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Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Cabaia de Damasco rico e dino, Da Tíria cor, entre eles estimada, Um colar ao pescoço, de ouro fino, Onde a matéria da obra é superada, C'um resplendor reluze adamantino; Na cinta, a rica bem lavrada; Nas alparcas dos pés, em fim de tudo, Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Com um redondo emparo alto de seda, Numa alta e dourada hástia enxerido, Um ministro à solar quentura veda. Que não ofenda e queime o Rei subido. Música traz na proa, estranha e leda, De áspero som, horríssono ao ouvido, De trombetas arcadas em redondo, Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Não menos guarnecido o Lusitano Nos seus batéis, da frota se partia A receber no mar o Melindano, Com lustrosa e lograda companhia. Vestido o Gama vem ao modo Hispano, Mas Francesa era a roupa que vestia, De cetim da Adriática Veneza Carmesi, cor que a gente tanto preza:
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
De botões douro as mangas vêm tomadas, Onde o Sol reluzindo a vista cega; As calças soldadescas recamadas Do metal, que Fortuna a tantos nega, E com pontas do mesmo delicadas Os golpes do gibão ajunta e achega; Ao Itálico modo a áurea espada; Pluma na gorra, um pouco declinada.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Nos de sua companhia se mostrava Da tinta, que dá o múrice excelente, A vária cor, que os olhos alegrava, E a maneira do trajo diferente. Tal o formoso esmalte se notava Dos vestidos, olhados juntamente, Qual aparece o arco rutilante Da bela Ninfa, filha de Taumante.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Sonorosas trombetas incitavam Os ânimos alegres, ressoando; Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam, Os toldos pelas águas arrojando; As bombardas horríssonas bramavam, Com as nuvens de fumo o Sol tomando; Amiúdam-se os brados acendidos, Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Já no batel entrou do Capitão O Rei, que nos seus braços o levava; Ele coa cortesia, que a razão (Por ser Rei) requeria, lhe falava. C'umas mostras de espanto e admiração, O Mouro o gesto e o modo lhe notava, Como quem em mui grande estima tinha Gente que de tão longe à índia vinha.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
E com grandes palavras lhe oferece Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse, E que, se mantimento lhe falece, Como se próprio fosse, lho pedisse. Diz-lhe mais, que por fama bem conhece A gente Lusitana, sem que a visse; Que já ouviu dizer, que noutra terra Com gente de sua Lei tivesse guerra.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
E como por toda África se soa, Lhe diz, os grandes feitos que fizeram, Quando nela ganharam a coroa Do Reino, onde as Hespéridas viveram; E com muitas palavras apregoa O menos que os de Luso mereceram, E o mais que pela fama o Rei sabia. Mas desta sorte o Gama respondia:
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Ó tu, que só tiveste piedade, Rei benigno, da gente Lusitana, Que com tanta miséria e adversidade Dos mares experimenta a fúria insana; Aquela alta e divina Eternidade, Que o Céu revolve e rege a gente humana, Pois que de ti tais obras recebemos, Te pague o que nós outros não podemos.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Tu só, de todos quantos queima Apolo, Nos recebes em paz, cio mar profundo; Em ti dos ventos hórridos de Eolo Refúgio achamos bom, fido e jocundo. Enquanto apascentar o largo Pólo As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo, Onde quer que eu viver, com fama e glória Viverão teus louvores em memória."
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Isto dizendo, os barcos vão remando Para a frota, que o Mouro ver deseja; Vão as naus uma e uma rodeando, Porque de todas tudo note e veja. Mas para o céu Vulcano fuzilando, A frota coas bombardas o festeja, E as trombetas canoras lhe tangiam; Co'os anafis os Mouros respondiam.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Mas depois de ser tudo já notado Do generoso Mouro, que pasmava Ouvindo o instrumento inusitado, Que tamanho terror em si mostrava, Mandava estar quieto e ancorado N'água o batel ligeiro que os levava, Por falar de vagar co'o forte Gama, Nas cousas de que tem notícia e faina.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Em práticas o Mouro diferentes Se deleitava, perguntando agora Pelas guerras famosas e excelentes Co'o povo havidas, que a Mafoma adora; Agora lhe pergunta pelas gentes De toda a Hespéria última, onde mora; Agora pelos povos seus vizinhos, Agora pelos úmidos caminhos.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Mas antes, valeroso Capitão, Nos conta, lhe dizia, diligente, Da terra tua o clima, e região Do mundo onde morais distintamente; E assim de vossa antiga geração, E o princípio do Reino tão potente, Co'os sucessos das guerras do começo, Que, sem sabê-las, sei que são de preço.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E assim também nos conta dos rodeios Longos, em que te traz o mar irado, Vendo os costumes bárbaros alheios. Que a nossa África ruda tem criado. Conta: que agora vêm co'os áureos freios Os cavalos que o carro marchetado Do novo Sol, da fria Aurora trazem, O vento dorme, o mar e as ondas jazem.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E não menos co'o tempo se parece O desejo de ouvir-te o que contares; Que quem há, que por fama não conhece As obras Portuguesas singulares? Não tanto desviado resplandece De nós o claro Sol, para julgares Que os Melindanos têm tão rudo peito, Que não estimem muito um grande feito.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Cometeram soberbos os Gigantes, Com guerra vã, o Olimpo claro e puro; Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes, O Reino de Plutão horrendo e escuro. Se houve feitos no mundo tão possantes, Não menos é trabalho ilustre e duro, Quanto foi cometer Inferno o Céu, Que outrem cometa a fúria de Nereu.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Queimou o sagrado templo de Diana, Do subtil Tesifónio fabricado, Heróstrato, por ser da gente humana Conhecido no mundo e nomeado: Se também com tais obras nos engana O desejo de um nome avantajado, Mais razão há que queira eterna glória Quem faz obras tão dignas de memória."
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Agora tu, Calíope, me ensina O que contou ao Rei o ilustre Gama: Inspira imortal canto e voz divina Neste peito mortal, que tanto te ama. Assim o claro inventor da Medicina, De quem Orfeu pariste, ó linda Dama, Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe, Te negue o amor devido, como soe.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo, Como merece a gente Lusitana; Que veja e saiba o mundo que do Tejo O licor de Aganipe corre e mana. Deixa as flores de Pindo, que já vejo Banhar-me Apolo na água soberana; Senão direi que tens algum receio, Que se escureça o teu querido Orfeio.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Prontos estavam todos escutando O que o sublime Gama contaria, Quando, depois de um pouco estar cuidando, Alevantando o rosto, assim dizia: "Mandas-me, ó Rei, que conte declarando De minha gente a grão genealogia: Não me mandas contar estranha história, Mas mandas-me louvar dos meus a glória.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Que outrem possa louvar esforço alheio, Cousa é que se costuma e se deseja; Mas louvar os meus próprios, arreceio Que louvor tão suspeito mal me esteja; E para dizer tudo, temo e creio, Que qualquer longo tempo curto seja: Mas, pois o mandas, tudo se te deve, Irei contra o que devo, e serei breve.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Além disso, o que a tudo enfim me obriga, É não poder mentir no que disser, Porque de feitos tais, por mais que diga, Mais me há-de ficar inda por dizer. Mas, porque nisto a ordens leve e siga, Segundo o que desejas de saber, Primeiro tratarei da larga terra, Depois direi da sanguinosa guerra.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Entre a Zona que o Cancro senhoreia, Meta setentrional do Sol luzente, E aquela que por f ria se arreceia Tanto, como a do meio por ardente, Jaz a soberba Europa, a quem rodeia, Pela parte do Areturo, e do Ocidente, Com suas salsas ondas o Oceano, E pela Austral o mar Mediterrano.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Da parte donde o dia vem nascendo, Com Ásia se avizinha; mas o rio Que dos montes Rifeios vai correndo, Na alagoa Meotis, curvo o frio, As divide: e o mar que, fero e horrendo, Viu dos Gregos o irado senhorio, Onde agora de Tróia triunfante Não vê mais que a memória o navegante.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Lá onde mais debaixo está do Pólo, Os montes Hiperbóreos aparecem, E aqueles onde sempre sopra Eolo, E co'o nome, dos sopros se enobrecem. Aqui tão pouca força tem de Apolo Os raios que no mundo resplandecem, Que a neve está contido pelos montes, Gelado o mar, geladas sempre as fontes.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Aqui dos Citas grande quantidade Vivem, que antigamente grande guerra Tiveram, sobre a humana antiguidade, Co'os que tinham então a Egípcia terra; Mas quem tão fora estava da verdade, (Já que o juízo humano tanto erra) Para que do mais certo se informara, Ao campo Damasceno o perguntara.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Agora nestas partes se nomeia A Lápia fria, a inculta Noruega, Escandinávia Ilha, que se arreia Das vitórias que Itália não lhe nega. Aqui, enquanto as águas não refreia O congelado inverno, se navega Um braço do Sarmático Oceano Pelo Brúsio, Suécio e frio Dano.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Entre este mar e o Tánais vive estranha Gente: Rutenos, Moseos e Livónios, Sármatas outro tempo; e na montanha Hircínia os Marcomanos são Polónios. Sujeitos ao Império de Alemanha São Saxones, Boêmios e Panónios, E outras várias nações, que o Reno frio Lava, e o Danúbio, Amasis e Albis rio.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Entre o remoto Istro e o claro Estreito, Aonde Hele deixou co'o nome a vida, Estão os Traces de robusto peito, Do fero Marte pátria tão querida, Onde, colo Hemo, o Ródope sujeito Ao Otomano está, que submetida Bizâncio tem a seu serviço indino: Boa injúria do grande Constantino!
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Logo de Macedónia estão as gentes, A quem lava do Axio a água fria; E vós também, ó terras excelentes Nos costumes, engenhos e ousadia, Que criastes os peitos eloquentes E os juízos de alta fantasia, Com quem tu, clara Grécia, o Céu penetras, E não menos por armas, que por letras.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Logo os Dálmatas vivem; e no seio, Onde Antenor já muros levantou, A soberba Veneza está no meio Das águas, que tão baixa começou. Da terra um braço vem ao mar, que cheio De esforço, nações várias sujeitou, Braço forte, de gente sublimada, Não menos nos engenhos, que na espada.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Em torno o cerca o Reino Neptunino, Co'os muros naturais por outra parte; Pelo meio o divide o Apenino, Que tão ilustre fez o pátrio Marte; Mas depois que o Porteiro tem divino, Perdendo o esforço veio, e bélica arte; Pobre está já de antiga potestade: Tanto Deus se contenta de humildade!
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Gália ali se verá que nomeada Co'os Cesáreos triunfos foi no mundo, Que do Séquana e Ródano é regada, E do Giruna frio e Reno fundo. Logo os montes da Ninfa sepultada Pirene se alevantam, que segundo Antiguidades contam, quando arderam, Rios de ouro e de prata então correram.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Eis aqui se descobre a nobre Espanha, Como cabeça ali de Europa toda, Em cujo senhorio o glória estranha Muitas voltas tem dado a fatal roda; Mas nunca poderá, com força ou manha, A fortuna inquieta pôr-lhe noda, Que lhe não tire o esforço e ousadia Dos belicosos peitos que em si cria.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Com Tingitânia entesta, e ali parece Que quer fechar o mar Mediterrano, Onde o sabido Estreito se enobrece Co'o extremo trabalhado Tebano. Com nações diferentes se engrandece, Cercadas com as ondas do Oceano; Todas de tal nobreza e tal valor, Que qualquer delas cuida que é melhor.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Tem o Tarragonês, que se fez claro Sujeitando Parténope inquieta; O Navarro, as Astúrias, que reparo Já foram contra a gente Mahometa; Tem o Galego cauto, e o grande e raro Castelhano, a quem fez o seu Planeta Restituidor de Espanha e senhor dela, Bétis, Lião, Granada, com Castela.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Eis aqui, quase cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa, E onde Febo repousa no Oceano. Este quis o Céu justo que floresça Nas armas contra o torpe Mauritano, Deitando-o de si fora, e lá na ardente África estar quieto o não consente.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Esta é a ditosa pátria minha amada, A qual se o Céu me dá que eu sem perigo Torne, com esta empresa já acabada, Acabe-se esta luz ali comigo. Esta foi Lusitânia, derivada De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo Filhos foram, parece, ou companheiros, E nela então os Íncolas primeiros.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Desta o pastor nasceu, que no seu nome Se vê que de homem forte os feitos teve; Cuja fama ninguém virá que dome, Pois a grande de Roma não se atreve. Esta, o velho que os filhos próprios come Por decreto do Céu, ligeiro e leve, Veio a fazer no mundo tanta parte, Criando-a Reino ilustre; e foi desta arte:
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Um Rei, por nome Afonso, foi na Espanha, Que fez aos Sarracenos tanta guerra, Que por armas sanguinas, força e manha, A muitos fez perder a vida o a terra; Voando deste Rei a fama estranha Do Herculano Calpe à Cáspia serra, Muitos, para na guerra esclarecer-se, Vinham a ele e à morte oferecer-se.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E com um amor intrínseco acendidos Da Fé, mais que das honras populares, Eram de várias terras conduzidos, Deixando a pátria amada e próprios lares. Depois que em feitos altos e subidos Se mostraram nas armas singulares, Quis o famoso Afonso que obras tais Levassem prémio digno e dons iguais.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Destes Anrique, dizem que segundo Filho de um Rei de Ungria exprimentado, Portugal houve em sorte, que no mundo Então não era ilustre nem prezado; E, para mais sinal d'amor profundo, Quis o Rei Castelhano, que casado Com Teresa, sua filha, o Conde fosse; E com ela das terras tornou posse.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Este, depois que contra os descendentes Da escrava Agar vitórias grandes teve, Ganhando muitas terras adjacentes, Fazendo o que a seu forte peito deve, Em prémio destes feitos excelentes, Deu-lhe o supremo Deus, em tempo breve, Um filho, que ilustrasse o nome ufano Do belicoso Reino Lusitano.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Já tinha vindo Anrique da conquista Da cidade Hierosólima sagrada, E do Jordão a areia tinha vista, Que viu de Deus a carne em si lavada; Que não tendo Gotfredo a quem resista, Depois de ter Judeia sojugada, Muitos, que nestas guerras o ajudaram, Para seus senhorios se tornaram;
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Quando chegado ao fim de sua idade, O forte e famoso Úngaro estremado, Forçado da fatal necessidade, O espírito deu a quem lhe tinha dado, Ficava o filho em tenra mocidade, Em quem o pai deixava seu traslado, Que do mundo os mais fortes igualava; Que de tal pai tal filho se esperava.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Mas o velho rumor, não sei se errado, Que em tanta antiguidade não há certeza, Conta que a mãe, tomando todo o estado, Do segundo himeneu não se despreza. O filho órfão deixava deserdado, Dizendo que nas terras a grandeza Do senhorio todo só sua era, Porque, para casar, seu pai lhes dera.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Mas o Príncipe Afonso, que desta arte Se chamava, do avô tomando o nome, Vendo-se em suas terras não ter parte, Que a mãe, com seu marido, as manda e come, Fervendo-lhe no peito o duro Marte, Imagina consigo como as tome. Revolvidas as causas no conceito, Ao propósito firme segue o efeito.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"De Guimarães o campo se tingia Co'o sangue próprio da intestina guerra, Onde a mãe, que tão pouco o parecia, A seu filho negava o amor e a terra. Com ele posta em campo já se via; E não vê a soberba o muito que erra Contra Deus, contra o maternal amor; Mas nela o sensual era maior.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Ó Progne crua! ó mágica Medeia! Se em vossos próprios filhos vos vingais Da maldade dos pais, da culpa alheia, Olhai que inda Teresa peca mais: Incontinência má, cobiça feia, São as causas deste erro principais: Cila, por uma, mata o velho pai, Esta, por ambas, contra o filho vai.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Mas já o Príncipe claro o vencimento Do padrasto e da iníqua mãe levava; Já lhe obedece a terra num momento, Que primeiro contra ele pelejava. Porém, vencido de ira o entendimento, A mãe em ferros ásperos atava; Mas de Deus foi vingada em tempo breve: Tanta veneração aos pais se deve!
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Eis se ajunta o soberbo Castelhano, Para vingar a injúria de Teresa, Contra o tão raro em gente Lusitano, A quem nenhum trabalho agrava ou pesa. Em batalha cruel o peito humano, Ajudado da angélica defesa, Não só contra tal fúria se sustenta, Mas o inimigo aspérrimo afugenta.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Não passa muito tempo, quando o forte Príncipe em Guimarães está cercado De infinito poder; que desta sorte Foi refazer-se o inimigo magoado; Mas, com se oferecer à dura morte O fiel Egas amo, foi livrado; Que de outra arte pudera ser perdido, Segundo estava mal apercebido.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"lulas o leal vassalo, conhecendo Que seu senhor não tinha resistência, Se vai ao Castelhano, prometendo Que ele faria dar-lhe obediência. Levanta o inimigo o cerco horrendo, Fiado na promessa e consciência De Egas Moniz; mas não consente o peito Do moço ilustre a outrem ser sujeito.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Chegado tinha o prazo prometido, Em que o Rei Castelhano já aguardava Que o Príncipe, a seu mando sometido, Lhe desse a obediência que esperava. Vendo Egas que ficava fementido, O que dele Castela não cuidava, Determina de dar a doce vida A troco da palavra mal cumprida.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E com seus filhos e mulher se parte A alevantar com eles a fiança, Descalços e despidos, de tal arte, Que mais move a piedade que a vingança. --"Se pretendes, Rei alto, de vingar-te De minha temerária confiança, Dizia, eis aqui venho oferecido A te pagar, coa vida, o prometido.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Vês aqui trago as vidas inocentes Dos filhos sem pecado e da consorte; Se a peitos generosos e excelentes, Dos fracos satisfaz a fera morte. Vês aqui as mãos e a língua delinquentes: Nelas sós exprimenta toda a sorte De tormentos, de mortes, pelo estilo De Cínis e do touro de Perilo"!--
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Qual diante do algoz o condenado, Que já na vida a morte tem bebido, Põe no cepo a garganta, e já entregado Espera pelo golpe tão temido: Tal diante do Príncipe indinado, Egas estava a tudo oferecido. Mas o Rei, vendo a estranha lealdade, Mais pôde, enfim, que a ira a piedade.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Ó grão fidelidade Portuguesa, De vassalo, que a tanto se obrigava! Que mais o Persa fez naquela empresa, Onde rosto e narizes se cortava? Do que ao grande Dario tanto pesa, Que mil vezes dizendo suspirava, Que mais o seu Zopiro são prezara, Que vinte Babilónias que tomara.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
Mas já o Príncipe Afonso aparelhava O Lusitano exército ditoso, Contra o Mouro que as terras habitava D'além do claro Tejo deleitoso; Já no campo de Ourique se assentava O arraial soberbo e belicoso, Defronte do inimigo Sarraceno, Posto que em força e gente tão pequeno.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Em nenhuma outra cousa confiado, Senão no sumo Deus, que o Céu regia, Que tão pouco era o povo batizado, Que para um só cem Mouros haveria. Julga qualquer juízo sossegado Por mais temeridade que ousadia, Cometer um tamanho ajuntamento, Que para um cavaleiro houvesse cento.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Cinco Reis Mouros são os inimigos, Dos quais o principal Ismar se chama; Todos exprimentados nos perigos Da guerra, onde se alcança a ilustre fama. Seguem guerreiras damas seus amigos, Imitando a formosa e forte Dama, De quem tanto os Troianos se ajudaram, E as que o Termodonte já gostaram.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"A matutina luz serena e fria, As estrelas do Pólo já apartava, Quando na Cruz o Filho de Maria, Amostrando-se a Afonso, o animava. Ele, adorando quem lhe aparecia, Na Fé todo inflamado assim gritava: --"Aos infiéis, Senhor, aos infiéis, E não a mim, que creio o que podeis!"
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Com tal milagre os ânimos da gente Portuguesa inflamados, levantavam Por seu Rei natural este excelente Príncipe, que do peito tanto amavam; E diante do exército potente Dos imigos, gritando o céu tocavam, Dizendo em alta voz:--"Real, real, Por Afonso alto Rei de Portugal."
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Qual co'os gritos e vozes incitado, Pela montanha o rábido Moloso, Contra o touro remete, que fiado Na força está do corno temeroso: Ora pega na orelha, ora no lado, Latindo mais ligeiro que forçoso, Até que enfim, rompendo-lhe a garganta, Do bravo a força horrenda se quebranta:
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Tal do Rei novo o estâmago acendido Por Deus e pelo povo juntamente, O Bárbaro comete apercebido, Co'o animoso exército rompente. Levantam nisto os perros o alarido Dos gritos, tocam a arma, ferve a gente, As lanças e arcos tomam, tubas soam, Instrumentos de guerra tudo atroam.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Bem como quando a flama, que ateada Foi nos áridos campos (assoprando O sibilante Bóreas) animada Co'o vento, o seco mato vai queimando; A pastoral companha, que deitada Co'o doce sono estava, despertando Ao estridor do fogo que se ateia, Recolhe o fato, e foge para a aldeia:
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Desta arte o Mouro atónito e torvado, Toma sem tento as armas mui depressa; Não foge; mas espera confiado, E o ginete belígero arremessa. O Português o encontra denodado, Pelos peitos as lanças lhe atravessa: Uns caem meios mortos, e outros vão A ajuda convocando do Alcorão.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Ali se vêem encontros temerosos, Para se desfazer uma alta serra, E os animais correndo furiosos Que Neptuno amostrou ferindo a terra. Golpes se dão medonhos e forçosos; Por toda a parte andava acesa a guerra: Mas o de Luso arnês, couraça e malha Rompe, corta, desfaz, abola e talha.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Cabeças pelo campo vão saltando Braços, pernas, sem dono e sem sentido; E doutros as entranhas palpitando, Pálida a cor, o gesto amortecido. Já perde o campo o exército nefando; Correm rios de sangue desparzido, Com que também do campo a cor se perde, Tornado carmesi de branco e verde.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Já fica vencedor o Lusitano, Recolhendo os troféus e presa rica; Desbaratado e roto o Mauro Hispano, Três dias o grão Rei no campo fiei. Aqui pinta no branco escudo ufano, Que agora esta vitória certifica, Cinco escudos azuis esclarecidos, Em sinal destes cinco Reis vencidos,
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E nestes cinco escudos pinta os trinta Dinheiros por que Deus fora vendido, Escrevendo a memória em vária tinta, Daquele de quem foi favorecido. Em cada uni dos cinco, cinco pinta, Porque assim fica o número cumprido, Contando duas vezes o do meio, Dos cinco azuis, que em cruz pintando veio.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Passado já algum tempo que passada Era esta grão vitória, o Rei subido A tomar vai Leiria, que tomada Fora, mui pouco havia, do vencido. Com esta a forte Arronches sojugada Foi juntamente, e o sempre enobrecido Scalabicastro, cujo campo ameno, Tu, claro Tejo, regas tão sereno.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"A estas nobres vilas sometidas, Ajunta também Mafra, em pouco espaço, E nas serras da Lua conhecidas, Sojuga a fria Sintra o duro braço; Sintra, onde as Naiades, escondidas Nas fontes, vão fugindo ao doce laço, Onde Amor as enreda brandamente, Nas águas acendendo fogo ardente.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E tu, nobre Lisboa, que no Mundo Facilmente das outras és princesa, Que edificada foste do facundo, Por cujo engano foi Dardânia acesa; Tu, a quem obedece o mar profundo, Obedeceste à força Portuguesa, Ajudada também da forte armada, Que das Boreais partes foi mandada.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Lá do Germânico Albis, e do Rene, E da fria Bretanha conduzidos, A destruir o povo Sarraceno, Muitos com tensão santa eram partidos. Entrando a boca já do Tejo ameno, Co'o arraial do grande Afonso unidos, Cuja alta fama então subia aos Céus, Foi posto cerco tos muros Ulisseus.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Cinco vezes a Lua se escondera, E outras tantas mostrara cheio o rosto, Quando a cidade entrada se rendera Ao duro cerco, que lhe estava posto. Foi a batalha tão sanguina e fera, Quanto obrigava o firme pressuposto De vencedores ásperos e ousados, E de vencidos já desesperados.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Desta arte enfim tomada se rendeu Aquela que, nos tempos já passados, A grande força nunca obedeceu Dos frios povos Cíticos ousados, Cujo poder a tanto se estendeu Que o Ibero o viu e o Tejo amedrontados; E enfim co'o Bétis tanto alguns puderam Que à terra de Vandália nome deram.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Que cidade tão forte por ventura Haverá que resista, se Lisboa Não pôde resistir à força dura Da gente, cuja fama tanto voa? Já lhe obedece toda a Estremadura, Óbidos, Alenquer, por onde soa O tom das frescas águas, entre as pedras, Que murmurando lava, e Torres Vedras.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"E vós também, ó terras Transtaganas, Afamadas co'o dom da flava Ceres, Obedeceis às forças mais que humanas, Entregando-lhe os muros e os poderes. E tu, lavrador Mouro, que te enganas, Se sustentar a fértil terra queres; Que Elvas, e Moura, e Serpa conhecidas, E Alcácere-do-Sal estão rendidas.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Eis a nobre Cidade, certo assento Do rebelde Sertório antigamente, Onde ora as águas nítidas de argento Vem sustentar de longo a terra e a gente, Pelos arcos reais, que cento e cento Nos ares se alevantam nobremente, Obedeceu por meio e ousadia De Giraldo, que medos não temia.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Já na cidade Beja vai tomar Vingança de Trancoso destruída Afonso, que não sabe sossegar, Por estender coa fama a curta vida. Não se lhe pode muito sustentar A cidade; mas sendo já rendida, Em toda a cousa viva a gente irada Provando os fios vai da dura espada.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"Com estas sojugada foi Palmela, E a piscosa Cezimbra, e juntamente, Sendo ajudado mais de sua estrela, Desbarata um exército potente: Sentiu-o a vila, e viu-o a serra dela, Que a socorrê-la vinha diligente Pela fralda da serra, descuidado Do temeroso encontro inopinado.
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas
"O Rei de Badajoz era alto Mouro, Com quatro mil cavalos furiosos, Inúmeros peões, d'armas e de ouro Guarnecidos, guerreiros e lustrosos. Mas, qual no mês de Maio o bravo touro, Co'os ciúmes da vaca, arreceosos, Sentindo gente o bruto e cego amante Salteia o descuidado caminhante:
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"Desta arte Afonso súbito mostrado Na gente dá, que passa bem segura, Fere, mata, derriba denodado; Foge o Rei Mouro, e só da vida cura. Dum pânico terror todo assombrado, Só de segui-lo o exército procura; Sendo estes que fizeram tanto abalo Não mais que só sessenta de cavalo.
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"Logo segue a vitória sem tardança O grão Rei incansábil, ajuntando Gentes de todo o Reino, cuja usança Era andar sempre terras conquistando. Cercar vai Badajoz, e logo alcança O fim de seu desejo, pelejando Com tanto esforço, e arte, e valentia, Que a fez fazer às outras companhia.
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"Mas o alto Deus, que para longe guarda O castigo daquele que o merece, Ou, para que se emende, às vezes tarda, Ou por segredos que homem não conhece, Se até que sempre o forte Rei resguarda Dos perigos a que ele se oferece; Agora lhe não deixa ter defesa Da maldição da mãe que estava presa.
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"Que estando na cidade, que cercara, Cercado nela foi dos Lioneses, Porque a conquista dela lhe tomara, De Lião sendo, e não dos Portugueses. A pertinácia aqui lhe custa cara, Assim como acontece muitas vezes, Que em ferros quebra as pernas, indo aceso A batalha, onde foi vencido e preso.
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"Ó famoso Pompeio, não te pene De teus feitos ilustres a ruína, Nem ver que a justa Némesis ordene Ter teu sogro de ti vitória dina, Posto que o frio Fásis, ou Siene, Que para nenhum cabo a sombra inclina, O Bootes gelado e a linha ardente, Temessem o teu nome geralmente.
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"Posto que a rica Arábia e que os ferozes Eníocos e Colcos, cuja fama O Véu dourado estende, e os Capadoces, E Judeia, que um Deus adora e ama, E que os moles Sofenos, e os atroces Cilícios, com a Arménia, que derrama As águas dos dous rios, cuja fonte Está noutro mais alto e santo monte;
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"E posto enfim que desde o mar de Atlante Até o Cítico Tauro monte erguido, Já vencedor te vissem, não te espanto Se o campo Emátio só te viu vencido, Porque Afonso verás, soberbo e ovante, Tudo render-se ser depois rendido. Assim o quis o conselho alto e celeste, Que vença o sogro a ti, e o genro a este.
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"Tornado o Rei sublime finalmente, Do divino Juízo castigado, Depois que em Santarém soberbamente Em vão dos Sarracenos foi cercado, E depois que do mártire Vicente O santíssimo corpo venerado Do Sacro Promontório conhecido A cidade Ulisseia foi trazido;
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"Porque levasse avante seu desejo, Ao forte filho manda o lasso velho Que às terras se passasse d'Alentejo, Com gente e co'o belígero aparelho. Sancho, d'esforço o d'ânimo sobejo, Avante passa, e faz correr vermelho O rio que Sevilha vai regando, Co'o sangue Mauro, bárbaro e nefando.
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"E com esta vitória cobiçoso, Já não descansa o moço até que veja Outro estrago como este, temeroso, No Bárbaro que tem cercado Beja. Não tarda muito o Príncipe ditoso Sem ver o fim daquilo que deseja. Assim estragado o Mouro, na vingança De tantas perdas põe sua esperança.
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"Já se ajuntam do monte a quem Medusa O corpo fez perder, que teve o Céu; Já vem do promontório de Ampelusa E do Tinge, que assento foi de Anteu. O morador de Abila não se escusa, Que também com suas armas se moveu, Ao som da Mauritana e ronca tuba, Todo o Reino que foi do nobre Juba.
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"Entrava com toda esta companhia O Miralmomini em Portugal; Treze Reis mouros leva de valia, Entre os quais tem o ceptro imperial; E assim fazendo quanto mal podia, O que em partes podia fazer mal, Dom Sancho vai cercar em Santarém; Porém não lhe sucede muito bem.
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"Dá-lhe combates ásperos, fazendo Ardis de guerra mil o Mouro iroso; Não lhe aproveita já trabuco horrendo, Mina secreta, aríete forçoso: Porque o filho de Afonso não perdendo Nada do esforço e acordo generoso, Tudo provê com ânimo e prudência; Que em toda a parte há esforço e resistência.
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"Mas o velho, a quem tinham já obrigado Os trabalhosos anos ao sossego, Estando na cidade, cujo prado Enverdecem as águas do Mondego, Sabendo como o filho está cercado Em Santarém do Mauro povo cego, Se parte diligente da cidade; Que não perde a presteza coa idade.
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"E coa famosa gente à guerra usada Vai socorrer o filho; e assim ajuntados, A Portuguesa fúria costumada Em breve os Mouros tem desbaratados. A campina, que toda está coalhada De marlotas, capuzes variados, De cavalos, jaezes, presa rica, De seus senhores mortos cheia fica.