificada de economia. Na realidade não houve escritores mercantilistas que apresentassem um esquema geral do que seria uma economia ideal, tal como Adam Smith faria mais adiante para a economia clássica. O escritor mercantilista tendia a concentrar a sua atenção numa área específica da economia. Somente após o período mercantilista é que estudiosos, como Eli F. Heckscher, integrariam as diversas ideias no que chamariam mercantilismo. Heckscher vê, nos escritos da época, um sistema de poder político e, ao mesmo tempo, um sistema de regulamentação da atividade econômica, um sistema protecionista e um sistema monetário com a teoria da balança comercial. Contudo, alguns teóricos recusam completamente a ideia mesma de uma teoria mercantilista, alegando que esta dá "uma falsa unidade a fatos díspares". O historiador do pensamento econômico Mark Blaug faz notar que o mercantilismo foi qualificado posteriormente como "bagagem incômoda", "diversão de historiografia", e de "gigantesco globo teórico".
Até certo ponto, a doutrina mercantilista, em si mesma, tornava impossível a existência de uma teoria geral da economia. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma zero, onde a ganância de uma das partes supunha a perda da outra ou, seguindo a famosa máxima de Jean Bodin, "não há nada que alguém ganhe e que outrem não perca". Assim, por definição, qualquer sistema político que beneficiasse a um grupo faria dano a outro (ou outros), não existindo a possibilidade de a economia servir para maximizar a riqueza comum ou para o bem comum. Aparentemente, os escritos dos mercantilistas foram feitos mais para justificar a posteriori uma série de práticas, do que para avaliar o impacto dessas práticas e determinar o melhor modo de implementá-las.
O mercantilismo é, portanto, uma doutrina ou política econômica que aparece num período intervencionista e descreve um credo econômico que prevaleceu à época de nascimento do capitalismo, antes da Revolução Industrial.
As primeiras teorias mercantilistas desenvolvidas a princípios do século XVI estiveram pontuadas pelo bullionismo. A esse respeito, Adam Smith escrevia:
Durante esse período, importantes quantidades de ouro e prata fluíam desde as colônias espanholas do Novo Mundo para a Europa. Para os escritores bullionistas, como Jean Bodin ou Thomas Gresham, a riqueza e o poder do Estado medem-se pela quantidade de ouro que possuem. Cada nação deve, pois, acrescentar as suas reservas de ouro à custa das demais nações para fazer crescer o seu poder. A prosperidade de um Estado mede-se, segundo os bullionistas, pela riqueza acumulada pelo governo, sem mencionar a Renda Nacional. Este interesse para as reservas de ouro e prata é explicado em parte pela importância dessas matérias-primas na época de guerra. Os exércitos, que contavam com muitos mercenários, eram pagos com ouro e exceto os poucos países europeus que controlavam as minas de ouro e prata, a principal maneira de obter essas matérias-primas era o comércio internacional. Se um Estado exportava mais do que importava, a sua "balança do comércio" (o que corresponde atualmente à balança comercial) era excedentária, o qual se traduzia numa entrada neta de dinheiro.
Isto levou os mercantilistas a propor como objetivo econômico o de ter um excedente comercial. Era estritamente proibida a exportação de ouro. Os bullionistas também eram partidários de altas taxas de juros para animar os investidores a investir o seu dinheiro no país.
No Século XVIII foi desenvolvida uma versão mais elaborada das ideias mercantilistas, que recusava a visão simplista do bullionismo. Esses escritores, como Thomas Mun, situavam como principal objetivo o crescimento da riqueza nacional, e embora continuavam considerando que o ouro era a riqueza principal, admitiam que existiam outras fontes de riqueza, como as mercadorias.
O objetivo de uma balança comercial excedentária continuava a ser perseguido, mas desde esse momento era visto interessante importar mercadorias da Ásia por meio de ouro para revender depois esses bens no mercado europeu com importantes benefícios.
Esta nova visão recusava a partir desse momento a exportação de matérias-primas, que uma vez transformadas em bens finais constituíam uma importante fonte de riqueza. Enquanto o bullionismo favorecera a exportação massiva de lã de Grã-Bretanha, a nova geração de mercantilistas apoiava a proibição total de exportar matérias-primas e propugnava o desenvolvimento de indústrias manufatureiras domésticas. Ao precisar as indústrias importantes capitais, no Século XVIII houve uma redução das limitações contra a usura. Como muito bem demonstrou William Petty, a taxa de interesse vê-se como uma compensação pelas moléstias ocasionadas ao prestador ao ficar sem liquidez. Um resultado dessas teorias foi a posta em prática das Navigation Acts a partir de 1651, que deram aos barcos ingleses a exclusiva nas relações entre Grã-Bretanha e as suas colônias, proibindo aos holandeses o acesso a certos portos para restringir a expansão dos Países Baixos.
As consequências em matéria de política interior das teorias mercantilistas estavam muito mais fragmentadas do que os seus aspetos de política comercial. Enquanto Adam Smith dizia que o mercantilismo apelava a controlos muito estritos da economia, os mercantilistas não concordavam entre si. Alguns propugnavam a criação de monopólios e outras cartas patentes. Mas outros criticavam o risco de corrupção e de ineficácia de tais sistemas. Muitos mercantilistas também reconheciam que a instauração de quotas e de controlo dos preços propiciava o mercado negro.
Por outro lado, a maior parte dos teóricos mercantilistas estavam de acordo na opressão econômica dos operários e agricultores que deviam viver com uma renda perto do nível de sobrevivência, para maximizar a produção. Uma maior renda, tempo de lazer suplementar ou uma melhor educação dessas populações contribuiriam para favorecer a folgança e prejudicariam a economia. Esses pensadores viam uma dupla vantagem no fato de dispor de abundante mão-de-obra: as indústrias desenvolvidas nessa época precisavam de muita mão-de-obra e, ademais, isso reforçava o potencial militar do país. Os salários eram mantidos, portanto, em um baixo nível para incitar a trabalhar. As leis de pobres (Poor Laws) em Inglaterra perseguem os vagabundos e fazem obrigatório o trabalho. O ministro Colbert fará trabalhar as crianças com seis anos nas manufaturas do Estado.
A reflexão sobre a pobreza e o seu papel social na Idade Moderna cobrou importância, sobretudo após a Reforma Protestante e os diferentes papéis que à predestinação e o triunfo pessoal davam a teologia de Lutero, Calvino ou a Contra-reforma. A opinião católica tradicional associava-se ao mantimento do Antigo Regime, sancionando o lazer dos privilegiados e considerando a condenação do trabalho como um castigo divino, enquanto as sociedades onde triunfou o protestantismo pareciam adequar-se mais aos novos valores burgueses. Tradicionalmente os pobres eram vistos como os mais próximos a Deus, e as instituições de caridade não se viam como meios de erradicar a pobreza, senão de paliar os seus efeitos. Porém, entre os católicos também se inclui a obra de Juan Luis Vives De subventione pauperum. Sive de humanis necessitatibus libri II (Os dois livros da subvenção aos pobres ou da necessidade humana. Bruxas, 1525), que trata o problema da mendicidade procurando soluções nas instituições públicas, que devem socorrer os verdadeiros pobres e fazer trabalhar aos que somente são vagos; para isso considerava precisa uma organização da beneficência e uma reforma do sistema sanitário, de asilo. Seguindo as suas ideias foi organizada a atuação contra a pobreza na cidade de Bruxas.
Interpretação histórica do mercantilismo
Em efeito, não se pode falar de uma escola mercantilista, pois, para poder falar de uma escola deve existir uma série de características como a presença de um mestre que crie um pensamento que seja seguido pelos membros da escola, além de homogeneidade no pensamento. Assim, por exemplo, podemos falar da Escola Clássica com Adam Smith como epicentro do pensamento, ou seja, como mestre, e a afinidade entre os diferentes autores da mesma. No caso do pensamento chamado mercantilista não encontramos nenhum dos atributos necessários para identificá-lo com uma escola de pensamento.
O mercantilismo teve diversas interpretações ao longo do tempo. Desde Adam Smith até o presente sucedem-se explicações do que foram e significaram todos estes autores chamados mercantilistas. John Maynard Keynes, Gustav Schmoller, William Cunningham e o já mencionado Adam Smith, entre muitos outros, achegaram a sua perspectiva do mercantilismo. É assinalado particularmente Eli Heckscher que, influenciado pelos três últimos autores mencionados, reúne as interpretações destes para logo acrescentar a sua. Fala do mercantilismo do ponto de vista da sua política protecionista e as suas atitudes monetárias (como já refere Smith), como uma doutrina na construção do Estado (recolhido de Schmoller), como um sistema de poder (propugnado por Cunningham) e acrescenta a sua tese a estas quatro: descreve o mercantilismo como uma concepção social que quebrou com as formas, tanto morais quanto religiosas, que determinavam o comportamento dos agentes econômicos.
Destaca-se Cantillon entre os autores que acreditam que o mercantilismo é a antecipação da doutrina clássica. Este autor, entre o pensamento mercantilista e clássico, aperfeiçoa o conceito de "balança de comércio" em termos de trabalho. Desta óptica é levado em conta o aumento do emprego como término positivo nas ganâncias da balança comercial. Assim, pois, Cantillon, advoga por medidas de estabilidade dos preços e impedir a sua subida (pela acumulação do dinheiro) e, em consequência, a sobrevivência de um nível alto de emprego
A época mercantilista
O conceito de mercantilismo define-se a partir dos grandes Descobrimentos, consequência da abertura das rotas comerciais marítimas pelos portugueses entre o século XV e 1500 (data do descobrimento do Brasil) e a consolidada corrente do metal precioso (ouro e prata nomeadamente) levado dos territórios novos para a Europa, em particular depois do estabelecimento dos vice-reinos da Nova Espanha e do Peru pelos castelhanos.
Intimamente ligado à emergência do Estado-nação moderno e baseado na existência do binômio "metrópole – colônias", o mercantilismo assumiu formas nacionais, das quais podem citar-se, em ordem cronológica: Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca e Suécia durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Nesta época, o mercantilismo evolui de tal maneira que gera um estudo apropriado e traduz-se como uma atividade econômica, em tal grau que se fala de políticas econômicas e normas econômicas. O mercantilismo começa a ser conhecido com outras denominações, as mesmas que dão senso ao seu conceito: sistema mercantil, sistema restritivo, sistema comercial, colbertismo na França e cameralismo na Alemanha.
Derivado da expansão militar europeia e do incipiente desenvolvimento manufatureiro, como complemento da produção clássica da agricultura, o mercantilismo incrementou notavelmente o comércio internacional. Os mercantilistas foram os primeiros em identificar a importância monetária e política deste.
O mercantilismo desenvolveu-se numa época na que a economia europeia estava em transição do feudalismo ao capitalismo. As monarquias feudais medievais estavam sendo substituídas pelas novas nações-estado centralizadas, em forma de monarquias absolutas ou (em Inglaterra e Holanda) parlamentares. Os câmbios tecnológicos na navegação e o crescimento dos núcleos urbanos também contribuíram decisivamente ao rápido acréscimo do comércio internacional. O mercantilismo focava em como este comércio podia ajudar melhor os Estados.
Outro câmbio importante foi a introdução da contabilidade moderna e as técnicas de dupla entrada. A nova contabilidade permitia levar um claro seguimento do comércio, contribuindo para a possibilidade de fiscalizar a balança de comércio. E evidentemente, também não se pode ignorar o impacto do descobrimento da América. Os novos mercados e minas descobertas impulsionaram o comércio exterior a cifras até não concebidas. Isto levou a um grande acréscimo dos preços e a um acréscimo na própria atividade comercial. Curiosamente, a relação entre a chegada de metais preciosos americanos e a inflação europeia do século XVI (um fenômeno a uma escala até então desconhecida) não foi plenamente estabelecido até as pesquisas de Earl J. Hamilton numa data tão tardia quanto 1934 (O tesouro americano e a revolução dos preços na Espanha, 1501-1650).
Antes do mercantilismo, os estudos econômicos mais importantes realizados na Europa foram as teorias da Escolástica medieval. O objetivo destes pensadores era encontrar um sistema econômico que fosse compatível com as doutrinas cristãs com respeito à piedade e a justiça. Eram centrados nomeadamente nas questões microeconômicas e nas trocas locais entre indivíduos. O mercantilismo, por sua vez, estava alinhado com as outras teorias e ideias que estavam substituindo o ponto de vista medieval.
Nesta época foram adotadas também as teorias da Realpolitik impulsionadas por Nicolau Maquiavel e a primazia do interesse nacional nas relações internacionais. A ideia mercantilista de o comércio ser uma soma zero na qual cada parte fazia o possível para ganhar numa dura concorrência, integrava-se dentro das teorias filosóficas de Thomas Hobbes. Os jogos de soma zero, como o dilema do prisioneiro, podem ser consistentes com um ponto de vista mercantilista. No mencionado dilema, os jogadores são premiados por atraiçoar os seus companheiros, embora todos ficassem melhor se todos cooperassem.
Esse ponto de vista pessimista sobre a natureza humana também se encaixa na visão de mundo puritana, que inspirou parte da legislação mercantilista mais dura, como as Atos de Navegação (Navigation Acts) introduzidos pelo governo de Oliver Cromwell.
As ideias mercantilistas
O pensamento mercantilista pode ser sintetizado através das nove regras de Von Hornick:
Que cada polegada do chão de um país seja utilizada para a agricultura, a mineração ou as manufaturas;
Todas as matérias que se encontrem num país sejam utilizadas nas manufaturas nacionais, porque os bens acabados têm um valor maior que as matérias-primas;
Que seja fomentada uma população grande e trabalhadora;
Que sejam proibidas todas as exportações de ouro e prata e que todo o dinheiro nacional seja mantido em circulação;
Que seja obstaculizado tanto quanto for possível todas as importações de bens estrangeiros;
Que onde sejam indispensáveis determinadas importações devam ser obtidas de primeira mão, em troca de outros bens nacionais, e não de ouro e prata;
Que na medida em que for possível, as importações sejam limitadas às primeiras matérias que possam acabar-se no país;
Que sejam procuradas constantemente as oportunidades para vender o excedente de manufaturas de um país aos estrangeiros, na medida necessária, em troca de ouro e prata;
Que não seja permitida nenhuma importação se os bens que se importam existissem suficiente e adequadamente no país.
Contudo, a política econômica interna que defende o mercantilismo estava ainda mais fragmentada do que a internacional. Enquanto Adam Smith apresentava um mercantilismo que apoiava o controlo estrito da economia, muitos mercantilistas não se identificavam com tais ideias. Durante os começos da era moderna estava na ordem do dia o uso das patentes reais e a imposição governamental de monopólios. Alguns mercantilistas apoiavam-nos, enquanto outros viam a corrupção e ineficiência desses sistemas.
Um dos elementos nos quais os mercantilistas estavam de acordo era a opressão econômica dos trabalhadores. Os assalariados e os granjeiros deviam viver nas "margens de subsistência". O objetivo era maximizar a produção, sem nenhum tipo de atenção sobre o consumo. O fato de as classes mais baixas terem mais dinheiro, tempo de lazer, ou educação era visto como um problema que degeneraria em poucos ganhos do trabalho, prejudicando a economia do país.
Por outro lado, os estudiosos não se põem de acordo no motivo pelo qual o mercantilismo foi a ideologia ou teoria econômica dominante durante dois séculos e meio. Um grupo, representado por Jacob Viner, argumenta que o mercantilismo foi simplesmente um sistema muito direto e que contava com senso comum. Contudo, sustentava-se sobre uma série de falácias lógicas que não podiam ser descobertas pelas pessoas da época, dado que não tinham as ferramentas analíticas necessárias. Outra escola, apoiada por economistas como Robert B. Ekelund, entende que o mercantilismo não era um erro, mas o melhor sistema possível para aqueles que o desenvolveram. Esta escola argumenta que as políticas mercantilistas foram desenvolvidas e postas em prática por comerciantes e governos, cujo objetivo era incrementar ao máximo os benefícios empresariais. Os empresários beneficiavam-se enormemente, e sem que isso lhes supusesse um esforço, pela imposição de monopólios, as proibições às importações e a pobreza dos trabalhadores. Os governos, pela sua vez, beneficiavam-se do cobro das tarifas alfandegárias e os pagamentos dos mercadores. Se bem que as ideias econômicas mais tardias foram desenvolvidas com freqüência por acadêmicos e filósofos, quase todos os escritores mercantilistas eram comerciantes ou pessoas com cargos no Governo.
O mercantilismo como processo econômico
Dentro da doutrina econômica mercantilista emergiram, de maneira natural, três questões fundamentais que gerava esta lucrativa atividade comercial:
O monopólio da exportação;
O problema dos câmbios e a sua derivação;
O problema da balança comercial.
Na obra The Circle of Commerce (O Círculo do Comércio, 1623), Edward Misselden desenvolveu um conceito de balança comercial expressado em termos de débitos e créditos, apresentando o cálculo da balança comercial para a Inglaterra do dia de Natal de 1621 até o de 1622.
A ideia mercantilista de "balança de comércio multilateral" corresponde à atual noção de "balança de pagamentos" e é composta de cinco contas:
Políticas mercantilistas
As ideias mercantilistas foram a ideologia econômica dominante em toda Europa a princípio da Idade Moderna. Contudo, como conjunto de ideias não sistematizadas, a sua aplicação concretiza diferiu na prática de cada país.
Na França
Na França, o mercantilismo nasce a princípios do século XVI, pouco tempo depois do reforço da monarquia. Em 1539, um real decreto proíbe a importação de mercadorias têxteis de lã provenientes da Espanha e de uma parte de Flandres. O ano seguinte são impostas restrições à exportação de ouro. Multiplicam-se as medidas protecionistas ao longo do século. Jean-Baptiste Colbert, ministro de finanças durante 22 anos, foi o principal impulsionador das ideias mercantilistas na França, o que fez com que alguns falaram de colbertismo para designar o mercantilismo francês. Com Colbert, o governo francês implicou-se muito na economia para acrescentar as exportações. Colbert eliminou os obstáculos ao comércio ao reduzir as taxas alfandegárias interiores e ao construir uma importante rede de estradas e canais. As políticas desenvolvidas por Colbert em conjunto resultaram eficazes, e permitiram que a indústria e a economia francesas crescessem consideravelmente durante esse período, tornando a França numa das maiores potências europeias. Não teve tanto sucesso à hora de tornar França numa grande potência comercial equiparável à Inglaterra e a Holanda.
Também é característico do colbertismo empreender uma decidida política de criação de Manufaturas Reais que fabricavam produtos estratégicos ou de luxo (os Gobelinos, para tapetes e cristais), em ambos os casos consumíveis em primeiro lugar pela demanda da própria monarquia, ao mesmo tempo que produziam a emulação do seu consumo tanto dentro como fora do reino. Tal emulação também se viu na criação de manufaturas similares em outros países europeus, entre os que destacaram as Reales Fábricas espanholas de produtos de luxo, de armas, e de artigos de grande consumo monopolizadas pelo Estado como regalias: tabaco, aguardente, naipes.
Na Inglaterra
Na Inglaterra, o mercantilismo atinge o seu apogeu durante o período chamado de Long Parliament (1640–1660). As políticas mercantilistas também se aplicaram durante os períodos Tudor e Stuart, especialmente com Robert Walpole como principal partidário. O controle do governo sobre a economia doméstica era menor que no restante da Europa, devido à tradição da Common law e o progressivo poder do parlamento.
Os monopólios controlados pelo Estado estenderam-se, especialmente antes da guerra civil inglesa, apesar de serem com frequência questionados. Os autores mercantilistas ingleses estavam divididos com a respeito da necessidade de controlo da economia interior. O mercantilismo inglês adotou a forma de controlo do comércio internacional. Foi posto em prática um amplo leque de medidas destinadas a favorecer a exportação e penalizar a importação. Foram instauradas taxas alfandegárias sobre as importações e subvenções à exportação. Foi proibida a exportação de algumas matérias-primas. As Navigation Acts (Ato de Navegação) proibiam aos comerciantes estrangeiros fazer comércio no interior da Inglaterra. A Inglaterra aumentou o número de colônias e, uma que vez estavam sob controlo, eram instauradas regras para autorizar a produzir apenas matérias-primas e a comerciar unicamente com Inglaterra. Isto conduziu a progressivas tensões com os habitantes dessas colônias e foi uma das principais causas da Guerra de Independência dos Estados Unidos.
Estas políticas contribuíram em larga medida a tornar a Inglaterra na maior potência comercial do Mundo, e uma potência econômica internacional. No interior, a transformação de terras não cultivadas em terreno agrícola teve um efeito duradouro. Os mercantilistas pensavam que para fazer crescer o poderio de uma nação, todas as terras e recursos deviam ser utilizadas ao máximo, o que levou a se embarcarem em grandes projetos como a drenagem da região dos fens ("pântanos" da planície de Bedford).
Na Espanha
A revolução dos preços que afetou a toda Europa desde o século XVI, teve a sua origem na chegada a Espanha das remessas anuais de metais preciosos que trazia a frota das Índias, com o que a reflexão sobre as suas causas e possíveis soluções produziu o primeiro pensamento econômico digno de tal nome. A isso era acrescentada a tradição de petições econômicas nas Cortes, tanto as castelhanas quanto as dos reinos da Coroa de Aragão. Castela, desde a Baixa Idade Média presenciara um confronto entre os interesses vinculados à exportação da lã (a aristocrática Mesta, e a alta burguesia de mercadores de Burgos, as feiras e portos ligados com Flandres) e os vinculados à produção interna de panos (a baixa burguesia e o patriciado urbano das cidades centrais, como Segóvia e Toledo), que se expressaram nas guerras civis dos Trastâmara e mesmo na Guerra das Comunidades de Castela. Esse modelo simplificado não oculta a confluência de múltiplos interesses, tanto pessoais como dinásticos, institucionais e estamentais, como os das diferentes partes do clero, e mesmo a presença de minorias como judeus e conversos e a grande maioria social que é o campesinato. A mesma construção da monarquia autoritária tem muito para ver com a sua habilidade para arbitrar estes conflitos socioeconômicos e a sua dimensão política.
A mesma organização do monopólio do comércio americano, através da Casa de Contratação de Sevilha, conjugado com os empréstimos adiantados por banqueiros alemães (família Fugger) ou genoveses, e os mecanismos da dívida pública (juros) dão uma amostra do necessário e complicado que era entender os fenômenos econômicos e agir politicamente sobre eles. Era vital para o funcionamento do complexo aparato militar, burocrático e de Fazenda da Monarquia Hispânica (veja-se Instituições espanholas do Antigo Regime), no que os impostos (uns do rei, outros do reino, outros dos municípios), as múltiplas isenções, e os direitos e regalias do monarca formavam um tecido caótico.
Os economistas espanhóis dos séculos XVI e XVII eram chamados de arbitristas, por ser chamado de arbítrio a medida que, pela sua mera vontade, podia o rei tomar em benefício do reino, e que esses autores solicitavam. Seu papel foi infra-valorado pela mesma historiografia econômica espanhola nos seus primeiros estudiosos, como é o caso de Manuel Colmeiro. Já na sua própria época eram ridicularizados por propor medidas extravagantes, como o fez Quevedo, que em várias ocasiões descreve bem-intencionados arbitristas ("arcigogolantes") causando toda classe de catástrofes; um de eles está tão concentrado em escrever as suas teorias que não se dá conta de que se tirou a sim mesmo um olho com a caneta.
Durante a crise econômica da Espanha no Século XVII (de fato foi a principal afetada pela geral crise do século XVII) puseram-se em prática muitas políticas econômicas com certa incoerência, incluindo alterações monetárias e fiscais que mais que remediar, contribuíram para o seu aprofundamento. O Estado ruinoso de finais desse século, durante o reinado de Carlos II, porém presenciou uma reativação da economia nas zonas periféricas (exceto Andaluzia). Após a Guerra de Sucessão Espanhola (1700-1714), implicou um indubitável sucesso econômico a adoção, pelos governos de Filipe V, de uma série de medidas mercantilistas de inspiração colbertista importadas da França (ministros Jean Orry e Michael-Jean Amelot).
No século XVIII, a herança do arbitrismo mudou para o chamado projectismo ilustrado com maior elevação intelectual. No reinado de Fernando VI as medidas associadas ao Cadastro de Ensenada, muito ambiciosas, não foram aplicadas com decisão. O mesmo ocorreu com as do Marquês de Esquilache com Carlos III (decreto de abolição da taxa do trigo e livre comércio de grão, 1765), que foi apartado após o motim que leva o seu nome (1766). O final do século XVIII é o da ascensão de políticos com ideias econômicas mais próximas à fisiocracia e o liberalismo econômico (Campomanes e Jovellanos), destacando-se o projeto de lei agrária e a liberalização do comércio americano; que também não conseguiram um desenvolvimento eficaz, já na crise do Antigo Regime.
Em Portugal
Em Portugal, o mercantilismo surgiu no século XVII, no reinado de D. Pedro II, com o Conde da Ericeira e o Marquês de Fronteira com o objectivo de proteger a economia portuguesa, que era marcada por uma grande dependência face ao exterior.
As medidas tomadas por Conde da Ericeira passaram por uma política de desvalorização monetária, que encarecia os produtos estrangeiros importados e embaratecia os portugueses, passavam também pelo incentivo e protecção da indústria, e apoio ao comércio.
As Leis Pragmáticas de 1677 que impediam as importações de tecidos estrangeiros e luxos e incentivavam o uso de produtos feitos no reino, foi de todas a medida que mais se destacou.
Estas medidas fizeram com que a indústria manufactureira nacional se desenvolvesse. Como dizia Duarte Ribeiro de Macedo (1675) um dos autores mais importantes nesta matéria”A importância da circulação do dinheiro na sociedade é igual à circulação do sangue no corpo humano”, daí a importância destes desenvolvimentos das indústrias nacionais.
As primeiras medidas mercantilistas não foram bem sucedidas devido á diminuição das importações de países como a Inglaterra, o que levou a que Portugal assinasse o Tratado de Methuen em 1703, onde estava patente que Portugal importava as manufacturas de Inglaterra que por sua vez importava os vinhos portugueses, este tratado contribuiu para o desenvolvimento da viticultura, principalmente na Madeira, nos Açores e no Douro. Porém o Tratado de Methuen veio a acentuar o desequilíbrio da balança comercial devido ao valor das manufacturas que eram importadas de Inglaterra ser mais alto do que o dos vinhos que eram exportados, o que se reflectiu na balança deficitária. A solução para minimizar este problema surgiu através do ouro do Brasil que era usado para cobrir o défice.
Também a política de Marquês de Pombal, ministro de D. José I apresentou alguns aspectos mercantilistas, pois fomentou o comércio, através da criação de companhias comerciais privilegiadas como: a Companhia para o Comércio do Oriente; Companhia do Grão-Pará e Maranhão; Companhia Geral do Pernambuco e Paraíba; Companhia para o Comércio dos Ajauas e dos Macuas; Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, todas estas companhias fomentaram a economia nacional.
Também desenvolveu a indústria, através da fundação e renovação de fábricas de vidros, na Marinha Grande, de louças, em Lisboa, da reorganização da Real Fábrica das Sedas, em Tomar, e da contratação de mão-de-obra qualificada estrangeira para melhorar a produção e aplicação de medidas proteccionistas para os produtos nacionais.
Em suma, a política de Marques de Pombal centrou-se no desenvolvimento da indústria e do comércio, para suster a crise económica e libertar o país da dependência externa.
Outros países
As demais nações também adotaram as teses mercantilistas em diferentes graus. Os Países Baixos, que se tornaram o centro financeiro da Europa graças à sua muito desenvolvida atividade comercial, estavam pouco interessados em restringir o comércio e somente na última hora adotaram algumas políticas mercantilistas.
O mercantilismo desenvolveu-se em Europa Central e em Escandinávia após a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), quando Cristina da Suécia e Cristiano IV da Dinamarca passaram a preconizá-lo. Os imperadores Habsburgo interessaram pelas ideias mercantilistas, mas a extensão e a relativa descentralização deste Império fazia difícil a adoção de tais medidas. Alguns Estados do Império adotaram as teses mercantilistas, especialmente a Prússia, que teve sob o mandato de Frederico II a economia mais rígida da Europa. Com esta base doutrinal, a Alemanha ia gestar uma escola chamada dos "cameralistas" que teria influência até o Século XIX.
Rússia sob Pedro o Grande tratou de pôr em prática o mercantilismo sem muito sucesso devido à ausência de uma classe significativa de comerciantes ou de uma base industrial.
As ideias mercantilistas também alimentaram os períodos de conflito armado nos séculos XVII e XVIII. Ao ser a ideia dominante que o stock de riqueza é algo fez, o único jeito de aumentar a riqueza de um país era em detrimento de outro. Muitas guerras, entre as quais é preciso contar as guerras anglo-holandesas, franco-holandesa, e franco-inglesa foram ocasionadas pelas doutrinas que preconizavam o nacionalismo econômico. O mercantilismo contribuiu também para o desenvolvimento do imperialismo, pois todas as nações tratavam de apoderar-se de territórios para ficar com matérias-primas. Ao longo deste período o poder das nações europeias estendeu-se por todo o planeta. À custa da economia interior, esta expansão criou monopólios, quer as britânicas Companhia das Índias quer a Companhia da Baía de Hudson, quer a francesa Companhia das Índias Orientais.
Estas companhias privilegiadas tinham precedentes desde o século XIV nas cidades italianas de Pisa, Gênova, Florença e Veneza; a Hansa é omitida por responder a outra categoria funcional. Em Inglaterra surgirão algumas a partir de guildas medievais preexistentes, como as diferentes Company of Merchant Adventurers (séculos XV e XVI). Foi na Holanda independente da Monarquia Católica que apareceram as primeiras dignas do nome de companhias privilegiadas: a VOC (1602) e a WIC (1621). Outras nações tiveram companhias privilegiadas, notavelmente as nórdicas (Dinamarca, Suécia…). Na Espanha, apesar de contar com precedentes medievais, como os Consulados do Mar aragoneses ou as instituições similares castelhanas, a figura é de incorporação mais tardia: no século XVIII o monopólio do porto de Cádiz (sucessor do de Sevilha), já muito castigado pelas consequências comerciais do Tratado de Utrecht, foi admitindo a presença de alguma companhia similar, como a Compañía Guipuzcoana de Caracas (1728).
Críticas
Um bom número de estudiosos já haviam assinalado alguns erros importantes nas teorias mercantilistas bem antes que Adam Smith desenvolvesse uma ideologia que o pudesse substituir completamente. Houve críticos como Dudley North, John Locke ou David Hume que atacaram os fundamentos do mercantilismo, e ao longo do século XVIII foi perdendo o favor que tivera. Os mercantilistas eram incapazes de entender noções como a da vantagem competitiva (embora esta ideia apenas chegasse a ser entendida com David Ricardo em 1817) e os benefícios do comércio. Por exemplo, Portugal era um produtor muito mais eficiente de vinho do que Inglaterra, enquanto na Inglaterra era relativamente mais barata a produção têxtil. Pelo tanto, se Portugal se especializava em vinho e a Inglaterra em têxteis, ambos os Estados sairiam beneficiados se comerciassem. Nas teorias econômicas modernas, o comércio não se entende como uma soma zero entre competidores, pois que ambas as partes podem ser beneficiadas, pelo qual se trata mais de um jogo de soma positiva. Mediante a imposição das restrições à importação, ambas as nações terminam sendo mais pobres que se não existissem travas ao comércio.
David Hume, pela sua vez, apontou a impossibilidade do grande objetivo mercantilista de conseguir uma balança comercial positiva constante. À medida que os metais preciosos entravam num país, a oferta incrementar-se-ia e o valor desses bens nesse Estado começaria a reduzir-se com referência a outros bens de consumo. Pelo contrário, no Estado que exportasse os metais preciosos, o valor começaria a crescer. Chegaria um momento no que não compensasse exportar bens do país com altos preços ao outro país, que agora teria níveis de preços menores, e a balança comercial terminaria revertendo por si mesma. Os mercantilistas não entenderam este problema, e argumentaram durante muito tempo que um acréscimo na quantidade de dinheiro simplesmente significava que todo o mundo era mais rico.
Outro dos objetivos principais à hora de criticar as teorias do mercantilismo foi a importância que dada aos metais preciosos, mesmo quando alguns mercantilistas começaram a tirar a importância do ouro e a prata. Adam Smith apontou que os metais preciosos eram exatamente iguais que qualquer outro bem de consumo, e que não havia razão alguma para lhe dar um tratamento especial. O ouro não era mais do que um metal de cor amarela que era valioso simplesmente por não ser abundante.
A primeira escola que recusou completamente o mercantilismo foi a da Fisiocracia, na França. Contudo, as suas teorias também apresentavam uma série de importantes problemas, e a substituição do mercantilismo não se produziu até que Adam Smith publicou a sua famosa obra "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações" em 1776. Este livro amostra as bases do que atualmente se conhece como a economia clássica. Smith dedica uma parte considerável do livro a rebater os argumentos dos mercantilistas, se bem que estes são com freqüência versões simplistas ou exageradas dos seus pensamentos.
Os acadêmicos também estão divididos à hora de estabelecer uma causa para o final do mercantilismo. Aqueles que crêem que a teoria era simplesmente um erro deduzem que a sua substituição era inevitável desde o momento em que as ideias de Smith, muito mais exatas, foram expostas ao público. Aqueles que opinam que o mercantilismo era uma procura de formas de enriquecimento para uma parte da sociedade entendem que somente terminou quando se produziram importantes câmbios na sociedade, e nomeadamente no sistema de poderes. No Reino Unido o mercantilismo foi desaparecendo a partir de que o Parlamento açambarcou o poder que o monarca tinha para estabelecer monopólios. Se bem que os ricos capitalistas que controlavam a Casa dos Comuns se beneficiavam desses monopólios, o Parlamento via difícil levá-los a cabo por causa do grande custo que supunha tomar essas decisões coletivas.
Os regulamentos mercantilistas foram eliminados pouco a pouco ao longo do século XVIII no Reino Unido, e durante o século XIX o governo britânico adotou abertamente o livre comércio e as teorias econômicas de Smith do laissez faire. No continente o processo foi algo diferente. Na França as prerrogativas econômicas da monarquia absoluta foram mantidas até a Revolução Francesa, sendo então que terminou o mercantilismo. Na Alemanha o mercantilismo continuou sendo uma importante ideologia até começos do século XX.
Legado
Ideias mercantilistas sobreviventes
Pode afirmar-se que as críticas de Adam Smith ao mercantilismo foram aceitas no Império Britânico, mas recusadas nos Estados Unidos por figuras tão importantes quanto Alexander Hamilton, Friedrich List, Henry Clay, Henry C. Carey e Abraham Lincoln. No século XX, a maioria de economistas de ambos os lados do Atlântico chegaram a aceitar que em algumas áreas as teorias mercantilistas eram corretas. O mais importante foi o economista John Maynard Keynes, que explicitamente apoiou algumas das suas teorias.
Adam Smith recusara a ênfase que até então os mercantilistas puseram na quantidade de dinheiro argumentando que os bens, a população e as instituições eram as causas reais de prosperidade. Keynes argumentou que a quantidade de dinheiro em circulação, a balança comercial e os tipos de interesse tinham uma grande importância na economia. Este ponto de vista foi logo a base do monetarismo, cujos defensores atualmente recusam muitas das teorias econômicas keynesianas, mas que se desenvolveu e é atualmente uma das escolas econômicas mais importantes. Keynes também fez notar que o enfoque nos metais preciosos também era razoável na época na que se deu (começos da era moderna). Numa época anterior ao papel moeda, um acréscimo dos metais preciosos e das reservas do Estado era a única forma de incrementar a quantidade de dinheiro em circulação.
Adam Smith, por outro lado, também recusou a ênfase do mercantilismo para a produção, argumentando que a única forma de fazer crescer à economia era através do consumo (que, pela sua vez, impulsionava a produção de bens). Keynes, porém, defendeu que a produção era tão importante quanto o consumo.
Keynes e outros economistas do período também retomaram a importância que tinha a balança de pagamentos, e visto que desde a década dos anos 1930 todas as nações controlaram as entradas e saídas de capital, a maioria dos economistas está de acordo em que uma balança de pagamentos positiva é melhor que uma negativa para a economia de um país. Keynes também retomou a ideia de que o intervencionismo governamental é uma necessidade econômica.
Contudo, se bem que as teorias econômicas de Keynes tiveram um grande impacto, não tiveram tanto sucesso os seus esforços de reabilitar a palavra mercantilismo, que atualmente segue a ter conotações negativas e é usado para atacar uma série de políticas protecionistas. Por outro lado, as similaridades entre o keynesianismo e as ideias dos seus sucessores com o mercantilismo às vezes fizeram que os seus detratores as categorizassem como neomercantilismo.
Por outro lado, alguns sistemas econômicos modernos copiam algumas das políticas mercantilistas. Por exemplo, o sistema do Japão ocasionalmente também é qualificado de neo-mercantilista.
Uma área do uso da informação, Smith foi rebatido antes mesmo do que Keynes. Os mercantilistas, que eram geralmente mercadores ou funcionários públicos do governo, tinham em suas mãos uma grande quantidade de dados de primeira mão sobre o comércio, e usavam-nos consideravelmente nas suas pesquisas e escritos.
William Petty, um mercantilista importante, é com freqüência considerado o primeiro economista em usar uma análise empírica para estudar a economia. Smith recusava este sistema por entender que o método dedutivo era o método correto para descobrir as verdades econômicas. Atualmente, porém, a maioria das escolas econômicas aceitam que ambos os métodos são importantes (se bem que a Escola Austríaca supõe uma notável exceção).
Em instâncias específicas, as políticas mercantilistas protecionistas também tiveram um impacto positivo no Estado que as pôs em prática. O mesmo Adam Smith (sem importar a contradição em que incorria ao patrocinar o livre comércio para as demais e não para a sua própria nação) elogiou as Atas de Navegação inglesas por terem servido para expandir enormemente a frota mercante britânica, e por ter um papel central em tornar o Reino Unido na superpotência naval e econômica que foi desde então. Alguns economistas argumentaram que o protecionismo era bom para indústrias em desenvolvimento, e que se bem que causa alguns danos a curto prazo, pode ser benéfico a longo (teoria das "indústrias infantis" do alemão Friedrich List).
Em qualquer caso, A Riqueza das Nações teve um profundo impacto no final do mercantilismo e a adoção posterior da política de livre mercado. Para 1860, a Inglaterra já eliminara os últimos vestígios do mercantilismo (por exemplo, as protecionistas leis dos grãos ou Corn Laws). As regulamentações industriais, os monopólios e as tarifas alfandegárias foram retiradas. Convertida em "a oficina do mundo", com uma indústria e uma frota mercante com a que ninguém podia competir, Inglaterra converteu-se na grande defensora e propagandista da política de livre mercado, justo no momento em que mais a beneficiava, e o continuou a ser até a Primeira Guerra Mundial, quando a segunda revolução industrial trouxe competidores sérios.
Herança política
A posteridade do mercantilismo foi sem dúvida maior na prática política que na teoria econômica. Se o pensamento econômico do século XIX é dominado pelas escolas clássica e neoclássica, mais bem favoráveis ao livre-comércio, a prática política esteve influenciada durante muito tempo por ideias mercantilistas. Como faz ver o historiador Paul Bairoch, apesar de "os homens deixarem de razoar em termos de nível de desenvolvimento a conseguir em maior ou menor tempo passando a fazê-lo em termos de apropriação de uma parte maior de riqueza", em 1815 e em 1913, o mundo ocidental é "um oceano de protecionismo rodeando alguns ilhotes liberais".
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, assiste-se a uma liberalização contínua do comércio mundial sob o impulso das grandes instituições de livre-comércio como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo alguns economistas como Paul Krugman opinam que estas instituições estão guiadas por um "mercantilismo ilustrado", que não tenta favorecer os princípios do livre-comércio, senão favorecer as concessões comerciais mutuamente vantajosas. Outros economistas radicais e pensadores chegam a afirmar que essas organizações, com a escusa do livre-comércio, impõem a forma de comércio internacional que desejam as grandes potências econômicas que os controlam.
Segundo Daniel Cohen, os recentes insucessos das negociações no seio da OMC resultam reveladores desse "mercantilismo ilustrado". Se as negociações das anteriores etapas chegaram a ter sucesso, foi graças a comprometimentos, a concessões recíprocas e eqüitativas. Os países ricos aceitavam, por exemplo, liberalizar o setor têxtil em troca de vantagens em matéria de serviços financeiros concedidos pelos países emergentes. Por outro lado, após a cimeira de Cancún em 2003, as negociações entre países ricos e pobres mudaram de natureza. Os debates focalizam-se no tema agrícola no que as oportunidades de um intercâmbio mutuamente benéfico apareceram impossíveis. Longe de ser um "jogo de soma positiva", o comércio internacional aparece como um "jogo de soma zero", o desafio da cimeira passou a ser: "nossos agricultores ou os vossos", como se as ganâncias de uma nação significassem perdas para outra.
O termo neo-mercantilismo serve para designar, quase sempre de jeito pejorativo, as políticas contemporâneas que lembram as dos mercantilistas do século XVIII. Consistem quase sempre em medidas protecionistas ou em políticas comerciais agressivas nas quais o Estado se implica para fomentar a competitividade das empresas nacionais.
No contexto da globalização, o neo-mercantilismo baseia-se no conceito de "competência mundial", vindo a ser uma "guerra econômica" entre os países. Diz-se que a proteção às empresas nacionais e o apóio à sua competitividade nos mercados mundiais é proveitosa para a economia nacional. Assim algumas grandes potências são acusadas de neo-mercantilistas quando apóiam à sua indústria nacional por meio de subvenções ou de encargos estatais, ao mesmo tempo em que impõem quantidades, taxas ou normas à importação, para proteger o seu mercado interior. O conflito Boeing-Airbus, unido às subvenções atribuídas a cada uma das suas empresas por parte dos governos norte-americano (em forma de encargos) e europeus, pode ser visto como exemplo de neo-mercantilismo.
O conceito de "guerra comercial" alimenta as campanhas políticas das grandes potências econômicas: é preciso "fazer Europa para chegar ao peso" dizia um cartaz do Partido Socialista Francês que apresentava a Europa frente de um lutador de sumo japonês e um obeso norte-americano durante a campanha eleitoral para o referendum sobre o Tratado de Maastricht em 1992. Segundo alguns, essas políticas servem de contrapeso para os efeitos supostamente negativos da globalização econômica sobre a justiça social, enquanto os economistas do livre-comércio opinam que favorecem interesses particulares de algumas indústrias e prejudicando ao interesse geral. Contudo, o conceito de preferência comunitária não é uma realidade jurídica, nem sequeira econômica. Se foi sancionado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia a 13 de Março de 1968 em matéria de política agrária comum (em função de um direito de alfândega sobre os produtos procedentes de países terceiros), pronto topou-se com os objetivos do GATT. Atualmente é mantida uma tarifa exterior comum, que provoca com freqüência duras discussões entre os países membros da União Europeia e a Organização Mundial do Comércio
Ver também
Capitalismo
Era dos Descobrimentos
História da colonização da América
História do pensamento econômico
Idade Moderna
Bibliografia
HUNT, E. K.. História do pensamento econômico; tradução de José Ricardo Brandão Azevedo. 7a. edição - Rio de Janeiro : Campus, 1989 (ISBN 85-7001-421-X).
Robert B. EKELUND e Robert D. TOLLISON. Mercantilism as a Rent-Seeking Society: Economic Regulation in Historical Perspective. Collegen Station: Texas A&M University Press, 1981.
Robert B. EKELUND e Robert F. HÉBERT. A History of Economic Theory and Method. New York: McGraw-Hill, 1997.
François ETNER, Mercantilisme, Encyclopédie thématique Universalis, 2005
Eli F. HECKSCHER Mercantilism. tradução de Mendel Shapiro. London: Allen & Unwin. 1935. "Notes on Mercantilism, the Usury Laws, Stamped Money and the Theories of Under-Consumption." General Theory of Employment, Interest and Money.
Harry LANDRETH e David C. COLANDER. History of Economic Thought. Boston: Houghton Mifflin, 2002.
NIEHANS, Jürg. A History of Economic Theory: Classic Contributions, 1720-1980. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1990.
Jean-Pierre POITIER, Histoire de la pensée économique
Gianni VAGGI e Peter GROENEWEGEN. A Concise History of Economic Thought: From Mercantilism to Monetarism. New York: Palgrave Macmillan, 2003.
Charles WILSON. Mercantilism.'' London: Historical Association, 1966
Ligações externas
Comércio internacional
Sistemas econômicos
História do pensamento econômico
Economia política
Mercantilismo
Idade Moderna |
O Médio Tejo é uma sub-região portuguesa situada no centro do país, pertencendo à região do Centro. Tem uma extensão total de 2.283 km2, 228.604 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 100 habitantes por km2.
Está composta por 13 municípios e 93 freguesias, sendo a cidade de Tomar a cidade administrativa e um dos principais núcleos urbanos da sub-região. Com 16.932 habitantes na sua área urbana e 36.414 habitantes em todo o município, é a segunda maior cidade, a seguir do Entroncamento com 20.141 habitantes, e o segundo maior município do Médio Tejo, a seguir de Ourém com 44.576 habitantes em todo o município, sendo limitada a noroeste com a Região de Leiria, a norte com a Região de Coimbra, a leste com a Beira Baixa, a sudeste com o Alto Alentejo e a sudoeste com a Lezíria do Tejo.
Divisões
A sub-região é composta por 13 municípios, 93 freguesias e seis cidades:
Municípios
O Médio Tejo divida-se nos seguintes 13 municípios:
Abrantes
Alcanena
Constância
Entroncamento
Ferreira do Zêzere
Mação
Ourém
Sardoal
Tomar
Torres Novas
Vila Nova da Barquinha
Sertã
Vila de Rei
Freguesias
O Médio Tejo divida-se nas seguintes 93 freguesias:
Cidades
O Médio Tejo compreende as seguintes seis cidades:
Abrantes
Entroncamento
Fátima
Ourém
Tomar
Torres Novas
Demografia
Habitantes
Nos censos de 2021, o Médio Tejo registou 228.604 habitantes e uma densidade populacional de 100 habitantes por km2, sendo assim a 16° sub-região mais populosa e a 13° mais densa populada de Portugal. Dentro da Região do Centro, a qual pertence, é a 6° sub-região mais populosa e a 5° mais densa.
Municípios
O Médio Tejo compreende 13 municípios, sendo os maiores municípios, em termos populacionais, Ourém com perto de 45 mil habitantes, Tomar com mais de 35 mil habitantes, Abrantes e Torres Novas com ambas perto de 35 mil habitantes e Entroncamento com mais de 20 mil habitantes.
Na densidade populacional, o Entroncamento com 1.467 habitantes por km2, e o município mais denso de todo o Médio Tejo, a seguir de Vila Nova da Barquinha com 142 habitantes por km2, Torres Novas com 126 habitantes por km2, Ourém com 107 habitantes por km2, e Tomar com 104 habitantes por km2.
Cidades
O Médio Tejo compreende seis cidades, sendo as maiores cidades, em termos populacionais, o Entroncamento com mais de 20 mil habitantes, Tomar com perto de 17 mil habitantes, Abrantes e Torres Novas com ambas mais de 16 mil habitantes e Fátima com mais de 13 mil habitantes.
Na densidade populacional, o Entroncamento com 1.467 habitantes por km2, e a cidade mais densa de todo o Médio Tejo, a seguir de Tomar com 557 habitantes por km2, Ourém com 353 habitantes por km2 e Torres Novas com 261 habitantes por km2.
Dos 228.604 habitantes, que o Médio Tejo dispõe, cerca de 39% moram nas seis cidades, tendo 89.782 habitantes morando nas cidades da sub-região.
NUTS 3 de Portugal |
Matosinhos é uma cidade portuguesa localizada na sub-região da Área Metropolitana do Porto, pertencendo à região do Norte e ao distrito do Porto.
É sede do Município de Matosinhos que tem uma área total de 62,42 km2</sup>, 172.557 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 2.764 habitantes por km2, subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Vila do Conde, a nordeste pela Maia, a sul pelo Porto e a oeste pelo oceano Atlântico.
Definição
No litoral da cidade situa-se o porto de Leixões, o segundo maior porto artificial de Portugal e segundo porto marítimo da Área Metropolitana do Porto. Parte do aeroporto internacional do Porto abrange os limites municipais.
Matosinhos, juntamente com os municípios vizinhos do Porto e de Vila Nova de Gaia, forma a Frente Atlântica do Porto, que constitui o núcleo populacional mais urbanizado da Área Metropolitana do Porto, situado no litoral, delimitado, a oeste, pelo Oceano Atlântico.
História
Durante toda a sua história, Matosinhos esteve ligado ao mosteiro de Bouças, que será bastante antigo, sendo a sua construção anterior a 944. No ano de 900 já existia uma pequena povoação com o nome de Matesinus que em 1258 se chamaria Matusiny, um lugar da freguesia de Sendim. D. Manuel I concedeu-lhe foral em 30 de setembro de 1514 e passou a pertencer ao concelho de Bouças em 1833, tendo como sede a vila de Bouças, até 1836 designada Senhora da Hora. Até ao liberalismo constituía o Julgado de Bouças.
Em 1853 foi criada a vila de Matosinhos, constituída pela freguesia do mesmo nome e pela freguesia de Leça da Palmeira, que passou a sede do concelho em substituição de Bouças. Em 1867 é finalmente criado o concelho de Matosinhos, mas que acaba por desaparecer vinte dias depois voltando a ter sede em Bouças. Dado que Matosinhos já se figurava como um lugar mais importante em 6 de Maio de 1909 é criado o concelho de Matosinhos que existe nos nossos dias. Foi elevada a cidade a 28 de Junho de 1984 com Narciso Miranda como Presidente da Câmara e Fernando Miranda como seu vice.
Freguesias
O município de Matosinhos engloba três cidades — Matosinhos, São Mamede de Infesta e Senhora da Hora — e cinco vilas (Leça da Palmeira é parte integrante da cidade de Matosinhos).
Com a união de freguesias feita em 2013, o concelho de Matosinhos subdivide-se em quatro freguesias:
Custóias, Leça do Balio e Guifões (Vila de Custóias / Vila de Leça do Balio / Vila de Guifões)
Matosinhos e Leça da Palmeira (Cidade de Matosinhos)
Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo (Vila de Perafita / Vila de Lavra)
São Mamede de Infesta e Senhora da Hora (Cidade de São Mamede de Infesta / Cidade da Senhora da Hora)
Economia
Matosinhos foi até recentemente um município fortemente industrializado, que tem vindo a passar a ser um município dedicado ao sector terciário. No entanto, ainda mantém petrolíferas herança do auge industrial. As suas indústrias de relevo são a petroquímica, as indústrias alimentares e conserveiras, os têxteis e de material eléctrico. É ainda uma cidade com uma grande actividade piscatória.
É também nesta cidade, mais concretamente na freguesia de Leça da Palmeira, que se localiza a Exponor, o maior recinto de feiras empresariais do país. Possuiu as mais importantes portas do Grande Porto: o Porto de Leixões, o maior porto artificial de Portugal, construído nos finais do século XIX.
Património
Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos — templo de arquitetura barroca setecentista, da autoria de Nicolau Nasoni.
Padrão do Bom Jesus de Matosinhos — padrão setecentista constituído por um cruzeiro de granito é monumento nacional.
Mosteiro de Leça do Balio — monumento nacional reconstruído no século XIV. O mosteiro possui uma igreja gótica que conserva elementos românicos.
Cruzeiro manuelino — monumento nacional localizado em Leça do Balio construído em pedra de Ançã.
Ponte de Carro — Ponte medieval classificada como Imóvel de Interesse Público.
complexo fabril romano de salga e transformação de pescado — monumento nacional constituído por 23 tanques cavados nos penedos da praia de Angeiras, que servia durante a época romana para a salga de peixe e preparação de garum.
Obelisco da Praia da Memória - comemorativo do desembarque das forças liberais de D. Pedro IV
Casa do Mar e Tanques Romanos - Núcleo museológico etnográfico de pesca artesanal, na praia de Angeiras.
Etnografia
Matosinhos é uma terra recente para os padrões portugueses,sendo portanto influenciada pela cidade do Porto. Incorpora tradições piscatórias do litoral Norte, em específico da comunidade piscatória da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, as mais fortes na cidade, mas também tradições rurais das terras da Maia. A principal festa em Matosinhos é o Senhor de Matosinhos, cuja origem está numa antiga lenda em que a Imagem de Jesus Crucificado (obra de Nicodemus), aqui terá aparecido junto ao mar, onde existe uma Capela-Memorial. A imagem do Senhor é venerada no famoso Santuário do Senhor de Matosinhos (obra-prima de Nicolau Nasoni).
Outra lenda muitíssimo antiga, localiza aqui o milagre das vieiras (conchas), atribuído a Santiago-Maior.
Turismo
Praia de Matosinhos
Na nova marginal, muito ampla, os patins em linha, skates, trotinetes e bicicletas são pretextos para um passeio à beira-mar. A praia, um areal extenso próximo do porto, tem acumulado maus resultados nos índices de qualidade ambiental, mas a afluência de banhistas não pára de crescer. É conhecida pela prática e ensino de vários desportos náuticos. Há muitos - e bons restaurantes - nas imediações.
Principais Pontos Turísticos a Visitar
Matosinhos assume-se como a cidade do turismo de cruzeiros, do melhor peixe do mundo, da arquitetura contemporânea, do design, do jazz, da ciência e investigação, da dança, do teatro, do surf e da vela e agora também da moda. Da moda e na moda…
Matosinhos é ainda um concelho com vasto património cultural e arquitectónico de onde se destacam os seguintes pontos de interesse que merecem ser visitados em qualquer altura do ano:
Anémona “She Changes”, Escultura “Tragédia no mar”, Titan, Terminal de Cruzeiros, Monumento Senhor do Padrão, Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, Casa da Arquitectura, entre muitos outros.
Personalidades
Álvaro Siza Vieira nasceu em Matosinhos a 25 de Junho de 1933.
Florbela Espanca mudou-se para Matosinhos em Junho de 1919 e suicida-se em 1930.
Álvaro Lapa morreu em Matosinhos em 11 de Fevereiro de 2006.
António de Sousa Franco morreu em Matosinhos em 9 de Junho de 2004.
Malangatana morreu em Matosinhos em 5 de Janeiro de 2011.
Narciso Miranda foi Presidente da Câmara durante 30 anos.
Álvaro Martins foi um dos grandes nomes da guitarra portuguesa que nasceu e faleceu no Padrão da Légua, zona do concelho de Matosinhos.
Monumentos
She Changes é uma escultura famosa e recente desenhada pela artista Janet Echelman, que foi inaugurada em 2005. Encontra-se na Praça Cidade do Salvador, entre Porto e Matosinhos, tendo o objectivo de homenagear os pescadores das duas cidades.
Evolução da População do Município
★ Os Recenseamentos Gerais da população portuguesa, regendo-se pelas orientações internacionais da época (Congresso Internacional de Estatística de Bruxelas de 1853), tiveram lugar a partir de 1864 passando, a partir de 1900, a referenciar a população também por idades. Todos os censos encontram-se disponíveis para consulta no site do Instituto Nacional de Estatística.
★ ★ De acordo com o censo de 2021 registaram-se no Município (e Distrito) as seguintes alterações relativamente a 2011: -1.6% de habitantes (-1.7%); -14% no grupo dos 0-4 anos (-20%); -10% no grupo dos 15-24 anos (-6%); -9% no grupo dos 25-64 anos (-5%); + 40% no grupo dos 65 e mais anos (+ 33%).
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(Obs.: Número de habitantes "residentes", ou seja, que tinham a residência oficial neste concelho à data em que os censos se realizaram.)
(Obs: De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no concelho à data em que os censos se realizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente)
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Política
Ver artigo principal: Câmara Municipal de Matosinhos
Eleições autárquicas
(a) O CDS-PP apoiou a lista independente "António Parada, Sim!" nas eleições de 2017.
Eleições legislativas
Geminações
Cidades Geminadas
Matosinhos é geminada com:
Europa
Mérignac, França
Vilagarcía de Arousa, Espanha
América
Congonhas, Brasil
África
Angolares, São Tomé e Príncipe
Mansoa, Guiné-Bissau
Nacala, Moçambique
São Filipe, Cabo Verde
Acordos de Cooperação
Matosinhos possui um acordo de cooperação com:
Luanda, Angola
Ver também
Jornal de Matosinhos
Matosinhos Hoje
Ligações externas
Exponor - Feira Internacional do Porto
Câmara Municipal de Matosinhos
Municípios na Área Metropolitana do Porto
Matosinhos |
A Nupedia foi uma enciclopédia online cujos artigos foram escritos por colaboradores voluntários com conhecimento adequado no assunto, revisados por editores especializados antes da publicação e licenciados como conteúdo livre. Foi fundada por Jimmy Wales e subscrita pela Bomis, com Larry Sanger como editor-chefe. A Nupedia operou de outubro de 1999 a setembro de 2003. É mais conhecido hoje como o antecessor da Wikipédia, mas a Nupedia tinha um processo de aprovação de sete etapas para controlar o conteúdo dos artigos antes de serem postados, em vez de atualização ao vivo baseada na wiki. A Nupedia foi projetada por um comitê, com especialistas para predefinir as regras, e aprovou apenas 21 artigos em seu primeiro ano, em comparação com a Wikipédia que postou 200 artigos no primeiro mês e 18 mil no primeiro ano.
Diferentemente da Wikipédia, a Nupedia não era uma wiki; em vez disso, caracterizou-se por um extenso processo de revisão por pares, projetado para tornar seus artigos de qualidade comparável à das enciclopédias profissionais. A Nupedia queria que acadêmicos (idealmente com doutorado) oferecessem conteúdo voluntário. Antes de encerrar suas atividades, a Nupedia produziu 24 artigos aprovados que haviam completado seu processo de revisão (também existiam três artigos em duas versões de tamanhos diferentes), e outros 150 artigos estavam em andamento. Wales preferia a postagem de artigos mais fácil da Wikipédia, enquanto Sanger preferia a abordagem revisada por pares usada pela Nupedia e mais tarde fundou a Citizendium em 2006 como uma alternativa à Wikipédia revisada por especialistas.
Em junho de 2008, a CNET UK listou a Nupedia como um dos maiores sites extintos da ainda jovem história da Internet, observando como o controle estrito limitou a postagem de artigos.
História
Em outubro de 1999, Jimmy Wales começou a pensar em uma enciclopédia online construída por voluntários e, em janeiro de 2000, contratou Larry Sanger para supervisionar seu desenvolvimento. O projeto foi oficialmente lançado online em 9 de março de 2000. Em novembro de 2000, entretanto, apenas dois artigos completos haviam sido publicados.
Desde o início, a Nupedia foi uma enciclopédia de conteúdo livre, com a Bomis com a intenção de gerar receita com anúncios online no Nupedia.com. Inicialmente, o projeto usava uma licença própria, a Nupedia Open Content License. Em janeiro de 2001, mudou para a GNU Free Documentation License por insistência de Richard Stallman e da Free Software Foundation. Também em janeiro de 2001, a Nupedia iniciou a Wikipédia como um projeto paralelo para permitir a colaboração em artigos antes de entrar no processo de revisão por pares. Isso atraiu o interesse de ambos os lados, pois proporcionou a estrutura menos burocrática preferida pelos defensores da Gnupedia. Como resultado, o GNU nunca se desenvolveu realmente, e a ameaça de competição entre os projetos foi evitada. À medida que a Wikipédia cresceu e atraiu contribuidores, ela rapidamente desenvolveu vida própria e começou a funcionar em grande parte independentemente da Nupedia, embora Sanger inicialmente liderasse a atividade na Wikipédia em virtude de sua posição como editor-chefe da Nupedia.
Além de levar à descontinuação do projeto GNU, a Wikipédia também levou ao desaparecimento gradual da Nupedia. Devido ao colapso da economia da internet na época, Jimmy Wales decidiu interromper o financiamento de um editor-chefe assalariado em dezembro de 2001, e Sanger demitiu-se de ambos os projetos logo depois. Após a saída de Sanger, a Nupedia tornou-se cada vez mais uma reflexão tardia para a Wikipédia; dos artigos da Nupedia que concluíram o processo de revisão, apenas dois o fizeram depois de 2001. À medida que a Nupedia se tornava inativa, a ideia de convertê-la em uma versão estável de artigos aprovados da Wikipédia foi ocasionalmente abordada, mas nunca implementada. Mais tarde, o servidor da Nupedia caiu em setembro de 2003. O conteúdo enciclopédico da Nupedia, muitas vezes descrito como limitado, foi assimilado pela Wikipédia.
Processo editorial
A Nupedia teve um processo editorial de sete etapas, consistindo em:
Atribuição
Encontrar um revisor líder
Revisão do líder
Revisão aberta
Edição de texto do líder
Edição de texto aberta
Aprovação e marcação finais
Esperava-se que os autores tivessem conhecimento especializado (embora a definição de especialista permitisse um grau de flexibilidade, e foi reconhecido que alguns artigos poderiam ser escritos por um bom escritor, em vez de um especialista em si) e esperava-se que os editores que aprovassem os artigos para publicação fossem "verdadeiros especialistas em suas áreas e (com poucas exceções) [que] possuíssem doutorado".
Ruth Ifcher era alguém de quem Sanger dependia e com quem trabalhava de perto nas políticas e procedimentos iniciais da Nupedia. Ifcher, com vários diplomas superiores, era programador de computador e ex-editor de texto e concordou em ser editor-chefe voluntário.
Desenvolvimento de software
A Nupedia foi desenvolvido pelo software colaborativo NupeCode. NupeCode é um software de código aberto/livre (lançado sob a GNU General Public License) projetado para grandes projetos de revisão por pares. O código estava disponível através do repositório CVS da Nupedia. Um dos problemas enfrentados pela Nupedia durante grande parte de sua existência foi a falta de funcionalidade do software. Grande parte da funcionalidade que faltavam haviam sido simuladas usando blocos de texto sublinhados que pareciam ser hiperlinks, mas na verdade não eram.
Como parte do projeto, uma nova versão do software original (chamado "NuNupedia") estava em desenvolvimento. O NuNupedia foi implementado para testes no SourceForge, mas nunca atingiu um estágio de desenvolvimento suficiente para substituir o software original.
Ver também
Lista de wikis
Scholarpedia
Wikipédia:Nupedia e Wikipédia
Bibliografia
Sanger, Larry (Abril de 2005). The Early History of Nupedia and Wikipedia: A Memoir Parte 1 e Parte 2. Slashdot, .
Sanger, Larry. "Nupedia.com Statement of Editorial Policy, Version 2.1," Versão imprimível de 10 de maio de 2000.
Sanger, Larry. "Nupedia.com Statement of Editorial Policy, Version 3.2," Versão imprimível de 23 de junho de 2000.
Ligações externas
Versões anteriores da Nupedia(a partir do Internet Archive)
História da Wikipédia
Wikipédia
Enciclopédias online
Enciclopédias livres
Websites extintos
Extinções nos Estados Unidos em 2003 |
O Nobel de Literatura () é um prêmio literário sueco que é concedido anualmente, desde 1901, a um autor de qualquer país que, nas palavras da vontade do industrial sueco Alfred Nobel, produziu "no campo da literatura o trabalho mais notável em uma direção ideal" . Embora os trabalhos individuais sejam às vezes citados como particularmente dignos de nota, o prêmio é baseado no conjunto da obra de um autor como um todo. A Academia Sueca é responsável por escolher o ganhador do prêmio e anunciar os nomes dos laureados, no início de outubro. É um dos cinco Prêmios Nobel estabelecidos pela vontade de Alfred Nobel em 1895. Em algumas ocasiões, o prêmio foi adiado para o ano seguinte. Não foi concedido em 2018, mas dois prêmios foram concedidos em 2019.
Embora o Prêmio Nobel de Literatura tenha se tornado o prêmio literário de maior prestígio do mundo, a Academia Sueca tem atraído críticas significativas por seu tratamento do prêmio. Muitos autores que ganharam o prêmio caíram no ostracismo, ao mesmo tempo em que outros rejeitados pelo júri continuam amplamente estudados e lidos. O prêmio "tornou-se amplamente visto como político - um prêmio de paz no disfarce literário", cujos juízes são preconceituosos contra autores com diferentes gostos políticos para eles. O professor britânico de literatura Tim Parks expressou ceticismo de que seria possível que "professores suecos comparem um poeta da Indonésia, talvez traduzido para o inglês, com um romancista dos Camarões, talvez disponível apenas em francês, e outro que escreve em africâner, mas é publicado em alemão e holandês...". Em 2016, 16 dos 113 laureados foram de origem escandinava. A Academia tem sido frequentemente acusada de ser tendenciosa em relação aos autores europeus, e em particular aos suecos.
A formulação "vaga" de Nobel para os critérios do prêmio levou a controvérsias recorrentes. No sueco original, a palavra "idealisk" é traduzida como "ideal". A interpretação do Comitê do Nobel tem variado ao longo dos anos. Nos últimos anos, isso significa uma espécie de idealismo defendendo os direitos humanos em larga escala.
História
Alfred Nobel estipulou em seu testamento que seu dinheiro seria usado para criar uma série de prêmios para aqueles que conferem o "maior benefício para a humanidade" em física, química, paz, fisiologia ou medicina e literatura. Embora Nobel tenha escrito vários testamentos durante sua vida, o último foi escrito pouco mais de um ano antes de sua morte e assinado no Clube Sueco-Norueguês em Paris em 27 de novembro de 1895. Nobel legou 94% de seus ativos totais, 31 milhões de coroas suecas (o equivalente a US$ 198 milhões ou € 176 milhões em 2016), para estabelecer e dotar os cinco prêmios Nobel. Devido ao nível de ceticismo em torno do testamento, só em 26 de abril de 1897 foi aprovado pelo Storting, o Parlamento da Noruega. Os executores de seu testamento foram Ragnar Sohlman e Rudolf Lilljequist, que formaram a Fundação Nobel para cuidar da fortuna de Alfred Nobel e organizar os prêmios.
Os membros do Comitê Nobel Norueguês que deveriam conceder o Prêmio da Paz foram nomeados logo após a aprovação do testamento. As organizações que fariam a premiação foram: o Instituto Karolinska em 7 de junho, a Academia Sueca em 9 de junho e a Academia Real das Ciências da Suécia em 11 de junho. A Fundação Nobel chegou então a um acordo sobre as diretrizes de como o Prêmio Nobel deveria ser concedido. Em 1900, os estatutos recém-criados da Fundação Nobel foram promulgados pelo rei .
Processo de premiação
A cada ano, a Academia Sueca envia pedidos de indicações de candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura. Os membros da Academia, membros de academias de literatura e sociedades, professores de literatura e linguagem, ex-laureados do Nobel em Literatura e os presidentes de associações literárias têm permissão para nomear um candidato. Não é permitido nomear a si mesmo.
Milhares de solicitações são enviadas a cada ano e, em 2011, cerca de 220 delas tiveram retorno. Essas propostas devem ser recebidas pela Academia até 1 de fevereiro, quando são examinadas pelo Comitê Nobel. Em abril, a Academia restringe o campo a cerca de vinte candidatos. Até maio, uma pequena lista de cinco nomes é aprovada pelo Comitê. Os quatro meses seguintes são gastos na leitura e revisão dos trabalhos dos cinco candidatos. Em outubro, os membros da Academia votam e o candidato que recebe mais da metade dos votos é nomeado o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Ninguém pode obter o prêmio sem estar na lista pelo menos duas vezes, assim muitos dos mesmos autores reaparecem e são revisados repetidamente ao longo dos anos. A academia é mestre em treze idiomas, mas quando um candidato indicado escreve em uma língua desconhecida, são convidados tradutores e especialistas juramentados para traduzirem alguns trechos desse escritor. Outros elementos do processo são semelhantes aos de outros prêmios Nobel. Os juízes são compostos de um comitê de 18 membros que são eleitos para um mandato vitalício e até 2018, não estavam tecnicamente autorizados a renunciar. Em 2 de maio de 2018, o rei Carlos XVI Gustavo alterou as regras da academia e possibilitou a renúncia dos membros. As novas regras também afirmam que um membro que estiver inativo no trabalho da academia por mais de dois anos pode ser solicitado a renunciar.
O prêmio é geralmente anunciado em outubro. Às vezes, no entanto, o prêmio foi anunciado no ano após o ano nominal, sendo o último o prêmio de 2018. No meio da controvérsia em torno de alegações de agressão sexual, conflito de interesses e renúncias, em 4 de maio de 2018, a Academia Sueca anunciou que o prêmio de 2018 seria anunciado em 2019, juntamente com o laureado de 2019.
Prêmios
Um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura ganha uma medalha de ouro, um diploma com uma citação e uma quantia em dinheiro. A quantia de dinheiro concedida depende da renda da Fundação Nobel naquele ano. Se um prêmio for concedido a mais de um laureado, o dinheiro será dividido igualmente entre eles ou, para três laureados, poderá ser dividido em meio e dois trimestres. Se um prêmio é concedido em conjunto a dois ou mais laureados, o dinheiro é dividido entre eles.
O prêmio em dinheiro do Prêmio Nobel tem flutuado desde a sua inauguração, mas a partir de 2012 ficou em coroas suecas (cerca de US$ ), antes era de coroas. Esta não foi a primeira vez que o montante do prêmio foi diminuído - começando com um valor nominal de kr em 1901 (no valor de coroas em 2011) o valor nominal foi tão baixo quanto coroas ( coroas em 2011) em 1945 - mas tem sido estabilizado desde então, chegando a um valor de coroas em 2001.
O laureado também é convidado a dar uma palestra durante a "Semana do Nobel" em Estocolmo; o destaque é a cerimônia de premiação e o banquete no dia 10 de dezembro. É o prêmio literário mais rico do mundo por uma grande margem.
Medalhas
As medalhas do Prêmio Nobel, cunhadas pela Myntverket na Suécia e na Casa da Moeda da Noruega desde 1902, são marcas registradas da Fundação Nobel. Cada medalha apresenta uma imagem de Alfred Nobel no perfil esquerdo no anverso (frente da medalha). As medalhas do Prêmio Nobel de Física, Química, Fisiologia ou Medicina e Literatura têm obversos idênticos, mostrando a imagem de Alfred Nobel e os anos de seu nascimento e morte (1833-1896). O retrato de Nobel também aparece no anverso da medalha do Prêmio Nobel da Paz e na Medalha pelo Prêmio em Economia, mas com um design ligeiramente diferente. A imagem no verso de uma medalha varia de acordo com a instituição que concede o prêmio. Os versos das medalhas do Prêmio Nobel de Química e Física compartilham o mesmo design. A medalha para o Prêmio Nobel de Literatura foi projetada por Erik Lindberg.
Diploma
Os ganhadores do Prêmio Nobel recebem um diploma diretamente do rei da Suécia. Cada diploma é projetado exclusivamente pelas instituições premiadas para o laureado que o recebe. O diploma contém uma foto e um texto que declaram o nome do laureado e normalmente uma citação do motivo pelo qual receberam o prêmio.
Candidatos potenciais
Potenciais destinatários do Prêmio Nobel de Literatura são difíceis de prever, já que as indicações são mantidas em segredo por cinquenta anos, até que estejam disponíveis publicamente no The Nomination Database para o Prêmio Nobel de Literatura. Atualmente, apenas indicações enviadas entre 1901 e 1968 estão disponíveis para visualização pública. Esse sigilo sempre tem levado à especulação sobre o próximo prêmio Nobel.
Críticas
Controvérsias acerca dos selecionados do Nobel
De 1901 a 1912, o comitê, liderado pelo conservador Carl David af Wirsén, ponderou a qualidade literária de uma obra contra sua contribuição para a luta da humanidade "em direção ao ideal". Tolstói, Ibsen, Zola e Mark Twain foram rejeitados em favor de autores pouco lidos hoje.
O primeiro prêmio em 1901, concedido ao poeta francês Sully Prudhomme, foi fortemente criticado. Muitos acreditavam que o escritor russo Leon Tolstoy deveria ter recebido o primeiro prêmio Nobel de literatura.
Durante a Primeira Guerra Mundial e suas consequências imediatas, o comitê adotou uma política de neutralidade, favorecendo escritores de países não combatentes. August Strindberg foi repetidamente contornado pelo comitê, mas tem a singular distinção de ser premiado com o Prêmio Anti-Nobel, conferido pela aclamação popular e assinatura nacional e apresentado a ele em 1912 pelo futuro primeiro-ministro Hjalmar Branting. James Joyce escreveu os livros que ocupam o 1º e 3º lugar na Modern Library 100 Best Novels - Ulysses e Portrait of the Artist as a Young Man - mas Joyce nunca venceu.
O dramaturgo espanhol Àngel Guimerà, que escreveu em catalão, foi indicado 23 vezes para o Prêmio Nobel, embora nunca tenha vencido, devido a controvérsias sobre o significado político do gesto. Ele foi candidato ao Prêmio Nobel em 1904, a ser compartilhado com o escritor provençal Frédéric Mistral, em reconhecimento de suas contribuições para a literatura em línguas não oficiais. A pressão política do governo central da Espanha, que tornou esse prêmio impossível, acabou sendo concedida a Mistral e ao dramaturgo espanhol José Echegaray.
A escolha de Selma Lagerlöf (Suécia de 1858 a 1940) como ganhadora do Prêmio Nobel em 1909 (pelo 'idealismo elevado, imaginação vívida e percepção espiritual que caracteriza seus escritos') seguiu um debate acirrado por causa de seu estilo de escrita e assunto que quebrou os decoros literários do tempo.
De acordo com os arquivos da Academia Sueca estudados pelo jornal Le Monde em sua abertura em 2008, o romancista e intelectual francês André Malraux foi seriamente considerado para o prêmio na década de 1950. Malraux estava competindo com Albert Camus, mas foi rejeitado várias vezes, especialmente em 1954 e 1955, "desde que ele não volte ao romance". Assim, Camus foi premiado em 1957.
Alguns atribuem a W. H. Auden não ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura por erros em sua tradução do Vägmärken (Markings) de 1961, ganhador do Prêmio da Paz, e declarações que Auden fez durante uma turnê escandinava sugerindo que Hammarskjöld era homossexual, como Auden.
Em 1962, John Steinbeck recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. A seleção foi fortemente criticada e descrita como "um dos maiores erros da Academia" em um jornal sueco. O New York Times perguntou por que o comitê do Nobel deu o prêmio a um autor cujo "talento limitado é, em seus melhores livros, diluído pela filosofia da décima taxa", acrescentando: "achamos interessante que o louro não tenha sido concedido a um escritor ... cuja significância, influência e corpo de trabalho já causaram uma impressão mais profunda na literatura de nossa época ". O próprio Steinbeck, quando perguntado no dia do anúncio se ele merecia o Nobel, respondeu: "Francamente, não". Em 2012 (50 anos depois), o Prêmio Nobel abriu seus arquivos e foi revelado que Steinbeck era uma "escolha de compromisso" entre uma lista composta por Steinbeck, os autores britânicos Robert Graves e Lawrence Durrell, o dramaturgo francês Jean Anouilh e a autora dinamarquesa Karen Blixen. Os documentos desclassificados mostraram que ele foi escolhido como o melhor de um lote ruim: "Não há nenhum candidato óbvio para o prêmio Nobel e o comitê do prêmio está em uma situação nada invejável", escreveu o membro do comitê Henry Olsson.
Em 1964, Jean-Paul Sartre foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, mas ele escreveu recusando, afirmando que "não é a mesma coisa se eu assino Jean-Paul Sartre ou se eu assino Jean-Paul Sartre, laureado com o Prêmio Nobel. Um escritor deve recusar-se a se transformar em uma instituição, mesmo que isso ocorra da forma mais honrosa". No entanto, ele foi premiado.
O escritor dissidente soviético Aleksandr Solzhenitsyn, o laureado de 1970, não compareceu à cerimônia do Prêmio Nobel em Estocolmo por temer que a URSS impedisse seu retorno depois (seus trabalhos foram distribuídos de forma clandestina). Depois que o governo sueco se recusou a honrar Solzhenitsyn com uma cerimônia pública de premiação e palestra em sua embaixada em Moscou, Solzhenitsyn recusou o prêmio, comentando que as condições impostas pelos suecos (que preferiam uma cerimônia privada) eram "um insulto ao próprio Prêmio Nobel". Solzhenitsyn não aceitou o prêmio e prêmio em dinheiro até 10 de dezembro de 1974, depois de ter sido deportado da União Soviética.
Em 1974, Graham Greene, Vladimir Nabokov e Saul Bellow foram considerados, mas rejeitados em favor de um prêmio conjunto para os autores suecos Eyvind Johnson e Harry Martinson, ambos membros da Academia Sueca na época, e desconhecidos fora de seu país de origem. Bellow recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976; nem Greene nem Nabokov foram premiados.
O escritor argentino Jorge Luis Borges foi indicado ao Prêmio várias vezes, mas, como afirma Edwin Williamson, biógrafo de Borges, a Academia não o premiou, provavelmente por causa de seu apoio a certos ditadores militares de direita argentinos e chilenos, inclusive Augusto Pinochet, que, de acordo com a revisão de Tóibín de Borges: A Life, de Williamson, tinha contextos sociais e pessoais complexos.
A escolha do laureado de 2004, Elfriede Jelinek, foi protestada por um membro da Academia Sueca, Knut Ahnlund, que não desempenhou um papel ativo na Academia desde 1996; Ahnlund renunciou, alegando que a seleção de Jelinek havia causado "danos irreparáveis" à reputação do prêmio.
A escolha de Harold Pinter para o Prêmio em 2005 foi adiada por um par de dias, aparentemente devido à renúncia de Ahnlund, e levou a novas especulações sobre a existência de um "elemento político" na concessão do Prêmio pela Academia Sueca. Embora Pinter não tenha sido capaz de dar sua polêmica Palestra do Nobel em pessoa por causa de problemas de saúde, ele a transmitiu de um estúdio de televisão em vídeo projetado em telas para uma audiência na Academia Sueca, em Estocolmo. Seus comentários têm sido fonte de muitos comentários e debates. A questão de sua "posição política" também foi levantada em resposta à premiação do Prêmio Nobel de Literatura para Orhan Pamuk e Doris Lessing em 2006 e 2007, respectivamente.
A escolha de 2016 de Bob Dylan foi a primeira vez que um músico e compositor ganhou o Nobel de Literatura. O prêmio causou alguma controvérsia, particularmente entre escritores argumentando que os méritos literários da obra de Dylan não são iguais aos de alguns de seus pares. O escritor marroquino francês Pierre Assouline descreveu a decisão como "desdenhosa dos escritores". O romancista escocês Irvine Welsh disse: "Sou fã de Dylan, mas este é um prêmio de nostalgia mal concebido, arrancado das próstatas rançosas de hippies tagarelas e senis". O colega e amigo de composição de Dylan, Leonard Cohen, disse que não foram necessários prêmios para reconhecer a grandeza do homem que transformou a música pop com discos como a Highway 61 Revisited. "Para mim", disse Cohen, "[o Nobel] é como ganhar uma medalha no Monte Everest por ser a montanha mais alta". Escritor e comentarista Will Self escreveu que o prêmio "banalizou" Dylan, enquanto esperava que o laureado "seguisse Sartre ao rejeitar o prêmio".
Controvérsias acerca dos membros da Academia Sueca
Ser membro do comitê de 18 membros, que seleciona os destinatários, é tecnicamente vitalício. Os membros não estão autorizados a sair, embora possam recusar-se a participar. Para os membros que não participam, o assento do conselho é deixado vago até a morte. Doze membros ativos/participantes são necessários para um quórum.
Em 1989, três membros renunciaram em protesto depois que a academia se recusou a denunciar o aiatolá Ruhollah Khomeini por ter pedido a morte de Salman Rushdie.
Realizações literárias negligenciadas
Na história do Prêmio Nobel de Literatura, muitas conquistas literárias foram negligenciadas. O historiador literário Kjell Espmark admitiu que "quanto aos primeiros prêmios, a censura de más escolhas e omissões flagrantes é frequentemente justificada. Tolstoi, Ibsen e Henry James deveriam ter sido recompensados em vez de, por exemplo, Sully Prudhomme, Eucken e Heyse. " Há omissões que estão além do controle do Comitê Nobel, como a morte prematura de um autor, como foi o caso de Marcel Proust, Italo Calvino e Roberto Bolaño. Segundo Kjell Espmark, "as principais obras de Kafka, Cavafy e Pessoa só foram publicadas depois de suas mortes e as verdadeiras dimensões da poesia de Mandelstam foram reveladas sobretudo nos poemas inéditos que sua esposa salvou da extinção e deu ao mundo muito tempo depois" que ele havia perecido em seu exílio siberiano". O romancista britânico Tim Parks atribuiu a interminável polêmica em torno das decisões do comitê do Nobel com a "tolice essencial do prêmio e nossa própria tolice em levá-lo a sério" e observou que "18 (ou 16) cidadãos suecos terão uma certa credibilidade ao pesar trabalhos de literatura sueca, mas que grupo poderia realmente pensar sobre o trabalho infinitamente variado de dezenas de diferentes tradições. E por que deveríamos pedir a eles que fizessem isso?".
Ver também
Prêmio Oceanos
Prêmio Leya
Prémio Internacional Pena de Ouro
Prémio Camões
Prémio Pulitzer
Prêmio Miguel de Cervantes
Prêmio Goethe
Prêmio Goncourt
Ligações externas
Prémios literários da Suécia
Prêmios estabelecidos em 1901 |
Nicolau Maquiavel (; Florença, 3 de maio de 1469 — Florença, 21 de junho de 1527) foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser.
Desde as primeiras críticas, feitas postumamente pelo cardeal inglês Reginald Pole, cunhou-se um entendimento equivocado da obra completa de Maquiavel. Com o choque de realidade causado pelas suas ideias sobre a dinâmica do poder, seus textos geraram uma ameaça aos valores cristãos vigentes, principalmente devido às análises do poder político da igreja católica contidas em "O Príncipe". Já na literatura e teatro ingleses do século 17, foi associado diretamente ao Diabo por meio das referências caricaturais e do apelido "Old Nick". Surgiu, aí, na visão do pensamento enganoso e da trapaça, o adjetivo maquiavélico nas línguas ocidentais.
Maquiavel viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici. Entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava.
Como renascentista, Maquiavel utilizou-se de autores e conceitos da Antiguidade Clássica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele encontram-se o de virtù e o de fortuna.
Período histórico de Maquiavel
Durante o Renascimento, as cinco principais potências na península Itálica eram o Ducado de Milão, a República de Veneza, a República Florentina, o Reino de Nápoles e os Estados Papais. A maior parte dos Estados da península era ilegítima, tomados por mercenários chamados condottieri.
Foram incapazes de se aliar durante muito tempo estando entregues à intriga diplomática e às disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potências europeias do período, principalmente Espanha e França. A política italiana era, portanto, muito complexa e os interesses políticos estavam sempre divididos. Batalhando entre si, ficavam à mercê das ambições estrangeiras, mas a influência de alguém como Lourenço de Médici havia impedido uma invasão. Com a morte deste em 1492, e a inaptidão política de seu filho, a Itália foi invadida por Carlos VIII, causando a expulsão dos Médici de Florença.
Esta era palco do conflito entre duas tendências: a da exaltação pagã do indivíduo, da vida e da glória histórica, representada por Lourenço de Médici e seu irmão Juliano de Médici; e a da contemplação cristã do mundo, voltada para o além, que se formava como resposta ao ressurgimento da primeira nos mais variados aspectos da vida, como a arte, e até na Igreja, representada por religiosos como Girolamo Savonarola.
Anunciando a chegada de Carlos VIII como a de um salvador, contrário aos Médici e com grande apoio popular, o pregador Girolamo Savonarola tornou-se a figura mais importante da cidade dando ao governo um viés teocrático-democrático. Com sua crescente autoridade e influência, Savonarola passou a criticar os padres de Roma como corruptos e o papa Alexandre VI por seu nepotismo e imoralidade. Em 12 de maio de 1497, o papa excomungou o frade, mas a excomunhão foi declarada inválida por ele. No entanto, Savonarola acabou preso e executado pelo governo provisório em 23 de maio de 1498. Com a demissão de seus simpatizantes, cinco dias depois da morte do frade, Maquiavel, com 29 anos, foi nomeado para o cargo de secretário da Segunda Chancelaria de Florença.
Juventude
Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública. Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de' Nelli. Bernardo era jurista e tesoureiro de uma província italiana chamada Marca de Ancona. A mãe era próxima da nobre família de Florença. Sua família era toscana, antiga e empobrecida. Iniciou seus estudos de latim com sete anos e, posteriormente, estudou também o ábaco, bem como os fundamentos da língua grega antiga. Comparada com a de outros humanistas sua educação foi fraca, principalmente por causa dos poucos recursos da família.
Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado aí como auxiliar em 1494 ou 1495, hipótese contestada atualmente. Outros preferem atribuir a sua entrada à escolha de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria.
Segunda Chancelaria
A principal instituição de Florença nesse período era a Senhoria com diversos órgãos auxiliares como as duas chancelarias. A primeira chancelaria era responsável pela política externa e pela correspondência com o exterior. A segunda ocupava-se com as guerras e a política interna. No entanto, essas funções muitas vezes se sobrepunham e a autoridade da primeira chancelaria prevalecia sobre a da segunda. Entre as funções exercidas por Maquiavel, estavam tarefas burocráticas e de assessoria política, de diplomacia e de comando no Conselho dos Dez, um outro órgão auxiliar da Senhoria.
Primeiras missões diplomáticas
A primeira de suas missões foi a de convencer um condotiero a continuar recebendo o mesmo soldo. Nesse momento, o governo da República de Florença desejava reaver o controle de Pisa que havia aproveitado a passagem de Carlos VIII para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa primeira missão de forma satisfatória, foi enviado em julho de 1499 para negociar com Catarina Sforza, duquesa de Ímola e Forlì a renovação da condota de seu filho Otaviano e para tentar conseguir o auxílio dela com soldados e artilharia para a tomada de Pisa.
O governo de Florença contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o mau estrategista militar e Maquiavel tinha como instruções, diminuir o soldo e conseguir tropas e munição para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatória reduzir o soldo a 12 mil ducados e não comprometeu a cidade na defesa de Ímola e Forlì como queria Catarina. A partir dessa primeira missão, escreveu o Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa, de 1499, seu primeiro escrito político.
Missão à corte francesa
Pouco depois Luís XII, sucessor de Carlos VIII, conquistou o Ducado de Milão a Ludovico Sforza e, em troca de seu apoio, a República Florentina solicitou o auxílio deste na guerra contra a República de Pisa. Luís XII enviou um exército mercenário que se mostrou indisciplinado e desinteressado pela luta, tendo até mesmo prendido um comissário de Florença. Logo foi necessário enviar representantes à corte francesa em Nevers para relatar a situação e encontrar uma solução sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou só com o irmão Toto, que em breve se dedicaria à vida eclesiástica, pois as duas irmãs já haviam se casado.
Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florença e inclusive insistiu para que o ataque a Pisa continuasse às custas da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a Senhoria durante o período em que acompanhou a corte através de França e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos com mais autoridade. Aí pôde conhecer um pouco mais sobre uma nação que se havia unificado em torno de um rei, diferentemente da Itália. Depois de mais duas viagens à França anos depois, reuniria suas observações sobre a política francesa em dois textos: Ritrati delle cose di Francia (1510) e De natura gallorum.
De volta à cidade, em 1501, casou-se com Marietta Corsini, com quem teria quatro filhos e duas filhas (Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infância), mas teve logo que viajar de novo, pois os partidos políticos de Pistoia, outra cidade submetida a Florença, haviam se unido e ameaçavam rebelar-se. Maquiavel foi de opinião que se deveria dar fim e proibir tais partidos.
César Bórgia
Entre 1502 e 1503, Maquiavel teve contato com César Bórgia, filho do papa Alexandre VI, um cruel e ambicioso condotiero.
César Bórgia (conhecido também como Duque Valentino), por volta de 1501 como condotiero da Igreja e filho do papa, vinha conquistando territórios na Toscana, como Faença, em 25 de abril. Acercou-se de Florença com seus exércitos e exigiu que a cidade se aliasse a ele, pagasse-lhe um tributo e mudasse seu governo para um mais favorável a si. Quando os florentinos, sem opção, estavam prestes a ceder, Luís XII de França pressionou César Bórgia que foi obrigado a levantar acampamento. Dirigiu-se para Piombino, conquistando-a facilmente e também Pésaro e Rimini, após o quê voltou para Roma.
César Bórgia percebeu que, com a aliança francesa, Florença seria um empecilho a seu plano de expansão e por isso solicitou o envio de representantes com os quais tratar de seus interesses. Para essa missão, em 24 de junho de 1502, foi enviado Francisco Soderini, tendo Maquiavel como secretário e auxílio. Durante a ida, surpreendeu-os a notícia da conquista do ducado de Urbino pelo duque Valentino: ele pediu um reforço de artilharia para a cidade e quando este lhe foi enviado, voltou-se contra o ducado.
Chegadas as tropas francesas, os enviados puderam retornar. Após a retirada das tropas de Bórgia da Toscana, Maquiavel escreveu o "Sobre o modo de tratar os povos rebelados da Valdichiana" (1502) sua primeira obra sem relação com as atividades da Chancelaria, e foi neste período (22 de setembro de 1502) que ocorreu uma reforma na constituição florentina tornando o cargo de gonfaloneiro vitalício. Ele era ocupado por Piero Soderini, de quem Maquiavel tornou-se próximo.
Nesse meio tempo, César Bórgia conquistou a seus próprios condotieri Città di Castello e Bolonha. Temendo o duque, estes se reuniram em Magione para conspirar contra ele. César Bórgia solicitou a Florença um embaixador para negociar uma aliança e enviaram-lhe Maquiavel, sem poderes de embaixador, em 5 de outubro de 1502, apenas com a incumbência de entregar os conjurados, afirmando que eles haviam convidado Florença para participar da conspiração, mas que esta havia se negado.
A 9 de dezembro, César Bórgia marchou para Cesena com a intenção de dar fim ao conluio. Lá, mandou prender seu lugar-tenente, Ramiro de Lorque, que apareceu morto no dia seguinte. Dirigiu-se para Pésaro e depois, para Fano, ordenando que Orsini e Vitellozzo Vitelli, dois de seus subordinados, conquistassem Senigália (26 de dezembro) aonde, juntamente com Oliverotto de Fermo deveriam aguardá-lo. Foi aí que, ao chegar com suas tropas, mandou prender e, mais tarde, executar os três. Desse acontecimento deu Maquiavel sua análise no escrito: "Descrição da forma como procedeu o Duque Valentino para matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Paolo e o Duque de Gravina Orsini" (1503).
Pedindo ajuda florentina, mas sem esperá-la, partiu para conquistar Città di Castello, Perúgia, Corinaldo, Sassoferrato e Gualdo, de onde Maquiavel foi chamado de volta por ter sido nomeado um embaixador. Chegou a Florença em 23 de janeiro de 1508. Com a morte de Alexandre VI e tendo Júlio II se tornado Papa, César Bórgia perdeu seu apoio e veio a se enfraquecer. Feito prisioneiro duas vezes, morreu lutando pelo exército de Navarra, mas a figura de César Bórgia ficaria marcada para Maquiavel como a do perfeito representante de seu príncipe.
Guarda florentina
Com a morte de César Bórgia, surgiu um novo problema: a expansão da República de Veneza pela Romanha que surpreendeu o papa, os florentinos e o imperador romano-germânico Maximiliano. Sentindo os perigos externos se avolumarem e, por outro lado, conhecendo a ineficiência das tropas mercenárias, Maquiavel solicitou a Soderini a permissão para criar um exército formado por cidadãos de Florença. Recebida a autorização após alguma resistência, iniciou imediatamente seus trabalhos e apenas cinco meses depois, em 15 de fevereiro de 1506 as novas tropas desfilaram na Piazza della Signoria. Pouco antes havia terminado o Decennale primo, poema de 550 versos em "terça rima" que narravam os últimos dez anos e ao qual se seguiria o Decennale secondo (em 1509).
Por essa época, o papa Júlio II decidiu retomar os domínios da Igreja conquistados por Veneza e pelos homens de Bórgia: Baglioni e Bentivoglio. Marchando contra eles, pediu ajuda de Florença mediante envio de tropas. Sem querer desguarnecer Pisa ou desgostar o papa, decidiu-se enviar Maquiavel para ganhar tempo. Ele acompanhou o papa até Perugia, onde assistiu espantado à rendição de Baglioni, pois não compreendia como ele havia deixado passar a oportunidade de prender o Papa, na sua visão, um príncipe invadindo seus domínios como outro qualquer. Não estava presente na tomada da Bolonha por que Florença finalmente enviou as tropas solicitadas, bem como um embaixador para substituí-lo.
Queda de Soderini
Nesse período, Maximiliano I declarou ter a intenção de conquistar a Itália para restaurar o antigo Sacro Império Romano-Germânico fazendo-se coroar em Roma. Com isso, os florentinos decidiram enviar representantes para saber a que custo poderiam preservar a cidade. Maquiavel e Francesco Vettori — que se tornariam amigos daí em diante — foram encarregados dessa negociação, passam por Trento, Bolzano e Innsbruck em dezembro de 1507 e chegaram à corte, em Viena, em janeiro de 1508.
Em 16 de junho de 1508, Maquiavel e Vettori retornam a Florença, pois Maximiliano seria derrotado pela República de Veneza. Ao retornar, Maquiavel passou a organizar as operações contra a República de Pisa, vencida em 4 de junho de 1509, após 15 anos de guerra. Da experiência com a viagem ao império, Maquiavel escreveria o "Ritratti delle cose dell'Alemagna" (1508-1512).
Entrementes as hostilidades entre o papa e Veneza chegaram ao máximo. Em 25 de março de 1509, o papa Júlio II alia-se à Liga de Cambrai. Esta vence a República de Veneza em Agnadello (14 de maio), tomando a maior parte das possessões venezianas em terra firme. Por outro lado, decidindo que não poderia deixar a Itália cair em mãos estrangeiras, o papa formou uma aliança com a Espanha e Veneza contra a França.
Os florentinos que sempre contaram com a ajuda do rei francês e que não queriam desagradar o papa viram-se divididos. Maquiavel foi enviado pela terceira vez à corte francesa para explicar a prudência dos florentinos apesar da exigência do rei de que esta se declarasse a seu favor. Sem sucesso, retornou em outubro de 1510 com a certeza de que haveria uma guerra entre a França e os Estados da Igreja.
Após Luís XII ter convocado um concílio cismático contra o papa e este decidido reunir-se em Pisa, domínio florentino, o papa ameaçou Florença com a excomunhão e Maquiavel teve que negociar o afastamento da reunião. Apesar do sucesso da missão — os padres dirigiram-se para Milão — o papa resolveu dar fim ao governo de Soderini. Uniu-se ao rei de Aragão contra a França e como Florença se recusou a apoiá-lo, a Dieta de Mântua atacou a cidade e destituiu Soderini, trazendo os Médici de volta ao poder.
Escrita das principais obras
Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido sob a acusação de ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil florins de ouro e proibido de se retirar da Toscana durante um ano.
Para piorar sua situação, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma lista de possíveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi preso e torturado. Para sua sorte, com a morte do papa Júlio II em 21 de fevereiro de 1513 e a eleição de João de Médici, um florentino, como Leão X, todos os suspeitos de conspiração foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão.
Libertado, seguiu para uma propriedade no distrito de Sant'Andrea in Percussina distante 3,3 quilômetros da comuna de San Casciano dei Bagni, província de Florença. Foi durante esse ostracismo e inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: O Príncipe e os Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1512-1517). Foi também nesse período que conheceu vários escritores no Jardim Rucellai, círculo de literatos, e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de já conhecê-lo há tempos. Entre os escritos desse período estão o poema Asino d'oro (1517), a peça A Mandrágora (1518), considerada uma obra prima da comédia italiana, e Novella di Belfagor (romance, 1515), além de vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular (organizada pelos descendentes) como Dialogo intorno alla nostra língua (1514), Andria (1517), Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze (1520), Sommario delle cose della citta di Lucca (1520), Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo (1520), Clizia, comédia em prosa (1525), Frammenti storici (1525) e outros poemas como Sonetti, Canzoni, Ottave, e Canti carnascialeschi.
Com a morte de Lourenço II em 1520, Júlio de Médici, que depois tornou-se papa com o nome de Clemente VII, assumiu o poder em Florença. Ele via Maquiavel com melhores olhos que seus antecessores e o contratou como historiador da república para escrever uma História de Florença, obra à qual dedicaria os sete últimos anos de sua vida. Nesse mesmo ano, ele estava ocupado escrevendo A Arte da Guerra (1519-1520). E é a partir de uma viagem a trabalho a Luca que ele escreveu a Vita di Castruccio Castracani da Lucca (1520).
Após a queda dos Médici, em 1527, com a invasão e saque de Roma pelas tropas espanholas de Carlos I, a república instalou-se novamente na cidade com o restabelecimento do Grande Conselho anteriormente instituído por Savonarola. Maquiavel viu mais uma vez suas esperanças de voltar a servir à cidade serem desfeitas, pois havia trabalhado para os Médici e foi tratado com desconfiança pela nova república.
Poucos dias depois, ficou doente, sentindo dores intestinais. Morreu obscuramente em 21 de junho e no dia seguinte foi enterrado no túmulo da família na Basílica de Santa Cruz em Florença.
O Príncipe
O "Príncipe" é provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito em 1513, apesar de publicado postumamente, em 1532. Teve origem com a união de Juliano de Médici e do papa Leão X, com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros, apesar de dedicar a obra a Lourenço II de Médici, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta empreitada. Outra versão sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos Médici, contudo ambas as versões não são excludentes.
Está dividido em 26 capítulos. No início ele apresenta os tipos de principado existentes e expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália. Em uma carta ao amigo Francesco Vettori, datada de 10 de dezembro de 1513, Maquiavel comenta sobre o escrito:
Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio
Os Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio opõem-se a O Príncipe pelo tema, apesar de ambos compartilharem alguns conceitos. Foram pensados como análise e comentário a toda a obra de Tito Lívio, mas permaneceram incompletos, não passando da primeira década.
Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da antiguidade, em especial as da Roma clássica, com as de Florença no período. Assim, seguindo a obra de Tito Lívio, analisa como surgem, se mantém e se extinguem os Estados. Ficou assim dividido em três partes, estudando na primeira a fundação e a organização, em seguida o enriquecimento e a expansão e por fim sua decadência.
A Arte da Guerra
Entre 1519 e 1520, escreveu Dell'arte della guerra ("A Arte da Guerra"), o único de seus trabalhos sobre política publicado em seu tempo de vida. Em síntese, ele dá conselhos sobre como obter e manter força militar e defende que o preparo militar dos cidadãos é necessário para que eles e seu Estado mantenham a liberdade.
Interpretações comuns
Há discordâncias sobre a melhor forma de descrever os temas unificadores que podem ser encontrados nas obras de Maquiavel, especialmente nas duas principais obras políticas, O Príncipe e os Discursos. Alguns comentaristas o descreveram como inconsistente, outros, como Hans Baron, argumentaram que suas ideias devem ter mudado drasticamente ao longo do tempo. Alguns argumentaram que suas conclusões são melhor entendidas como um produto de seu tempo, suas experiências e sua educação. Outros, como Leo Strauss e Harvey Mansfield, argumentaram fortemente que há uma consistência e distinção muito fortes e deliberadas, chegando a argumentar que isso se estende a todos os trabalhos de Maquiavel, incluindo suas comédias e cartas.
A obra de Maquiavel relaciona-se diretamente com o tempo no qual foi produzida. O método utilizado por ele rompe com a tradição medieval ao fundamentar-se no empirismo e na análise dos fatos recorrendo a experiência histórica da Roma Antiga ganha por ele em seus estudos. Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política diferente da ética religiosa, ou seja, a finalidade da política seria a manutenção do Estado.
O primeiro a se pronunciar sobre sua obra foi o cardeal inglês Reginald Pole, se dizendo horrorizado com a influência que ela teria sobre Thomas Cromwell. Os jesuítas o acusaram de ser contra a Igreja e convenceram o papa paulo IV a colocá-lo no Index Librorum Prohibitorum em 1559. Na França, um huguenote chamado Innocent Gentillet escreveu uma obra na qual o acusou de ateísmo e, seus métodos, de causadores do Massacre da noite de São Bartolomeu. Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visão apresentada no teatro do século XVI. Em geral seus críticos se basearam em O Príncipe, analisando a obra isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto no qual foi produzida.
Houve também aqueles que quiseram conciliar seu pensamento com a Igreja ou torná-lo um nacionalista; sem muito sucesso, pois manipulavam seu pensamento da mesma forma. No presente, as análises feitas procuram levar em conta principalmente os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e sua A Arte da Guerra, contextualizando seus escritos e declarando que Maquiavel não inventou uma teoria política, apenas descreveu as práticas que viu refletindo sobre elas.
Comentadores como Leo Strauss chegaram a nomear Maquiavel como o criador deliberado da própria modernidade. Outros argumentaram que Maquiavel é apenas um exemplo particularmente interessante de tendências que estavam acontecendo à sua época. De qualquer forma, Maquiavel se apresentou em vários momentos como alguém lembrando os italianos das velhas virtudes dos romanos e gregos, e outras vezes como alguém promovendo uma abordagem completamente nova da política.
Conselheiro de tiranos
Essa análise começou a difundir-se com a Reforma e a Contrarreforma. Se até então suas obras eram ignoradas, a partir daí, o autor e suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a expressão "os fins justificam os meios", não encontrada em sua obra.
Essa interpretação está ligada também a visão de seus escritos como base teórica do absolutismo, ao lado de Thomas Hobbes e Jacques-Bénigne Bossuet, sem, no entanto, contemplar-se os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio em que faz elogios à forma republicana de governo.
Em sua obra O Príncipe, defendeu a centralização do poder político e não propriamente o absolutismo. Suas considerações e recomendações aos governantes sobre a melhor maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno. Ele é, de fato, considerado o "pai da moderna teoria política".
Maquiavel defende a ideia de que um estado forte depende de um governante eficaz, e para que ele seja bom, ele deve ter boas habilidades políticas. Para ele, são características relevantes de um bom príncipe, ser bondoso, caridoso, religioso e ter moral. Contudo, Maquiavel argumentava não ser necessário possui-las de fato, o governante devia apenas manter as aparências, pois o governo precisa do apoio e opinião pública; em momentos de crise a população deve ficar contra o governo. Maquiavel se preocupava em manter o Estado, por isso deixa conselhos para o soberano sobre como o fazer. Deste modo, ele apresenta propostas de como dominar nações.
No caso de dominação sobre uma cultura diferente, ele apresenta três meios para tal feito.
Dominação militar < Colonização < Mudança da capital
A dominação militar é vista como o meio menos eficiente, pois assim a nação estrangeira enxergaria o príncipe como um inimigo e não o apoiaria. A colonização tem maior eficácia, porém não é suficiente. Desta maneira, haveria uma mescla entre a cultura da nação dominada e da nação dominadora, beneficiando ambas as partes. Já a transferência da capital seria o meio mais eficaz. Se o príncipe reside na nação que está dominando, ele passa a levar melhorias para o lugar e a ganhar maior aceitação do povo.
No caso de dominação de um país de grande extensão, ele propõe duas alternativas:
Centralizar burocraticamente < Descentralizar aristocraticamente
Maquiavel afirmava que a segunda proposta era mais eficaz, pois ao descentralizar o poder, ele conferiria autoridade a algumas famílias aristocráticas para governar determinadas regiões do país. Dessa forma, ele teria pessoas de sua confiança fiscalizando todo o território e o poder ainda estaria concentrado em suas mãos. Já a primeira alternativa não seria uma boa solução, pois ele apenas criaria instituições burocráticas, mas o poder ainda estaria centralizado em si.
Maquiavel ainda propõe explicações para dominar uma sociedade acostumada com suas próprias leis:
Destruição < Transferência de capital < Tolerância conservadora
Em primeira instância, o príncipe deveria permitir as leis da nação dominada e tolerar as diferenças. Dessa maneira, a tolerância conservadora é vista como a melhor opção. A segunda alternativa também é considerada aceitável em caso de a primeira não demonstrar êxito, já que ao transferir a capital ele passa a levar mais melhorias para o local e a ganhar aceitação do povo. Caso a população não aceite dominação e se revolte, a única alternativa restante seria a destruição daquele povo.
Uma leitura apressada ou enviesada de Maquiavel poderia levar-nos a entendê-lo como um defensor da falta de ética na política, em que "os fins justificam os meios". Para entender sua teoria é necessário colocá-lo no contexto da Itália renascentista, em que se lutava contra os particularismos locais. Durante o século XVI, a península Itálica estava dividida em diversos pequenos Estados, entre repúblicas, monarquias, ducados, além dos Estados Papais. As disputas de poder entre esses territórios era constante, a ponto de os governantes contratarem os serviços do condotieri (mercenários) com o intuito de obter conquistas territoriais.
Foi muito difundida no século XVI e encontram-se aproximadamente 400 peças que citam Maquiavel, todas vinculando seu nome à maldade, a ardilosidade e a falta de escrúpulos. William Shakespeare, por exemplo, o coloca em uma fala de Ricardo, Duque de Gloucester na sua peça sobre Henrique VI (Henry VI, Part 1, Henry VI, Part 2, Henry VI, Part 3).
Conselheiro do povo
Uma segunda interpretação diz que ao escrever "O Príncipe", Maquiavel tentava alertar o povo sobre os perigos da tirania, tendo entre seus adeptos, Baruch de Espinoza e Jean-Jacques Rousseau. Este último escreveu "(…) é o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, deu-as, e grandes, aos povos". Foi defendida recentemente por estudiosos da obra dele como Garret Mattingly.
Há os que afirmam ser "O Príncipe" uma sátira dos costumes dos governantes ou que o autor não acreditaria no que escreveu, baseando esta afirmação na preferência que teria Maquiavel pela república como forma de governo. Contudo o autor também faz críticas à república.
Nacionalista
Maquiavel era um verdadeiro republicano, mas ele acreditava que somente a força de um líder especial poderia criar o um Estado italiano forte como ele imaginava. Isso, muito tempo depois, na Europa do século XIX, durante as Guerras Napoleônicas, com a Alemanha e a Itália fragmentadas e com os nacionalismos internos surgindo, gerou uma visão de Maquiavel como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela união e defesa da Itália, como demonstrado no último capítulo de "O Príncipe":
A obra de Maquiavel revela a consciência diante do perigo da divisão política da península em vários estados, que estariam expostos à mercê das grandes potências europeias. Hegel, Herder, Macaulay e Burd foram alguns de seus defensores, certamente fundamentando sua interpretação no capítulo final de O Príncipe em que Maquiavel faz uma apaixonada defesa de uma Itália unificada, afirmando que um povo só pode ser feliz e próspero se estiver unido.
Pensamento
Maquiavel não foi um pensador sistemático. Ele utiliza o empirismo para escrever através de um método indutivo e pensa em seus escritos como conselhos práticos, sendo além disso antiutópico e realista. A teoria não se separa da prática em Maquiavel. Os conceitos desenvolvidos por ele rompem com a tradição medieval teológica e também com a prática, comum durante o Renascimento, de propor estados imaginários perfeitos, os quais os príncipes deveriam ter sempre em mente. A partir da observação da política de seu tempo e da comparação desta com a da Antiguidade vai formular o seu pensamento por acreditar na imutabilidade da natureza humana.
Virtù e fortuna
Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnios do destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda.
A ideia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá.
História
Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador. Assim ele não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, ainda que tenha ido aos arquivos de Florença - prática incomum na época - e deixa transparecer nas suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos fatos históricos. Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros.
Assim, enquanto alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna da história, outros admitem que ele não possuía uma visão crítica o suficiente para poder separar os fatos históricos dos mitos e aceitou como verdade, por exemplo, a fundação mitológica de Roma, Outros, ainda, atribuem-lhe uma "concepção dogmática e ingénua da história".
Ética
A ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica.
Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.
Natureza humana
Para ele, a natureza humana seria essencialmente má e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso. A natureza humana também não se alteraria ao longo da história fazendo com que seus contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a história dessa e de outras civilizações servissem de exemplo. Falta-lhe um senso das mudanças históricas.
Como consequência, acha inútil imaginar estados utópicos, visto que nunca antes postos em prática e prefere pensar no real. Sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de forma má, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadãos. Ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles.
Trabalho
Obras políticas e históricas
Discorso sopra le cose di Pisa (1499)
Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati (1502)
Descrizione del modo tenuto dal Duca Valentino nello ammazzare Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, il Signor Pagolo e il duca di Gravina Orsini (1502)
Discorso sopra la provisione del danaro (1502) – Um discurso sobre a provisão de dinheiro.
Ritratti delle cose di Francia (1510) – Retrato dos negócios da França.
Ritracto delle cose della Magna (1508–1512) – Retrato dos assuntos da Alemanha.
Il Principe (1513) - O Príncipe
Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio - Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1517)
Dell'Arte della Guerra (1519–1520) – alta ciência militar.
Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze (1520) – Um discurso sobre a reforma de Florença.
Sommario delle cose della citta di Lucca (1520) – Um resumo dos assuntos da cidade de Lucca.
Vita di Castruccio Castracani da Lucca (1520), uma breve biografia.
Istorie Fiorentine (1520–1525) – Histórias florentinas, uma história em oito volumes da cidade-estado Florença, encomendada por Giulio de' Medici, mais tarde Papa Clemente VII.
Obras fictícias
Além de estadista e cientista político, Maquiavel também traduziu obras clássicas e foi dramaturgo (Clizia, Mandrágola), poeta (Sonetti, Canzoni, Ottave, Canti carnascialeschi) e romancista (Belfagor arcidiavolo).
Alguns de seus outros trabalhos:
Decennale primo (1506) – um poema em terza rima.
Decennale secondo (1509) – um poema.
Andria (1517) – uma comédia semi-autobiográfica, adaptada de Terence.
Mandragola (1518) – uma comédia em prosa de cinco atos, com um prólogo em verso.
Clizia (1525) – uma comédia em prosa.
Belfagor arcidiavolo (1515) – uma novela.
Asino d'oro (1517) – O Asno de Ouro é um poema terza rima, uma nova versão da obra clássica de Apuleius.
Frammenti storici (1525) – fragmentos de histórias.
Outras obras
Della Lingua (italiano para "Sobre a Língua") (1514), um diálogo sobre a língua da Itália é normalmente atribuído a Maquiavel.
O executor literário de Maquiavel, Giuliano de' Ricci, também relatou ter visto que Maquiavel, seu avô, fez uma comédia no estilo de Aristófanes que incluía florentinos vivos como personagens, e que seria intitulada Le Maschere. Foi sugerido que, devido a coisas como essa e seu estilo de escrever para seus superiores em geral, havia muito provavelmente alguma animosidade contra Maquiavel mesmo antes do retorno dos Médic.
Bibliografia
Ligações externas
Naturais de Florença
Historiadores da Itália
Políticos da Itália
Escritores renascentistas
Filósofos políticos
Teóricos do Absolutismo
Filósofos do século XV
Filósofos do século XVI
Cientistas políticos da Itália
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OS/2 ou OS/2 Warp foi um sistema operacional da IBM. A sigla significa "Operating System/2". A primeira versão do OS / 2 foi lançada em dezembro de 1987 e versões mais recentes foram lançadas até dezembro de 2001. O OS/2 foi desenvolvido como um sucessor do modo protegido do MS-DOS. Era possível criar aplicativos em modo texto que podiam funcionar em ambos os sistemas. Por causa dessa herança, o OS/2 compartilha semelhanças com Unix, Xenix e Windows NT.
História
OS/2 e Windows possuem uma origem comum: eram um único sistema nos anos 80 (mas com versões distintas) feitas simultaneamente pela IBM e Microsoft. Por uma decisão de Bill Gates a Microsoft resolveu abandonar o projeto OS/2 em 1990 e dedicar-se ao Windows. Os sistemas passaram então a competir pelo mercado corporativo e doméstico adentrando os anos 90. O sistema da IBM sempre foi considerado melhor tecnicamente, pois conseguia correr nativamente programas do seu concorrente mas o mesmo não poderia ser feito no Windows. O OS/2 também foi o primeiro dos dois a implementar TCP/IP, ter uma versão em 32 bits e máquina Java.
Por falhas de marketing e investimento, o OS/2 sucumbiu diante do Windows 95 que a partir de 1995 engoliu praticamente 80% do mercado de sistemas operativos. Até 1996 a IBM tentou vender o OS/2 para o utilizador doméstico mas sempre cometendo as mesmas falhas: pouco marketing, pouco investimento em suporte técnico e pouco lobby para angariar novos programas compatíveis. Por correr programas do Windows e acreditar que isso era o suficiente para suprir lacunas do sistema, a IBM comete uma grave falha e sucumbe diante da explosão de oferta de programas 32 bits para Windows a partir de 1996.
Em 1997 o sistema sai das prateleiras convencionais e muda de foco: é vendido apenas como pacote de soluções para empresas. Mesmo assim o sistema segue vendendo pouco, principalmente pela falta de suporte especializado. A partir de 1998 o OS/2 cai no ostracismo e é esquecido pelo mercado graças a chegada do novo Sistema Operacional, o Linux.
Em 1998, a Stardock Corporation, que desenvolvia aplicativos para o sistema como o jogo Galatic Civilization e o Object Desktop, tenta negociar com a IBM uma nova versão do OS/2 para usuários finais, o que implicaria na abertura de seu código-fonte. A IBM recusa a proposta, e a Stardock desiste de desenvolver aplicativos para o OS/2.
Em 2001 a IBM autorizou a Serenity Systems a vender e distribuir uma versão actualizada do Warp 4.52 para utilizadores finais e estudantes. Essa versão customizada chama-se eComStation.
Estima-se que o OS/2 esteja operacional em 800.000 máquinas pelo mundo, principalmente em instituições financeiras. O Banco do Brasil foi um dos maiores utilizadores do sistema, empregando-o em caixas eletrônicos e gabinetes de atendimento ao público, mas ainda o utiliza em parte, rodando sob o Windows, até ocorrer a migração completa para o Linux.
Entendendo o OS/2
Sistema de Arquivos
O OS/2 suporta o sistema de arquivos FAT (usado no DOS e Windows), a Super FAT e o HPFS, o sistema desenvolvido pela IBM e Microsoft (onde originou o NTFS), que explora melhor o disco rígido de grande porte. O HPFS, completamente 32bits, é muito superior a FAT (originalmente de 16bits, e posteriormente com 32bits virtuais na VFat). Apresenta suporte nativo a nomes de arquivos de até 254 caracteres, espaços entre caracteres em letras maiúsculas ou minúsculas, inclusive alguns de uso restrito até hoje, como o ":" (dois pontos) e estende o suporte a nomes longos para a FAT16 através do uso de arquivos de sistema.
Visando a transição do DOS com interface Windows 3.x, a IBM dotou o OS/2 2.0 em diante, com e a Super FAT que é armazenada na RAM, o que desgasta muito menos o HD e aumenta a velocidade de acesso consideravelmente. Outra diferença importante é que a Super FAT é desenhada em 32bits. Entretanto, o HPFS é mais veloz em acesso a disco, em especial em discos grandes.
O HPFS ainda permite 64KB de atributos estendidos para cada arquivo, esses atributos podem ser quaisquer informações sobre o arquivo. O sistema de arquivos do OS/2 também ordena a exibição de arquivos de um diretório automaticamente e mantém as informações sobre um arquivo próximo a ele, facilitando a localização de um arquivo em grandes discos. O HPFS também utiliza um sistema de cache de disco, para melhorar o seu desempenho, usando estratégias de alocação cujo objetivo é assegurar que os arquivos permaneçam contíguos.
De todos os atributos do OS/2, os mais importantes estão em sua proteção, impedindo que um aplicativo derrube o sistema todo, pois o acesso à memória é exclusivo, e totalmente gerenciado pelo OS/2.
Memória
Toda a memória do computador possui um endereço atribuído a ela. O processador usa esse endereço para recuperar ou alterar o conteúdo da memória em um local em particular.
No OS/2, toda a memória é acessada usando-se um endereço de 32bits. Esse endereço de 32bits permite até 4 GB de endereçamento direto. Existem dois esquemas para acessar a memória do computador: o plano (usado no OS/2) e o segmentado (usado no DOS e Windows 3.11).
No modelo de memória plano, a memória está totalmente disponível ao processador e pode ser acessada diretamente; os endereços são seqüenciais de 0 a 2³²-1 (4 GB).
No modelo de memória segmentado, a memória total é dividida em segmentos de 640KB. Um aspecto importante nessa diferença no modo de gerenciar memória é que no OS/2 o limite de 640KB é inexistente. Observe que isso se refere a um sistema operacional dos anos 80, o que dá a exata noção do quanto ele já era avançado na época.
Capacidade Multitarefa
O OS/2 é um sistema multitarefa preemptivo, ou seja, capaz de processar diversos programas concomitantemente (ao mesmo tempo). Ele foi desenvolvido desde seu início para ser um sistema preemptivo e essa é uma das suas grandes vantagens.
O sistema preemptivo divide o processador e a RAM da máquina entre os programas de modo que todos fiquem com o suficiente. Diferente do modelo cooperativo de multitarefa, os recursos são totalmente administrados pelo S.O., não podendo ser afetados pelos aplicativos.
O OS/2 roda aplicativos de 16 bits em áreas isoladas na memória, protegendo assim cada um do comportamento falho dos outros.
Confiabilidade
O OS/2 é um sistema extremamente confiável, por diversos motivos, muito mais seguro que a maioria das versões do Windows. No que diz respeito aos arquivos, o HPFS tem um ótimo sistema de tratamento de erros, com hotfixes e a fragmentação do disco é mínima, o que também diminui a probabilidade de erro no disco.
Além disso, ele é um sistema realmente preemptivo, e quando um programa tenta invadir a área de memória de outro ele é imediatamente fechado, o que impede que o sistema todo tranque por causa de um aplicativo.
Os arquivos vitais do sistema ficam em uma área reservada na memória que pode ser acessada mesmo que todos os outros programas tranquem. E o OS/2 é um sistema quase totalmente desenhado em 32bits, e uma das causas da instabilidade no Windows 95 é a mistura de programas 32 bits com programas 16 bits.
OS/2 Warp 4
A última versão do OS/2 feita pela IBM (cuja versão beta trazia o codinome de Merlin) trouxe uma série de inovações, como o suporte a voz, o Voice Type. Ao invés de teclado e mouse o usuário utiliza o sistema através do uso da voz. Embora alguns considerem a versão 4.5 como a verdadeira última, pois trouxe alterações que em outros sistemas denotariam uma nova versão.
O sistema aceita comandos falados através de um microfone, pode-se abrir e fechar programas, ditar textos e até navegar na Internet via voz. Para funcionar de maneira satisfatória, é necessário que o micro esteja preparado com uma boa quantidade de memória, no mínimo 32 MB de RAM.
Com o editor IBM Works, que não tem versão em português, é possível ditar textos. O Voice Type vem acompanhado de um jogo, onde o usuário deve pronunciar acertadamente o nome dos estados americanos a partir de seu mapa político.
Esta versão também está muito mais preparada para a Internet, com um navegador interno, diversas ferramentas para navegação e suporte nativo a linguagem Java, da Sun, contando inclusive com uma plataforma de desenvolvimento. O sistema tem suporte à tecnologia plug and play
Algumas alterações foram:
Voice Dictation e Navigation (habilitação de comandos de voz);
Sistema de acesso à Internet, incluindo o browser Netscape Navigator;
Suporte a 256 cores;
Mais fontes de sistema;
Serviços de Impressão e arquivos melhorados;
PCOM Lite (programa);
Suporte ao JAVA(tm) nativo (Com JDK);
Fontes TrueType (Iguais as do Windows);
OpenDoc(tm) (Algo como o OLE, mas mais universal);
Extensões API de desenvolvedores (Open32 - Para recompilação de programas de Windows95);
OpenGL(tm) (Sistema Tridimensional);
DPMI (Interface de Modo Protegido);
Suporte ao Plug'n'Play (Para poder usar Hardware "for Windows");
Warm Plug/Warm Docking (Ligue seu PCMCIA ao computador sem ter de resetá-lo);
Suporte a Infra Vermelho;
Modelos de Device Drivers Graficos (Facilita para desenvolvedores de Drivers);
CD de Drivers;
Suporte ao MIDI da Sound Blaster AWE 32 e 64;
Suporte a DDC;
Serviços de Segurança ativos;
System Dump Formatter;
System Anchor Block;
First Failure Support Technology (Auxílio para casos onde você é o primeiro a ver um erro);
Interface DMI;
TME NetFinity;
Sistema de Registro de Software Integrado (ART);
Suporte a XPG4/ULS;
Suporte Remoto ao OS/2;
Obtenção automática de Updates para Softwares;
IBM Works novo;
Bonus Pak;
Install Integrado;
Controles e Visuais ajustáveis;
Redesenho da GUI;
Melhoria nos tutoriais e Helps On-Line;
Migration Database;
Async Read-Ahead;
Netware Client 2.11+ for OS/2;
TCP/IP nativo;
Versão nova do browser WebExplorer;
Remote Access Client;
Mobile Office Services;
Suporte ao Win32s 1.25a (compatibilizando o Win-OS/2 com alguns programas de Win95);
SOM/DSOM (Orientação REAL a objeto);
Updates nos Device Drivers, tornando-os todos de 32 bit;
Melhoras no PCMCIA;
APM 1.2;
Suporte a EIDE;
Suporte ao USB 1.x e 2.0;
Suporte a praticamente todas as impressoras;
Suporte Multimídia melhorado;
Melhorias no DIVE (sistema de 3D embutido no OS/2).
Versões
OS/2 1.0 1987
OS/2 1.10 SE 1988
OS/2 1.10 EE 1989
OS/2 1.20 SE E EE 1989
OS/2 1.30 1991
OS/2 2.0 1991-1992
OS/2 2.1 1993
OS/2 for Windows 1993
OS/2 2.11 1994
OS/2 2.11 SMP 1994
SE - Standard Edition
EE - Extended Edition
OBSERVAÇÕES: As versões do OS/2 1.10, OS/2 1.20 e OS/2 1.30 são conhecidas como MS OS/2 ou Microsoft OS/2.
Versões Warp
OS/2 WARP 3 1994
OS/2 WARP Connect 1995
OS/2 WARP for PowerPC 1995
OS/2 WARP Server 1996
OS/2 WARP 4 1996
OS/2 WARP 4.51 (MCP1) (??)
OS/2 WARP 4.52 (MCP2) 2001
OS/2 WARP Server for e-business (4.5) 1999
OS/2 WARP Server for e-business 4.51 (ACP1) (??)
OS/2 WARP Server for e-business 4.52 (ACP2) 2001
MCP - Merlin Convenience Pack
ACP - Aurora Convenience Pack
Versões eComStation
eComStation 1.0 2001
eComStation 1.1 2003
eComStation 1.2 2004
eComStation 1.2R 200
eComStation 2.0 RC1 2007
eComStation 2.0 RC4 2007
eComStation 2.0 RC5 2008
eComStation 2.0 RC6 2008
eComStation 2.0 RC7 Silver 2009
eComStation 2.0 GA 2010
eComStation 2.1 2010
Veja também
OsFree (um projeto open source com o objetivo de fornecer binário e OS/2 APIs de nível de compatibilidade com o OS/2)
Ligações externas
IBM OS/2 Warp Página oficial do OS/2 voltado ao segmento corporativo.
eComStation Página do OS/2 atualizado para ao usuário final.
Página para cópia de CD de demonstração.
Site os2world.com.
Pedido oficial para que o código do OS/2 seja aberto.
Página de grupo de sites dedicados ao OS/2 e eCS.
Tabela de comparaçoes do OS/2 e eCS.
Hobbes e Downloads Diversos para OS/2.
MySqL para OS/2.
Dicas.
OS/2 BBS diversos arquivos e Drivers para OS/2.
Software de 1987
IBM
Sistemas operativos x86
Sistemas operativos
Sistemas operacionais para PCs
Sistemas legado |
A ortodoxia (com "o" minúsculo) significa conformidade com os princípios de qualquer doutrina geralmente aceita, em contraste com as doutrinas divergentes, que são consideradas falsas e rejeitadas como heterodoxia. A doutrina predominante prevalece sobre as doutrinas divergentes, domina a percepção pública e, assim, define efetivamente a norma, ou seja, a doutrina "correta". Mas a visão predominante às vezes pode ser derrubada por uma "revolução copernicana", de modo que a visão que prevalecia anteriormente dá lugar a um novo consenso, que se torna a nova ortodoxia.
O termo "Ortodoxo", com "O" maiúsculo, é comummente aplicado como denominação distinta a dois grupos específicos de igrejas cristãs conhecidas como Igrejas Ortodoxas, assim chamadas mesmo por aqueles que questionam a sua reivindicação de serem exclusivamente ortodoxas.
Variedade de campos
O termo "ortodoxia" é aplicado em particular à adesão a um ensino religioso, mas também a outros campos.
Fala-se, por exemplo, da ortodoxia marxista e da ortodoxia dos líderes do Partido Comunista Brasileiro que Carlos Marighella abandonou.
Um partido cubano fundado em 1947 por Eduardo Chibás, para combater a corrupção do governo e do aparato estatal, com atos marcadamente reformistas, se definiu "ortodoxo" ("Partido del Pueblo Cubano – Ortodoxos, PPC-O).
Miguel de Unamuno observou: "Um preceptivo revolucionário ainda é prescritivo e tão absurdo quanto a ortodoxia acadêmica é a ortodoxia anti-acadêmica".
Com a expressão "economia ortodoxa" se refere às teorias econômicas predominantemente ensinadas nas universidades. É usada em contraste com a expressão "economia heterodoxa", constituída por abordagens não hegemônicas nos meios acadêmicos, tais como a economia austríaca, a economia keynesiana e a economia marxiana.
Budismo
No budismo, são consideradas ortodoxas as doutrinas que concordam com certos textos que as várias ordens monásticas budistas consideram autoritários, e o termo "budismo ortodoxo" implica fé correta, votos adequados, entendimento correto, comportamento correto, confiança genuína. Os textos ortodoxos são os do cânone na língua Páli.
Cristianismo
Em geral, os cristãos consideram essencial manter inviolável a ortodoxia da doutrina, convencidos que certas declarações incorporam com precisão a verdade revelada do cristianismo e por esse motivo são normativas para toda a Igreja. Rejeitaram ideias como as dos gnósticos do século II e posteriormente as do arianismo e compuseram profissões de fé ("credos") das quais consideravam essencial a aceitação para os que tinham a mesma fé e comunhão. Mesmo entre os protestantes, os conservadores veem como essencial a ortodoxia em relação à obra salvadora de Cristo, enquanto os liberais consideram equivocado e amortecedor buscar a ortodoxia.
Islão
O termo ortodoxia, em relação ao Islão, é usado de maneira diferente ou completamente rejeitada. O Islão sunita, que é a religião predominante no Islão, é frequentemente visto como uma forma ortodoxa do Islão. No entanto, essa definição é difícil: por um lado, é muito estreita, porque a forma xiita do islão também tem características de uma fé ortodoxa e a separação entre o islamismo sunita e o islamismo xiita tem sido frequentemente sem limites claros ao longo da história. Entre os sunitas e xiitas, sempre houve uma forte consciência de que a outra religião também faz parte do Islão.
Judaísmo
O termo "judaísmo ortodoxo" abrange as crenças e práticas dos judeus fiéis à lei transmitida a Moisés no Monte Sinai, com as interpretações tradicionais estabelecidas ao longo dos séculos. Os judeus ortodoxos consideram a lealdade a uma cadeia de transmissão de halacá central desde o tempo de Moisés até hoje, incluindo os editores do Talmude e comentaristas posteriores. Um judeu ortodoxo é aquele que reconhece que deve se comportar de acordo com o halacá, o "corpus" de regras estabelecidas pela tradição oral, desde o Talmude até hoje.
Dentro da ortodoxia religiosa judaica, dois ramos se diferenciaram gradualmente: os ortodoxos e os ultraortodoxos. Os sociólogos israelianos costumam fazer uma distinção entre judeus seculares, tradicionalistas (prática religiosa parcial), ortodoxos (prática religiosa estrita, mas imersão no mundo moderno) e ultraortodoxo — ou haredim — caracterizado por uma prática religiosa estrita, uma ampla rejeição da modernidade e um desejo de forte separatismo social: roupas específicas, bairros específicos, instituições religiosas específicas. A proporção de haredim permanece aproximadamente estável.
Ver também
Cristãos ortodoxos
Igreja Ortodoxa
Igrejas ortodoxas orientais
Haredim
Sunismo
Tradicionalismo
Tradicionalismo
Conservadorismo |
O oceano Índico é a terceira maior divisão oceânica do mundo, cobrindo aproximadamente 20% da água da superfície da Terra. É limitada pela Ásia, incluindo a Índia, em que o oceano é chamado, no norte, a oeste pela África, a leste pela Austrália, e ao sul pelo oceano Antártico (ou, dependendo da definição, por parte da Antártida).
Como um componente do oceano global, o oceano Índico é delineado a partir do oceano Atlântico pelo meridiano 20° leste correndo para o sul de cabo das Agulhas, e do oceano Pacífico pelo meridiano de 146° 55' leste. A extensão norte do oceano Índico é de aproximadamente 30° ao norte do golfo Pérsico. O oceano tem quase km de largura entre as pontas do sul da África e da Austrália e sua área é de km² ( mi²), incluindo o mar Vermelho e o golfo Pérsico.
O volume do oceano é estimado em km³ ( mi³). As pequenas ilhas pontilham as bordas continentais. As nações insulares no oceano são Madagáscar (a quarta maior ilha do mundo), Comores, Seychelles, Maldivas, Maurícia e Sri Lanka. O arquipélago da Indonésia faz fronteira com o oceano, a leste.
Geografia
O oceano Índico, que se distingue por suas dimensões relativamente reduzidas em comparação com as do oceano Pacífico ou do oceano Atlântico, estende-se em sua maior parte em hemisfério Austral e é fechado ao norte pela Ásia. Largamente aberto ao sul, sob influência da monção asiática, tem a forma de um triângulo, cujas linhas medianas são formadas por dorsais oceânicas, dispostas em Y invertido. A sua profundidade média é de metros e a máxima, de metros (fossa de Java).
Clima
A dinâmica das águas do oceano Índico é mais complexa que nos outros oceanos. O sistema austral (ao S de 10º de latitude S) é caracterizado pela distribuição regularmente zonal dos ventos, das temperaturas (do ar e da água), da salinidade e das correntes superficiais. O sistema de monções ocupa a porção norte do Índico. Seu motor é a inversão sazonal dos ventos de monção. No inverno, os alísios sopram do NE em direção à zona de convergência intertropical, criando uma circulação superficial comparável à dos outros oceanos. No verão, os ventos quentes e úmidos e instáveis (ciclones), atraídos pelas baixas pressões asiáticas, provocam um reaquecimento e uma dessalinização parcial das águas, bem como uma aceleração das correntes que se dirigem predominantemente para leste (corrente da monção de sudoeste).
O oceano Índico distingue-se pela fraca produtividade das águas de superfície, privadas de trocas verticais revitalizantes. A temperatura elevada das águas favorece o desenvolvimento de arrecifes e de plataformas coralíneas, semeadas de atóis (Maldivas, Chagos, Laquedivas, Andamão, Seychelles, Comores). Na desembocadura dos grandes deltas, as águas ricas em material em suspensão mantêm uma produtividade regional elevada.
Limites
Para a ONU, o oceano Índico engloba o canal de Moçambique, o mar Vermelho, o golfo Pérsico, o mar da Arábia, o golfo de Bengala, o mar das Ilhas Andamão e a Grande Baía Australiana; ao sul, seu limite é o paralelo 60, entre os meridianos do cabo das Agulhas (África do Sul) e da Tasmânia (Austrália). Trinta e seis países litorâneos fornecem acesso marítimo a outros onze países sem saída para o mar.
O oceano Índico e seus mares banham todos os países litorâneos do leste e do nordeste da África, as nações do litoral sul da Ásia desde a Península Arábica até o oeste do Sudeste Asiático, a Indonésia, mais o noroeste, oeste e sul da Austrália.
Recursos
Os recursos desse oceano são o petróleo e minérios como a platina, o manganês, o vanádio e o crômio, só encontrados na África Austral e na antiga URSS. Em razão dessa enorme riqueza, o oceano Índico tornou-se alvo de grande interesse para os países ocidentais industrializados e o Japão, preocupados especialmente com a extração e o transporte da matéria-prima. A riqueza do oceano Índico era desconhecida na época da guerra fria, tanto é que o alvo a ser protegido, pelo lado norte-americano, era apenas o acesso ao golfo Pérsico. Nem os Estados Unidos nem a antiga URSS julgaram necessário criar uma frota no oceano Índico, satisfazendo-se em enviar destacamentos navais de importância questionável, apenas para assegurar bases e ancoragens. Mais tarde os EUA acabaram por criar uma forte intervenção no Oriente Médio: o Central Command (Comando Central).
Política
O que os EUA e a antiga URSS não deixaram fazer foi tomar partido em todos os conflitos locais em torno desse oceano: África Austral, Oriente Próximo, golfo Pérsico, Afeganistão, Ásia Meridional, Indochina. Atribuindo esses conflitos às presenças navais estrangeiras, os países litorâneos por sua vez adotaram em uma Assembleia Geral das Nações Unidas a resolução "oceano Índico, zona de paz", de 16 de dezembro de 1971, que "sugeria às grandes potências a eliminação de bases, navios de guerra e aviões militares no oceano".
A Índia, que se instituiu como porta-voz dos países litorâneos, teria consequentemente o controle efetivo do norte oceano Índico - das rotas marítimas, portanto - graças à sua Marinha que, com 110 mil toneladas, é a sexta do mundo e a mais poderosa da região.
História
As primeiras civilizações do mundo, na Mesopotâmia, começando com a Suméria, o Antigo Egito e o subcontinente indiano (a partir da Civilização do Vale do Indo), que apareceram ao longo dos vales dos rios Tigre-Eufrates, Nilo e Indo respectivamente, se desenvolveram todas em torno do oceano Índico.
Outras civilizações logo surgiram, na Pérsia (Elam), e posteriormente no sudeste da Ásia (Funan). Durante a I dinastia egípcia (cerca de 3000 a.C.), navegadores exploraram as suas águas, empreendendo jornadas até Punt, que se presume fosse localizado na atual Somália. Os navios retornavam com mercadorias valiosas, como ouro e mirra. A primeira ligação comercial marítima entre a Mesopotâmia e o vale do Indo, em aproximadamente 2500 a.C., ocorreu pelo oceano Índico. Os fenícios do final do terceiro milênio a.C. provavelmente estiveram nas terras banhadas pelo oceano, embora não tenham se assentado nelas.
O oceano Índico é muito mais calmo, e, portanto, mais adequado para o comércio do que os oceanos Atlântico e Pacífico. As fortíssimas monções faziam com que os navios pudessem velejar facilmente para o oeste na estação favorável, e, após alguns meses, fazer o caminho de volta; o que permitiu, por exemplo, que os povos indonésios cruzassem o oceano Índico para se estabelecer em Madagascar.
No segundo ou primeiro século a.C., Eudóxio de Cízico foi o primeiro grego a cruzar o oceano Índico. O navegador Hipalo também teria descoberto a rota direta da Arábia para a Índia nesta época. Durante o primeiro e segundo séculos d.C. intensas relações comerciais se desenvolveram entre o Egito romano e os reinos tâmeis de Chera, Chola e Pandya, no sul da Índia. Como os povos indonésios citados acima, os navegadores ocidentais utilizavam-se das monções para atravessar o oceano. O autor desconhecido do Périplo do Mar Eritreu descreveu esta rota, os portos e as mercadorias encontradas ao longo das costas da África e da Índia em cerca de 70 d.C..
De 1405 a 1433, o almirante chinês Zheng He liderou grandes frotas da dinastia Ming em inúmeras viagens ao "oceano Ocidental" (nome chinês para o oceano Índico), chegando até os países costeiros do leste da África.
Em 1497, Vasco da Gama dobrou o cabo da Boa Esperança, tornando-se o primeiro europeu a navegar até a Índia nos tempos modernos. Os navios europeus, armados com canhões pesados, rapidamente dominaram o comércio da região. Em um primeiro momento Portugal atingiu a preeminência na região, ao construir fortes nos estreitos e portos mais importantes; porém a nação não conseguiu bancar um projeto tão vasto, e perdeu seu lugar na metade do século XVII para outras potências europeias. A Companhia Holandesa das Índias Orientais (1602-1798) procurou controlar o comércio com o Oriente através do oceano Índico, e a França e a Inglaterra estabeleceram companhias comerciais na região. Eventualmente a Grã-Bretanha tornou-se a principal potência e em 1815 já havia dominado completamente a área.
A abertura do canal de Suez em 1869 reavivou os interesses europeus no Oriente, porém nenhuma nação conseguiu estabelecer com sucesso algum domínio no comércio da região. Depois da Segunda Guerra Mundial os ingleses se retiraram, e foram substituídos parcialmente pela Índia, União Soviética e Estados Unidos.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética tentaram estabelecer uma hegemonia na região, através da obtenção de bases navais. Dentre elas, destaca-se sobretudo a da ilha de Diego Garcia, que até hoje ainda é uma estratégica posição militar britânico-estadunidense localizada no Território Britânico do Oceano Índico, na região central do oceano.
Em 26 de dezembro de 2004 diversos países ao redor do oceano Índico foram atingidos por um tsunami causado por um terremoto. As ondas gigantes foram responsáveis pela morte de mais de 226 mil pessoas e cerca de um milhão de desabrigados.
Países e territórios banhados pelo oceano
O oceano Índico banha os seguintes países e territórios (em itálico):
África
(Reunião)
(Bassas da Índia, Ilha Europa, Ilha de João da Nova, Ilhas Gloriosas e Ilha Tromelin)
Ásia
(Península do Sinai)
Oceania
Ilhas Ashmore e Cartier
Ilhas subantárticas
(Ilhas do Príncipe Eduardo)
Ilha Heard e Ilhas McDonald
(Ilhas Crozet, Ilhas São Paulo e Amsterdão e Ilhas Kerguelen)
Mares do oceano Índico
Mar Vermelho
Golfo de Áden
Golfo Pérsico
Golfo de Omã
Mar Arábico
Baía de Bengala |
Perl é uma família de duas linguagens de programação multiplataforma, Perl 5 e Perl 6.
Originalmente, Perl foi desenvolvida por Larry Wall em 1987; desde então, a linguagem passou por muitas atualizações e revisões até chegar à versão Perl 5 em 1994. Perl 6, desenvolvido a partir do Perl 5 em 2000, eventualmente evoluiu para uma linguagem distinta. Ambas as linguagens continuam a ser desenvolvidas independentemente por equipes diferentes.
Perl é usada em aplicações de CGI para a web, para administração de sistemas linux e por várias aplicações que necessitam de facilidade de manipulação de strings. Permite a criação de programas em ambientes UNIX, MSDOS, Windows, Macintosh, OS/2 e outros sistemas operacionais. Além de ser muito utilizada para programação de formulários www e em tarefas administrativas de sistemas UNIX - onde a linguagem nasceu e se desenvolveu -, possui funções muito eficientes para manipulação de textos. Seu slogan "There's more than one way to do it" (Existe mais de uma maneira de fazer isso) demonstra exatamente o propósito da linguagem: sua flexibilidade e capacidade de fazer códigos funcionais.
Origem
A linguagem Perl foi desenvolvida por Larry Wall. Inicialmente, o nome seria "PEARL", porém já existia uma linguagem com esse nome, então Wall alterou para "Perl". Seu lançamento deu-se em 1987 (4 anos antes do Linux) quando Larry postou o Perl no grupo de notícias da Usenet "comp.sources". Antes disso, praticamente todo processamento de texto em sistemas baseados em Unix era feito com uma porção de ferramentas, tais como o AWK, 'sed', C e diversas linguagens shell script. A ideia de Wall foi juntar as principais vantagens de todas essas linguagens: expressões regulares do 'sed'; a identificação de padrões de AWK; a profundidade de C; além da sintaxe baseada tanto em C quanto em Shell Script.
Pouco tempo depois de sua primeira versão, Perl se popularizou. Originalmente, a única documentação existente era uma única página de manual, até que, em 1991, foi publicada a referência definitiva da linguagem, Programming Perl, que ficou conhecida pelos programadores como o "livro do camelo”, por conta da imagem em sua capa. Em 1992, Perl já estava na versão 4 e tornou-se uma linguagem padrão para Unix. Porém, foi também nessa época que a linguagem de Larry começou a mostrar suas limitações. Apesar de ser excelente para administradores de sistemas escreverem pequenos e poderosos códigos, era inviável desenvolver programas maiores com o Perl. Foi quando a equipe, ainda liderada por Larry Wall, começou a desenvolver a versão 5, lançada em 1994. A partir de então, a linguagem subiu de patamar; tornou-se, como muitos acreditam, uma linguagem completa, e não apenas auxiliar.
Histórico de versões (Perl 1.0 a 5.28)
Características da linguagem
No geral, a sintaxe de um programa em Perl se parece muito com a de um programa em C: existem variáveis, expressões, atribuições, blocos de código delimitados, estruturas de controle e sub-rotinas.
Além disso, Perl foi bastante influenciado pelas linguagens de shell script: todas as variáveis escalares são precedidas por um cifrão ($). Essa marcação permite identificar perfeitamente as variáveis num programa, onde quer que elas estejam. Um dos melhores exemplos da utilidade desse recurso é a interpolação de variáveis diretamente no conteúdo de strings. Perl também possui muitas funções integradas para tarefas comuns como ordenação e acesso de arquivos em disco.
Perl pega emprestado as listas de Lisp, as arrays associativas (tabelas hash) de awk e as expressões regulares de sed. Isso tudo simplifica e facilita qualquer forma de interpretação e tratamentos de textos e dados em geral.
A linguagem suporta estruturas de dados arbitrariamente complexas. Ela também possui recursos vindos da programação funcional (as funções são vistas como um outro valor qualquer para uma sub-rotina, por exemplo) e um modelo de programação orientada a objetos. Perl também possui variáveis com escopo léxico, que tornam mais fácil a escrita de código mais robusto e modularizado.
Todas as versões de Perl possuem gerenciamento de memória automático e tipagem dinâmica. Os tipos e necessidades de cada objeto de dados no programa são determinados automaticamente; memória é alocada ou liberada de acordo com o necessário. A conversão entre tipos de variáveis é feita automaticamente em tempo de execução e conversões ilegais são erros fatais.
Pontos Fortes
Perl é muito portátil (multiplataforma);
Perl é excelente para manipulação de textos e arquivos;
Perl é uma Linguagem de programação de alto nível, tirando do programador muitas preocupações referentes a aspectos mais baixos;
A linguagem Perl foi criada e desenvolvida com o ideal de Software livre. Esse aspecto tornou-se uma característica intrínseca e os programadores contam com uma ampla comunidade, que ajuda no desenvolvimento e manutenção da linguagem e dos códigos. Exemplo disso é a CPAN, Comprehensive Perl Archive Network (rede de repositórios de Perl). Este repositório possui mais de 100 mil módulos para Perl, bem como suas documentações.
Pontos Fracos
Scripts escritos em Perl são bem mais lentos que os de outras linguagens compiladas, isto é devido a existência do interpretador;
Um pequeno código PERL é capaz de realizar muitas ações. Em termos de linguagem de programação, isso geralmente significa que o código será difícil de ler e penoso de escrever;
Scripts escritos em Perl permitem a visualização do código fonte, impedindo os programadores de esconder o código.
Perl não possibilita o acesso a funções de baixo nível, reduzindo a liberdade do programador nestes tipos de caso.
Resumo
Sua interface de integração com banco de dados (DBI e DBIx::Class) suporta muitos bancos de dados, incluindo Oracle, Sybase, PostgreSQL, MySQL e outros
Perl tem módulos para trabalhar com HTML, XML, e outras linguagens de markup
Perl suporta Unicode
Perl permite programação procedural e orientada a objetos
Perl pode acessar bibliotecas externas em C/C++ através de XS ou SWIG
Perl é extensível. Existem milhares de módulos disponíveis no Comprehensive Perl Archive Network (CPAN)
O interpretador Perl pode ser embutido em outros sistemas
Perl e a World Wide Web
Perl é conhecida como o "Canivete Suíço da Internet";
O módulo Perl CGI.pm, que faz parte da distribuição padrão, serve como script do lado do servidor
Perl pode manipular dados criptografados, incluindo transações de comércio eletrônico;
mod perl permite que o servidor web Apache possa interpretar códigos Perl diretamente;
O pacote DBI do Perl faz com que a integração com banco de dados seja muito simples. E com pacote DBIx::Class, utiliza-se orientação a objetos para trabalhar diretamente com bancos de dados;
Existe um Web Framework (servidores web) chamado Catalyst que é feito em Perl, bastante utilizado;
Portabilidade
Perl é uma linguagem que já foi portada para diversos sistemas operacionais;
Tipos de dados
O Perl tem uma série de tipos de dados fundamentais, porém é considerada uma linguagem não tipada, ou seja, as variáveis não são restringidas a usar um único tipo. Os mais utilizados são: escalar, vetor (array), hash (vetor associativo), handle de um arquivo e sub-rotinas.
Escalar: é um valor único, que pode ser um número, uma string ou uma referência. É declarada com um '$', como:
$num = 34;
$nome = "joe";
$pi = 3.14;
Array: é um conjunto sequencial ordenado de escalares. O índice inicial de uma variável array é zero (0). É declarada com um '@', como:
@numeros = (1,2,3);
Hash: Um hash, ou array associativo, é um mapeamento (ou seja, chaves de referências) de strings para escalares. Representa uma coleção de pares de chave/valor. São declarados com um '%', como:
%hash = (1,"a",2,"b",3,"c");
Handle: é um mapeamento para um arquivo, dispositivo ou pipe, que é aberto para leitura, escrita, ou ambos
Sub-rotina: é um trecho de código que pode ser executado, para o qual podem ser passados argumentos, e do qual podem ser recebidos resultados
Exemplos de código
A primeira linha de um código em Perl deve sempre começar com o shebang:
# !/usr/bin/perl
Esta linha informa onde está localizado o compilador do Perl e pode variar de sistema para sistema.
Programa Olá Mundo!
# !/usr/bin/perl
print "Olá, Mundo!\n";
Comentário
# Isto é um comentário em Perl
=begin
Este é um comentário
de múltiplas linhas
em Perl
=cut
Note o ponto e vírgula no final de cada expressão. Assim como em C e C++, Perl exige que o usemos para indicar o final de uma expressão. A última linha é a que apaga o arquivo. unlink equivale a 'rm' e $0 é uma referência simples ao arquivo que está sendo executado.
Expressão regular - Filtro
Um dos pontos fortes de Perl é o eficiente uso de expressões regulares no tratamento de textos e arquivos. Identificamos essas expressões pelos delimitadores "/.../", ou seja, tudo o que estiver entre essas barras será tratado como um pattern (padrão) para ser encontrado em determinado texto.
O programa a seguir lê um texto e busca exatamente a expressão "foo":
while(<>) {
/foo/;
print;
}
Assim como as expressões regulares de Linguagens Regulares, Perl admite alguns símbolos especiais que facilitam a descrição de um padrão. São eles:
"."
"*"
"?"
"+"
"[" e "]"
"(" e ")"
"{" e "}"
"^"
"$"
"|"
"\"
Se quisermos utilizar o real significado de um desses símbolos, basta colocarmos uma barra invertida exatamente antes do mesmo.
O código abaixo busca o padrão assim descrito: nenhum ou muitos '+' seguido de um ou nenhum 'b'
while (<>) {
/\+*b?/
print;
}
É possível obter o mesmo resultado com uma única linha (um "one-liner"):
perl -pi -e '/\+*b?/' arquivo.txt
De fato, é comum a ocorrência de problemas que exigem dezenas de linhas em outras linguagens de programação mas que podem ser resolvidos com uma única linha de código em Perl, especialmente na área de ETL.
Strings
Em Perl, strings podem ser descritas com aspas duplas ou simples, porém estas descrevem a string literalmente, enquanto aquelas interpretam símbolos de código. Exemplificando, as duas linhas de código a seguir resultam em saídas diferentes:print "Hello World!\n";
print 'Hello World!\n'; Saída:
Hello World!
Hello World!\n
Na primeira linha, com aspas duplas, o símbolo \n é interpretado como uma quebra de linha, enquanto, na segunda linha, o símbolo é impresso literalmente.
Estruturas de controle
Perl tem as estruturas básicas esperadas em qualquer linguagem de programação:
if
while
for
until
Perl tira boas ideias de linguagens naturais, como a possibilidade de inverter a ordem dos elementos em uma frase. Por exemplo:
if ($DEBUG) {
print "ouch!";
}
Pode ser reescrita como:
print "ouch!" if $DEBUG;
Laço For
O laço for em Perl segue o mesmo estilo da linguagem C, inicializando uma variável, determinando seu limite e o passo do incremento. O código abaixo é um exemplo de for em Perl, imprimindo, a cada iteração, o valor da variável i, indo de 0 a 5.for ($i=0; $i<5; $i++){
print "$i\n";
}
Módulos e frameworks
Perl conseguiu reunir módulos, classes, scripts e frameworks desenvolvidos pela comunidade em um só lugar, este lugar chama-se CPAN, repositório onde encontra-se quase tudo já desenvolvido para a linguagem:
Catalyst (software) - Framework MVC para aplicações Web
DBIx::Class - Modelo de mapeamento Objeto Relacional
Template Toolkit - Sistema de processamento de templates
WWW::Mechanize - Simula um navegador Web em um objeto Perl
POE - Framework para aplicações multitarefa e em rede portáveis
Interpretador Perl
Se você está num sistema Linux (ou a maioria dos sistemas UNIX, incluindo Mac Os X), provavelmente já há uma instalação do compilador Perl incluída no seu sistema. Digite o seguinte comando no terminal para descobrir qual versão você tem instalada:
perl -v
Aplicações
TWiki - Sistema Wiki de escrita de conteúdo colaborativo
RT - Sistema de processamento de Tickets
Apache Spam Assassin - Sistema extensível de filtro de Spam em email
dvd::rip - Programa para cópias de DVD
AWStats - "Advanced Web Statistics" (AWStats) é um sistema de análise de logs de servidores Web e de geração de estatísticas
DuckDuckGo - Motor de busca com a filosofia de não registrar as informações do usuário.
Comunidade
Um dos pontos mais fortes da linguagem Perl é a comunidade de usuários em todo o mundo. Segundo a tradição internacional, esses grupos são denominados Perl Mongers.
Um grande ponto de encontro da comunidade é o YAPC. YAPCs são encontros promovidos pela comunidade para discutir coisas sobre Perl, os encontros podem ter caráter regional ou nacional. No Brasil ocorre uma vez por ano o YAPC::Brasil "Encontro Brasileiro de Programadores Perl".
Em 2009 o YAPC::Brasil aconteceu de 29 de outubro a 1 de novembro em Niterói, Rio de Janeiro. Em 2010 o evento ocorreu de 25 a 31 de outubro em Fortaleza, Ceará. Em 2013, o evento ocorreu nos dias 15 e 16 de Novembro, em Curitiba, Paraná. Em 2014, o evento foi realizado em Itapema, Santa Catarina, nos dias 19 e 20 de Setembro.
Ver também
PHP
Python
Ruby (linguagem de programação)
Bibliografia
Livro: PERL Guia de Consulta Rápida, Autor: Décio Jr., Editora Novatec, ISBN 85-85184-80-9
Ligações externas
Timeline da Linguagem Perl (em português brasileiro)
Linguagens de script
Linguagens interpretadas
Compiladores e interpretadores livres
Web
Software livre
Ferramentas de programação para Unix |
Alexandre foi o cognome adoptado por vários Papas:
006 Santo Alexandre I ~ (105-115)
158 Papa Alexandre II ~ (1061-1073)
172 Papa Alexandre III ~ (1159-1181)
183 Papa Alexandre IV ~ (1254-1261)
210 Papa Alexandre V ~ (1409-1410) (considerado oficialmente pela Igreja Católica como Antipapa Alexandre V, mas o papa seguinte manteve a numeração) Frade Franciscano
221 Papa Alexandre VI ~ (1492-1503)
244 Papa Alexandre VII ~ (1655-1667)
248 Papa Alexandre VIII ~ (1689-1691)
Desambiguação |
064 Papa Gregório I (590-604)
089 Papa Gregório II (715-731)
090 Papa Gregório III (731-741)
102 Papa Gregório IV (827-844) O.S.B.
140 Papa Gregório V (996-999)
150 Papa Gregório VI (1045-1046)
159 Papa Gregório VII (1073-1085) O.S.B.
175 Papa Gregório VIII (1187) O. Præm
180 Papa Gregório IX (1227-1241)
186 Papa Gregório X (1271-1276) O.Cist.
203 Papa Gregório XI (1370-1378)
209 Papa Gregório XII (1406-1415)
233 Papa Gregório XIII (1572-1585)
236 Papa Gregório XIV (1590]-1591)
241 Papa Gregório XV ([1621-1623)
261 Papa Gregório XVI (1831-1846) O.S.B.Cam.
Antipapas
Antipapa Gregório VI (1012)
Antipapa Gregório VIII (1118-1121)
Antipapa Gregório XVII (1978-2005) — Clemente Domínguez y Gómez, autoproclamado papa
Desambiguação |
Pio foi o cognome adoptado por vários papas católicos:
Come pios
010 São Pio I ~ (140-155)
217 Papa Pio II ~ (1458-1464)
222 Papa Pio III ~ (1503)
231 Papa Pio IV ~ (1559-1565)
232 São Pio V ~ (1566-1572) O.P.
257 Papa Pio VI ~ (1775-1799)
258 Papa Pio VII ~ (1800-1823) O.S.B.
260 Papa Pio VIII ~ (1829-1830)
262 Beato Pio IX ~ (1846-1878)
264 São Pio X ~ (1903-1914)
266 Papa Pio XI ~ (1922-1939)
267 Papa Pio XII ~ (1939-1958)
Earl Lucian Pulvermacher, O.F.M. Cap., declarou-se Papa Pio XIII em 1998, sendo considerado antipapa pelos católicos.
Desambiguação |
Nicolau foi o cognome escolhido por vários papas católicos:
106 São Nicolau I, Magnus ~ (858-867)
157 Papa Nicolau II ~ (1058-1061)
190 Papa Nicolau III ~ (1277-1280) O.S.B.
193 Papa Nicolau IV ~ (1288-1292) O.F.M.
215 Papa Nicolau V ~ (1447-1455) O.P.
Houve também um antipapa Nicolau V ~ (1328 - 1330)
Pode também estar à procura do Teste de Papanicolau.
Desambiguação |
A paca (nome cientifico: Cuniculus paca) é uma espécie de roedor da família Cuniculidae. Anteriormente era denominada Agouti paca.
Sendo um animal de grande porte, que perde por tamanho apenas para a capivara, sendo considerada assim o segundo maior roedor do Brasil.
A paca não é classificada como espécie em extinção, porém no Estado do Paraná ela está classificada como "Em perigo de extinção" desde 2007. Esse desaparecimento da espécie da região pode estar relacionado principalmente à fragmentação dos remanescentes florestais e caça ilegal para comercialização da carne.
Etimologia
O termo "paca" se origina do nome tupi para o animal, paka, que também significa "vigilante, desperto, sempre atento".
Distribuição geográfica e habitat
A paca pode ser encontrada desde a América Central, até a América do Sul, desde a Bacia do Rio Orinoco até o Paraguai. Seu habitat natural são floretas tropicais, é adepta a locais úmidos preferencialmente rios ou riachos estreitos.Por ser um animal terrestre, a paca costuma cavar buracos no chão para ser usados como toca, ou procura buracos naturais podendo também utilizar pedras em regiões rochosas como "casa", mas sempre se preocupando em criar saídas de emergência caso se sinta ameaçada.
Características
Sendo um animal de hábitos noturnos, apresentam colorações de variados tons, pele dura e pelos eriçados. Com cores que vão do cinza-escura ao vermelho, e sempre com manchas brancas na lateral do corpo. Possuindo quatro dedos nas patas dianteiras e cinco nas traseiras, com unhas afiadas, favorecendo sua pegada em solos umedecidos e em beiras de rios e lagos.
Sua cauda é minúscula. A paca possui dentes que nunca param de crescer, para que não passem dos limites, ela os desgasta roendo arvores como por exemplo o eucalipto que é arvore com tronco duro e a goiabeira.
Animal muito veloz quando corre, principalmente para fugir de predadores, pois possui pernas grandes e fortes, muita agilidade e muito fôlego. Seu peso varia de 6 a 12 kg, tendo alguns machos que podem chegar ate a 15 kg. Possui faro, audição e visão aguçados, para que possam caminhar com facilidade à noite. A olho nu é difícil distinguir o sexo da paca, pois suas genitálias ficam dentro de um saco, independente do sexo.
Alimentação do animal
A paca é um animal noturno(ou seja, a paca dorme durante o dai e fica ativa pela noite) e herbívoro sua dieta é a base de frutas, folhas, vegetais, sementes e raízes. Destas, foi observado sua preferência em cativeiro e na natureza.
Na natureza, a paca se alimenta de frutas da estação como Banana, Goiaba, Manga, Jaca, Mandioca, Abacate, Cajá- mirim entre outros. Costumeiramente ela visita "fruteiras" e plantações de milho de sítio e fazendas para se alimentar.
Em cativeiro, a dieta da paca é mais rica e variada, englobando a maioria das frutas e legumes, hortaliças, tubérculos e cereais. Após experimentos, viu-se também sua adaptação com ração de equinos.
Criação
Quanto aos criadores de pacas no Brasil, devem seguir a normas estabelecidas pelo IBAMA, tendo em vista o bem-estar animal previsto na Declaração universal dos direitos dos animais, privando o animal de fatores nocivos para sua vida como estresse, medo, angustia, aflição entre outros.
Há espalhados no Brasil vários criatórios de paca, sendo uns somente da espécie e outros mistos com espécies nativas, como Cateto, Capivara, Ema e Cutia.
Para começar a criação é preciso definir o propósito, podendo ser para comercialização do animal vivo, comercialização da carne, para soltura de animais na natureza ou todos estes juntos. Para cada finalidade, existe uma taxa a ser paga ao IBAMA.
Ainda no pré projeto para a criação da paca, é preciso verificar se tem suporte necessário para atingir o que é previsto pelas leis do bem-estar animal, em que não se deve negar locações e necessidades básicas para a sobrevivência do animal. Para isso é importante ser providenciado tanques ou piscinas, para que o animal tenha o mais próximo de seu habitat e traga conforto ao mesmo, tendo em mente que a paca gosta de ambientes úmidos e que tenham bastante água.
Deve ser pensando também em caixa-ninho, para que o animal tenha a possibilidade de realizar o ato do acasalamento no período determinado. Isso deve ser projetado de forma intensiva ou semi-intensiva, ou seja, com galpões divididos em espaços para os animais ficarem tranquilos para a reprodução.
Todo esse processo precisa sempre ser acompanhado por um zootecnista ou um medico veterinário para realizar acompanhamentos de todos os exames necessários.
Comportamento
Estando sempre em alerta, a paca é extremamente tímida e levando uma vida solitária de outras espécies. Para sair de noite a paca é bem meticulosa e cuidadosa evitando ao máximo lugares desconhecidos, normalmente ela percorre por caminhos feitos antes pela mesma que são chamados de "vareda" ou "carreiro". São também rotas de fuga para sua toca, esconderijos, lagos e rios. Elas chegam a trilhar 14km por noite a procura de alimento. A paca é o tipo de animal que não se esquece facilmente, exemplo disso é que a mesma tem a capacidade de se lembrar do local da fonte do seu alimento, indo todos os dias no mesmo horário até que a fonte de alimento se acabe.
Por seu comportamento cauteloso, a paca é muito cuidadosa quando se trata de predadores. Ao se sentir ameaçada elas mergulham nos rios ou lagos, como são excelentes nadadoras e por terem um fôlego surpreendente, a mesma consegue ficar por muito tempo submersa e em casos de emergência ou extremos utilizam "sulapas" (bolsões de ar dentro da terra, com acesso somente por dentro d'água) para se proteger.
Por ser um animal com hábitos noturnos, ela só sai a procura de alimento quando a noite está bem escura, para que isso ocorra a mesma tem uma sincronia perfeita as fases da lua.
Estudos foram feitos em mamíferos noturnos, em especial marsupiais, roedores, lagomorfos, carnívoros, morcegos e primatas, tendo analisado que existe uma chamada "fobia lunar" em todas essas espécies, fazendo com que o animal saia apenas em fases que haja pouca luminosidade ou nenhuma. A fase de lua nova é a mais promissora para a saída da paca, sendo também a lua minguante, crescente e com a menor frequência sendo com a lua cheia.
Caça
Mesmo não sendo permitido, a caça de qualquer animal é crime no Brasil. Entretanto caçadores espalhados por todo o pais continuam com essa prática nas sombras.
A caça é feita de modo estudada e cuidadosa, geralmente os caçadores usam táticas para mudança de hábitos do animal, como por exemplo alimentando o animal em um ponto especifico para que vire habito do mesmo, e então quando a presa está fácil inicia o processo de captura. Vale lembrar que essa prática não é legal e é feita sem nenhuma supervisão.
Reprodução
A paca tem geralmente filhos de uma a duas vezes por ano, dando a luz na maioria dos casos apenas a um filhote, e em casos raros podem vir gêmeos. O seu tempo de gestação é de aproximadamente 114 a 119 dias (3 meses). Sendo uma gestação demorada.
Segundo profissionais, o animal tem apenas uma relação sexual por ano e o numero reduzido de filhotes por conta de um "espinho" peniano presente no macho, em razão disso, a fêmea sente dor e não vontade de cruzar. Outra possibilidade que enquanto está amamentando, a paca não permite que o macho chegue perto da mesma. Tendo o período de cio 5 dias após o nascimento da cria.
Normalmente, vivem aproximadamente 15 anos de idade, e pode se chegar aos 18, mas isso vai depender do ambiente que está envolvida, sendo natural ou artificial.
Para fins econômicos, donos de cativeiros podem usar de técnicas para forçar a paca a ter mais de uma cria por ano. É feito de maneira em que após o nascimento, a cria é retirada de perto da mãe, para que o macho possa se aproximar para a realização do acasalamento. Após a ato a cria é devolvida para a fêmea para ser cuidada de forma que possa crescer saudável. Sendo essa técnica de para se obter mais crias ao ano.
Cuniculidae
Mamíferos do Brasil
Fauna do Ceará
Mamíferos descritos em 1766
Mamíferos da Bahia |
Uma placa-mãe (também chamada de mainboard, placa de circuito principal, mb, mboard, backplane board, base board, system board, placa de sistema (somente em computadores Apple) ou mobo) é a placa de circuito impresso principal (PCB) em computadores de uso geral e outros sistemas expansíveis. Ele contém e permite a comunicação entre muitos dos componentes eletrônicos cruciais de um sistema, como a unidade central de processamento (CPU) e a memória, além de fornecer conectores para outros periféricos. Ao contrário de um backplane, uma placa-mãe geralmente contém subsistemas significativos, como o processador central, os controladores de entrada/saída e memória do chipset, conectores de interface e outros componentes integrados para uso geral.
Motherboard significa especificamente um PCB com capacidade de expansão. Como o nome sugere, esta placa é muitas vezes referida como a "mãe" de todos os componentes conectados a ela, que geralmente incluem periféricos, placas de interface e placas filhas: placas de som, placas de vídeo, placas de rede, adaptadores de barramento de host, placas sintonizadoras de TV, cartões IEEE 1394; e uma variedade de outros componentes personalizados.
Da mesma forma, o termo placa-mãe descreve um dispositivo com uma única placa e sem expansões ou recursos adicionais, como placas de controle em impressoras a laser, aparelhos de televisão, máquinas de lavar, telefones celulares e outros sistemas integrados com capacidade de expansão limitada.
Hstória
Antes da invenção do microprocessador, o computador digital consistia em várias placas de circuito impresso em uma caixa de cartão com componentes conectados por um backplane, um conjunto de soquetes interconectados. Em designs muito antigos, os fios de cobre eram as conexões discretas entre os pinos do conector do cartão, mas as placas de circuito impresso logo se tornaram a prática padrão. A unidade central de processamento (CPU), memória e periféricos foram alojados em placas de circuito impresso individualmente, que foram conectadas ao backplane. O onipresente barramento S-100 da década de 1970 é um exemplo desse tipo de sistema de backplane.
Os computadores mais populares da década de 1980, como o Apple II e o IBM PC, publicaram diagramas esquemáticos e outras documentações que permitiram uma rápida engenharia reversa e placas-mãe de substituição de terceiros. Normalmente destinadas à construção de novos computadores compatíveis com os exemplares, muitas placas-mãe ofereciam desempenho adicional ou outros recursos e eram usadas para atualizar o equipamento original do fabricante.
Durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, tornou-se econômico mover um número crescente de funções periféricas para a placa-mãe. No final dos anos 1980, as placas-mãe dos computadores pessoais começaram a incluir ICs únicos (também chamados de chips Super I/O) capazes de suportar um conjunto de periféricos de baixa velocidade: teclado e mouse PS/2, unidade de disquete, portas seriais e portas paralelas. No final da década de 1990, muitas placas-mãe de computadores pessoais incluíam funções integradas de áudio, vídeo, armazenamento e rede de consumo sem a necessidade de qualquer placa de expansão; sistemas de ponta para jogos 3D e computação gráfica normalmente retinha apenas a placa gráfica como um componente separado. PCs empresariais, estações de trabalho e servidores eram mais propensos a precisar de placas de expansão, seja para funções mais robustas ou para velocidades mais altas; esses sistemas geralmente tinham menos componentes incorporados.
Os laptops e notebooks desenvolvidos na década de 1990 integravam os periféricos mais comuns. Isso incluía até mesmo placas-mãe sem componentes atualizáveis, uma tendência que continuaria à medida que sistemas menores fossem introduzidos após a virada do século (como o tablet e o netbook). Memória, processadores, controladores de rede, fonte de energia e armazenamento seriam integrados em alguns sistemas.
Design
Uma placa-mãe fornece as conexões elétricas pelas quais os outros componentes do sistema se comunicam. Ao contrário de um backplane, ele também contém a unidade central de processamento e hospeda outros subsistemas e dispositivos.
Um computador de mesa típico tem seu microprocessador, memória principal e outros componentes essenciais conectados à placa-mãe. Outros componentes, como armazenamento externo, controladores para exibição de vídeo e som e dispositivos periféricos, podem ser conectados à placa-mãe como placas plug-in ou por meio de cabos; nos microcomputadores modernos, é cada vez mais comum integrar alguns desses periféricos na própria placa-mãe.
Um componente importante de uma placa-mãe é o chipset de suporte do microprocessador, que fornece as interfaces de suporte entre a CPU e os vários barramentos e componentes externos. Este chipset determina, até certo ponto, os recursos e capacidades da placa-mãe.
Placas-mãe modernas incluem:
Soquetes de CPU (ou slots de CPU) nos quais um ou mais microprocessadores podem ser instalados. No caso de CPUs em pacotes ball grid array, como o VIA Nano e o Goldmont Plus, a CPU é soldada diretamente na placa-mãe
Os slots de memória nos quais a memória principal do sistema deve ser instalada, geralmente na forma de módulos DIMM contendo chips DRAM podem ser DDR3, DDR4, DDR5, ou integrado LPDDRx.
O chipset que forma uma interface entre a CPU, a memória principal, e os barramentos periféricos
Chips de memória não voláteis (geralmente Flash ROM em placas-mãe modernas) contendo o firmware ou BIOS do sistema
O gerador de clock que produz o sinal de clock do sistema para sincronizar os vários componentes
Slots para placas de expansão (a interface com o sistema através dos barramentos suportados pelo chipset)
Conectores de alimentação, que recebem energia elétrica da fonte de alimentação do computador e a distribuem para a CPU, chipset, memória principal e placas de expansão. A partir de 2007, algumas placas gráficas (por exemplo, GeForce 8 e Radeon R600) exigem mais energia do que a placa-mãe pode fornecer e, portanto, conectores dedicados foram introduzidos para conectá-los diretamente à fonte de alimentação
Conectores para unidades de disco rígido, unidades de disco óptico ou unidades de estado sólido, geralmente SATA e NVMe agora.
Além disso, quase todas as placas-mãe incluem lógica e conectores para suportar dispositivos de entrada comumente usados, como USB para dispositivos de mouse e teclados. Os primeiros computadores pessoais, como o Apple II ou o IBM PC, incluíam apenas esse suporte periférico mínimo na placa-mãe. Ocasionalmente, o hardware da interface de vídeo também era integrado à placa-mãe; por exemplo, no Apple II e raramente em computadores compatíveis com IBM, como o IBM PC Jr. Periféricos adicionais, como controladores de disco e portas seriais, foram fornecidos como placas de expansão.
Dado o alto poder de design térmico das CPUs e componentes de computador de alta velocidade, as placas-mãe modernas quase sempre incluem dissipadores de calor e pontos de montagem para que os ventiladores dissipem o excesso de calor.
Fator de forma
As placas-mãe são produzidas em uma variedade de tamanhos e formatos chamados de fatores de forma, alguns dos quais são específicos para fabricantes de computadores individuais. No entanto, as placas-mãe usadas em sistemas compatíveis com IBM são projetadas para caber em vários tamanhos de gabinete. A partir de 2005, a maioria das placas-mãe de computadores desktop usam o fator de forma padrão ATX - mesmo aquelas encontradas em computadores Macintosh e Sun, que não foram construídas a partir de componentes comuns. O fator de forma da placa-mãe e da unidade de fonte de alimentação (PSU) de um gabinete deve corresponder, embora algumas placas-mãe de fator de forma menor da mesma família caibam em gabinetes maiores. Por exemplo, um gabinete ATX geralmente acomoda uma placa-mãe microATX. Os laptops geralmente usam placas-mãe altamente integradas, miniaturizadas e personalizadas. Esta é uma das razões pelas quais os laptops são difíceis de atualizar e caros de consertar. Freqüentemente, a falha de um componente do laptop requer a substituição de toda a placa-mãe, que geralmente é mais cara do que uma placa-mãe de desktop.
Soquetes de CPU
Um soquete de CPU (unidade central de processamento) ou slot é um componente elétrico que se conecta a uma placa de circuito impresso (PCB) e é projetado para abrigar uma CPU (também chamada de microprocessador). É um tipo especial de soquete de circuito integrado projetado para contagens de pinos muito altas. Um soquete de CPU fornece muitas funções, incluindo uma estrutura física para suportar a CPU, suporte para um dissipador de calor, facilitar a substituição (além de reduzir custos) e, o mais importante, formar uma interface elétrica tanto com a CPU quanto com a PCB. Os soquetes de CPU na placa-mãe podem ser encontrados com mais frequência na maioria dos computadores desktop e servidores (laptops normalmente usam CPUs de montagem em superfície), particularmente aqueles baseados no Intel x86 arquitetura. O tipo de soquete da CPU e o chipset da placa-mãe devem suportar a série e a velocidade da CPU.
Periféricos integrados
Com a redução constante dos custos e tamanho dos circuitos integrados, agora é possível incluir suporte para muitos periféricos na placa-mãe. Combinando muitas funções em um PCB, o tamanho físico e o custo total do sistema podem ser reduzidos; placas-mãe altamente integradas são, portanto, especialmente populares em computadores de fator de forma pequeno e de baixo custo.
Controladores de disco para unidades SATA e unidades PATA históricas.
Controlador de disquete histórico
Controlador gráfico integrado com suporte a gráficos 2D e 3D, com saída VGA, DVI, HDMI, DisplayPort e TV
placa de som integrada com suporte para áudio de 8 canais (7.1) e saída S/PDIF
Controlador de rede Ethernet para conexão a uma LAN e para receber Internet
Controlador USB
Controlador de interface de rede sem fio
Controlador Bluetooth
Sensores de temperatura, tensão e velocidade do ventilador que permitem que o software monitore a integridade dos componentes do computador.
Slots de cartão periférico
Uma placa-mãe típica terá um número diferente de conexões, dependendo de seu padrão e fator de forma.
Uma placa-mãe ATX padrão e moderna normalmente possui duas ou três conexões PCI-Express x16 para uma placa gráfica, um ou dois slots PCI herdados para várias placas de expansão e um ou dois PCI-E x1 (que substituiu o PCI). Uma placa-mãe EATX padrão terá de duas a quatro conexões PCI-E x16 para placas gráficas e um número variável de slots PCI e PCI-E x1. Às vezes, também pode ter um slot PCI-E x4 (varia entre marcas e modelos).
Algumas placas-mãe possuem dois ou mais slots PCI-E x16, para permitir mais de 2 monitores sem hardware especial, ou usam uma tecnologia gráfica especial chamada SLI (para Nvidia) e Crossfire (para AMD). Estes permitem que 2 a 4 placas gráficas sejam ligadas entre si, para permitir um melhor desempenho em tarefas de computação gráfica intensiva, como jogos, edição de vídeo, etc.
Em placas-mãe mais novas, os slots M.2 são para SSD e/ou controlador de interface de rede sem fio.
Temperatura e confiabilidade
As placas-mãe geralmente são resfriadas a ar com dissipadores de calor geralmente montados em chips maiores nas placas-mãe modernas. Resfriamento insuficiente ou impróprio pode causar danos aos componentes internos do computador ou causar falhas. O resfriamento passivo, ou um único ventilador montado na fonte de alimentação, era suficiente para muitas CPUs de computadores desktop até o final dos anos 1990; desde então, a maioria exigiu ventiladores de CPU montados em dissipadores de calor, devido ao aumento da velocidade do clock e do consumo de energia. A maioria das placas-mãe tem conectores para ventiladores de computador adicionais e sensores de temperatura integrados para detectar as temperaturas da placa-mãe e da CPU e conectores de ventilador controláveis que o BIOS ou o sistema operacional podem usar para regular a velocidade do ventilador. Como alternativa, os computadores podem usar um sistema de resfriamento a água em vez de muitos ventiladores.
Alguns computadores de fator de forma pequeno e PCs de home theater projetados para operação silenciosa e com baixo consumo de energia apresentam designs sem ventilador. Isso normalmente requer o uso de uma CPU de baixo consumo de energia, bem como um layout cuidadoso da placa-mãe e de outros componentes para permitir a colocação do dissipador de calor.
Um estudo de 2003 descobriu que algumas falhas espúrias de computador e problemas gerais de confiabilidade, variando de distorções de imagem de tela e erros de leitura/gravação de E/S, podem ser atribuídos não a software ou hardware periférico, mas a capacitores antigos nas placas-mãe do PC. Em última análise, isso foi mostrado como resultado de uma formulação de eletrólito defeituosa, um problema denominado praga do capacitor.
As placas-mãe modernas usam capacitores eletrolíticos para filtrar a energia DC distribuída pela placa. Esses capacitores envelhecem a uma taxa dependente da temperatura, à medida que seus eletrólitos à base de água evaporam lentamente. Isso pode levar à perda de capacitância e subsequente mau funcionamento da placa-mãe devido a instabilidades de tensão. Embora a maioria dos capacitores seja classificada para 2.000 horas de operação a 105 °C (221 °F), sua vida útil esperada dobra aproximadamente para cada 10 °C (18 °F) abaixo disso. A 65 °C (149 °F), pode-se esperar uma vida útil de 3 a 4 anos. No entanto, muitos fabricantes fornecem capacitores abaixo do padrão, que reduzem significativamente a expectativa de vida. Resfriamento inadequado do gabinete e temperaturas elevadas ao redor do soquete da CPU agravam esse problema. Com ventiladores superiores, os componentes da placa-mãe podem ser mantidos abaixo de 95 °C (203 °F), dobrando efetivamente a vida útil da placa-mãe.
Placas-mãe de gama média e alta, por outro lado, usam exclusivamente capacitores sólidos. Para cada 10 °C a menos, sua vida útil média é multiplicada aproximadamente por três, resultando em uma expectativa de vida útil 6 vezes maior a 65 °C (149 °F). Esses capacitores podem ser classificados para 5.000, 10.000 ou 12.000 horas de operação a 105 °C (221 °F), estendendo a vida útil projetada em comparação com capacitores sólidos padrão.
Em desktops e notebooks, as soluções de resfriamento e monitoramento da placa-mãe geralmente são baseadas em Super I/O ou Embedded Controller.
Bootstrapping
As placas-mãe contêm uma ROM (e posteriormente EPROM, EEPROM, NOR flash) para inicializar dispositivos de hardware e carregar um sistema operacional de um dispositivo periférico. Microcomputadores como o Apple II e o IBM PC usavam chips ROM montados em soquetes na placa-mãe. Ao ligar, a unidade central do processador carregaria seu contador de programa com o endereço da ROM de inicialização e começaria a executar as instruções da ROM de inicialização. Essas instruções inicializaram e testaram o hardware do sistema, exibiram as informações do sistema na tela, executaram verificações de RAM e carregaram um sistema operacional de um dispositivo periférico. Se nenhum estiver disponível, o computador executará tarefas de outros armazenamentos de ROM ou exibirá uma mensagem de erro, dependendo do modelo e design do computador. Por exemplo, tanto o Apple II quanto o IBM PC original tinham IBM Cassette BASIC (ROM BASIC) e iniciariam se nenhum sistema operacional pudesse ser carregado a partir do disquete ou disco rígido.
A maioria dos projetos de placas-mãe modernas usa um BIOS, armazenado em um chip EEPROM ou NOR flash soldado ou encaixado na placa-mãe, para inicializar um sistema operacional. Quando o computador é ligado, o firmware do BIOS testa e configura a memória, os circuitos e os periféricos. Este autoteste de inicialização (POST) pode incluir o teste de algumas das seguintes coisas:
Placa de vídeo
Placas de expansão inseridas em slots, como PCI convencional e PCI Express
Unidade de disquete histórica
Temperaturas, tensões e velocidades do ventilador para monitoramento de hardware
Memória CMOS usada para armazenar a configuração do BIOS
Teclado e Mouse
Placa de som
Adaptador de rede
Unidades ópticas: CD-ROM ou DVD-ROM
Unidade de disco rígido e unidade de estado sólido
Dispositivos de segurança, como um leitor de impressão digital
Dispositivos USB, como um dispositivo de armazenamento em massa USB
Muitas placas-mãe agora usam um sucessor do BIOS chamado UEFI. Tornou-se popular depois que a Microsoft começou a exigir que um sistema fosse certificado para executar o Windows 8.
Ver também
Peripheral Component Interconnect (PCI)
PCI-X
PCI Express (PCIe)
Accelerated Graphics Port (AGP)
M.2
Bateria CMOS
Placa de expansão
Basic Input/Output System (BIOS)
Unified Extensible Firmware Interface (UEFI)
Overclocking
Single-board computer
Fonte de alimentação de modo comutado
Multiprocessamento simétrico
Ligações externas
The Making of a Motherboard: ECS Factory Tour
The Making of a Motherboard: Gigabyte Factory Tour
Front Panel I/O Connectivity Design Guide - v1.3 (pdf file)
Terminologia informática
IBM PC compatíveis |
P (pê, plural "pês" ou "pp") é a décima sexta letra do alfabeto latino básico.
História
O semítico Pê, assim como a letra grega Π ou π e as letras etruscas e latinas que se desenvolveram a partir do antigo alfabeto, todas simbolizavam /p/, uma oclusiva bilabial surda.
Significados do vocábulo p
Símbolo químico do fósforo
Uma letra p em negrito e itálico é usada em notação musical como um indicador de som com intensidade baixa
Usos
P é a décima quarta letra mais usada no português, com uma frequência de 2,52%. Também é usada na cifra fonética Língua do P, que consiste em acrescentar a letra p antes ou depois de cada sílaba, havendo variações.
Bibliografia
Alfabeto latino |
Os polímeros são compostos por macromoléculas, obtidos através de reação química de polimerização de compostos simples denominados monômeros, que dá origem aos polímeros. Os processos de polimerização foram dividos por Flory (1953) e Carothers (Mark 1940), em dois grupos: polimerização por condensação e polimerização por adição; em outras palavras: reação gradual e reação em cadeia. Na formação de polímeros, a Condensação ou reação gradual ocorre entre duas moléculas polifuncionais para produzir uma molécula polifuncional maior, com a eliminação de sub-produtos como a água. A polimerização por adição ou reação em cadeia envolve reações nas quais o transportador de corrente pode ser um íon ou uma substância reativa com um elétron não emparelhado chamado: radical livre. Um radical livre é dominado pela decomposição de um material relativamente instável chamado iniciador. O radical livre é capaz de reagir para abrir a ligação dupla de um monômero e adicionar a ele, um elétron que permanece inalterado. Durante um tempo muitos outros monômeros se adicionam sucessivamente à cadeia crescente ate, finalmente, dois radicais livres reagem para encerrar a atividade de crescimento e formar uma ou mais moléculas de polímero.
Reação de Polimerização
Polímeros de adição: Polímeros formados através de uma reação de adição, a partir de um único tipo de monômero.
Polietileno - Polipropileno - PVC - Neopreno - Borracha natural - Borracha fria - Orlon - Teflon
Polímeros de condensação:
Polímeros formados através de uma reação de condensação, a partir de dois diferentes tipos de monômeros, bi ou trifuncionais, com eliminação de uma molécula pequena, geralmente a água ou HCl.
Amido - Celulose - Proteínas
Técnicas de Polimerização
A preparação de qualquer composto químico, até mesmo um polímero, requer condições para que se atinjam resultados satisfatórios dos produtos desejados, com o mínimo de sub-produtos. Tanto em laboratório quanto na indústria,é necessário conhecer as características físicas e químicas do material, para poder avaliar qual a rota sintética e as condições experimentais mais convenientes.
As técnicas de polimerização podem ser distribuídas em dois tipos de sistema: homogêneo e heterogêneo. Esses dois grupos representam condições atuantes bem diferentes, tanto a nível de laboratório quanto escala industrial. As técnicas que empregam o sistema homogêneo são: polimerização em massa (ou bloco) e polimerização em solução. As técnicas que empregam o sistema heterogêneo são: polimerização em emulsão, polimerização em suspensão, polimerização interfacial e polimerização em fase gasosa.
Sistema Homogêneo
Polimerização em Massa (ou Bloco)
A polimerização em massa, é amplamente praticada na fabricação de polímeros de condensação, onde as reações são ligeiramente exotérmicas e a maior parte da reação ocorre quando a viscosidade da mistura ainda é suficientemente baixa para permitir a mistura, transferência de calor e eliminação de bolhas. O controle de tais polimerizações é relativamente fácil. Utiliza monômero e iniciador, sem diluente, e a reação ocorre em meio homogêneo e não há formação de sub-produtos no meio reacional.
A polimerização em massa dos monômeros de vinil é mais difícil, visto que as reações são altamente exotérmicas e, procedem a uma taxa que depende fortemente da temperatura. Juntamente com o problema na transferência de calor decorrente, porque a viscosidade aumenta no início da reação, leva a dificuldade de controle e uma tendência para a heterogeneidade no tamanho das moléculas formadas; o peso molecular do polímero pode chegar a valores muito elevados.
Polimerização em Solução
A polimerização em solução utiliza, além do monômero e do iniciador organos-solúvel, um solvente que atua tanto sobre os reagentes quanto sobre o polímero. A reação ocorre em meio homogêneo, sem a formação de sub-produtos e a iniciação é feita por agente químico. A polimerização é vantajosa do ponto de vista da remoção de calor e controle, mas tem duas desvantagens em potencial. Sendo em primeiro: o solvente deve ser selecionado com cuidado para evitar a transferência de corrente; em segundo: o polímero deve ser utilizado em solução e alguns acabamentos de éster acrílico, visto que a remoção completa do solvente de um polímero é muitas vezes difícil ao ponto de inviabilidade.
Essa técnica comparada à polimerização em massa, provoca o retardamento da reação graças ao efeito diluente do solvente; o controle de temperatura é favorecido, já que a viscosidade do meio é relativamente baixa e há uniformidade das condições de polimerização.
Sistema Heterogêneo
Polimerização em Emulsão
A polimerização em emulsão utiliza um iniciador hidrossolúvel, um solvente (geralmente água) e um emulsificante, alem do monômero. Na polimerização estão presentes duas fases líquidas não miscíveis, uma fase aquosa contínua e uma fase descontínua não aquosa constituída por monômero e polímero. O iniciador está localizado na fase aquosa, e as partículas de monômero-polímero são bastante pequenas, da ordem de 0,1 μm de diâmetro. A cinética da polimerização em emulsão é diferente da polimerização em massa (ou bloco), para qual uma limitação é definida. Com esta limitação removida, os sistemas de emulsão permitem que o polímero de maior peso molecular seja produzido a altas taxas do que os sistemas de massa ou de suspensão.
O tamanho da partícula emulsionada varia entre 1nm a 1mm. Os pesos moleculares são elevados, da ordem de
Polimerização em Suspensão
A polimerização em suspensão utiliza, além do monômero, um iniciador organos-solúvel, um solvente (normalmente água) e um espessante (orgânico ou inorgânico) para manter a dispersão. A reação ocorre em meio heterogêneo e a iniciação é feita por agente químico. Além desses componentes, é comum encontrar-se ainda outros aditivos.
Na polimerização, o sistema aquoso tem-se o monômero como uma fase dispersa, resultando em polímero como uma fase sólida dispersa. O processo reuni as vantagens das técnicas em massa e em emulsão, porem distingui pela localização do iniciador e da cinética.
A técnica em suspensão é muito usada para poliadições, resultando um polímero com tamanho de partícula superior ao obtido por emulsão e é preferida na fabricação de polímeros industriais.
Polimerização Interfacial
Essa técnica é aplicada a policondensação e exige pelo menos dois monômeros. É procedida na interface de dois solventes, cada um contendo um dos monômeros. Para a ocorrência dessa técnica, a reação deve ser rápida, como a formação de poliuretanos a partir de dissociantes e dióis. Outra ocorrência é a partir da reação de Schotten-Baumann, para a separação de policarbonatos; nesse caso o meio deve conter uma base, para deter o acido clorídrico eliminado.
A renovação da interface onde ocorre a reação é feita por: remoção lenta e continua do polímero precipitado entre as camadas, agitação produzindo as gotículas dispersas na superfície, formação de um filamento.
Polimerização em Fase Gasosa
Essa técnica de polimerização é empregada para a poliadição de monômeros gasosos (etileno e propileno), com iniciadores de coordenação de alta eficiência (acima de 98%, sistemas catalíticos de Ziegler-Natta), mantidos sob a forma de partículas, em leito fluidizado, contínuo.
Nos processos em fase gasosa e em pasta, os catalisadores devem ser suportados numa substância adequada, enquanto que podem ser adicionados diretamente na polimerização em solução. O polímero é formado nos locais ativos do catalisador em uma partícula de polímero catalítico gradualmente expansível e é o centro ativo em cada partícula. O monômero gasoso fresco difunde-se através da partícula de polímero para atingir o local ativo.
As técnicas de processamento em fase gasosa e em pasta são utilizadas principalmente para a produção de poliolefinas, como HDPE.
Química orgânica
Reações químicas
Polímeros |
República do Pampa, República dos Pampas (ou Movimento pela Independência do Pampa) é um movimento separatista, não organizado e pacífico, com o objetivo de autodeterminação do estado do Rio Grande do Sul. Foi iniciado pelo político e jornalista brasileiro Irton Marx, em 18 de fevereiro de 1990. Na época, a Polícia Federal brasileira apreendeu todo o material publicitário relacionado ao movimento, que já contava com setecentas comissões em municípios na região sul do Brasil, tendo um livro e uma bandeira publicados.
Precedentes e motivos
A ideia de se criar um estado independente no Rio Grande do Sul vem da época em que houve a Revolução Farroupilha, quando as províncias de São Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina formaram as repúblicas Rio-Grandense e Juliana, as quais nunca alcançaram emancipação legítima de fato. É importante ressaltar que os motivos que inspiraram a Revolução Farroupilha não foram os mesmos que inspiram o movimento da República dos Pampas. Marx assinala que o Tratado do Ponche Verde, que trouxe fim à Revolução Farroupilha, não teria extinguido a independência do Rio Grande do Sul, e evidência disso seria a bandeira do estado, que traz a inscrição "República Rio-Grandense". O idealizador do movimento se baseia ainda na autonomia, segundo ele de jure, do Rio Grande do Sul.
O movimento da República dos Pampas se deve às diferenças (ou uma percepção coletiva delas) nos aspectos culturais e econômicos do Rio Grande do Sul em relação ao resto do Brasil, além de um suposto mal tratamento dado pela União ao estado gaúcho e à corrupção no governo federal brasileiro.
Ver também
Movimentos separatistas no Brasil
Separatismo
O Sul É o Meu País
História do Brasil
Ligações externas
Página do Movimento Pampa Live (independência do Rio Grande do Sul e formação da República Rio-Grandense)
História do Brasil Republicano
História do Rio Grande do Sul |
Paris () é a capital e a mais populosa cidade da França, com uma população estimada em 2020 de habitantes em uma área de 105 quilômetros quadrados. Desde o século XVII, Paris é um dos principais centros de finanças, diplomacia, comércio, moda, ciência e artes da Europa. A cidade de Paris é o centro e sede de governo da região administrativa de Ilha de França, que tem uma população estimada em 2020 de habitantes, ou cerca de 18% da população da França. Em 2017, a região de Paris teve um PIB de 709 bilhões de euros. De acordo com a Pesquisa de Custo de Vida da Economist Intelligence Unit em 2018, Paris era a segunda cidade mais cara do mundo, atrás apenas da Singapura e à frente de Zurique, Hong Kong, Oslo e Genebra.
Abrangendo numerosos monumentos e por conta de seu considerável papel político e econômico, Paris é também uma importante cidade na história do mundo. Sua posição numa encruzilhada entre os itinerários comerciais terrestres e fluviais no coração de uma rica região agrícola a tornou uma das principais cidades francesas ao longo do , beneficiada com palácios reais, ricas abadias e uma catedral. Ao longo do , tornou-se um dos primeiros focos europeus do ensino e da arte. A importância econômica e política de Paris foi reforçada quando os Reis de França e a corte fixaram-se na cidade. Assim, Paris se converteu em uma das mais importantes cidades de todo o mundo ocidental, na capital da maior potência política europeia (), no centro cultural da Europa () e na capital da arte e do lazer ().
Paris é a capital econômica e comercial da França, onde os negócios da Bolsa e das finanças se concentram. A densidade da sua rede ferroviária, rodoviária e da sua estrutura aeroportuária — um hub da rede aérea francesa e europeia — fazem-na um ponto de convergência para os transportes internacionais. A cidade abriga dois aeroportos internacionais: o Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, o segundo aeroporto mais movimentado da Europa, e o Aeroporto de Paris-Orly. Inaugurado em 1900, o metrô da cidade, o Metropolitano de Paris, atende 5,23 milhões de passageiros diariamente; é o segundo sistema de metrô mais movimentado da Europa, superado pelo metrô de Moscou. A Gare du Nord é a 24.ª estação ferroviária mais movimentada do mundo, porém a primeira localizada fora do Japão, com 262 milhões de passageiros em 2015.
Em 2018, Paris recebeu 16,8 milhões de turistas, sendo a oitava cidade mais visitada do mundo naquele ano, assim como a segunda cidade da Europa, depois de Londres. O clube de futebol Paris Saint-Germain e o clube de rugby Stade Français estão sediados em Paris. O Stade de France, com 81 mil lugares, construído para a Copa do Mundo FIFA de 1998, está localizado ao norte da cidade, na comuna vizinha de Saint-Denis. Paris organiza anualmente o torneio Grand Slam de tênis. Sediou os Jogos Olímpicos de Verão de 1900 e 1924, devendo sediar o de 2024. Paris também foi a cidade-sede das Copas do Mundo FIFA de 1938 e 1998, a Copa do Mundo de Rugby Union de 2007 e o Campeonato Europeu de Futebol de 1960, 1984 e 2016. A competição de ciclismo de estrada Tour de France finaliza-se em Paris em todo mês de julho.
Etimologia
Paris deve seu nome aos Parísios, um povo gaulês que habitava a região antes da chegada dos romanos. Após conquistá-los, os romanos rebatizaram seu assentamento como "Lutécia dos Parísios" (). Ao longo do , essa denominação, aos poucos, deu lugar ao nome atual. Os Parísios também emprestaram seu nome a algumas outras vilas da região, tais como Villeparisis, Cormeilles-en-Parisis, e Fontenay-en-Parisis.
Paris é frequentemente chamada de "cidade das luzes" (La Ville Lumière), tanto por conta de seu papel de liderança durante a Era do Iluminismo quanto mais literalmente porque Paris foi uma das primeiras grandes cidades europeias a usar a iluminação pública a gás em grande escala em seus bulevares e monumentos. Em 1829, luzes de gás foram instaladas na Place du Carrousel, Rue de Rivoli e Place Vendôme. Em 1857, as grandes avenidas foram acesas. Na década de 1860, as avenidas e ruas de Paris eram iluminadas por 56 mil lâmpadas de gás.
História
Origens
Os parísios, uma sub-tribo dos Sênones celtas, habitavam a área atualmente compreendida como Paris por volta de meados do . Uma das principais rotas comerciais norte-sul da região atravessava o Sena na Ilha da Cidade; este local de encontro de rotas comerciais tornou-se gradualmente um importante centro comercial. Os Parísios negociaram com muitas cidades fluviais (algumas tão distantes quanto a Península Ibérica) e cunharam suas próprias moedas para esse propósito.
Os romanos conquistaram a Bacia de Paris em e começaram seu assentamento na margem esquerda de Paris. A cidade romana era originalmente chamada de Lutécia ou Lutécia dos Parísios (). Tornou-se uma cidade próspera com um fórum, termas, templos, teatros e um anfiteatro.
No final do Império Romano do Ocidente, a cidade era conhecida como Parísio, um nome latino que mais tarde se tornaria Paris em francês. O cristianismo foi introduzido em meados do por São Dionísio, o primeiro bispo de Paris: segundo a lenda, quando Dionísio se recusou a renunciar à sua fé diante dos ocupantes romanos, foi decapitado na colina que ficou conhecida como Monte do Martírio (Mons Martyrum), mais tarde Montmartre, de onde andou sem sua cabeça para o norte da cidade; o local onde caiu e foi enterrado se tornou um importante santuário religioso, a Basílica de São Dionísio, onde muitos reis franceses estão enterrados.
Clóvis, o primeiro rei da Dinastia merovíngia, fez da cidade sua capital a partir de 508. Quando o domínio franco da Gália começou, houve uma imigração gradual dos francos para Paris e nasceram os dialetos francófonos parisienses. A fortificação da Ilha da Cidade não conseguiu evitar o saque pelos viquingues em 845, mas a importância estratégica de Paris—com suas pontes que impediam a passagem de navios—foi estabelecida por uma defesa bem-sucedida no cerco de Paris (885-86), pelo qual o então conde de Paris, Eudo de França, foi eleito rei da Frância Ocidental. Da dinastia capetiana iniciada com a eleição de 987 de Hugo Capeto, conde de Paris e duque dos francos, como rei de uma Frância unificada, Paris gradualmente se tornou a maior e mais próspera cidade da França.
Idade Média a Luís XIV
No final do , Paris havia se tornado a capital política, econômica, religiosa e cultural da França. O Palais de la Cité, a residência real, ficava no extremo oeste da Ilha da Cidade. Em 1163, durante o reinado de , Maurício de Sully, bispo de Paris, empreendeu a construção da Catedral de Notre Dame na extremidade oriental da cidade.
Depois que o pântano entre o rio Sena e o seu mais lento "braço morto" ao norte foi preenchido por volta do , o centro cultural de Paris começou a se mudar para a margem direita. Em 1137, um novo mercado da cidade (hoje Les Halles de Paris) substituiu os dois menores na Ilha da Cidade e na Place de la Grève (Hotel de Ville).
No final do , Filipe II de França estendeu a fortaleza do Louvre para defender a cidade contra invasões de rios do oeste, deu à cidade suas primeiras muralhas entre 1190 e 1215, reconstruiu suas pontes para ambos os lados da ilha central e pavimentou suas principais vias. Em 1190, Filipe II transformou a antiga escola catedral de Paris no que se tornaria a Universidade de Paris e atrairia estudantes de toda a Europa.
Com 200 mil habitantes em 1328, Paris, à época já capital da França, era a cidade mais populosa da Europa. Londres, em comparação, tinha 80 mil em 1300. Durante a Guerra dos Cem Anos, Paris foi ocupada pelas forças da Borgonha, aliada da Inglaterra, a partir de 1418, antes de ser ocupada pelos ingleses quando Henrique V de Inglaterra entrou na capital francesa em 1420; apesar de um esforço em 1429 por Joana d'Arc para libertar a cidade, esta permaneceu sob ocupação inglesa até ser libertada por Carlos VII em 1436.
Nas Guerras religiosas na França do final do , Paris era uma fortaleza da Liga Católica, responsável por organizar o Massacre da noite de São Bartolomeu em 24 de agosto de 1572, no qual milhares de protestantes franceses foram mortos. Os conflitos terminaram quando o pretendente ao trono Henrique IV, depois de se converter ao catolicismo e conseguir entrar na cidade em 1594, reivindicou a coroa francesa. Henrique fez várias melhorias na capital durante seu reinado: concluiu a construção da primeira ponte descoberta e revestida de calçada de Paris, a Pont Neuf, construiu uma extensão do Louvre, conectando-o ao Palácio das Tulherias, e criou a primeira praça residencial de Paris, a Place Royale, agora Place des Vosges. Apesar dos esforços de Henrique para melhorar a circulação da cidade, a estreiteza das ruas de Paris foi um fator que contribuiu para seu assassinato perto do mercado Les Halles em 1610.
Durante o , o Cardeal de Richelieu, ministro-chefe de Luís XIII, estava determinado a fazer de Paris a cidade mais bonita da Europa. Construiu cinco novas pontes, uma nova capela para o Colégio de Sorbonne e um palácio para si, o Cardeal Palais, que legou a Luís XIII. Após a morte de Richelieu em 1642, o palácio foi renomeado para Palais-Royal.
Devido às revoltas parisienses durante a guerra civil de Fronda, Luís XIV mudou sua corte para um novo palácio, Versalhes, em 1682. Embora não fosse mais a capital da França, as artes e as ciências da cidade floresceram com a Comédie-Française, a Academia de Pintura e a Academia Francesa de Ciências. Para demonstrar que a cidade estava a salvo de ataques, o rei demoliu as muralhas da cidade e as substituiu por bulevares arborizados que se tornariam os atuais Grands Boulevards. Outras marcas de seu reinado foram o Collège des Quatre-Nations, o Place Vendôme, o Place des Victoires e o Hôtel des Invalides.
Séculos XVIII e XIX
A população de Paris cresceu de cerca de 400 mil habitantes em 1640 para 650 mil em 1780. Uma nova avenida, a Champs-Élysées, estendeu a cidade a oeste de Étoile, enquanto o bairro Faubourg Saint-Antoine, no leste da cidade e habitado pela classe trabalhadora, ficava cada vez mais lotado de trabalhadores pobres que migravam de outras regiões da França.
Paris foi o centro de uma explosão de atividades filosófica e científica conhecida como Era do Iluminismo. Diderot e d'Alembert publicaram sua Encyclopédie em 1751, e os Irmãos Montgolfier lançaram o primeiro voo tripulado em um balão de ar quente em 1783, dos jardins do Castelo de la Muette. Paris era a capital financeira da Europa continental, o principal centro europeu de publicação de livros, de moda e de fabricação de móveis finos e artigos de luxo.
No verão de 1789, Paris se tornou o palco central da Revolução Francesa. Em 14 de julho, uma multidão apreendeu o arsenal de Invalides, adquirindo milhares de armas, e invadiu a Bastilha, um símbolo da autoridade real. A primeira Comuna de Paris independente, ou conselho da cidade, reuniu-se no Hôtel de Ville e, em 15 de julho, elegeu um prefeito, o astrônomo Jean Sylvain Bailly.
Luís XVI e a família real foram trazidos para Paris e feitos prisioneiros no Palácio das Tulherias. Em 1793, quando a revolução se tornou cada vez mais radical, o rei, a rainha e o prefeito foram guilhotinados (executados) no Reino do Terror, juntamente com mais de 16 mil pessoas em toda a França. A propriedade da aristocracia e da igreja foi nacionalizada, e as igrejas da cidade foram fechadas, vendidas ou demolidas. Uma sucessão de facções revolucionárias governou Paris até 9 de novembro de 1799, quando Napoleão Bonaparte tomou o poder como primeiro cônsul.
A população de Paris havia diminuído 100 mil habitantes durante a Revolução, mas entre 1799 e 1815 aumentou em 160 mil novos residentes, chegando a 660 mil. Napoleão substituiu o governo eleito de Paris por um prefeito que reportava apenas a si próprio. Também passou a erguer monumentos para a glorificação militar, incluindo o Arco do Triunfo, e melhorou a infra-estrutura negligenciada da cidade com novas fontes, o Canal de l'Ourcq, o Cemitério do Père-Lachaise e a primeira ponte metálica da cidade, a Pont des Arts.
Durante a Restauração, as pontes e praças de Paris foram devolvidas aos seus nomes pré-Revolução, mas a Revolução de Julho de 1830 em Paris trouxe um monarca constitucional, Luís Filipe I, ao poder. A primeira linha ferroviária para Paris foi inaugurada em 1837, iniciando um novo período de migração maciça das províncias para a cidade. Luís Filipe foi derrubado por uma revolta popular nas ruas de Paris em 1848. Seu sucessor, Napoleão III, e o recém-nomeado prefeito do Sena, Georges-Eugène Haussmann, lançaram um gigantesco projeto de obras públicas para construir novas avenidas, uma nova casa de ópera, um mercado central, novos aquedutos, canos de esgoto e parques, incluindo o Bois de Boulogne e o Bois de Vincennes. Em 1860, Napoleão III também anexou as cidades vizinhas e criou oito novos arrondissements, expandindo Paris aos seus limites atuais.
Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), Paris foi sitiada pelo exército prussiano. Após meses de bloqueio, fome e bombardeio pelos prussianos, a cidade foi forçada a se render em 28 de janeiro de 1871. Em 28 de março, um governo revolucionário chamado Comuna de Paris tomou o poder em Paris. A Comuna manteve o poder por dois meses, até que foi severamente reprimida pelo exército francês durante a "Semana Sangrenta", no final de maio de 1871.
No final do , Paris sediou duas grandes exposições internacionais: a Exposição Universal de 1889, realizada para marcar o centenário da Revolução Francesa e apresentar a nova Torre Eiffel; e a Exposição Universal de 1900, que deu a Paris a Ponte Alexandre III, o Grand Palais, o Petit Palais e a primeira linha do Metropolitano de Paris. Na mesma época, Paris tornou-se o laboratório do naturalismo (Émile Zola) e do simbolismo (Charles Baudelaire e Paul Verlaine), assim como do impressionismo na arte (Courbet, Manet, Monet e Renoir).
Séculos XX e XXI
Em 1901, a população de Paris havia crescido para . No início do século, artistas de todo o mundo, incluindo Pablo Picasso, Modigliani e Henri Matisse, fizeram de Paris sua casa. Foi o berço do fauvismo, cubismo e da arte abstrata, e autores como Marcel Proust estavam explorando novas abordagens para a literatura.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Paris às vezes se encontrou na linha de frente do conflito; entre 600 a táxis de Paris tiveram um pequeno papel, mas altamente importante do ponto de vista simbólico, ao transportarem 6 mil soldados para a linha de frente na Primeira Batalha do Marne. A cidade também foi bombardeada por zepelins e por armas de longo alcance alemãs. Nos anos após a guerra, conhecidos como Les Années Folles, Paris continuou sendo uma meca para escritores, músicos e artistas de todo o mundo, incluindo Ernest Hemingway, Igor Stravinsky, James Joyce, Josephine Baker, Allen Ginsberg e o surrealista Salvador Dalí.
Nos anos seguintes à Conferência de Paz de Paris, a cidade agricou um número crescente de estudantes e ativistas de colônias francesas e outros países asiáticos e africanos, que mais tarde se tornaram líderes de seus países de origem, como Ho Chi Minh, Zhou Enlai e Léopold Sédar Senghor.
Em 14 de junho de 1940, o exército alemão marchou para Paris, que foi declarada como uma "cidade aberta". De 16 a 17 de julho de 1942, seguindo ordens alemãs, a polícia e os gendarmes franceses prenderam judeus, incluindo crianças, e os confinaram durante cinco dias no Rafle du Vélodrome d'Hiver, de onde foram transportados de trem para o campo de concentração de Auschwitz; nenhuma das crianças voltou. Em 25 de agosto de 1944, a cidade foi libertada pela 2.ª Divisão Blindada Francesa e pela 4.ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos. O general Charles de Gaulle liderou uma enorme e emotiva multidão pelos Campos Elísios em direção a Notre Dame de Paris e proferiu um inflamado discurso do Hôtel de Ville.
Nas décadas de 1950 e 1960, Paris se tornou uma frente da Guerra de Independência Argelina; em agosto de 1961, a FLN, pró-independência, atacou e matou 11 policiais de Paris, levando à imposição de um toque de recolher aos muçulmanos da Argélia (que na época eram cidadãos franceses). Em 17 de outubro de 1961, uma manifestação não autorizada, mas pacífica, de argelinos contra o toque de recolher levou a violentos confrontos entre a polícia e manifestantes, nos quais pelo menos 40 pessoas foram mortas, incluindo algumas jogadas no Sena. A anti-independência Organisation Armée Secrète, por sua vez, realizou uma série de atentados em Paris ao longo de 1961 e 1962.
Em maio de 1968, estudantes ocuparam a Sorbonne e colocaram barricadas no Quartier Latin. Milhares de trabalhadores parisienses de colarinho azul se juntaram aos estudantes, e o movimento se transformou em uma greve geral de duas semanas. Os eventos de maio de 1968 no país resultaram na divisão da Universidade de Paris em 13 campi independentes. Em 1975, a Assembleia Nacional mudou o status de Paris para o de outras cidades francesas e, em 25 de março de 1977, Jacques Chirac se tornou o primeiro prefeito eleito da cidade desde 1793. A população de Paris caiu de em 1954 para em 1990, quando famílias da classe média se mudaram para os subúrbios. Uma rede ferroviária suburbana, o RER, foi construída para complementar o metrô, e a via expressa Périphérique que circunda a cidade foi concluída em 1973.
A maioria dos presidentes do pós-guerra, período conhecido como Quinta República, buscaram deixar suas marcas em Paris; Georges Pompidou iniciou o Centre Georges Pompidou (1977), Valéry Giscard d'Estaing deu início ao Musée d'Orsay (1986); President François Mitterrand, no poder por 14 anos, construiu a Ópera da Bastilha (1985–1989), o novo local da Biblioteca Nacional da França (1996), o Arche de la Défense (1985–1989), e a pirâmide do Louvre, com seu pátio subterrâneo (1983–1989); Jacques Chirac (2006), o Museu do Quai Branly.
Entre julho e outubro de 1995, uma série de bombardeios realizados pelo Grupo Islâmico Armado da Argélia causou 8 mortes e mais de 200 feridos. O atentado mais mortífero ocorreu na estação de metro de Saint-Michel-Notre Dame, em 25 de julho daquele, onde foram registradas as 8 mortes.
No início do , a população de Paris começou a aumentar lentamente novamente, à medida que mais jovens se mudaram para a cidade; em 2012 atingiu cerca de 2,2 milhões de habitantes. Em 2001, Bertrand Delanoë se tornou o primeiro prefeito socialista. Em 2007, em um esforço para reduzir o tráfego de carros na cidade, Delanoë lançou o Vélib', um sistema de aluguel de bicicletas para o uso de moradores e visitantes.
Em 7 de janeiro de 2015, dois extremistas muçulmanos franceses atacaram a sede do Charlie Hebdo em Paris e mataram treze pessoas, em um ataque reivindicado pela Al-Qaeda na Península Arábica e em 9 de janeiro, um terceiro terrorista, que alegou ser parte do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), matou quatro reféns durante um ataque a um supermercado judeu em Porte de Vincennes. Em 11 de janeiro, cerca de 1,5 milhão de pessoas marcharam em Paris em uma demonstração de solidariedade contra o terrorismo e em apoio à liberdade de expressão. Em 13 de novembro do mesmo ano, uma série de ataques terroristas coordenados em Paris e Saint-Denis foram reivindicados pelo ISIS e causaram a mais de mais de 100 pessoas.
Geografia
Paris está localizada no norte da França central, ao norte do rio Sena, que inclui duas ilhas, a Île Saint-Louis e a Île de la Cité, que formam a parte mais antiga da cidade. A foz do rio no Canal da Mancha (La Manche) fica a 375 km a jusante da cidade. A cidade está espalhada amplamente nas duas margens do rio. No geral, Paris é relativamente plana e o ponto mais baixo fica 35 m acima do nível do mar. A cidade tem várias colinas proeminentes, a mais alta das quais é Montmartre, a 130 m.
Excluindo os parques periféricos de Bois de Boulogne e Bois de Vincennes, Paris cobre uma área oval medindo cerca de 87 km² de área, cercada pelo anel viário de 35 km, o Boulevard Périphérique. A última grande anexação de territórios periféricos da cidade em 1860 não apenas lhe deu sua forma moderna, mas também criou os 20 arrondissements em espiral no sentido horário (bairros municipais). Da área de km de 78 km², os limites da cidade foram expandidos marginalmente para 86,9 km² na década de 1920. Em 1929, os parques florestais de Bois de Boulogne e Bois de Vincennes foram oficialmente anexados à cidade, elevando sua área a cerca de 105 km². A área metropolitana da cidade tem 2 300 km².
Dum e doutro lado do rio, o relevo apresenta várias formações isoladas de gipsita que formam pequenas colinas. Na margem direita: Montmartre (131 metros de altitude), com ponto culminante no Cimetière du Calvaire; Belleville (128,5 metros), com ponto culminante na Rue du Télégraphe; Ménilmontant (108 metros); Buttes-Chaumont (103 metros); Passy (71 metros); e Chaillot (67 metros). Sobre a margem esquerda: Montparnasse (66 metros); Butte-aux-Cailles (63 metros); e Montagne Sainte-Geneviève (61 metros). A cidade de Paris com 105 km² ocupa o 113º lugar dentre as comunas da França metropolitana em área. Por outro lado, a unidade urbana de Paris, como se diz da própria cidade mais a sua aglomeração urbana periférica, cobre uma superfície de 2 723 km² reunindo habitantes repartidos, em 1999, dentre 396 comunas da Île-de-France.
Hidrografia
O Sena corta a cidade formando um arco, entrando pelo sudeste e saindo pelo sudoeste. Mais de trinta pontes permitem a travessia do curso fluvial, que é igualmente atravessado por dois outros cursos d'água: o Bièvre, que vem do sul de Paris, hoje em dia inteiramente subterrâneo; e o canal Saint-Martin, inaugurado em 1825, com comprimento de 4,5 quilómetros. Este canal é parcialmente subterrâneo desde a rue du Faubourg-du-Temple até a Bastille e constitui a parte terminal do canal de l'Ourcq, de 108 quilómetros de comprimento, que entra na cidade pelo nordeste. O canal Saint-Martin alimenta a bacia de Villette, passa sob a Place de la Bastille antes de se juntar ao Sena num curso acima da île Saint-Louis, após o porto do Arsenal. Um canal dele se divide na bacia de Villette na direção de Saint-Denis, o canal Saint-Denis, de 4,5 quilómetros de comprimento, aberto em 1821. O canal Saint-Denis deságua no Sena rio abaixo, evitando cortar a cidade.
Geologia
A Bacia parisiense forma um grande conjunto de estratos sedimentares sucessivos. É um dos primeiros lugares que serviram de objeto duma carta geológica, inspirando homens como Georges Cuvier que firmaram as bases de numerosas teorias em geologia tais como a paleontologia e a anatomia comparada. Constituída há 41 milhões de anos, trata-se uma bacia marinha epicontinental em repouso sobre um maciço datando do Paleozoico, nomeadamente, o Maciço de Vosges, o Maciço Central e o Maciço Armoricano. Com a formação dos Alpes, a bacia se deformou mas continuou aberta para o Canal da Mancha e para o Oceano Atlântico. Assim se prefiguraram as futuras bacias fluviais do Loire e do Sena. Ao final do Oligoceno, a bacia parisiense se torna continental.
Em 1911, Paul Lemoine mostra que a bacia é composta de estratos dispostos em depressões concêntricas. Mais tarde, os estudos se aprofundaram na coleta de dados sísmicos; perfurações e poços permitiram desenhar cartas sísmicas precisas. Estes mesmos confirmam a disposição dos estratos em depressões concêntricas mas com objetos complexos, como as falhas. As formações do relevo parisiense se situam nos estratos do Mesozoico e do Paleogeno (era terciária) e foram elaboradas pela erosão. O primeiro estrato datando da era terciária é constituído de aluviões do Sena de época moderna. Os depósitos mais antigos são de areia e de argila datando do estágio do Ypresiano presentes no 16º arrondissement de Auteuil até Trocadéro. Mas o estágio mais conhecido é o Lutetiano, rico em gipsita e em calcário.
O subsolo parisiense se caracteriza pela presença de numerosas pedreiras de calcário, gipsita e pedra de mó. Algumas foram usadas como catacumbas e formam o ossário do conselho, do qual uma parte está aberta ao público. O calcário foi explorado até o sobre a margem esquerda, da Place d'Italie até Vaugirard. Hoje em dia, a sua extração está deslocada mais para o Oise, em Saint-Maximin por exemplo. A exploração da gipsita era muito ativa em Montmartre e em Bagneux. A hidrogeologia é muito influenciada pela urbanização. O Rio Bièvre, pequeno afluente do Sena que um dia modelou toda a margem esquerda, foi coberto no por razões higiênicas. Numerosos riachos subterrâneos estão presentes no subsolo parisiense, como os de Auteuil, os quais fornecem uma fonte de água subterrânea para a cidade. O riacho albienne é o mais conhecido da região e tem sido explorado por Paris desde 1841 pelos poços artesianos de Grenelle.
Parques
Hoje, Paris possui mais de 421 parques e jardins municipais, cobrindo mais de três mil hectares e contendo mais de 250 mil árvores. Dois dos jardins mais antigos e famosos de Paris são o Jardim das Tulherias (criado em 1564 para o Palácio das Tulherias e refeito por André Le Nôtre entre 1664 e 1672) e o Jardim de Luxemburgo, para o Palácio de Luxemburgo, construído para Maria de Médici em 1612, que hoje abriga o Senado. O Jardin des plantes foi o primeiro jardim botânico de Paris, criado em 1626 pelo médico de Luís XIII, Guy de La Brosse, para o cultivo de plantas medicinais.
Entre 1853 e 1870, o imperador Napoleão III e o primeiro diretor de parques e jardins da cidade, Jean-Charles Alphand, criaram os Bois de Boulogne, Bois de Vincennes, Parc Montsouris e Parc des Buttes-Chaumont, localizados nos quatro pontos cardeais pela cidade, bem como muitos parques, praças e jardins menores nos bairros de Paris. Desde 1977, a cidade criou 166 novos parques, principalmente o Parc de la Villette (1987), Parc André Citroën (1992), Parc de Bercy (1997) e Parc Clichy-Batignolles (2007). Um dos mais novos parques, a Promenade des Berges de la Seine (2013), construída em uma antiga rodovia na margem esquerda do Sena, entre a Ponte de l'Alma e o Musée d'Orsay, possui jardins flutuantes e oferece vistas dos marcos da cidade. Corridas semanais ocorrem no Bois de Boulogne e no Parc Montsouris.
Meio ambiente e clima
Como todas as grandes metrópoles do planeta, Paris sofre as consequências ambientais ligadas à escalada da sua população e da sua atividade económica. Paris é a capital de maior densidade populacional da Europa. Os espaços verdes são poucos e de baixa biodiversidade, apesar dos parques e jardins que tem sido criados no curso das duas últimas décadas a fim de paliar essa carência. A poluição atmosférica e a poluição sonora constituem problemas de saúde pública; por esse motivo, criaram-se redes de monitoramento de poluição. Para melhorar a qualidade do ar, a cidade decidiu proibir automóveis com matrícula anterior a outubro de 1997 de circular nos finais de semana.
Entrando no domínio das anedotas, Paris possui uma reputação pouco gloriosa em matéria de dejetos caninos. Esses dejetos são considerados como a causa primária da sujeira da cidade pelos habitantes. Um estudo do Institut d'aménagement et d'urbanisme (IAU) publicado em 2019 sublinha que os preços da habitação levam os modestos a abandonar Paris e a instalar-se em departamentos vizinhos, como Seine-Saint-Denis, o que tende a provocar uma "gentrificação" da capital e uma pauperização dos departamentos vizinhos.
Paris tem um clima de tipo oceânico de transição: a influência oceânica é preponderante sobre a influência continental e se traduz em verões relativamente frios (18 °C em média) e invernos amenos (6 °C em média). Há chuvas frequentes em todas as estações e um tempo difícil de prever, mas a influência continental faz com que as chuvas sejam bem mais fracas (641 milímetros) do que na costa, independentemente das temperaturas, seja no coração do inverno ou no mais estafante verão. O desenvolvimento urbano provoca uma alta da temperatura assim como uma baixa do número de dias encobertos.
Demografia
A estimativa oficial da população da cidade de Paris era de habitantes em 1 de janeiro de 2019, de acordo com o INSEE, o órgão oficial de estatística do país. O resultado é um declínio de em relação a 2015. Em 2017, Paris era a cidade mais densamente habitada da Europa, com habitantes por quilômetro quadrado. A queda populacional foi atribuída em parte a uma menor taxa de natalidade, à saída de moradores de classe média e à possível perda de moradias na cidade por conta dos aluguéis destinados ao turismo.
Paris é o quarto maior município da União Europeia, depois de Berlim, Madri e Roma. O Eurostat, a agência de estatísticas da UE, põem Paris (com 6,5 milhões de pessoas) em segundo lugar, atrás de Londres (8 milhões) e à frente de Berlim (3,5 milhões), segundo projeções de 2012.
A população atual de Paris é inferior ao seu pico histórico de 2,9 milhões em 1921. As principais razões foram um declínio significativo no tamanho das famílias e uma migração dramática de moradores para os subúrbios entre 1962 e 1975. Os fatores para a migração incluíram desindustrialização, aluguéis caros, a gentrificação de muitos bairros, a transformação do espaço em escritórios e uma maior riqueza entre as famílias trabalhadoras. A perda populacional cessou temporariamente no início do século XXI; a estimativa de julho de 2004 mostrou um aumento populacional pela primeira vez desde 1954, e a população atingiu em 2009, antes de novamente diminuir um pouco em 2017.
Paris é o centro de uma área construída que se estende muito além de seus limites: comumente chamada de aglomeração parisiense e estatisticamente como uma unidade urbana, a população da aglomeração parisiense em 2019, de , a tornou a maior área urbana da União Europeia. Em 2015, a Área Metropolitana de Paris possuía habitantes, o que representava um quinto da população da França.
Desigualdade social
A alta contínua dos preços imobiliários explica a substituição progressiva das populações modestas ou intermediárias por uma nova classe mais abastada. Constata-se tal processo de gentrificação em numerosas outras metrópoles como Londres ou Nova Iorque. Em Paris, essa evolução vulgarizou o termo bobos (a partir de burguês-boêmio, termo ambíguo porém muito usado ao qual os sociólogos raramente fazem referência) antes de provocar uma mutação social de bairros ainda recentemente considerados como populares, tais como o 10º arrondissement ou certas comunas suburbanas próximas (e.g., Montreuil em Seine-Saint-Denis). Paris é a 12ª cidade francesa de mais de 20 mil habitantes em proporção de pessoas submetidas ao imposto solidário sobre a fortuna (ISF, um imposto sobre fortunas superiores a 790 mil euros), isto é, há 34,5 famílias contribuintes fiscais para cada . contribuintes declaravam um patrimônio médio de euros em 2006. O 16º arrondissement encabeça a lista em número de contribuintes, somando contribuintes.
Mas se Paris tem uma imagem de "cidades dos ricos", com uma proporção de classes sociais elevadas do que alhures, a sociologia do intra-muros permanece uma realidade de contrastes. Deve-se primeiro ressaltar que, segundo o índice de paridade de poder de compra (PPC), as receitas reais dos parisienses são muito inferiores às suas receitas nominais: de facto, o custo de vida no intra-muros (a começar pelo de moradia) é particularmente elevado, e os mesmos produtos custam geralmente mais caro em Paris que no interior. Além disso, as estatísticas de receitas médias frequentemente iludem o observador (como o ressaltou Joseph Stiglitz) pois qualquer receita muito alta (em jargão estatístico, outlier) pode aumentar exponencialmente a receita média da maioria da população. No caso parisiense, o limiar dos 10% de receitas mais altas (o 9º decil) explica em grande parte o alto nível de "receitas médias" da capital: a receita média desse limiar é de euros anuais. É por essa mesma razão que a receita mensal mediana dos parisienses é muito inferior à receita média.
As diferenças sociais são tradicionalmente marcadas entre os habitantes do oeste de Paris (essencialmente abastados) e os do leste. Assim, a receita média declarada no 7º arrondissement, a mais elevada, era de euros por contribuinte em 2001, isto é, mais do dobro da do 19º arrondissement que não passa de euros, valor próximo da mediana das receitas de Seine-Saint-Denis de euros. Os 6º, 7º, 8º e 16º arrondissements são classificados ao nível das dez comunas de Île-de-France em receita média mais elevada, enquanto que os 10º, 18º, 19º e 20º arrondissements estão ao nível das comunas mais pobres de Île-de-France. Nota-se enfim fortíssimas disparidades de receita no seio mesmo de todos arrondissements: a razão inter-decil (os 10% das receitas mais elevadas sobre os 10% das receitas mais baixas) menos significante é de 6,7 no 12º arrondissement, contra 13,0 no 2º arrondissement (que apresenta a mais forte dispersão de receitas). Numa perspectiva ampliada, Paris se classifica entre os departamentos da França metropolitana onde as famílias mais pobres têm as menores receitas (81º lugar), e apresenta uma razão interdecil de 10,5 o que a torna o departamento francês com as maiores disparidades sociais.
Religião
Os dados do censo francês não contêm informações sobre afiliação religiosa. De acordo com uma pesquisa realizada em 2011 pela IFOP, uma organização francesa de pesquisa de opinião pública, 61% dos residentes da região de Paris (Ilha de França) se identificaram como católicos romanos, apesar de 46% deles serem não praticantes. Na mesma pesquisa, 7% dos residentes se identificaram como muçulmanos, 4% como protestantes, 2% como judeus e 25% como sem religião. Segundo o INSEE, entre 4 e 5 milhões de residentes franceses nasceram ou tiveram pelo menos um dos pais nascidos em um país predominantemente muçulmano, principalmente na Argélia, no Marrocos e na Tunísia. Uma pesquisa do IFOP em 2008 relatou que, dos imigrantes desses países predominantemente muçulmanos, 25% iam à mesquita regularmente; 41% praticavam a religião e 34% eram não praticantes. Em 2012 e 2013, estimou-se que havia quase 500 mil muçulmanos na cidade de Paris, 1,5 milhão de muçulmanos na região da Ilha de França e 4 a 5 milhões de muçulmanos na França. A população judaica da região de Paris foi estimada em 2014 em 282 mil, a maior concentração de judeus no mundo fora de Israel e dos Estados Unidos.
Imigração
De acordo com o censo francês de 2012, moradores da cidade de Paris (26,2% do total), e da região de Paris (Ilha de França) (23,4%), nasceram fora da região metropolitana da França. Haviam nascido na França Ultramarina residentes da cidade e da região, sendo mais de dois terços dos quais nas Antilhas francesas. Este grupo não é considerado imigrante pois possuem nacionalidade francesa.
Nasceram em países estrangeiros, mas obtiveram cidadania francesa ao nascer, habitantes da cidade e da região. Tal grupo abrange muitos cristãos e judeus no norte da África que se mudaram para a França e Paris após a independência dos países que nasceram. O grupo restante, de pessoas nascidas em países estrangeiros sem cidadania francesa ao nascer, são aquelas definidas como imigrantes pela lei francesa. Segundo o censo de 2012, residentes da cidade de Paris eram imigrantes da Europa, eram do Magrebe, da África Subsaariana e Egito, da Turquia, da Ásia (fora da Turquia), das Américas e do Pacífico Sul.
Na região de Paris, moradores eram imigrantes da Europa, do Magrebe, da África Subsaariana e Egito, da Turquia, da Ásia (fora da Turquia), das Américas e do Pacífico Sul. Em 2012, havia cidadãos britânicos e norte-americanos morando na cidade de Paris (Ville de Paris) e britânicos e norte-americanos morando em toda a região de Paris (Île-de-France).
Habitação
As ruas residenciais mais caras de Paris em 2018, em preço médio por metro quadrado, foram a Avenue Montaigne (no 8º arrondissement), ao preço de 22 372 euros por metro quadrado, a Place Dauphine (1º arrondissement; 20 373 euros) e a Rue de Furstemberg (6º arrondissement; euros). O número total de residências na cidade em 2011 era de , acima do registrado em 2006, de . Destas, (85,9%) eram residências "principais", (6,8%) residências secundárias e 7,3% estavam vazias (abaixo dos 9,2% em 2006).
Em relação ao ano de construção, 62% das edificações datavam de 1949 ou antes disso, 20% foram construídos entre 1949 e 1974 e apenas 18% após essa data. Dois terços das 1,3 milhão de residências da cidade eram estúdios e apartamentos de dois quartos. Paris tinha uma média de 1,9 pessoas por residência, um número que permanece constante desde a década de 1980, mas é menor que a média de 2,33 pessoas por residência da Ilha de França. Ademais, a maior parte da população pagava aluguel.
Na noite de 8 a 9 de fevereiro de 2019, durante um período de clima frio, uma ONG de Paris realizou sua contagem anual de moradores de rua em toda a cidade. Ao todo, a organização contabilizou pessoas mendigos, dos quais 12% eram mulheres. Mais da metade estava desabrigada há mais de um ano. Moravam nas ruas ou parques pessoas, 298 nas estações de trem e metrô e 756 em outras formas de abrigo temporário. O número total representou um aumento de 588 pessoas desde 2018.
Subúrbios
Além da adição do Bois de Boulogne, do Bois de Vincennes e do heliporto de Paris no século XX, os limites administrativos de Paris permanecem inalterados desde 1860. Um departamento administrativo maior do Sena governava Paris e seus subúrbios desde a sua criação em 1790, mas a crescente população suburbana dificultou sua manutenção como entidade única. Tal problema foi "resolvido" quando o Distrito da região de Paris foi reorganizado em vários novos departamentos desde 1968: Paris tornou-se um departamento em si, e a administração de seus subúrbios foi dividida entre os três novos departamentos ao seu redor. O distrito da região de Paris foi renomeado para "Ilha de França" em 1977, mas esse nome abreviado de "região de Paris" ainda é comumente usado atualmente para descrever a Ilha de França e como uma vaga referência a toda a aglomeração de Paris. Em janeiro de 2016, os antigos esforços para unir Paris e seus subúrbios foram reforçados com a criação da Metrópole da Grande Paris.
A desconexão de Paris com seus subúrbios e sua falta de transporte suburbano tornaram-se bastante evidentes com o crescimento da aglomeração de Paris. Paul Delouvrier prometeu resolver o desacordo dos subúrbios de Paris quando se tornou chefe da região em 1961: dois de seus projetos mais ambiciosos para a região foram a construção de cinco "villes nouvelles" ("novas cidades") suburbanas e a rede de trens urbanos RER. Muitos outros distritos residenciais suburbanos (grandes conjuntos) foram construídos entre as décadas de 1960 e 1970 para fornecer uma solução de baixo custo a uma população em rápida expansão. A princípio tais distritos eram socialmente variados, mas poucos moradores possuíam suas casas (a economia crescente os tornou acessíveis à classe média somente a partir da década de 1970).
Ademais, a sociologia urbana da aglomeração de Paris é basicamente a mesma do século XIX: suas classes afortunadas estão situadas no oeste e sudoeste, e as classes média-baixa estão no norte e leste. As áreas restantes são em sua maioria ocupadas por habitantes da classe média, rodeados por "ilhas" populacionais de pessoas mais afortunadas que estão ali localizadas devido a motivos históricos, nomeadamente Saint-Maur-des-Fossés ao leste e Enghien-les-Bains ao norte de Paris.
Administração
Governo municipal
Durante quase toda a sua longa história, exceto por alguns breves períodos, Paris foi governada diretamente por representantes do rei, imperador ou presidente da França. A cidade não recebeu autonomia municipal pela Assembleia Nacional até 1974. Abolido em 1871, o cargo de prefeito foi restabelecido em 1977, com a eleição de Jacques Chirac. O prefeito de Paris é eleito indiretamente; os eleitores de cada um dos 20 arrondissements da cidade elegem membros para o Conselho de Paris (Conseil de Paris), que posteriormente elege o prefeito. A atual prefeita é Anne Hidalgo, do Partido Socialista, eleita em 5 de abril de 2014.
O Conselho de Paris é composto por 163 membros, com cada distrito alocando um número de assentos dependendo do tamanho de sua população, sendo um mínimo de 10 membros para cada um dos distritos menos populosos (1º a 9º) a 34 membros para os mais populosos (15º). Os conselheiros são eleitos usando a representação proporcional em lista fechada em um sistema de dois turnos. As listas de partidos que obtiverem maioria absoluta no primeiro turno - ou pelo menos uma pluralidade no segundo turno - ganham automaticamente metade dos assentos de um distrito.
A metade restante dos assentos do Conselho é distribuída proporcionalmente a todas as listas que ganharam pelo menos 5% dos votos, usando o método das médias mais altas. Desta forma, há a garantia de que o partido ou coalizão vencedora sempre conquiste a maioria dos assentos, mesmo que não ganhe a maioria absoluta dos votos.
Cada um dos 20 arrondissements de Paris tem sua própria prefeitura e um conselho eleito diretamente (conseil d'arrondissement), que, por sua vez, elege um prefeito do arrondissements. O conselho de cada arrondissements é composto por membros do Conselho de Paris e também membros que servem apenas no conselho do arrondissements. O número de vice-prefeitos em cada arrondissements varia de acordo com sua população. Há um total de 20 prefeitos e 120 vice-prefeitos.
O orçamento da cidade para 2018 foi de 9,4 bilhões de euros, com um déficit de 5,7 bilhões de euros. Destes, 7,8 bilhões de euros foram destinados à administração da cidade (despesas operacionais) e 1,6 bilhões de euros para investimentos. O número de funcionários públicos municipais aumentou de em 1990 para 52 mil em 2019; os gastos com pessoal em 2018 totalizaram 2,4 bilhões de euros.
Metrópole da Grande Paris
A Metrópole da Grande Paris foi formalmente criada em 1 de janeiro de 2016. É uma estrutura administrativa de cooperação entre a cidade de Paris e seus subúrbios mais próximos. Além da cidade de Paris, abrange comunas dos três departamentos dos subúrbios (Altos do Sena, Seine-Saint-Denis e Vale do Marne), sete comunas nos subúrbios, incluindo Argenteuil em Val-d'Oise e Paray-Vieille-Poste em Essonne, que foram adicionados para incluir os principais aeroportos de Paris. A Metrópole cobre uma área de e tem uma população de 6,945 milhões de pessoas.
A nova estrutura é administrada por um Conselho Metropolitano formado por 210 membros, não eleitos diretamente, mas escolhidos pelos conselhos das comunas. Suas competências básicas incluem planejamento urbano, habitação e proteção do meio ambiente. Embora a Metrópole tenha uma população de quase sete milhões de pessoas e represente 25% do PIB da França, possui um orçamento muito pequeno: apenas 65 milhões de euros.
Governo nacional
Como capital da França, Paris é a sede do governo nacional do país. Os chefes do Executivo possuem residências oficiais, que também são utilizadas como local de trabalho. O presidente da República Francesa reside no Palácio do Eliseu, localizado no 8.º arrondissement, enquanto que o primeiro-ministro fica no Hôtel Matignon, no 7.º arrondissement. Os ministérios do governo estão localizados em várias partes da cidade; muitos estão localizados no 7º arrondissement, perto do Hôtel Matignon.
As duas casas do Parlamento francês estão localizadas na margem esquerda. A câmara alta, o Senado, reúne-se no Palácio do Luxemburgo, no 6º arrondissement, enquanto a câmara baixa mais importante, a Assembleia Nacional, tem sua sede no Palácio Bourbon, no 7º arrondissement. O presidente do Senado, o segundo cargo público mais elevado hierarquicamente (sendo o presidente da República o único superior), reside no "Petit Luxembourg", um palácio anexo menor do Palácio do Luxemburgo.
Os tribunais de mais alta instância da França estão localizados em Paris. A Corte de Cassação, o tribunal superior nas matérias criminais e civis, está localizado no Palácio da Justiça, na Île de la Cité, enquanto o Conseil d'État, que presta assessoria jurídica ao executivo e atua como o mais alto tribunal da ordem administrativa, julgando litígios contra órgãos públicos, está localizado no Palais Royal, no 1º arrondissement. O Conselho Constitucional, um órgão consultivo com autoridade máxima sobre a constitucionalidade de leis e decretos governamentais, também se reúne na ala Montpensier do Palais Royal.
Paris e sua região ainda abrigam a sede de várias organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Câmara de Comércio Internacional, a Agência Espacial Europeia, a Agência Internacional de Energia e o Bureau Internacional de Exposições.
Força policial
A segurança de Paris é principalmente de responsabilidade da Prefeitura de Polícia de Paris, uma subdivisão do Ministério do Interior. Tem como atribuições supervisionar as unidades da Polícia Nacional que patrulham a cidade e os três departamentos vizinhos. Também é responsável por fornecer serviços de emergência, incluindo o Corpo de Bombeiros de Paris.
A Prefeitura de Polícia da cidade conta com 34 mil policiais. A polícia nacional possui sua própria unidade especial para controle de distúrbios, multidões e segurança de prédios públicos, denominada Compagnies Républicaines de Sécurité (CRS), uma unidade formada em 1944 logo após a libertação da França. Ademais, a polícia é apoiada pela Gendarmaria Nacional, um ramo das Forças Armadas francesas, embora suas operações policiais agora sejam supervisionadas pelo Ministério do Interior.
De acordo com relatório da embaixada norte-americana na França, os índices de criminalidade em Paris são "semelhantes ao da maioria das grandes cidades" e "os crimes violentos são relativamente raros no centro da cidade." O relatório prosseguiu afirmando que a violência política é "relativamente incomum. Grandes manifestações em Paris são geralmente gerenciadas por uma forte presença policial, mas esses eventos podem se tornar perigosos e devem ser evitados".
Relações exteriores
Paris tem uma cidade-gémea e cidades parceiras:
Cidade-irmã
Roma, Itália, (1956)
Cidades parceiras
Argel, Argélia, (2003)
Amã, Jordânia, (1987)
Atenas, Grécia, (2000)
Beirute, Líbano, (1992)
Berlim, Alemanha, (1987)
Buenos Aires, Argentina, (1999)
Cairo, Egito, (1985)
Casablanca, Marrocos (2004)
Chicago, Estados Unidos, (1996)
Copenhaga, Dinamarca, (2005)
Erevan, Armênia, (1998)
Genebra, Suíça, (2002)
Jacarta, Indonésia, (1995)
Quioto, Japão, (1958)
Lisboa, Portugal, (1998)
Londres, Reino Unido, (2001)
Madrid, Espanha, (2000)
Cidade do México, México, (1999)
Montreal, Canadá, (2006)
Moscou, Rússia, (1992)
Pequim, China, (1997)
Porto Alegre, Brasil, (2001)
Praga, República Checa, (1997)
Quebec, Canadá, (2003)
Rabat, Marrocos, (2004)
Riade, Arábia Saudita, (1997)
São Petersburgo, Rússia, (1997)
Sana, Iêmen, (1987)
São Francisco, Estados Unidos, (1996)
Santiago, Chile, (1997)
São Paulo, Brasil, (2004)
Seul, Coreia do Sul, (1991)
Sófia, Bulgária, (1998)
Sydney, Austrália, (1998)
Tbilisi, Geórgia, (1997)
Tóquio, Japão, (1982)
Tunes, Tunísia, (2004)
Varsóvia, Polônia, (1999)
Washington, DC, Estados Unidos, (2000)
Outro
Whitwell, Rutland, Reino Unido afirma ser geminada com Paris.
Economia
Paris, como o resto da Île-de-France mas de maneira ainda mais marcada, é mais rica e mais terceirizada que a média francesa. A aglomeração parisiense é todavia claramente menos especializada economicamente que outros grandes centros econômicos mundiais, notadamente Londres, sua grande rival na Europa, que é particularmente dinâmica no setor financeiro. Todavia, segundo Éric Le Boucher, a Île-de-France conhece um declínio econômico e perdas de emprego: "nenhuma região-capital do mundo perde tantos empregos como Paris, obscurecida por seu passado brilhante, mal governada, fragmentada em seus egoísmos, anêmica, sem haver se inscrito resolutamente na competição mundial entre as metrópoles do .
Ao se tratar da rivalidade entre Paris e Londres, John Ross, conselheiro econômico do prefeito de Londres, estima em 2008 no The Economist que Paris perdeu há muito tempo a competição econômica com Londres: "Nós não nos consideramos como em competição com Paris, nós já ganhamos esse combate. Nós nos medimos contra Nova Iorque". Essa afirmação é testemunha da agudeza da rivalidade entre as grandes metrópoles mundiais e especialmente entre Londres e Paris, assim como das disputas de comunicação que rodeiam essa concorrência para atrair para atrair as perspectivas de investimentos associados. The Economist ajunta que Londres ultrapassa desde então Paris em quase todos os grandes indicadores econômicos. Todavia, Paris dispõe de um número maior de grupos do Fortune 500 que na cidade tem suas sedes, a Île-de-France se impõe como a primeira região europeia, à frente da Grande Londres, em número de empregos criados pelas implantações internacionais em 2007 e por fim a capital francesa emite a cada ano mais patentes que a capital inglesa e dispõe de uma maior proporção de pesquisadores na sua mão-de-obra. Neste momento, o PIB por paridade do poder de compra da aglomeração parisiense, estimada em 460 mil milhõesPE/bilhõesPB de dólares, é comparável, ou até mesmo superior ao de Londres.
Paris continua sendo de longe o departamento que agrupa mais empregos na região com cerca de em 2004, ou seja, 31% dos empregos privados da região, à frente de Hauts-de-Seine com empregos (16%). Os salários parisienses (19 euros por hora por ano, em 2002) são ligeiramente superiores à média regional (18,2 euros) e largamente superiores à média nacional (13,1 euros). Entretanto, essa diferença se explica essencialmente pela forte sobre-representação dos quadros gerenciais que constituem 25% dos assalariados. A cidade se caracteriza sobretudo por sua forte desigualdade social: os 10% dos assalariados mais bem pagos ganha quatro vezes mais que os 10% menos bem pagos, o que está um pouco acima da média regional (3,7), mas é bastante superior à disparidade constatada no resto da França (2,6). Semelhantemente, as desigualdades geográficas aparecem no próprio seio da cidade: o salário horário médio oferecido no 8° arrondissement (24,2 euros) é superior em 82% ao do 20° arrondissement (13,3 euros). Contrariamente, as disparidades salariais homem-mulher que ocupam idênticas posições profissionais não passa de 6% em Paris contra 10% no resto da França.
Em La Défense está a maior parte das sedes de grandes empresas e dos empregos de alto nível. Duas zonas são dignas de nota: o centro de Paris e o bairro de La Défense, nos subúrbios do oeste. O bairro de negócios no centro de Paris se estende sobre um perímetro bastante grande em torno da casa de ópera e da estação de Saint-Lazare. Este bairro conserva um papel importante mas os preços imobiliários dos seus escritórios são muito elevados e a área que pode ser ocupada é limitada pelas regras de urbanismo. Entre 1994 e 2005, o seu número de empregos privados claramente diminuiu em benefício dos subúrbios vizinhos no oeste principalmente La Défense.
Turismo
Em 2018, medido pelo Índice de Destino de Cidades Globais da MasterCard, Paris era o segundo destino aéreo mais movimentado do mundo, com 19,10 milhões de visitantes, atrás de Bangcoc (22,78 milhões), mas à frente de Londres (19,09 milhões). De acordo com a Convenção de Paris e o Bureau de Visitantes, trabalhadores na Grande Paris, ou 12,4% da força de trabalho total, estão envolvidos em setores relacionados ao turismo, como hotéis, restauração, transporte e lazer.
A principal atração turística da cidade era a Catedral de Notre Dame, que recebeu cerca de 12 milhões de visitantes em 2018, mas agora está fechada para reforma após o incêndio de 15 de abril de 2019 e não se espera que seja reaberta por vários anos. O segundo foi a Basilique du Sacré-Coeur em Montmartre, com um número estimado de 11 milhões de visitantes, seguido pelo Museu do Louvre (10,1 milhões de visitantes); Centre Pompidou (3,5 milhões de visitantes); Museu d'Orsay (3,3 milhões); Museu Nacional de História Natural da França (2,4 milhões de visitantes); Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa (2 milhões de visitantes); Arco do Triunfo (1,7 milhão de visitantes) e Sainte-Chapelle (1,3 milhão de visitantes).
O centro de Paris contém os monumentos mais visitados da cidade, incluindo a Catedral de Notre Dame (agora fechada para restauração) e o Louvre, bem como a Sainte-Chapelle; Les Invalides, onde está localizado o túmulo de Napoleão, e a Torre Eiffel estão localizadas na margem esquerda, a sudoeste do centro. O Panthéon e as Catacumbas de Paris também estão localizados na margem esquerda do Sena. As margens do principal rio da cidade, da Pont de Sully a Pont d'Iéna, estão listadas como Patrimônio Mundial pela UNESCO desde 1991. Vários outros marcos muito visitados estão localizados nos subúrbios da cidade; a Basílica de Saint-Denis, em Seine-Saint-Denis, é o berço do estilo gótico da arquitetura e da necrópole real dos reis e rainhas franceses. A região de Paris abriga três outros locais do patrimônio da UNESCO: o Palácio de Versalhes, a oeste, o Palácio de Fontainebleau, ao sul, e o local de feiras medievais de Provins, a leste. Na região também está localizada a Disneyland Paris, em Marne-la-Vallée, a 32 quilômetros a leste do centro de Paris e que recebeu 9,8 milhões de visitantes em 2018.
Paris é famosa por seus grandes hotéis. O Hotel Meurice, aberto para viajantes britânicos em 1817, foi um dos primeiros hotéis de luxo em Paris. A chegada das ferrovias e a Exposição Universal de 1855 trouxeram a primeira inundação de turistas e os primeiros grandes hotéis modernos; o Hôtel du Louvre (agora um mercado de antiguidades) em 1855; o Grand Hotel (agora o InterContinental Paris Le Grand Hotel) em 1862; e o Hôtel Continental em 1878. O Hôtel Ritz na Place Vendôme foi inaugurado em 1898, seguido pelo Hôtel Crillon em um edifício do século XVIII na Place de la Concorde em 1909; o Hotel Bristol na Rue du Faubourg-Saint-Honoré em 1925; e o Hotel George V em 1928.
Infraestrutura
Educação
Paris é o departamento com a maior proporção de pessoas altamente educadas. Em 2009, cerca de 40% dos parisienses possuíam diploma de nível superior, a maior proporção na França, enquanto 13% não possuem diploma, a terceira menor porcentagem na França. A educação em Paris e na região de Île-de-France emprega aproximadamente 330 mil pessoas, das quais são professores ensinando aproximadamente 2,9 milhões de crianças e estudantes em cerca de 9 mil escolas e instituições de ensino fundamental, médio e superior.
A Universidade de Paris, fundada no século XII, é frequentemente chamada de Sorbonne por causa de uma de suas faculdades medievais originais. Foi dividido em treze universidades autônomas em 1970, após as manifestações estudantis em 1968. Atualmente, muitos dos campi estão no Quartier Latin, onde a antiga universidade estava localizada, enquanto outros estão espalhados pela cidade e pelos subúrbios.
A região de Paris abriga a maior concentração francesa das grandes écoles - 55 centros especializados de ensino superior fora da estrutura da universidade pública. As prestigiadas universidades públicas são geralmente consideradas grandes instituições. A maioria das grandes écoles foi transferida para os subúrbios de Paris nas décadas de 1960 e 1970, em novos campi muito maiores que os antigos campi da movimentada cidade de Paris, embora a École Normale Supérieure tenha permanecido na rue d'Ulm no 5º arrondissement. Há um grande número de escolas de engenharia, lideradas pelo Instituto de Tecnologia de Paris, que compreende várias faculdades, como a École Polytechnique, a École des Mines, a AgroParisTech, a Télécom Paris, a Arts et Métiers e a École des Ponts et Chaussées. Existem também muitas escolas de negócios, incluindo HEC, INSEAD, ESSEC e ESCP. A escola administrativa, como a Escola Nacional de Administração, foi transferida para Estrasburgo, a escola de ciências políticas Sciences-Po ainda está localizada no 7º arrondissement de Paris e a mais prestigiada universidade de economia e finanças, Paris-Dauphine, está localizada no 16º de Paris. O departamento CELSA da escola parisiense de jornalismo da Universidade Paris-Sorbonne está localizado em Neuilly-sur-Seine.
Saúde
Os serviços de saúde e serviços médicos de emergência na cidade de Paris e nos seus subúrbios são fornecidos pela Assistance Publique – Hôpitaux de Paris (AP-HP), um sistema público que emprega mais de 90 mil pessoas (incluindo profissionais, pessoal de apoio e administradores) em 44 hospitais. É o maior sistema hospitalar da Europa, fornecendo assistência médica, ensino, pesquisa, prevenção, educação e serviços médicos de emergência em 52 ramos da medicina. Os hospitais recebem mais de 5,8 milhões de visitas anuais de pacientes.
Um dos hospitais mais notáveis é o Hôtel-Dieu, fundado em 651, o hospital mais antigo da cidade, embora o edifício atual seja o produto de uma reconstrução de 1877. Outros hospitais incluem o Hospital Pitié-Salpêtrière (um dos maiores da Europa), o Instituto Curie, o Hôpital Lariboisière e o Hospital Americano de Paris.
Eletricidade
A eletricidade é fornecida a Paris através de uma rede periférica alimentada por várias fontes. Até 2012, cerca de 50% da eletricidade gerada na Ilha de França vem de usinas de cogeração localizadas próximas aos limites externos da região; outras fontes de energia incluem a Usina Nuclear de Nogent (35%), incineração de lixo (9% - com usinas de cogeração, estas também fornecem a cidade no calor), gás metano (5%), hidráulica (1%), energia solar (0,1%) e uma quantidade insignificante de energia eólica (0,034 GWh). Um quarto do aquecimento urbano da cidade é proveniente de uma fábrica em Saint-Ouen-sur-Seine, queimando uma mistura 50/50 de carvão e 140 mil toneladas de pellet de madeira vindas dos Estados Unidos por ano.
Mídia
Paris e seus subúrbios próximos abrigam inúmeros jornais, revistas e publicações, como Le Monde, Le Figaro, Libération, Le Nouvel Observateur, Le Canard enchaîné, La Croix, Pariscope, Le Parisien (em Saint-Ouen), Les Échos, Paris Match (Neuilly-sur-Seine), Réseaux & Télécoms, Reuters e L'Officiel des Spectacles. Os dois jornais de maior prestígio da França, Le Monde e Le Figaro, são as peças centrais da indústria editorial parisiense. A Agence France-Presse (AFP) é a agência de notícias mais antiga da França e uma das mais antigas do mundo, operando continuamente. A AFP, como é abreviada coloquialmente, mantém sua sede em Paris, como desde 1835. France 24 é um canal de notícias de televisão pertencente e operado pelo governo francês e está sediado em Paris. Outra agência de notícias é a France Diplomatie, de propriedade e operada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, e refere-se apenas a notícias e ocorrências diplomáticas.
A rede mais vista em França, a TF1, fica nas proximidades de Boulogne-Billancourt. France 2, France 3, Canal+, France 5, M6 (Neuilly-sur-Seine), Arte, D8, W9, TFX, NRJ 12, La Chaîne parlementaire, France 4, BFM TV e Gulli são outras estações localizadas nos arredores a capital. A Radio France, emissora pública de rádio da França e seus diversos canais, está sediada no 16º arrondissement de Paris. A Rádio França Internacional, outra emissora pública também está sediada na cidade. Paris também possui a sede da La Poste, a transportadora postal nacional da França.
Transportes
Paris é um importante centro de transporte ferroviário, rodoviário e aéreo. A Île-de-France Mobilités (IDFM), anteriormente o Syndicat des transports d'Île-de-France (STIF) e antes disso Syndicat des transports parisiens (STP), supervisiona a rede de trânsito na região. O sindicato coordena o transporte público e o contrata para o RATP (que opera 347 linhas de ônibus, o metrô, oito linhas de bondes e seções do RER), o SNCF (que opera trilhos suburbanos, uma linha de bondes e as demais seções do RER) e o consórcio Optile de operadores privados que gerenciam 1 176 linhas de ônibus.
Desde a inauguração de sua primeira linha em 1900, a rede do metrô de Paris cresceu e se tornou o sistema de transporte local mais usado da cidade; hoje, transporta cerca de 5,23 milhões de passageiros diariamente através de 16 linhas, 303 estações (385 paradas) e 220 km de trilhos. Sobreposta a isso está uma 'rede expressa regional', a RER, cujas cinco linhas (A, B, C, D e E), 257 paradas e 587 km de trilhos conectam Paris a partes mais distantes da cidade. Mais de 26,5 bilhões de euros serão investidos nos próximos 15 anos para estender a rede metrô aos subúrbios, com destaque para o projeto Grand Paris Express. Além disso, a região de Paris é servida por uma rede ferroviária de nove linhas de tramway. Atualmente, cinco novas linhas ferroviárias leves estão em vários estágios de desenvolvimento.
Paris é um importante centro de transporte aéreo internacional, com o quinto sistema aeroportuário mais movimentado do mundo. A cidade é servida por três aeroportos internacionais comerciais: Paris-Charles de Gaulle, Paris-Orly e Beauvais-Tillé. Juntos, esses três aeroportos registraram tráfego de 96,5 milhões de passageiros em 2014. Há também um aeroporto de aviação geral, Paris-Le Bourget, historicamente o aeroporto parisiense mais antigo e mais próximo do centro da cidade, que agora é usado apenas para voos comerciais particulares e shows aéreos. O aeroporto de Orly, localizado nos subúrbios do sul de Paris, substituiu o Le Bourget como o principal aeroporto de Paris entre as décadas de 1950 e 1980. O aeroporto Charles de Gaulle, localizado na periferia dos subúrbios ao norte de Paris, foi aberto ao tráfego comercial em 1974 e se tornou o aeroporto parisiense mais movimentado em 1993. Para o ano de 2017, foi o quinto aeroporto mais movimentado do mundo por tráfego internacional e é o centro da transportadora aérea francesa, a Air France.
A cidade também é o centro mais importante da rede de rodovias nacionais e é cercada por três rodovias orbitais: a Périphérique, que segue o caminho aproximado das fortificações do século XIX ao redor de Paris, a rodovia A86 nos subúrbios e, finalmente, a autoestrada Francilienne nos subúrbios. Paris possui uma extensa rede de estradas com mais de 2 mil quilômetros de autoestradas e rodovias.
A municipalidade promove uma política de transporte coletivo e de ciclismo. Assim, a cidade dispõe desde o fim dos anos 1990 de uma rede de ciclovias que aumenta constantemente. Pelo fim de 2006, há 371 quilômetros de vias alternativas em Paris, incluindo as faixas e pistas de ciclismo assim como os corredores de ônibus estendidos. Seguindo o exemplo de Rennes e Lyon, a Prefeitura de Paris lança em 15 de julho de 2007 um sistema de aluguel de bicicletas, batizado Vélib', a rede de compartilhamento de bicicletas mais densa da Europa, tendo 20 mil bicicletas pelo fim de 2007, estações de aluguel em Paris, gerida por JCDecaux.<ref>{{citar web | url=http://www.velib.paris.fr/ | título=Site municipal de Vélib''' | publicado=www.velib.paris.fr | acessodata=7 de Janeiro de 2010 | arquivourl=https://web.archive.org/web/20100802015005/http://www.velib.paris.fr/ | arquivodata=2 de Agosto de 2010 | urlmorta=yes }}</ref> A cidade conta além disso com táxis lançados em 2007.
Água e saneamento
Paris em sua história inicial tinha apenas os rios Sena e Bièvre para o abastecimento de água. Desde 1809, o Canal de l'Ourcq forneceu a Paris água de rios menos poluídos para o nordeste da capital. Desde 1857, o engenheiro civil Eugène Belgrand, sob Napoleão III, supervisionou a construção de uma série de novos aquedutos que traziam água de locais por toda a cidade para vários reservatórios construídos no topo dos pontos mais altos da capital.
A partir de então, o novo sistema de reservatórios tornou-se a principal fonte de água potável de Paris, e os restos do antigo sistema, bombeados para níveis mais baixos dos mesmos reservatórios, passaram a ser usados para a limpeza das ruas de Paris. Este sistema ainda é uma parte importante da moderna rede de abastecimento de água de Paris. Atualmente, Paris tem mais de km de passagens subterrâneas dedicadas à evacuação dos resíduos líquidos de Paris.
Planejamento urbano
A maioria dos governantes franceses desde a Idade Média fez questão de deixar sua marca em uma cidade que, ao contrário de muitas outras capitais do mundo, nunca foi destruída por uma catástrofe ou guerra. Ao modernizar sua infraestrutura ao longo dos séculos, Paris preservou até sua história mais antiga em seu mapa urbano.
A Paris moderna deve muito de seu plano do centro e harmonia arquitetônica a Napoleão III e seu prefeito do Sena, o Barão Haussmann, que entre 1853 e 1870 reconstruíram o centro da cidade, criaram as amplas avenidas e praças do centro da cidade onde as avenidas se cruzavam, impuseram fachadas padrão ao longo das avenidas, exigiram que as fachadas fossem construídas com a distinta "pedra de Paris" (que possuem a cor cinza-creme), e construíram os principais parques ao redor do centro da cidade. A grande população residencial do centro da cidade também a torna muito diferente da maioria das outras grandes cidades ocidentais.
As leis que regem o urbanismo de Paris permanecem sob rigoroso controle desde o início do século XVII, particularmente no que diz respeito ao alinhamento rua-frente, altura e distribuição de edifícios. Em modificações recentes, uma limitação imposta entre 1974 a 2010 às alturas das construções, de , foi aumentada para em áreas centrais e em alguns dos bairros periféricos da cidade. No entanto, para alguns dos bairros mais centrais, leis ainda mais antigas sobre altura de edifícios permanecem em vigor.
A Tour Montparnasse, com , era o edifício mais alto de Paris e da França até 1973, mas foi ultrapassada com a reconstrução da Tour First em 2011.
Existem desde muito tempo atrás regras estritas de urbanismo, em particular, limites à altura dos imóveis. Atualmente, novos prédios com mais de 37 metros não são autorizados senão sob título excepcional. Em numerosos bairros, o limite de altura é ainda mais estrito. Paris contava com vias públicas ou privadas em 1997. Dentre as mais notáveis, pode-se citar a Avenue Foch (16º arrondissement), a mais larga avenida de Paris com 120 metros, enquanto que a Avenue de Selves (8º arrondissement) é a avenida mais curta com 110 metros de comprimento. A rua mais longa de Paris é a Rue de Vaugirard (6º e 15º arrondissements) com metros. A Rue des Degrés (2º arrondissement) é a rua mais curta, com somente 5,75 metros, enquanto que a Rue du Chat-qui-Pêche (5º arrondissement) é oficialmente a mais estreita com uma largura mínima de 1,80 metro (porém, algumas fontes mencionam o Sentier des Merisiers, no 12º arrondissement, que mede menos de um metro, ou ainda a Passage de la Duée no 20º arrondissement, que, se bem que seu lado direito haja sido destruído e ladeado por uma paliçada, mede somente 80 cm de largura). Por fim, a via mais inclinada é a Rue Gasnier-Guy (20º arrondissement) com uma inclinação de 17%.
Cultura
Arquitetura
Os monumentos mais célebres de Paris datam de épocas diversas, se encontrando com frequência no centro ou nas margens do Sena. Os cais do Sena que ficam entre a Pont de Sully au Pont de Bir-Hakeim constituem uma das mais belas paisagens fluviais urbanas e fazem parte do patrimônio mundial da UNESCO. Ali se encontram, a leste e a oeste: a Notre-Dame, o Louvre, os Invalides, a Ponte Alexandre III, o Grand Palais, o Museu do Quai Branly, a Torre Eiffel e o Trocadéro. Vários monumentos de estilo clássico igualmente deixam sua marca no centro de Paris. A capela da Sorbonne no coração do Quartier Latin, foi erguida no início do século XVII. O Louvre, residência da realeza, foi embelezado no século XVII e retocado muitas vezes mais desde então. O Hôtel des Invalides, com seu famoso domo dourado, foi erigido no fim do século XVII nos subúrbios da cidade por Luís XIV, que estava ansioso por oferecer um hospital para soldados feridos. O monumento abriga desde 15 de dezembro de 1840 as cinzas de Napoleão Bonaparte e também sua sepultura desde 2 de abril de 1861.
O patrimônio do século XIX é muito abundante em Paris, a saber, o Arco do Triunfo, os passeios cobertos, o Palácio Garnier (construído desde o fim do Segundo Império até o início da Terceira República e que abriga a Ópera de Paris) e a Torre Eiffel (construção "provisória" erguida por Gustave Eiffel para a Exposição Universal de 1889, mas que nunca chegou a ser desmantelada). A torre virou o emblema de Paris, visível da maioria dos bairros da cidade e até mesmo dos subúrbios próximos. Ao longo do século XX, os melhores arquitetos semearam as ruas de Paris com suas realizações: Guimard, Charles Plumet e Jules Lavirotte, verdadeiras referências da Art nouveau na França, seguidos pelas realizações de Robert Mallet-Stevens, Michel Roux-Spitz, Dudok, Henri Sauvage, Le Corbusier, Auguste Perret, entre outros, durante o período entre-guerras.
A arquitetura contemporânea é representada em Paris pelo Centro Georges Pompidou, edifício dos anos 1970 que abriga o Museu Nacional de Arte Moderna assim como a Biblioteca Pública de Informação. Não menos importantes as realizações idealizadas pelo presidente François Mitterrand: a Biblioteca Nacional da França, a Ópera Bastille e, provavelmente a mais célebre, a Pirâmide do Louvre, obra do arquiteto Ieoh Ming Pei erigida no pátio principal do Louvre. Mais recentemente, o Museu do Quai Branly, ou Museu das Artes e Civilizações de África, Ásia, Oceania e Américas desenhado por Jean Nouvel e inaugurado em 2006, veio enriquecer ainda mais a diversidade arquitetural e cultural da capital.
Cemitérios
Durante a era romana, o principal cemitério da cidade estava localizado nos arredores do assentamento da margem esquerda, mas isso mudou com a ascensão do cristianismo católico, onde quase todas as igrejas do centro da cidade tinham cemitérios adjacentes para serem usados por suas paróquias. Com o crescimento de Paris, muitos deles, particularmente o maior cemitério da cidade, o Cemitério dos Santos Inocentes (Cimetière des Innocents), estavam cheios, criando condições bastante insalubres para a capital. Quando os enterros da cidade foram proibidos a partir de 1786, o conteúdo de todos os cemitérios paroquiais de Paris foi transferido para uma seção renovada das minas de pedra da cidade, fora do portão "Porte d'Enfer", hoje a praça Denfert-Rochereau no 14º arrondissement. O processo de mover ossos da Cimetière des Innocents para as Catacumbas de Paris ocorreu entre 1786 e 1814.
Após uma tentativa de criação de vários cemitérios suburbanos menores, o prefeito Nicholas Frochot, sob Napoleão Bonaparte, forneceu uma solução mais definitiva na criação de três cemitérios parisienses maciços fora dos limites da cidade. Aberto a partir de 1804, estes foram os cemitérios de Père Lachaise, Montmartre, Montparnasse e, mais tarde, Passy; esses cemitérios tornaram-se parte do centro da cidade mais uma vez quando Paris anexou todas as comunas vizinhas ao interior de seu anel de fortificações suburbanas em 1860. Novos cemitérios suburbanos foram criados no início do século XX: o maior deles são o Cimetière parisien de Saint-Ouen, o Cimetière parisien de Pantin (também conhecido como Cimetier Parisien de Pantin-Bobigny), o Cimetier Parisien d'Ivry e o Cimetier Parisien de Bagneux.
Museus
Paris e a região Île-de-France possuem a maior oferta museográfica da França. Há não menos de 100 museus em Paris intra-muros aos quais se deve ajuntar os mais de 110 museus da região. Mas além dos grandes números, é sobretudo na diversidade das coleções que a riqueza se sobressai. O museu mais antigo, de maior área e de maior coleção é o Museu do Louvre. Com um recorde de frequentação de 9,6 milhões de visitantes em 2019, o Louvre é de longe o museu de arte mais visitado do mundo. Outros de renome mundial são o Museu Nacional de Arte Moderna (dentro do Centro Georges Pompidou) e o Museu de Orsay, consagrado essencialmente ao impressionismo. Na proximidade de Paris, o Palácio de Versalhes, edificado pelo Rei-Sol e residência dos reis da França ao longo dos séculos XVII e XVIII, atrai igualmente milhões de visitantes ao ano. O palácio e o parque de Versalhes são classificados na lista dos patrimônios mundiais da UNESCO desde 1979.
Os museus estão sob diversos estatutos administrativos: os mais célebres são museus nacionais, isto é, pertencentes ao Estado francês. Outros dependem de ministérios, como o Museu do Exército (no Hôtel des Invalides) e o Museu Aeroespacial (no Aeroporto de Le Bourget) que pertencem ao Ministério da Defesa. Pode-se também citar o Panteão, onde repousam os "grandes homens" da nação francesa, como Victor Hugo, Voltaire, Jean Moulin, Jean Jaurès e Marie Curie. Outros museus pertencem ao Institut de France ou ainda a particulares. O município de Paris possui e gerencia por si próprio quatorze museus e sítios, dos quais os mais célebres são o Museu Carnavalet, consagrado à história de Paris, perto da antiga casa de Victor Hugo ou ainda as catacumbas. Também não há falta de exposições temáticas.
Paris abriga um dos maiores museus de ciência da Europa, a Cité des Sciences et de l'Industrie, em La Villette. O Museu Nacional de História Natural, localizado perto do Jardim das Plantas de Paris, é famoso por seus artefatos de dinossauros, coleções de minerais e sua Galeria da Evolução. A história militar da França, desde a Idade Média até a Segunda Guerra Mundial, é vividamente apresentada por exposições no Musée de l'Armée em Les Invalides, perto do túmulo de Napoleão. Além dos museus nacionais, administrados pelo Ministério da Cultura, a cidade de Paris opera 14 museus, incluindo o Museu Carnavalet sobre a história de Paris, o Museu de Arte Moderna da Paris, o Palais de Tokyo, a Maison de Victor Hugo, a Maison de Balzac e as Catacumbas de Paris.
Bibliotecas
A Biblioteca Nacional da França (BnF) opera bibliotecas públicas em Paris, entre elas a Biblioteca François Mitterrand, Biblioteca Richelieu, Louvois, Biblioteca Opéra e Biblioteca Arsenal. Existem três bibliotecas públicas no 4º arrondissement. A Biblioteca Forney, no distrito de Marais, é dedicada às artes decorativas; a Biblioteca do Arsenal ocupa um antigo prédio militar e possui uma grande coleção de literatura francesa; e a Bibliothèque historique de la ville de Paris, também em Le Marais, contém o serviço de pesquisa histórica de Paris. A Biblioteca de Sainte-Geneviève fica no 5º arrondissement; projetada por Henri Labrouste e construída em meados do século XIX, contém uma rara divisão de livros e manuscritos. A Bibliothèque Mazarine, no 6º arrondissement, é a biblioteca pública mais antiga da França. A Médiathèque Musicale Mahler, no 8º arrondissement, foi inaugurada em 1986 e contém coleções relacionadas à música. A Biblioteca François Mitterrand (apelidada de Très Grande Bibliothèque) no 13º arrondissement foi concluída em 1994 para um projeto de Dominique Perrault e contém quatro torres de vidro.
Existem várias bibliotecas e arquivos acadêmicos em Paris. A Biblioteca Sorbonne, no 5º arrondissement, é a maior biblioteca universitária de Paris. Além da localização da Sorbonne, existem filiais em Malesherbes, Clignancourt-Championnet, Instituto de Arte e Arquitetura Michelet, Serpente-Maison de la Recherche e Institut des Etudes Ibériques. Outras bibliotecas acadêmicas incluem a Biblioteca Farmacêutica da Interuniversidade, a Biblioteca da Universidade Leonardo da Vinci, a Biblioteca da Escola de Minas de Paris e a Biblioteca da Universidade de Paris.
Óperas, teatros e salas de espetáculo
As maiores casas de ópera de Paris são a Opéra Garnier do século XIX (histórica Ópera Nacional de Paris) e a moderna Ópera da Bastilha; a primeira tende a balés e óperas mais clássicos, enquanto a segunda fornece um repertório misto de clássico e moderno. Em meados do século XIX, havia três outras casas de ópera ativas e concorrentes: a Ópera-Comique (que ainda existe), o Théâtre-Italien e o Théâtre Lyrique (que nos tempos modernos mudou seu perfil e nome para Théâtre de la Ville). A Philharmonie de Paris, a moderna sala de concertos sinfônicos de Paris, foi inaugurada em janeiro de 2015.
O teatro tradicionalmente ocupa um grande lugar na cultura parisiense, e muitos de seus atores mais populares hoje também são estrelas da televisão francesa. O mais antigo e famoso teatro de Paris é a Comédie-Française, fundada em 1680. Dirigida pelo governo da França, apresenta principalmente clássicos franceses na Salle Richelieu no Palais-Royal, na 2 rue de Richelieu, ao lado do Louvre. Outros teatros famosos incluem o Odéon-Théâtre de l'Europe, ao lado dos Jardins de Luxemburgo, também uma instituição estatal e um marco teatral; o Théâtre Mogador e o Théâtre de la Gaîté-Montparnasse.
Cinema
A indústria cinematográfica nasceu em Paris quando Auguste e Louis Lumière projetaram o primeiro filme para um público pagante no Grand Café em 28 de dezembro de 1895. Muitas das salas de concerto/dança de Paris foram transformadas em cinemas quando esse tipo de mídia se tornou popular a partir dos anos 1930. Mais tarde, a maioria dos maiores cinemas foi dividida em várias salas menores. A maior sala de cinema de Paris hoje está no teatro Grand Rex, com 2 700 lugares.
Grandes cinemas multiplex foram construídos desde os anos 1990. O UGC Ciné Cité Les Halles com 27 telas, a MK2 Bibliothèque com 20 telas e o UGC Ciné Cité Bercy com 18 telas estão entre as maiores.
Os parisienses tendem a compartilhar as mesmas tendências de cinema que muitas das cidades globais do mundo, com os cinemas dominados principalmente pelo entretenimento gerado por Hollywood. O cinema francês chega em segundo lugar, com grandes diretores (réalisateurs), como Claude Lelouch, Jean-Luc Godard e Luc Besson, e o gênero mais popular, com o diretor Claude Zidi como exemplo. Os filmes europeus e asiáticos também são amplamente exibidos e apreciados. Em 2 de fevereiro de 2000, Philippe Binant realizou a primeira projeção de cinema digital na Europa, com a tecnologia DLP CINEMA desenvolvida pela Texas Instruments, em Paris.
Moda
Desde o século XIX, Paris tem sido uma capital internacional da moda, particularmente no domínio da alta costura (roupas feitas à mão sob encomenda para clientes particulares). É o lar de algumas das maiores casas de moda do mundo, incluindo Dior e Chanel, além de muitos outros estilistas conhecidos e mais contemporâneos, como Karl Lagerfeld, Jean-Paul Gaultier, Yves Saint Laurent, Givenchy e Christian Lacroix. A Paris Fashion Week, realizada em janeiro e julho no Carrousel du Louvre, entre outras localidades renomadas da cidade, é um dos quatro principais eventos do calendário internacional de moda. As outras capitais da moda do mundo, Milão, Londres e Nova York também recebem semanas de moda. Além disso, Paris também é o lar da maior empresa de cosméticos do mundo: a L'Oréal, além de três dos cinco maiores fabricantes mundiais de acessórios de moda de luxo: Louis Vuitton, Hermès e Cartier.
Culinária
Desde o final do século XVIII, Paris é famosa por seus restaurantes e alta-cozinha, com comida meticulosamente preparada e artisticamente apresentada. Um restaurante de luxo, o La Taverne Anglaise, inaugurado em 1786 nas arcadas do Palais-Royal por Antoine Beauvilliers, apresentava uma elegante sala de jantar, um extenso menu, toalhas de linho, uma grande lista de vinhos e garçons bem treinados; o local tornou-se um modelo para futuros restaurantes de Paris. O restaurante Le Grand Véfour no Palais-Royal data do mesmo período. Os famosos restaurantes parisienses do século XIX, incluindo o Café de Paris, o Rocher de Cancale, o Café Anglais, a Maison Dorée e o Café Riche, estavam localizados principalmente perto dos teatros do Boulevard des Italiens, tendo sido imortalizados nos romances de Balzac e Émile Zola. Vários dos restaurantes mais conhecidos de Paris apareceram hoje durante o Belle Epoque'', incluindo Maxim's na Rue Royale, Ledoyen nos jardins dos Champs-Élysées e o Tour d'Argent no Quai de la Tournelle.
Atualmente, devido à população cosmopolita de Paris, toda culinária regional francesa e quase toda culinária internacional podem ser encontradas na cidade, que possui mais de 9 mil restaurantes. O Guia Michelin é um guia padrão de restaurantes franceses desde 1900, concedendo seu prêmio mais alto, três estrelas, aos melhores restaurantes da França. Em 2018, dos 27 restaurantes Michelin três estrelas na França, dez estão localizados em Paris. Isso inclui os dois restaurantes que servem cozinha francesa clássica, como o L'Ambroisie na Place des Vosges, e os que servem menus não tradicionais, como o L'Astrance, que combina culinária francesa e asiática. Vários dos chefs mais famosos da França, como Alain Ducasse, têm restaurantes de três estrelas em Paris.
Além dos restaurantes clássicos, Paris tem vários outros tipos de restaurantes tradicionais. O café chegou a Paris no século XVII, quando a bebida foi trazida da Turquia e, no século XVIII, os cafés parisienses eram centros da vida política e cultural da cidade. O Café Procope, na margem esquerda, data desse período. No século XX, os cafés da Margem Esquerda, especialmente o Café de la Rotonde e Le Dôme, em Montparnasse, Café de Flore e Les Deux Magots, no Boulevard Saint Germain, todos ainda em atividade, eram importantes pontos de encontro de pintores, escritores e filósofos. Um bistrô é um tipo de local para comer vagamente definido como um restaurante de bairro, com uma decoração e preços modestos, uma clientela regular e uma atmosfera agradável. Diz-se que seu nome veio em 1814 dos soldados russos que ocuparam a cidade; "bistrô" significa "rapidamente" em russo e queriam que suas refeições fossem servidas rapidamente para que pudessem voltar ao acampamento. Bistrôs de verdade são cada vez mais raros em Paris, devido ao aumento dos custos, à concorrência de restaurantes étnicos mais baratos e aos diferentes hábitos alimentares dos clientes parisienses. Uma brasserie era originalmente uma taberna localizada ao lado de uma cervejaria, que servia cerveja e comida a qualquer hora. Começando com a Exposição Universal de 1867; tornou-se um tipo popular de restaurante que apresentava cerveja e outras bebidas servidas por mulheres jovens com roupas nacionais associadas à bebida, como roupas alemãs específicas para cerveja. Agora as brasseries, como cafés, servem comida e bebida durante todo o dia.
Festividades
O caráter festivo da cidade é marcado desde 2002 pelas operações de Paris Plages, organizadas entre julho e agosto, e que consiste em transformar uma parte dos cais do Sena em praias com cadeiras-de-praia e atividades diversas. Também há a Nuit Blanche, que permite ao público assistir gratuitamente a diferentes expressões da arte contemporânea através da cidade durante a noite do primeiro sábado para o primeiro domingo de outubro.
Paris acolhe ao longo de todo o ano várias festividades: ao fim de janeiro, as ruas do 13º arrondissement se animam com as celebrações do ano novo chinês; o cortejo tradicional do Carnaval de Paris desfila no mês de fevereiro; ao fim de fevereiro, ocorre o Salão Internacional da Agricultura; em março, vê-se o Salão do Livro; ao fim de abril ou início de maio, a Feira de Paris relembra as grandes multidões dos tempos medievais.
O dia 14 de julho é a ocasião do tradicional desfile militar em Champs-Élysées e dos fogos-de-artifício lançados dos jardins do Trocadéro.
Outubro é o mês do Mundial do Automóvel nos anos pares, alternando com o mundial de duas-rodas nos anos ímpares. No mesmo mês, há a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC). No segundo sábado de outubro, o bairro Montmartre se reata com seu passado vitícola na Festa da Colheita de Montmartre. Uma das mais antigas manifestações de arte em Paris é a Bienal de Paris, fundada em 1959 por André Malraux.
Esportes
Os clubes esportivos mais populares de Paris são o clube de futebol Paris Saint-Germain F.C. e os clubes da união de rugby Stade Français e Racing 92, o último dos quais está localizado nos arredores da cidade. O Stade de France, com 80 mil lugares, construído para a Copa do Mundo FIFA de 1998, está localizado ao norte de Paris, na comuna de Saint-Denis. É usado para futebol, rugby union e atletismo, hospedando a Seleção Francesa de Futebol para amistosos e eliminatórias para grandes torneios, anualmente organiza os jogos em casa da Seleção Francesa de Rugby Union no campeonato das Seis Nações e hospeda vários jogos importantes da equipe de rugby do Stade Français. Além do Paris Saint-Germain F.C., a cidade possui vários outros clubes de futebol profissional e amador: Paris FC, Red Star, entre outros.
Paris sediou os Jogos Olímpicos de Verão de 1900 e 1924 e sediará os Jogos Olímpicos de Verão de 2024 e os Jogos Paraolímpicos de 2024. A cidade também sediou as finais da Copa do Mundo FIFA de 1938 (no Stade Olympique de Colombes), bem como a Copa do Mundo FIFA de 1998 e a final da Copa do Mundo de Rugby de 2007 (ambas no Stade de France). Duas finais da Liga dos Campeões da UEFA no século atual também foram disputadas no Stade de France: as edições de 2000 e 2006. Mais recentemente, Paris foi anfitriã do UEFA Euro 2016, tanto no Parc des Princes, na cidade propriamente dita quanto no Stade de France, e este último sediou a partida de abertura e a final.
A etapa final das corridas de bicicleta mais famosas do mundo, o Tour de France, sempre termina em Paris. Desde 1975, a corrida terminou nos Champs-Elysées. O tênis é outro esporte popular em Paris e em toda a França; o Aberto da França, realizado todos os anos na argila vermelha do Centro Nacional de Tênis de Roland Garros, é um dos quatro eventos de Grand Slam da turnê mundial de tênis profissional.
Ver também
Grande Paris
Geografia da França
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Nobel (; ) é um conjunto de seis prêmios internacionais anuais concedidos em várias categorias por instituições suecas e norueguesas, para reconhecer pessoas ou instituições que realizaram pesquisas, descobertas ou contribuições notáveis para a humanidade no ano imediatamente anterior ou no curso de suas atividades. O último desejo do cientista sueco Alfred Nobel estabeleceu os prêmios em 1895. Os prêmios em Química, Literatura, Paz, Física e Fisiologia ou Medicina foram concedidos pela primeira vez em 1901. Em 1968, o Sveriges Riksbank estabeleceu o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, que, embora não seja um Prêmio Nobel, tem sido comumente conhecido como o Prêmio Nobel de Economia. O Prêmio Nobel é amplamente considerado como o mais prestigiado prêmio disponível nas áreas de literatura, medicina, física, química, economia e ativismo pela paz.
A Academia Real das Ciências da Suécia concede o Prêmio Nobel de Física, o Prêmio Nobel de Química e o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel; a Assembleia do Nobel do Instituto Karolinska concede o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina; a Academia Sueca concede o Prêmio Nobel de Literatura; e o Prêmio Nobel da Paz não é concedido por uma organização sueca, mas pelo Comitê Norueguês do Nobel. Entre 1901 e 2021, o Prêmio Nobel e o Prêmio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel foram concedidos 609 vezes a 975 pessoas e organizações. Com algumas pessoas recebendo o Nobel mais de uma vez, isso perfaz um total de 943 indivíduos e 25 organizações.
As cerimônias de premiação acontecem anualmente em Estocolmo, na Suécia (com exceção do prêmio da paz, que acontece em Oslo, na Noruega). Cada recebedor ou laureado recebe uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia em dinheiro que é decidida pela Fundação Nobel (o prêmio equivalia a 1,1 milhão de dólares em 2017).) Medalhas feitas antes de 1980 foram feitas em ouro de 23 quilates e depois em ouro verde de 18 quilates com revestimento de ouro 24 quilates.
O prêmio não é concedido postumamente; no entanto, se uma pessoa receber um prêmio e morrer antes de recebê-lo, o prêmio ainda poderá ser apresentado. Embora o número médio de laureados por prêmio tenha aumentado substancialmente durante o século XX, um prêmio não pode ser dividido entre mais de três pessoas, embora o Prêmio Nobel da Paz possa ser concedido a organizações de mais de três pessoas.
História
Alfred Nobel nasceu em 21 de outubro de 1833 em Estocolmo, na Suécia, em uma família de engenheiros. Ele era químico, engenheiro e inventor. Em 1894, ele comprou a Bofors, uma empresa siderúrgica de ferro e aço, que se tornou uma grande fabricante de armas. Nobel também inventou o ballistite, que foi o precursor de muitos outros explosivos militares sem fumaça, especialmente o cordite, e acabaria acumulando uma fortuna durante sua vida graças às suas 355 invenções, entre as quais a dinamite, a mais famosa. No entanto, também arrastou a sensação de culpa pelo mal que suas invenções poderiam ter causado aos homens.
Em 1888, Nobel ficou surpreso ao ler seu próprio obituário, intitulado "O mercador da morte morreu", em um jornal francês. Como foi seu irmão Ludvig quem realmente morreu, o obituário foi publicado por engano oito anos antes da morte de Alfred Nobel. O artigo desconcertou Nobel e o deixou apreensivo sobre como ele seria lembrado. Isso o inspirou a mudar sua vontade. Em 10 de dezembro de 1896, Alfred Nobel morreu em sua vila em San Remo, na Itália, devido a uma hemorragia cerebral. Ele tinha 63 anos.
Nobel escreveu vários testamentos em vida; o último pouco mais de um ano antes de sua morte, que ele assinou em 27 de novembro de 1895 no Clube Sueco-Norueguês de Paris. Para surpresa de todos, o último testamento de Nobel especificou que sua fortuna seria usada para criar uma série de prêmios para aqueles que realizam "o maior benefício para a humanidade" nas áreas de física, química, fisiologia ou medicina, literatura e paz:
Alfred Nobel legou assim 94% de seus ativos totais, 31 milhões de coroas suecas, para estabelecer os cinco prêmios. A fim de tomar conta da fortuna e organizar a entrega dos prêmios, seus executores Ragnar Sohlman e Rudolf Lilljequist formaram a Fundação Nobel.
As instruções de Nobel nomearam um comitê norueguês do Nobel para conceder o Prêmio da Paz, cujos membros foram nomeados logo após a aprovação do testamento em abril de 1897. Logo depois, as outras organizações premiadas foram designadas ou estabelecidas. Estes foram o Instituto Karolinska em 7 de junho, a Academia Sueca em 9 de junho, e a Academia Real das Ciências da Suécia em 11 de junho. A Fundação Nobel chegou a um acordo sobre as diretrizes de como os prêmios deveriam ser concedidos; e, em 1900, os estatutos recém-criados da Fundação Nobel foram promulgados pelo Rei Oscar II. Em 1905, a união pessoal entre a Suécia e a Noruega foi dissolvida.
Fundação Nobel
Formação da fundação
No século XIX, a família Nobel, conhecida por suas inovações na indústria petrolífera do Azerbaijão, era a principal representante do capital estrangeiro em Baku. Robert Nobel foi o primeiro investidor estrangeiro no setor de petróleo em Baku. Em 1875, Robert Nobel comprou uma pequena refinaria para Baku, assim a fundação da "Companhia Nobel Brothers" que foi nacionalizada pelo Conselho de Comissários do Povo de Baku em 1918 foi lançada. Em 1920, a empresa foi nacionalizada pelo governo da República Socialista Soviética do Azerbaijão.
De acordo com o testamento de Alfred Nobel lido em Estocolmo em 30 de dezembro de 1896, uma fundação estabelecida por Alfred Nobel recompensaria aqueles que servem à humanidade. O Prêmio Nobel foi financiado pela fortuna pessoal de Alfred Nobel. Segundo as fontes oficiais, Alfred Nobel legou das ações 94% de sua fortuna à Fundação Nobel que agora forma a base econômica do Prêmio Nobel.
A Fundação Nobel foi instituída como uma organização privada em 29 de junho de 1900; Sua função é gerenciar as finanças e a administração dos prêmios. Em consonância com a vontade de Alfred Nobel, a principal tarefa da Fundação é a gestão da fortuna que ele próprio legou. Alfred Nobel e seu irmão Robert estavam envolvidos no negócio de petróleo no Azerbaijão e, de acordo com o historiador sueco E. Bargengren, que acessou os arquivos da família Nobel, a decisão de permitir a retirada de seus fundos em Baku foi fundamental para que os prêmios pudessem ser estabelecidos.
Outra tarefa importante realizada pela Fundação Nobel é a promoção internacional de prêmios e a supervisão da administração informal relacionada a eles. A Fundação não se envolve no processo de seleção dos vencedores, mas, de certa forma, é semelhante a uma empresa de investimentos, que investe o patrimônio de Alfred Nobel com o objetivo de criar uma base sólida de financiamento para os prêmios e atividades administrativas. Desde 1946, está isenta de todos os impostos na Suécia e, desde 1953, dos impostos sobre investimentos nos Estados Unidos. Desde os anos 80 do século XX, os investimentos da Fundação Nobel geraram maiores benefícios e, em 2007, seus ativos atingiram 3628 milhões de coroas suecas (o equivalente a cerca de 560 milhões de dólares).
De acordo com os estatutos, a Fundação é constituída por um conselho de cinco cidadãos suecos ou noruegueses, com sede em Estocolmo. O Presidente do Conselho é nomeado pelo monarca da Suécia no Conselho, com os outros quatro membros nomeados pelos curadores das instituições premiadas. Um diretor executivo é escolhido entre os membros do conselho, um vice-diretor é nomeado pelo rei no Conselho e dois deputados são nomeados pelos curadores. No entanto, desde 1995, todos os membros do conselho foram escolhidos pelos curadores, e o Diretor Executivo e o Diretor Adjunto nomeados pelo próprio conselho. Além do conselho, a Fundação Nobel é formada pelas instituições premiadoras (Academia Real das Ciências da Suécia, Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, Academia Sueca e Comitê Norueguês do Nobel), os curadores dessas instituições, e auditores.
Capital e custos da Fundação
O capital da Fundação Nobel hoje é de cinquenta por cento em ações, vinte porcento em obrigações e trinta porcento em outros investimentos (como por exemplo, planos de cobertura ou imóveis). A distribuição pode variar cerca de dez porcento. No início de 2008, sessenta e quatro porcento dos fundos foram investidos, principalmente, em ações americanas e europeias, vinte porcento em obrigações e mais doze porcento em imóveis e planos de cobertura.
Em 2011, o total de custos anuais foi de, aproximadamente, cento e vinte milhões de coroas, com 50 milhões como dinheiro destinado às premiações. Custos adicionais para pagar instituições e pessoas envolvidas na entrega das premiações foram de 27.4 milhões de coroas. Os eventos que ocorreram durante a semana do Nobel em Estocolmo e Oslo custaram 20,2 milhões de coroas. A administração, o simpósio do Nobel e questões similares custaram 22.4 milhões de coroas. O custo de 16,5 milhões de coroas do Prêmio de Ciências Econômicas é pago pelo Sveriges Riksbank.
Primeira premiação
Depois que a Fundação Nobel e suas diretrizes foram estabelecidas, os comitês do Nobel começaram a coletar indicações para os prêmios inaugurais e enviaram uma lista de candidatos preliminares às instituições que concederiam os prêmios. Originalmente, o Comitê Norueguês do Nobel nomeou figuras proeminentes como Jørgen Løvland, Bjørnstjerne Bjørnson e Johannes Steen para dar credibilidade ao Prêmio Nobel da Paz. Ele finalmente concedeu o prêmio a duas figuras destacadas do crescente movimento pela paz no final do século XIX: Frédéric Passy, co-fundador da União Interparlamentar, e Henry Dunant, fundador do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O comitê encarregado do Prêmio Nobel de Física citou o trabalho de Philipp Lenard sobre os raios catódicos e a descoberta de raios X por Wilhelm Röntgen, que foi finalmente selecionado pela Academia Real de Ciências. No caso do prêmio de Química, nas últimas décadas do século XIX, os químicos haviam feito muitas contribuições significativas, de modo que a Academia "se deparou principalmente com o simples fato de decidir a ordem em que o prêmio deveria ser concedido a esses cientistas. A academia recebeu 20 indicações, 11 das quais propuseram para Jacobus Henricus van 't Hoff, que finalmente recebeu o prêmio por suas contribuições para a termodinâmica química.
A Academia Sueca escolheu o poeta Sully Prudhomme para receber o primeiro Prêmio Nobel de Literatura. Um grupo que incluiu 42 escritores suecos, artistas e críticos literários protestou contra essa decisão, porque eles esperavam que Leon Tolstoy fosse o agraciado. Alguns, incluindo o historiador Burton Feldman, criticaram este prêmio por considerar Prudhomme um poeta medíocre. A explicação de Feldman é que a maioria dos membros da Academia preferia a literatura vitoriana, e é por isso que eles selecionaram um poeta vitoriano. O prêmio em Fisiologia ou Medicina, por sua vez, foi para o fisiologista e microbiologista, Emil Adolf von Behring, que durante a década de 1890 desenvolveu uma antitoxina para tratar a difteria, que até então causava milhares de mortes a cada ano.
Durante a Segunda Guerra Mundial
Em 1938 e 1939, o Terceiro Reich de Adolf Hitler proibiu três laureados da Alemanha Nazista (Richard Kuhn, Adolf Friedrich Johann Butenandt e Gerhard Domagk) de aceitarem os seus prêmios. Cada um, mais tarde, recebeu o diploma e a medalha. Mesmo tendo sido a Suécia oficialmente neutra durante a Segunda Guerra Mundial, os prêmios foram concedidos irregularmente. Em 1939, não houve premiado com o Nobel da Paz. Nenhum prêmio foi atribuído em qualquer categoria de 1940-42, devido à ocupação da Noruega pela Alemanha. No ano subsequente, todos os prêmios foram concedidos exceto os prêmios de literatura e paz.
Durante a ocupação da Noruega, três membros do Comitê Nobel norueguês fugiram para o exílio. Os membros restantes escaparam da perseguição dos alemães, quando a Fundação Nobel afirmou que o edifício do Comitê em Oslo era propriedade sueca. Assim, tornou-se um refúgio seguro porque os alemães não estavam em guerra com a Suécia. Esses membros continuaram o trabalho do Comitê, mas não atribuíram quaisquer prémios. Em 1944, a Fundação Nobel, juntamente com três membros no exílio, certificou-se que as nomeações foram enviadas para o Nobel da Paz e que o prêmio poderia ser concedido mais uma vez.
Prêmio em Ciências Econômicas
Por ocasião do seu terceiro centenário, o Sveriges Riksbank, o banco central sueco, doou em 1968 uma importante quantia em dinheiro à Fundação Nobel para ser usada na criação de um prêmio em homenagem a Alfred Nobel, o Prêmio de Ciências Econômicas, que foi entregue pela primeira vez no ano seguinte a Jan Tinbergen e Ragnar Frisch "por ter desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise de processos econômicos". Desde então, a Academia Real de Ciências da Suécia foi responsável pela seleção dos vencedores. Embora não seja realmente um Prêmio Nobel, ele está intimamente identificado com esses prêmios; Na verdade, os vencedores são anunciados juntamente com os vencedores do Prêmio Nobel, e o prêmio é entregue na mesma cerimônia do Prêmio Nobel na Suécia. Após isso, o Conselho de Diretores da Fundação Nobel decidiu que após a incorporação, não seria permitida a criação de novos prêmios adicionais.
Processo de premiação
Nomeações
Normalmente no mês de setembro do ano anterior ao da entrega dos prêmios, formulários de nomeação são enviados pelo comitê do Nobel para aproximadamente três mil indivíduos, que são acadêmicos proeminentes cujo trabalho se dá em uma área relevante do conhecimento. Com relação ao Nobel da Paz, formulários também são enviados para governos, antigos ganhadores do prêmio, e para os antigos ou atuais membros do Comitê Norueguês. O prazo final para o retorno dos formulários se encerra em 31 de janeiro do ano da entrega dos prêmios. O comitê do Nobel seleciona cerca de trezentos potenciais candidatos desses formulários e alguns nomes adicionais. Os indicados não são revelados publicamente e nem são informados de que foram considerados para o prêmio. As nomeações e o conteúdo das deliberações são mantidos em segredo durante 50 anos.
Seleção
Para a seleção dos candidatos, o comitê do Nobel prepara um relatório refletindo o aconselhamento de peritos nos campos relevantes. O relatório e a lista de candidatos preliminares é enviada para as instituições que entregam os prêmios. Os membros das instituições se reúnem para escolher o laureado ou laureados em cada área por votação majoritária. A decisão deles, que não pode ser recorrida, é anunciada imediatamente após a votação. Uma quantidade máxima de três laureados e dois trabalhos diferentes pode ser selecionada em cada prêmio. Exceto no Nobel da Paz, que pode ser entregue a instituições, os prêmios podem ser dados apenas a indivíduos.
Nomeações póstumas
O prêmio não pode ser entregue postumamente desde 1974. Anteriormente, o prêmio Nobel de literatura laureou em 1931 o antigo Secretário Perpétuo da Academia Sueca, Erik Axel Karlfeldt, que morreu seis meses antes do anúncio oficial do vencedor. O prêmio Nobel da paz, em 1961, foi atribuído a Dag Hammarskjöld, secretário-geral das Nações Unidas, morto menos de um mês antes da votação final. No entanto, a proibição de homenagem póstuma possui uma exceção: o Nobel não é cancelado quando o laureado morre depois do anúncio e antes de receber, e isso aconteceu em 1996, quando William Vickrey foi anunciado como o vencedor do prêmio Nobel em economia antes da sua morte. O prêmio Nobel de Medicina laureou em 2011 o canadense Ralph Steinman, morto três dias antes de sua nomeação sem o conhecimento do Conselho. O comitê debateu sobre a premiação de Steinman, já que, em regra, não seria permitida. O comitê decidiu premiar Steinman.
Tempo de reconhecimento
A vontade de Nobel era que os prêmios fossem dados em reconhecimento a descobertas feitas "durante o ano anterior". No início, os prêmios eram dados a descobertas recentes. Entretanto, algumas dessas descobertas foram desacreditadas posteriormente. Por exemplo, Johannes Fibiger ganhou o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1926 devido a descoberta de um parasita que causaria câncer. Para evitar que esse constrangimento aconteça novamente, os prêmios passaram a ser dados a descobertas científicas cada vez mais reconhecidas que resistiram ao teste do tempo. De acordo com Ralf Pettersson, antigo presidente do Comitê do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, "o critério do 'ano anterior' é interpretado pela assembleia do Nobel como o ano em que o impacto completo da descoberta se tornou evidente".
O intervalo entre o prêmio e o feito reconhecido por ele varia de área para área. O Prêmio de Literatura é geralmente dado em reconhecimento pelas obras acumuladas em uma vida de trabalho e não por uma única. O Nobel da Paz também pode ser recebido pelas obras de uma vida, em 2008 por exemplo, o laureado Martti Ahtisaari foi premiado pelo seu trabalho para resolver conflitos internos. Entretanto, eles também podem ser dados por eventos específicos. Por exemplo, Kofi Annan recebeu o Nobel da Paz em 2001, apenas quatro anos depois de se tornar o Secretário-geral das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, Yasser Arafat, Yitzhak Rabin, e Shimon Peres receberam o prêmio de 1994, cerca de um ano após terem concluído de forma bem sucedida os Acordos de Oslo.
Prêmios de física, química e medicina geralmente são dados em uma época em que a descoberta é amplamente aceita. As vezes, isso leva décadas para acontecer. Um exemplo disso é Subrahmanyan Chandrasekhar, que recebeu o prêmio Nobel de Física em 1983 devido ao seus trabalhos sobre evolução e estrutura estelar, feitos na década de 1930. Nem todos os cientistas vivem o suficiente para ter o seu trabalho reconhecido. Algumas descobertas nunca podem ser consideradas para um prêmio se o seu impacto é percebido após a morte de seus descobridores.
Os prêmios
A medalha
As medalhas do Prêmio Nobel, cunhadas pela Myntverket na Suécia e pela Casa da Moeda da Noruega desde 1902, são marcas registradas da Fundação Nobel.
As medalhas cunhadas na Suécia (as das correspondentes categorias de Física, Química, Fisiologia ou Medicina e Literatura) foram desenhadas pelo escultor e gravador Erik Lindberg com o mesmo anverso: uma imagem de Alfred Nobel do perfil esquerdo, acompanhada de suas datas de nascimento e morte.
Em vez disso, a Medalha da Paz foi conduzida pelo norueguês Gustav Vigeland e para o Bank of Prize Suécia em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, por Gunvor Svensson-Lundqvist. Ambos também têm uma imagem de Alfred Nobel na frente, mas com um design ligeiramente diferente. Na parte de trás, enquanto isso, a medalha do Prêmio Nobel da Paz tem a inscrição em latim "Pro ritmo et fraternitate Gentium" (Para ritmo e da irmandade de nações), enquanto a de economia não tem inscrição.
Para a primeira edição da premiação, em 1901, as medalhas não puderam serem entregue a tempo e, em vez de medalhas temporários foram premiados, também com a efígie de Alfred Nobel, embora fabricados em um metal menos valioso, até que ele pudesse terminar as medalhas finais, no ano seguinte. O atraso na conclusão das medalhas deveu-se ao fato de que cada uma das instituições que concedeu os prêmios teve que aprovar os projetos do reverso, algo que não estava livre de controvérsias. Desde 1902, todas as medalhas mantiveram seus respectivos designs.
Até 1980 todas as medalhas foram cunhadas em ouro de 23 quilates. Desde então, eles foram feitos em ouro verde de 18 quilates revestido com ouro de 24 quilates. Seu peso varia dependendo do ouro, mas cada medalha pesa em média 200 gramas; e seu diâmetro é de 66 milímetros.
O diploma
Os vencedores recebem um diploma diretamente das mãos do rei da Suécia ou, no caso do Prêmio Nobel da Paz, do presidente do Comitê Nobel Norueguês, na presença do rei da Noruega. Cada diploma tem um design feito especialmente pelas instituições que o concedem, que contém uma imagem e um texto onde o nome do laureado é especificado, assim como o motivo ou motivos da concessão (exceto o Prêmio Nobel da Paz, cujos diplomas nunca incluíram justificativa).
Quantia
Ao mesmo tempo em que os diplomas são distribuídos, uma importante soma em dinheiro é concedida, cujo valor depende da renda da Fundação Nobel daquele ano. Em 2013, foi de oito milhões de coroas suecas, algo equivalente a, aproximadamente, 758 mil euros. O objetivo desta soma é evitar as preocupações econômicas do laureado, para que ele possa desenvolver melhor seu trabalho futuro, promovendo assim o desenvolvimento da cultura, ciência e tecnologia em todo o mundo. No entanto, não é incomum que os beneficiários escolham doar o dinheiro do prêmio para causas científicas, culturais ou humanitárias.
Prêmios concedidos
Os seguintes prêmios são concedidos anualmente:
Nobel de Física (decidido pela Academia Real das Ciências da Suécia)
Nobel de Química (decidido pela Academia Real das Ciências da Suécia)
Nobel de Fisiologia ou Medicina (decidido pelo Instituto Karolinska de Medicina)
Nobel de Literatura (decidido pela Academia Sueca)
Nobel da Paz (decidido por um comitê designado pelo parlamento norueguês)
Prêmio do Banco Central da Suécia de Economia em memória de Alfred Nobel (decidido pela Academia Real das Ciências da Suécia)
Em 1991, foi criado o prêmio humorístico satirizando os prêmios Nobel (o IgNobel), fundado por Marc Abrahams, também sem nenhuma ligação com Alfred Nobel. O prémio distingue trabalhos que "primeiro fazem as pessoas rir, e depois as fazem pensar", representando a oportunidade de reunir na Universidade de Harvard uma série de cientistas. Existem os Nóbeis: da Paz; de Medicina; da Química; da Física; da Matemática; da Nutrição e de outras áreas, variáveis consoante o tema do trabalho científico "galardoado".
Ciências Econômicas
Em 1968, o Sveriges Riksbank, o banco central da Suécia, instituiu o "Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel", geralmente referido como "Prêmio Nobel da Economia" e concedido a partir de 1969, entregue na mesma cerimónia em Estocolmo em conjunto com os demais Prémios, com excepção do Prémio Nobel da Paz, cuja cerimônia decorre em Oslo.
As cerimônias de premiação
Com exceção do Prêmio da Paz, os prêmios Nobel são apresentados em Estocolmo, na Suécia, na Cerimônia de Premiação anual em 10 de dezembro, o aniversário da morte de Nobel. As palestras dos destinatários são normalmente realizadas nos dias anteriores à cerimônia de premiação. O Prêmio da Paz e as palestras de seus destinatários são apresentados na Cerimônia de Premiação do Prêmio anual em Oslo, Noruega, geralmente em 10 de dezembro. As cerimônias de premiação e os banquetes associados são tipicamente grandes eventos internacionais. Os prêmios concedidos nas cerimônias da Suécia são realizados na Sala de Concertos de Estocolmo (Konserthuset Stockholm), com o banquete do Nobel seguindo imediatamente na Prefeitura de Estocolmo. A cerimônia do Prêmio Nobel da Paz foi realizada no Instituto Nobel Norueguês (1905-1946), no auditório da Universidade de Oslo (1947-1989), e na Prefeitura de Oslo (1990-presente).
O destaque da Cerimônia de Premiação do Prêmio Nobel em Estocolmo ocorre quando cada ganhador do Prêmio Nobel dá um passo à frente para receber o prêmio das mãos do Rei da Suécia. Em Oslo, o presidente do comitê norueguês do Nobel apresenta o Prêmio Nobel da Paz na presença do rei da Noruega. A princípio, o rei Oscar II não aprovou a concessão de grandes prêmios a estrangeiros. Dizem que ele mudou de ideia quando sua atenção foi atraída para o valor publicitário dos prêmios para a Suécia.
Banquete
Após a cerimônia de premiação na Suécia, um banquete é realizado no Salão Azul na Prefeitura de Estocolmo, que é frequentada pela Família Real Sueca e cerca de 1 300 convidados. O banquete do Prêmio Nobel da Paz é realizado na Noruega, no Oslo Grand Hotel, após a cerimônia de premiação. Além do laureado, os convidados incluem o Presidente do Storting, o primeiro-ministro sueco e, desde 2006, o rei e a rainha da Noruega. No total, cerca de 250 convidados comparecem.
Discurso
De acordo com os estatutos da Fundação Nobel, cada laureado é obrigado a dar um discurso público sobre um assunto relacionado ao tema de seu prêmio. O discurso do Nobel como um gênero retórico levou décadas para chegar ao formato atual. Esses discursos ocorrem normalmente durante a semana do Nobel (a semana que antecede a cerimônia de premiação e o banquete, que começa com os laureados chegando a Estocolmo e normalmente termina com o banquete do Nobel), mas isso não é obrigatório. O laureado só é obrigado a dar o discurso dentro de seis meses após receber o prêmio. Alguns aconteceram até mais tarde. Por exemplo, o Presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt recebeu o Prêmio da Paz em 1906, mas deu seu discurso em 1910, após concluir seu mandato. Os discursos são organizados pela mesma associação que selecionou os laureados.
Controvérsias
Entre outras críticas, os comitês do Nobel foram acusados de ter uma agenda política e de omitir candidatos mais merecedores. Eles também foram acusados de eurocentrismo, especialmente para o Prêmio de Literatura.
Prêmio da Paz
Entre os Prêmios Nobel da Paz mais criticados está o de Henry Kissinger e Lê Đức Thọ. Isso levou à renúncia de dois membros do Comitê Nobel da Noruega. Kissinger e Thọ receberam o prêmio pela negociação de um cessar-fogo entre o Vietnã do Norte e os Estados Unidos em janeiro de 1973. No entanto, quando o prêmio foi anunciado, os dois lados ainda estavam envolvidos em hostilidades. Críticos simpáticos ao Norte anunciaram que Kissinger não era um pacificador, mas o oposto, responsável por ampliar a guerra. Aqueles hostis ao Norte e que consideraram suas práticas enganosas durante as negociações foram privados de uma chance de criticar Lê Đức Thọ, como ele recusou o prêmio.
Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin receberam o Prêmio da Paz em 1994 por seus esforços em fazer a paz entre Israel e a Palestina. Imediatamente após o anúncio do prêmio, um dos cinco membros do Comitê Nobel norueguês denunciou Arafat como terrorista e renunciou. Preocupações adicionais sobre Arafat foram amplamente expressas em vários jornais.
Outro controverso Prêmio da Paz foi o concedido a Barack Obama em 2009. As indicações fecharam apenas onze dias depois que Obama assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos, mas a avaliação real ocorreu nos oito meses seguintes. O próprio Obama declarou que não se sentia merecedor do prêmio, ou digno de ser incluído na mesma posição que os ganhadores anteriores. Os ganhadores do Prêmio da Paz no passados ficaram divididos, alguns dizendo que Obama mereceu o prêmio, e outros dizendo que ele não havia garantido as conquistas para ainda merecer tal elogio. O prêmio de Obama, junto com os anteriores prêmios de paz para Jimmy Carter e Al Gore, também provocaram acusações de um viés de esquerda.
Prêmio de Literatura
A entrega do Prêmio Literário de 2004 a Elfriede Jelinek atraiu um protesto de um membro da Academia Sueca, Knut Ahnlund. Ahnlund renunciou, alegando que a seleção de Jelinek havia causado "danos irreparáveis a todas as forças progressistas, mas também confundiu a visão geral da literatura como uma arte". Ele alegou que as obras de Jelinek eram "uma massa de texto unida sem estrutura artística". O Prêmio de Literatura de 2009 para Herta Müller também gerou críticas. Segundo o The Washington Post, muitos críticos e professores literários norte-americanos ignoravam seu trabalho. Isso fez com que esses críticos achassem que os prêmios eram eurocêntricos demais.
Escândalo sexual
Em 2018, o prêmio Nobel de Literatura não foi concedido e a decisão tomada pela Academia Sueca foi de entregar dois prêmios Nobel de literatura no ano seguinte. A decisão ocorreu devido a um escândalo que havia começado em novembro de 2017, quando o jornal sueco Dagens Nyheter noticiou que dezoito mulheres teriam sido assediadas e abusadas sexualmente pelo fotógrafo francês Jean-Claude Arnault. Arnault é uma figura importante no meio cultural sueco e que possuía relações muito próximas com a academia, é casado com a poetisa Katarina Frostenson, uma de seus membros, e o jornal noticiou que os abusos sexuais haviam ocorrido em imóveis de propriedade da Academia durante vinte anos, além disso, ele foi acusado de vazar informações sobre os ganhadores do prêmio sete vezes, desde 1996.
A Academia decidiu cortar suas relações com Arnault e determinou uma auditoria sobre suas relações com a instituição. O escândalo também resultou na renuncia de sete membros da Academia (de um total de 18), incluindo a secretária permanente, Sara Danius, que foi substituída no cargo por Anders Olsson, a renúncia de Danius como membro da academia foi oficializada em 26 de fevereiro de 2019. Para explicar a decisão de não conceder nenhum prêmio em 2018, Olsson fez a seguinte declaração: "Nós achamos necessário dedicar um tempo para reconquistar a confiança do público na Academia antes que o próximo vencedor possa ser anunciado". Em janeiro, Katarina Frostenson renunciou depois que foi comprovado em um inquérito da Academia que ela havia vazado os nomes dos vencedores do prêmio.
Prêmio de Medicina
Em 1949, o neurologista António Egas Moniz recebeu o Prémio de Fisiologia ou Medicina pelo desenvolvimento da leucotomia pré-frontal. No ano anterior, o Dr. Walter Freeman desenvolveu uma versão do procedimento que era mais rápida e mais fácil de realizar. Devido em parte à publicidade em torno do procedimento original, o procedimento de Freeman foi prescrito sem a devida consideração ou consideração pela ética médica moderna. Endossada por publicações influentes como o New England Journal of Medicine, a leucotomia ou "lobotomia" tornou-se tão popular que cerca de cinco mil lobotomias foram realizadas nos Estados Unidos nos três anos imediatamente após o recebimento do Prêmio por Moniz.
Realizações negligenciadas
O comitê norueguês do Nobel confirmou que Mahatma Gandhi foi indicado ao Prêmio da Paz em 1937-39, em 1947, e poucos dias antes de ser assassinado em janeiro de 1948. Mais tarde, membros do Comitê Nobel norueguês expressaram pesar por Gandhi não receber o prêmio. Geir Lundestad, secretário do Comitê Nobel norueguês em 2006, disse: "A maior omissão em nossos 106 anos de história é, sem dúvida, que Mahatma Gandhi nunca recebeu o prêmio Nobel da Paz. Gandhi poderia prescindir do prêmio Nobel da Paz. Se o comitê do Nobel não pode prescindir Gandhi é a questão". Em 1948, o ano da morte de Gandhi, o comitê do Nobel se recusou a conceder um prêmio alegando que "não havia nenhum candidato vivo adequado" naquele ano. Mais tarde, quando o 14º Dalai Lama recebeu o Prêmio da Paz em 1989, o presidente do comitê disse que isso era "em parte um tributo à memória de Mahatma Gandhi". Outros indivíduos de alto perfil, com contribuições amplamente reconhecidas para a paz, ficaram de fora. A Foreign Policy lista Eleanor Roosevelt, Václav Havel, Ken Saro-Wiwa, Sari Nusseibeh e Corazon Aquino como pessoas que "nunca ganharam o prêmio, mas deveriam tê-lo".
O Prêmio de Literatura também possui omissões controversas. Adam Kirsch sugeriu que muitos escritores notáveis perderam o prêmio por razões políticas ou extra-literárias. O foco pesado em autores europeus e suecos tem sido alvo de críticas. A natureza eurocêntrica do prêmio foi reconhecida por Peter Englund, o Secretário Permanente de 2009 da Academia Sueca, como um problema com o prêmio e foi atribuída à tendência da academia de se relacionar mais com autores europeus. Esta tendência para autores europeus ainda deixa alguns escritores do continente em uma lista de escritores notáveis que foram negligenciados para o Prêmio de Literatura, entre eles estão Leo Tolstoy, Anton Chekhov, J.R.R. Tolkien, Émile Zola, Marcel Proust, Vladimir Nabokov, James Joyce, August Strindberg, Simon Vestdijk e Karel Čapek. Entre os escritores do Novo Mundo estão Jorge Luis Borges, Ezra Pound, John Updike, Arthur Miller e Mark Twain, Chinua Achebe da África também foi negligenciado.
Os candidatos podem receber várias indicações no mesmo ano. Gaston Ramon recebeu um total de 155 nomeações em fisiologia ou medicina de 1930 a 1953, o último ano com dados públicos de indicação para o prêmio a partir de 2016. Ele morreu em 1963 sem ser premiado. Pierre Paul Émile Roux recebeu 115 indicações em fisiologia ou medicina, e Arnold Sommerfeld recebeu 84 em física. Estes são os três cientistas mais indicados sem prêmios nos dados publicados a partir de 2016. Otto Stern recebeu 79 indicações em física entre 1925-1943 antes de ser premiado em 1943.
A regra estrita contra a concessão de um prêmio a mais de três pessoas também é controversa. Quando um prêmio é concedido para reconhecer uma conquista por uma equipe de mais de três colaboradores, um ou mais perderão. Por exemplo, em 2002, o prêmio foi concedido a Koichi Tanaka e John Fenn pelo desenvolvimento da espectrometria de massa em química de proteínas, um prêmio que não reconhecia as conquistas de Franz Hillenkamp e Michael Karas, do Instituto de Química Física e Teórica, no Universidade de Frankfurt. De acordo com um dos nomeados para o prêmio em física, o limite de três pessoas privou ele e dois outros membros de sua equipe da honra em 2013: a equipe de Carl Hagen, Gerald Guralnik e Tom Kibble publicou um trabalho em 1964 que deu respostas a como o cosmos começou, mas não compartilharam o Prêmio de Física 2013 concedido a Peter Higgs e François Englert, que também publicaram artigos em 1964 sobre o assunto. Todos os cinco físicos chegaram à mesma conclusão, embora de diferentes ângulos. Hagen afirma que uma solução equitativa é abandonar a restrição do limites de três pessoas, ou expandir o período de tempo de reconhecimento de uma dada realização para dois anos.
Da mesma forma, a proibição de prêmios póstumos não reconhece as realizações de um indivíduo ou colaborador que morre antes de o prêmio ser concedido. O Prêmio de Economia não foi concedido a Fischer Black, que morreu em 1995, quando seu co-autor Myron Scholes recebeu a honra em 1997 pelo seu trabalho de referência sobre precificação de opções, juntamente com Robert C. Merton, outro pioneiro no desenvolvimento de avaliação de estoque opções. No anúncio do prêmio naquele ano, o comitê do Nobel mencionou proeminentemente o papel chave de Black.
O subterfúgio político também pode negar o devido reconhecimento. Lise Meitner e Fritz Strassmann, que co-descobriram a fissão nuclear junto com Otto Hahn, podem ter sido negados uma parte do Prêmio Nobel de Química de Hahn em 1944 por terem fugido da Alemanha quando os nazistas chegaram ao poder. Os papéis de Meitner e Strassmann na pesquisa não foram plenamente reconhecidos até anos depois, quando se juntaram a Hahn para receber o Prêmio Enrico Fermi de 1966.
Ênfase em descobertas sobre invenções
Alfred Nobel deixou sua fortuna para financiar prêmios anuais a serem concedidos "àqueles que, no ano anterior, teriam conferido o maior benefício à humanidade". Ele declarou que os Prêmios Nobel em Física deveriam ser dados "à pessoa que tiver fez a "descoberta" ou "invenção" mais importante dentro do campo da física. " O Nobel não enfatizou as descobertas, mas elas têm sido historicamente mantidas em maior respeito pelo Comitê do Prêmio Nobel do que as invenções: 77% dos prêmios de Física foram dados às descobertas, comparados com apenas 23% das invenções. Christoph Bartneck e Matthias Rauterberg, em artigos publicados na revista Nature and Technoetic Arts, argumentaram que essa ênfase nas descobertas afastou o Prêmio Nobel de sua intenção original de recompensar a maior contribuição para a sociedade.
Disparidade de gênero
Em termos dos prémios mais prestigiados nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, apenas uma pequena proporção foi atribuída às mulheres. Dos 210 laureados em Física, 181 em Química e 216 em Medicina, houve apenas três laureadas em física, cinco em química e 12 em medicina entre 1901 e 2018. Os fatores que contribuem para a discrepância entre as mulheres premiadas nessas campos e a razão sexual humana são: os prêmios Nobel geralmente são dados décadas após a conclusão das pesquisas (refletindo uma época em que o viés de gênero era maior), existem mais homens do que mulheres em atividade nesses campos, os atrasos na entrega dos prêmios para as mulheres fazem a longevidade ser um fator mais importante para elas e uma tendência em omitir as mulheres em prêmios Nobel conjuntos.
Recusas e restrições
Dois laureados recusaram voluntariamente o Prêmio Nobel. Em 1964, Jean-Paul Sartre recebeu o Prêmio de Literatura, mas recusou, afirmando: "Um escritor deve se recusar a se transformar em instituição, mesmo que seja da forma mais honrosa". Lê Đức Thọ, escolhido para o Prêmio da Paz de 1973 por seu papel nos Acordos de Paz de Paris, recusou, afirmando que não havia paz no Vietnã.
Durante a Alemanha Nazista, o ditador Adolf Hitler impediu os alemães Richard Kuhn (Nobel de Química, 1938), Adolf Butenandt (Nobel de Química, 1939) e Gerhard Domagk (Nobel de Fisiologia ou Medicina, 1939) de aceitarem o prêmio. Todos eles puderam receber seus diplomas e medalhas de ouro após a Segunda Guerra Mundial, mas não puderam receber o prêmio em dinheiro. Em 1958, Boris Pasternak recusou seu prêmio de literatura devido ao medo do que o governo da União Soviética poderia fazer se viajasse para Estocolmo para aceitar seu prêmio. Em troca, a Academia Sueca recusou sua recusa, dizendo "essa recusa, é claro, de forma alguma altera a validade do prêmio". A Academia anunciou com pesar que a apresentação do Prêmio de Literatura não pudesse ocorrer naquele ano, até 1989, quando o filho de Pasternak aceitou o prêmio em seu nome.
Três pessoas foram laureadas durante uma prisão: Aung San Suu Kyi recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1991, mas seus filhos aceitaram o prêmio em seu nome porque ela foi colocada em prisão domiciliar em Mianmar; Suu Kyi proferiu seu discurso duas décadas depois, em 2012. Ela foi a única laureada a quem foi aceito o direito de um representante receber o prêmio em seu nome. Duas pessoas não puderam receber o prêmio em vida, sendo elas, Carl von Ossietzky, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1935 enquanto ele estava preso na Alemanha como prisioneiro político desde 1933, e Liu Xiaobo, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2010, enquanto ele e sua esposa estavam em prisão na China.
Ver também
Laureados com o Nobel
Lista de mulheres laureadas com o Nobel
Prêmio IgNobel
Notas
Bibliografia
Livros
Periódicos
Ligações externas
Cultura da Suécia
Prêmios de ciência
Nobel
Nobel
Nobel
Nobel
Prêmios estabelecidos em 1895 |
Os peixes são animais vertebrados, aquáticos, tipicamente ectotérmicos, que possuem o corpo fusiforme, os membros transformados em barbatanas ou nadadeiras (ausentes em alguns grupos) sustentadas por raios ósseos ou cartilaginosos, guelras ou brânquias com que respiram o oxigénio dissolvido na água (embora os dipnóicos usem pulmões) e, na sua maior parte, o corpo coberto de escamas.
Os peixes são recursos importantes, principalmente como alimento, mas também são capturados por pescadores recreativos, mantidos como animais de estimação, criados por aquaristas, e expostos em aquários públicos. Os peixes tiveram um papel importante na cultura através dos tempos, servindo como divindades, símbolos religiosos (ver ichthys), e como temas de arte, livros e filmes.
Uma vez que o "peixe" é definido negativamente, e exclui os tetrápodes (ou seja, os anfíbios, répteis, aves e mamíferos) que são descendentes da mesma origem, é um agrupamento parafilético, não considerado adequado na biologia sistemática. A classe Pisces, de Lineu é considerada tipológica, mas não filogenética.
Os primeiros organismos que podem ser classificados como peixes eram cordados de corpo mole que apareceram pela primeira vez durante o período Cambriano. Embora eles não tivessem uma verdadeira espinha dorsal, possuíam notocórdio, que lhes permitiu serem mais ágeis do que os invertebrados marinhos. Os peixes continuaram a evoluir durante o Paleozoico, diversificando-se em uma grande variedade de formas.
Classificação
No uso comum, o termo peixe tem sido frequentemente utilizado para descrever um vertebrado aquático com brânquias, membros, se presentes, na forma de nadadeiras, e normalmente com escamas de origem dérmica no tegumento. Sendo este conceito do termo "peixe" utilizado por conveniência, e não por unidade taxonômica, porque os peixes não compõem um grupo monofilético, já que eles não possuem um ancestral comum exclusivo. Para que se tornasse um grupo monofilético, os peixes deveriam juntar os Tetrápodes.
Os peixes são tradicionalmente divididos nos seguintes grupos:
Peixes ósseos (Osteichthyes, com mais de 22 000 espécies) à qual pertencem as sardinhas, as garoupas, o bacalhau, o atum e, em geral, todos os peixes que possuem esqueleto ósseo;
Peixes cartilaginosos (Chondrichthyes, mais de 1 000 espécies) à qual pertencem os tubarões e as raias;
Vários grupos de peixes sem maxilas (antigamente classificados como Agnatha ou Cyclostomata, com cerca de 80 espécies), incluindo as lampréias e as mixinas.
Em vista desta diversidade, os zoólogos não mais aceitam a antiga classe Pisces em que Lineu os agrupou, como se pode ver na classificação dos Vertebrados. Abaixo apresentam-se detalhes da classificação atualmente aceita.
Importância dos peixes
Por vezes, usa-se a palavra peixe para designar vários animais aquáticos (por exemplo na palavra peixe-mulher para designar o dugongo). Mas a maior parte dos organismos aquáticos muitas vezes designados por "peixe", incluindo as medusas (águas-vivas), os moluscos e crustáceos e mesmo mamíferos muito parecidos com os peixes como os golfinhos, não são peixes.
Os peixes encontram-se em praticamente todos os ecossistemas aquáticos, tanto em água doce como em água salgada, desde a água da praia até às grandes profundezas dos oceanos (ver biologia marinha). Mas há alguns lagos hiper-salinos, como o Grande Lago Salgado, nos Estados Unidos da América do Norte onde não vivem peixes.
Os peixes têm uma grande importância para a humanidade e desde tempos imemoriais foram pescados para a sua alimentação. Muitas espécies de peixes são criadas em condições artificiais (ver aquacultura), não só para alimentação humana, mas também para outros fins, como os aquários.
Há algumas espécies perigosas para o homem, como os peixes-escorpião que têm espinhos venenosos e algumas espécies de tubarão, que podem atacar pessoas nas praias. Muitas espécies de peixes encontram-se ameaçadas de extinção, quer por pesca excessiva, quer por deterioração dos seus habitats.
O ramo da zoologia que estuda os peixes do ponto de vista da sua posição sistemática é a ictiologia. No entanto, os peixes são igualmente estudados no âmbito da ecologia, da biologia pesqueira, da fisiologia e doutros ramos da biologia.
Ecologia dos peixes
Classificação ecológica
Uma forma de classificar os peixes é segundo o seu comportamento relativamente à região das águas onde vivem; este comportamento determina o papel de cada grupo no ambiente aquático:
pelágicos (do latim pelagos, que significa o "mar aberto") – os peixes que vivem geralmente em cardumes, nadando livremente na coluna de água; fazem parte deste grupo as sardinhas, as anchovas, os atuns e muitos tubarões.
demersais – os que vivem a maior parte do tempo em associação com o substrato, quer em fundos arenosos como os linguados, ou em fundos rochosos, como as garoupas. Muitas espécies demersais têm hábitos territoriais e defendem o seu território activamente – um exemplo são as moreias, que se comportam como verdadeiras serpentes aquáticas, atacando qualquer animal que se aproxime do seu esconderijo.
batipelágicos – os peixes que nadam livremente em águas de grandes profundidades (zona batial).
mesopelágicos – espécies que fazem grandes migrações verticais diárias, aproximando-se da superfície à noite e vivendo em águas profundas durante o dia. Exemplo deste grupo são os peixes-lanterna.
Hábitos alimentares
Os peixes pelágicos de pequenas dimensões como as sardinhas são geralmente planctonófagos, ou seja, alimentam-se quase passivamente do plâncton disperso na água, que filtram à medida que "respiram", com a ajuda de branquispinhas, que são excrescências ósseas dos arcos branquiais (a estrutura que segura as brânquias ou guelras).
Algumas espécies de maiores dimensões têm também este hábito alimentar, incluindo algumas baleias (que não são peixes, mas mamíferos) e alguns tubarões como os zorros (género Alopias). Mas a maioria dos grandes peixes pelágicos são predadores ativos, ou seja, procuram e capturam as suas presas, que são também organismos pelágicos, não só peixes, mas também cefalópodes (principalmente lulas), crustáceos ou outros.
Os peixes demersais podem ser predadores, mas também podem ser herbívoros, que se alimentam de plantas aquáticas, detritívoros, ou seja, que se alimentam dos restos de animais e plantas que se encontram no substrato, ou serem comensais de outros organismos, como a rémora que se fixa a um atum ou tubarão através dum disco adesivo no topo da cabeça e se alimenta dos restos de comida que caem da boca do seu hospedeiro (normalmente um grande predador), ou mesmo parasitas de outros organismos.
Alguns peixes abissais e também alguns neríticos, como os diabos (família Lophiidae) apresentam excrescências, geralmente na cabeça, que servem para atrair as suas presas; essas espécies costumam ter uma boca de grandes dimensões, que lhes permitem comer animais maiores que eles próprios. Numa destas espécies, o macho é parasita da fêmea, fixando-se pela boca a um tentáculo da sua cabeça.
Hábitos de reprodução
A maioria dos peixes é dióica, ovípara, fertiliza os óvulos externamente e não desenvolve cuidados parentais. Nas espécies que vivem em cardumes, as fêmeas desovam nas próprias águas onde os cardumes vivem e, ao mesmo tempo, os machos libertam o esperma na água, promovendo a fertilização. Em alguns peixes pelágicos, os ovos flutuam livremente na água – e podem ser comidos por outros organismos, quer planctónicos, quer nectónicos; por essa razão, nessas espécies é normal cada fêmea libertar um enorme número de óvulos. Noutras espécies, os ovos afundam e o seu desenvolvimento realiza-se junto ao fundo – nestes casos, os óvulos podem não ser tão numerosos, uma vez que são menos vulneráveis aos predadores.
No entanto, existem excepções a todas estas características e neste artigo referem-se apenas algumas. Abaixo, na secção Migrações encontram-se os casos de espécies que se reproduzem na água doce, mas crescem na água salgada e vice-versa.
Em termos de separação dos sexos, existem também (ex.: família Sparidae, os pargos) casos de hermafroditismo e casos de mudança de sexo - peixes que são fêmeas durante as primeiras fases de maturação sexual e depois se transformam em machos (protoginia) e o inverso (protandria).
Os cuidados parentais, quando existem, apresentam casos curiosos. Nos cavalos-marinhos (género Hypocampus), por exemplo, o macho recolhe os ovos fecundados e incuba-os numa bolsa marsupial. Muitos ciclídeos (de que faz parte a tilápia) e algumas espécies de aquário endémicas do Lago Niassa (também conhecido por Lago Malawi, na fronteira entre Moçambique e o Malawi) guardam os filhotes na boca, quer do macho, quer da fêmea, ou alternadamente, para os protegerem dos predadores.
Refere-se acima que a maioria dos peixes é ovípara, mas existem também espécies vivíparas e ovovivíparas, ou seja, em que o embrião se desenvolve dentro do útero materno. Nestes casos, pode haver fertilização interna - embora os machos não tenham um verdadeiro pênis, mas possuem uma estrutura para introduzir o esperma dentro da fêmea. Muitos destes casos encontram-se nos peixes cartilagíneos (tubarões e raias), mas também em muitos peixes de água doce e mesmo de aquário.
A idade e o tamanho a partir dos quais os peixes começam a se reproduzir variam segundo as espécies e dentro de cada espécie, conforme as condições em que vivem. Nos locais frios (Europa), a Carpa-comum não começa a reproduzir-se senão aos três anos. Em locais quentes obtém-se a reprodução com apenas um ano. Certas espécies só põem ovos uma vez por ano, e caso a temperatura esteja muito baixa, algumas espécies não desovam, absorvem os ovos como alimento.
Hábitos de repouso
Os peixes não dormem. Eles apenas alternam estados de vigília e repouso. O período de repouso consiste num aparente estado de imobilidade, em que os peixes mantêm o equilíbrio por meio de movimentos bem lentos.
Como não têm pálpebras, seus olhos ficam sempre abertos. Algumas espécies se deitam no fundo do mar ou no rio, enquanto os menores se escondem em buracos para não serem comidos enquanto descansam.
Migrações
Muitas espécies de peixes (principalmente os pelágicos) realizam migrações regularmente, desde migrações diárias (normalmente verticais, entre a superfície e águas mais profundas), até anuais, percorrendo distâncias que podem variar de apenas alguns metros até várias centenas de quilómetros e mesmo plurianuais, como as migrações das enguias.
Na maior parte das vezes, estas migrações estão relacionadas ou com a reprodução ou com a alimentação (procura de locais com mais alimento). Algumas espécies de atuns migram anualmente entre o norte e o sul do oceano, seguindo massas de água com a temperatura ideal para eles.
Os peixes migratórios classificam-se da seguinte forma:
diádromos – peixes que migram entre os rios e o mar;
anádromos – peixes que vivem geralmente no mar, mas se reproduzem em água doce;
catádromos – peixes que vivem nos rios, mas se reproduzem no mar;
anfídromos – peixes que mudam o seu habitat de água doce para salgada durante a vida, mas não para se reproduzirem (normalmente por relações fisiológicas, ligadas à sua ontogenia);
potamódromos – peixes que realizam as suas migrações sempre em água doce, dentro dum rio ou dum rio para um lago; e
oceanódromos – peixes que realizam as suas migrações sempre em águas marinhas, como os atuns.
Os peixes anádromos mais estudados são os salmões (ordem Salmoniformes), que desovam nas partes altas dos rios, se desenvolvem no curso do rio e, a certa altura migram para o oceano onde se desenvolvem e depois voltam ao mesmo rio onde nasceram para se reproduzirem. Muitas espécies de salmões têm um grande valor económico e cultural, de forma que muitos rios onde estes peixes se desenvolvem têm barragens com passagens para peixes (chamadas em inglês "fish ladders" ou "escadas para peixes"), que lhes permitem passar para montante da barragem.
O exemplo mais bem estudado de catadromia é o caso da enguia europeia que migra cerca de 6 000 km até ao Mar dos Sargaços (na parte central e ocidental do Oceano Atlântico) para desovar, sofrendo grandes metamorfoses durante a viagem; as larvas, por seu lado, migram no sentido inverso, para se desenvolverem nos rios da Europa.
Camuflagem e outras formas de proteção
Alguns peixes se camuflam para fugirem de certos predadores, outros para melhor apanharem as suas presas. Algumas espécies de arraia, por outro lado, se escondem na areia e podem mudar o tom da pele, para suas presas não notarem sua presença no ambiente.
Anatomia dos peixes
Anatomia interna
Esqueleto
Coração
Aparelho digestivo
Bexiga natatória
A bexiga natatória é um órgão que auxilia o peixe a manter-se a determinada profundidade através do controle da sua densidade relativamente à da água. É um saco de paredes flexíveis, derivado do intestino que pode expandir-se ou contrair de acordo com a pressão; tem muito poucos vasos sanguíneos, mas as paredes estão forradas com cristais de guanina, que a fazem impermeáveis aos gases.
A bexiga natatória possui uma glândula que permite a introdução de gases, principalmente oxigénio, na bexiga, para aumentar o seu volume. Noutra região da bexiga, esta encontra-se em contacto com o sangue através doutra estrutura conhecida por "janela oval", através da qual o oxigénio pode voltar para a corrente sanguínea, baixando assim a pressão dentro da bexiga natatória e diminuindo o seu tamanho.
Nem todos os peixes possuem este órgão: os tubarões controlam a sua posição na água apenas com a locomoção e com o controle de densidade de seus corpos, através da quantidade de óleo em seu fígado; outros peixes têm reservas de tecido adiposo para essa finalidade.
A presença de bexiga natatória traz uma desvantagem para o seu portador: ela proíbe a subida rápida do animal dentro da coluna de água, sob o risco daquele órgão rebentar.
A denominação bexiga natatória foi substituída por vesícula gasosa.
Anatomia externa
Para além de mostrar diferentes adaptações evolutivas dos peixes ao meio aquático, as características externas destes animais (e algumas internas, tais como o número de vértebras) são muito importantes para a sua classificação sistemática.
Forma do corpo
A forma do corpo dos peixes "típicos" – basicamente fusiforme – é uma das suas melhores adaptações à locomoção dentro de água. A maioria dos peixes pelágicos (ver acima), principalmente os que formam cardumes activos, como os atuns, apresentam esta forma "típica".
No entanto, há bastantes variações a esta forma típica, principalmente entre os demersais e nos peixes abissais (que vivem nas regiões mais profundas dos oceanos). Nestes últimos, o corpo pode ser globoso e apresentar excrescências que servem para atrair as suas presas.
A variação mais dramática do corpo dos peixes encontra-se nos Pleuronectiformes, ordem a que pertencem os linguados e as solhas. Nestes animais, adaptados a viverem escondidos em fundos de areia, o corpo sofre metamorfoses durante o seu desenvolvimento larvar, de forma que os dois olhos ficam do mesmo lado do corpo – direito ou esquerdo, de acordo com a família.
Muitos outros peixes demersais têm o corpo achatado dorsiventralmente para melhor se confundirem com o fundo. Alguns, como os góbios, que são peixes muito pequenos que vivem em estuários, têm inclusivamente as nadadeiras ventrais transformadas num botão adesivo, para evitarem ser arrastados pelas correntes de maré.
Os Anguilliformes (enguias, congros e moreias) têm o corpo "anguiliforme", ou seja em forma de serpente, assim como algumas outras ordens de peixes.
Nadadeiras
As barbatanas ou nadadeiras são os órgãos de locomoção dos peixes. São extensões da derme (a camada profunda da pele) suportadas por lepidotríquias, que são escamas modificadas e funcionam como os raios das rodas de bicicleta. Por essa razão, chamam-se raios os que são flexíveis, muitas vezes segmentados e |ramificados, ou espinhos, quando são rígidos e podem ser ocos e possuir um canal para a emissão de veneno.
Os números de espinhos e raios nas nadadeiras dos peixes são importantes caracteres para a sua classificação, havendo mesmo chaves dicotómicas para a sua identificação em que este é um dos principais factores.
Tipicamente, os peixes apresentam os seguintes tipos de nadadeiras:
uma nadadeira dorsal;
uma nadadeira anal;
uma nadadeira caudal;
um par de nadadeiras ventrais (ou nadadeiras pélvicas);
um par de nadadeiras peitorais.
Apenas as nadadeiras pares têm relação evolutiva com os membros dos restantes vertebrados.
Algumas ou todas estas nadadeiras podem faltar ou estar unidas - já foi referida a transformação das nadadeiras peitorais dos góbios num disco adesivo – mas as uniões mais comuns são entre as nadadeiras ímpares, como a dorsal com a caudal e anal com caudal (caso de algumas espécies de linguados).
As nadadeiras têm formas e cores típicas em alguns grupos de peixes.
Para além da coloração do corpo, a forma e cor das nadadeiras são decisivas para os aquaristas, de tal forma que chegam a ser produzidas variedades de espécies com nadadeiras espectaculares, como o famoso cauda-de-véu, uma variedade do peixinho-dourado (Carassius auratus).
Alguns grupos de peixes, para além da nadadeira dorsal com espinhos e raios (que podem estar separadas), possuem uma nadadeira adiposa, normalmente perto da caudal. É o caso dos salmões e dos peixes da família do bacalhau (Gadídeos).
Escamas ou placas
A pele dos peixes é fundamentalmente semelhante à dos outros vertebrados, mas possui algumas características específicas dos animais aquáticos. O corpo dos peixes está normalmente coberto de muco que, por um lado diminui a resistência da água ao movimento e, por outro, os protege dos inimigos. Embora haja muitos grupos de peixes com pele nua, como as enguias, a maior parte dos peixes tem-na coberta de escamas que, ao contrário dos répteis, têm origem na própria derme.
Os peixes apresentam quatro tipos básicos de escamas:
ciclóides, as mais comuns, normalmente finas, subcirculares e com a margem lisa ou finamente serrilhada;
ctenóides, também sub-circulares, mas normalmente rugosas e com a margem serrilhada ou mesmo espinhosa;
ganóides, de forma sub-romboidal e que podem ser bastante grossas como as dos esturjões; e salmões;
placóides, normalmente duras com um ou mais espinhos, de formas variadas.
Alguns grupos de peixes têm o corpo coberto de placas ou mesmo uma armadura rígida, como o peixe-cofre e os cavalos-marinhos. Esta armadura pode estar ornamentada com cristas e espinhos e apresenta fendas por onde saem as nadadeiras.
Linha lateral
Um órgão sensorial específico dos peixes é a linha lateral, normalmente formada por uma fiada longitudinal de escamas perfuradas através das quais corre um canal que tem ligação com o sistema nervoso; aparentemente, este órgão tem funções relacionadas com a orientação, uma espécie de sentido do olfacto através do qual os peixes reconhecem as características das massas de água (temperatura, salinidade e outras).
Sistema nervoso e órgãos dos sentidos
Peixes têm sistemas nervosos complexos e seu cérebro é dividido em diferentes partes. O mais anterior, ou frontal, contém as glândulas olfativas. Diferente da maioria dos vertebrados, o cérebro do peixe primeiro processa o senso do olfato antes de todas as ações voluntárias.
Os lobos óticos processam informações dos olhos. O cerebelo coordena os movimentos do corpo enquanto a medula controla as funções dos órgãos internos.
Aproximadamente todos os peixes diurnos possuem olhos bem desenvolvidos com visão colorida. Muitos peixes possuem também células especializadas conhecidas como quimioreceptores, que são responsáveis pelos sentidos de gosto e cheiro.
A maioria dos peixes têm receptores sensitivos que formam o sistema linear lateral, que permite aos peixes detectar correntes e vibrações, bem como o movimento de outros peixes e presas por perto (ver acima).
Em 2003, alguns cientistas escoceses da Universidade de Edimburgo descobriram que os peixes podem sentir dor. Um estudo prévio pelo professor James D. Rose da Universidade de Wyoming dizia que os peixes não podiam sentir dor porque eles não possuíam a parte neocortexal do cérebro, responsável por tal sensação. Peixes como os peixes-gato e tubarões possuem órgãos que detectam pequenas correntes elétricas. Outros peixes, como a enguia elétrica, podem produzir sua própria eletricidade.
Dor
Um estudo sugere que os peixes sentem dor, com uma semelhança como a experimentada por mamíferos, incluindo seres humanos.
Idade de um peixe
É possível saber a idade de um peixe através do exame dos seus "ouvidos". Todos os peixes, com exceção dos tubarões e das arraias, escondem nos ouvidos três pares de otólitos, que são concreções de carbonato de cálcio que servem para a audição e para manter o equilíbrio no meio líquido. O crescimento desses otólitos se faz por depósitos concêntricos sucessivos, cuja espessura e a composição química variam segundo o meio ambiente e a alimentação. Trata-se de um verdadeiro "álbum" que retrata a vida do peixe.
Preservação
A destruição do habitat
A Lista Vermelha da IUCN em 2006 nomeou 1 173 espécies de peixes que estão ameaçadas de extinção. Incluem-se espécies como o Bacalhau-do-atlântico, Diabo Hole, Celacantos, e grandes Tubarões-brancos. Porque os peixes vivem debaixo d'água são mais difíceis de estudar do que os animais terrestres e plantas, e informações sobre as populações de peixes é muitas vezes inexistente. No entanto, peixes de água doce parecem particularmente ameaçados, porque eles vivem muitas vezes em corpos d'água relativamente pequenos. Por exemplo, o Buraco do Demônio tem apenas 6 metros (10 por 20 pés) para a piscina.
A chave do estresse sobre os ecossistemas de água doce é a degradação do habitat, incluindo a poluição da água, a construção de barragens, a remoção de água para uso por seres humanos, e a introdução de espécies exóticas. Um exemplo de um peixe que se tornou em perigo por causa da mudança de habitat é o esturjão pálido, um peixe norte-americano de água doce que vive nos rios deteriorados pela ação humana.
Pesca excessiva
A pesca excessiva é uma grande ameaça para peixes comestíveis, como o bacalhau e o atum. A pesca excessiva, eventualmente, provoca colapso da população (conhecido como estoque), pois os sobreviventes não conseguem produzir o suficiente para substituir aqueles removidos. Extinção comercial Tal não significa que a espécie está extinta, mas apenas que ele não pode mais sustentar uma pescaria.
Um exemplo bem estudado de um colapso da pesca é a sardinha do Pacífico Sadinops pescada ao largo da costa da Califórnia. De um pico de 790 000 toneladas em 1937 a captura declinou para apenas 24 000 toneladas em 1968, após o qual a pesca já não era economicamente viável.
A principal tensão entre a ciência da pesca e da indústria de pesca é que os dois grupos têm opiniões diferentes sobre a resiliência da pesca para a pesca intensiva. Em lugares como a Escócia, Terra Nova, e Alasca a indústria da pesca é um grande empregador, assim, os governos estão predispostos a apoiá-lo. Por outro lado, cientistas e conservacionistas querem uma proteção rigorosa, alertando que a pesca nos padrões atuais poderiam dizimar as espécies pescadas dentro de cinqüenta anos.
As espécies exóticas
Introdução de espécies não-nativas ocorreu em muitos habitats. Um dos melhores exemplos estudados é a introdução da perca-do-nilo no Lago Vitória, na década de 1960. A perca-do-nilo gradualmente exterminou do lago cerca de 500 espécies endémicas de ciclídeos. Alguns deles sobrevivem agora em programas de reprodução em cativeiro, mas outros estão provavelmente extintos. Carp, snakeheads, tilápia, poleiro-europeu, truta, truta-arco-íris, e lampreias-marinhas são outros exemplos de peixes que têm causado problemas ao serem introduzidos em ambientes considerados alienígenas.
Classificação sistemática
A classificação simplificada no topo desta página é a mais próxima da utilizada por Lineu, mas esconde algumas características importantes que fazem deste grupo dos "Peixes", um agregado de espécies com diferentes aspectos evolutivos. Por essa razão, as classificações mais recentes abandonaram alguns taxa tradicionais:
Domínio Eukariota, ao
Reino Animalia, aos clades
Metazoa
Bilateria
Deuterostomia, ao filo
Chordata e, dentro deste, ao clade
Craniata
A partir deste ponto, os estudos evolutivos mostraram divergências:
O taxon classe tem sido usado (e, na Wikipédia em inglês, encontramos vários exemplos) para vários clades diferentes. Por essa razão, e até os taxonomistas acordarem numa forma de classificação científica consensual, devemos abster-nos de utilizar esse taxon. Os peixes, tanto espécies existentes como fósseis, dividem-se pelos seguintes clades:
Hyperotreti – as mixinas (peixes sem coluna vertebral) e
Vertebrata (vertebrados) - um clade que inclui as lampréias e os restantes vertebrados com maxilas;
Dentro dos vertebrados, consideram-se os clades
Hyperoartia - as lampréias (que têm coluna vertebral, mas não têm maxilas);
Gnathostomata – todos os animais com maxilas;
e mais sete grupos fósseis.
Dentro dos Gnathostomata, são aceites os seguintes clades:
Teleostomi – animais com boca terminal;
Chondrichthyes – tubarões e raias – boca sub-terminal ou ventral;
Acanthodii (extintos)
Placodermi (extintos).
Dentro dos Teleostomi
Osteichthyes – animais com tecido ósseo endocondral e com dentes implantados nas maxilas e
Acanthodii (extintos)
Dentro dos Osteichthyes
Sarcopterygii – um grupo que inclui os peixes com nadadeiras lobadas:
Coelacanthimorpha – os celacantos, considerados remanescentes dos primeiros anfíbios;
Dipnoi – os peixes pulmonados ou dipnóicos
os tetrápodes, ou seja, os restantes vertebrados batráquios, répteis, aves e mamíferos; e os
Actinopterygii - peixes com raios ou lepidotríquias nas nadadeiras, ou seja, os "teleósteos", que incluem a maioria das ordens de peixes actuais e algumas outras com divergências filogenéticas.
Dentro desta classificação, os tradicionais taxa Agnatha (peixes sem maxilas), Ostracodermi (formas fósseis sem maxilas) e Cyclostomata (peixes sem maxilas, como as mixinas e lampréias) não devem ser utilizados, uma vez que não são monofiléticos.
Ver também
Aquacultura
Aquário
Biologia marinha
Interacções biológicas
Migração de peixes
Pesca
Lista de peixes que conseguem respirar fora d'água
Peixes ósseos
Peixes pré-históricos
Peixes ornamentais
Lista de peixes
Ligações externas
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Vertebrados |
O raciocínio baseado em casos (RBC) é uma abordagem que busca resolver novos problemas adaptando soluções utilizadas para resolver problemas anteriores. De entre as características do funcionamento de um sistema RBC estão:
A extração do conhecimento a partir de casos ou experiências com que o próprio sistema se depara.
A identificação das características mais significantes dos casos apresentados a fim de devolver uma melhor solução (resposta).
O armazenamento do caso e sua respectiva solução.
A qualidade de um sistema RBC depende de sua experiência, ou seja, depende do número de casos relevantes que farão parte da base de casos.
Histórico
Com um trabalho do grupo de Roger Schank em 1980, iniciaram-se os primeiros estudos sobre as técnicas baseadas em RBC na Universidade de Yale.
Em 1983, Janet Kolodner desenvolveu o primeiro sistema RBC (Cyrus), baseado no modelo de memória dinâmica de Schank, servindo de base para outros sistemas RBC.
O ciclo de funcionamento de um sistema RBC
Recuperação: a partir da apresentação ao sistema de um novo problema é feita a recuperação na base de casos daquele mais parecido com o problema em questão. Isto é feito a partir da identificação das características mais significantes em comum entre os casos.
Reutilização: a partir do caso recuperado é feita a reutilização da solução associada àquele caso. Geralmente a solução do caso recuperado é transferida ao novo problema diretamente como sua solução.
Revisão: é feita quando a solução não pode ser aplicada diretamente ao novo problema. O sistema avalia as diferenças entre os problemas (o novo e o recuperado), quais as partes do caso recuperado são semelhantes ao novo caso e podem ser transferidas adaptando assim a solução do caso recuperado da base à solução do novo caso.
Retenção: é o processo de armazenar o novo caso e sua respectiva solução para futuras recuperações. O sistema irá decidir qual informação armazenar e de que forma.
Desenvolvimento de um sistema de raciocínio baseado em casos
Uma vez que existe disponível uma base de dados para ser investigada, é possível investiga-la para extrair conhecimento a ser aplicado na tomada de novas decisões. A construção de um sistema de RBC a partir de uma base de dados passa pela definição de técnicas e formas de implementação de cada um dos componentes do sistema. As etapas mais importantes do processo de desenvolvimento de um sistema RBC são:
Seleção de uma base de informações (um sistema de banco de dados) que contenha implicitamente o conhecimento necessário na solução de problemas.
Definição de que atributos da informação são relevantes e podem ser utilizados para a solução do problema.
Definição de índices para os casos, para que seja possível a sua recuperação quando necessário. Na indexação deve-se decidir o que armazenar em um novo caso, encontrando uma estrutura apropriada para a descrição dos conteúdos dos casos e decidir como a base de casos deve ser armazenada.
Definição dos métodos de recuperação de casos para verificação da similaridade entre os casos contidos na base e os novos problemas.
A aquisição de conhecimento
Uma etapa muito importante no desenvolvimento do sistema. Conforme alguns autores (Kolodner, 1993) (Leão, 1987), ela é considerada o componente crítico no desenvolvimento de sistemas de RBC.
Representação de casos
Um caso é um pedaço contextualizado de conhecimento representando uma experiência real (Kolodner, 1993). Um caso representa um conhecimento específico, relacionado a uma situação em um determinado contexto. Os casos podem ser de diferentes formas e tamanhos, porém todos tem em comum o fato de representarem um experiência real registrada em todas as suas características relevantes ou não. Um caso possui três componentes muito importantes:
A descrição do problema que foi resolvido: a descrição dos aspectos relevantes do problema que caracterizam uma situação particular a ser resolvida;
A descrição da solução: a solução utilizada para o problema específico na sua descrição;
Conclusão: a avaliação da solução utilizada para determinado problema.
Indexação
Sistemas baseados em casos derivam o seu poder da sua habilidade para recuperar casos relevantes de uma biblioteca de casos de maneira eficiente. O fundamental para atingir este objetivo é saber como essa biblioteca deve ser indexada de maneira que o processo de recuperação seja mais preciso e eficiente.
A partir da descrição do problema, os índices devem apontar quais características do caso devem ser comparadas, determinando assim o caso que pode ser útil para se chegar a uma solução. Isto implica inserir índices nos casos no momento de sua inclusão na base de casos, para que mais tarde eles possam ser recuperados, organizar os casos de maneira que facilite a busca e recuperação e definir algoritmos de recuperação mais eficientes.
Outra tarefa destinada a indexação é a de atribuir pesos às características dos casos, para que seja possível alcançar a recuperação de casos através da utilização do chamado algoritmo de vizinhança (Nearest Neighbor) (Michie, 1994). Esta técnica consiste em definir pesos para as características mais importantes. As características mais importante normalmente são aquelas que possuem o maior número de ocorrências.
Recuperação de casos
O processo de recuperação de casos (Riesbeck, 1999) inicia com uma descrição de problema e finaliza quando um melhor caso for encontrado. O sistema procura na base de dados, o caso mais similar com o novo problema. Para julgar qual o caso armazenado na base é similar ou igual ao novo problema, é preciso medir a similaridade (semelhança) entre eles.
Adaptação de casos
A etapa de adaptação de casos prevê utilizar os casos recuperados na solução do novo problema. Embora existam várias técnicas de adaptação de casos, na maioria dos sistemas a adaptação é chamada Nula, pois a solução é utilizada diretamente na solução do novo problema.
Conclusão
Os Sistemas de RBC possibilitam a utilização do conhecimento especialista no apoio a decisões administrativas, devido à compatibilidade natural desses sistemas com os sistemas de banco de dados institucionais. Eles permitem a extração, organização e reuso de conhecimento utilizado para tomada de decisões no passado, tornando explícitos os métodos utilizados e permitindo o seu aperfeiçoamento.
A utilização dessa técnica fica limitada apenas ao acesso às bases de dados completas, corretas e confiáveis que contenham entre as informações armazenadas, a descrição completa de problemas e das soluções que foram aplicadas em algum momento. Esta é a matéria prima inicial e básica para a construção de sistemas baseados em casos.
Bibliografia
Leão, B. Construção da base de conhecimento de um sistema especialista de apoio ao diagnóstico de cardiopatias congênitas. São Paulo: Escola Paulista de Medicina, 1987.
Michie, D.; Spiegelhalter, D. J. ; Taylor, C. C. Machine Learning, neural and statistical classification. New York, Ellis horwood, 1994.
Riesbeck, Schank, R. A case-based reasoner solves new problems by adapting solutions were used to solve old problems. 1999.
Inteligência artificial
Desenvolvimento de software
Administração
Qualidade |
RAM é um acrónimo usado para designar:
Memória RAM
Região Autónoma da Madeira
Royal Air Maroc, companhia aérea de bandeira do Reino de Marrocos
Regnus Agnus Mundi, também denominada Ordem de RAM
Ram Trucks, marca americana de veículos da FCA US LLC
Ram também pode ser:
Ram, álbum lançado por Paul McCartney em 1971
Random Access Memories, álbum da dupla francesa Daft Punk de 2013
Ram Pickup, uma picape produzida pela Ram Trucks
RAM Racing , uma equipe de Fórmula 1
RIM-116 Rolling Airframe Missile, míssil superfície-ar conhecido também por RAM
Desambiguação |
A Federação da Rússia (, , ), ou simplesmente chamada de Rússia (), é um país localizado no norte da Eurásia, com área de quilômetros quadrados. É o maior país do planeta, cobrindo mais de um nono da superfície terrestre. É também o nono país mais populoso, com 142 milhões de habitantes. Faz fronteira com os seguintes países, de noroeste para sudeste: Noruega, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia (as duas últimas através do exclave de Kaliningrado), Bielorrússia, Ucrânia, Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão, China, Mongólia e Coreia do Norte. Também tem fronteiras marítimas com o Japão, pelo Mar de Okhotsk e pelo Mar do Japão, e com os Estados Unidos, pelo Estreito de Bering.
A região inicia-se com os grupos étnicos eslavos do leste, que surgiram reconhecidos na Europa entre os séculos III e VIII. Fundada e dirigida por uma classe nobre de guerreiros viquingues e por seus descendentes, o primeiro Estado eslavo, a Rússia de Kiev, surgiu no e adotou o cristianismo ortodoxo do Império Bizantino em 988, iniciando a síntese das culturas bizantina e eslava, o que acabou por definir a cultura russa. O principado finalmente se desintegrou e suas terras foram divididas em vários pequenos Estados feudais. O Estado sucessor de Kiev foi Moscóvia, que serviu como a principal força no processo de reunificação da Rússia e na luta de independência contra a Horda de Ouro mongol. Moscóvia gradualmente reunificou os principados russos e passou a dominar o legado cultural e político da Rússia de Kiev. Por volta do , o país teve grande expansão territorial através da conquista, anexação e exploração de vastas áreas, tornando-se o Império Russo, entre 1721 e 1917, que foi o terceiro maior império da história, se estendendo da Polônia, na Europa, até o atual estado estadunidense Alasca, na América do Norte.
O país estabeleceu poder e influência em todo o mundo desde os tempos do império até se tornar a maior e principal república constituinte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), entre 1922 e 1991, o primeiro e maior Estado socialista constitucional, reconhecido como uma superpotência e que desempenhou um papel decisivo para a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial. A Federação da Rússia foi criada na sequência da dissolução da União Soviética, em 1991, mas é reconhecida como o Estado sucessor da URSS.
O país é a décima segunda maior economia do mundo por PIB nominal e a sexta maior economia do mundo em paridade do poder de compra e com o quinto maior orçamento militar nominal. É um dos cinco Estados reconhecidos com armas nucleares do mundo, além de possuir o maior arsenal de armas de destruição em massa do planeta. A Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, membro do BRICS, G20, Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), Organização para Cooperação de Xangai (OCX), EurAsEC, além de ser um destacado membro da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). O povo russo pode se orgulhar de uma longa tradição de excelência em todos os aspectos das artes e das ciências, bem como uma forte tradição em tecnologia, incluindo importantes realizações como o primeiro voo espacial humano.
Etimologia
O nome Rússia é derivado da Rússia de Kiev, um Estado medieval povoado principalmente pelos eslavos do Leste. No entanto, este nome próprio tornou-se mais proeminente posteriormente e o país normalmente era chamado por seus habitantes de "Русская Земля" (Russkaia Zemlia), que poderia ser traduzido como "Terra Russa" ou "Terra de Rus'". Para distinguir esse Estado de outros derivados dele, ele é denominado como Rússia de Kiev pela historiografia moderna. O próprio nome Rus vem dos povos rus, um grupo de varegues (possivelmente viquingues suecos), que fundou o Estado de Rus (Русь).
Uma versão latina antiga do termo Rus' era Rutênia, aplicada principalmente às regiões oeste e sul de Rus e que eram adjacentes à Europa católica. O nome atual do país, Россия (Rossia), vem da designação grega bizantina Ῥωσσία (Rhossía) à Rússia de Kiev.
História
Primeiros povos
Um dos primeiros ossos humanos modernos, datado de 35 mil anos de idade, foi encontrado na Rússia, em Kostenki, nas margens do rio Don. Os restos do hominídeo de Denisova, que viveu entre 1 milhão e 40 mil anos, foram descobertos na caverna de Denisova, no sul da Sibéria. Em tempos pré-históricos, as vastas estepes do sul da Rússia eram o lar de tribos de pastores nômades. Os restos dessas civilizações foram descobertos em lugares como Ipatovo, Sintashta, Arkaim, e Pazyryk, que possuem os primeiros vestígios conhecidos de guerras com o uso de cavalos, uma característica fundamental no modo de vida nômade.
Na Antiguidade Clássica, a estepe pôntica era conhecida como Cítia. Desde o , comerciantes da Grécia Antiga conduziram os produtos da sua civilização para os empórios comerciais em Tánais e Fanagoria. Os romanos estabeleceram-se na parte ocidental do Mar Cáspio, onde seu império se estendia para o leste. Entre os séculos III e , o semilendário reino gótico de Aujo existiu no sul da Rússia, até que foi invadido pelos hunos. Do ao , o Reino do Bósforo, um sistema político helenista que sucedeu as colônias gregas, também foi assaltado por invasões nômades lideradas por tribos guerreiras, como os hunos. Pelo , a estepe pôntica presencia a migração de mais tribos guerreiras, como os ávaros da Eurásia e os protobúlgaros. Um povo turco, os cazares, dominou as estepes da bacia do Volga, entre os mares Cáspio e Negro até o .
Os ancestrais dos russos modernos são as tribos eslavas, cujo lar de origem é considerado por alguns estudiosos como tendo sido as áreas florestadas dos pântanos de Pinsco. Os Eslavos do Leste gradualmente se assentaram na Rússia Ocidental em duas ondas: uma movendo-se de Kiev para a atual Susdália e Murom e outra de Polócia para Novogárdia Magna e Rostóvia. A partir do , os eslavos do leste constituíam a maior parte da população na Rússia Ocidental e, lentamente, mas de forma pacífica, assimilaram os povos fino-úgricos nativos, incluindo os , os muromianos e os meshcheras.
Rússia de Kiev
O estabelecimento do primeiro Estado dos Eslavos do Leste, no , coincidiu com a chegada de varegues, que eram comerciantes, guerreiros e colonos da região do mar Báltico. Originalmente, eles eram um povo viquingue de origem escandinava, que se aventurou ao longo dos cursos de água que se estendem desde o mar Báltico oriental até os mares Negro e Cáspio. De acordo com a Crônica Primária, um varegue do povo Rus' chamado Rurique, foi eleito governador da Novogárdia em 862. Em 882 o seu sucessor, Olegue, se aventurou ao sul e conquistou Kiev, que tinha sido anteriormente dominada pelos cazares, e fundou a Rússia de Kiev. Posteriormente, Olegue, Igor (o filho de Rurique) e (o filho de Igor), subjugaram todas as tribos locais de eslavos do leste ao domínio de Kiev, ao destruírem o Império Cazar e ao lançarem várias expedições militares para o Império Bizantino e para a Pérsia.
Nos séculos X e XI, a Rússia de Kiev tornou-se um dos maiores e mais prósperos Estados da Europa. Os reinados de , e de seu filho, , constituíram a "Era de Ouro de Kiev", quando o cristianismo ortodoxo do Império Bizantino foi assimilado pelo povo e quando o primeiro código legal escrito por eslavos do leste foi criado, o Russkaia Pravda.
Nos séculos XI e XII, as constantes incursões de tribos turcas nômades, como os quipchacos e os pechenegues, causaram uma migração maciça das populações eslavas para regiões mais seguras, como as densas florestas do norte, particularmente na área conhecida como Zalesye.
A era do feudalismo e da descentralização foi marcada pelo constante combate entre os membros da dinastia ruríquida, que governou a Rússia de Kiev coletivamente. O domínio de Kiev entrou em declínio, enquanto outros Estados, como o Principado de Vladimir-Susdália, a República de Novogárdia e o Reino de Galícia-Volínia, prosperavam. Por fim, a Rússia de Kiev se desintegrou com o golpe final que foi a invasão mongol de 1237–1240, que resultou na destruição de Kiev e na morte de cerca de metade da população do Principado. A elite mongol invasora, juntamente com seus súditos turcos conquistados (cumanos, quipchacos e protobúlgaros) tornaram-se conhecidos como tártaros e formaram o Estado do Canato da Horda Dourada, que pilhou os principados russos. Os mongóis governaram a Cumânia e a Bulgária do Volga (extensões do sul e do centro da Rússia atual) por mais de dois séculos.
A Galícia-Volínia acabou sendo assimilada pela Comunidade Polaco-Lituana, enquanto o Principado de Vladimir-Susdália e a República de Novogárdia sob domínio mongol, duas regiões da periferia de Kiev, estabeleceram as bases para a moderna nação russa. Novogárdia, junto com Pescóvia, manteve um certo grau de autonomia durante o tempo do jugo mongol e foram largamente poupadas das atrocidades que afetaram o resto do país. Liderados pelo príncipe Alexandre Nevski, os novogárdios repeliram os invasores suecos na Batalha do Neva em 1240, assim como combateram os cruzados germânicos na Batalha do Lago Peipus em 1242, quebrando suas tentativas de colonizar o Norte do Rus'.
Moscóvia
O mais poderoso Estado sucessor da Rússia de Kiev foi o Grão-Ducado de Moscou (ou "Moscóvia" nas crônicas ocidentais), inicialmente uma parte do Principado de Vladimir-Susdália. Enquanto ainda estavam sob o domínio dos mongóis-tártaros e com a sua conivência, Moscóvia começou a afirmar sua influência no centro de Rus' no início do , tornando-se gradualmente a principal força no processo das terras Rus' e na expansão da Rússia. Aqueles eram tempos difíceis, com as frequentes incursões mongóis-tártaras e com a agricultura difícil desde o início da Pequena Idade do Gelo. Tal como no resto da Europa, pragas atingiram a Rússia em alguma região uma vez a cada cinco ou seis anos no período entre 1350 e 1490. No entanto, devido à baixa densidade populacional e a uma melhor higiene (pela prática generalizada de banya, o banho de vapor), as mortes entre a população causadas pelas pragas não foram tão graves como na Europa Ocidental.
Liderado pelo príncipe Demétrio de Moscou e ajudado pela Igreja Ortodoxa Russa, um exército unido dos principados russos infligiu uma derrota marcante contra os mongóis-tártaros na Batalha de Kulikovo, em 1380. Moscóvia gradativamente absorveu os principados circundantes, incluindo antigos e fortes rivais, como Tuéria e Novogárdia.
Ivã III (o Grande), finalmente se livrou do controle da Horda de Ouro, consolidou todo o centro e norte do Rus' sob o domínio de Moscóvia e foi o primeiro a assumir o título de "Grão-Duque de todas as Rússias". Depois da queda de Constantinopla em 1453, Moscóvia reivindicou sucessão ao legado do Império Romano do Oriente. Ivã III casou com Sofia Paleóloga, a sobrinha do último imperador bizantino, Constantino XI, e fez da bizantina águia bicéfala o seu próprio brasão e, posteriormente, de toda a Rússia.
Czarado
No desenvolvimento das ideias da Terceira Roma, o grão-duque Ivã IV (conhecido como o "Terrível") foi oficialmente coroado o primeiro czar ("césar") da Rússia em 1547. O czar promulgou um novo código de leis (o Sudebnik de 1550), estabeleceu o primeiro órgão representativo feudal russo (o Zemski Sobor) e introduziu a auto-gestão local nas regiões rurais.
Durante o seu longo reinado, Ivã, o Terrível, quase dobrou o já extenso território russo anexando os três canatos tártaros (partes da desintegrada Horda Dourada): Cazã e Astracã ao longo do rio Volga, e o Canato da Sibéria, no sul da Sibéria. Assim, até o final do a Rússia foi transformada em um Estado multiétnico, multiconfessional e transcontinental.
No entanto, o czarismo foi enfraquecido pela longa e mal sucedida Guerra da Livônia contra uma coalizão entre Polônia, Lituânia e Suécia pelo acesso ao mar Báltico e ao comércio marítimo. Ao mesmo tempo, os tártaros do Canato da Crimeia, o único sucessor remanescente da Horda de Ouro, continuou a atacar o sul da Rússia. No esforço para restaurar os canatos do Volga, os crimeanos e seus aliados otomanos invadiram a região central da Rússia e chegaram a queimar partes de Moscou em 1571. No ano seguinte, no entanto, o grande exército invasor foi completamente derrotado pelos russos na Batalha de Molodi, eliminando para sempre a ameaça da expansão otomana da Crimeia para o território russo. Os ataques de crimeanos, no entanto, não cessaram até o final do , embora a construção de novas linhas fortificadas em todo sul russo diminuíam constantemente a área acessível às incursões.
A morte dos filhos de Ivã marcou o fim da antiga dinastia ruríquida em 1598, e em combinação com a fome de 1601–1603, levou a nação à guerra civil, governos instáveis e intervenção estrangeira durante o chamado "Tempo de Dificuldades" no início . A Comunidade Polaco-Lituana ocupou partes da Rússia, incluindo Moscou. Em 1612, os poloneses foram forçados a recuar pelo corpo de voluntários da Rússia, liderado por dois heróis nacionais, o comerciante Kuzma Minin e o príncipe Dmitri Pojarski. A Dinastia Romanov chegou ao poder em 1613 por decisão do Zemsky Sobor (o parlamento feudal) e o país começou a sua gradual recuperação da crise.
A Rússia continuou o seu crescimento territorial ao longo do , que ficou conhecido como a era de cossacos. Os cossacos eram guerreiros organizados em comunidades militares, assemelhando-se a piratas e pioneiros do Novo Mundo. Em 1648, camponeses da Ucrânia juntaram-se aos cossacos da Zaporójia em rebelião contra a Comunidade Polaco-Lituana, durante a Revolta de Khmelnitski, por causa da opressão social e religiosa que sofriam sob o domínio polonês. Em 1654, o líder ucraniano Bohdan Khmelnytsky propôs colocar a Ucrânia sob a proteção do czar russo Aleixo I. A aceitação desta oferta por Aleixo levou a outra guerra russo-polonesa entre 1654 e 1667. Finalmente, a Ucrânia foi dividida ao longo do rio Dnieper, deixando a parte ocidental sob o domínio polonês e a parte oriental (o que incluía Kiev) sob o domínio russo. Mais tarde, entre 1670 e 1671, os cossacos do Don, liderados por Stenka Razin, iniciaram uma grande revolta na região do Volga, mas as tropas do czar foram bem sucedidas em derrotar os rebeldes.
No leste, a rápida exploração e colonização russa dos imensos territórios da Sibéria foi liderada principalmente pelos cossacos que caçavam em busca de peles e marfim, que eram muito valiosos. Os exploradores russos foram para o leste, principalmente ao longo das rotas dos rios siberianos, e em meados do , havia assentamentos russos na Sibéria Oriental, na península de Tchuktchi, ao longo do rio Amur e na costa do Pacífico. Em 1648, o estreito de Bering, entre a Ásia e a América do Norte foi transpassado pela primeira vez por Fedot Alekseevitch Popov e Semion Dejniov.
Império
Sob o governo de Pedro, o Grande, a Rússia foi proclamada um império em 1721 e passou a ser reconhecido como uma potência mundial. Durante seu governo entre 1682 e 1725, Pedro derrotou a Suécia na Grande Guerra do Norte, forçando-a a ceder a Carélia e a Íngria (duas regiões que os russos perderam durante o Tempo das Dificuldades), além de Reval e Livônia, garantindo o acesso da Rússia ao mar e ao comércio marítimo. Nas margens do mar Báltico, Pedro I fundou uma nova capital chamada São Petersburgo, mais tarde conhecida como a "janela da Rússia para a Europa". As reformas de Pedro, o Grande, trouxeram consideráveis influências culturais da Europa Ocidental para o país.
A czarina Catarina, a Grande continuou o trabalho de Pedro, derrotando a Polônia e anexando a Bielorrússia e a Ucrânia, outrora a nação fundadora daquele Império. Catarina assina um acordo com o reino da Geórgia de modo a evitar invasões do Império Otomano, e a Geórgia passa a ser protegida militarmente pela Rússia.
Em 1812, o grande armée de Napoleão Bonaparte entra em Moscovo, mas vê-se forçada a abandoná-la, já que a cidade havia sido evacuada e estava vazia. Os russos tinham preparado uma armadilha contra o imperador francês. O frio e a falta de recursos foram responsáveis pela morte de 95% das tropas francesas. Durante o regresso de Napoleão a Paris, os russos perseguiram-no e dominaram Paris, trazendo para o império as ideias liberais que estavam em marcha na França e na Europa Ocidental. Ainda devido à perseguição sobre Napoleão, a Rússia conquista a Finlândia e a Polónia. O golpe final sobre Napoleão foi dado em 1813, quando os russos e aliados, os austríacos e os prussianos, venceram a armada de Napoleão na batalha de Leipzig.
Sucessivas guerras e conflitos vão acompanhando a Rússia até ao fim da era czarista. Sai derrotada na Guerra da Crimeia, que durou de 1853 a 1856. Mais tarde, vence a Guerra Russo-Turca e obriga o Império Otomano a reconhecer a independência da Roménia, da antiga Sérvia e a autonomia da Bulgária.
A ascensão de Nicolau I, que governaria entre 1825 e 1855, trava o desenvolvimento da Rússia nos fins do . A lei da servidão obrigava os camponeses a lavrar as terras sem poder que as possuíssem. O seu sucessor, Alexandre II, que comandou o país de 1855 a 1881, ao ver o atraso da Rússia em relação à Europa, cria reformas que vão fazer com que a Rússia consiga um maior desenvolvimento.
O final do viu o surgimento de vários movimentos socialistas na Rússia. Alexandre II foi assassinado em 1881 por terroristas revolucionários e o reinado de seu filho, Alexandre III (1881–1894), foi menos liberal, mas mais tranquilo. O último imperador russo, Nicolau II (1894–1917), foi incapaz de evitar que os acontecimentos da Revolução Russa de 1905, desencadeada pela mal sucedida Guerra Russo-Japonesa e pelo incidente conhecido como Domingo Sangrento.
O levante foi controlado, mas o governo foi forçado a admitir grandes reformas, incluindo a concessão das liberdades de expressão e de reunião, a legalização dos partidos políticos, bem como a criação de um órgão legislativo eleito, a Duma do Império Russo. Essas medidas surtiram escasso efeito, visto que os partidos eram sistematicamente vigiados e a Duma era controlada pela aristocracia e pelo czar, que podia dissolvê-la a qualquer momento. Até 1905, o sistema político da Rússia czarista não possuía partidos políticos, com todo o poder concentrado nas mãos do imperador. Destaca-se que estas mudanças, embora significativas sob o ponto de vista político, não alteravam o quadro social da maior parte da população russa. A migração para a Sibéria aumentou rapidamente no início do , particularmente durante a reforma agrária Stolypin. Entre 1906 e 1914, mais de quatro milhões de colonos chegaram naquela região.
Em 1914, a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial, em resposta à declaração de guerra da Áustria-Hungria contra a Sérvia, que era aliada dos russos, e lutou em várias frentes ao mesmo tempo, isolada de seus aliados da Tríplice Entente. Em 1916, a Ofensiva Brusilov do Exército Russo quase destruiu completamente as forças militares da Áustria-Hungria. No entanto, a já existente desconfiança da população com o regime imperial foi aprofundada pelo aumento dos custos da guerra, muitas baixas e pelos rumores de corrupção e traição. Tudo isso formou o clima para a Revolução Russa de 1917, realizada em dois atos principais.
Revoluções e guerra civil
Apesar da Rússia, na época, ser um dos países mais poderosos do mundo em termos militares, apenas uma fina parte da população, os nobres, tinham boas condições de vida. Os camponeses eram terrivelmente pobres e trabalhavam de sol-a-sol os seus terrenos sem poder possuí-los. As sucessivas derrotas em várias guerras e batalhas durante a Primeira Guerra Mundial e o descontentamento geral da população fizeram com que a economia interna começasse a deteriorar-se. Nesta ocasião, emergem com força os Sovietes e o Partido Operário Social-Democrata Russo, fundado em 1898, e posteriormente dividido entre os mencheviques e os bolcheviques, dois termos análogos a minoria (меньше) e maioria (больше), em russo.
Este quadro político-social foi profundamente alterado pela deflagração da Primeira Guerra Mundial. A Revolução de Fevereiro de 1917 caracterizou a primeira fase da Revolução Russa. A consequência imediata foi a abdicação do czar Nicolau II. Ela ocorreu como resultado da insatisfação popular com a autocracia czarista e com a participação negativa do país na Primeira Guerra Mundial. Ela levou à transferência de poder do czar para um regime republicano, surgido da aliança entre liberais e socialistas que pretendiam conduzir reformas políticas.
As mudanças propostas pelos mencheviques, que haviam liderado a Revolução de Fevereiro, não alteraram o quadro social, pois o país continuava a sofrer grandes perdas em função da participação na Guerra. A insatisfação social, aliada à atuação dos bolcheviques, fez eclodir a Revolução de Outubro. O marco desta revolução foi a invasão do Palácio de Inverno pelos revolucionários. A Revolução de Outubro foi liderada por Vladimir Lênin, tornando-se a primeira revolução socialista do .
A saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial, o desejo da volta do poder da então elite russa e o medo de que o ideário comunista poderia propagar-se pela Europa e eventualmente pelo mundo, fez eclodir a Guerra Civil Russa, que contou com a participação de diversas nações. O então primeiro-ministro francês, George Clemenceau, criou a expressão Cordão Sanitário, com o intuito de isolar a Rússia bolchevique do restante do mundo. O idealismo dos bolchevique propagado para a população mais pobre foi o fator decisivo para a vitória dos partidários de Lênin.
Após a Revolução de Outubro, uma guerra civil eclodiu entre o Exército Branco, que era anticomunista, e o novo regime soviético com o seu Exército Vermelho. A Rússia bolchevista perdeu seus territórios ucranianos, poloneses, bálticos e finlandeses ao assinar o Tratado de Brest-Litovsk, que acabou com as hostilidades com as Potências Centrais da Primeira Guerra Mundial. As potências aliadas lançaram uma intervenção militar mal sucedida em apoio de forças anticomunistas. Entretanto tanto os bolcheviques quanto o movimento branco realizaram campanhas de deportações e execuções contra os outros, episódio que ficou conhecido, respectivamente, como Terror Vermelho e Terror Branco. Até o final da guerra civil russa, a economia e a infraestrutura do país foram profundamente danificadas. Milhões de membros do movimento branco emigraram, enquanto a fome russa de 1921 matou cerca de 5 milhões de pessoas.
União Soviética
A República Socialista Federativa Soviética Russa em conjunto com as Repúblicas Socialistas Soviéticas da Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásia, formaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou simplesmente União Soviética, em 30 de dezembro de 1922. A República Socialista Russa era a maior e mais populosa das 15 repúblicas que compunham a URSS, e dominou a união durante toda a sua existência de 69 anos.
Após a morte de Lenin, em 1924, uma troika foi designada para governar a União Soviética. No entanto, Josef Stalin, o então secretário-geral do Partido Comunista, conseguiu suprimir todos os grupos de oposição dentro do partido e consolidar o poder em suas mãos. Leon Trotsky, o principal defensor da revolução mundial, foi exilado da União Soviética em 1929 e a ideia de Stalin de "socialismo em um só país" tornou-se a linha principal. A contínua luta interna no Partido Bolchevique culminou no Grande Expurgo, um período de repressão em massa entre 1937 e 1938, durante a qual centenas de milhares de pessoas foram executadas, incluindo os membros e líderes militares originais do partido, que foram acusados de golpe de Estado. Sob a liderança de Stalin, o governo lançou promoveu uma economia planificada, a industrialização do país, que em grande parte ainda era basicamente rural, e a coletivização da agricultura. Durante este período de rápida mudança econômica e social, milhões de pessoas foram enviadas para campos de trabalho forçado, incluindo muitos presos políticos que se opunham ao governo de Stalin, além de milhões que foram deportados e exilados para áreas remotas da União Soviética. A desorganizada transição da agricultura do país, combinada com duras políticas estatais e uma seca, levou à fome soviética de 1932–1933. A União Soviética, embora a um preço muito alto, foi transformada de uma economia agrária para uma grande potência industrial em um pequeno espaço de tempo.
A política de apaziguamento promovida pelo Reino Unido e França sobre a anexação da Áustria e a invasão da Tchecoslováquia ampliou o poder da Alemanha nazista e colocou uma ameaça de guerra entre o regime de Adolf Hitler e a União Soviética. Na mesma época, o Terceiro Reich aliou-se ao Império do Japão, um rival dos soviéticos no Extremo Oriente e um inimigo declarado da URSS nas guerras de fronteira soviético-japonesas entre 1938 e 1939. Em agosto de 1939, após outro fracasso nas tentativas de estabelecer uma aliança antinazista com os britânicos e franceses, o governo soviético decidiu melhorar suas relações com os nazistas através da celebração do Pacto Molotov-Ribbentrop, prometendo a não agressão entre os dois países e dividindo suas esferas de influência na Europa Oriental. Enquanto Hitler invadiu a Polônia e a França e outros países atuavam em uma frente única no início da Segunda Guerra Mundial, a URSS foi capaz de construir o seu exército e recuperar alguns dos antigos territórios do Império Russo, como resultado da invasão soviética da Polônia, da Guerra de Inverno e da ocupação dos países bálticos.
Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista rompeu o tratado de não agressão e invadiu a União Soviética, com a maior e mais poderosa força de invasão na história humana e a abertura do maior teatro da Segunda Guerra Mundial. Embora o exército alemão tenha tido um considerável sucesso no início da invasão, o ataque foi interrompido na Batalha de Moscou. Posteriormente, os alemães sofreram grandes derrotas na Batalha de Stalingrado, no inverno entre 1942 e 1943, e, em seguida, na Batalha de Kursk, no verão de 1943. Outra falha alemã foi o Cerco de Leningrado, em que a cidade foi totalmente bloqueada por terra entre 1941 e 1944 por forças alemãs e finlandesas, e sofreu uma crise de fome que matou mais de um milhão de pessoas, mas nunca se rendeu. Sob a administração de Stalin e a liderança de comandantes como Gueorgui Jukov e Konstantin Rokossovsky, as forças soviéticas chegaram à Europa Oriental entre 1944 e 1945 e tomaram Berlim em maio de 1945. Em agosto de 1945 o exército soviético venceu os japoneses em Manchukuo, na China, e na Coreia do Norte, contribuindo para a vitória dos Aliados sobre o Japão Imperial.
O período da Segunda Guerra Mundial (1941–1945) é conhecido na Rússia como a Grande Guerra Patriótica. Durante este conflito, que incluiu muitas das operações de combate mais letais da história da humanidade, as mortes de civis e militares soviéticos foram 10,6 milhões e 15,9 milhões, respectivamente, representando cerca de um terço de todas as vítimas de todo o conflito. A perda demográfica total dos povos soviéticos foi ainda maior. A economia e a infraestrutura soviéticas sofreram uma devastação massiva, mas a URSS emergiu como uma superpotência militar reconhecida após o fim da guerra.
O Exército Vermelho ocupou a Europa Oriental depois da guerra, incluindo a Alemanha Oriental. Governos socialistas dependentes dos soviéticos foram instalados em Estados fantoches no chamado Bloco do Leste. Ao tornar-se a segunda potência nuclear do mundo, a União Soviética criou a aliança do Pacto de Varsóvia e entrou em uma luta pela dominação global com os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), período conhecido como Guerra Fria. A União Soviética apoiou movimentos revolucionários em todo o mundo, inclusive na recém-formada República Popular da China, na República Popular Democrática da Coreia e, mais tarde, na República de Cuba. Quantidades significativas de recursos soviéticos foram alocados em ajuda para os outros Estados socialistas.
Após a morte de Stalin e um curto período de governo coletivo, o novo líder Nikita Khrushchov denunciou o culto à personalidade de Stalin e lançou a política de desestalinização. O sistema de trabalho penal foi reformado e muitos prisioneiros foram libertados e reabilitados (muitos deles postumamente). O abrandamento geral das políticas repressivas ficou conhecido mais tarde como o "Degelo de Khrushchov". Ao mesmo tempo, as tensões com os Estados Unidos aumentaram quando os dois rivais entraram em confronto sobre a instalação dos mísseis PGM-19 Jupiter norte-americanos na Turquia e de mísseis soviéticos em Cuba.
Em 1957, a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik 1, iniciando assim a era espacial. O cosmonauta russo Iuri Gagarin se tornou o primeiro ser humano a orbitar a Terra a bordo da nave espacial Vostok 1, em 12 de abril de 1961. Depois da substituição de Khrushchov, em 1964, um outro período de domínio coletivo se seguiu até que Leonid Brejnev se tornou o novo líder. O período da década de 1970 e início dos anos 1980 foi designado mais tarde como a Era da Estagnação, um período em que o crescimento econômico abrandou e as políticas sociais tornaram-se estáticas. A reforma de 1965 voltou-se para a descentralização parcial da economia soviética e mudou a ênfase na indústria pesada e de armas para a indústria leve e de bens de consumo, mas foi sufocada pela liderança comunista conservadora.
Em 1979, após uma revolução comunista no Afeganistão, as forças soviéticas entraram naquele país, a pedido do novo regime. A ocupação drenou recursos econômicos e arrastou-se sem alcançar resultados políticos significativos. Em última análise, o Exército Soviético foi retirado do Afeganistão em 1989 pela oposição internacional, pela persistente guerrilha anti-soviética e pela falta de apoio por parte dos cidadãos soviéticos.
A partir de 1985, o último líder da URSS, Mikhail Gorbachev, tentou aprovar reformas liberais no sistema soviético e apresentou as políticas de glasnost (abertura) e da perestroika (reestruturação), na tentativa de acabar com o período de estagnação econômica e democratizar o governo. Isso, no entanto, levou ao surgimento de fortes movimentos nacionalistas e separatistas. Antes de 1991, a economia soviética era a segunda maior do mundo, mas durante seus últimos anos, foi atingida pela escassez de mercadorias em supermercados, enormes déficits orçamentários e pelo crescimento explosivo na oferta de dinheiro, o que levando à inflação.
Em 1991, a crise econômica e política começou a transbordar e as repúblicas bálticas escolheram separar-se da URSS. Em 17 de março, foi realizado um referendo, em que a grande maioria dos cidadãos participantes votaram a favor de preservar a União Soviética como uma federação renovada. Em agosto de 1991, uma tentativa de golpe de Estado foi feita por membros do governo dirigida contra Gorbachev e visava preservar a União Soviética. Em vez disso, levou ao fim do Partido Comunista da União Soviética. Apesar da vontade expressa pelo povo, em 25 de dezembro de 1991, a União Soviética foi dissolvida em 15 Estados pós-soviéticos.
Federação
Boris Yeltsin foi eleito Presidente da Rússia em junho de 1991, na primeira eleição direta presidencial na história russa. Durante e após a desintegração soviética, amplas reformas, incluindo a privatização, mercados e a liberalização comercial, estavam sendo realizadas, incluindo mudanças radicais ao longo das linhas de "terapia de choque", como recomendado pelos Estados Unidos e pelo Fundo Monetário Internacional. Tudo isso resultou em uma grave crise econômica, caracterizada pela queda de 50% do PIB e da produção industrial entre 1990–1995.
A privatização, em grande parte, deslocou o controle de empresas dos órgãos estatais para indivíduos com ligações dentro do sistema de governo. Muitos dos empresários "novos-ricos" levaram bilhões em dinheiro e ativos para fora do país em uma enorme fuga de capitais. A depressão do Estado e da economia levou ao colapso dos serviços sociais; a taxa de natalidade despencou, enquanto a taxa de mortalidade disparou. Milhões de pessoas mergulharam na pobreza; saindo de um nível de 1,5% de pobreza no final da era soviética, para 39–49% em meados de 1993. A década de 1990 assistiu ao surgimento da corrupção extrema e da ilegalidade, dando origem às quadrilhas criminosas e aos crimes violentos.
Nos anos 1990 foram expostos os conflitos armados na região da Ciscaucásia (Cáucaso do Norte), tanto os conflitos étnicos locais, quanto as insurreições de separatistas islâmicos. Depois que os separatistas chechenos declararam independência no começo dos anos 1990, uma guerra de guerrilha intermitente foi travada entre os grupos rebeldes e as forças militares russas. Ataques terroristas contra civis foram realizados por separatistas, sendo os mais relevantes os atentados contra apartamentos russos em 1999, a crise dos reféns do teatro de Moscou e o cerco à escola de Beslan, que causaram centenas de mortos e chamaram a atenção do mundo inteiro.
A Rússia assumiu a responsabilidade pela liquidação das dívidas externas da URSS, apesar de sua população ser apenas metade da população do Estado Soviético na altura da sua dissolução. Elevados défices orçamentais provocados pela crise financeira da Rússia em 1998 resultaram em um declínio ainda maior do PIB.
Em 31 de dezembro de 1999, o Presidente Ieltsin renunciou, entregando o posto para o recém-nomeado primeiro-ministro, Vladimir Putin, que depois ganhou a eleição presidencial de 2000. Putin suprimiu a rebelião chechena, embora a violência esporádica ainda ocorresse em todo o Cáucaso do Norte. A alta dos preços do petróleo e uma moeda inicialmente fraca, seguido do aumento da demanda interna, consumo e investimentos, tem ajudado a economia a crescer por nove anos consecutivos, melhorando a qualidade de vida e aumentando a influência da Rússia na cena mundial. Apesar das muitas reformas feitas durante a presidência de Putin, seu governo foi criticado pelas nações ocidentais como sendo uma liderança não democrática. Putin retomou a ordem, a estabilidade e o progresso e ganhou grande popularidade na Rússia.
Em 2 de março de 2008, o então primeiro-ministro do governo Putin e também seu partidário, Dmitri Medvedev, foi eleito Presidente da Rússia, enquanto Putin se tornou seu primeiro-ministro. Em 2012 inverteram-se novamente os papéis e Putin assume novamente a presidência e Medvedev como primeiro-ministro, desta vez com um mandato se estendendo até 2018, dando continuidade ao seu característico estilo de governo conservador/nacionalista, do qual é acompanhado de uma grande aprovação por parte da população russa girando em torno dos 80%.
A gestão do Putin depende fortemente das receitas de petróleo e gás natural, que em 2021 representaram 45% do orçamento federal da Rússia. A dependência da gestão Putin de gás e óleo fez o senador norte-americano John McCain, em 2014, declarar que a Rússia era um "posto de gasolina disfarçado de país".
Em 2014, Putin enviou tropas russas para a Ucrânia após a Revolução da Dignidade. A subsequente anexação da Crimeia pela Rússia e o referendo que a precedeu permanecem não reconhecidos pela comunidade internacional, o que levou à aplicação de sanções econômicas à Rússia pelos países ocidentais, após as quais o governo russo respondeu com contra-sanções.
Em março de 2018, Putin foi eleito para um quarto mandato presidencial. Em janeiro de 2020, foram propostas emendas substanciais à constituição, entrando em vigor em julho após uma votação nacional, o que permitiu que Putin concorra a mais dois mandatos presidenciais de seis anos após o término de seu mandato atual.
Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma invasão da Ucrânia. Por volta das 06:00, horário de Moscou, Putin anunciou a operação militar; minutos depois, cidades ucranianas foram atacadas por mísseis russos.
Geografia
A Rússia é um país que se estende por grande parte do norte da Eurásia. Composto por grande parte da Europa oriental e do norte da Ásia, é o maior país do mundo em área territorial. Devido ao seu tamanho, a Rússia exibe uma grande diversidade biológica e geográfica. Tal como acontece com a sua topografia, seus climas, vegetação e solos abrangem vastas distâncias.
De norte a sul, a planície europeia oriental é revestida majoritariamente pela tundra, florestas de coníferas (taiga), pastagens (estepe) e regiões áridas (no mar Cáspio), enquanto as mudanças na vegetação refletem as mudanças no clima. A Sibéria suporta uma sequência semelhante, mas coberta em sua maior parte pela taiga. O país possui 41 parques nacionais, 101 reservas biológicas e 40 reservas da biosfera da UNESCO. A Rússia tem as maiores reservas florestais do mundo, conhecidas como "os pulmões da Europa", perdendo apenas para a Floresta Amazônica, no montante de dióxido de carbono que absorve.
Há 266 espécies de mamíferos e 780 espécies de aves no país. Um total de 415 espécies de animais foram incluídos no Livro Vermelho da Federação da Rússia em 1997 e agora estão protegidos.
Topografia
A maior parte do território russo consiste de vastas extensões de planícies, que são compostas predominantemente por estepes no sul e por densas florestas no norte, com a tundra ao longo da costa norte. A Rússia possui 10% das terras aráveis do mundo. Cordilheiras são encontradas ao longo das fronteiras meridionais do país, como a do Cáucaso (onde está o Monte Elbrus, que com metros é o ponto mais alto da Rússia e da Europa) e as Montanhas Altai; nas partes orientais como a Cordilheira Verkhoiansk e os vulcões da península de Kamtchatka (onde está o Kliuchevskaia Sopka, que com metros de altura é o vulcão ativo mais alto da Eurásia, além de ser o ponto mais alto da Rússia asiática). Os Montes Urais são ricos em recursos minerais e formam uma faixa que vai de norte a sul, dividindo a Europa e a Ásia.
A Rússia tem um extenso litoral, com mais 37 mil quilômetros de extensão ao longo dos oceanos Ártico e Pacífico, além dos mares Báltico, Azov, Negro e Cáspio. Os mares de Barents, Branco, Kara, Laptev, siberiano Oriental, Tchuktchi, Bering, Okhotsk e o mar do Japão estão ligados à Rússia através dos oceanos Ártico e Pacífico. Entre as principais ilhas e arquipélagos russos estão Nova Zembla, Terra de Francisco José, Severnaia Zemlia, Nova Sibéria, Wrangel, Curilas e Sacalina. As ilhas Diomedes (uma controlada pela Rússia e a outra pelos Estados Unidos) estão a apenas três quilômetros de distância uma da outra e a ilha Kunashir está a cerca de vinte quilômetros de Hokkaido, no Japão.
A Rússia tem milhares de rios e corpos d'água, o que fornece ao país um dos maiores recursos hídricos superficiais do mundo. Seus lagos contêm aproximadamente um quarto da água doce líquida do mundo. O maior e mais importante de corpos de água doce russos é o Lago Baikal, o lago de água doce mais profundo, puro, antigo e de maior capacidade do planeta. O Baikal, sozinho, contém mais de um quinto da água doce superficial do mundo. Outros grandes lagos incluem o Ladoga e Onega, dois dos maiores lagos da Europa. No mundo, a Rússia perde apenas para o Brasil em termos de volume do total de recursos hídricos renováveis. Dos 100 mil rios do país, o Volga é o mais famoso, não só porque é o rio mais longo da Europa, mas também por causa de seu importante papel na história da nação russa. Os rios siberianos Ob, Ienissei, Lena e Amur estão entre os maiores rios do mundo.
Clima
A Rússia domina quase metade da Europa e um terço da Ásia. Rússia possui vários climas diferentes. O país é atravessado por quatro climas: ártico, subártico, temperado e subtropical. As estações podem ser caracterizadas assim: inverno longo e nevoso, primavera temperada, verão curto e quente e outono chuvoso. Essas características, entretanto, variam muito por região. O verão na Rússia também é variável de região a região, registando-se temperaturas médias de 25 °C. Em certos casos extremos, já houve dias em que se registraram temperaturas superiores a 45 °C.
A região mais a norte do país, chamada Sibéria, é a mais fria de todo o país. Registam-se temperaturas no inverno da ordem dos -40 °C ou -50 °C, às vezes chegando aos -60 °C ou até menos. A sul, o clima é mais quente, havendo campos e estepes onde as temperaturas chegam aos -8 °C. O frio proveniente da Sibéria alastra-se não só por toda a Rússia como por quase a totalidade da Europa e grande parte da Ásia.
Na zona central da Rússia, encontram-se as florestas mais claras, mistas, dominadas por bétulas, álamos, carvalhos. As florestas das zonas centrais estão divididas por estepes. A maior parte das estepes é lavrada e semeada por trigo, centeio, milho, girassol, etc.
Demografia
Em 2002, constatou-se que o grupo étnico russo compõe 79,8% da população do país, apesar de a Federação da Rússia ser também o lar de diversas consideráveis minorias. No total, segundo os mesmos dados, 160 outros grupos étnicos e povos indígenas vivem dentro de suas fronteiras, os maiores sendo os tártaros, ucranianos e basquírios. Embora a população russa seja comparativamente grande, sua densidade é baixa devido ao enorme tamanho do país. A população é mais densa no centro e centro-leste da Rússia europeia, perto dos Montes Urais e no sudoeste da Rússia asiática. 73% da população vive em áreas urbanas, enquanto 27% nas áreas rurais. A população total é de , de acordo com dados de 2010.
A população russa chegou a em 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética. Ela começou a experimentar um rápido declínio a partir de meados dos anos 1990. O declínio desacelerou para a quase estagnação nos últimos anos devido à redução das taxas de mortalidade, o aumento das taxas de natalidade e o aumento da imigração.
Em 2009, a Rússia registrou um crescimento da população pela primeira vez em 15 anos, com crescimento total de 10,5 mil. 279.906 migrantes chegaram à Federação da Rússia no mesmo ano, dos quais 93% vieram de países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). O número de emigrantes russos declinou de } em 2000 para em 2009. Há também uma estimativa de 10 milhões de imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas vivendo na Rússia. Cerca de 116 milhões de russos étnicos vivem na Rússia e cerca de 20 milhões moram em outras repúblicas da antiga União Soviética, principalmente na Ucrânia e no Cazaquistão.
A Constituição russa garante assistência médica livre e universal para todos os cidadãos. Na prática, porém, os cuidados de saúde gratuitos são parcialmente restritos, devido ao regime propiska. Embora a Rússia tenha mais médicos, hospitais e profissionais de saúde per capita que quase qualquer outro país do mundo, desde o colapso da União Soviética, a saúde da população russa diminuiu consideravelmente, como resultado das mudanças sociais, econômicas e de estilo de vida. Essa tendência foi revertida apenas nos últimos anos, com o aumento da expectativa de vida média de 2,4 anos para os homens e 1,4 anos para as mulheres entre 2006–09.
Em 2009, a expectativa média de vida na Rússia era de 62,77 anos para os homens e 74,67 anos para as mulheres. O maior fator que contribui para a expectativa de vida relativamente baixa do sexo masculino é uma alta taxa de mortalidade entre os homens em idade de trabalho por causas evitáveis, como por exemplo, intoxicação por álcool, tabagismo, acidentes de trânsito e crimes violentos. Como resultado da grande diferença de gênero na expectativa de vida e por causa do efeito duradouro do grande número de vítimas na Segunda Guerra Mundial, o desequilíbrio entre os sexos permanece até hoje, havendo 0,859 homens para cada mulher.
A taxa de natalidade da Rússia é maior do que a da maioria dos países europeus — 12,4 nascimentos por pessoas em 2008, em comparação com a média da União Europeia, de 9,90 por , enquanto a taxa de mortalidade é substancialmente mais elevada. Em 2009, a taxa de mortalidade da Rússia foi de 14,2 por pessoas, em comparação com a média de 10,28 por na UE. No entanto, em 2012, o índice de nascimentos igualou-se ao de mortes, devido ao aumento da fertilidade e da queda na mortalidade. Em 2009, a Rússia registrou a taxa de natalidade mais elevada desde o colapso da URSS: 12,4 nascimentos por habitantes. Em 1991, o número era de 12,1, e em 1983, a taxa de natalidade teve seu pico, com 17,6 nascimentos a cada habitantes.
Línguas
Os 160 grupos étnicos da Rússia falam cerca de 100 idiomas. De acordo com o censo de 2002, 142,6 milhões de pessoas falam russo, seguido pelo tártaro com 5,3 milhões e pelo ucraniano, com 1,8 milhões de falantes. O russo é a única língua oficial, mas a Constituição dá às repúblicas o direito de fazer a sua língua nativa co-oficial, ao lado do idioma russo.
Apesar de sua grande dispersão, o idioma russo é homogêneo em toda a Rússia. O russo é a língua mais ampla em distribuição geográfica de toda a Europa e Ásia, além da língua eslava mais falada. Pertence à família das línguas indo-europeias e é um dos três últimos membros vivos das línguas eslavas orientais, sendo os outros o bielorrusso e o ucraniano. Exemplos escritos do eslavônico, que deu origem a todas as línguas eslavas, são atestados a partir do .
A língua russa chegou a ser extensamente na literatura científica mundial, atingindo um pico em 1970 com 20% de tudo que era publicado no mundo sendo em russo. Com uma queda drástica, atualmente a língua russa é utilizada em menos de 2% das publicações científicas mundiais. Esse fenômeno é observado na própria Rússia, onde na última década o inglês foi utilizado em mais de 90% das publicações científicas e o russo em menos de 9%.
O russo é também uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU).
Religião
O cristianismo, o islamismo, o budismo e o judaísmo são as religiões tradicionais da Rússia, legalmente uma parte do "patrimônio histórico" do país. As estimativas de fiéis variam amplamente entre as fontes e alguns relatórios apontam que o número de ateus e agnósticos na Rússia esteja entre 16% e 48% da população.
Criada através da cristianização dos rus' de Kiev, no , a cristianismo ortodoxo russo é a religião dominante no país, sendo que cerca de 100 milhões de cidadãos se consideram cristãos ortodoxos russos. 95% das regiões registradas como ortodoxas pertencem à Igreja Ortodoxa Russa, enquanto há uma série de outras pequenas Igrejas Ortodoxas. No entanto, a grande maioria dos crentes ortodoxos não frequentam a igreja regularmente. Existem também várias outras denominações cristãs menores, como os católicos, os armênios gregorianos e os protestantes.
As estimativas do número de muçulmanos variam entre 7 e 20 milhões de fiéis. Também existem entre 3 e 4 milhões de imigrantes muçulmanos dos Estados pós-soviéticos. A maioria dos muçulmanos vive na região do Volga-Ural, assim como no Cáucaso, Moscou, São Petersburgo e na Sibéria ocidental.
O budismo é tradicional em três regiões da Federação da Rússia: Buriácia, Tuva e Calmúquia. Alguns moradores das regiões da Sibéria e do Extremo Oriente, como Iacútia e Tchukotka, praticam o xamanismo, panteísmo e ritos pagãos, juntamente com as grandes religiões. A indução religiosa ocorre principalmente em linhas étnicas. Os cristão ortodoxos são majoritariamente eslavos, os muçulmanos são predominantemente povos turcos e os povos mongóis são budistas.
Governo e política
A Rússia é uma democracia Federal, baseada num sistema de Estado de Direito sob a forma de República. Os três poderes do Estado, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, são independentes entre si. As decisões políticas são tomadas na Assembleia Federal da Rússia, que é constituída por dois congressos: a Duma e o Soviete da Federação, a câmara baixa e a câmara alta, respectivamente.
A Duma é a câmara baixa, com 450 deputados. Qualquer cidadão com nacionalidade russa nativa ou adquirida e com mais de 21 anos pode ser eleito deputado dessa assembleia. Todas as leis a serem aplicadas em toda a Federação têm de ter aprovação com maioria absoluta na Duma. O Soviete da Federação é a câmara alta, composta por 166 membros, indicados por cada um dos 83 distritos da Rússia.
O presidente da Rússia é o chefe de estado, protector da Constituição, dos direitos e das liberdades dos cidadãos e tem de accionar qualquer medida para proteger a integridade da soberania russa. É ele que representa a Rússia nos encontros diplomáticos. Tem também a função de escolher o primeiro-ministro, desde que com o consentimento da Duma.
O presidente é eleito através do voto livre, popular, directo, universal e secreto para um mandato de seis anos, podendo repeti-lo mais uma única vez. Qualquer cidadão russo pode ser candidato a presidente desde que tenha mais de 35 anos e 10 de permanência no território russo. O atual presidente da Rússia é Vladimir Putin, no cargo desde março de 2012, sucedendo a Dmitri Medvedev.
Relações internacionais
A Federação da Rússia é reconhecida pelo direito internacional como o Estado sucessor da União Soviética. A Rússia continua a cumprir os compromissos internacionais da URSS e assumiu sua sede permanente no Conselho de Segurança da ONU, a participação em outras organizações internacionais, os direitos e obrigações decorrentes de tratados internacionais e os bens e dívidas. A Rússia tem uma política externa multifacetada. Em 2009, o país mantinha relações diplomáticas com 191 países e tinha 144 embaixadas. A política externa é determinada pelo presidente e implementada pelo Ministério de Assuntos Estrangeiros da Rússia.
Como o sucessor de uma antiga superpotência, a condição geopolítica da Rússia tem sido muito debatida, principalmente com relação aos pontos de vista unipolar e multipolar no sistema político global. Enquanto a Rússia é comumente aceita como uma grande potência, nos últimos anos tem sido caracterizada por uma série de líderes mundiais, estudiosos, comentaristas e políticos como uma superpotência emergente. No entanto, tal caracterização tem sido contestada por outros.
Como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia desempenha um papel importante na manutenção da paz e da segurança internacional. O país participa do Quarteto de Madrid e do Diálogo a Seis com a Coreia do Norte. A Rússia é membro do BRICS, do Conselho da Europa, da OSCE e da APEC. O país assume, geralmente, um papel de liderança em organizações regionais como a CEI, EurAsEC, OTSC e a OCX. O presidente Vladimir Putin, defendeu uma parceria estratégica e uma estreita integração em várias dimensões, incluindo a criação de espaços comuns, com a União Europeia. Desde o colapso da União Soviética, a Rússia tem desenvolvido uma relação amistosa, apesar de volátil, com a OTAN. O Conselho OTAN-Rússia foi criado em 2002 para permitir que os 26 membros da aliança militar e a Rússia trabalhem juntos como parceiros iguais para aproveitar as oportunidades de colaboração conjunta.
Sob Putin, a Rússia procurou reforçar os laços com a República Popular da China através da assinatura do Tratado de Amizade, bem como com a construção de um oleoduto transiberiano, voltado para as crescentes necessidades de energia da China.
Forças armadas
As Forças Armadas da Rússia estão divididas em Exército, Marinha e Aeronáutica. Há também três braços independentes: as Forças Estratégicas de Mísseis, as Forças Espaciais e as Tropas Aerotransportadas. Em 2006, os militares tinham 1,037 milhão de pessoas na ativa. A força de tanques da Rússia é a maior do mundo e a sua marinha de superfície e força aérea estão entre a mais fortes do planeta. É obrigatório para todos os cidadãos do sexo masculino com idades entre 18 e 27 anos prestar dois anos de serviço para as Forças Armadas.
A Rússia tem o maior arsenal de armas nucleares e a segunda maior frota de submarinos nucleares do mundo, além de ser o único país, além dos Estados Unidos, com uma força moderna de bombardeiros estratégicos.
O país tem uma ampla indústria armamentista que produz a maioria dos seus próprios equipamentos militares, com apenas alguns tipos de armas importadas. A Rússia é o principal fornecedor mundial de armas, uma posição que tem mantido desde 2001, representando cerca de 30% das vendas mundiais de armas e exportando armas para cerca de 80 países.
A Rússia mantém a quarta maior despesa militar do mundo, gastando 61,7 mil milhões de dólares em 2020. Atualmente, um importante pacote de atualização de equipamentos de 200 bilhões de dólares estava previsto para o período entre 2006 e 2015.
Direitos humanos
Os direitos e liberdades dos cidadãos russos são concedidos pelo capítulo 2 da constituição do país, aprovada em 1993. A Rússia é também um país signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e também ratificou uma série de outros instrumentos internacionais de direitos humanos, incluindo o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Estes instrumentos do direito internacional prevalecem sobre a legislação nacional de acordo com o Capítulo 1, Artigo 15º da constituição russa.
No entanto, de acordo com organizações internacionais de direitos humanos e órgãos da imprensa nacional, as violações dos direitos humanos no país incluem tortura generalizada e sistemática de pessoas sob custódia da polícia, prática de dedovshchina (termo usado para ser referir a um sistema de humilhações e torturas) no exército russo, negligência e crueldade em orfanatos, além de violações de direitos das crianças. De acordo com a Anistia Internacional, há discriminação, racismo e assassinatos de membros de minorias étnicas no país.
No relatório Freedom in the World de 2013, a organização norte-americana Freedom House considerou a Rússia um país "não livre", com problemas na garantia de direitos políticos e de liberdades civis. Em 2006, a The Economist publicou uma classificação de democracia entre 162 nações ao redor do mundo e colocou a Rússia no 102º lugar, classificando o país como um "regime híbrido, com uma tendência para o controle dos meios de comunicação e de outras liberdades civis".
Há casos de ataques a manifestantes organizados pelas autoridades locais. Parlamentares da oposição e jornalistas, como Anna Politkovskaia, Alexander Litvinenko e Anastasia Baburova, foram assassinados, além de defensores dos direitos humanos, cientistas e jornalistas terem sido presos. Desde 1992, ao menos 50 jornalistas foram mortos em todo o país.
Homossexuais e pessoas LGBT em geral têm enfrentado crescentes restrições aos seus direitos nos últimos anos na Rússia. Em 2012, o Tribunal Superior de Moscou determinou que nenhuma parada gay pode ser realizada na cidade pelos próximos 100 anos. Em 2013, o governo russo aprovou um projeto de lei federal que proíbe a distribuição de "propaganda de relações sexuais não tradicionais" para menores. A lei impõe multas pesadas para o uso da mídia ou da internet para promover "relações não tradicionais".
A ONG Human Rights Watch divulgou uma compilação de vídeos coletados na internet que mostram violentas agressões físicas e psicológicas que homossexuais sofrem no país por parte de grupos de extrema direita. De acordo com uma pesquisa da organização Russian LGBT Network feita com homossexuais russos no primeiro semestre de 2013, 56% disseram já ter sofrido algum tipo de assédio psicológico; 16% disseram já ter sido agredido fisicamente; 7% afirmaram ter sofrido violência sexual; e 8% dizem que foram detidos pelas forças policiais, pelo menos uma vez, simplesmente por conta de sua orientação sexual. Cerca de 77% dos entrevistados também disseram não ter confiança na polícia e uma grande parte dos gays sequer tentam registrar a violência.
Subdivisões
Na Rússia, vigora o sistema estatal de uma República Federal onde existem dentro desse país várias divisões autónomas. Actualmente, a Federação é dividida em 83 partes das quais: 46 são oblasts (províncias) (regiões administradas por um governador); 21 são repúblicas (territórios administrados por um presidente como chefe de Estado e por um primeiro-ministro como chefe de Governo); 9 são krais (territórios); 4 são oblasts autónomos (regiões autônomas administradas por um governador); 2 são cidades federais (Moscou e São Petersburgo, ambas administradas por prefeitos); 1 é província autônoma (Oblast Autônomo Judaico, administrado por um governador). Cada distrito autônomo faz parte de um território ou de uma província. As outras divisões são praticamente autónomas.
Economia
A Rússia tem uma economia de mercado com enormes recursos naturais, particularmente petróleo e gás natural. Em 2020, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que o país tinha a 11ª maior economia do mundo por PIB nominal e a 6ª maior por paridade do poder de compra (PPC). Desde a virada do , o maior consumo interno e a maior estabilidade política têm impulsionado o crescimento econômico na Rússia. O país encerrou 2008 como sendo seu nono ano consecutivo de crescimento, com média de 7% ao ano. O crescimento foi impulsionado principalmente pelos serviços não comercializáveis e de bens para o mercado interno, ao contrário dos lucros gerados pelo petróleo, extração mineral e exportação. O salário médio na Rússia foi de 640 dólares por mês no início de 2008, acima dos 80 dólares registrados em 2000. Aproximadamente 13,7% dos russos viviam abaixo da linha da pobreza nacional em 2010, número significativamente menor dos 40% de 1998, o pior número do período pós-soviético. A taxa de desemprego na Rússia foi de 6% em 2007, abaixo dos cerca de 12,4% em 1999. A classe média cresceu de apenas 8 milhões de pessoas em 2000 para 55 milhões em 2006.
Petróleo, gás natural, metais e madeira respondem por mais de 80% das exportações russas no estrangeiro. As receitas de petróleo e gás natural, em 2021, representaram 45% do orçamento federal da Rússia.. O maior parceiro é a União Européia, que em 2022, recebeu quase 40% de seu gás e mais de um quarto de seu petróleo da Rússia.
As receitas de exportação do petróleo permitiram à Rússia aumentar suas reservas cambiais de 12 bilhões de dólares em 1999, para 597,3 bilhões de dólares em 1 de agosto de 2008, a terceira maior reserva cambial do mundo.
A política macroeconômica do ministro das finanças, Alexei Kudrin, foi sã e prudente, com a renda adicional que está sendo armazenada no Fundo de Estabilização da Rússia. Em 2006, a Rússia reembolsou a maioria de seus débitos, deixando-a com uma das menores dívidas externas entre as principais economias. O Fundo de Estabilização da Rússia ajudou o país a sair da crise financeira global em um estado muito melhor do que muitos especialistas esperavam.
Um código de imposto mais simplificado, aprovado em 2001, reduziu a carga tributária sobre as pessoas e as receitas do Estado aumentaram drasticamente. A Rússia tem uma taxa fixa de 13%. Isso o coloca como o país com o segundo sistema fiscal mais atrativo para gestores pessoais únicos no mundo, após os Emirados Árabes Unidos. Segundo a Bloomberg, a Rússia é considerada bem à frente da maioria dos outros países ricos em recursos para o seu desenvolvimento econômico, com uma longa tradição de educação, ciência e indústria. O país tem mais diplomados no ensino superior do que qualquer outro país da Europa.
Em dezembro de 2011, a Rússia finalmente se tornou membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), permitindo um maior acesso aos mercados estrangeiros. Alguns analistas estimam que a adesão à OMC poderia trazer a economia russa um salto de até 3 por cento ao ano.
Entretanto, o desenvolvimento econômico russo tem sido geograficamente desigual, com a região de Moscou contribuindo com uma parte muito importante do PIB do país. Outro problema é a modernização de sua infraestrutura e o envelhecimento populacional; o governo disse que serão investidos 1 trilhão de dólares no desenvolvimento da infraestrutura até 2020. A Rússia é o segundo país mais corrupto da Europa (depois da Ucrânia), de acordo com o Índice de Percepção de Corrupção. A Câmara de Comércio Noruega-Rússia também afirma que a "corrupção é um dos maiores problemas que as empresas russas e internacionais têm de lidar" no país. No ano de 2006, o mercado para a corrupção excedeu 240 bilhões de dólares.
Apesar do forte crescimento econômico na década de 2000, a economia da Rússia entrou em recessão ao fim de 2014, se intensificando consideravelmente em 2015. Vários fatores contribuíram para esta nova crise, como a queda nos preços do petróleo, as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais em resposta a intervenção militar russa na Ucrânia e a subsequente evasão de divisas. A partir de 2017, contudo, a economia russa começou a mostrar sinais de modesta recuperação.
Como resposta a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a economia do país foi colocada sob forte pressão da comunidade internacional, especialmente por países do ocidente. Assim, a Rússia se tornou o país sob as mais pesadas sanções no planeta. Como resultado destas sanções, a economia russa sofreu uma forte retração, com o PIB encolhendo, capital estrangeiro em fuga, boicote de multinacionais e uma acentuada queda na qualidade de vida da população, seguido por alta no desemprego e na inflação.
Agricultura
A área total de terra cultivada na Rússia foi estimada em 1 237 294 km² em 2005, a quarta maior do mundo. No período de 1999–2009, a agricultura da Rússia demonstrou um crescimento constante e o país passou de importador de grãos, para terceiro maior exportador de grãos, depois da União Europeia e dos Estados Unidos. A produção de carne cresceu de 6 813 000 toneladas em 1999, para 9 331 000 toneladas em 2008, e continua a crescer.
Esta restauração da agricultura foi apoiada pela política de crédito do governo, ajudando os agricultores e as grandes empresas agrícolas privatizadas, que uma vez foram kolkhozes soviéticos e ainda possuem parte significativa das terras agrícolas do país. Enquanto as grandes explorações concentram-se principalmente na produção de produtos de grãos e pecuária, pequenos lotes familiares particulares produzem batatas, legumes e frutas.
Com acesso a três dos oceanos do mundo (Atlântico, Ártico e Pacífico), as frotas de pesca da Rússia são uma das principais contribuintes do suprimento mundial de pescado. A captura total de peixes foi de 3 191 068 toneladas em 2005. Tanto as exportações, quanto as importações de produtos da pesca e do mar, cresceram significativamente nos últimos anos, atingindo 2 415/2 036 milhões de dólares em 2008, respectivamente.
Turismo
A indústria do turismo na Rússia tem visto um rápido crescimento desde o período soviético, primeiro com o turismo interno e, em seguida, com o turismo internacional, impulsionado pelo rico património cultural e pela grande variedade de paisagens naturais do país. As principais rotas turísticas na Rússia incluem uma viagens ao redor de cidades antigas, cruzeiros em grandes rios como o Volga e longas jornadas na famosa Ferrovia Transiberiana. Em 2013, a Rússia foi visitada por 28,4 milhões de turistas; é o nono país mais visitado do mundo e o sétimo mais visitado da Europa.
Os destinos mais visitados da Rússia são Moscou e São Petersburgo, as capitais atual e antiga do país. Reconhecida como cidades globais, elas sediam museus de renome mundial como a Galeria Tretyakov e o Hermitage, teatros famosos, como Bolshoi e Teatro Mariinski, igrejas ornamentadas, como a Catedral de São Basílio, Catedral de Cristo Salvador e a Catedral de São Isaac, fortificações impressionantes, como o Kremlin e o Fortaleza de São Pedro e São Paulo, além de belas ruas e praças, como a Praça Vermelha.
A costa subtropical do Mar Negro é o local para vários resorts populares, como Sotchi, o anfitrião dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. As montanhas da Ciscaucásia contêm estâncias de esqui populares, como Dombai. O destino natural mais famoso da Rússia é o Lago Baikal, o "Olho Azul da Sibéria". Este lago original, o mais antigo e mais profundo do mundo, tem águas cristalinas e é cercado por montanhas cobertas de taiga.
Infraestrutura
Educação
Na Rússia há um sistema de educação gratuito garantido para todos os cidadãos pela Constituição, no entanto, o ingresso ao ensino superior é altamente competitivo. Como resultado da grande ênfase em ciência e tecnologia na educação, médicos, matemáticos, cientistas e pesquisadores aeroespaciais russos são, geralmente, altamente qualificados.
Desde 1990, a formação escolar de onze anos é utilizada no país. A educação estatal em escolas secundárias é gratuita, a primeira fase do ensino superior, a nível universitário, é gratuito, mas com reservas, já que uma parte significativa dos estudantes está inscrito para pagamento integral, devido ao fato de as instituições do Estado começarem a abrir posições comerciais nos últimos anos.
Em 2004, a despesa do estado com a educação atingiu 3,6% do PIB russo, ou 13% do orçamento do Estado. O governo aloca fundos para pagar as mensalidades dentro de uma cota estabelecida ou pelo número de estudantes de cada instituição estatal. Nas instituições de ensino superior, os estudantes recebem um pequeno salário e alojamento gratuito.
Saúde
A constituição russa garante assistência médica universal e gratuita para todos os seus cidadãos. Na prática, porém, os serviços de saúde gratuitos são parcialmente limitados por causa do registro obrigatório. A Rússia tem mais médicos, hospitais e profissionais de saúde per capita do que quase qualquer outro país no mundo, mas desde a dissolução da União Soviética, a qualidade da saúde da população russa diminuiu consideravelmente, como resultado de mudanças sociais, econômicas e do estilo de vida; essa tendência tem sido revertida apenas nos últimos anos, quando a expectativa de vida média aumentou 2,4 anos para os homens e 1,4 anos para as mulheres no período entre 2006 e 2009.
Em 2009, a expectativa de vida média na Rússia era de 62,77 anos para os homens e 74,67 anos para as mulheres. O maior fator que contribui para a expectativa de vida relativamente baixa para o sexo masculino é uma alta taxa de mortalidade entre os homens em idade de trabalho. Essas mortes ocorrem principalmente devido a causas evitáveis (por exemplo, intoxicação por álcool, tabagismo, acidentes de trânsito, crimes violentos). Como resultado da grande diferença na expectativa de vida entre os gêneros e também por causa do efeito duradouro de muitas baixas na Segunda Guerra Mundial, o desequilíbrio entre os sexos permanece até hoje, sendo que há 0,859 homens para cada mulher russa.
Energia
Nos últimos anos, a Rússia tem sido frequentemente descrita na mídia como uma "superpotência energética". O país tem as maiores reservas mundiais de gás natural, a 8ª maior reserva de petróleo e a segunda maior reserva de carvão. A Rússia é o maior exportador e o segundo maior produtor de gás natural do mundo, ao mesmo tempo em que é o segundo maior exportador e o maior produtor de petróleo do planeta, embora dispute o último estatuto com a Arábia Saudita, de tempos em tempos. Pelo comprimento total de gasodutos, a Rússia possui a segunda maior rede do planeta, atrás apenas da dos Estados Unidos. Atualmente, muitos projetos de novos gasodutos estão sendo realizados, incluindo os gasodutos Nord Stream e South Stream, que têm por objetivo transportar o gás natural à Europa, e o Oleoduto da Sibéria e do Pacífico, para o Extremo Oriente, China, Japão e Coreia do Sul.
A Rússia é o terceiro maior produtor de eletricidade do mundo e o quinto maior produtor de energia renovável, este último devido à produção hidroeléctrica bem desenvolvida no país. Grandes usinas hidrelétricas são construídas na Rússia Europeia ao longo de grandes rios, como o Volga. A parte asiática da Rússia também possui um grande número de importantes usinas hidrelétricas, porém o gigantesco potencial hidrelétrico da Sibéria e do Extremo Oriente russo permanece largamente inexplorado. O país foi o primeiro país a desenvolver a energia nuclear para fins civis e construiu a primeira usina nuclear de energia do mundo. Atualmente, o país é o quarto maior produtor de energia nuclear. A energia nuclear na Rússia é gerenciada pela estatal Rosatom Corporation. O setor está se desenvolvendo rapidamente, com o objetivo de aumentar a quota total de energia nuclear a partir dos 16,9% atuais para 23% até 2020. O governo russo pretende atribuir 127 000 milhões de rublos (5,42 bilhões de dólares) para um programa federal dedicado à próxima geração de tecnologia de energia nuclear. Cerca de 1 trilhão de rublos (42 700 milhões de dólares) deverá ser atribuído do orçamento federal para a energia nuclear e para o desenvolvimento da indústria até 2015.
Ciência e tecnologia
A ciência e tecnologia na Rússia floresceram na época do Iluminismo, quando Pedro, o Grande fundou a Academia de Ciências da Rússia e Universidade Estatal de São Petersburgo e o polímata Mikhail Lomonosov estabeleceu a Universidade Estatal de Moscou, pavimentando o caminho para uma forte tradição nativa de aprendizagem e inovação. Nos séculos XIX e XX o país produziu um grande número de cientistas notáveis, fazendo importantes contribuições para a física, astronomia, matemática, computação, química, biologia, geologia e geografia. Inventores e engenheiros russos destacaram-se em áreas como engenharia elétrica, construção naval, aeroespacial, armamentos, comunicações, informática, tecnologia nuclear e tecnologia espacial.
As realizações da Rússia no domínio da tecnologia espacial e exploração espacial têm origem nos trabalhos de Konstantin Tsiolkovski, o pai da astronáutica teórica. Seus trabalhos inspiraram os principais engenheiros de foguetes soviéticos, como Sergei Koroliov, Valentin Glushko e muitos outros que contribuíram para o sucesso do programa espacial soviético nos estágios iniciais da corrida espacial e também posteriormente. Em 1957, o primeiro satélite artificial em órbita da Terra, o Sputnik 1, foi lançado. Em 1961, a primeira viagem humana ao espaço que teve êxito foi feita por Iuri Gagarin, e muitos outros recordes da exploração espacial soviética e russa se seguiram, inclusive com a primeira caminhada espacial realizada por Aleksei Leonov, o primeiro veículo de exploração espacial, o Lunokhod 1, e a primeira estação espacial, a Salyut 1.
Atualmente, a Rússia é o país que mais lança satélites no mundo e é o único fornecedor de serviços de transporte para turismo espacial. Com todas estas conquistas, no entanto, desde a dissolução da União Soviética, o país ficou atrasado em relação ao Ocidente em uma série de tecnologias, principalmente aquelas relacionadas à conservação de energia e produção de bens de consumo. A crise dos anos 1990 levou à redução drástica do apoio do Estado à ciência e a uma fuga de cérebros da Rússia. Nos anos 2000, na onda de um novo boom econômico, a situação da ciência e tecnologia na Rússia tem melhorado e o governo lançou uma campanha destinada à modernização e à inovação. O ex-presidente russo, Dmitri Medvedev, formulou cinco prioridades principais para o desenvolvimento tecnológico do país: o uso eficiente de energia, a informática, incluindo os produtos comuns e os produtos combinados com a tecnologia espacial, a energia nuclear e os produtos farmacêuticos. A Rússia também está a desenvolver o GLONASS, um sistema de navegação por satélite global à semelhança do GPS estadunidense e do Galileo da União Europeia, e construindo a primeira usina nuclear móvel.
Transportes
O transporte ferroviário na Rússia está, na maior parte, sob o controle do monopólio da estatal Ferrovias Russas. Os lucros da empresa respondem por mais de 3,6% do PIB da Rússia e trata 39% do tráfego de carga total, incluindo gasodutos e oleodutos, e mais de 42% do tráfego de passageiros. A extensão total das vias férreas comumente usadas ultrapassa os 85 500 km, perdendo apenas para os Estados Unidos. Há mais de 44 000 km de linhas eletrificadas, a maior rede do mundo e, adicionalmente, existem mais de 30 000 km de linhas de carga não comum. As ferrovias da Rússia, ao contrário da maioria do mundo, usam de bitola larga de 1 520 mm, com exceção de 957 km na ilha Sacalina, que tem bitola estreita de 1 067 mm. A estrada de ferro mais famosa da Rússia é a Transiberiana, abrangendo um recorde de sete fusos horários, sendo o terceiro mais longo serviço contínuo do mundo, depois dos serviços das linha de Moscou-Vladivostok (9 259 km), Moscou-Pyongyang (10 267 km) e Kiev-Vladivostok (11 085 km).
Em 2006, a Rússia tinha de estradas, das quais eram pavimentadas. Algumas destes compõem o sistema de auto-estradas federais russas. Com uma grande área de terra, a densidade de estradas é a menor de todos os países do BRIC.
Os 102 mil quilômetros das vias navegáveis na Rússia vão, na maior parte, por rios ou lagos naturais. Na parte europeia do país, a rede de canais faz ligação com as bacias dos principais rios. A capital da Rússia, Moscou, é às vezes chamada de "o porto dos cinco mares", devido à sua ligação com a hidrovia para o Mar Báltico, Branco, Cáspio, Negro e Azov. As principais cidades portuárias da Rússia incluem Rostov do Don no Mar de Azov, Novorossisk no Mar Negro, Astracã e Makhatchkala no Cáspio, Kaliningrado e São Petersburgo no Báltico, Arcangel no Mar Branco, Murmansk no Mar de Barents e Petropavlovsk-Kamtchatski e Vladivostok no Oceano Pacífico. Em 2008, a marinha mercante do país tinha navios. A única frota do mundo de quebra-gelos nucleares avança a exploração econômica da plataforma continental do Ártico e o desenvolvimento do comércio marítimo na Passagem do Nordeste, entre a Europa e a Ásia Oriental.
A Rússia tem aeroportos, sendo os mais movimentados o Sheremetyevo, o Domodedovo e o Vnukovo, em Moscou, e o Pulkovo, em São Petersburgo. O comprimento total das linhas aéreas na Rússia ultrapassa os . Normalmente, as grandes cidades russas têm sistemas bem desenvolvidos e diversificados de transportes públicos, sendo as variedades mais comuns de veículos os ônibus, trólebus e bondes. Sete cidades russas, Moscou, São Petersburgo, Nijni Novgorod, Novosibirsk, Samara, Ecaterimburgo e Cazã, têm sistemas de metrô, enquanto Volgogrado possui um sistema de VLT. O comprimento total de metrôs na Rússia é de 465,4 quilômetros. O metrô de Moscou e o de São Petersburgo são os mais antigos da Rússia, inaugurados em 1935 e 1955, respectivamente. Esses dois estão entre os sistemas de metrô mais rápidos e mais movimentados do mundo e são famosos pela rica e única decoração de suas estações, que é uma tradição comum em metrôs e ferrovias russas.
Cultura
Há mais de 160 diferentes grupos étnicos e povos indígenas na Rússia. Contribuem para a diversidade cultural do país os russos étnicos de tradições eslavas ortodoxas, os tártaros e basquires, com a sua cultura turco-muçulmana, os nômades budistas buriates e calmucos, os povos xamânicos do Extremo Norte e da Sibéria, os montanheses do Cáucaso do Norte e os povos fino-úgricos da Região Noroeste e do Volga.
O artesanato, como os brinquedos matrioshka e dymkovo, o estilo khokhloma, a cerâmica gjel e as miniatura de palekh, representam um importante aspecto da cultura popular russa. Roupas étnicas russas incluem o caftan, a kosovorotka e a ushanka para os homens e o sarafan e o kokoshnik para mulheres, com lapti e valenki como sapatos comuns. As roupas dos cossacos do sul da Rússia incluem a burka e a papaha, que partilham com os povos do Cáucaso do Norte.
Os vários grupos étnicos da Rússia têm tradições distintas de música tradicional. Instrumentos musicais étnicos típicos do país são a gusli, a balalaika, a jaleika e a garmoshka. A música popular teve grande influência nos compositores clássicos russos e nos tempos modernos é uma fonte de inspiração para uma série de bandas folclóricas mais populares, incluindo a Melnitsa. Canções populares russas, assim como canções patrióticas soviéticas, constituem o grosso do repertório do renome mundial da Assembleia Alexandrov e outros conjuntos populares.
O folclore russo antigo tem suas raízes na religião pagã eslava. Muitos contos de fadas russos e épicos bylinas foram adaptados para filmes por diretores de destaque, como Alexandr Ptushko e Alexander Rowe. Poetas russos, incluindo Piotr Ershov e Leonid Filatov, fizeram uma série de bem conhecidas interpretações poéticas dos contos de fadas clássicos. Os russos têm muitas tradições, incluindo a lavagem em bania, um banho de vapor quente semelhante à sauna.
Culinária
A culinária russa utiliza muitos peixes, aves, cogumelos, frutos e mel. As culturas de centeio, trigo, cevada e milho fornecem os ingredientes para vários tipos de pães, panquecas e cereais, bem como para kvas, cerveja e vodka. O pão de centeio é bastante popular na Rússia, em comparação com o resto do mundo. Saborosas sopas e guisados incluem o borsch, schi, ukha, solianka e okroshka. A smetana, um creme azedo, é frequentemente adicionado a sopas e saladas. Pirojki, blini e syrniki são receitas tradicionais de panquecas. O Frango à Kiev, o pelmeni e o shashlyk são populares pratos de carne, os dois últimos com origem tártara e do Cáucaso, respectivamente. Saladas incluem a salada russa, o vinagrete e a seld pod shuboi.
Arquitetura
Desde a cristianização dos rus' de Kiev, por várias eras a arquitetura russa foi influenciada, principalmente, pela arquitetura bizantina. Além de fortificações, os chamados kremlins, os edifícios de pedra da antiga Rússia eram as igrejas ortodoxas, com suas cúpulas, muitas vezes, douradas ou pintadas.
Aristóteles Fioravanti e outros arquitetos italianos do Renascimento trouxeram novas tendências para a Rússia no , enquanto o viu o desenvolvimento das igrejas em forma de tenda, representadas pela Catedral de São Basílio. Nessa época, o projeto de cúpulas aceboladas também foi plenamente desenvolvido. No , o "estilo fogo" de ornamentação floresceu em Moscou e Iaroslavl, gradualmente pavimentando o caminho para o barroco Naryshkin da década de 1690. Após as reformas de Pedro, o Grande, a mudança de estilos arquitetônicos na Rússia passaram a seguir os da Europa Ocidental.
O foi marcado pela preferência à arquitetura rococó e levou a obras ornadas por Bartolomeo Rastrelli e seus seguidores. O reinado de Catarina, a Grande e seu neto, Alexandre I, viu o florescimento da arquitetura neoclássica, principalmente na então capital do país, São Petersburgo. A segunda metade do foi dominada pelo estilo neobizantino e pelo chamado reavivamento russo. Os estilos predominantes do foram os da Art Nouveau, do Construtivismo russo e do Classicismo soviético.
Em 1955, o novo líder soviético, Nikita Khrushchiov, condenou o que percebeu como excessos da antiga arquitetura acadêmica, e o final da era soviética foi dominado pelo funcionalismo na arquitetura. Isso ajudou, em parte, a resolver o problema da habitação, mas criou uma grande quantidade de edifícios de baixa qualidade arquitetônica, em contraste com os suntuosos estilos anteriores. A situação melhorou nas últimas duas décadas. Muitos templos demolidos nos tempos soviéticos foram reconstruídos e esse processo continua, juntamente com a restauração de vários prédios históricos destruídos na Segunda Guerra Mundial. Um total de 23 mil igrejas ortodoxas foram reconstruídas entre 1991 e 2010, o que efetivamente quadruplicou o número de igrejas que operam na Rússia.
Música e dança
A música da Rússia do foi definida pela tensão entre o compositor clássico Mikhail Glinka, junto com seus seguidores, que abraçou a identidade nacional russa e adicionou elementos religiosos e populares em suas composições, e a Sociedade Musical Russa, liderada pelos compositores Anton e Nikolai Rubinstein, que eram musicalmente conservadores. A tradição posterior de Piotr Ilitch Tchaikovski, um dos maiores compositores da era romântica, foi continuada no por Sergei Rachmaninoff. Compositores de renome mundial do incluem também Alexander Scriabin, Ígor Stravinski, Sergei Prokofiev, Dmitri Shostakovitch e Alfred Schnittke.
Os conservatórios russos revelaram gerações de solistas famosos. Entre os mais conhecidos, estão os violinistas David Oistrakh e Gidon Kremer, o violoncelista Mstislav Rostropovitch, os pianistas Vladimir Horowitz, Sviatoslav Richter e Emil Gilels, e os vocalistas Fiodor Shaliapin, Galina Vishnevskaia, Anna Netrebko e Dmitri Khvorostovski.
No início do , os dançarinos russos de balé Anna Pavlova e Vatslav Nijinski alcançaram a fama. O empresário Sergei Diaghilev e as viagens ao exterior da sua companhia, a Ballets Russes, influenciaram profundamente o desenvolvimento da dança no mundo inteiro. O balé soviético preservou e aperfeiçoou as tradições do e as escolas de coreografia da União Soviética produziram muitas estrelas de renome internacional, como Maia Plisetskaia, Rudolf Nureyev e Mikhail Baryshnikov. O Balé Bolshoi, em Moscou, e o Balé Mariinski, em São Petersburgo, tornaram-se famosos em todo o mundo.
O rock russo moderno tem suas raízes tanto no rock and roll quanto no heavy metal ocidental, e nas tradições dos poetas russos da era soviética, como Vladimir Vysotski e Bulat Okudjava. Entre os grupos de rock russos mais populares incluem-se Mashina Vremeni, |DDT, Akvarium, Alisa, Kino, Kipelov, Nautilus Pompilius, Aria, Grajdanskaia Oborona, Splean e Korol i Shut. A música pop russa se desenvolveu do que era conhecido nos tempos soviéticos como estrada, para uma indústria de pleno direito, com alguns artistas a ganhar reconhecimento internacional amplo, como t.A.T.u e Vitas.
Literatura e filosofia
A literatura russa é considerada uma das mais influentes e desenvolvidas do mundo, contribuindo com muitas das mais famosas obras literárias da história. No , o seu desenvolvimento foi impulsionado pelos trabalhos de Mikhail Lomonosov e Denis Fonvizin, e no início do , uma moderna tradição nativa surgiu, produzindo alguns dos maiores escritores de todos os tempos. Esse período, também conhecido como a era de ouro da poesia russa, iniciou-se com Alexander Pushkin, que é considerado o fundador da literatura russa moderna e muitas vezes descrito como o "Shakespeare Russo". Esse período prosseguiu pelo com a poesia de Mikhail Lérmontov e Nikolai Nekrasov, os dramas de Alexandre Ostrovski e Anton Tchekhov e a prosa de Nikolai Gogol e Ivan Turgueniev. Liev Tolstói e Fiódor Dostoiévski, em particular, são figuras titânicas da literatura, a tal ponto que muitos críticos literários têm descrito um ou o outro como o maior escritor de todos os tempos.
Por volta de 1880, a época dos grandes romancistas acabou, enquanto os contos e a poesia se tornavam os gêneros dominantes. As próximas décadas ficariam conhecidas como a era de prata da poesia russa, quando o realismo literário, antes dominante, foi substituído pelo simbolismo. Os principais autores desta época incluem poetas como Valeri Briusov, Viatcheslav Ivanov, Aleksandr Blok, Nikolai Gumilev e Anna Akhmatova e romancistas como Leonid Andreiev, Ivan Bunin e Máximo Gorki.
A filosofia russa floresceu no , quando foi definida inicialmente pela oposição aos ocidentalistas, que defendiam o modelo político e econômico ocidental, e os eslavófilos, que insistiam no desenvolvimento da Rússia como uma civilização única. Este último grupo inclui Nikolai Daniliévski e Konstantin Leontiev, os fundadores do eurasianismo. No campo da filosofia, a Rússia sempre foi marcada por uma profunda conexão com a literatura e o interesse pela criatividade, sociedade, política e nacionalismo. O cosmismo russo e a filosofia religiosa eram outras áreas importantes. Notáveis filósofos do fim do e início do XX incluem Vladimir Soloviov, Serguei Bulgakov e Vladimir Vernadski.
Após a Revolução de 1917, muitos escritores e filósofos proeminentes deixaram o país, incluindo Ivan Bunin, Vladimir Nabokov e Nikolai Berdiaev, enquanto uma nova geração de autores talentosos se uniram em um esforço para criar uma cultura transformada, baseada na classe trabalhadora do recém-formado Estado soviético. Nos anos 1930, a censura sobre a literatura foi reforçada em consonância com a política do realismo socialista. A partir do final dos anos 1950, as restrições contra a literatura foram relaxadas, e nas décadas de 1970 e 1980, os escritores russos cada vez mais ignoravam as orientações oficiais. Os principais autores da União Soviética incluem os romancistas Evgueni Zamiatin, Ilf e Petrov, Mikhail Bulgakov e Mikhail Sholokhov e os poetas Vladimir Maiakovski, Evgueni Ievtushenko e Andrei Voznesenski.
Esportes
O país tem uma das maiores federações olímpicas do mundo. O comité olímpico russo conta com inúmeros atletas. Natação, atletismo e judô são apenas alguns exemplos de modalidades olímpicas praticadas na Rússia. Dentre os atletas destacados, encontram-se o corredor Iuri Borzakovski, o ciclista Mikhail Ignatiev, a ginasta Alina Kabaeva, o corredor Denis Nijegorodov, a saltadora Svetlana Feofanova, além de uma das principais atletas do país, Elena Isinbaeva, detentora de muitos recordes mundiais no salto com vara. Após a Rússia, ainda no tempo da URSS, ter recebido as Olimpíadas de 1980, outra cidade russa foi escolhida para acolher os jogos: Sotchi recebeu os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014.
O ténis profissional na Rússia, apesar dos vários atletas revelados, é recente. Contudo, a Rússia conta com cerca de dez tenistas olímpicos, como Andrei Tcherkasov, Elena Dementieva, Maria Sharapova, Evgeni Kafelnikov, Anastasia Myskina, Marat Safin, Mikhail Iujny, Nikolai Davydenko, Svetlana Kuznetsova e a ex-tenista Anna Kurnikova. Outro grande destaque é o patinador de gelo com o maior número de títulos da categoria no mundo, Evgeni Pliushchenko.
O futebol também ocupa uma posição de destaque, graças às equipas que constituem a liga principal de futebol russo. Os clubes mais conhecidos são os moscovitas Spartak, CSKA, Dínamo, Lokomotiv e o único clube de São Petersburgo, Zenit. Diversas equipas russas tiveram participação na Taça UEFA e na Liga dos Campeões. O CSKA Moscou venceu a Taça UEFA em 2005 e o Zenit São Petersburgo em 2008, além de a equipe ter feito história ao levantar a Supercopa da Europa, no mesmo ano. O Spartak Moscou foi semifinalista da Liga dos Campeões da UEFA. Em relação às principais competições internacionais entre selecções nacionais, a selecção de futebol da Rússia nunca teve um desempenho muito marcante, embora na Euro 2008 tenha logrado atingir as quartas-de-final da competição, eliminando a Holanda, tendo sido, no entanto, derrotada por 3–0 pela selecção da Espanha, detentora do título. O maior título de futebol da Rússia é a Eurocopa de 1960, conquistada ainda como União Soviética. Em 2010, o país foi escolhido como sede da Copa do Mundo FIFA de 2018.
Nas Artes Marciais Mistas (MMA), Fedor Emelianenko é considerado um dos maiores nomes da história do esporte, tendo permanecido praticamente invicto por pouco mais de nove anos.
Dias comemorativos
Há sete feriados na Rússia, exceto aqueles que sempre são comemorados no domingo. As tradições russas de Ano Novo se assemelham às do Natal ocidental, com árvores e presentes, enquanto o Ded Moroz (Papai Geada) cumpre o mesmo papel que o Papai Noel. O Natal ortodoxo é em 7 de janeiro, porque a Igreja Ortodoxa Russa ainda segue o calendário juliano e todos os feriados ortodoxos são 13 dias após os ocidentais. Dois outros grandes feriados cristãos são a Páscoa e o Domingo da Trindade. Kurban Bayram e Uraza Bayram são comemorados por muçulmanos russos.
Entre outros feriados russos estão o Dia dos Defensores da Pátria (23 de Fevereiro), que homenageia os homens russos, especialmente aqueles que servem no exército; o Dia Internacional da Mulher (8 de Março), que combina as tradições do Dia das Mães e Dia dos Namorados; o Dia da Primavera e do Trabalho (1 de Maio); Dia da vitória; o Dia da Rússia (12 de Junho); e o Dia da Unidade (4 de novembro), que comemora o levante popular que expulsou as forças de ocupação polonesas de Moscou em 1612.
O Dia da Vitória é o segundo feriado mais popular no país e comemora a vitória da União Soviética contra a Alemanha nazista na Grande Guerra Patriótica (ou Segunda Guerra Mundial). Um enorme desfile militar, oferecido pelo Presidente da Rússia, é organizado anualmente em Moscou, na Praça Vermelha. Desfiles semelhantes ocorrem em todas as grandes cidades russas.
Ver também
Lista de Estados soberanos
Lista de Estados soberanos e territórios dependentes da Ásia
Lista de Estados soberanos e territórios dependentes da Europa
Missões diplomáticas da Rússia
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Ligações externas
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A radiação eletromagnética é uma oscilação em fase dos campos elétricos e magnéticos, que, autossustentando-se, encontram-se desacoplados das cargas elétricas que lhe deram origem. As oscilações dos campos magnéticos e elétricos são perpendiculares entre si e podem ser entendidas como a propagação de uma onda transversal, cujas oscilações são perpendiculares à direção do movimento da onda (como as ondas da superfície de uma lâmina de água), que pode se deslocar através do vácuo. Dentro do ponto de vista da Mecânica Quântica, podem ser entendidas, ainda, como o deslocamento de pequenas partículas, os fótons.
O espectro visível, ou simplesmente luz visível, é apenas uma pequena parte de todo o espectro da radiação eletromagnética possível, que vai desde as ondas de rádio aos raios gama. A existência de ondas eletromagnéticas foi prevista por James Clerk Maxwell e confirmada experimentalmente por Heinrich Hertz. A radiação eletromagnética encontra aplicações como a radiotransmissão, seu emprego no aquecimento de alimentos (fornos de micro-ondas), em lasers para corte de materiais ou mesmo na simples lâmpada incandescente.
A radiação eletromagnética pode ser classificada de acordo com a frequência da onda, em ordem crescente, nas seguintes faixas: ondas de rádio, micro-ondas, radiação terahertz, radiação infravermelha, luz visível, radiação ultravioleta, raios X e radiação gama.
No que tange às fontes de radiação, houve muitas controvérsias sobre se uma carga acelerada poderia irradiar ou não. Em parte por causa do princípio da equivalência e a nulidade da reação de radiação observada nos cálculos quando a fonte é submetida à aceleração uniforme.
Ondas eletromagnéticas
As ondas eletromagnéticas primeiramente foram previstas teoricamente por James Clerk Maxwell e depois confirmadas experimentalmente por Heinrich Hertz. Maxwell notou as ondas a partir de equações de electricidade e magnetismo, revelando sua natureza e sua simetria. Faraday mostrou que um campo magnético variável no tempo gera um campo eléctrico. Maxwell mostrou que um campo eléctrico variável com o tempo gera um campo magnético, com isso há uma autossustentação entre os campos eléctrico e magnético. Em seu trabalho de 1862, Maxwell escreveu:
"A velocidade das ondas transversais em nosso meio hipotético, calculada a partir dos experimentos electromagnéticos dos Srs. Kohrausch e Weber, concorda tão exactamente com a velocidade da luz, calculada pelos experimentos óticos do Sr. Fizeau, que é difícil evitar a inferência de que a luz consiste nas ondulações transversais do mesmo meio que é a causa dos fenômenos eléctricos e magnéticos."
Ondas harmônicas
Uma onda harmônica é uma onda com a forma de uma função senoidal, como na figura, no caso de uma onda que se desloca no sentido positivo do eixo dos .
A distância entre dois pontos consecutivos onde o campo e a sua derivada têm o mesmo valor, é designada por comprimento de onda (por exemplo, a distância entre dois máximos ou mínimos consecutivos). O valor máximo do módulo do campo, , é a sua
amplitude.
O tempo que a onda demora a percorrer um comprimento de onda designa-se por {período}, .
O inverso do período é a frequência , que indica o número de comprimentos de onda que passam por um ponto, por unidade de tempo. No sistema SI a unidade da frequência é o hertz, representado pelo símbolo Hz, equivalente a .
No caso de uma onda eletromagnética no vácuo, a velocidade de propagação é que deverá verificar a relação:
A equação da função representada na figura acima é:
onde a constante é a fase inicial. Essa função representa a forma da onda num instante inicial, que podemos admitir .
Para obter a função de onda num instante diferente, teremos que substituir por
, já que a onda se propaga no sentido positivo do eixo dos
, com velocidade .
usando a relação entre a velocidade e o período, podemos escrever:
Se substituirmos , obteremos a equação que descreve o campo elétrico na origem, em função do tempo:
assim, o campo na origem é uma função sinusoidal com período e amplitude . O campo em outros pontos tem exatamente a mesma forma sinusoidal, mas com diferentes valores da fase.
Propriedades
Os campos eléctrico e magnético obedecem aos princípios da superposição de ondas, de modo que seus vectores se cruzam e criam os fenômenos da refracção e da difração. Uma onda eletromagnética pode interagir com a matéria e, em particular, perturbar átomos e moléculas que as absorvem, podendo os mesmos emitir ondas em outra parte do espectro.
Como qualquer fenômeno ondulatório, as ondas eletromagnéticas podem interferir entre si. Sendo a luz uma oscilação, ela não é afetada pela estática eléctrica ou por campos magnéticos de uma outra onda eletromagnética no vácuo. Em um meio não linear, como um cristal, por exemplo, interferências podem acontecer e causar o efeito Faraday, em que a onda pode ser dividida em duas partes com velocidades diferentes.
Na refracção, uma onda, transitando de um meio para outro de densidade diferente, tem alteradas sua velocidade e sua direcção (caso esta não seja perpendicular à superfície) ao entrar no novo meio. A relação entre os índices de refracção dos dois meios determina a escala de refração medida pela lei de Snell:
Nesta equação, i é o ângulo de incidência, N1 é o índice de refração do meio 1, r é o ângulo de refração, e N2 é o índice de refração do meio 2.
A luz se dispersa em um espectro visível porque é reflectida por um prisma, devido ao fenômeno da refração. As características das ondas eletromagnéticas demonstram as propriedades de partículas e da onda ao mesmo tempo, e se destacam mais quando a onda é mais prolongada.
Modelo de onda eletromagnética
Um importante aspecto da natureza da luz é a frequência uma onda, sua taxa de oscilação. É medida em hertz, a unidade SIU de frequência, na qual um hertz (1,00 Hz) é igual a uma oscilação por segundo. A luz normalmente tem um espectro de frequências que, somadas, juntos formam a onda resultante. Diferentes frequências formam diferentes ângulos de refração. Uma onda consiste nos sucessivos baixos e altos, e a distância entre dois pontos altos ou baixos é chamado de comprimento de onda. Ondas eletromagnéticas variam de acordo com o tamanho, de ondas de tamanhos de prédios a ondas gama pequenas menores que um núcleo atômico. A frequência é inversamente proporcional ao comprimento da onda, de acordo com a equação:
.
Nesta equação, v é a velocidade, λ (lambda) é o comprimento de onda, e f é a frequência da onda.
Na passagem de um meio material para outro, a velocidade da onda muda, mas a frequência permanece constante. A interferência acontece quando duas ou mais ondas resultam em um novo padrão de onda. Se os campos tiverem as componentes nas mesmas direções, uma onda "coopera" com a outra (interferência construtiva); entretanto, se estiverem em posições opostas, pode haver uma interferência destrutiva.
Modelo de partículas
Um feixe luminoso é composto por pacotes discretos de energia, caracterizados por consistirem em partículas denominadas . A frequência da onda é proporcional à magnitude da energia da partícula. Como os fótons são emitidos e absorvidos por partículas, eles actuam como transportadores de energia. A energia de um fóton é calculada pela equação de Planck-Einstein:
.
Nesta equação, E é a energia, h é a constante de Planck, e f é a frequência.
Se um fóton for absorvido por um átomo, ele excita um , elevando-o a um alto nível de energia. Se o nível de energia é suficiente, ele pula para outro nível maior de energia, podendo escapar da atração do núcleo e ser liberado em um processo conhecido como fotoionização. Um elétron que descer ao nível de energia menor emite um fóton de luz igual a diferença de energia. Como os níveis de energia em um átomo são discretos, cada elemento tem suas próprias características de emissão e absorção.
Espectro eletromagnético
O espectro eletromagnético é classificado normalmente pelo comprimento da onda, como as ondas de rádio, as micro-ondas, a radiação infravermelha, a luz visível, os raios ultravioleta, os raios X, até a radiação gama.
O comportamento da onda eletromagnética depende do seu comprimento de onda. Ondas com frequências altas possuem comprimento de onda curto e, por outro lado, ondas com frequências baixas possuem comprimento de onda longo . Quando uma onda interage com uma única partícula ou molécula, seu comportamento depende da quantidade de fótons por ela carregada. Através da técnica denominada Espectroscopia óptica, é possível obter-se informações sobre uma faixa visível mais larga do que a visão normal. Um espectroscópio comum pode detectar comprimentos de onda de 2 nm a nm.
Essas informações detalhadas podem informar propriedades físicas dos objetos, gases e até mesmo estrelas. Por exemplo, um átomo de hidrogênio emite ondas em comprimentos de 21,12 cm. A luz propriamente dita corresponde à faixa que é detectada pelo olho humano, entre 400 nm a 700 nm (um nanômetro vale 1,0×10−9 metro). As ondas de rádio são formadas de uma combinação de amplitude, frequência e fase da onda com a banda da frequência.
Interação da radiação com a matéria
Radiação de corpo negro
A radiação de corpo negro, também conhecida por radiação térmica, é a radiação eletromagnética emitida por um corpo em qualquer temperatura, constituindo uma forma de transmissão de calor, ou seja, por meio deste tipo de radiação ocorre transferência de energia térmica na forma de ondas eletromagnéticas. Quando a matéria emite e absorve perfeitamente qualquer comprimento de onda e está em equilíbrio termodinâmico, considera-se que é um corpo negro, e sua radiação é chamada de radiação de corpo negro.
A energia cinética de átomos e moléculas varia, converte-se em energia térmica e resulta na radiação eletromagnética térmica. Como as ondas eletromagnéticas também podem se propagar no vácuo, a transferência de calor de um corpo a outro ocorre mesmo se não existir meio material entre os dois, como é o caso da energia emitida pelo Sol e que chega à Terra.
A Lei de Wien relaciona o comprimento de onda em que há máxima emissão de radiação de corpo negro com uma temperatura e determina que o comprimento de onda emitido diminui com o aumento da temperatura. A Lei de Planck para radiação de corpo negro exprime a radiância espectral em função do comprimento de onda e da temperatura do corpo negro e fornece a distribuição dos comprimentos de onda no espectro em função da temperatura. A maior parte da irradiação ocorre em um comprimento de onda específico, chamado de comprimento de onda principal de irradiação, que depende da temperatura do corpo. Quanto maior a temperatura, maior a frequência da radiação e menor o comprimento de onda.
História da descoberta
A radiação eletromagnética de comprimentos de onda diferentes da luz visível foi descoberta no início do século XIX. A descoberta da radiação infravermelha é atribuída ao astrônomo William Herschel, que publicou seus resultados em 1800 perante a Royal Society de Londres. Herschel usou um prisma de vidro para refratar a luz do Sol e detectou raios invisíveis que causavam aquecimento além da parte vermelha do espectro, por meio de um aumento na temperatura registrada com um termômetro. Esses "raios caloríficos" foram posteriormente denominados infravermelhos.
Em 1801, o físico alemão Johann Wilhelm Ritter descobriu o ultravioleta em um experimento semelhante ao de Herschel, usando luz solar e um prisma de vidro. Ritter observou que os raios invisíveis perto da borda violeta de um espectro solar dispersos por um prisma triangular escureceram as preparações de cloreto de prata mais rapidamente do que a luz violeta próxima. Os experimentos de Ritter foram um precursor do que se tornaria a fotografia. Ritter observou que os raios ultravioleta (que a princípio eram chamados de "raios químicos") eram capazes de causar reações químicas.
Em 1862-64, James Clerk Maxwell desenvolveu equações para o campo eletromagnético que sugeriam que as ondas no campo viajariam com uma velocidade muito próxima da velocidade conhecida da luz. Maxwell, portanto, sugeriu que a luz visível (assim como os raios infravermelhos e ultravioletas invisíveis por inferência) consistiam na propagação de distúrbios (ou radiação) no campo eletromagnético. As ondas de rádio foram produzidas pela primeira vez deliberadamente por Heinrich Hertz em 1887, usando circuitos elétricos calculados para produzir oscilações a uma frequência muito mais baixa do que a da luz visível, seguindo receitas para produzir cargas e correntes oscilantes sugeridas pelas equações de Maxwell. Hertz também desenvolveu maneiras de detectar essas ondas e produziu e caracterizou o que mais tarde foi denominado ondas de rádio e micro-ondas.
Wilhelm Röntgen descobriu e nomeou os raios X. Depois de experimentar altas voltagens aplicadas a um tubo evacuado em 8 de novembro de 1895, ele notou uma fluorescência em uma placa próxima de vidro revestido. Em um mês, ele descobriu as principais propriedades dos raios X.
A última porção do espectro EM a ser descoberta estava associada à radioatividade. Henri Becquerel descobriu que os sais de urânio causavam o embaçamento de uma chapa fotográfica não exposta através de um papel de cobertura de maneira semelhante aos raios X, e Marie Curie descobriu que apenas certos elementos emitiam esses raios de energia, logo descobrindo a intensa radiação do rádio. A radiação da pechblenda foi diferenciada em raios alfa (partículas alfa) e raios beta (partículas beta) por Ernest Rutherford através de uma simples experimentação em 1899, mas estes provaram ser tipos de radiação de partículas carregadas. No entanto, em 1900, o cientista francês Paul Villard descobriu um terceiro tipo de radiação do rádio de carga neutra e especialmente penetrante, e depois de descrevê-lo, Rutherford percebeu que deveria ser ainda um terceiro tipo de radiação, que em 1903 Rutherford chamou de raios gama. Em 1910, o físico britânico William Henry Bragg demonstrou que os raios gama são radiação eletromagnética, não partículas, e em 1914 Rutherford e Edward Andrade mediram seus comprimentos de onda, descobrindo que eram semelhantes aos raios X, mas com comprimentos de onda mais curtos e frequência mais alta, embora um 'cross-over' entre os raios X e gama torna possível ter raios X com uma energia mais alta (e, portanto, comprimento de onda mais curto) do que os raios gama e vice-versa. A origem do raio os diferencia, os raios gama tendem a ser fenômenos naturais originados do núcleo instável de um átomo e os raios X são gerados eletricamente (e, portanto, feitos pelo homem), a menos que sejam resultado da radiação X bremsstrahlung causada por a interação de partículas em movimento rápido (como partículas beta) colidindo com certos materiais, geralmente de números atômicos mais altos.
Aplicações tecnológicas
Entre inúmeras aplicações destacam-se o rádio, a televisão, radares, os sistemas de comunicação sem fio (telefonia celular e comunicação wi-fi), os sistemas de comunicação baseados em fibras ópticas e fornos de micro-ondas. Existem equipamentos para a esterilização de lâminas baseados na exposição do instrumento a determinada radiação ultravioleta, produzida artificialmente por uma lâmpada de luz negra.
Ver também
Efeito Kerr
Efeito Pockels
Bibliografia
Eletromagnetismo
Radiação
Física aplicada e interdisciplinar |